Saudações!
Semestre começou de fato na facul (aleluia) e está tudo dando certo, finalmente, com as minhas matérias. Sigo jogo forístico, trazendo a vocês mais um capítulo. Ah! Para quem gosta de escrever e quer uma proposta diferenciada para liberar a criatividade, basta conferir esse tópico para participar. Inclusive, estou prestes a entregar os livros novos que @Thomazml me requisitou.
Vamos, então, aos Comentários:
Spoiler: Respostas aos Comentários
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Spoiler: Bônus Musical
Capítulo 7 — Os Bichos-Papões (e a Cidade do Pesadelo)
E começa a jornada à cidade que nunca há de dormir… Os pesadelos não tem fim…*
(Narrado por Lisette, a Amante Pirata)
Sentada em meus aposentos no navio, eu tinha uma carta em mãos. Ireas havia escrito antes de eu viajar e já era a terceira ou quarta vez que eu relia aquele pedaço de papel que cheirava a folha-grande** (similar a endro), erva-da-geleira*** (muito parecida com menta) e sal: o mesmo cheiro que exalava de seu corpo e que tanto me agradava.
Suspirei uma vez mais após sentir o cheiro do papel, relendo a carta uma última vez antes de guardá-la na gaveta do pequeno criado-mudo que eu tinha na embarcação.
“Lisette,
Tão logo que nos juntamos, já tivemos que ser separados! Sei o tanto que gosta do mar, ao qual pertence, mas queria, sim, que você pudesse ficar mais tempo em terra firme comigo. Às vezes sou melancólico e ranzinza demais para minha idade, mas sou uma boa companhia — na maior parte do tempo, creio eu.
Escrevo essa carta para que você tenha sempre em mente que, independente da distância, você estará sempre em meus sonhos e pensamentos — lembre-se de que você sempre terá um lar para voltar em terra firme, e que Nibelor é mais amena e calorosa por você existir em minha vida.
Cuide-se, meu amor: e tenha cuidado com a preciosidade que carrega em seu ventre. Mal posso esperar para estarmos juntos novamente.
Com todo amor, carinho e afeto,
Seu eterno servo,
Ireas.”
Ouvi um trovão ao longe e guardei a carta rapidamente. Kinahked abriu a porta de meu aposento rapidamente, olhando-me com um semblante sério.
— Se prepara, Lis. — Falou o pirata — A coisa vai ser feia hoje; a deusa está bem descontente.
Concordei, engolindo em seco. Kinahked saiu da frente da porta e eu o acompanhei com o olhar. Por debaixo da mesa, passei a mão em meu ventre e suspirei.
Eu devia ter ouvido Ireas e ficado. Ninguém ainda sabia de minha situação. Ninguém naquele navio poderia saber.
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(Narrado por Yami, o Primeiro)
Enquanto Keras estava fora, eu tomava conta dos afazeres dele na Sociedade das Almas: além da burocracia, isso também incluía atender esporadicamente mulheres gestantes, às quais dependiam de Ireas para a chegada de suas crianças. Sim… Xamãs também eram, em sua maioria, parteiros. Mesmo que fossem homens, era uma das poucas atividades ligadas à intimidade feminina que o povo Norsir permitia o ingresso de homens.
Para meu alívio, tudo parecia em ordem conforme Ireas esperava (e dentro, claro, das minhas capacidades na área, que eram poucas) e pude me debruçar em uma atividade mais enfadonha: a arte da burocracia.
Já devia ser, provavelmente, minha terceira pilha de documentos quando, subitamente, senti uma agitação no ambiente. Um vórtice luminoso se abriu e vir sair dele Ireas e Jack, visivelmente transtornados.
— Keras? Spider? — Indaguei, preocupado e cansado ao mesmo tempo.
— Yami, não vai dar tempo de conversar agora. — Ireas respondeu secamente, com o semblante transtornado. — Preciso que você nos acompanhe em uma Caminhada dos Sonhos. Dessa vez, no entanto… Vamos mais longe do que jamais fomos. Vamos até a Fronteira.
Engoli em seco, com os olhos arregalados.
— Ireas, eu não dou conta! — Protestei, impressionado. — Eu não caminho bem pelos sonhos, não me é tão natural!
— Yami… Você consegue. — Assegurou-me Ireas, estranhamente dócil. — Em sete, quase oito anos de treinamento, você tem se destacado entre raças que sonham naturalmente. — Ele colocou a mão em meu ombro. — Além disso, para investigarmos aquele local… Precisamos estar em um número menor para não chamarmos a atenção.
— E quem ficará para cuidar de tudo? — Indaguei.
— Lisette logo voltará. — Replicou o druida, e finalmente entendi o motivo de tanta docilidade. — Ela tomará conta das coisas enquanto estivermos fora.
Engoli em seco e concordei, a total contragosto. Independente do tempo de relacionamento deles, eu ainda sentia total desconfiança naquela mulher. Eu sabia algo sobre ela que Keras não sabia.
E eu não fazia a mínima ideia de como contaria a ele sem acabar com a pouca felicidade que ainda tinha em seu semblante marcado pelo sofrimento, a culpa e a frustração.
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(Narrado por Rei Jack Spider)
A bem da verdade, eu estava muito apreensivo com tudo aquilo; ir à Fronteira significaria ter que encarar um dos meus piores pesadelos: e ter que lidar com a reação de Ireas diante do fato. Minhas mãos suavam enquanto Ireas e Yami sussurravam o plano de exploração na calada do que seria noite na Sociedade das Teias Infindas.
Rumamos a Oeste por meio de uma estrada feita de teias e teias emaranhadas; o ambiente todo – um corredor de árvores com pouquíssimas folhas – era composto por essas teias, etéreas e sólidas ao mesmo tempo, que luziam fracamente na medida em que passávamos por elas. Algumas aranhas pequeninas vinham nos saudar, descendo dos galhos ou aparecendo detrás dos troncos das árvores.
— Nornur nos guie… — Era a voz de Tameran no ar. — Nornur nos ajude… Tire-nos da prisão…
Eu olhei para Ireas e Yami, e os dois confirmaram ter ouvido a mesma voz no vento.
— Ajuda… — Outras vozes começaram a se sobrepor à de Tameran, com tons mais aflitos. — Ajuda…! A prisão… O limbo nos consome! Os pesadelos não tem fim…!
— Isso é mal… — Resmungou Yami, olhando ao redor. — Nunca ouvi nada disso nesse Reino em todo esse tempo!
— É sinal de que Tameran falou a verdade. — Replicou Ireas, compartilhando do sentimento de Yami. — E talvez a situação seja bem pior do que ele descreveu.
— ...Na cidade de… A cidade que sempre dorme… — As vozes continuaram, e eu senti um aperto em meu peito a cada palavra proferida e cada silêncio percebido. — ...Onde até a luz deve morrer… E a jornada continua...
O céu do Reino dos Sonhos estava enfeitado por um espetáculo de luz inusitado; raios de luz de várias cores dançavam em meio à noite escura e sem estrelas****. O fenômeno era tão hipnótico que eu juraria ter visto ao menos o reflexo de alguns animais caminhando por entre as pontes luminosas; Vento do Norte também parou por uns momentos para apreciar o belo espetáculo acima de nós. Seu semblante exibia serenidade, que logo foi convertida em preocupação.
— Na cidade… Dorme o Pesadelo… — As vozes voltaram, e dessa vez estavam mais altas e vinham de todas as direções. — Onde a Jornada continua… Onde o Vazio espera dormindo em sonho… E a vida persiste no terror sem fim...
— Ireas… — Comecei, apreensivo.
— Estamos perto da Fronteira. — Falou o Norsir, que partilhava de meu fardo. — Estejam preparados…
As raias luminosas desapareceram dos céus; o vento começou a soprar de encontro a nós. Ireas respirou fundo e seguiu vagarosamente. Yami o seguiu e eu retomei a caminhada por último. O chão parecia mais áspero, e não demorou muito para começarmos a ouvir loucos e ruidosos uivos no vento que não parava de soprar.
— Em Yalahar os mortos não descansam em solo que se possa enterrar… — O coro de vozes parecia mais feroz e desesperados. — E nem em Ab’dendriel as estrelas podem nos abrigar… Na cidade…. Onde o eterno pode para sempre vingar… E em eras estranhas… Onde até a Morte pode definhar…*****
Subitamente, o vento parou; estávamos em uma porção escura, descampada e infértil do Reino dos Sonhos: era essa a Fronteira. As vozes, agora baixas, continuavam em seu mantra de lamentos. Uma chama de cor púrpura apareceu em meio à terra estéril e logo tomou uma forma circular e constante; uma fina membrana apareceu em seu centro. Era uma passagem.
— Em Yalahar os mortos não descansam em solo que se possa enterrar… E nem em Ab’dendriel as estrelas podem nos abrigar… Na cidade…. Onde o eterno pode para sempre vingar… E em eras estranhas… Onde até a Morte pode definhar…
Ireas respirou fundo. Eu sentia minha garganta seca. Precisava falar aquilo que mantinha preso em meu peito.
— Ireas, tenho algo a confessar. — Falei, apreensivo.
— Agora não, Jack. — Podia sentir o terror começando a tomar conta da voz de Ireas, que tentava manter-se firme diante daquele cenário. — O que quer que seja, tem que esperar.
— Não vai dar. — Repliquei, nervoso.
— Vai ter que esperar! — Retrucou Ireas, já sentindo uma boa carga de estresse. — Seja o que for, vai ter que esperar a travessia!
Fiquei calado; era melhor não desafiar Ireas enquanto ele estava prestes a ficar nervoso. Eu e Yami nos aproximamos de Ireas e, juntos, passamos pelo portal.
*****
(Narrado por Ireas Keras)
Foi o mais inconcebível dos horrores que testemunhei em minha vida. A passagem pelo portal foi agoniante, com a membrana grudando em minhas roupas e tentando queimá-las. As vozes continuavam ali, mas falando em um dialeto que eu jamais ouvira e que certamente não conseguia compreender. Ao sentir que enfim havia atravessado, em dolorosos segundos que pareceram milênios, abri meu olho, e desejei quase instantaneamente jamais tê-lo feito.
— Jack… Yami… — Murmurei, paralisado.
Os céus eram escuros e avermelhados, com estranhas nuvens de poeira passando do firmamento às construções em ruínas; alguns pedaços de alvenaria flutuavam livres pelo espaço em meio a uma profusão sinistra de poder; chiados estranhos, grunhidos ininteligíveis e o ressoar das batidas de mil corações podiam ser ouvidos ao longe e ao pé de nossos ouvidos ao mesmo tempo.
— Que porra de lugar é esse?! — Indagou Yami, paralizado.
— Ireas…. — Começou Jack, também muito aflito. — Aquilo que eu tinha para te dizer…
A nova tentativa de confissão de Jack foi entrecortada por uma profusão de gritos; nos abaixamos próximos a pedras altas perto de nós e vimos o impensado.
Tubarões com asas em carne pura; mandíbulas e dentes ocupando o lugar de seus olhos. Criaturas feitas de carne, unha e chifres. Criaturas que tinham membros longos e um vazio onde ficariam suas cabeças. Havia gaiolas gigantes pendendo de algumas edificações, contendo prisioneiros nelas. Dentre eles, alguns se destacaram.
Os pais de Jack. Tameran. Todos em um perverso estado de transe, com os olhos revirados, a boca escorrendo espuma e com uma palidez mórbida em meio a um semblante estranhamente entediado. Eles pareciam estar murmurando algo; e não apenas eles: os outros prisioneiros também estavam adicionando suas vozes ao coro quase mudo que, aos poucos, ganhava força e mais vozes em seu cânone.
— Nornur nos ajude… Nornur nos guie… Tire-nos da Prisão! O limbo nos consome! Os pesadelos não tem fim…!
Para piorar, as criaturas lá embaixo começaram a recitar a parte deles, e tudo começou a fazer mais sentido.
— Na cidade de Roshamuul, dormem os Pesadelos... Onde a Jornada continua… Onde o Eterno espera dormindo em sonho… E a vida persiste no terror sem fim…
E todas as vozes se juntaram, como se soubessem que estávamos os três ali. Sozinhos. Despreparados. Vulneráveis.
— Em Yalahar os mortos não descansam em solo que se possa enterrar… E nem em Ab’dendriel as estrelas podem nos abrigar… Na cidade de Roshamuul onde o Eterno pode para sempre vingar… E em eras estranhas… Onde até a Morte pode definhar…
Mesmo abaixado, senti minhas pernas tremerem e meu corpo congelar; aquele cenário, aquele cântico… Aquelas criaturas… Era tudo absurdo demais, louco demais… Real demais. Ouvimos, então, um barulho ao longe. O som de algo caindo pesadamente no chão. Todas as criaturas se viraram e começaram a regozijar-se e gargalhar de insana alegria.
— GAZ’HARAGOTH! — Gritavam as perversas entidades em sinistra felicidade, clamando por alguém muito mais terrível que todos eles. — GAZ’HARAGOTH!******
Continua…
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Glossário:
(*): Referência à fala do boss Il'gynoth, da raid "Emerald Nightmare" (Pesadelo Esmeralda) de World of Warcraft. No original, ele diz: "N'Zoth... I'll journey to... Ny'alotha.". Ny'alotha é conhecida como "sleeping city" (cidade dormente) e é referência a uma das cidades de The Call of Cthulhu, de H.P. Lovecraft, conhecida como a cidade "velha, terrível e de crimes incontáveis".
(**): Tradução livre de Fern.
(***): Tradução livre de Frostbite Herb.
(****): O fenômeno descrito trata-se da Aurora Boreal, que é vista em países e localidades nos extremos norte ou sul do mundo. Consiste na colisão de partículas elétricas livres com a atmosfera terrestre, revelando o campo magnético de nosso planeta em um belo espetáculo de luzes.
(*****): Inspirado em um trecho de "The Nameless City", de The Call of Cthulhu, de H.P. Lovecraft. O original diz: “That is not dead which can eternal lie, And with strange aeons even death may die.”. Uma tradução para isso seria: "Não está morto aquilo que pode eternamente viver, e com eras estranhas até a Morte pode morrer.".
(******):Referência à abertura de Anh'Qiraj: o Reino Esquecido, uma das primeiras raids de World of Warcraft. É uma paráfrase aos gritos dos Qiraji: "C'THUN! C'THUN!" que ecoava durante a abertura do Templo de Ahn'Qiraj, que dava acesso a esse boss. A raid pode ser feita e acessada até os dias de hoje.
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Capítulo RUIM de sair, mas saiu! Espero que esteja bom xD
Deixem seus comments por favor! Um feedback é sempre apreciado!
Até o próximo!
Abraço,
Iridium.
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Se não me engano ele até tinha começado uma fic aqui na sessão mas depois não continuou.

