Olá pessoal!
Primeiramente, quanto tempo! Ufa! Finalmente consegui escrever... A vida anda complicada... Estudar, vestibular, provas, provas... Enfim...
Sem mais delongas, o capítulo, senhores e senhoras!
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Capítulo 29 – Diplomacia?
O pôr-do-sol indicava que a comitiva de sobreviventes logo chegaria. Eu, Ireas Keras, Grão-Vizir (temporário) de Ankrahmun, trajava uma túnica branca com leve tonalidade azul, sandálias prateadas e braceletes dourados com pequenas safiras nas extremidades. Eu havia renovado a camada de resina sob minhas unhas – aparentemente, todo o nervoso que passei nos dias anteriores fizeram a doença piorar um pouco. Sentia-me tonto e com leve febre, e receava arruinar a noite.
A cidade estava iluminada por lamparinas piramidais brancas, que traziam um pouco do luar para nós; contudo, esses pequenos dispositivos luminosos faziam da Lua a protagonista da noite. Eu sorri leve e espontaneamente, e há muito eu não sorria assim... Sentia falta da alegria.
Os ventos do deserto sopravam bem convidativos. A noite tinha tudo para ser boa; eu estava torcendo, é claro, para não estragar tudo como de costume...
— O oásis do Deserto! Terra à vista! — Era Sírio quem gritava; sua voz era inconfundível; era sinal de que a comitiva chegara.
Meu coração retumbara forte como trovão; eu estava perto de uma pequena pirâmide habitacional, próximo do cais. Eu não sabia se ficava esperando ou se corria para a pirâmide do Faraó; não sabia, também, se me aproximaria de meus amigos ou se aguardaria o jantar. Sírio, diferentemente de mim, os recebia calorosamente.
Eu só podia vê-lo gesticular; tentando vencer minha timidez e medo, aproximei-me do cais, escondendo-me sob uma das pilastras das docas; Sírio ria e parecia guiar-lhes até a casa de banhos que eu redesenhara. Perguntava-me: por acaso ele falara de mim?
Respirei fundo e tentei controlar meus sentimentos; eu não poderia estragar aquele momento. Eu estaria prestes a conseguir contatos, pessoas que pudessem me ajudar na busca por minha mãe e entender o ataque feito a Ankrahmun pela Irmandade dos Ossos. Com passadas curtas e ligeiras, segui meu caminho à pirâmide faraônica.
Lancei um olhar para a comitiva de Sírio. Um a um, eles se dirigiam à casa de banhos: Rei Jack, Brand, Mandarinn, uma elfa que aparentava ser esposa ou amante dele, Icel...e Wind.
Meus pés pararam e meu coração também; o Yalahari estava lá, com feridas horrendas nas costas, pernas e braços; para minha sorte, ele estava de costas e não me vira. Para meu azar, porém, ele era o último dos sobreviventes a chegar ao aposento e conversava com Sírio. Eu temia que eles estivessem falando de mim.
De repente, uma das pequenas lamparinas passou por Wind, fazendo o ruivo cavaleiro voltar seus belos olhos castanhos para a direção em que eu me encontrava.
— Ireas? — Ouvi sua bela voz sussurrar no vazio das ruas de arenito e mármore imaculado.
O pavor tomou conta de mim; meu corpo estava oculto pelas sombrar, dificultando minha identificação. Não pensei duas vezes: saí correndo do local. Se meus ancestrais pudessem me ver além dos ventos do Norte, com toda certeza sentiriam vergonha de minha atitude; um bárbaro correndo de um homem que em momento algum fora adversário, mas que ferira mais que qualquer guerreiro habilidoso, experiente e sedento de sangue proveniente de minha terra, Svargrond.
Só parei de correr quando cheguei às portas da residência do Faraó.
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— Seja bem-vindo, Grão-Vizir — Disse-me um dos guardas do Faraó— Os ilustres convidados de vossa Majestade o esperam.
Eu meneei com a cabeça de forma afirmativa, buscando livrar-me daquela horrível sensação de pavor, impotência e medo, bem como do rubor que tomara conta de minhas faces. Um dos guardas guiou-me até a sala de jantar; creio que foi o lugar mais belo em que já pisei.
O aposento era bem iluminado, com uma mesa dourada ricamente entalhada. As cadeiras possuíam arabescos e gravuras típicos da cidade, e eram de madeira escura com almofadas de rubro veludo sobre elas. Os pratos eram prateados, bem como os vários talheres dispostos ao lado deles. As cortinas eram brancas com bordados de bronze. Havia armários e alguns instrumentos musicais ao final da sala.
Os pratos na mesa eram tão suntuosos quanto a decoração do recinto. Assados, massas, deliciosas e delicadas sobremesas, bebidas espumantes e fumegantes... Ah, que água na boca! Meu estômago estava reclamando de tanto sofrimento, pobrezinho.
Um clique na porta à minha direita tirou minha atenção da refeição que estaria por vir. Um elfo de longos cabelos louros,belos olhos prateados, túnica amarela-clara sobre uma longa camisa lilás entrou no recinto, seguido de um anão ruivo de olhos verdes e belo sobretudo esmeralda, um homem moreno, com traços orientais e com terno rubro e um outro que, obviamente, era Norsir: seus trajes eram de pele de mamute, a julgar pela pelagem, e havia adereços de conchas entre seus cabelos negros. Um a um, eles vieram me cumprimentar.
— É você o rapaz que fez essa obra-prima? — Disse-me o elfo com um sorriso impressionado nos lábios — Meu nome é Eriel; sou Embaixador de Ab'Dendriel, pertencente à classe Chelabdil. — Então, ele passou a me analisar com seus olhos prateados — Ora, disseram-me que você era Norsir... Te imaginava um pouco... Mais alto.
De fato, eu entendia a decepção do ilustre embaixador; meus conterrâneos mediam por volta de 1.80m. O Embaixador, com seus 1.90m, deveria estar rindo em seu interior ao ver um bárbaro de menos de 1.70m e traços mais femininos à sua frente. Corei levemente, ainda que sentisse leve raiva.
— Não ligue para o Eriel — Era o anão quem me falava — É acostumado a ver as pessoas de cima, se é que me entende... Heh, sou Marziel, principal engenheiro, arquiteto e supervisor de obras de Kazordoon. — Ele me deu um vigoroso aperto de mão — Será um prazer ter sua mente algum dia a serviço de Kruzak, camarada.
O cumprimento dele elevou-me o humor, e logo vieram os humanos a me cumprimentar.
— Hammoud, embaixador de Darashia, não se engane — Disse-me o moreno com um olhar misterioso — O sultão ficaria mais que lisonjeado com sua presença — Ele se aproximou e sussurrou em meu ouvido esquerdo — Cá entre nós, ele mal pode esperar para ver uma Nova Darashia.
O bárbaro veio logo em seguida com um sorriso e vigoroso aperto de mão.
— Sou Hekki, irmão de Sirik. Puxa, não esperava vê-lo tão depressa!
— E como vai seu irmão? — Indaguei, preocupado com os Norsir. Desde o ataque, não pisei mais em Svargrond.
— Bem, na medida do possível — Respondeu-me com pouco entusiasmo — Somos fortes, Keras. Já fomos sitiados diversas vezes, e nem mesmo o domínio de Carlin isso mudou. — Então, o Faraó entrou no recinto — Bem, devemos nos sentar. Por favor, sente-se perto de mim; é muito incômodo ser o único Norsir aqui presente...
Eu ri levemente e cumpri o pedido dele: o Faraó sentava-se na ponta da mesa; Sentei-me ao lado esquerdo dele, e Hekki sentou-se ao meu lado. Caso Wind viesse a entrar, seria mais fácil evitá-lo. Ver suas costas tão profundamente cortadas, a carne tão ferida e maltratada perturbou-me demais, bem como recordou-me das apunhaladas em meu coração que foram as cartas por ele escritas.
— Agradeço aos seus representantes por os terem mandado aqui — A voz do Faraó trouxe-me de volta ao recinto — Gostaria de dizer-lhes que a reunião de hoje é uma celebração, a abertura de uma nova era em Ankrahmun. Tudo graças a esse rapaz singular e leal — O Faraó lançou um olhar de gratidão para mim — Ireas Keras. Rapaz esse que parecia mais um cidadão comum, um transeunte de Ankrahmun, provou-se mais do que capaz de assumir suas responsabilidades quando a cidade mais precisou. Além disso, esse rapaz é o Grão-Vizir de meu reino, meu representante quando não posso fazer-me presente...
Eis que o elfo Eriel pôs-se a falar, autorizado pelo Faraó.
— Nos portos dessa linda cidade, chegaram convidados muito especiais, aos quais devemos muito: nossas vidas, nossa segurança. — A porta principal abriu lentamente — Senhores, os sobreviventes da empreitada contra o desprezível e temido Morgaroth!
Meu coração parou naquele instante, e senti a palidez tomar conta de minhas faces. Hekki me olhou assustado, e eu não percebi.
Todos vestiam lindas túnicas amarelas. Brand entrou primeiro, ostentando as condecorações de guerra com orgulho em seu rosto; Rei Jack entrou seguido por Icel e Khantra, a linda moça que vi quando o paladino completara Cem Grandiosos Feitos. Sírio também entrou no recinto tão bem vestido quanto os demais, seguido por Mandarinn e sua esposa elfa – percebi que o era pelo lindo anel que ostentava e pelas juras de amor que sussurrava ao pé do ouvido do mago. Ao ver o casal, Eriel ergueu a sobrancelha esquerda em sinal de pejorativa surpresa.
Quando achei que poderia ficar tranquilo, não só minhas estranhas tontura e febre começaram a me atacar bem como Wind entrou no recinto. Sua túnica era esverdeada, e havia uma larga ombreira de ouro sobre ela; um cinto branco pendia de sua cintura,e seu rosto, de tão limpo, nem parecia o de um homem recém-chegado da guerra.
— Grão-Vizir, Keras? — Indagou-me com um sorriso de alegria em seu rosto; parecia contente demais em me ver — Que novidade boa!
Os demais me fitaram como que esperando minha reação. Eu estava tão travado, apavorado, enraivecido e estranhamente emocionado que não sabia o que fazer senão olhá-lo com surpresa. Eu simplesmente meneei minha cabeça afirmativamente, e ele foi sentar-se entre Jack e Brand... Bem à minha frente. Não havia escapatória.
Acho que só consegui comer alguns minutos. Não que a comida estivesse ruim, claro que não: estava divina, tão gostosa quanto sua aparência dizia. Contudo, passei boa parte do tempo tentando evitar os olhares do Yalahari, que insistia em chamar-me a atenção. Aquilo certamente me importunava.
— Seu Faraó está me dizendo que você talvez deixe a cidade — Era Marziel quem falava, fazendo minha mente voltar ao recinto — Por que motivo?
— Bem... — Comecei, bebendo um gole de chá — Tenho um compromisso... Um dever em Svargrond. Pretendo encontrar um Grão-Vizir à altura de Ishebad para me substituir. Infelizmente, não tenho ideia de onde começar.
— Djanni — Falou Hammoud, atraindo minha atenção — Os Gênios são eloquentes, trabalhadores e de bela caligrafia. Se você conseguir fazer algum deles sair da fortaleza, considere sua missão muito bem cumprida.
Eu acenei afirmativamente. Excelente ideia! Anotei os dizeres de Hammoud em um guardanapo. Apesar do ânimo renovado, ainda sentia muita dor de cabeça e minha febre tendia a aumentar cada vez mais. Meus olhos começaram a arder, e Eriel percebera isso.
— Você está bem, Keras? — Indagou-me com a sobrancelha esquerda erguida.
— S-sinto muito... — Gaguejei — Vossa Majestade, com a sua licença... — Levantei-me de meu assento e rapidamente dirigi-me à saída. Naquele momento, Brand fitava-me com desconfiança.
— Vou até ele — Sussurrou nos ouvidos de Wind.
— Não — Protestou o Yalahari — Eu vou. Com a sua licença, Majestade.
***
Minha cabeça doía. Meu coração batia forte... E a febre não queria ceder. Apoiei meus cotovelos no parapeito da sacada, tentando manter-me consciente. Então, ouvi passos em minha direção. Espiei com o canto do olho, e percebi formas muito familiares.
— Isso tudo é saudade, é? — Disse uma voz muito conhecida — E aquele moreno, quem é? Do jeito que ele se engraçou com você... Fiquei até com ciúmes. — Maldição, era ele. Wind.
O ruivo aproximou-se timidamente, a passos lentos, porém constantes. Minha mente entrou em conflito: ele me havia ferido com aquelas cartas, com as mentiras que dissera...Contudo, parte de mim parecia querê-lo. A cada passo que ele dava, eu recuava metade.
— Afaste-se de mim — Eu disse incomodado — Já não me basta as dores que me causou?
—Como assim? — Indagou-me o confuso Yalahari.
—Não se faça de inocente! — Bradei quase inconsciente — Você... Você sabe... o que fez... — senti-me desfalecer.
—Como assim? Keras...Keras?Keras! — Desfaleci nos braços do Yalahari que, assustado, só pode fazer uma coisa: gritar — Ajudem! — Ele urrou — O Grão-Vizir desmaiou! Guardas! Guardas!
Continua...