Olá pessoal. Segue aqui mais uma disputa das semifinais, Sero x Mano Mendigo, com o tema Okolnir.
Peço para que ninguém revele quem é o autor dos textos.
A votação ficará aberta até dia 08/06, e em caso de empate, mais 3 dias serão contados para o desempate.
Agora, os esperados textos:
Spoiler: Texto 1Além das Montanhas
"
- Rainha, rainha, tivemos outra baixa!
- Quem, agora? - Dizia a grande rainha Hera, de Svargond, sentada em seu trono muito preocupada.
- A reserva de água congelou! Não temos mais água em estado líquido aqui!
Ela pensou um pouco, já cabisbaixa assim como seu fiel ajudante, quando levantou do trono aparentemente com uma idéia em mente:
- Diga-me, diga-me, quais são as ilhas espalhadas por esse continente?
Camel pensou, e não demorou para um sorriso de ponta em ponta aparecer naquela cara antes preocupada:
- Okolnir!!! É isso! Lá tem água quente, perfeita para nosso uso! Podemos chamar aqueles soldados para ocupar a ilhota, rainha!! - Camel apontou para mim e meus 2 companheiros de batalha, que estavam sentandos no chão, esperando assim como eu, um pouco de água.
A rainha Hera finalmente se deu conta de nossa presença, e assim levantou, em nossa direção. O vestido branco dela dançava sob o chão vermelho com detalhes amarelos, dando assim mais cor à sala que tem um tom muito branco, e até mesmo algumas esculturas de gelo marcavam sua presença na sala real. Realmente, tudo muito impecável. Nos levantamos, surpresos:
- Louvada seja a vossa rainha! - Levantando, falamos em coro.
- Sabem que não precisam disso, rapazes. - A realeza passava com sutileza entre a gente, até parar atrás de Tor, que se assustara com a face pálida e um par de olhos azuis atrás dele, falando perto do ouvido:
- Tenho uma missão para os três cavalheiros.
- Sim, senhora! - outra vez combinamos nossas vozes.
- Conhecem a ilha de Okolnir?
- Sim, senhora!
- E conhecem o que tem lá?
- Sim, senhora? - Um silencio rápido pairou sobre o ambiente - N-não, senhora!
Deu-se à perceber que o suor de nervosismo de Tor afastou a realeza, assim se impondo mais em nossa frente, enquanto o "mordomo" dela apenas observava de longe, limpando o trono:
- Lá existe uma fonte de água quente, perfeita para consumo. Quero que vão lá, sequem a fonte de água quente assim como todas as riquezas de lá, e tragam aqui o mais rápido possível. Usem a magia de contenção para armazená-la, mas não demorem demais no caminho: a tempestade de gelo ultimamente vem congelando animais e nossa água, então prestem bastante atenção! E o mais importante: Matem tudo o que encontrarem no caminho, TUDO! Não tenham piedade. Vou emprestar o mapa para vocês, e assim irão ao toque do sino.
Eu e meus amigos trocamos alguns olhares, assustados, mas não hesitamos em assentir de novo:
- Sim, senhora.
- CAMEL! TRAGA JÁ O MAPA!
O anão foi correndo entrar numa porta, e logo saiu com o papel. A rainha se aproximou dele, pegou, e logo voltou:
- Vocês estão preparados?
- Sim, senhora!
- E se encontrarem algo, irão fazer o quê?
- Matar sem piedade!
- Logo, qual é o lema de vocês? Ah, sim, já sei, não pago dez: Matar sem piedade! - O sarcasmo e ironia dela assustava de não dormir a noite, eu particulamente preferiria dormir em draconia do lado da teia gigante das aranhas do que dormir do lado da rainha gritando:
"Matar sem piedade!"
Assim que esse pensamento veio em minha mente, abri um sorriso, e ela notou:
- Algo engraçado que eu não percebi?
Fiquei totalmente corado e sem graça, enquanto meus amigos se seguravam para não repetir meu erro:
- Não, senh...
"DING, DING, DING..." E o sino tocava me interrompendo: Era hora de partir. Antes disso, recebemos um pouco de água dela, como um tipo de pré-recompensa. Fomos sendo guiados para a saída, esperando o pior... Ou um frio danado. A ignorância por parte da rainha de não lembrar de seus servos presos ou mortos pelo frio me dava calafrios.
- Boa sorte, vão precisar. Agora vão, e tragam tudo de precioso daquela ilha!
Dessa vez não gastamos nossa voz com um "sim, senhora", e saímos batido para com aquele que é o maior inimigo de Svargond: O frio.
Depois de um tempo, finalmente falamos algo no caminho:
- Nossa Tor, passou por uns maus bocados, em? Eu particulamente não acho a rainha muito bonita, não é, Lothar? - Sugeria Noah, o palhaço da turma, para mim.
- É verdade. - Assenti, tentando descontrair um pouco.
- Nem comentem. - Por fim, Tor complementou.
O frio realmente era assustador, e mais assustador ainda era ver a antiga cidade coberta por neve e gelo, com a triste impressão de abandono. Infelizmente, a maioria da população não conseguiu sobreviver, e cada "baixa" que o anão Camel dizia, era uma morte. Porém todos nós estávamos devidamente trajados, mas mesmo assim o frio perturbava. Tor, o mago do trio, acendeu um "utevo vis lux", aquecendo um pouco mais as coisas. Ele é de origem élfica, por isso o rosto dele é um pouco fino, com orelhas pontudas. Pela lógica, um paladino, mas o pai dele influenciou demais na escolha do ainda jovem Tor. Já eu e Noah éramos humanos e cavalheiros, nascidos e criados no frio, convivendo com coisas anormais para um elfo novo na cidade.
E a conversa foi-se extentendo. Nem o frio nos parou, nem a tempestade. Tínhamos chegado no cás.
- Ai ai, não sei não viu, esse mar está totalmente congelado! - Dizia preocupado Tor.
- Relaxa, amigão, relaxa. Você usa sua magia para derreter o gelo! E é isso, demoraremos um pouco mais, mas mesmo assim chegaremos no destino!
- Bom, se quisermos chegar lá em tempo, é melhor adquirir a pressa. Menos de 1 minuto aqui e a neve já está cobrindo minhas botas! Argh! - Dizia eu, tentando me soltar do chão.
- Tudo bem então, vamos pegar aquele barco ali e navegar. E lembrem-se, matem SEM PIEDADE! - Lembrava Noah.
Assim avançamos para o barco, confiantes.
A viagem foi cansativa, principalemente para Tor, que usara a maioria das suas poções de magia. Eu estava cansado de remar assim como Noah, mas para nossa alegria geral, tínhamos chegado na famosa ilha de Okolnir. Na verdade, eu sabia algo sobre aquela ilha montanhosa, mas não tinha certeza se realmente era verdade.
II
Nossa missão era roubar todas as riquezas da ilha (a fonte de água quente) e matar tudo o que vier pela frente. Nossa feição ficara mais séria assim que descarregamos nossas coisas e pisamos naquele lugar misterioso. As piadas sem graças deram lugar a uma concentração total, e de começo prometemos não falar muito alto para não atrair nenhum dragão.
A ilha é plana no começo, com um terreno coberto por gelo e árvores congeladas, e mais na frente algumas várias pequenas e grandes montanhas, formando assim um belo local, belo mesmo. De início, não encontramos dificuldades aparentes para avançar, mas o problema mesmo estava em outro lugar. Eu estava embalado pela tristeza causada pelo último inverno, que foi devastador para minha terra. No lugar de um frio comum para a vila, uma tempestade avassaladora cobriu toda Svargond com o caos, culminando mais da metade do terreno - que virara montanhas de neve - e também acabando com a população. Infelizmente perdi muitos amigos, os únicos que sobreviveram foram Noah e Tor. Esse pensamento ecoava na minha mente, tirando o foco principal que era a missão. Mais a paisagem se mostrando foi rapidamente me envolvendo, tirando aquela sede de matar, ou aquela frase repugnante. Estávamos chegando perto das montanhas, quando ouvimos alguns grunidos:
- Lothar, isso não é bom. - Sugeria Tor, assustado.
- Cuidado, fiquem atentos, pode ser um dragão de gelo - respondi.
Dito e feito: Um dragão coberto pro neve e gelo apareceu diante das frestas das montanhas, já observando o que seria a comida dele. Ele avançou, e de longe mesmo soltou uma onda de gelo. Ela não chegou a acertar ninguém, mas já serviu de alerta.
- Vamos abrir esta noite!!! Eu começo! - Indagava Noah, empolgado.
Ele foi correndo de frente para o dragão, que rapidamente chegara perto de nós. Dando cobertura, Tor tentava usar seu fogo para derreter o bichano, mas sem efeito - ele tinha medo só de chegar perto -. Já no conflito, Noah acertara no olho o feroz dragão, que recuara por um tempo curto. Nesse tempo, consegui avançar, efetuando assim minha mais nova magia:
"exori gran ico"
Minha lâmina dobrou de tamanho, e ficou duas vezes mais leve e fácil para manuseá-la. Dei cobertura para o cavalheiro Noah, avançando com a ponta da espada apontada para o monstro, que sentiu a espada atravessar pelo seu coração de gelo. Ele gruniu, agoniou, e caiu deitado no chão. Minha primeira reação depois daquilo foi olhar o sofrimento do dragão, que caíra morto em poucos segundos de batalha. Enquanto minha espada voltava ao estado normal, Tor pulava de alegria:
- Nossa, conseguimos essa tão facilmente!!!
- Conseguimos? Se refere a? - Noah respondia, indignado.
- Nós!
Ele se aproximou de Tor, com um sorriso estampado no rosto:
- E se 5 dragões como esse nos atacassem? Falaria isso depois da batalha? Ficaria tremendo de medo, e não de frio? Não, creio que não. Agora pegue teu cajado e pare de temer por tudo! - Respondia com classe, Noah.
- D-desculpe. Agora vamos.
Havia conseguido tirar minha espada presa dentro do dragão, e a pequena discussão havia acabado. Seguimos em frente, rumo às montanhas.
III
Finalmente tínhamos chegado. As grandes montanhas tinham caminhos infinitos para trilhar, de diferentes ângulos e lugares por começar. Mas uma trilha, por meio das elevações, impressionara eu e meus amigos. Ela era de terra, e não coberta de gelo. Algumas tochas iluminavam o caminho que parecia o mais propício de todos.
- Por aqui, vamos! - Disse eu.
Seguimos pela trilha, na esperança de achar a fonte de água, secá-la, e voltar para nossa casa, mas uma coisa nos intrigou profundamente: Na medida que avançamos, conseguimos ver um caldeirão contendo lava dentro, e 6 dragões de gelo estavam rodeando ele, recitando algum tipo de oração. Inexplicável, eu sei. Mas aquilo nos intrigou. Eles pareciam estar rezando para alguém, em perfeita harmonia.
- Lothar, o que é isso?
- Eu não sei, Noah, não sei mesmo.
- De qualquer forma, eles estão concentrados em alguma coisa. Vamos pegá-los desprotegidos e assim conjurar a magia de área:
"exori".
- É... Vamos, vamos ver no que dá.
- E eu? O que faço? - Perguntava baixinho Tor.
- Dê cobertura pra ele, enquanto eu tento observar o que que eles estão fazendo.
- T-tudo bem.
Ambos passaram pelo trecho final da trilha ligeiramente, e chegaram assim na mini-caverna, onde os dragões estavam. Em um ato de fúria, Noah avançou e executou a magia de área para guerreiros, pegando assim em três dragões de gelo. Tor usou seu cajado de energia para derrubar o caldeirão de lava nos outros três dragões, que não escaparam da morte. Assustado, fui correndo ajudá-los, vendo aquela cena horrível de conflito. Noah sacou seu machado de dois gumes, e executou um golpe certeiro na perna do primeiro monstro que tomava a frente, já machucado com a magia de área. Ele caiu, agoniando também, mas parecendo que estava chorando. Tor levantou seu cajado para o segundo dragão de gelo, que quando ia desferir um golpe certeiro na cara de Noah, foi acertado por uma descarga elétrica que o retardou fortemente. Noah ia desferir o golpe final no monstro, mas havia uma coisa que eles esqueceram: Havia outro dragão vivo. Este que montou em cima dele, e soltou uma onda de gelo temporária em seu abdômem, prendendo-o no chão. O dragão começou a desferir golpes sem parar na face dele, como se estivesse em fúria total, enquanto Tor estava ocupado tentando matar a outra fera de gelo. Eu consegui chegar no local da batalha já com a espada em punhos, cortando assim a cabeça do dragão em que Noah apanhara muito. Logo depois, na adrenalina, consegui desferir no coração, certeiro, um outro golpe no sobrevivente. Ele caiu, já reduzido a morrer. Os olhos dele brilharam, como uma forma de piedade, mas não raciocinei aquilo na hora: Pisei nele, e acabei com aquilo. Tor estava em estado de choque com o que tinha acontecido com Noah, que estava extremamente machucado:
- E-eu estou bem - indagava Noah, mas sem convencer - deixe-me apenas respirar um pouco.
- Tor, tens alguma poção para o nosso amigo deitado ao chão aqui?
- Bom, vamos v...
De repente, um barulho ensurdecedor caiu, literalmente, ao nossos ouvidos. Parecia uma avalanche - e de fato era.
- SE ABAIXEM!!! - Gritava desesperado, o elfo mago.
A impressão é que as pedras que formavam o pequeno abrigo onde estávamos iriam desabar sob nossas cabeças, mas aconteceu algo muito diferente. A neve encobriu o caminho, deixando assim tudo escuro, ou seja: estávamos no escuro, trancados por pedras e neve. Noah começou a se debater no chão (percebi pois ele tocou nos meus pés) e, logo depois disso, o silêncio cantou. Passou-se um tempo em silêncio total, quando finalmente ouço uma voz:
- Eu morri? - perguntava Noah, assustado.
- Todos estão aí? - Ignorei totalmente a pergunta dele, transbordando desespero.
E Tor, que não sei o que estava fazendo no escuro, recitou as palavras que naquele momento, soaram como música em meus ouvidos:
"utevo vis lux".
- Acho que assim melhorou. - Cochivata Tor, que estava deitado com a cabeça virada para o chão.
Antes que alguém pudesse falar outra palavra, a neve estranhamente começou a se mover lentamente, como se algum gigante estivesse pisando nela com brutalidade. A neve começou a entrar na caverna, sem pressa, desesperando assim Tor:
- VAMOS MORRER! SEGUREM-SE! REZEM PARA OS D...
- Lothar, me levante, por favor! - Fitando Tor novamente, Noah suplicava ajuda, preocupado, pois não conseguia levantar sozinho.
Não cheguei a levantar ele, apenas fui arrastando-o para a parede, enquanto a neve dava tempo ao tempo, calma, nos sufocando de pouco. Mas quando encostamos, nós 3, na parede, ela começou a se levantar. Foi a coisa mais estranha que eu vira na vida, pois a neve estava se criando, como se quisesse um corpo, mas como? Apenas vimos guerreiros brancos se formarem diante de nossos olhos, multidões deles, levantando ainda calmos, sem pressa. A luz do lado de fora começara a reluzir novamente o ambiente. Como se não bastasse tanta coisa em minha mente em tão pouco tempo, os primeiros "bonecos de neve" começaram a realmente se mover em nossa direção, sem face, ou alguma expressão, eles apenas se moviam contra nós, querendo nos confrontar. Larguei cuidadosamente Noah no chão, enquanto Tor recarregava seu cajado de energia de mana. Saquei minha espada, já desferindo o golpe nos dois primeiros sortudos.
A boa notícia: eles morriam rápido.
A má notícia: eram milhares.
Tor por sua vez, já com sua mana totalmente carregada, tratou de descarregá-la com ondas de descargas elétricas, culminando assim dezenas de soldados de uma vez. Novamente botei em prática minha nova magia, deixando tudo mais fácil para o combate. Começei a apenas dançar com minha lâmina, acabando com todos que vinham em minha frente. Mas mesmo assim, eram muitos. Eu e Tor não estávamos dando conta. Noah fez força para se levantar, e conseguiu, finalmente. Ele percebeu uma coisa que seria crucial na batalha, pois uma hora ou outra eu e o elfo descobriríamos tal da pior maneira:
- Lothar, Tor, eles estão se reerguendo! Cuidado com as costas!
Tarde demais para o mago, que foi atingido por trás, assim caindo no chão. O primeiro soldado que o derrubou, caiu em cima dele, e simplesmente se dissolveu. O segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto fizeram o mesmo.
- S-oc-rro!!! "COF, COF,COF"
Ele estava sendo soterrado inacreditávelmente, e enquanto eu observava isso, por um descuido, fui derrubado também: ia acontecer o mesmo comigo. A sensação é a pior possível - ele te derruba, vem com tudo em cima de você, vira um monte de neve, e você não consegue fazer nada. Eu e Tor iríamos morrer, a não ser que Noah agisse. Mas como? Ele estava machucado, mal tinha condições de ficar em pé. E logo seria ele o próximo "soterrado".
Me desculpe, mas se pensou isso dele, está catastróficamente errado, pois conheço a figura. Eu não sei o que ele fez naquele momento, mas eu ouvia alguns barulhos abafados vindos dele, provavelmente tentando se livrar de todos os homens de neve. Já estava sem ar, sufocado, quase desmaiando, quando um balde de água fria me acertou em cheio... Ou a neve se dissolveu em água em cima de mim. Estava atordoado, ainda não enxergando nada, mas de relance eu podia ver um clarão. Me levantei, vacilante, ainda enxergando pouco. Quando realmente abri os olhos, Noah estava deitado no chão com a cabeça encostada na parede, segurando uma runa. Tor estava ajoelhado, chaqualhando a cabeça, atordoado assim como eu. Me foquei mais, e consegui enxergar e sentir outra coisa: a água. Ela estava subindo muito rápido, congelante. Mais alguns segundos, e ambos meus amigos estariam submersos. "Acordei" Tor, e logo depois fui carregar Noah, que estava muito machucado, para fora do pequeno abrigo ou caverna.
- Lothar? Que água é essa? De onde ela veio? - Levantando desesperado, Tor perguntava.
- Apenas me ajuda a segurar Noah! Argh, ele é muito - Argh! - pesado!
- Claro!
A água já estava beirando a cintura em tampouco tempo, o que dificultava ainda mais as coisas. Noah estava desacordado, sendo levado assim por mim e pelo Elfo. Tor o segurava pelos pés, e eu pelos ombros. A água congelante adormeçeu minhas pernas, deixando o processo mais lento. Minha espada e mochila pesavam ainda mais, e enquanto isso a água subia sem dar tréguas, pois naquela hora, já estava na barte da barriga. O desespero começou a tomar conta, e com ele, veio também a adrenalina. Tirei as mãos de Tor das pernas do guerreiro, me ajeitei com ele, e fui correndo para o raso. Tor ficou meio perpléxo, mas logo depois correu também para a saída. Finalmente, tínhamos saido daquela enrascada. Andamos mais à frente da trilha, onde não tinha mais água, e Tor perguntou uma coisa interessante:
- Como a água veio apenas na gente, e não se espalhou no chão? Isso não é possível.
Enquanto ele perguntava, eu me deitava no chão , exausto, colocando também no chão Noah. Não sentia meu corpo, e nem mesmo conseguia respirar direito. Tor aparentava estar menos cansado, mas ainda assim exausto. Logo, tinha ignorado a pergunta, mas depois de um certo tempo, respondi:
- Esta ilha... Há algo muito errado.
- Há mesmo. - retrucou Tor.
Enquanto conversávamos, Noah abriu os olhos, aparentemente muito mal, e novamente direcionou seus olhos para mim, e logo me aproximei:
- A-amigo, vá sem m-mim. C-cuide de Tor, aq-quele... - Ele esboçou um sorriso sofrido, e logo depois fechou os olhos, sem terminar a frase. Eu não pensava que ia acabar assim, eu pensava que ele ia até o fim com a gente, mas mesmo assim uma coisa é certa: Ele é um herói, e sempre será. Abraçei ele, deitado, e começei a chorar. Tor se agaichou, e também me abraçou tentando me consolar. Mas naquele momento nada, nem mesmo aquela maldita fonte de água, nem mesmo Tor, nem mesmo as estrelas que brilham ou a chuva que purifica, repito, NADA, poderia me consolar, foi a maior perda da minha vida. Me levantei, movido pela tristeza, e gritei. Gritei para que aquela ilha ouvisse que eles mecheram com a pessoa errada:
- AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH HHH!!!!!
- Acalme-se Lothar, acalme-se. Ele vai ficar bem. - Ainda me consolando, Tor falava chorando.
Olhei para aquelas montanhas, mas agora com um pensamento apenas: Vingança. E simplesmente eu não deixaria o corpo dele ali, levaria comigo, nas minha costas, pois nem a morte nos separou... Mas algo aconteceu.
A terra em baixo de Noah começou a se mecher, e pequenas raízes saíram do solo, puxando-o para baixo. Desesperado, também coloquei meus braços para que me puxassem, mas já era tarde: Noah havia sido "sequestrado" diante dos meus olhos.
- Agora já chega... JÁ CHEGA! - Disse revoltado com a situação, incorfomado e me sentindo culpado com o que acontecera.
Antes que Tor pudesse tentar dialogar comigo denovo, uma voz vinda do ar, das montanhas, da caverna, do solo, do além, pairou sobre o ar:
"Eu sei como deve estar se sentindo, jovem. Só hoje, perdi sete filhos"
- Quem é você? - Olhando para todos os cantos, confuso, perguntei.
"Vá além das montanhas, e na hora certa, você me achará."
- EU VOU TE MATAR E VINGAR A MORTE DE MEU AMIGO, SEU...
- Lothar, acalme-se, vamos achar este indivíduo. Agora vamos sair daqui e subir aquela montanha, até chegar ao outro lado. - Dizia Tor, cabisbaixo, apontando para o mais alto morro da ilha.
Assenti, já mais calmo, com o folêgo renovado. Estava pronto para ir até os confins de Tibia para achar meu amigo, e matar quem matou ele. Seguimos a trilha até a saída, pegamos outra rota que nos levara para nosso destino, nos aprontamos, e começamos a subir. Tudo estava mais calmo, sendo assim tranquilhamente eu e Tor subíamos usando nossas cordas pontiagudas e sandálias especiais para escalar montanhas, e fomos avançando cada vez mais. O frio pertubardor naquele momento era a brisa de primavera para mim, mas ao contrário do que eu pensava, Tor estava sofrendo com o frio:
- Não sente nada? - Olhando para mim, perguntava surpreso o mago prodígio.
- Não sinto nada, amigo. E você? Aparenta estar congelando...
- Bom, isso não é de costume, já que me adaptei ao frio constante de Svargond, mas esse inverno está complicado, não? Afinal, estamos aqui por causa dele! - ria Tor, descontraindo o ambiente.
- É ver..
Um barulho estranho começou a dar as caras, preocupando eu e Tor, que estávamos no meio da montanha, praticamente. O barulho começou baxinho, e aos poucos foi adquirindo volume. Ah, se eu não conhecesse aquele barulho...
- AVALANCHEEE!!!!!!!! - Gritei avisando Tor - CUIDADO!!!
- OUTRA? SOCORRO!!! - berrava Tor, se descabelando de medo.
Olhei para o topo, e percebi que não era uma avanche, e sim várias bolas gigantes de neve, descendo ladeira abaixo, pulando e ao mesmo tempo adquirindo mais volume. Manti a calma, já que dava para escapar vivo, bastava apenas esquivar. Olhei para o lado, e Tor estava com um tipo de áurea roxa em volta dele, algo o rodeando. Ele percebeu, e me respondeu de prontidão sem eu ao menos perguntar algo:
- MAGIA NOVA! TINHA ME ESQUECIDO DELA!
Nesse momento, uma bola gigante chocou-se com ele - ou melhor - contra a áurea dele, e logo depois do contato a bola se transformou em simplesmente neve "avulsa", digamos assim. Percebi que minha falta de atenção momentânea naquele momento poderia ter custado minha vida, e logo me foquei no problema de novo. Uma bola de neve gigante vinha descendo em minha direção, e eu tinha que desviar. Soltei uma das duas cordas presas à montanha e me joguei para o lado esquerdo, saindo assim da zona de perigo.Eu estava voltando aos poucos, mas logo finquei de novo a corda, puxando assim a outra que tinha ficado. Assim que percebi, mais 3 bolas estavam descendo em minha direção, e enquanto eu olhava para elas, a que eu desviara acabara de passar. Resolvi voltar para onde eu estava assim escapando de novo, mas desta vez estava mais difícil. Na minha esquerda, duas bolas iam passar, logo não tinha como eu me locomover pra lá. Em cima de mim, uma. Só restava onde eu estava, mas tinha que ser mais rápido, pois as três estavam chegando. Soltei uma das cordas novamente, joguei ela para o lado direito o mais longe possível, e assim que ela se fincou na montanha, soltei a outra e voltei. Mas eu não tinha fincado direito, e com o meu peso mais o peso de minha mochila, a corda se soltou no meio do pulo, e naquele momento, eu estava em quedra livre. Enquanto eu estava caindo, percebi Tor olhando para mim, mas não cheguei a ver a expressão dele. Nesse momento, uma bola de neve passou raspando em mim e levou minhas cordas embora, junto com minha esperança de sobreviver. Naquele momento eu estava caindo direto para o chão, sem nenhum apoio, e nenhuma coisa que poderia me manter vivo...
Estava completamente derrotado, quando o pensamento de Noah veio em minha mente:
"Nunca desista, amigo. Aliás, você tem uma mochila com várias coisas, com certeza algo lhe servirá"
Não sei se foi Noah que disse aquilo para mim, mas seja lá quem foi que disse me ajudou imensamente. Peguei a mochila, já quase em terra firme, consegui abri-la, tirei minha espada, joguei a mochila ao ar (que por sorte se enroscou no meu pé) e finquei minha lâmina naquela montanha composta por rochas e muita neve. Me segurei com força na espada, e minha queda foi parando aos poucos. Ela só parou quando eu encostei meus pés no chão, em uma velocidade mínima. Algumas bolas gigantes de neve ainda caíam no chão, fazendo um barulho estranho. Mas nada disso importava, afinal: eu estava vivo. Respirei bem fundo, e gritei para Tor, lá em cima:
- EU ESTOU BEM!
Demorou um pouco para ele responder, mas logo ele conseguiu:
- QUE BOM! AGORA SUBA DENOVO!
Aquela frase me matou, mas era a realidade: eu tinha que subir denovo. Me arrumei denovo, guardei minha espada (não antes de beijá-la) na mochila, e recomeçei minha trajetória. Acabei de achar Tor me esperando no mesmo lugar de onde nós paramos, e assim fomos subindo. Depois de muito tempo, chegamos ao topo, já vendo uma vista inacreditável de tão bonita. O dia já estava acabando, dando aquele tom laranja ao céu, deixando tudo ainda melhor. Já na terra firme do outro lado da montanha, dava pra perceber uma vila relativamente grande, com casas feitas de gelo, barracas, e bem no meio da vila, a fonte de água quente, gigante e toda de si, jorrando água para todos os cantos, dando mais alegria ao lugar. Quando parei para ver aquela vista, algumas perguntas passavam por minha cabeça, pois não tinha sentido aquelas bolas de neve saírem de onde eu estava, e aquela vila... Quem será que habita nela? De quem é aquela voz?
- Tor, isso está muito esquisito, o que será que este lugar quer com a gente? - eu perguntava observando a fonte d'água natural.
- Eu tenho uma opinião. A ilha, ou seja lá quem for, devem estar nos impedindo de roubar a água da fonte.
- Mas aquela voz... Ela nos disse para irmos até aqui. Pra mim isso só era uma ilha, mas...
Não pude evitar de lembrar Noah, pois no meu pensamento ele havia morrido por minha culpa, por minha indisciplina dentro da batalha. Tor percebeu, e se aproximou de mim, e logo me consolou, de novo.
- A culpa é minha. Eu sei disso, Tor.
Inesperadamente a voz áspera e cansada voltou à tona:
"A culpa não é sua. A culpa é de tua ganância, jovem."
Tor pareceu surpreso, e eu também fiquei, mas não demonstrei isso:
- Ora, você matou meu amigo e ainda quer fazer com que eu pareça errado?
"Você menosprezou minha ilha, destruiu o ritual sagrado dos 6 dragões, matou meus servos, entrou na vila proibída, teve má intenções ao querer roubar meu principal tesouro e eu que estou errado nesta história? Por favor jovem, dê sua réplica."
- Sim, eu confesso que cheguei aqui visando apenas a fonte de água quente. Mas por uma boa causa. Minha vila está doente, estamos sem água e quando cheguei aqui pensei que esta ilha não tinha coração, nem vida, nem nada, apenas a fonte. Mas agora nada disso interessa, pois você matou meu amigo!
- Lothar, vá com calma... - Dizia Tor tentando me acalmar.
"Bom, se é isso que você quer, vá em frente e veja se é forte o suficiente para me combater. Meus guardas estão esperando vocês aí em baixo."
A descida da montanha era mais inclinada, sendo assim, mais fácil para descer ou subir.
- Você está pronto, amigo? - perguntei à Tor.
- Mais pronto do que nunca.
Saquei minha espada, e Tor sacou o cajado dele. Descemos correndo a montanha, com sede de vingança. Já estavam na nossa vista os guardas: gigantes feitos de gelo. Eles são arrebatadores na batalha corpo a corpo, mas muito fracos contra magias e flechas, e no total eram 5. Assim que descemos, dois deles vieram em mim, visando o confronto direto. Bom, já que não havia outra alternativa plausível, resolvi ir no jogo deles. O primeiro deu um soco no vento, já que me esquivei. Enquanto o braço dele voltava do soco em vão, acertei em cheio a mão dele, que caíra no chão. Já visando o segundo, girei minha espada para afastá-los, mas não deu certo. Ele me jogou para longe, e logo depois já veio correndo pra cima de mim. Quando ele ia acertar um soco certeiro em mim, ouvi uma voz de canto:
"Exevo gran vis lux"
Era Tor, que salvara minha vida e meus dentes.
- Eles são muitos fracos contra energia, em? Pff. - Dizia Tor com cara de desprezo, estendendo sua mão para eu me levantar.
Naquele momento, senti meu corpo tremer e começei a soar frio, e além do mais eu estava muito desidratado, enquanto Tor aparentemente estava normal. A voz voltou a falar comigo:
"Muito bem, vocês conseguiram. Agora, ten..
E assim, eu desmaiei.
IV
- Lothar, Lothar! Você acordou, aleluia! - dizia Tor, feliz.
Eu estava aparentemente em uma tenda, e quando eu acordei, vi Tor, um dragão de gelo passando do lado de fora da tenda e um homem. Aquele homem era azul e usava uma capa de couro marrom, acompanhado de um cajado de madeira e sandálias. Ele olhava fixamente pra mim, e rapidamente pude perceber quem era. Ele se aproximou de mim, se agaichou ao meu leito, pegou na minha mão, e com uma voz áspera e cansada, ele disse:
- Prazer, Heros, filho da rainha Hera.
Olhei para ele, perplexo. Primeiramente, hesitei em falar com ele, mas logo cedi:
- P-razer, Lothar.
Ele riu e olhou para Tor, que também estava contente. Aparentemente era dia, e um dia muito lindo por sinal. Depois de um pequeno momento de descontração entre eles, Heros voltou a ter uma feição mais séria e retomou a conversa:
- Teu amigo contou tudo. Que aventura vocês tiveram, não é mesmo? - Ele voltou a rir, e depois novamente voltou a uma feição séria - Mas quero que fique sabendo de algo, Lothar. A rainha que você tanto adora quis matar seu própio filho para sobreviver. Ela sabia que eu morava aqui, e que esta ilha é sagrada e tem tantas coisas boas que só vendo mesmo. Temos tudo o que precisar aqui, amigos, alimento, diversão, treinamento, e principalmente, água. Então quero que você me perdoe pela morte de seu amigo... Como é o nome mesmo?
Antes que eu respondesse chingando ele, ouvi uma voz muito familiar:
- Noah, senhor. - Noah entrou na tenda, se agaichou ao lado de Heros, e apenas ouviu ele terminar:
- Viva em paz, com seus amigos. Fique na vila sagrada da ilha de Okolnir, ressaltando que uma vez morador daqui terá vida eterna. Vamos fazer um exército, e lutar contra Svargond e minha mãe, ou melhor, a rainha Hera. Faça que nem teus amigos, more comigo. - Simpáticamente, Heros me convidava.
Eu parei por um instante. Vi Tor feliz, sentando em um banquinho de madeira ao meu lado, vi Noah que fora curado ou recussitado, e também vi aquele homem que, em pouco tempo, mudou a minha vida. Cheguei a uma conclusão, abri um singelo sorriso de quem está deitado na cama, e disse:
- Vida longa ao rei Heros!
Ele se surpreendeu à minha resposta, e logo depois meus amigos complementaram:
- Vida longa ao rei Heros!
Ele riu, se levantou assim como Tor e Noah, e complementou:
- Tem um bom coração, filho. Descanse mais um pouco, você ainda não está muito bom.
E assim os três saíram da tenda.
Eu descansei, como ele pediu, descansei por um bom tempo. E logo depois que levantei, escrevi tudo o que aconteceu em um livro, ou melhor, neste livro. E vou entregar a você, Hera, para ler e se preparar. E que também sirva como uma lição para a senhora:
Nunca subestime a força de Okolnir.
~
Spoiler: Texto 2O Frio e o Doce Hidromel
O vento frio do norte, para muitos um verdadeiro flagelo na pele, era como se fosse um suave beijo de boas-vindas para Erend Ger-Adon.
Cada vez que via de perto a neve de Svargrond, sentia o vento soprar-lhe suavemente por entre os cabelos, e divisava as construções da cidade que considerava tão bela, sabia: estava em casa.
E a primeira coisa que fazia sempre que chegava de suas viagens era ir até a taverna. Não havia melhor lugar para repousar os ossos cansados da estrada, e relaxar ouvindo ótimas histórias dos outros aventureiros. E claro, esquentar o corpo com uma bela caneca de hidromel, de longe a bebida que mais lhe agradava. A simples lembrança do odor do hidromel fazia-o sentir saudades de seu lar, onde quer que estivesse.
Apesar desses sentimentos tão sinceros por aquela terra gelada, não era nascido lá, mas em Thais. Após incontáveis aventuras, encontrou finalmente o lugar que cativou o seu coração. Desde a primeira vez que pisou naquela ilha do norte, ficou deslumbrado, e decidiu ficar por lá algumas semanas. Semanas que se tornaram meses.
Depois, os meses tornaram-se anos. Quando percebeu, já não conseguia mais deixar aquela terra, que apesar de tão fria, aquecia sua alma. Lá encontrou repouso e tranquilidade, de modo que seu espírito aventureiro abrandara-se, como que se houvesse sido domado pela vida nortista, e já pensava seriamente em parar com as aventuras e viagens dentro de pouco tempo.
Quando entrou na taverna, sempre cheia de aventureiros de toda sorte, sentiu-se mais feliz do que nunca. Soube, mais uma vez, que aquele era o seu lugar.
— Dá-me uma boa dose de hidromel, meu caro Dankwart! — apregoou ele, sorrindo largamente enquanto entrava à taverna. Alguns aventureiros viraram-se para vê-lo, e, reconhecendo-o, sorriram e gargalharam, levantando suas canecas numa espécie de saudação sincera e nada comedida. — Estou cansado da longa viagem, e meu espírito procura repouso numa caneca desse ouro líquido que vendes aqui.
— É muito bom ver-te, Erend — disse o dono da taverna, abrindo também um largo sorriso enquanto lhe oferecia uma caneca cheia, a ponto de transbordar. — Tem aqui; beba esta por minha conta!
Enquanto Erend agradecia e ria, os outros homens da taverna, já um tanto ébrios de hidromel e outras bebidas, gargalhavam e falavam alto, comentando sobre a chegada de Erend. Era sempre uma festa quando ele chegava de suas viagens, pois além de ser um homem divertido e carismático, sempre trazia notícias e excelentes histórias para contar — e a habilidade de contar histórias é tida em altíssima conta nas tavernas. Era um homem muito estimado pelos habitantes daquela cidade.
Enquanto todos riam e conversavam, atiçados pelo retorno de Erend, uma pessoa chegou à taverna trazendo o rosto coberto. Sentou-se sozinha, numa mesa próxima, e ficou em silêncio enquanto todos conversavam. De fato, parecia estar bem atenta ao que falavam, mas ninguém a percebeu. Estavam por demasiado animados com o viajante que retornara, trazendo na bagagem várias coisas para contar.
Conversaram assim por um bom tempo, em meio à goles da apreciada bebida, e falaram sobre as mais variadas e tolas coisas, mas também sobre histórias e aventuras. Nessas conversas, hora ou outra, o assunto sempre acaba se desviando para as lendas e mistérios. E foi nesse momento, enquanto falavam sobre criaturas míticas e lugares misteriosos, que a pessoa encapuzada aproximou-se da mesa de Erend e disse, diretamente para ele:
— O senhor aventureiro parece conhecer muito sobre histórias e lendas; dize-me, então, o que sabes sobre os dragões do gelo.
Puxara o capuz que lhe ocultava a face: Era uma mulher. Todos ficaram estupefatos em ver uma mulher na taverna, lugar geralmente frequentado por homens, de modo que ficaram em silêncio total, como se uma simples moça representasse um perigo iminente, impensável.
Parecia ainda jovem, mas a julgar pela sua atitude, devia ser corajosa e acostumada com viagens e perigos. Erend também estava atônito, principalmente pela pergunta tão incisiva ter sido dirigida a ele. Enquanto os demais olhavam-na como se fosse um sinal do apocalipse, Erend tentou dar a melhor resposta possível:
— Dragões do gelo? Vi muitas coisas fantásticas em minhas jornadas, e uma das coisas que aprendi foi a não duvidar da existência de seres extraordinários — disse o aventureiro. — Todavia, dragões que sopram gelo, em vez de fogo, é um pouco demais para minha imaginação conceber.
— Neste caso, tua imaginação é minguada — disse, rispidamente, a moça. — Dragões de gelo existem, de fato. É uma vergonha que um aventureiro tão experiente não os conheça. Nada difere das pessoas comuns.
Erend estava abismado demais para retrucar. Estava surpreso, mas ao mesmo tempo, divertia-se em ver aquela cena tão singular. O que aquela estranha pretendia, afinal, com aquelas falas tão ásperas? Porque perguntava tão enfaticamente sobre dragões do gelo? Nunca a tinha visto antes; de certo não era dali.
— Dragões do gelo são lendários, moça — disse um dos homens da taverna, rompendo o silêncio, como que tentando defender Erend. — São seres muito fantásticos. Moramos nesta ilha por muito tempo, e mesmo assim, ainda duvidamos de sua existência...
— Apenas alguns aventureiros falam deles — disse outro homem, encorajado pelo primeiro. — Os mais corajosos, e apenas estes, aventuram-se por Okolnir; talvez tenham muitas histórias para contar, mas é muito raro que parem para contá-las. Aparecerem de repente e vão embora sem nada falar, e levam suas histórias consigo.
— Eu não acredito nesses presunçosos — disse um outro, numa mesa mais distante. — Não passam de loroteiros, eu digo...
— É uma vergonha — interrompeu-o a moça — que vocês, habitantes desse lugar, não têm certeza do que existe nas redondezas. Até eu, que não sou daqui, sei que existem tais dragões.
— De fato, tens mesmo cara de quem vive enfrentando dragões lendários — disse Erend, com um quê de zombaria. — Nota-se de longe que és perita no assunto.
— Se assim fosse, não precisaria me enfiar numa taverna cheia de homens bêbados, na vã procura de um sóbrio que conheça as regiões — respondeu ela, no mesmo tom de sempre.
— Então procuras um guia que te leve até Okolnir? — indagou Erend, surpreso. — Nesse caso, desejo-te a melhor das sortes do mundo, e que este homem seja tão curioso quanto tu és a respeito da existência de dragões lendários. Assim, poderão descobrir juntos se, de fato, tais seres habitam aquela ilha.
— Acaso não és tu o renomado aventureiro, que conhece muitas terras do nosso mundo? — perguntou a moça, à guisa de inquisidora. — Se és o mais corajoso e valente dos homens desse lugar, és o guia ideal para conduzir-me por Okolnir. Necessito tua ajuda.
Erend entendera, então, onde ela queria chegar desde o começo; convencer o aventureiro a levá-la numa terra perigosa e, talvez, habitada por feras lendárias. Por isso suas perguntas eram tão incisivas e provocativas.
— Se é isto o que tencionas, aventurar-se pelo frio traiçoeiro de Okolnir, sinto profundamente dizer-te que não tenho interesse em descobrir se os dragões do gelo realmente existem ou são apenas personagens assustadores de lendas que congelam o coração; portanto, não serei companheiro para tal jornada incerta e ousada...
— És um covarde! — bradou ela, batendo com a mão na mesa. O impacto fez a caneca tombar, espalhando o líquido dourado pela madeira; e todos ficaram em silêncio novamente, um silêncio quase que cômico, onde homens renomados calavam-se perante uma jovem aventureira, sem saber como agir ou responder. — Se és capaz de deixar uma donzela aventurar-se por terrenos desconhecidos, sem sequer um guia para orientá-la, então toda tua fama não vale de nada, não tens honra, e nada mais és que um covarde.
Erend ficou perplexo; aquela moça conseguira fazê-lo sentir-se envergonhado. Quem diria! E ela tinha razão. Deixar de acompanhá-la, simplesmente para ficar seguro dentro da taverna, bebendo, era uma atitude nada nobre. Se considerava-se um homem de honra, devia ajudá-la, mesmo que arriscasse sua vida. Pelo menos, morreria de forma honrosa, ajudando quem lhe pedira.
— Está certo, moça. Me convenceu — disse Erend. Pegou a caneca do seu companheiro de mesa (pois a sua fora tombada pela fúria da jovem) e bebeu o interior, como se fosse a última vez que sorveria aquele néctar. — Se queres ir, vamos já; acabo de chegar de viagem, e meus músculos ainda estão cheios de energia. Não demoraremos nem mais um instante. Antes que eu me arrependa dessa decisão...
Levantou-se e pôs novamente à mochila às costas. A moça pareceu muito surpresa por ele ter assentido tão rápido, mas prontamente o seguiu para fora da taverna, satisfeita por ter conseguido o que desejava. Os homens da taverna continuaram em silêncio, atônitos, enquanto Erend saía porta afora junto com a viajante. Haviam acabado de ganhar mais uma história para contar enquanto se aqueciam com o bom e velho hidromel.
Tudo que Erend sabia sobre os dragões de gelo era que Buddel, o barqueiro bêbado — que segundo ele próprio, nunca se enganava —, dizia que já os tinha visto, e garantia que de fato existiam. Quando foram até lá, o barqueiro disse que os levaria a Okolnir de olhos fechados. Preocupado com a embriaguez do homem, Erend perguntou-lhe se de fato estava bem para guiá-los pelas águas geladas, e o barqueiro prontamente garantiu que seria capaz daquilo até mesmo sem usar um dos famosos anéis dos anões, que, dizem, garantem proteção contra os efeitos danosos do álcool.
Durante o trajeto, o homem parecia alheio a eles, preocupado apenas em guiar o barco e cantarolar algumas canções ininteligíveis, de modo que Erend viu uma oportunidade de descobrir algo sobre aquela viajante.
— De onde és? — indagou ele, como quem não quer nada, ao que ela respondeu secamente:
— De Venore.
— É bem longe. Não creio que tenhas vindo até aqui por algum motivo trivial, ou apenas em busca de aventuras.
— Teu julgamento já se mostrou errado antes, senhor aventureiro — disse ela, olhando ao longe, em direção ao sul.
— Não creio estar errado desta vez: vieste até aqui por um motivo importante. Qual teu interesse nos dragões de gelo?
— Te direi qual meu interesse; estou em busca de um ovo daqueles dragões lendários — disse ela.
— Um ovo! — surpreendeu-se Erend. — É uma ambição admirável. Suponho que seu valor seja inestimável, dada a dificuldade em conseguir um deles, mas me pergunto quem estaria interessado em comprar. Claro que sempre encontra-se por aí colecionadores de todo tipo...
— Não tenho interesse em vendê-lo — disse ela. — É para mim.
Erend estava curioso para saber por que aquela moça queria um ovo de dragão do gelo, a ponto de arriscar sua vida para consegui-lo. Não tinha cara de pessoa gananciosa. Não seria nada fácil conseguir um ovo, disso ele estava certo. Na verdade, até temia pelas suas vidas. Se fossem reais — e algo lhe dizia que eram —, aqueles dragões estariam entre os mais perigosos de todas as terras. Mas não podia voltar atrás; tinha prometido ajudá-la.
Mas apesar de toda sua curiosidade, sabia que não conseguiria tirar mais informações daquela aventureira misteriosa. Algo lhe dizia que ela escondia os reais motivos daquela aventura.
— Diz-me, ao menos, qual o teu nome — pediu ele. — Chamo-me Erend Ger-Adon.
— Mendrinnë — disse ela, apenas, sempre olhando ao longe, com uma expressão misteriosa na face.
Algum tempo de viagem silenciosa depois, chegaram à tão falada ilha de Okolnir. Seu panorama era muito similar ao da ilha principal, mas não havia cidade alguma, apenas neve, montanhas e caverna. À primeira vista, não divisaram nenhum dragão, e o único som que ouviam era o soprar do vento. Combinaram com o balseiro bêbado que lhes viesse buscar no dia seguinte, à mesma hora.
— Presta atenção — disse a jovem, andando vagarosamente pela neve, como que à procura de algo. — Nossa intenção é apenas pegar um ovo e ir embora. Apenas isso. Devemos evitar combate a qualquer custo.
Ele assentiu, pensando que assim seria ainda melhor, e torceu para que tudo corresse bem. A busca durou um bom tempo, pois andavam vagarosa e silenciosamente. Já anoitecia, mas a aventureira não dava o menor sinal de ter medo da noite; e o Sol já estava quase que totalmente abaixo do horizonte quando ela anunciou ter visto um ninho de dragões.
Não havia nenhum dragão por perto, mas Erend pôde ver três grandes e lustrosos ovos azulados, num ninho ao fundo de uma caverna, na encosta de uma montanha. Para vê-los, porém, precisava olhar de um ângulo certo, à certa distância.
— Isso é ótimo — sussurrou Erend, não acreditando na própria sorte. Parecia que o destino lhe sorria largamente.
— Sem dúvidas, é! — respondeu Mendrinnë, pela primeira vez abrindo um sorriso. — Fica aqui e vigia; irei pegá-lo. Está quase que ao alcance da mão, veja só...
Ela logo tratou de agarrar-se à encosta a fim de subir até a caverna. Erend temeu um pouco pela sua sorte, pois aqueles ovos eram a prova de que os dragões do gelo realmente existiam. Mas tudo estava silencioso, não havia dragão nenhum por perto. Até o Sol repousando ao horizonte, sereno, parecia acalmá-los. Decidiu, portanto, ficar só vigiando, como ela lhe pedira. Apesar de tudo, ela parecia saber o que estava fazendo.
Apesar da coragem, ela parecia não ter muita prática em escalar. Aquela montanha sequer era muito íngreme, mas ela demorou uns bons minutos para vencer alguns metros, até chegar à entrada da caverna; pelo que Erend pôde ver lá de baixo, era bastante escuro lá. Mendrinnë olhava com cuidado antes de colocar a mão lá dentro, tentando vencer a escuridão com os olhos.
Quando pensou estar totalmente segura, estendeu a mão e tomou um dos ovos. Erend viu que ela o guardava dentro do casaco, e respirou mais aliviado. Mas...
Tranquilizara-se cedo demais; houve um rugido ensurdecedor, que fez Erend se arrepiar até o último cabelo da nuca. Meio cambaleante devido ao susto, ele olhou para cima; de dentro da caverna saiu uma rajada de vento e gelo, e junto, um frio extremo, tão intenso que parecia capaz de congelar até as entranhas. Erend soube no mesmo momento; era uma baforada daqueles dragões. Que tenebrosa prova de sua existência!
Mendrinnë soltou um grito de legítima dor, e caiu lá de cima, aterrissando de costas na neve. No mesmo momento, Erend foi até ela; machucara-se na queda, de modo que não podia levantar-se. Mesmo que a neve estivesse fofa, caíra de vários metros de altura. Sua aparência era quase que congelada; tinha gelo e neve em todo o corpo, nas roupas, nos cabelos, e seu corpo estava mais gelado que de o de um cadáver. Pelo menos ela havia conseguido salvar o ovo da queda, guardando-o dentro do casaco, na altura do ventre.
— Precisamos sair logo daqui — cochichou Erend, tentando, como podia, colocá-la às costas, após ter enfiado rapidamente o ovo dentro da mochila da moça. — Parece que o dragão não notou ainda que lhe tiramos um ovo, mas é questão de momentos até que note. Sua fúria será, então, implacável.
Com esforço, ela apontou na direção da encosta de outra montanha. Mesmo sem saber o que encontraria, e torcendo para que não fosse outro ninho de dragão, Erend usou todas as forças para levá-los até o local designado em segurança, e, o mais importante, em silêncio.Não sabia se era por causa do frio, ou se por estar cansado já das longas viagens, mas Mendrinnë parecia mais pesada a cada passo que ele dava. Quando, por fim, chegou no ponto indicado, era a entrada de outra caverna. Suspirou aliviado; não havia dragão nenhum ali. Era uma caverna vazia. Como a moça sabia de sua existência?
A entrada era um tanto baixa, mas seu interior era amplo. Erend a colocou deitada a um canto, e prontamente, usou todos seus conhecimentos e experiência em viagens para acender uma fogueira; o mais importante naquele momento, pensava ele, era aquecer o ambiente.
Quando o fogo iluminou as paredes rochosas e o frio glacial pareceu ceder um pouco, Erend foi checar o estado de sua companheira de viagem. Tinha machucado muito a perna esquerda, provavelmente deslocado o fêmur. Ademais, no momento da queda, batera violentamente com o cotovelo nas costelas, criando um feio hematoma. O que mais preocupava o aventureiro, porém, era que ela ainda estava muito gelada. A dor daqueles ferimentos devia ser intensa, mas ela não reclamava, provavelmente por causa do frio que envolvia seu corpo. Ele já temia o pior. Será que alguém era capaz de suportar uma rajada daquelas, tão violenta e congelante?
— Conseguimos — disse ela, com a voz fraca, após algum tempo. — Temos o ovo.
— Sim, o temos — respondeu Erend, um tanto aliviado por vê-la falar, mas ainda preocupado. — Mas não saiu barato. Quase te mataste lá em cima. O que houve?
— Ele estava oculto nas sombras — disse ela. Por certo, se referia ao dragão. — Não o vi. Eu disse que eles existiam...
— Sim, eu percebi. Não vi a cara dele, graças aos céus, mas ouvi seu terrível rugido. Quase me congelou o espírito. Okolnir é um lugar terrível. Tivemos muita sorte de conseguir escapar antes que ele desse pela falta do ovo.
A fogueira crepitava lentamente, enquanto emanava seu calor aos poucos, aquecendo o ambiente. Lá fora, a noite caíra, e tudo que era possível ver pela entrada da caverna era o breu. Erend já se sentia aquecido o suficiente para descartar o grosso casaco que usava, de modo que o pôs sobre o corpo gelado de Mendrinnë, numa tentativa de aquecê-la.
— Como te sentes?
— Tão gelada como a neve do topo da Jotunar — disse ela, respirando com dificuldade. Tremia tanto que o som dos seus dentes batendo ecoavam pela caverna. — Será que vou morrer?
— Não diga tais coisas — disse Erend, engolindo em seco e virando-se de costas, para que ela não percebesse seu semblante apreensivo. — Afasta de tua mente esses pensamentos perversos. Voltarás comigo amanhã para Hrodmir.
Erend só podia rezar. A fogueira conseguira já aquecer bastante a caverna, de modo que ele próprio estava sentindo-se muito bem, mesmo sem o casaco. Porque ela não conseguia se aquecer? De certo seu corpo estava sentindo as consequências da magia poderosa daquele dragão. Ele entendia, mais a cada segundo, porque aquelas criaturas eram tão temidas.
Assim, esperando pelo melhor, mas sem poder fazer muita coisa, Erend tirou da mochila papel e tinta, e começou a escrever para se distrair. Ouvia o lento crepitar das chamas, e os dentes de Mendrinnë batendo sem parar. Depois de algum tempo, ela perguntou:
— Que estás a escrever?
— Muitas coisas — disse ele. — Escrevo sempre que posso, durante minhas viagens.
— E sobre o que escreves?
— Sobre as aventuras que vivo, as coisas que vejo, e as pessoas que conheço — respondeu o aventureiro. — Quero, um dia, poder me lembrar de todas as coisas que vi e experienciei.
— Isso é muito interessante — disse ela, baixinho.
— De fato. Poderei, assim, deixar minhas histórias para meus filhos, netos, e a quem mais possa interessar.
— Que estás escrevendo agora?
— Sobre um amigo, que conheci numa de minhas aventuras — disse ele. — Encontrou sorte terrível. Dói-me muito escrevê-las aqui, essas memórias, mas desejo muito que fiquem registradas. Talvez seja uma vã tentativa de não esquecê-lo.
— Escreverás também sobre mim? — perguntou ela. — Serei, talvez, outra que encontra sorte terrível. Quase que sinto sobre mim o abraço gelado da morte.
— Talvez escreverei; mas serão boas histórias, pois não morrerás aqui. Isso que sentes não é o abraço da morte, mas a magia do dragão do qual tiraste um ovo.
— Pode ser que tu trazes péssima sorte aos teus companheiros de viagem, senhor aventureiro — disse ela, e sorriu pela segunda vez desde que Erend a conhecera. — Mas peço-te; se eu morrer aqui, e não amanhecer entre os que vivem, leva este ovo para Venore... e entrega-o a uma pessoa. Escreve aí, em teu papel; Alder, de Venore. Para que não esqueças... Com isto, o encontrarás.
Erend rabiscou o nome no cantinho do papel, mas disse: — Farei apenas para tranquilizar-te; mas estou certo que amanhecerás entre os vivos, e voltaremos para Hrodmir.
— Esse ovo é a minha esperança — disse ela. — Por favor, não o percas... Sem ele, nunca mais verei meu amado...
— Como? — perguntou Erend, querendo saber porque aquele ovo era tão necessário para ajudar quem ela amava. Sentia que estava prestes a ouvir uma história interessante.
— Meu amado foi amaldiçoado — disse ela, vagarosamente. — Está agora muito enfermo, andando no limiar entre os mundos. A única coisa que pode salvá-lo é este ovo... dizem que tem propriedades mágicas tão poderosas... capazes de anular qualquer maldição ou feitiço... por isso vim até aqui...
Foi tudo que ela disse. Erend não ousaria perguntar mais nada, pois além de compreender o sofrimento da moça, ela parecia muito fraca. Mas dezenas de perguntas passeavam pela sua cabeça: quem havia amaldiçoado o rapaz de que ela falara? Como isso havia acontecido? Que tipo de maldição era aquela? Provavelmente estas eram algumas daquelas perguntas que nunca encontramos resposta, e ficam, para sempre, nos intrigando.
Como ela ficou em silêncio, ele dedicou o resto da noite a vigiar pelo seu estado. Pôde, enfim, respirar aliviado, já perto da hora do sol nascer; a temperatura dela parecia estar voltando ao normal. Quanto temera pela sua vida! Não queria ter outro companheiro de viagem morto por essas pavorosas criaturas que assombram as terras do Tibia.
Quando ela despertou, começou a sentir as dores dos ferimentos do dia anterior, e sofreu terrivelmente. À hora combinada, voltaram ao lugar onde o barqueiro viria lhes buscar. Ele teve que carregá-la às costas, com dificuldade, pois precisa evitar tocar-lhe na perna que estava deslocada. Ela sentia penosas dores a cada passo que Erend dava, e gemeu sofrivelmente durante todo o trajeto, derrubando numerosas lágrimas de dor. Pelo menos, era sinal de que estava se recuperando da friagem da noite anterior; já sentia seu corpo.
Ao chegarem no local, o barqueiro já estava lá, ainda mais bêbado que no dia anterior, balbuciando canções sobre rum e tavernas.
A viagem foi tranquila a partir dali. Erend levou Mendrinnë para que fosse tratada, e com a ajuda dos excelentes curandeiros da região, em pouco mais de uma semana ela pôde andar novamente.
Erend pôde, por fim, repousar seus músculos, mais fatigados do que nunca, e tomar sua bebida preferida. Narrou o ocorrido na taverna e todos ficaram admirados com a nova história do aventureiro, pagando-lhe canecas de bebida e dando-lhe vigorosos abraços, à moda nortista.
Ao fim da semana, Mendrinnë procurou-o para anunciar que estava bem e voltaria para Venore. Apresentava, porém, uma tosse crônica; provavelmente o sopro do dragão causara-lhe algum dano aos pulmões.
— Muito obrigado pela ajuda, senhor aventureiro — disse ela. Foi a terceira e última vez que Erend viu aquele sorriso, e nunca mais o apagou de sua mente. — Jamais esquecerei de tua valiosa ajuda. Quando fores a Venore, procura-me, e encontrarás excelente hospedagem.
Trocaram ainda outras palavras de amizade, e então despediram-se. Erend estava acostumado a despedir-se de amigos, mas sentiu muitas saudades daquela aventureira misteriosa.
Muitas de suas perguntas nunca foram respondidas, e ele as carregou consigo para sempre. Carregou também a saudade, que, com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais doída. Despedir-se de companheiros nunca era fácil.
Lembrou-se de Mendrinnë, a partir de então, sempre que ouvia falar em Okolnir e seus dragões, e sempre que sentia o frio intenso de Svargrond nas noites mais geladas. Acima de tudo, lembrava-se dela sempre que tomava seu bom e velho hidromel. Chamava-a em sua mente, às vezes, de Meadrinnë.
Encontrara-se com ela pela primeira vez enquanto tomava aquela bebida que tanto gostava, e seu odor espalhou-se pelo ar naquele dia, quando ela virou a caneca sobre a mesa. O hidromel era parecido com ela; doce como o mel, mas tinha a aspereza do álcool, e ainda assim, descia suave pela garganta. O doce não poderia separar-se do ardor do álcool. Se assim fosse, não seria mais o hidromel que tanto gostava.
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