Saudações!
Vamos dar continuidade a esse novo "mini-arco" dentro do Terceiro Pergaminho! Com esse capítulo, faltam mais sete para o final! Vamos ver se termino o quanto antes... Vai fazer falta atualizar esse tópico, mas é a vida HAUEHUEHAUEHAUEHAUHE
Spoiler: Respostas aos Comentários
Sem mais delongas, o Capítulo de Hoje!
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Spoiler: Bônus Musical
Capítulo 8 — Aflição (ou Quinze Semanas)
É preciso traçar um plano… E rápido.
(Narrado por Ireas Keras)
Os momentos seguintes passaram rápida e desordenadamente, como peças de um quebra-cabeças cuja imagem final era incerta. Tudo que eu conseguiu me recordar eram pequenos recortes de uma cena final grotesca.
Não ousamos ficar ou tentar lutar. Em um número tão pequeno, mesmo com os poderes que tínhamos, não seríamos páreo para aquele montante de inimigos; lembro de ver alguns daqueles tubarões rasgando os céus sangrentos com suas asas vampíricas em revoada. Abaixamos e caímos em uma área mais baixa. Estranhamente, Tameran estava lá, assim como os pais de Jack, desacordados e muito feridos.
Gritos esganiçados e estridentes rompiam o silêncio sepulcral daquela área desolada. Tentávamos gritar e falar, mas nossas vozes não saíam: nossas cordas vocais moviam, mas nada ressoava. Pegamos os três caídos e saímos de lá sem hesitar. Olhei para o céu uma vez mais e pude jurar que um daqueles seres aterradores abriu as mandíbulas para mim.
*****
(Narrado por Lisette, a Amante Pirata)
Foi por muito pouco.
Meus braços finalmente conseguiram alcançar o litoral escuro e gelado de Nibelor. Eu ofegava, exausta; chegar até ali havia sido um suplício, mas eu precisava voltar à terra firme. Meus braços tremiam em contato com a neve. Meu torso estava nu.
— Droga… — Resmunguei, ofegante. — Eu devia ter ouvido o Ireas…
Um relâmpago cruzo os céus e logo ouvi o rugido de um trovão. Olhei para trás e o redemoinho de água e vento ainda era visível; era como se aquela massa implacável estivesse clamando por mim. Um clarão passa por dentro do redemoinho e eu consigo ver claramente seu interior.
A Deusa estava lá, parada, me olhando.
“Seu tempo em terra firme vai acabar, minha criança.” Eu ouvi a voz dela em minha mente, como se ela tivesse sussurrado ao pé de meu ouvido. “Você é minha. Minha para mim.”
Voltei meus olhares para frente, sentido um arrepio; saí das águas trêmula e exausta. Olhei para mim mesma; meu ventre, agora sem um espartilho de couro e uma blusa intacta para protegê-lo, exibia o volume que eu havia tentado esconder de toda a tripulação.
— Tsc… Quinze semanas, Lisette. — Resmunguei para mim mesma, passando a mão em meu ventre desnudo. — Quinze semanas com uma criança no ventre e você inventa uma presepada dessas…
Com dificuldade, consegui me levantar; minhas pernas tinham algas enlaçadas e as escamas ainda demorariam a desaparecer. Suspirei ressabiada. Voltei meus olhares ao altar em Nibelor.
— Eu deveria já ter contado a ele de minha condição… — Murmurei, aflita. — Ele já deveria saber que… Não sou exatamente… Humana.
Respirei fundo e comecei a andar lentamente sobre a neve macia e gélida; na medida em que o altar ficava cada vez mais próximo, um vórtice luminoso e cálido se formava atrás da pedra riscada, antiga e deitada sob o chão eternamente invernal. Fechei meus olhos e deixei a luz tomar conta de mim.
*****
(Narrado por Yami, o Primeiro)
Engraçada, estranha e inusitada é a arte da tocologia*. Isso é, ao menos para homens: em se tratando de como humanos tem suas crias, que difere, e muito, da maioria dos Djinni (com exceção, claro, de minha irmã e pouquíssimas outras), era um tanto desconcertante ver Ireas apalpando o ventre de sua amante enquanto, vez ou outra, colocava um de seus ouvidos sobre a barriga de Lisette, tentando ouvir algo.
— Bom… Aparentemente, ele ou ela está bem. — Diagnosticou o druida por fim, com as feições um pouco menos aflitas. — O coração ainda está batendo em bom ritmo e bom som. Só te peço, meu amor, que fique em repouso em Nibelor. Por favor.
— Era um bom negócio, segundo Kinahked. — Replicou Lisette, cruzando os braços, amuada. — Não contávamos com a tempestade.
— Vocês dois poderiam ter morrido. — Retrucou Ireas em tom sério, firme e zangado. — Vocês poderiam ter morrido sem que eu ao menos conseguisse fazer algo para impedir.
— Ireas, é só o mar! — Replico Lisette, séria e determinada. — Se fosse para morrer lá, já teria acontecido. Eu tripulo o Caçador de Almas, não é fácil destruir aquele barco.
— Você está grávida, Lisette! — Ireas elevou um pouco o tom de voz, engolindo a raiva para corrigir-se logo em seguida. — Sei que não gosta de ficar em um mesmo lugar, sei que o mar é o seu lar tanto quanto as terras de Hrodmir são para mim, mas eu imploro: fique em terra firme mais tempo. Deixe as navegações por um tempo, só até você dar à luz. Depois seguimos com nosso esquema original!
A fim de não atrapalhá-los, eu me dirigi a um outro canto da sala, procurando por algo para me entreter, dada a natureza do assunto. A Vandurana suspirou ruidosamente, inconformada.
— Quinze semanas, Ireas. — Falou a moça. — Eu já passei da quarta lua cheia**, meu amor. Tenho muitas razões para acreditar que esse aqui vai vingar.
— No primeiro nós também estávamos totalmente certos, meu amor. — Replicou Ireas tristemente. — E a nossa menininha não sobreviveu. Você não lembra?
Lisette engoliu em seco e eu fechei meus olhos enquanto passava os dedos por cima da capa de um livro bem antigo. Um presente de Tothdral para Ireas.
— Eu nunca esqueci. — Replicou Lisette, com a voz trêmula. — Era a décima quarta semana, estava chegando perto da quarta lua minguante quando aconteceu. Eu estava perto do Vento do Sul.
Olhei de soslaio para trás, tentando disfarçar o desconforto e pesar que sentia ouvindo tudo aquilo. A despeito do que eu sentia por Lisette e da forma como ela conseguira aproximar-se de Ireas tão rapidamente, tal situação era de entristecer até a mais seca e apática das almas.
— Eu só… Entenda que eu só quero te proteger, Lis. — Falou o Norsir em tom manso. — Quero proteger vocês dois. Se ficar na parte Norte da Sociedade não lhe agradar, eu peço a Jack que te dê um lugar para ficar na porção Sul, e eu poderei ficar contigo todos os dias ou na maioria deles até que dê tudo certo.
— Eu… Eu ficarei aqui. — Replicou a moça da pele tostada e sardas douradas, secando uma lágrima teimosa que saíra de seu olho. — O frio não vai me incomodar e eu vou me comportar.
— Acho bom. — Replicou Keras, zombeteiro. — Moça teimosa, descansa. — Ele deu um beijo na testa da mulher e levantou, saindo do quarto. — Vou cuidar de algumas coisas… Estou preocupado com… Uns outros eventos mais recentes.
Lisette e eu ficamos em um constrangedor silêncio nos momentos seguintes; ela, que estava trajando uma longa túnica de dormir, ficou mexendo nas cobertas de espessos pelos enquanto olhava ao redor. Eu, por outro lado, estava com um livro em mãos e alguns questionamentos em mente que precisavam ser verbalizados.
— Quando é que você vai contar para ele? — Indaguei, sério. — Quando é que você vai dizer para ele que você não é humana?
— Você quer dizer: quando eu vou falar para ele que sou uma Sereia e que pertenço a Bastesh, a deusa do mar? — Replicou Lisette, sentindo-se atacada.
— Precisamente. — Respondi cruzando os braços e com os olhares fixos nela.
— E como você acha que ele vai se sentir quando souber, Yami? — Continuou Lisette, irritada. — Você acha que vai ser reconfortante para ele saber que sou amaldiçoada por definição? Que sou uma mulher que foi atirada ao mar por estar em um navio pirata, e que só me salvei porque Bastesh me modificou para impedir a minha morte?
— E você acha que vai ser confortável para ele continuar vivendo sem saber? — Respondi. — Ele te dá honestidade e verdade, e em troca você lhe traz preocupação e segredos. O acaso já tirou de vocês dois filhos que nunca chegaram a nascer. Não acha que talvez isso seja um sinal de que você deveria ser sincera com ele?
Ela me fitou com um olhar feroz e cruzou os braços, desgostosa.
— Nossa convivência nunca foi fácil, Yami, o Primeiro. — Falou a Vandurana. — Mas nunca pensei, por um segundo, que seu desgosto por mim fosse tão grande. Especialmente depois de me dar todo o amparo que você me deu quando perdi a segunda criança.
— Posso ser um escroto na maior parte do tempo, mas eu tenho sentimentos e empatia, por mais incrível que isso possa parecer. — Repliquei, erguendo uma das sobrancelhas. — Por isso te ajudei: porque você faz Keras feliz. Você pode dar a ele alegria em meio a um mar de tristezas. Mas há algo de errado com a constituição de vocês dois. Algo impede que você consiga ter filhos. Espero que três seja o número da sorte de vocês. Odiaria ver Ireas sofrer com mais uma perda que ele não conseguiria evitar.
— Não fale como se eu quisesse que isso acontecesse. — Replicou Lisette. — E não fale como se fosse fácil para mim.
— Por isso mesmo que eu falo. — Completei. — Para que você nunca esqueça. E para que você o ouça de vez em quando e seja menos cabeça-dura.
Dito isso, saí daquela sala e fui atrás de Ireas, que certamente não tinha outros problemas a resolver senão consigo mesmo.
*****
(Narrado por Ireas Keras)
Eu segurava duas coisas: uma carta em minha mão esquerda e dois pequenos frascos em minha mão direita. A carta era de Kinahked.
“Caro Ireas,
O Caçador de Almas chegou bem a Nargor. Não houve nenhum problema de nenhuma sorte. Don disse que conseguiu recuperar o Teatro dele em Thais… Aparentemente, ele fez uma oferta que ninguém poderia recusar.
Quanto ao que você falou, sobre os Pesadelos… Seria bom se nos encontrássemos. Dessa maneira, você poderá explicar tudo e verei como poderei te ajudar. Mandarei uma carta a Don, também, pedindo pela ajuda dele. Don ou não, ele ainda tem gosto para o combate por causas justas.
Ked.”
Mentiroso. Eu logo teria com ele para entender melhor essa situação toda.
Guardei a carta no bolso e suspirei, resignado. Coloquei um dos frascos em minha mão livre e fiquei ali, olhando para eles. Havia algo pequeno e coagulado ali. Pele com um pouco de sangue. As únicas lembranças que eu tinha dos meus filhos que não nasceram.
Fiquei ali, apoiado no parapeito da sacada de meus aposentos, olhando para os vidrinhos em minhas mãos.
— O que será que eu estou fazendo de errado? — Indaguei a mim mesmo, triste. — Será que não é para ser? Será que eu e ela… Não deveríamos formar uma família? E se… E se vocês tivessem vingado? Como estaria a minha vida agora?
Suspirei, resignado, e fechei meu olho sadio. Passei um cordão através das argolas no topo dos dois vidrinhos e coloquei em volta de meu pescoço, amarrando-o firmemente.
— Me deem sorte, por favor. — Pedi, suplicante. — Que vocês possam um dia voltar e reencontrar seu irmãozinho ou irmãzinha que ainda está por vir… E por favor, que ele ou ela viva. Só isso que eu quero. Só isso que eu preciso.
Abri meu olho e voltei meu olhar para o horizonte estrelado e etéreo do Reino dos Sonhos. Agora, estava nas mãos do acaso e dos deuses permitir que a natureza seguisse seu tão esperado curso.
Continua...
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Glossário:
(*): Sinônimo de obstetrícia. Obstetrícia é o ramo da medicina que estuda a reprodução na mulher. Investiga a gestação, o parto e o puerpério nos seus aspectos fisiológicos e patológicos. Em tempos antigos, xamãs (e seus equivalentes em cada sociedade) eram instruídos em várias áreas de cura, e a obstetrícia era uma delas, e tais ensinamentos eram passados adiante de mentor a discípulo. Sendo Ireas um xamã, esse conhecimento não seria de todo estranho para ele.
(**): Contagem de gestação a partir das fases da lua. Antes da existência de conhecimentos mais refinados sobre o ciclo menstrual feminino, era usado o ciclo lunar (e consequentemente o calendário lunar) para a contagem do tempo de gestação da futura mãe por uma questão de periodicidade. Algumas pessoas ainda adotam esse calendário.
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E é isso galera! Capítulo novo na área, espero que gostem!
Aguardo os feedbacks de vocês ansiosamente! Até o próximo!
Abraço,
Iridium.
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