Resultados da Enquete: Que Facção deveria Ireas Escolher?

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Tópico: A Voz do Vento

  1. #371
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    Nossa, vendo a retrospectiva a gente se dá conta de quanta coisa aconteceu nesse Pergaminho! Nem sei por onde eu começo a comentar kkkk

    Apesar de gostar mais do Primeiro Pergaminho, esse aqui traz alguns capítulos que, individualmente, são um espetáculo. Acho que até já citei em outros comentários, mas os capítulos da apresentação do Nornur pro Ireas e Jack, morte do Liive e nascimento da sobrinha, e, mais pro final, a morte do Wind e toda a luta contra Esquecimento... Sem dúvidas valeria ler toda a história simplesmente por eles. Porém, felizmente, o Pergaminho ainda teve muito o que oferecer.

    Não estava lembrando bem da revolução em Vandura, muito menos do Mortalheiro. Acho que acabei lendo essa parte da história rápido demais :s
    Entretanto, lembro bem da luta do Brand contra o Jack (só falta eu ter confundido os personagens, pra acabar de vez comigo kkkk), foi uma das partes mais pesadas emocionalmente da história até aqui.

    Não poderia deixar de citar também a aparição de Yami, que foi meu personagem mais odiado no início, e agora é meu preferido. Talvez isso tenha acontecido pq agora ele apoia o Ireas, então, na verdade, eu preferiria mesmo o Keras, e todos que o apoiam atrairiam meu gosto por tabela...

    Ok, não acho que é isso. Gostei mesmo foi do desenvolvimento do personagem, como ele passa de um vilão, um mero instrumento da Esquecimento, para um ser cheio de dúvidas, angústia e, no fundo, um bom coração. Como a lâmpada mágica já foi durante um tempo, acho que agora os sentimentos do djinn pelo Ireas são as amarras que o prendem ao druida. Tô bastante curioso pra ver onde vai dar essa história.

    Outro ponto que achei legal do Pergaminho foi ter trazido a Yumi pra história. Realmente senti um pouco a falta de uma personagem feminina mais marcante no lado do "bem", visto que a grande vilã da história já fazia esse papel do outro lado da força. Brand que se deu bem, e acabou com um djinn coxuda no fim das contas (quem precisa de paladina coxuda aqui? ).

    A partir de quando eles foram para Zao eu já estava acompanhando a história, então acho que não tenho muito a acrescentar sobre eles além dos meus outros comentários. Só reitero que achei excelente.

    Bom, agora é aguardar pelo novo Pergaminho. Vamos ver se ainda surgirá um novo vilão/vilã nesses 15 capítulos restantes, ou se a Irmandade como um todo será a inimiga final do Keras. Isso se ele realmente enfrentá-la, tenho minhas dúvidas ainda.

    Sendo repetitivo, gostei muito até aqui da história, e a retrospectiva foi ótima pra relembrar algumas coisas. Continue firme aí nessa reta final xD

    Abraço!

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  2. #372
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    Padrão Terceiro Pergaminho, Prólogo + Capítulo 1

    Saudações!

    Começaremos, hoje, o Terceiro e último Pergaminho de A Voz do Vento! Gostaria de agradecer a todos que curtiram, agradeceram, comentaram e me deram apoio nesses últimos quatro, quase cinco anos.

    Agora, o inevitável chegou: a história do Ireas, ao menos no que concerne meus escritos, está no começo de seu fim. Andei olhando a seção e tenho alguns planos em mente (antes, é claro, entregarei os escritos que devo a @Thomazml), e é bem possível que eu faça um livro d'A Voz do Vento, mesmo que seja de graça (já que mudar TODA A PARTE TIBIANA me daria um trabalho desgraçado de demorado só pra evitar processo da Cip) para dar um pouco mais de cor a essa história.

    Quem me conhece sabe a dificuldade que tenho em terminar projetos, sejam eles quais forem. Sempre tive um problema com minhas histórias, talvez por ter um processo tendenciosamente destrutivo quando encontro a frustração. Quando fiquei aquele ano todo sem vir aqui no Fórum, sem jogar e sem escrever, eu estranhamente não senti isso. Senti apenas a frustração de um dever não cumprido... E voltei não só por isso, mas também pelo carinho que tenho por esse cantinho de escritores e o carinho que todos temos uns pelos outros.

    Chega de sentimentalismo. Vamos aos comentários:

    Spoiler: Respostas aos Comentários


    Sem mais delongas, a abertura do Terceiro Pergaminho!


    -----

    Spoiler: Bônus Musical



    Prólogo

    SETE ANOS DEPOIS

    Uma vida por outra; mil vidas por outras, e as dívidas todas seriam pagas. Ireas jurou guerra à Ordem que destruíra toda sua vida antes mesmo que ele chegasse a essa conclusão. A guerra contra a Irmandade começou no dia em que Ireas Keras optou por reconstruir a ordem caída do deus que dera vida a ele e Jack.

    No entanto, a vida pessoal do Vento do Norte está ainda mais conturbada: mas um Sonho pode ser a saída para todos esses problemas…

    Capítulo 1 — As Teias da União

    Todos os Caminhos levam ao Sonho.


    (Narrado por Ireas Keras)


    Era noite plena, e nenhuma estrela brilhava nos céus. Não havia brilho senão do etéreo contorno esverdeado das nuvens que dançavam próximas ao mar; o som de trovões ao longe entrecortava o silêncio quase eterno da escuridão ao meu redor.

    — Vento do Norte… — A voz de Nornur fez-se presente no ambiente em meio à tempestade. — Acorde, criança…

    Vinte e sete anos; vinte e sete anos de existência. Mais um ciclo fechado.

    — Estou acordado… — Murmurrei, abrindo o olho.

    Sim… O olho. Apenas um; o olho esquerdo foi o que me restou da batalha contra Esquecimento Eterno, minha mãe; a cicatriz feia que fendia a parte inferior de minha sobrancelha e se estendia até a parte mais alta da maçã de meu rosto no lado direito era um amargo memento que teria que carregar até o fim da vida. Um resquício de uma batalha que custara a vida de Liive, Wind, Hjaern, Sinbeard e vários civis de Svargrond, Edron, Ankrahmun. Além de ter quase custado a minha própria vida.

    Sentei-me no assoalho úmido de madeira em que estava; o convés escuro, a despeito da pouca luz, me era muito familiar. Eu estava à bordo do Caçador de Almas. Metros à minha frente, quase como uma silhueta discreta, estava Kinahked, olhando para o horizonte.

    — Voltou, Ireas? — Indagou o pirata em tom alto, para que pudesse ser ouvido além da tempestade. — Está certo de sua decisão?

    Eu me levantei vagarosamente; aquele local, que não era nem parte do mundo dos vivos, tampouco dos mortos, me assustava. Eu sentia minha alma ainda mais inquieta, assim como a dos demais membros da tripulação, os quais ora podia ver, ora não estavam mais ali. Aproximei-me de Kinahked em meio à tempestade, que parecia ter cessado, sendo substituída apenas pelo ruído do vento ao nosso redor.

    — Estou… — Falei, após soltar um breve suspiro. — Tem certeza de que não há outra opção?

    — Creio que não… — Replicou Kinahked, sem deixar de olhar o horizonte incerto, nebuloso e tomado pelas nuvens e pelos raios de cor esverdeada. — Ao menos não no caso dela. Contente-se com o que tem, Ireas…

    — Certo… — Suspirei, frustrado, mas conformado. — Bem… Estamos chegando?

    — Quase. — Replicou Kinahked, com um sorriso. — Unna, meu amor! Venha até mim!

    Quando Kinahked falou, uma pequena parte do oceano adentrou no barco, e as águas assumiram a forma de uma bela mulher de quadris largos, pele morena, com discretas sardas douradas, olhos castanhos claros e cabelos cacheados e escuros, vestida com uma camisa frouxa de cor branca, um corsete de couro, calças de couro pretas e botas carmim. Ela sorriu para mim e entrelaçou seu braço com o de Kinahked. Aquela era Unna.

    — É ele? — Indagou a moça com uma voz suave como a marola.

    — Sim, meu amor. — Replicou Kinahked, apontando para mim. — Faça sua mágica… Ele tem compromissos e já passou tempo demais no Reino Etéreo*.

    — Mas, Ked… — Indaguei, antes que continuassem. — E quanto a…

    — Você verá. — Replicou o pirata, sorrindo e bebendo um gole de sua garrafa de rum. — Agora… Deixe Unna fazer sua magia.

    Concordei, meneando a cabeça. Realmente, eu já havia passado tempo demais longe de meus afazeres. Unna se aproximou de mim e soprou perto de meu rosto; fechei os olhos e seu sopro logo se tornou mais úmido, e senti meu corpo atravessando rapidamente as distâncias como se eu estivesse no oceano, amparado por uma forte corrente nas águas.

    Quando abri meu olho novamente, estava em outro local; um local primitivo, onde a energia corria solta e os sonhos moldavam a realidade. Yami estava do meu lado, vestindo um terno branco e sandálias de ouro, além de usar seus típicos adereços de ouro. Estávamos dentro de uma salinha de pedra, cuja saída era um arco, no qual Yami estava à frente.

    — Bem vindo de volta, Vento do Norte, à Sociedade das Teias Infindas. — Falou o Efreet cordialmente, estendendo-me a mão. — Vamos logo, que o casamento está prestes a acontecer?

    — Estou muito atrasado? — Indaguei, espanando a areia de minhas roupas.

    — Não exatamente… — Replicou Yami. — Mas você vai se atrasar se não se vestir!

    O Efreet estalou os dedos e minhas roupas mudaram; minha tradicional vestimenta feita de pelo de urso fora trocada por um conjunto que me cobrisse mais, incluindo luvas e um capuz que eu podia remover assim que sentisse vontade, e tudo em cor cinza, em pele de lobo do inverno**. O cheiro forte de água salobra diminuiu de meu corpo e meus cabelos, na altura do pescoço e com mechas um pouco mais irregulares, estavam ao menos apresentáveis.

    Saímos da salinha para darmos de cara com o coração daquela parte da Sociedade das Teias Infindas: uma fonte de pedra com vapor e água ao centro e algumas pessoas trajando túnicas brancas e cinzas, com sandálias douradas, passando pelos arredores; havia, também, algumas iurtas de pedra, similares às de Svargrond, e um vórtice em um santuário com pedra e areia, de onde entravam e saíam outros adeptos.

    — A Sociedade cresceu muito em pouco tempo, Ireas. — Yami comentou enquanto andávamos rapidamente. — Seu pai e Nornur estariam orgulhosos do que você conseguiu aqui.

    — Espero que esteja certo… — Repliquei, ansioso, mas sério. — E Jack?

    Um pequeno espírito luminoso passou por nós, farfalhando docemente; parei para deixá-lo brincar com meus cabelos e mãos; ele em seguida foi para Yami, fazendo o mesmo. O Efreet, levemente desconfortável, tentou brincar um pouco, mas logo deixou o ser luminoso passar adiante.

    — Tudo está indo bem na porção Sul da Sociedade. — Replicou o Djinn. — Jack está tendo muito sucesso em estabelecer as Pontes de Sonho em Vandura. Com a ajuda de Sírio e Morzan, não foi difícil encontrar entre os piratas e os nativos adeptos leais.

    — Fico feliz em saber, Yami. — Repliquei com um sorriso de canto, ainda inquieto. —

    Ao passarmos da fonte e das iurtas, um santuário novo, feito de pedra e energia, estava à frente, o qual tinha dois andares e três alas: uma nave central e dois átrios, um ao leste e outro, a oeste. À frente da porta etérea, estava Brand.

    — Até que enfim, atrasildo! — Falou Brand, abrindo os braços de forma debochada. — Ficou lombrando na droga e esqueceu do compromisso de hoje?!

    — Uma porra. — Repliquei, cumprimentando-o vigorosamente ao bater minha mão contra a dele, e segurá-la em um aperto rápido. — Eu só precisava ver uns detalhes antes…

    — E a pessoa misteriosa, cadê? — Indagou o Thaiano enquanto cumprimentava Yami de forma similar. — Vem ou não vem?

    Diante do assunto, Yami ficou calado, e eu pude ver através de seu semblante aparentemente debochado, a sua estranha frustração.

    — Vem sim. — Repliquei, com um sorriso nervoso. — Só espero que ela não seja o centro das atenções, afinal…

    — O casamento não é seu, oras! — Replicou Brand, guiando nós dois para dentro. — Agora, vamos! Vamos que o noivo está surtando!

    Com um riso discreto, eu, Yami e Brand adentramos no santuário e nos dirigimos à ala oeste; Brand abriu a porta e demos de cara com Sírio, Morzan, Icel e o noivo.

    Emulov.

    O Zaoano estava trajando uma armadura especial, de metal escuro, denso e escovado, muito similar à de um Zaogun, mas ricamente adornada com desenhos geométricos em ouro e ferrolhos de prata. O rapaz de olhos bicolores estava andando de um lado a outro, sibilando uma reza em uma língua incompreensível para nós, visivelmente agitado e nervoso.

    — Qual é, Lagartinho! — Falou Morzan, debochado. — Não vai me dizer que vai dar para trás agora!

    — Não…! — Replicou Emulov, nervoso. — Não é isso, mas não posso negar… Eu estou com medo!

    — Medo de quê, pobre diabo?! — Replicou o Vandurano — Ela só está grávida de você, não de Zoralurk!

    — Eu não sei se serei um bom chefe de família! — Replicou Emulov, ainda nervoso e andando de um lado a outro. — Eu sobrevivi à guerra, mas meus irmãos não! A morte deles me assombra… E… Sei lá, nunca tive grandes posses, o que um antigo guerreiro pode oferecer a uma mulher aventureira com mais posses?!

    — Segurança. — Repliquei, aproximando-me lentamente de Emulov. — Estabilidade. A certeza de um lugar para voltar e, o mais importante de tudo: apoio e amor.

    Segurei os ombros de Emulov, que parou de andar de um lado a outro; estava ligeiramente mais alto, então conseguia olhar para o rosto do Feiticeiro de quase dois metros de altura sem fazer tanto esforço como outrora.

    — Já faz quatro anos que vocês estão nessa história de “noivos, não noivos”. — Falei, calmamente. — E mesmo antes disso, quando todo o rolo em Zao acabou e vocês estavam vendo outras pessoas, logo viram que o destino de vocês já estava ligado. A criança que ela carrega, Emulov, é mais um sinal certeiro disso, pode confiar.

    O Feiticeiro de Zao inspirou profundamente e expirou mais calmo.

    — Você tem razão, Ireas. — Sibilou Emulov. — Eu devo honrar meu compromisso com ela e com o filho que está para nascer. Obrigado pela ajuda.

    Concordei com a cabeça. Nesse meio tempo, apareceu um xamã à porta: o oficial da cerimônia. Yami olhou para nós, sério.

    — A noiva está pronta. Hora de irmos.

    Emulov concordou e se posicionou atrás de nós. Um a um, fomos saindo: primeiro Sírio, depois Morzan, Icel, Brand, Yami, eu e Emulov por último. No lado oposto a nós, vinham as madrinhas: Yumi, Obsídia e outras três amigas da noiva. A noiva sairía por última, de fato.

    E nada da pessoa que eu queria que estivesse lá aparecer…

    Nos posicionamos ao final da nave, alinhados ao lado do altar, onde o xamã, um conhecido meu de Svargrond, aguardava pela noiva; logo começou uma sinfonia harmônica para a entrada da noiva.

    Solstícia Solária.

    Ela estava radiante; vestido claro, longo e arrastado, com algumas tiras pintadas em cores diferentes, imitando algumas mechas de seu cabelo preto, que tinham as cores rosa e azul para complementar. Carregava um buquê simples, e sorria que nem uma garotinha diante dos convidados e do templo. Sua gravidez era visível e estava bem avançada.

    — Ufa! — Suspirou Solstícia, afobada. — Subir essas escadinhas foi um tormento!

    Rimos levemente da declaração bem-humorada dela. Fiquei observando o casal com certa dose de inveja; na medida em que o xamã oficializava o rito de himeneu, ficava pensando em minha vida como um todo: quisera eu simplesmente… Me assentar, como meus amigos pareciam estar fazendo. Estavámos já todos na casa dos trinta ou passando dela e eu não cansava de me perguntar: quando seria a minha vez de ter algum tipo de sossego, alguma forma de paz?

    Quando dei por mim, os noivos já haviam recitado seus votos e estava na hora do xamã dizer as partes finais da cerimônia.

    — Emulov Suv, aceita essa mulher, Solstícia Solária como sua consorte, para amar e ser amado, respeitar e ser respeitado, cuidar e ser cuidado, defender e ser defendido até que a morte encerre sua união?

    — Aceito.

    O xamã sorriu e acenou com a cabeça, voltando seus olhares para Solstícia.

    — Solstícia Solária, aceita esse homem, Emulov Suv como seu consorte, para amar e ser amada, respeitar e ser respeitada, cuidar e ser cuidada, defender e ser defendida até que a morte encerre sua união?

    — Aceito!

    — Pelos poderes a mim concedidos aos olhos de Nornur, que tece as teias infinitas da união, eu os declaro consortes até o fim de seus dias!

    Meio desajeitados, os dois se abraçaram, selando a união com um beijo tímido; aplaudimos, todos, pois enfim o Feiticeiro de Zao havia tomado coragem para firmar compromisso com sua paixão de longa data. Era bom ver que, apesar de todos os pesares, estávamos ainda vivos para ver momentos felizes em nossas vidas, e não apenas tragédias. Entretanto, eu não conseguia deixar de pensar em uma outra pessoa, cuja ausência estava me fazendo falta.

    A comitiva toda começou a se dirigir para fora da igreja, quando uma última pessoa, que não estava dentre nós antes, apareceu na porta.

    Meu coração quis saltar pela minha boca e eu abri um sorriso; era ela!

    — Me perdoem pelo atraso, senhores! — Acenou para todos, e depois fixou seus olhares em mim. — Olá, bonitão.

    Seus olhos castanhos escuros pareciam destacados em sua pele bronzeada com pequenas sardas douradas adornando suas bochechas e seu nariz; seus lábios estavam pintados de roxo, e seus cabelos castanho-avermelhados estavam presos em uma bela trança grossa e comprida, que chegava até metade de suas costas. Trajava uma blusa frouxa que deixava seus ombros à mostra, com um corpete cinzento deixando seus seios volumosos mais bem ajeitados, uma calça de tecido grosso e de cor azulada e botas de couro preto com um pequeno salto. Eu sorria em êxtase ao vê-la ali, magnífica como sempre.

    Lisette! — Falei, indo ao seu encontro em um amoroso abraço. — Já estava começando a achar que tinha desistido!

    Como eu sentia falta daquele contato! Quisera eu tê-la encontrado antes… Era bom tê-la em meus braços de novo depois de toda aquela ausência. Ficando exatamente de minha altura com aquele leve salto, ela me roubou um beijo em frente a todos, e eu não me fiz de rogado: deixei, claro, e retribuí, enfim sentindo a ansiedade indo embora de mim.

    — Não perderia isso por nada, meu doce xamã! — Replicou Lisette, sorridente, com sua mão entrelaçada à minha. — Mas vamos parar de roubar a atenção de todos: hoje é o dia de Solstícia e Emulov, então… Vamos celebrar!

    Concordei com a cabeça, segurando sua mão e acompanhando os demais ao local do baile. Agora sim eu estava em paz. Entretanto, ainda havia uma sensação estranha tomando conta de mim… Como se o Vento estivesse tentando me dizer alguma coisa.

    Boa ou ruim… Não tinha como ter certeza.


    *****

    Ao final do dia, já havia regressado a Nibelor pela Ponte dos Sonhos; Yami já dormira em sua Lâmpada e Lisette estava adormecida em meus braços. Entretanto, eu custava a pegar no sono. Suon brilhava mais forte que de costume nos céus em noite plena, o que poderia indicar algum tipo de mudança. Fechei meus olhos, tentando me convencer de que não seria nada.

    Tudo escureceu; consegui, finalmente, me concentrar. Aos poucos, comecei a sonhar; de início, era uma paisagem similar ao templo principal da Sociedade em Svargrond; a neve caía em flocos dourados e Nornur me esperava à frente da porta. Jack estava a alguns metros de distância, mas alinhado a mim. O deus, entretanto, nada falava.

    Vimos, então, um grupo se aproximar. Um grupo de homens e mulheres com auras esplêndidas, mais altos e delicados que humanos e assustadoramente divinos, ainda que parecessem tão ordinários quanto o mais simples dos homens.

    — O Sonho é o Caminho, Vozes do Vento… — Sussurrava o Deus. — Sejam os guias das crianças do Sonho, meninos...

    Quando eu e Jack começamos a nos aproximar de sua figura, o ambiente começou a mudar; o cheiro familiar e horrendo de corrupção começou a se alastrar. Em um piscar de olhos, aqueles seres divinos começaram a gritar enquanto o ambiente se aqueceu. Não demorou muito a um grande incêndio tomar conta do ambiente, com demônios tentando invadir a proteção do Caminho dos Sonhos.

    E, para piorar, o chão começou a tremer, abrindo uma grande fenda entre Jack e eu. Eu ouvia gritos, mas não conseguia me mover; olhei para o lado e não vi nada. Quando olhei novamente para onde Jack estava, o Paladino estava a alguns metros abaixo de mim, com o corpo preso por vinhas e inconsciente. Eu, no entanto, comecei a sentir o ambiente mais e mais gelado, como se a solidão estivesse se apossando do ar.

    O inverno ficou cada vez mais rigoroso e frio, e minha visão começou a embaçar.

    — As Crianças do Sonho estão voltando… — A voz de Nornur ainda era audível a despeito do ambiente cada vez mais hostil. — Sejam seus guias… Minhas Vozes…

    Quando eu e Jack começamos a nos aproximar de sua figura, o ambiente começou a mudar; o cheiro familiar e horrendo de corrupção começou a se alastrar. Em um piscar de olhos, aqueles seres divinos começaram a gritar enquanto o ambiente se aqueceu. Não demorou muito a um grande incêndio tomar conta do ambiente, com demônios tentando invadir a proteção do Caminho dos Sonhos.

    E, para piorar, o chão começou a tremer, abrindo uma grande fenda entre Jack e eu. Eu ouvia gritos, mas não conseguia me mover; olhei para o lado e não vi nada. Quando olhei novamente para onde Jack estava, o Paladino estava a alguns metros abaixo de mim, com o corpo preso por vinhas e inconsciente. Eu, no entanto, comecei a sentir o ambiente mais e mais gelado, como se a solidão estivesse se apossando do ar.

    O inverno ficou cada vez mais rigoroso e frio, e minha visão começou a embaçar.

    — As Crianças do Sonho estão voltando… — A voz de Nornur ainda era audível a despeito do ambiente cada vez mais hostil. — Sejam seus guias… Minhas Vozes…

    Acordei com um grito; acordei Lisette no susto, com o corpo gelado. Ela segurou meus ombros, mas eu só conseguia ofegar e balbuciar frases sem sentido. Ela me abraçou e, por mais reconfortante que fosse, eu não conseguia afastar aquele sonho da minha mente.

    O que diabos seria aquilo? Quem eram as Crianças do Sonho?


    Continua...


    -----

    Glossário:

    (*): Um Reino intermediário entre o Reino Físico, o Reino dos Sonhos e o Reino dos Espíritos; seria uma área coberta pelo vazio e matéria escura e disforme.

    (**):Tradução livre de “Winter Wolf”.


    ----

    Eeeee o Terceiro Pergaminho já começou! Para quem está se perguntando, Lisette é baseada no personagem tibiano de uma amiga minha da Suécia, cujo nome real é Lisette (e que me deu permissão para usar o personagem em minha história):

    Name: Pirate Mistress
    Sex: female
    Vocation: Elite Knight
    Level: 126
    Achievement Points: 153
    World: Secura
    Former World: Unitera
    Residence: Thais
    Married To: Akivashi
    House: Alai Flats, Flat 17 (Thais) is paid until Feb 20 2017
    Guild Membership: Infernal Doom Knight of the Devil Clan
    Last Login: Jan 18 2017, 19:01:32 CET
    Comment: Condorhapje ~ best friends since i dont know when <3

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    Sete anos se passaram... E muito mudou. Espero que tenham gostado! Até o próximo!



    Abraço,
    Iridium.
    Última edição por Iridium; 23-01-2017 às 08:31.

  3. #373
    Avatar de Edge Fencer
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    E aí, Iridium!

    Time skip de 7 anos... Natural que muita coisa tenha mudado.

    Parece que a Sociedade das Teias Infindas vai muito bem, assim como todos que sobreviveram aos eventos anteriores. Foi um alívio ver que o Ireas, ainda que meio melancólico, conseguiu seguir em frente após tantas perdas. O danado até achou uma namoradinha. Se isso é estar na pior... kkkk

    O capítulo foi, no geral, bem tranquilo. Achei bom, os capítulos finais do Segundo Pergaminho deixaram o clima muito pesado, importante dar essa amenizada. Entretanto, como nada é fácil na vida do pobre Keras, já veio esse sonho estranho aí. Crianças do Sonho... Não tenho muita ideia do que isso pode significar, vamos ver o que acontecerá na sequência.

    A escrita foi ótima, como sempre. Só estranhei uma coisa:

    "Um resquício de uma batalha que custara a vida de Liive, Wind, Hjaern, Sinbeard, Yami e vários civis de Svargrond, Edron, Ankrahmun. Além de ter quase custado a minha própria vida."
    Era pro Yami estar aí nesse obituário?

    Foi um bom começo de Pergaminho; diferente do que imaginei, mas muito bom. Continue contando com a minha presença nessa reta final.

    Abraço!

    Ah, e se sair um livro, compro fácil!
    Son of a submariner!

  4. #374
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    Quem disse que eu não apareceria por aqui, hein?

    Como alguém que simplesmente não conhecia a história por completo, as retrospectivas ajudaram bastante pra eu me situar. A única coisa que eu tenho a dizer sobre o Ireas é: coitado IHAOIEUHAKJHALK. Atou, desatou, grudou, desgrudou, e no final perdeu o Wind (além dos outros amigos e um dos olhos). Fico feliz por ele ter encontrado uma nova paquerinha agora pro terceiro pergaminho.

    Sobre o capítulo: bem escrito e com diálogos leves. Ver o Ireas conversando com o Emulov daquela forma me fez relacionar bastante com a realidade, onde esse nervosismo é a coisa mais natural do mundo em casamentos. O final também foi bastante curioso. Eu caí direitinho naquele loop de parágrafos no final. Fiquei com a sensação de "eu acho que eu já li isso", e é exatamente isso que acontece em se tratando de sonhos.

    Próximo capítulo a gente descobre o que diabos foi aquilo

  5. #375
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    ENTÃO O IREAS ARRUMOU UMA PALADINA COXUDA NO FINAL HEIN Knight mas foda-se


    Ótimo capítulo, Iri. Muitos anos se passaram e parece que muitas coisas mudaram também. Isso ai me lembrou o sentimento do filme do Boruto, todo mundo crescido, com mulher e filho(Menos o Kiba e o Shino, esses vão morrer sozinhos) e veja só, até o Emulov já vai ter filho. E o Brand? Vai ficar paradão de braços cruzados com olhar MAD por quanto tempo?

    O final foi intrigante. Quem será essa nova ameaça e que relação tem com Nornur? Treta grande vem vindo por aí, ao que parece.

    Bem, aguardo o próximo capítulo.




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  6. #376
    Avatar de Kinahked
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    Ireias, primeiro me desculpe por não comentar nos outros capítulos e apenas ler os mesmos, to numa correria que vc não faria ideia nem em seus piores pesadelos (se é que entendeu a referência huehuehue).
    Bom, Como sempre adorando a história!
    Quero uma copia do livro autografada e com dedicatória personalizada! E uma garrafa de Rum!
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  7. #377
    Avatar de Shirion
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    Ii que legal começou mais um pergaminho.

    O Ireas com uma namoradinha gostei (ela é paladina? )

    Mas nao sei eu acho que tem um trecho ali que indica que a moça sofreu ou vai sofrer alguma coisa no futuro tomara que eu esteja errado.

    Ô Iridium, não maltrata o coitado, arre. Já teve que matar a mãe agora vai perder a namorada?

  8. #378
    desespero full Avatar de Iridium
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    Padrão Terceiro Pergaminho, Capítulo 2

    Saudações!

    Demorou, mas um capítulo novo chegou! Queria agradecer a todos pelos comentários e por sempre acompanharem. Vocês fazem tudo isso valer à pena

    Vamos aos comentários:

    Spoiler: Respostas aos Comentários



    -----

    Spoiler: Bônus Musical



    Capítulo 02 — Me Chame de “Don”

    E me ofereça a sua amizade antes de pedir um favor.


    (Narrado por Yami, o Primeiro)



    Eu estava escondido atrás de uma pilastra, vendo Ireas trabalhar em seus aposentos na Sociedade; ele analisava e escrevia documentos com marasmo, sentimento aquele que já o dominava anos a fio. Ele arrumava a papelada lentamente, entediado e amuado.

    — Tsc… — Reclamava o druida de cabelos azuis, ressabiado. — Eu resolvo um problema… E outros mil surgem de volta. Inferno.

    Nesses sete anos, muita coisa mudou na vida de Ireas, e não apenas na dele: a vida dos demais também mudou. Após o casamento de Solstícia e o breve retorno de Lisette a Nibelor, a pirata logo partiu novamente, para mais uma de suas expedições no Caçador de Almas. Após sua partida, Ireas retomou seu comportamento agora habitual: soturno, recluso, pouco aberto a falar. Ou sorrir. Ou olhar nos olhos de alguém.

    — Hm… — Ireas comentou, sussurrando e analisando aquele anexo de papeis em particular. — Isso é mal… Tsc… Vou precisar de mais suprimentos… Acho que Thais vai tentar fechar cerco…

    Franzi o cenho enquanto o observava; era péssimo vê-lo assim. Por mais estranho que esse pensamento fosse, por mais que não fosse de meu feitio… Eu não podia deixar de sentir meu coração apertado ao vê-lo daquela forma. O sorriso, a alegria… A curiosidade, a certa infantilidade… Pareciam ter morrido muito tempo atrás, e apenas quando Lisette voltava… Ele parecia voltar a ter seus dezenove anos, mas por alguns dias. Apenas alguns dias.

    E tal situação me enchia de desgosto.

    — Yami! — Ireas me chamou, com o tom de voz dominado pelo enfado e frustração.

    — Pois não, Keras? — Respondi, engolindo em seco.

    — A Sociedade está com um probleminha… — Falou ele, sem sequer voltar seu olhar para mim. — Os adeptos estão falando de um problema com provisões. Aparentemente, as Pontes dos Sonhos estão recebendo pouco alimento e receio que seja obra de um bloqueio de Thais.

    — Acha que eles descobriram algo sobre nossa… Digo, sua aliança com Maximus?

    — Talvez… Harkath pode ser passado, mas não é de todo burro. — Dessa vez, ele voltou seu olhar para mim, amuado como se estivesse dizendo obviedades. — De qualquer forma… É com ele que temos que falar. Se alguém consegue arranjar mais provisões seguras, mesmo em vias clandestinas, é o Don.

    — Ugh… Não consigo me acostumar com esse… Título novo dele. — Falei, cruzando os braços.

    — Mas acostume-se, meu caro. — Replicou Ireas, novamente ríspido. — Maximus fez por onde… Eu infelizmente não queria pedir favores, mas… Terei que passar lá. Você quer vir ou prefere um dia de folga?

    Engoli em seco; depois de todos aqueles anos, eu naturalmente havia passado a servir Ireas por minha livre e espontânea vontade. Ele já havia estourado a cota de desejos dele, incluindo o último, que foi de me libertar da servidão eterna. Claro, fiquei muito grato, mas não era como se eu, de fato, tivesse um local para ir. Não é como se eu fosse bem quisto por mais ninguém.

    — Yami? — Ireas chamou minha atenção, levemente impaciente. — O que vai ser?

    — Vou com você. — Respondi, meneando a cabeça e saindo do transe de meus pensamentos. — A Sociedade está bem, e Jack está segurando tudo como devido. Não vai ser necessário se preocupar…

    Ireas concordou com a cabeça, separando alguns papeis. Naquele meio tempo, fiquei olhando para o nada, pensativo. Era incrível como Lisette conseguiu trazer alegria para o Norsir na mesma velocidade e facilidade com a qual conseguiu arrancá-la dele: o que era, naturalmente, um dos motivos pelos quais eu assumidamente desgostava e ainda desgosto dela. E muito.

    — Muito bem. Vamos a Venore ao amanhecer. Esteja preparado.

    Assenti e me retirei a passos lentos; antes de Lisette aparecer, provavelmente ele teria me impedido de sumir e teria ficado conversando comigo horas a fio sobre assuntos quaisquer, de fúteis a profundos em natureza; ele parecia sair mais calmo e leve depois de nossas conversas e conseguiu lidar melhor com todas as suas amarguras e dores. No entanto, desde que aquela pirata apareceu, até aquilo eu havia perdido. Eu não fazia a menor ideia de como recuperar aquele espaço novamente, que, até então, eu não dava muito valor.

    Suspirei profundamente, e olhei para a minha Lâmpada; ela, cujo interior era sempre imenso para me conter, parecia ainda menor do que de fato era. Eu me sentia, pela primeira vez em anos, sozinho. Terrivelmente sozinho.

    Entrei na Lämpada, resignado; seria eu apenas um servo para Keras? Afinal, o que eu ainda significava para ele? Isso é, será que eu algum dia signifiquei algo? Ou será que o sentimento de vingança que ele teve por mim, uma vez aplacado, fazia minha existência já não ser mais útil ou… Valiosa de qualquer forma?


    *****


    (Narrado por Ireas Keras)


    Fomos a Venore assim que o Sol começou a raiar; usando a Ponte dos Sonhos mais próxima, logo chegamos à cidade suspensa sob o Pântano da Garra Verde. Yami estava estranhamente quieto: não ouvia dele nenhum comentário sobre o ambiente, a viagem ou qualquer outra coisa.

    Estava trajando roupas similares às de Icel, com a diferença dos detalhes de meu sobretudo serem índigo nos ombros, da mesma cor de minhas botas, e azuis-claros nos botões e nos detalhes da gola. O chapéu em minha cabeça fazia com que a penumbra escondesse minha cicatriz, assim como o desalinhamento de meus cabelos.

    Passamos rapidamente pelos corredores de pedra escovados da cidade, chegando ao mais novo dos armazéns de lá: a sede dos Bastardos Inglórios, que atuava sob a fachada de um grande teatro. No andar de cima, estaria a pessoa com quem teria que tratar. Um rapaz alto, de pele bem pálida, loiro e muito bem vestido.

    Alinhei meu sobretudo preto e tirei o chapéu, ajeitando meus cabelos com os dedos. Yami manteve a espada escondida em sua bainha e entrou no ambiente ao meu lado. O homem loiro logo veio até mim.

    — Sr. Keras? — Indagou o sujeito, estendendo a mão para me cumprimentar. — Que surpresa! Vaporetozin, muito prazer. Também conhecido como Vaporeto.

    Yami abafou um riso e olhou para o lado; eu retribuí o cumprimento, e Vaporetozin abriu o caminho, mostrando uma passagem secreta para o segundo andar. Olhei para o ambiente e percebi uma grande agitação: membros correndo para lá e para cá com panos, pedaços de madeira e figurinos.

    — Vai ter algo aqui hoje? — Indaguei antes de subir as escadas.

    — Vai! Oh se vai! — Ele replicou, animado. — Haverá uma apresentação de dançarinas aqui e caras… Caras, elas são lindas. Gostosas. As gostosas dentre as mais gostosas. Sério. Não percam!

    Sorri de canto, sentindo-me um tanto culpado por gostar da ideia, por estar com Lisette; Yami também se sentiu atraído, mas achei que ele de fato se manifestaria sobre ir. Em vez disso, ambos nos vimos deixando Vaporeto em suspenso quanto à nossa presença. Naquela altura do campeonato, de todos meus amigos, apenas Sírio, Morzan, Icel e Yami poderiam frequentar tais lugares sem culpa no cartório ou peso na consciência.

    — Bom, a passagem pra sala do Don está aberta; ele vai saber que vocês estão vindo. — Falou Vaporeto, sorridente. — Caso mudem de ideia quanto ao nosso show, venham mais à noite e falem com o Sir Catarina, o segurança. Ele é gente boa. Gordo miserável, mas gente boa.

    Concordamos com a cabeça, um riso abafado e seguimos adiante; a escada estava a baixa iluminação, criando um clima mais sério: tal era a forma como Don administrava seus negócios. Sem brincadeiras, com clareza onde precisava e sombras onde queria. Assim que terminamos de subir as escadas, havia um portão à nossa frente, feito de madeira escura e muito bem trabalhado.

    Bati uma vez e as portas logo se abriram.

    — Pode entrar, eu já sabia que você vinha.

    Detrás das portas, um enorme escritório bem decorado com o melhor da movelaria de Venore e de Zao; havia uma larga mesa de madeira escura, atrás da qual estava sentado um homem de quarenta e cinco anos, cabelos já grisalhos, com uma blusa preta de algodão e um casaco vermelho grosso, mas bem costurado por cima, e uma cartola preta muito bem cuidada. Ele estava segurando um charuto aceso na mão direta e alguns papeis em sua mão esquerda. Assim que me viu, abriu um sorriso e soltou os papeis.

    — Menino Ireas. — Falou o homem com um sorriso. — Bem vindo à minha humilde residência!

    — Don. — Falei, aproximando-me para apertar sua mão livre.

    — Meridius. — Yami falou, fazendo uma reverência.

    — Efreet. — Don Maximus replicou sem perder a postura e retribuindo meu aperto de mão.

    — Venho oferecer minha amizade, Don, e pedir um favor. — Falei, recuando um pouco.

    Don Maximus meneou a cabeça, ponderando, com um sorriso. Ele levou o charuto à boca e deu uma tragada.

    — Fale. — Disse, por fim, soltando a fumaça pela boca em meio à palavra dita.

    — A Sociedade das Teias Infindas precisa de mais suprimentos; de uma linha nova, para ser mais exato. — Falei, cruzando os braços. — A rota que passava por Greenshore começou a ser fortemente inspecionada. Acredito que Harkath possa ter algo a ver com isso.

    — Ah, aquele imbecil... — Don comentou, rindo, enquanto preparava para tragar do charuto uma vez mais. — Ele não aprende mesmo. — Don completou, soltando a fumaça grossa do charuto. — Relaxa, menino. Eu dou um jeito. Pedirei a dois dos meus rapazes para cuidar disso. Conseguirei adquirir alimentos e outros equipamentos básicos muito facilmente para vocês. Com uma condição.

    — Qual seria? — Indaguei não muito surpreso.

    — Bem… — Don começou, mas sério e apagando o charuto em um cinzeiro simples, mas muito bem-trabalhado. — O meu pedido é mais… Emocional do que qualquer outra coisa. O Ano-novo segundo o calendário adotado por meu mestre* está quase chegando e, como sou o último de seu dojo vivo… Gostaria de manter a tradição. No entanto, não posso sair daqui e deixar minhas funções…

    — Você quer que a Sociedade adote esse costume dentro dos ritos que já temos? — Indaguei, já me adiantando ao pedido de Don.

    — Precisamente. — Replicou Don Maximus, sorrindo. — Espero que não seja um problema. Eu de fato gostaria de ver o monastério do meu mestre de pé novamente, e acho que tanto sua Sociedade quanto o meu antigo Dojo tem muito em comum. O que me diz?

    Yami me olhou com certa reprovação. No entanto, não havia, ao meu ver, nada de errado com o pedido de Don: era um pedido totalmente razoável e justo, considerando tudo que ele havia passado e feito nos últimos anos.

    — Bom… Acho um pedido totalmente justo. — Repliquei com um meio sorriso.

    — Perfeito, menino Ireas. — Replicou Don Maximus com um sorriso. — Temos um acordo então.

    — Obrigado, Don. — Repliquei, apertando sua mão novamente. — Abrirei uma Ponte dos Sonhos o quanto antes.

    — Perfeito, menino. — Replicou Don Maximus, agora de pé em frente à sua mesa. — Antes que saiam: gostariam de ficar para ver o show de hoje? Não vão se arrepender.

    — Adoraria, Don, mas se eu fizer isso a patroa vai me cortar ao meio: literalmente. — Repliquei com um riso fraco.

    Don riu e Yami continuou estranhamente quieto. Despedimo-nos dele e o ex-cavaleiro Thaiano me entregou um pedaço de papel indicando o local onde queria que eu abrisse a Ponte para os suprimentos passarem. Peguei o papel e rumei para seguir as demais instruções, deixando Don com seus afazeres.


    ****


    (Narrado por Don Maximus Meridius)


    Uma vez que Ireas e seu Efreet saíram de meus aposentos, fechei as portas; soltei um largo suspiro. O Ano-Novo oriental… Essa data me trazia muitas lembranças; muitas felizes, mas todas cobertas pelo manto de luto e tristeza. Muitos anos se passaram desde a morte de Xiao e de meu sensei, e mais alguns se passaram desde que os vinguei.

    Fui até os fundos de meu aposento, a um enorme quadro com a minha imagem; afastei-o para revelar uma singela e simples porta, aos moldes daquelas de meu antigo Dojo. Abri a porta lentamente e descalcei minhas botas. Tirei meu chapéu.

    Havia um pequeno altar à minha frente; um altar com a pintura do rosto de Xiao: um dos únicos desenhos dela que havia sobrado daquele dia funesto. Um dos primeiros desenhos que fiz de alguém. O retrato estava em uma moldura de madeira, com duas velas vermelhas distantes cerca de vinte centímetros dele, e uma de cada lado, de forma que o retrato ficava no meio; à frente dele, havia uma pequena tigela do tamanho de um cinzeiro, que servia como depósito de oferendas. Havia uma almofada à frente do altar e um pequeno gongo à minha esquerda.

    Ajoelhei-me na frente da almofada; peguei uma caixinha com palha e pedra de fogo e usei os materiais para acender uma pequena fagulha, com a qual acendi as duas velas. Guardei a caixinha e peguei uma erva azulada, de cheiro mais doce e suave e a depositei na tigelinha, colocando o restante da fagulha ali. O rosto de Xiao estava mais iluminado pelas velas, e seu sorriso parecia aquecer meu coração. Fechei os olhos, juntei as mãos e fiquei ali, em silêncio.

    Fiz as minhas preces pela alma de Xiao, de meu sensei e de tantos outros que caíram nas mãos dos servos do Imperador. Fiz isso e, aos poucos, comecei a sentir meu coração e minha alma leves com todas as decisões que tomei… E até mesmo com as falhas que cometi ao longo de todos esses anos…


    ****

    (Narrado por Ireas Keras)


    Uma vez que tudo havia sido concluído, retornei à Sociedade das Teias Infindas através da Ponte dos Sonhos de Nibelor; assim que cheguei, senti meu corpo paralisar e minha mente ir a outro lugar.

    — Keras? — A voz grave de Yami parecia cada vez mais distante. — Keras!

    Tudo escureceu; abri meus olhos novamente e não estava mais na Sociedade. Yami não estava lá. Em vez disso, estava em um local verdejante, mas de aura divina, em uma clareira cercada por árvores douradas. Jack estava ao meu lado, tão confuso quanto eu. À nossa frente havia uma terceira pessoa.

    Um elfo. Com pele de brilho dourado e olhos de íris muito claras e cabelos acobreados. Ele olhava para nós com um misto de alívio, surpresa e contento.

    — Finalmente! Encontrei as Vozes de nosso bom deus! — Falou o elfo em um tom de voz estranhamente andrógino, onde não consegui distinguir se tratava de um homem ou uma mulher. — Meu nome é Tameran, e eu sou um Teshial. Eu e os que restaram de nós precisam de ajuda para voltar ao outro Reino. Há uma calamidade chegando, e nós precisamos ajudar! Não podemos mais nos esconder nos Sonhos!

    — Eita… — Jack falou, pasmo, logo em seguida olhando para mim. — Ireas…

    — O Sonho. — Falei, igualmente surpreso. — As Crianças do Sonho. Elas realmente estavam chegando. — Olhei para Tameran de volta, ainda intrigado e surpreso.


    Continua...

    -----

    Glossário:

    (*): Referência ao Ano-Novo lunar, que é adotado na China e alguns outros países do Oriente. Nesse caso, Zao seria o único local em Tibia a adotá-lo oficialmente.


    -----

    Demorou, mas chegou! Espero que tenham gostado! Recomendem aos amekinhos por favor, a tia vai ficar muito feliz!

    E aí? Quem tinha pensado que os Teshial reapareceriam?


    Até o próximo!



    Abraço,
    Iridium.

  9. #379
    Avatar de Senhor das Botas
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    Bom terceiro pergaminho fefê.

    Você querendo mostrar esse Ireas rabugento, puto, cheio de cicatrizes, marcas e feridas profundas de seus últimos anos foi muito bom. Claro, tentou dar uma amenizada com Lisette, com o Ireas cuidando do culto de Nurnor, Yami... Mas todos sabemos que a dualidade do lado "bom" e do lado "mau" de Ireas vai ser posto a prova. Nos resta saber como você vai fazer isso. SE for fazer isso realmente.

    No mais, bom capítulo. Só fiquei em dúvida se a Sociedade das Teias é "clandestina" ou não. Parece que em Thais Ireas e seus amigos não são lá muito bem vindos, mas enfim, descobriremos isso ao decorrer da história xD.


    Não espere algo bem elaborado e feito. De resto...

  10. #380
    Avatar de Edge Fencer
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    E aí! xD

    Muito bom o capítulo, como de costume. Ver o Ireas nessa situação, meio indiferente a tudo e infeliz, é um pouco... Angustiante. A mágoa e o rancor de fato mudaram muito a personalidade dele; pensei que, talvez, os amigos pudessem trazer um pouco de luz pra vida do rapaz, mas parece que nem isso tá funcionando
    O Yami, por tabela, também está de um jeito digno de pena. É difícil ter esperança de que esse panorama mude, já que vc adora judiar do Keras kkkkk, mas quem sabe ainda haja salvação...

    O final do capítulo realmente me surpreendeu, não estava esperando que os Teshial teriam a ver com o sonho do Ireas. E ainda vieram com essa história de "calamidade"
    Bom, o negócio é aguardar pela sequência e ver o que vai acontecer.

    Quanto à questão de luminera, é... Eu acabei me ausentando um pouco e fiquei perdido no rumo que o rp tomou... Porém, eu não desisti de lá, tentarei voltar aos poucos

    Abraço!

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