Saudações, moçada!
Bom, não recebi nenhum comentário sobre o último capítulo ainda
Ficarei à espera de comentários referentes a ele. Contudo, vou dar continuidade ainda assim (e dar uma divulgada no L.T. e ver se ajuda de alguma coisa...) e esperar por respostas...
Sem mais delongas, o Capítulo de hoje!
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Capítulo 22 - Os Renegados: REVOLUÇÃO VANDURANA (Final)
...A liberdade será, enfim... Nossa.
(Narrado por Rei Jack Spider)
Ainda estava cara a cara com Mortalheiro; o que ouvi ser pronunciado por ele continuou a ecoar insistentemente em meus ouvidos, mantendo-me ali, inerte e com os ouvidos atentos, querendo ouvir mais. Precisando ouvir mais... E sem entender o porquê.
De vez em quando, conseguia ouvir as vozes dos piratas sendo sopradas pelo vento, ou até mesmo as vozes de meus amigos, e tais eventos me deixavam cada vez mais inseguro.
— Você tem um nome, meu jovem? — Indagou Mortalheiro, inclinando sua cabeça para a direita, curioso.
— J-Jack Spider. — Repliquei, um pouco hesitante — R-Rei Jack Spider. O Rei é um título mais de humildade... Por conta de um Grande Feito que realizei em meus primeiros dias como Paladino...
— É muito honesto, Jack... — Falou-me Mortalheiro lentamente, deixando sua voz mais rouca e sinistra — Aprecio isso em uma pessoa, independentemente de sua origem...
— O-Obrigado... Eu acho. — Respondi, ainda receoso.
— É também muito corajoso... — Continuou Mortalheiro, bambeando sua cabeça na outra direção lentamente — Afinal... Desafiar as tropas de Thais não é tarefa simples. Requer uma motivação muito grande e muito poder ao seu alcance...
— Tudo por uma causa justa. — Respondi, com orgulho. — Afinal, todos nascemos livres, certo? Ninguém tem direito de ter posse sobre outro alguém, não importa se é mais rico do que essa pessoa ou se vê como alguém "mais privilegiado"...
— E, ainda assim... Com seus ideais libertários... Seu melhor amigo... O de olhos vermelhos e cabelos prateados... É escravocrata... — Silvou a criatura, reflexiva. — Vocês, humanos... São muito curiosos...
— Brand só estava seguindo ordens! — Repliquei, chateado com a colocação de Mortalheiro — Eu duvido que ele seja escravocrata de verdade... Bom, ao menos... Não faria o menor sentido ele sê-lo... — Minha voz foi se perdendo conforme minhas dúvidas aumentavam.
— Não é porque algo não parece fazer sentido para você... Que não fará sentido para os outros. — Replicou o sujeito com um semblante sinistro — Eu concordo com você... Escravidão é sem sentido... Mas há quem se beneficie dela... Assim como há aqueles que se beneficiam com o desequilíbrio, o caos e a corrupção... Não é verdade?
— É, mas... — Balbuciei, tentando acompanhar o raciocínio —Onde quer chegar com isso?
— Falo de Esquecimento Eterno... E sua busca por poder... — Respondeu a criatura — Eu posso sentir sua essência, criança... Você não é sangue do mesmo sangue dela... Ainda assim, quando falei seu nome... Pareceu-lhe familiar demais...
— Eu conheço o filho dela, Ireas. — Disse a ele, justificando meu sentimento —Eu e os demais também somos... E volta e meia o ajudamos, sempre que possível. E ele também nos ajuda conforme pode...
— Entendo... — Mortalheiro assentiu, meneando lentamente a cabeça — E, ainda assim... O deixam caminhar direto a... Uma armadilha... Perigosamente...
Letal.
Meus olhos se arregalaram, e uma palidez assombrosa tomou conta de minhas faces.
— Como assim?! — Indaguei, pasmo.
— Seu amigo corre grave perigo... — Mortalheiro continuou a falar, com sua voz solene e sinistra ecoando Nargor adentro e preenchendo o ar — Ele foi... Será emboscado... Muito em breve. Se vocês não forem até ele... Esquecimento Eterno... Ou seu servo... Ceifar-lhe-á a vida... E tudo caminhará para a ruína...
— Essa não! Não pode ser! — Sentia o desespero crescer em meu âmago — Precisamos sair daqui o quanto antes, Mortalheiro! Precisamos ir até Ireas, e rápido! Não pode fazer nada quanto ao mar?
— Dê-me mais uns dias... — Replicou o avatar da Morte — O mar está muito ensanguentado e sedento por mais... Sinto a fome de almas vindo desde as enseadas até as profundezas de Calassa... Não... Está perigoso demais... E seus amigos estão muito feridos e infeccionados pelas águas impuras... Fiquem um pouco mais... Cuidaremos de vocês...
Assenti, frustrado, preocupado e abatido. Ireas estava então caminhando para a morte? E não havia nada que pudéssemos fazer? Quantos dias mais ele teria antes de seu derradeiro fim? Quantos dias mais teríamos para chegar até ele?
Ouvi um estalido de ossos; era um dos braços de Mortalheiro, o qual estava em ossadas puras e brancas, indicando-me uma direção para ir.
— Vá... Descanse... — Pediu-me a sobrenatural criatura, em um tom quase afável — Quando o mar estiver purificado... Vocês poderão partir...
Dirigi-me ao cômodo que me fora apontado: um quarto pequeno, com um catre, um criado mudo e um expositor de armadura e de armas. Rapidamente, guardei minhas coisas nos expositores, sentei-me no catre e abri minha mochila – para meu alívio, o Broche ainda estava lá.
— Graças a Banor! — Sussurrei, aliviado — Vamos lá... Funcione que nem da outra vez... Preciso falar com Ireas... E rápido!
Olhei para a enorme gema no centro da peça, buscando por algum sinal de vida; alguma coisa que me indicasse o paradeiro de Ireas; algo que me mostrasse se estava vivo ou se jazia morto. Eu precisava alertá-lo sobre o que estava por vir; precisava que o vento levasse minha mensagem como fizera da última vez.
O vento... Parecia que apenas eu e Ireas podíamos ouvi-lo. Por quê? O que tínhamos de tão diferente dos demais? E por que apenas nós podíamos de fato ouvir e compreender as mensagens do Vento? Pergunto-me se o Druida também viu aquele ser prateado... Aquela pequena aranha que falou dentro de minha mente, como se já me fosse conhecida de longa data. Pergunto-me, também, o que aquele bichinho realmente é, e o porquê de ter vindo até mim.
Segurei firmemente o broche em minhas mãos; a princípio, estava frio; contudo, sua temperatura parecia oscilar junto à pequena movimentação do vento por dentro de Nargor. Respirei fundo, fechei meus olhos e busquei apenas sentir, e mais nada, além disso.
— Vento... Ó Vento, ouça meu apelo... — Sussurrei devagar, tentando me manter calmo — Meu amigo está em perigo... Leve a ele essa mensagem... Faça-o ouvir minha voz... Ele precisa saber que nada é o que parece ser... Que ele está caminhando em direção à morte, e precisa de ajuda... Vento, se não pudermos ir até ele, ao menos dê-lhe nossas forças... Dê-lhe poder para aguentar os desafios que virão, e calma para perceber o que está ao seu redor...
Senti o objeto se aquecer até ficar morno, e ficar com temperatura variável por alguns minutos até enfim esfriar novamente. Coloquei o objeto junto ao meu peito e desfaleci, ouvindo mais nada além do vento soprando em meu rosto, frio e úmido, e o barulho da chuva que começara a cair à noite...
***
(Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)
Dor. É tudo o que eu sentia.
Tudo doía.
Todo sangrava.
Minha cabeça girava... E meus olhos se abriam com dificuldade, como se houvesse pedras em cima deles. Quando dei por mim, não estava mais naquela embarcação lutando contra Jack... Lutando uma luta estúpida, por ideais que jamais deveria ter defendido em primeiro lugar. Agora, eu estava em um local estranho, com paredes e teto de pedra, que fedia a sangue, pólvora e rum. Havia uns três homens estranhos, com barbas por fazer e cabelos em pavios, tamanha a sujeira neles impregnada. Seus rostos estavam cobertos de carvão e poeira, e suas roupas eram extremamente maltrapilhas. As únicas coisas em bom estado, até onde pude distinguir, eram suas armas. Sem dúvida, eu estava em um covil de piratas. Maravilha, mais problemas.
— Onde... Onde estou? — Murmurrei, com muita dor.
— Nargor, a única terra livre nesse mundo! — Replicou um dos piratas, aplicando alguma coisa em meu rosto — Me surpreende um capitão Thaiano não conhecer esse lugar! Ê, beleza! Andam treinando bem os riquinhos, viu? He,he,he!
— Engraçadinho você. — Repliquei, com ironia — Se acham que estou destreinado...
Exura San!
Assim que pronunciei meu feitiço, fiz minhas feridas se fecharem em um instante, o que causou espanto para os piratas. Em seguida, sentei no catre improvisado onde outrora me deitaram, e lancei aos meus “anfitriões” um olhar desafiador.
— Quero ver tentarem a sorte. — Provoquei, com o semblante sério.
Um dos piratas riu de mim, com desdém.
— Humpf. Todos iguais, esses Thaianos! — Falou o pirata, com a voz rouca cheia de desprezo — Você e seus amigos têm muita sorte... Não fosse a presença de Mortalheiro, estaríamos jogando suas entranhas no mar agora!
Eu congelei; meus olhos se arregalaram. As lendas eram verdadeiras então? O guardião e guia dos mortos existia então?
— M-Mortalheiro? — Repeti, incrédulo —
O Mortalheiro?!
—
O único. Em esqueleto, sombra e cheiro de mar. — Falou o outro pirata, o qual segurava uma cuia cheia de ervas — Eu também não acreditei quando o vi, garoto, mas meus olhos não me enganaram – era Mortalheiro em entidade. E ele só aparece quando o mar chora de dor...
— Como assim? — Indaguei, confuso.
— O mar está corrompido, rapaz. —O pirata da cuia continuou, com aspecto soturno — Restos mortais dos que caíram pelas mãos da Irmandade dos Ossos foram lançados ao mar, e a doença tem se espalhado rápido. Adicione isso à luta que vocês causaram e eis a receita para o desastre iminente! Mortalheiro emergiu das ondas para curar o mar e aplacar a fúria de Bastesh, mas não poderá fazer isso sozinho.
— Isso mesmo. — O outro pirata falou — Mortalheiro viu algo no grupo de vocês: algo que só ele consegue compreender. Ele precisa da ajuda de vocês. Os mares precisam da ajuda de vocês.
Respirei fundo, fechando meus olhos e fazendo o possível para não rir. Não podia ser verdade. Era óbvio que não era verdade. Mortalheiro não passava de uma lenda; algo criado pela imaginação de marinheiros que ficaram muito tempo expostos ao mar. Ainda assim, era inegável o tom de verdade que havia na voz daqueles piratas.
— O seu amigo ali não está muito bom das pernas não... — O pirata com a cuia na mão apontou para os catres onde repousavam Sírio e outro rapaz muito similar a ele em aparência — ...E a causa disso não está na madeira que os feriu, e sim na água do mar. Vocês terão que ficar aqui alguns dias até que Mortalheiro deixe as águas novamente limpas... E sacie a sede de sangue do mar...
Olhei para Sírio e o outro rapaz. O pirata tinha razão: eles estavam péssimos. Não tínhamos outra escolha senão permanecer ali pelo tempo que fosse preciso. Eu torcia para que Ireas estivesse bem. Com ou sem Wind, o garoto precisaria de toda sorte e poder do mundo para deter Esquecimento Eterno. Precisávamos sair dali o quanto antes...
***
(5 dias antes de Ireas chegar a Ab’ Dendriel)
(Narrado por Morzan Rider)
Caralho... Nunca fiz tanta cagada como essa na vida.
Onde eu estava com a cabeça? Meu irmãozinho tinha razão... Eu abandonei meu povo quando ele mais precisou de mim... Troquei minha pátria por dinheiro sujo, dinheiro escravo. Agora, não mais. Chega de ser corsário. Não quero mais essa vida para mim.
Quando cheguei à Nargor, estava muito doente; senti minhas entranhas sendo tomadas por um mal maior que quaisquer doenças que já tenha enfrentado. Era uma infecção horrorosa, consumindo meu corpo como chama em palha seca. Foram dias horríveis, mas os piratas conseguiram me curar; os conhecimentos de cura de nossos ancestrais sobreviveram com eles e, graças a isso, me mantiveram vivo para mais um dia de combate. Agora, pelas causas certas.
Sírio me apresentou aos seus amigos assim que ficamos recuperados; a princípio, tanto Jack quanto Liive mostraram grande desprezo por mim, mas aos poucos foram me aceitando. Brand, o de cabelos grisalhos, contudo, foi o que me aceitou mais rápido: ele entendia o que era estar em meu lugar, e sabia o quanto eu estava arrependido. Acho que ele também estava igualmente arrependido de seus atos, sei lá...
Quando estávamos totalmente recuperados, Mortalheiro nos chamou até a entrada de Nargor, e pediu que fizéssemos uma roda em frente à enseada.
— Vocês tem algo diferente... Algo que a muito não vejo em outros seres humanos... — Mortalheiro começou seu discurso, estando no centro da roda — A devoção e determinação de vocês são genuínas; vocês lutam bravamente por seus ideais desligados de motivações materiais... No sangue de vocês corre o poder de que preciso para purificar essas águas... Por meio da luta, vocês fortaleceram seus corpos e, por meio da devoção aos deuses, o sangue de vocês foi recompensado... Agora, é hora de usar esse poder para reestabelecer o equilíbrio...
Dito isso, ele se aproximou de nós com uma Faca de Obsidiana e um recipiente de mármore. Um a um, ele cortou as palmas de nossas mãos e forçou-as contra o recipiente, fazendo o sangue ficar ali. Sem seguida, jogou areia e água do mar dentro da tigela de mármore, erguendo-a aos céus nublados.
— Senhora...! Minha Senhora...! — Mortalheiro gritou, com a voz solene e sinistra soando como trovão — Bastesh, mãe do Mar, Soberana das Águas! Eu, seu filho, venho até você com oferendas de calmaria para essa tempestade!
Súbito, o céu se fechou ainda mais, e ouvimos trovões gorgolejando do alto do firmamento. Mortalheiro fixou seu olhar na abóbada celeste, tingida de cinza escuro e forte, determinado a cumprir com sua tarefa.
— Trago a você sangue dos merecedores... Daqueles que não mancharam o mar com a corrupção que aflige os humanos... Trago a você sangue dos devotos, dos tementes aos deuses... Daqueles que não se esqueceram de você, Senhora...
Ao fim dessa segunda sentença, sentimos o chão tremer e ouvimos um som alto e gorgolejante vindo do mar; à frente da baía rochosa, o mar começou a se mover em um padrão distinto das ondas de outrora; diante de nossos olhos, um rodamoinho começou a tomar forma, e Mortalheiro estendeu sua oferenda em direção a ele, sem sair do lugar.
— Toma esse sangue... — Continuou a sinistra criatura em transe — Bebe da cura dos justos... E cura tuas feridas... Faz do mar puro novamente... E permita que esses homens possam regressar em paz para seus lares... Pois a hora deles... Ainda há de vir... Mas não agora...
Mortalheiro se calou, e outro evento extraordinário passou diante de nossos olhos; o conteúdo do recipiente começou a flutuar em direção ao rodamoinho e, junto com ele, a figura do Mortalheiro. A criatura começou a se desfazer em pó e ser sugada pela força do vento e das águas. Ele voltou seu olhar para nós uma última vez antes de partir.
— O caminho está livre... — Sua voz sinistra ecoou forte no ambiente — Os lobos do mar dar-lhe-ão passagem... A Senhora está contente... O caminho está... Limpo...
Com isso, sua figura desapareceu com um sorriso sinistro e um estranho semblante de paz; o rodamoinho aos poucos foi-se fechando, e a chuva começou a cair dos céus. As águas do mar, outrora escuras e cheirando à podridão, começaram a ter suas impurezas retiradas, voltando à cor azul-esverdeada que lhes era natural, e a ferocidade que antes tomava conta de suas ondas desaparecera por completo.
Eis então que surgiu um navio em meio à enseada; um navio feito de água. Os piratas nos reverenciaram e guiaram nossos passos até o navio. O caminho estava limpo, e era hora de partirmos.
— Para onde? — Indaguei.
— Vamos atrás de Ireas. — Brand e Jack falaram em uníssono, e vi meu irmão concordar com a cabeça.
— Ele corre grande perigo! — Exclamou Jack, agitado.
— Tenha calma, meu amigo... — Replicou Brand — Acredito que ele esteja concluindo a missão que os Djinns de Gabel lhe devem ter incumbido, seja ela qual for. De toda forma, teremos que passar em Ankrahmun primeiro e ver se ele já não está por lá.
— Brand, seria melhor tentarmos o caminho em direção a Thais. — Interpelou Jack, ansioso — A rota pode até ser mais longa, mas eu não gostaria de passar por Ankrahmun. Tô com um péssimo pressentimento, pode acreditar...
— Jack, Ankrahmun é a única cidade que vai nos dar asilo agora. — Brand replicou, seco — Entendo sua preocupação e não subestimo sua intuição, mas a Baía da Liberdade deve estar completamente detonada, Port Hope é Thaiana até o fim dos dias e Venore não nos receberá caso tenham sido ameaçados de bloqueio econômico. Ou Ankrahmun, ou Darashia. E temo que Carlin esteja perigosa demais para nós dois, dada nossa origem...
— Então, vamos para Ankrahmun? — Sírio interveio, impaciente — Yami está lá, pode nos ajudar!
Eis então que vi as expressões de Jack e Brand se alterarem; pareciam receosos, como se escondessem algo de Sírio, eles se entreolharam, e vi Jack tomar fôlego para dizer algo.
— Olha, Sírio... — Jack começou triste e timidamente — Yami não é quem parece ser... Ele...
— Ele prendeu Ireas e um amigo, Emulov, em Drefia. — Brand interveio, seco e ríspido — Ele é um Djinn, provavelmente um Efreet, e serve Esquecimento Eterno. Ele não é gente boa não!
— Quê?! — Foi a vez de Liive se pronunciar, incrédulo — É sério isso?!
— Vocês só podem estar de sacanagem com a minha cara! — Sírio retrucou, incrédulo — Eu conheço Yami desde pequeno! O cara é de confiança! Não pode ser verdade, vocês o estão confundindo com outra pessoa!
— Não, Sírio... Não estamos. — Brand replicou, sério — Yami tentou matar a mim, Wind, Emulov e Ireas. Ele nos separou no deserto, arremessando os dois mais fracos de nosso time em Drefia, e por muito pouco eles não escaparam com vida. Yami é mau assim como a mulher a quem serve.
— Não acredito em você! — Teimou meu irmão, com o sangue Vandurano fervendo em suas veias.
— Pois bem. — Brand continuou, sério — Então, se quer a prova, zarparemos para Ankrahmun, e você verá que falo sério.
Dito e feito; zarpamos então para Ankrahmun, contra todas as negativas de Jack e as negações de meu irmão. Eu, por outro lado, mantive-me neutro a tudo aquilo; não me lembrava tão bem assim de Yami, e as declarações de Brand fizeram-no parecer ainda mais questionável. Eu temia por meu irmãozinho; seu temperamento, comum a muitos Feiticeiros, certamente poder-lhe-iam custar caro...
Zarpamos, então, para Ankrahmun, na esperança de chegar lá e Ireas estar são e a salvo. Perguntava-me quem era esse rapaz, e porque ele era tão digno da atenção desses caras. Decerto deveria ser alguém muito querido, ou talvez muito poderoso. Bem, só descobriria quando chegássemos até ele...
***
(Um dia depois da chegada de Ireas a Ab’ Dendriel)
(Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)
— Como assim, você não sabe?!
Que merda, eu deveria ter ouvido Jack de primeira! O desgraçado do Yami está se fazendo de sonso agora! Ele é o barqueiro da cidade, e certamente levou Ireas ao seu objetivo! Agora está se fazendo de retardado mental! Cara, como eu odeio esse sujeito! E ainda está com esse olhar sonso e apagado...
— Yami, tenta se lembrar! — Sírio interveio, chocado — Ireas não é um cara tão difícil de esquecer. Certeza de que não o viu? Nem Wind? E nem o tal do Emulov?
— Não. — Replicou Yami em tom de voz perdido — Não sei de nada. Não os vi.
— Puta merda... — Falei entre meus dentes, muito irritado. — Alguém me segura...
Respirei fundo, tentando me acalmar. Ao meu lado, podia ouvir o som das articulações dos dedos de Liive estalando, e podia jurar que vi o brilho da Espada Mística de Morzan acima de sua bainha. Estávamos a um passo de combater o cara.
Então, foi aí que vi uma ação inesperada por parte de Jack; ele tirou um Broche Ornamentado de sua mochila e o mostrou a Yami, cujos olhos se arregalaram.
— Eu ouço a Voz do Vento — Disse Jack em um tom de voz atípico, sereno demais para ser dele —, e ouço suas mentiras. Você mente; você sabe onde Ireas está. Por favor, diga a verdade e não lhe faremos mal... Ainda.
E eis que percebi outra coisa estranha: o olhar de Yami. Não parecia ser o mesmo olhar do barqueiro, altivo, confiante e arrogante; esse Yami parecia perdido e alheio a tudo, com um olhar sem brilho e vidraçado. Seus lábios começaram a tremer e sua face empalideceu, ao passo que Jack manteve-se firme em sua posição.
— E-Eu... E-est-tou cumprindo a-apenas o-ordens, juro! — Yami falou, assustado — M-meu m-mestre m-me f-falou... P-para d-distrair vo-vocês... A todo custo! Todo custo!
— Seu... Mestre? — Sírio pergunto, confuso — Quem é ele?
— Y-Yami, o-o Pr-Primeiro! — Pronunciou aquele que havíamos tomado por Yami, apavorado — Por favor, me matem! Ele não pode saber de minha falha! Por favor, façam isso!
O rosto de Sírio foi tomado pela tristeza e decepção; a face de Morzan se fechou em uma expressão de conhecimento prévio e eu, cada vez mais furioso, entendi o esquema: Yami criara uma duplicata de si para ocupar seu lugar e não levantar suspeitas sobre suas ações. Graças aos estranhos dizeres de Jack, estávamos próximos de solucionar esse mistério.
— Ô palerma! — Liive urrou, perdendo a paciência — Fala logo pra onde que o verdadeiro Yami levou Keras! Anda logo que estamos com pressa!
— Liive! — Censurou Jack.
—
Ab’ Den... — O sósia começou a falar, e parou de súbito.
Eis que vimos o sósia parar de falar, com os olhos arregalados e os lábios tremendo; de repente, ele começou a arfar alto e agonizante, como se alguém o estivesse enforcando. Por fim, desfaleceu, e seu corpo se transformou em uma poeira esverdeada, que foi soprada longe pela brisa marítima. Isso tudo ocorreu em segundos.
— Então, o filho da mãe
é onisciente... — Falei, indignado — Ao menos conseguimos a informação de que precisávamos. Rapazes, vão até a cidade e comprem suprimentos! Vamos zarpar para Ab’ Dendriel o mais rápido possível! Ireas está marchando em direção à Rocha de Ulderek, não tenho a menor dúvida quanto a isso! Apressem-se, não temos muito tempo!
Continua...