Resultados da Enquete: Que Facção deveria Ireas Escolher?

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Tópico: A Voz do Vento

  1. #221
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
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    Caralho fefê, mandando vários capítulos, quanta força de vontade... Eu não to conseguindo escrever nenhum. :/


    Acho que já comentei contigo no Facebook sobre esses capítulos, tipo: Liive brutão, Ireas bi, Brand fdp cara de chibata e Morvan irmão inútil.

    Se eu não falei do Morvan, então ai vai: Ele é aquele tipo de irmão inútil que nunca te ajuda e no fim das contas fica contra você. Foda isso. Sorte que logo ele enxergou a verdade e voltou a lutar com o Sirio. Representou uma boa luta, Iri! Principalmente a do Jack e do Brand, bem carismática e emocionante.

    Continue assim, aguardo os próximos capítulos, e avante, Vandurianos! o/

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  2. #222
    desespero full Avatar de Iridium
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    Padrão Segundo Pergaminho, Capítulo 21

    Senhores, um milagre!

    Um ano e quase dois (ou três) meses depois do último capítulo postado aqui, eis que volto com mais Capítulos de A Voz do Vento!

    Quero pedir desculpas a todos pela demora - andei muito desanimada e ocupada com muitas coisas dentro e fora do Tibia, motivos os quais não me permitiram sequer escrever a continuação dessa história. Agora, não tem mais problema.

    Estou de volta. E pra terminar o que comecei.

    Sem mais delongas, o Capítulo de hoje!


    ------

    Capítulo 21 – Os Renegados: REVOLUÇÃO VANDURANA! (Parte 4)

    E não importa quem, ou o quê...

    (10 Dias antes de Ireas chegar a Ab' Dendriel)
    (Narrado por Liive, o Bárbaro)


    — Levanta! — Urrei para Icel.

    Detonei o cara. Detonei mesmo. Uma lição de vida para o Paladino – nunca brigue com alguém maior, mais forte e mais bárbaro que você. Foi um combate digno, durou até mais do que imaginei que fosse durar – foram horas de troca de socos e pontapés. Sven adoraria ver isso aqui! E eu certamente adoraria repetir essa cena para todo e qualquer bárbaro que quisesse ver.
    Caminhei até Icel; ele estava de joelhos, tentando encontrar forças para ao menos seguir respirando. Já havia perdido a graça tudo aquilo. Eu estava estalando meus punhos, esperando uma resposta vinda do franzino Paladino.

    — Levanta, cara! — Urrei de novo, sério — Você não queria um combate?! Levanta!

    Em resposta, ele simplesmente cuspiu sangue; muito sangue. Ele cambaleava de forma extrema, sequer conseguindo se manter de pé. Aquele adversário já era. E outros também, pois podia ouvir de meu barco os gritos de Thaianos caídos. Já era, galera – a liberdade era nossa. Estávamos ganhando aquela briga, e ganhando por muito.

    — Filho da... — Resmungou Icel, cuspindo sangue.

    — Não adianta me xingar agora. — Zombei um pouco, oferecendo minha mão — Você luta bem no mano-a-mano para um paladino, Icel. Mas não o suficiente pra me derrubar.

    Assim que ajudei-o a se reerguer, senti um solavanco forte abalar a embarcação e arremessar a mim e Icel longe; senti meu corpo bater contra um local rochoso e, depois disso, não senti mais nada.

    Apaguei.


    ***


    (Narrado por Sirio Snow)

    De repente, ouvi um barulho alto de algo se chocando contra as pedras que protegem a ilha. Senti um frio tomar conta de minha espinha e meu corpo. Assim como eu, Morzan também ouviu o som – e começou a despertar.

    — Mais um trouxa! — Ouvi um conjunto de vozes gritar ao longe, mas dentro da caverna.

    — Dessa vez, são dois! — Um conjunto falou em coro.

    — São quatro, bando de otários! — A discussão começou a ficar acirrada — Os pertences são meus!

    Ouvi um conjunto de risadas esganiçadas e comandadas pelo rum, junto a uma salva de tiros e revirar de mesas e cadeiras. Piratas – mas não os que nos ajudaram a se rebelar. Esses de fato não ligavam se os seus compatriotas sofriam ou não nos canaviais da Baía da Liberdade. Esse piratas eram criminosos e renegados – até mesmo para nós.

    Tentei examinar o local onde eu e meu irmão estávamos presos – uma cavidade em meio à rocha fria e sólida, com nada além de mim, Morzan e nossas amarras. Nossos equipamentos não estavam mais conosco, e o frio daquele local somado à umidade de nossas roupas casuais já começava a dar os seus primeiros sinais de castigo.

    O gemido de desconforto e despertar de meu irmão atraiu meu olhar; suas feridas, diferentemente das minhas, já estavam mais cicatrizadas, porém mostravam claros sinais de infecção. Para nosso infortúnio, não tornei-me versado na arte de curar – contudo, poderia estar em posse de alguma runa que o fizesse. Bastava apenas achar minha mochila.

    — Aguenta firme, irmão. —Sussurrei para Morzan — Passamos por coisas piores que essas. Vamos sair dessa inteiros e juntos novamente, como uma família.

    Dito isso, tentei me levantar; graças à umidade e péssima conservação das cordas, as fibras que mantinham meus pés presos se rasgaram assim que fiz um esforço maior para separar meus tornozelos; senti um misto de dor e calafrios quando o fiz. As cordas estavam muito apertadas, esfolando com prazer meus tornozelos, os quais estavam em carne viva quando os libertei.

    Meu próximo passo foi me desfazer das amarras de meus punhos; dessa vez, eu escolhi recorrer a um meio alternativo – e mais rápido.

    Exori Flam. — Sussurrei.

    Senti o calor do fogo mágico percorrer meus dedos e atingir a corda, que começou a crepitar tímida, mas constantemente; ela queimou o suficiente para tornar minha libertação possível. Assim como meus tornozelos, a carne de meus pulsos estava exposta, e isso era um perigo.

    Exura Gran. — Sussurrei novamente.

    Minhas feridas se fecharam em um instante, deixando nada senão a lembrança. Agora, poderia continuar minha missão. Respirei fundo, e caminhei, pé ante pé, em direção à porta. Era um portão de madeira velha, podre e que fedia à umidade, pólvora e bolor, com o trinco e maçaneta completamente cobertos por ferrugem. Sem nada que pudesse emular uma chave, tentei a coisa mais óbvia – virar a maçaneta e torcer para que a porta abrisse. Ao fazê-lo encontrei pouca resistência por parte dela e, por fim, abri um pouco a porta, a fim de observar o que havia à seguir.

    Estávamos no centro de Nargor, a capital da pirataria. As paredes de rocha sólida estavam decoradas com caveiras, ossos, espadas, escudos e trapos – "troféus" dos bandidos sobre os vencidos e saqueados; o ar estava impregnado com o cheiro de sangue, suor, pólvora, cerveja e restos de alimentos. Havia relances de armas no chão, e nenhuma alma viva no salão.

    E e era tudo de que eu precisava.

    Da porta, corri até meu irmão, o qual estava febril e muito fraco, piscando os olhos lenta e dolorosamente.

    — Onde estamos? — Balbuciou Morzan.

    Nargor. — Respondi, colocando seu braço em volta de meus ombros — Fomos capturados pelos outros. E parece que mais navios se chocaram contra a baía...

    — Os navios de Thais... — Meu irmão sussurrou, bem debilitado. — Os navios... Dos rebeldes...

    — Que?! — Exclamei — Espera, se todos estavam nessa rota...

    E foi aí que me toquei; meu rosto empalideceu, e todos os fatos ocorridos até então voltaram à minha mente em uma profusão de imagens e sons. Os novos prisioneiros não eram pessoas quaisquer.

    Eram os amigos de Ireas Keras. E meus amigos também.

    E eu tinha que tirá-los dali.

    Balancei minha cabeça, e voltei àquele local.

    — Morzan, temos que sair daqui. E depressa. — Falei, determinado — Aguenta um pouco mais; eu vou achar algo para te ajudar.

    Com o braço de meu irmão em volta de meus ombros, e um de meus braços livres em volta de sua cintura, usei de toda a força em meu fraco corpo para manter meu irmão erguido e desperto. Voltei-me à porta semi-aberta e passei por ela, ciente que daquele passo em diante não haveria mais volta. Agora, rezava para que minha intuição estivesse errada, para que os navios dos demais não houvessem chegado à costa mortal. Estava cansado daquela luta toda.

    Queria apenas a liberdade. Era pedir muito dos habitantes desse mundo?


    ***


    (Narrado por Rei Jack Spider)

    Minha cabeça dói. E muito.

    Acordei aos solavancos, sendo sacolejado constantemente; meus olhos aos poucos foram se abrindo, e vi que não estávamos mais em uma embarcação; consegui ver Brand desacordado, com uma ferida aberta e sangrando em seu rosto, e suas mãos e pés estavam atados. Ao meu lado, vi o que parecia ser Icel. Então, era isso.

    Havíamos sido todos capturados pelo lado que traiu ambas facções. Fechei meus olhos, tomado pela frustração; tal cena era a mais simples prova de que trair seu povo e romper com seus contratos estava certo e que traria a vitória e sobrevivência, e isso era completamente errado! E continua sendo errado!

    Ainda com meus olhos cerrados, comecei a sentir algo diferente ali; não estava no cheiro do local ou nos piratas em si, mas havia algo no ar... Algo no vento.

    Eu conseguia sentir. Eu podia ouvir. Um lamento; um pedido de ajuda. Uma voz muito familiar. Ireas? Não, não podia ser...

    Ele estava longe demais dali para poder ajudar. Para poder ao menos pensar em fazer algo.

    "Mas você pode, criança."

    Abri meus olhos, espantado; eu estava ouvindo coisas? Senti algo se mexer em meu ombro, e voltei meus olhares discretamente para ele. Havia uma pequena aranha prateada, quase transparente, cujo corpo parecia se mover de forma fluida, junto com o vento.

    "Sshh... Não diga nada, criança." A voz da aranhazinha ecoava em minha cabeça, similar à voz de um rei bondoso e afável. "A outra está longe... E não poderá chegar. Mas você pode fazer algo por você e seus amigos. Lembre-se: o vento separa, o vento reorganiza e o vento une. Tudo o que é soprado um dia volta."

    Antes que eu pudesse indagar qualquer coisa àquela aranhazinha, ela se desfêz no vento, como se sua existência nunca ocorrera. Ainda que estivesse intrigado com aquele bichinho, sabia o que tinha que fazer. A luta não acabara ali.
    Ela estava apenas começando.

    Não pensei muito, e cabeceei o pirata que me carregava o mais rápido e forte que consegui, e foi o suficiente para ele urrar de dor e me soltar no chão. Os outros, estarrecidos, procuraram por suas garruchas, e fiz um grande esforço para arrebentar as cordas que atavam minhas mãos.

    Exori San! — Gritei.

    De minhas mãos, saiu o feixe divino, que acertou o pirata em cheio; os demais ficaram atônitos, parados por um tempo, o suficiente para que eu conseguisse enxergar o pirata que havia surrupiado minhas lanças, escudo e mochila.

    Exori San! — Gritei novamente, apontando minha mão esquerda para o ladrão.

    O tiro foi certeiro – outro pirata já era; ouvi um tiro de garrucha, e senti a bala passar raspando por meu ombro; prendi minha respiração e corri o mais rápido que pude em direção às minhas coisas.

    Exori!

    A voz de Liive soou alta e forte como um trovão; com minha lança em punho e escudo no outro braço, pude ver o bárbaro ruivo lidando com os outros piratas simultaneamente; naquele momento, Brand e Icel começaram a recobrar a consciência, e corri para ajudá-los.

    Exori Gran Con! — Gritei, com os olhos fixos nos piratas.

    O tiro etéreo por mim criado simplesmente serviu para finalizar o serviço de Liive, que havia trucidado todos os demais piratas sem nenhum esforço. Assim que terminou seu trabalho, cortou as amarras que prendiam tanto Brand quanto Icel. Corri até o trio, ainda pasmo com tudo o que acontecera.

    — Eles pegaram vocês também, né?! — Rosnou Liive a contento — Pelo jeito esses gordões aí nunca lutaram com alguém realmente do tamanho deles! Enfim... Vamos ajudar o pessoal aqui.

    Concordei com Liive e ajudei Brand a se levantar, enquanto o Norsir amparou Icel. Ambos estavam muito machucados, com farpas e pedaços grandes de madeira fincados em suas feridas abertas e sujas de sangue. Ouvi Brand murmurrar um punhado de coisas sem sentido na medida em que seus olhos vermelhos se abriam com dificuldade e suas forças retornavam ao seu corpo.

    — Onde... Onde estamos? —Murmurrou Brand, com a dor tomando conta de sua voz.

    — Não sei... — Repliquei, inspecionando as redondezas com meus olhos — Realmente não sei...

    — Caras, isso não importa agora! — Liive interveio, solavancando Icel — O importante é sairmos vivos daqui, e rápido!

    Comecei a ouvir passos em grande número, vindos de todas as direções; antes que pudéssemos nos locomover, vimos o salão cheio de piratas – e Sírio junto a um outro cara sendo escoltados para baixo também.

    A multidão de rufiões maltrapilha e sedenta por sangue tinha suas garruchas e sabres à mão, prontos para o combate.

    — O que estão esperando?! — Urrou Liive em tom de provocação — Não querem tentar a sorte?!

    Estranhamente, tudo o que os piratas fizeram, em resposta, foi rir; rir um riso de escárnio e desprezo, mesmo que já tivéssemos mostrado ser mais fortes que eles.

    — Crianças abusadas! — Um bucaneiro gritou do alto de um dos corredores à nossa frente — Tem sorte de estar aqui, e não no baú de Davy Jones*! O "Mortalheiro" se apiedou de vocês e, em troca, ficam de graça! Muito bonito! — Finalizou o discurso com uma cusparada no chão e a risada similar a de uma hiena.

    — "Mortalheiro"? — Indaguei em voz alta — Quem é "Mortalheiro"?

    Quando encerrei minha fala, vi uma figura alta e encapuzada vir em nossa direção; imediatamente, os piratas que nos cercavam se curvaram perante a figura, e dois deles vieram até ela. O da esquerda entregou-lhe um sabre com uma lâmina diferente, incomum para o tipo da arma, e o da direita lhe estende um livro velho e pesado, cujos escritos estavam em uma língua tão estranha que sequer compreendia o do que se tratava.

    — Sou aquele que você procura, criança. — Falou a figura com uma voz velha e sinistra — Eu já fui pirata; já fui vivo. Hoje sou sombra de meu passado de infame glória – sou aquele que chamam de "Mortalheiro", o guia para este e outros Reinos, não podendo viver tampouco morrer.

    O Mortalheiro tirou o capuz, revelando uma face divida – o lado esquerdo tinha traços de um Vandurano em idade avançada, com a pele morena empalidecida e exibindo os sinais da morte; o lado direito era apenas uma caveira com pequenas fendas e manchas de sangue ao longo do crânio. O lado esquerdo continha uma dentição deformada, com a ausência de três ou mais dentes na arcada, enquanto que o lado direito possuia uma dentição perfeita e completa, com alguns dentes manchados com o sangue há muito coagulado de inimigos já caídos. Sua cabeça era recoberta por uma densa cabeleira negra em pavios grossos e adornados com ossadas humanas.

    — Essas águas estão amaldiçoadas. — Falou Mortalheiro, solene — Os navios do opressor se chocariam com nossa murada de toda forma... Mas não o dos nativos. Essa frota era para ter sido poupada, e não foi minha vontade que dobrou os mares dessa vez...

    — Como assim?! — A voz de Sírio fez-se presente no recinto, confusa e irritada.

    O Mortalheiro virou sua cabeça lentamente em direção ao Vandurano; seu olhar frio percorreu tanto Sírio quanto o rapaz que ele segurava.

    — Eu sou um dos avatares da Morte, criado por Bastesh para carregar as almas dos que padecem no mar para o outro reino. — A criatura fixou seu olhar no outro sujeito — Contudo, meu trabalho vem sido perturbado e, mesmo com todo meu poder, não tenho encontrado solução para isso... As feridas no corpo desse jovem tem a ver com isso. Até eu encontrar a fonte desse mal... Vocês terão que ficar aqui. Ninguém aqui em Nargor poderá lhes fazer mal, mas vocês não poderão matar mais ninguém. Do contrário, mostrarei suas entranhas ao mar...

    O Mortalheiro então sinalizou para um grupo de piratas, que se encarregou de escoltar Sírio e o outro sujeito para outro aposento. Um outro grupo foi designado para fazer o mesmo com Liive, Icel e Brand – e apenas eu permaneci no recinto de origem.

    —Você... É diferente daqueles outros... — O Mortalheiro se dirigiu a mim, olhando-me nos olhos — Há algo em você que me intriga... É como se você também fosse movido pela vontade de um outro deus, que não o meu...

    — Sou apenas um indivíduo comum... Um Paladino como muitos outros. — Repliquei, tímido.

    —Humpf... — O Mortalheiro sorriu para mim — Seja como for... Ficarei de olho em você... E em seus amigos... A corrupção está tomando conta de tudo... A corrupção lançada por ela...

    — Quem? — Indaguei.

    — A mulher que atende pelo nome de Esquecimento Eterno... — Replicou o Mortalheiro — Ela está causando tudo isso... Está abusando dos poderes que lhe foram concedidos... E está dando passos maiores do que poderia ou deveria... Ela precisa ser detida... Precisa ser... Destruída.

    Esquecimento Eterno. A mãe de Ireas. Quisera eu que a resposta fosse diferente, mas nunca seria. Não teria como ser. Que dor de cabeça... Espero que tudo o que aquela aranhazinha me tenha dito sirva para algo de fato... Realmente, qualquer conselho é bem-vindo... Bem como toda ajuda...


    Continua...

    --------

    (*): Em contos comuns de piratas e marinheiros, a expressão "ir para (o baú de) Davy Jones" ("All the way down to Davy Jones'(chest)) nada mais é que uma referência às profundezas do mar. Ir ao Davy Jones é o mesmo que ir ao fundo do oceano. Davy Jones seria um ser lendário responsável pelo tráfego das almas que fa

  3. #223
    desespero full Avatar de Iridium
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    Padrão Segundo Pergaminho, Capítulo 22

    Saudações, moçada!

    Bom, não recebi nenhum comentário sobre o último capítulo ainda

    Ficarei à espera de comentários referentes a ele. Contudo, vou dar continuidade ainda assim (e dar uma divulgada no L.T. e ver se ajuda de alguma coisa...) e esperar por respostas...

    Sem mais delongas, o Capítulo de hoje!


    -------

    Capítulo 22 - Os Renegados: REVOLUÇÃO VANDURANA (Final)

    ...A liberdade será, enfim... Nossa.

    (Narrado por Rei Jack Spider)


    Ainda estava cara a cara com Mortalheiro; o que ouvi ser pronunciado por ele continuou a ecoar insistentemente em meus ouvidos, mantendo-me ali, inerte e com os ouvidos atentos, querendo ouvir mais. Precisando ouvir mais... E sem entender o porquê.
    De vez em quando, conseguia ouvir as vozes dos piratas sendo sopradas pelo vento, ou até mesmo as vozes de meus amigos, e tais eventos me deixavam cada vez mais inseguro.

    — Você tem um nome, meu jovem? — Indagou Mortalheiro, inclinando sua cabeça para a direita, curioso.

    — J-Jack Spider. — Repliquei, um pouco hesitante — R-Rei Jack Spider. O Rei é um título mais de humildade... Por conta de um Grande Feito que realizei em meus primeiros dias como Paladino...

    — É muito honesto, Jack... — Falou-me Mortalheiro lentamente, deixando sua voz mais rouca e sinistra — Aprecio isso em uma pessoa, independentemente de sua origem...

    — O-Obrigado... Eu acho. — Respondi, ainda receoso.

    — É também muito corajoso... — Continuou Mortalheiro, bambeando sua cabeça na outra direção lentamente — Afinal... Desafiar as tropas de Thais não é tarefa simples. Requer uma motivação muito grande e muito poder ao seu alcance...

    — Tudo por uma causa justa. — Respondi, com orgulho. — Afinal, todos nascemos livres, certo? Ninguém tem direito de ter posse sobre outro alguém, não importa se é mais rico do que essa pessoa ou se vê como alguém "mais privilegiado"...

    — E, ainda assim... Com seus ideais libertários... Seu melhor amigo... O de olhos vermelhos e cabelos prateados... É escravocrata... — Silvou a criatura, reflexiva. — Vocês, humanos... São muito curiosos...

    — Brand só estava seguindo ordens! — Repliquei, chateado com a colocação de Mortalheiro — Eu duvido que ele seja escravocrata de verdade... Bom, ao menos... Não faria o menor sentido ele sê-lo... — Minha voz foi se perdendo conforme minhas dúvidas aumentavam.

    — Não é porque algo não parece fazer sentido para você... Que não fará sentido para os outros. — Replicou o sujeito com um semblante sinistro — Eu concordo com você... Escravidão é sem sentido... Mas há quem se beneficie dela... Assim como há aqueles que se beneficiam com o desequilíbrio, o caos e a corrupção... Não é verdade?

    — É, mas... — Balbuciei, tentando acompanhar o raciocínio —Onde quer chegar com isso?

    — Falo de Esquecimento Eterno... E sua busca por poder... — Respondeu a criatura — Eu posso sentir sua essência, criança... Você não é sangue do mesmo sangue dela... Ainda assim, quando falei seu nome... Pareceu-lhe familiar demais...

    — Eu conheço o filho dela, Ireas. — Disse a ele, justificando meu sentimento —Eu e os demais também somos... E volta e meia o ajudamos, sempre que possível. E ele também nos ajuda conforme pode...

    — Entendo... — Mortalheiro assentiu, meneando lentamente a cabeça — E, ainda assim... O deixam caminhar direto a... Uma armadilha... Perigosamente... Letal.

    Meus olhos se arregalaram, e uma palidez assombrosa tomou conta de minhas faces.

    — Como assim?! — Indaguei, pasmo.

    — Seu amigo corre grave perigo... — Mortalheiro continuou a falar, com sua voz solene e sinistra ecoando Nargor adentro e preenchendo o ar — Ele foi... Será emboscado... Muito em breve. Se vocês não forem até ele... Esquecimento Eterno... Ou seu servo... Ceifar-lhe-á a vida... E tudo caminhará para a ruína...

    — Essa não! Não pode ser! — Sentia o desespero crescer em meu âmago — Precisamos sair daqui o quanto antes, Mortalheiro! Precisamos ir até Ireas, e rápido! Não pode fazer nada quanto ao mar?

    — Dê-me mais uns dias... — Replicou o avatar da Morte — O mar está muito ensanguentado e sedento por mais... Sinto a fome de almas vindo desde as enseadas até as profundezas de Calassa... Não... Está perigoso demais... E seus amigos estão muito feridos e infeccionados pelas águas impuras... Fiquem um pouco mais... Cuidaremos de vocês...

    Assenti, frustrado, preocupado e abatido. Ireas estava então caminhando para a morte? E não havia nada que pudéssemos fazer? Quantos dias mais ele teria antes de seu derradeiro fim? Quantos dias mais teríamos para chegar até ele?

    Ouvi um estalido de ossos; era um dos braços de Mortalheiro, o qual estava em ossadas puras e brancas, indicando-me uma direção para ir.

    — Vá... Descanse... — Pediu-me a sobrenatural criatura, em um tom quase afável — Quando o mar estiver purificado... Vocês poderão partir...

    Dirigi-me ao cômodo que me fora apontado: um quarto pequeno, com um catre, um criado mudo e um expositor de armadura e de armas. Rapidamente, guardei minhas coisas nos expositores, sentei-me no catre e abri minha mochila – para meu alívio, o Broche ainda estava lá.

    — Graças a Banor! — Sussurrei, aliviado — Vamos lá... Funcione que nem da outra vez... Preciso falar com Ireas... E rápido!

    Olhei para a enorme gema no centro da peça, buscando por algum sinal de vida; alguma coisa que me indicasse o paradeiro de Ireas; algo que me mostrasse se estava vivo ou se jazia morto. Eu precisava alertá-lo sobre o que estava por vir; precisava que o vento levasse minha mensagem como fizera da última vez.

    O vento... Parecia que apenas eu e Ireas podíamos ouvi-lo. Por quê? O que tínhamos de tão diferente dos demais? E por que apenas nós podíamos de fato ouvir e compreender as mensagens do Vento? Pergunto-me se o Druida também viu aquele ser prateado... Aquela pequena aranha que falou dentro de minha mente, como se já me fosse conhecida de longa data. Pergunto-me, também, o que aquele bichinho realmente é, e o porquê de ter vindo até mim.

    Segurei firmemente o broche em minhas mãos; a princípio, estava frio; contudo, sua temperatura parecia oscilar junto à pequena movimentação do vento por dentro de Nargor. Respirei fundo, fechei meus olhos e busquei apenas sentir, e mais nada, além disso.

    — Vento... Ó Vento, ouça meu apelo... — Sussurrei devagar, tentando me manter calmo — Meu amigo está em perigo... Leve a ele essa mensagem... Faça-o ouvir minha voz... Ele precisa saber que nada é o que parece ser... Que ele está caminhando em direção à morte, e precisa de ajuda... Vento, se não pudermos ir até ele, ao menos dê-lhe nossas forças... Dê-lhe poder para aguentar os desafios que virão, e calma para perceber o que está ao seu redor...

    Senti o objeto se aquecer até ficar morno, e ficar com temperatura variável por alguns minutos até enfim esfriar novamente. Coloquei o objeto junto ao meu peito e desfaleci, ouvindo mais nada além do vento soprando em meu rosto, frio e úmido, e o barulho da chuva que começara a cair à noite...


    ***


    (Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)

    Dor. É tudo o que eu sentia.

    Tudo doía.

    Todo sangrava.

    Minha cabeça girava... E meus olhos se abriam com dificuldade, como se houvesse pedras em cima deles. Quando dei por mim, não estava mais naquela embarcação lutando contra Jack... Lutando uma luta estúpida, por ideais que jamais deveria ter defendido em primeiro lugar. Agora, eu estava em um local estranho, com paredes e teto de pedra, que fedia a sangue, pólvora e rum. Havia uns três homens estranhos, com barbas por fazer e cabelos em pavios, tamanha a sujeira neles impregnada. Seus rostos estavam cobertos de carvão e poeira, e suas roupas eram extremamente maltrapilhas. As únicas coisas em bom estado, até onde pude distinguir, eram suas armas. Sem dúvida, eu estava em um covil de piratas. Maravilha, mais problemas.

    — Onde... Onde estou? — Murmurrei, com muita dor.

    — Nargor, a única terra livre nesse mundo! — Replicou um dos piratas, aplicando alguma coisa em meu rosto — Me surpreende um capitão Thaiano não conhecer esse lugar! Ê, beleza! Andam treinando bem os riquinhos, viu? He,he,he!

    — Engraçadinho você. — Repliquei, com ironia — Se acham que estou destreinado... Exura San!

    Assim que pronunciei meu feitiço, fiz minhas feridas se fecharem em um instante, o que causou espanto para os piratas. Em seguida, sentei no catre improvisado onde outrora me deitaram, e lancei aos meus “anfitriões” um olhar desafiador.

    — Quero ver tentarem a sorte. — Provoquei, com o semblante sério.

    Um dos piratas riu de mim, com desdém.

    — Humpf. Todos iguais, esses Thaianos! — Falou o pirata, com a voz rouca cheia de desprezo — Você e seus amigos têm muita sorte... Não fosse a presença de Mortalheiro, estaríamos jogando suas entranhas no mar agora!

    Eu congelei; meus olhos se arregalaram. As lendas eram verdadeiras então? O guardião e guia dos mortos existia então?

    — M-Mortalheiro? — Repeti, incrédulo — O Mortalheiro?!

    O único. Em esqueleto, sombra e cheiro de mar. — Falou o outro pirata, o qual segurava uma cuia cheia de ervas — Eu também não acreditei quando o vi, garoto, mas meus olhos não me enganaram – era Mortalheiro em entidade. E ele só aparece quando o mar chora de dor...

    — Como assim? — Indaguei, confuso.

    — O mar está corrompido, rapaz. —O pirata da cuia continuou, com aspecto soturno — Restos mortais dos que caíram pelas mãos da Irmandade dos Ossos foram lançados ao mar, e a doença tem se espalhado rápido. Adicione isso à luta que vocês causaram e eis a receita para o desastre iminente! Mortalheiro emergiu das ondas para curar o mar e aplacar a fúria de Bastesh, mas não poderá fazer isso sozinho.

    — Isso mesmo. — O outro pirata falou — Mortalheiro viu algo no grupo de vocês: algo que só ele consegue compreender. Ele precisa da ajuda de vocês. Os mares precisam da ajuda de vocês.

    Respirei fundo, fechando meus olhos e fazendo o possível para não rir. Não podia ser verdade. Era óbvio que não era verdade. Mortalheiro não passava de uma lenda; algo criado pela imaginação de marinheiros que ficaram muito tempo expostos ao mar. Ainda assim, era inegável o tom de verdade que havia na voz daqueles piratas.

    — O seu amigo ali não está muito bom das pernas não... — O pirata com a cuia na mão apontou para os catres onde repousavam Sírio e outro rapaz muito similar a ele em aparência — ...E a causa disso não está na madeira que os feriu, e sim na água do mar. Vocês terão que ficar aqui alguns dias até que Mortalheiro deixe as águas novamente limpas... E sacie a sede de sangue do mar...

    Olhei para Sírio e o outro rapaz. O pirata tinha razão: eles estavam péssimos. Não tínhamos outra escolha senão permanecer ali pelo tempo que fosse preciso. Eu torcia para que Ireas estivesse bem. Com ou sem Wind, o garoto precisaria de toda sorte e poder do mundo para deter Esquecimento Eterno. Precisávamos sair dali o quanto antes...


    ***


    (5 dias antes de Ireas chegar a Ab’ Dendriel)
    (Narrado por Morzan Rider)

    Caralho... Nunca fiz tanta cagada como essa na vida.

    Onde eu estava com a cabeça? Meu irmãozinho tinha razão... Eu abandonei meu povo quando ele mais precisou de mim... Troquei minha pátria por dinheiro sujo, dinheiro escravo. Agora, não mais. Chega de ser corsário. Não quero mais essa vida para mim.

    Quando cheguei à Nargor, estava muito doente; senti minhas entranhas sendo tomadas por um mal maior que quaisquer doenças que já tenha enfrentado. Era uma infecção horrorosa, consumindo meu corpo como chama em palha seca. Foram dias horríveis, mas os piratas conseguiram me curar; os conhecimentos de cura de nossos ancestrais sobreviveram com eles e, graças a isso, me mantiveram vivo para mais um dia de combate. Agora, pelas causas certas.

    Sírio me apresentou aos seus amigos assim que ficamos recuperados; a princípio, tanto Jack quanto Liive mostraram grande desprezo por mim, mas aos poucos foram me aceitando. Brand, o de cabelos grisalhos, contudo, foi o que me aceitou mais rápido: ele entendia o que era estar em meu lugar, e sabia o quanto eu estava arrependido. Acho que ele também estava igualmente arrependido de seus atos, sei lá...
    Quando estávamos totalmente recuperados, Mortalheiro nos chamou até a entrada de Nargor, e pediu que fizéssemos uma roda em frente à enseada.

    — Vocês tem algo diferente... Algo que a muito não vejo em outros seres humanos... — Mortalheiro começou seu discurso, estando no centro da roda — A devoção e determinação de vocês são genuínas; vocês lutam bravamente por seus ideais desligados de motivações materiais... No sangue de vocês corre o poder de que preciso para purificar essas águas... Por meio da luta, vocês fortaleceram seus corpos e, por meio da devoção aos deuses, o sangue de vocês foi recompensado... Agora, é hora de usar esse poder para reestabelecer o equilíbrio...

    Dito isso, ele se aproximou de nós com uma Faca de Obsidiana e um recipiente de mármore. Um a um, ele cortou as palmas de nossas mãos e forçou-as contra o recipiente, fazendo o sangue ficar ali. Sem seguida, jogou areia e água do mar dentro da tigela de mármore, erguendo-a aos céus nublados.

    — Senhora...! Minha Senhora...! — Mortalheiro gritou, com a voz solene e sinistra soando como trovão — Bastesh, mãe do Mar, Soberana das Águas! Eu, seu filho, venho até você com oferendas de calmaria para essa tempestade!

    Súbito, o céu se fechou ainda mais, e ouvimos trovões gorgolejando do alto do firmamento. Mortalheiro fixou seu olhar na abóbada celeste, tingida de cinza escuro e forte, determinado a cumprir com sua tarefa.

    — Trago a você sangue dos merecedores... Daqueles que não mancharam o mar com a corrupção que aflige os humanos... Trago a você sangue dos devotos, dos tementes aos deuses... Daqueles que não se esqueceram de você, Senhora...

    Ao fim dessa segunda sentença, sentimos o chão tremer e ouvimos um som alto e gorgolejante vindo do mar; à frente da baía rochosa, o mar começou a se mover em um padrão distinto das ondas de outrora; diante de nossos olhos, um rodamoinho começou a tomar forma, e Mortalheiro estendeu sua oferenda em direção a ele, sem sair do lugar.

    — Toma esse sangue... — Continuou a sinistra criatura em transe — Bebe da cura dos justos... E cura tuas feridas... Faz do mar puro novamente... E permita que esses homens possam regressar em paz para seus lares... Pois a hora deles... Ainda há de vir... Mas não agora...
    Mortalheiro se calou, e outro evento extraordinário passou diante de nossos olhos; o conteúdo do recipiente começou a flutuar em direção ao rodamoinho e, junto com ele, a figura do Mortalheiro. A criatura começou a se desfazer em pó e ser sugada pela força do vento e das águas. Ele voltou seu olhar para nós uma última vez antes de partir.

    — O caminho está livre... — Sua voz sinistra ecoou forte no ambiente — Os lobos do mar dar-lhe-ão passagem... A Senhora está contente... O caminho está... Limpo...

    Com isso, sua figura desapareceu com um sorriso sinistro e um estranho semblante de paz; o rodamoinho aos poucos foi-se fechando, e a chuva começou a cair dos céus. As águas do mar, outrora escuras e cheirando à podridão, começaram a ter suas impurezas retiradas, voltando à cor azul-esverdeada que lhes era natural, e a ferocidade que antes tomava conta de suas ondas desaparecera por completo.
    Eis então que surgiu um navio em meio à enseada; um navio feito de água. Os piratas nos reverenciaram e guiaram nossos passos até o navio. O caminho estava limpo, e era hora de partirmos.

    — Para onde? — Indaguei.

    — Vamos atrás de Ireas. — Brand e Jack falaram em uníssono, e vi meu irmão concordar com a cabeça.

    — Ele corre grande perigo! — Exclamou Jack, agitado.

    — Tenha calma, meu amigo... — Replicou Brand — Acredito que ele esteja concluindo a missão que os Djinns de Gabel lhe devem ter incumbido, seja ela qual for. De toda forma, teremos que passar em Ankrahmun primeiro e ver se ele já não está por lá.

    — Brand, seria melhor tentarmos o caminho em direção a Thais. — Interpelou Jack, ansioso — A rota pode até ser mais longa, mas eu não gostaria de passar por Ankrahmun. Tô com um péssimo pressentimento, pode acreditar...

    — Jack, Ankrahmun é a única cidade que vai nos dar asilo agora. — Brand replicou, seco — Entendo sua preocupação e não subestimo sua intuição, mas a Baía da Liberdade deve estar completamente detonada, Port Hope é Thaiana até o fim dos dias e Venore não nos receberá caso tenham sido ameaçados de bloqueio econômico. Ou Ankrahmun, ou Darashia. E temo que Carlin esteja perigosa demais para nós dois, dada nossa origem...

    — Então, vamos para Ankrahmun? — Sírio interveio, impaciente — Yami está lá, pode nos ajudar!

    Eis então que vi as expressões de Jack e Brand se alterarem; pareciam receosos, como se escondessem algo de Sírio, eles se entreolharam, e vi Jack tomar fôlego para dizer algo.

    — Olha, Sírio... — Jack começou triste e timidamente — Yami não é quem parece ser... Ele...

    — Ele prendeu Ireas e um amigo, Emulov, em Drefia. — Brand interveio, seco e ríspido — Ele é um Djinn, provavelmente um Efreet, e serve Esquecimento Eterno. Ele não é gente boa não!

    — Quê?! — Foi a vez de Liive se pronunciar, incrédulo — É sério isso?!

    — Vocês só podem estar de sacanagem com a minha cara! — Sírio retrucou, incrédulo — Eu conheço Yami desde pequeno! O cara é de confiança! Não pode ser verdade, vocês o estão confundindo com outra pessoa!

    — Não, Sírio... Não estamos. — Brand replicou, sério — Yami tentou matar a mim, Wind, Emulov e Ireas. Ele nos separou no deserto, arremessando os dois mais fracos de nosso time em Drefia, e por muito pouco eles não escaparam com vida. Yami é mau assim como a mulher a quem serve.

    — Não acredito em você! — Teimou meu irmão, com o sangue Vandurano fervendo em suas veias.

    — Pois bem. — Brand continuou, sério — Então, se quer a prova, zarparemos para Ankrahmun, e você verá que falo sério.

    Dito e feito; zarpamos então para Ankrahmun, contra todas as negativas de Jack e as negações de meu irmão. Eu, por outro lado, mantive-me neutro a tudo aquilo; não me lembrava tão bem assim de Yami, e as declarações de Brand fizeram-no parecer ainda mais questionável. Eu temia por meu irmãozinho; seu temperamento, comum a muitos Feiticeiros, certamente poder-lhe-iam custar caro...

    Zarpamos, então, para Ankrahmun, na esperança de chegar lá e Ireas estar são e a salvo. Perguntava-me quem era esse rapaz, e porque ele era tão digno da atenção desses caras. Decerto deveria ser alguém muito querido, ou talvez muito poderoso. Bem, só descobriria quando chegássemos até ele...


    ***


    (Um dia depois da chegada de Ireas a Ab’ Dendriel)
    (Narrado por Jovem Brand, o Terceiro)

    — Como assim, você não sabe?!

    Que merda, eu deveria ter ouvido Jack de primeira! O desgraçado do Yami está se fazendo de sonso agora! Ele é o barqueiro da cidade, e certamente levou Ireas ao seu objetivo! Agora está se fazendo de retardado mental! Cara, como eu odeio esse sujeito! E ainda está com esse olhar sonso e apagado...

    — Yami, tenta se lembrar! — Sírio interveio, chocado — Ireas não é um cara tão difícil de esquecer. Certeza de que não o viu? Nem Wind? E nem o tal do Emulov?

    — Não. — Replicou Yami em tom de voz perdido — Não sei de nada. Não os vi.

    — Puta merda... — Falei entre meus dentes, muito irritado. — Alguém me segura...

    Respirei fundo, tentando me acalmar. Ao meu lado, podia ouvir o som das articulações dos dedos de Liive estalando, e podia jurar que vi o brilho da Espada Mística de Morzan acima de sua bainha. Estávamos a um passo de combater o cara.

    Então, foi aí que vi uma ação inesperada por parte de Jack; ele tirou um Broche Ornamentado de sua mochila e o mostrou a Yami, cujos olhos se arregalaram.

    — Eu ouço a Voz do Vento — Disse Jack em um tom de voz atípico, sereno demais para ser dele —, e ouço suas mentiras. Você mente; você sabe onde Ireas está. Por favor, diga a verdade e não lhe faremos mal... Ainda.

    E eis que percebi outra coisa estranha: o olhar de Yami. Não parecia ser o mesmo olhar do barqueiro, altivo, confiante e arrogante; esse Yami parecia perdido e alheio a tudo, com um olhar sem brilho e vidraçado. Seus lábios começaram a tremer e sua face empalideceu, ao passo que Jack manteve-se firme em sua posição.

    — E-Eu... E-est-tou cumprindo a-apenas o-ordens, juro! — Yami falou, assustado — M-meu m-mestre m-me f-falou... P-para d-distrair vo-vocês... A todo custo! Todo custo!

    — Seu... Mestre? — Sírio pergunto, confuso — Quem é ele?

    — Y-Yami, o-o Pr-Primeiro! — Pronunciou aquele que havíamos tomado por Yami, apavorado — Por favor, me matem! Ele não pode saber de minha falha! Por favor, façam isso!

    O rosto de Sírio foi tomado pela tristeza e decepção; a face de Morzan se fechou em uma expressão de conhecimento prévio e eu, cada vez mais furioso, entendi o esquema: Yami criara uma duplicata de si para ocupar seu lugar e não levantar suspeitas sobre suas ações. Graças aos estranhos dizeres de Jack, estávamos próximos de solucionar esse mistério.

    — Ô palerma! — Liive urrou, perdendo a paciência — Fala logo pra onde que o verdadeiro Yami levou Keras! Anda logo que estamos com pressa!

    — Liive! — Censurou Jack.

    Ab’ Den... — O sósia começou a falar, e parou de súbito.

    Eis que vimos o sósia parar de falar, com os olhos arregalados e os lábios tremendo; de repente, ele começou a arfar alto e agonizante, como se alguém o estivesse enforcando. Por fim, desfaleceu, e seu corpo se transformou em uma poeira esverdeada, que foi soprada longe pela brisa marítima. Isso tudo ocorreu em segundos.

    — Então, o filho da mãe é onisciente... — Falei, indignado — Ao menos conseguimos a informação de que precisávamos. Rapazes, vão até a cidade e comprem suprimentos! Vamos zarpar para Ab’ Dendriel o mais rápido possível! Ireas está marchando em direção à Rocha de Ulderek, não tenho a menor dúvida quanto a isso! Apressem-se, não temos muito tempo!


    Continua...

  4. #224
    Avatar de Kerrod
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    Champz

    Um ponto positivo que achei:

    Achei interessante isso de voce mudar a pessoa que esta contando a estoria uma hora é uma pessoa outra hora é outra gostei disso

    Um ponto negativo:

    Voce conta as lutas muito rapido podia ser mais detalhista assim na hora do combate

    Entao esta ai a minha critica construtiva
    o morcego perguntou ao outro ambos pendurados de cabeça para baixo

    _qual a pior situação que vc ja viveu dormindo de cabeça para baixo?

    o outro morcego respondeu:

    _caganeira



  5. #225
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
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    Ae iri, muito bom esses dois últimos capítulos. Como tinha dito, não to lembrando muito bem dos personagens e do que fizeram, mas lendo os capítulos e fazendo um esforcinho na mente, deu pra lembrar melhor.

    Curti o Mortalheiro e o motivo dele aparecer, e acho que estou começando a entender essa Voz do Vento. E to vendo que a história tá ficando muito boa com isso!

    Continue.




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  6. #226
    desespero full Avatar de Iridium
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    Padrão Segundo Pergaminho, Capítulo 23

    Saudações pessoal frequentador da Seção Roleplay!

    Demorei, mas postei! Antes de mais nada, um agradecimento especial a todos e todas que leram e ainda leem essa história =D

    Vcs me dão mais incentivo para escrever, então valeu galera!

    Antes de mais nada, umas respostas rápidas aos feedbacks dados:


    Spoiler: Respostas aos Comentários



    Sem mais delongas, o Capítulo de Hoje!


    ------


    Capítulo 23 - Dois Oásis no Deserto: Por Ashta' Daramai, INVADIREMOS! (Parte 2)


    E a Invasão à Rocha de Ulderek têm início.


    A Rocha de Ulderek... Também conhecida pelo nome de Fortaleza Orc, lar dos Orcs, temidos seres de couro grosso e verde, formas horríveis, força sobre-humana e mentes terríveis, servas de seus desejos obscuros.

    O lar dos Orcs é uma grande arena muralhada, onde os mais jovens se submentem a um treinamento rigoroso e selvagem por parte dos veteranos, com o objetivo de aniquilar totalmente suas vítimas e reconquistar o domínio supremo do mundo. Se suas lutas no passado foram todas travadas contra os belos e mágicos Elfos, hoje suas atenções se encontram divididas entre humanos, elfos e as demais criaturas que os ousaram desafiar no passado.

    A Rocha era liderada por um Orc extremamente forte e temido, tão poderoso que foi capaz de forjar uma aliança com os Djinns. No entanto, esse mesmo rei se viu vítima de suas maquinações, e os Djinns replicaram alterando drasticamente sua forma, tornando-o nada além de uma massa borbulhante de limo e veneno , que desejar arduamente ter sua vingança...

    Para isso, o Rei Orc manteve consigo o único item que poderia fazer os Djinns se dobrarem à sua vontade e retirar-lhe a maldição; valendo-se de sua esperteza, ele aceitou guardar essa preciosidade, a qual lhe fora conferida por um Djinn, e tal peça deveria ser usada apenas no dia em que fosse necessária.

    Quisessem os Djinns que o Rei Orc não fosse tão esperto a ponto de virar esse jogo a seu favor...


    ***

    (Narrado por Ireas Keras)

    O dia enfim havia chegado. O dia da tomada, da invasão à Fortaleza Orc. Acordei muito cedo, antes mesmo do nascer do sol, e já havia notado algo diferente na cidade – chovia.

    Chovia uma chuva estranha, triste eu até diria; as folhas das árvores me pareciam enferrujadas e seus caules, mais empalidecidos. O vento soprava suave e úmido em meu rosto, como se tentasse me despertar. E eis então que ouvi algo.

    "Cuidado, criança..."

    — Hã? — Indaguei, meneando a cabeça, como que saindo de um transe auto-imposto.

    "Cuidado... Ele não é quem diz ser...". A voz retornou, trazida pelo vento. Era gentil, doce e um pouco envelhecida, lembrando-me do jeito de Cipfried de falar. "Você pode estar caminhando em direção à morte...".

    — Quê? — Indaguei, ainda mais confuso. — Quem é você?

    "Ouça minha voz, criança...". A voz continuou, soando mais forte na medida em que o vento ao meu redor passou a se mover com mais velocidade e força. "Ouça o que eu digo... Graças a Banor!".

    A voz de repente se alterou, e meus olhos se arregalaram. Eu reconhecia aquela voz!

    — Jack?! — Indaguei para o vento — É você?!

    "Meu amigo está em perigo... Leve a ele essa mensagem... Faça-o ouvir minha voz... Ele precisa saber que nada é o que parece ser... Que ele está caminhando em direção à morte, e precisa de ajuda... Vento, se não pudermos ir até ele, ao menos dê-lhe nossas forças... Dê-lhe poder para aguentar os desafios que virão, e calma para perceber o que está ao seu redor..."

    Sim, era ele! Pelos deuses, era ele! Mas, como? Como? O vento trazia até mim a voz dele, da mesma forma que fizera através de Broche Ornamentado! O Paladino estava se comunicando comigo de novo... E através do vento... E, de alguma forma, parecia que apenas nós éramos capazes de fazer isso.

    Fechei meus olhos e me concentrei.

    Exani Hur, Acima! — Murmurrei.

    Meu corpo foi envolvido por minha mana, e a energia me levou à copa da árvore onde outrora dormi uma noite contubada. O vento soprava mais forte, e a mensagem ainda ecoava em meus ouvidos. Ainda de olhos fechados, senti minhas faces se abrirem em um sorriso. De alguma forma, Jack e os demais estavam vindo atrás de mim. Provavelmente, fosse o que os tivesse freado, já havia sido resolvido, e bem-resolvido.

    Estendi minhas mãos aos céus e à chuva, e me lembrei de quando escolhi ser Druida; de quando vi Yandur manipular a água e a terra com a graça e destreza que o fizera. Eu foquei meus pensamentos e minha energia mágica em uma coisa apenas – em me comunicar através do vento.
    Jack pedira ao vento que me desse suas forças e as dos outros para que eu triunfasse; eu retribuiria esse gesto de alguma forma, e o vento ajudar-me-ia com isso. Talvez eles, no fim das contas, precisassem mais de forças para me alcançar do que eu.

    E essa foi minha proposta ao Vento – que levasse a eles parte de minha mana e restaurasse suas feridas onde quer que estivessem...

    ***

    (Narrado por Andarilho do Vento)

    Diazinho chuvoso... Não me parecia um bom começo para uma invasão. Quando acordei, me deparei com a visão de Emulov, Solstícia e outros membros da guilda amontoados em frente à porta e do lado de fora da enorme árvore, murmurrando em tom de fascínio e supresa. Todos estavam lá, exceto Ireas. Um misto de curiosidade com preocupação tomou conta de mim, e decidi, pois, me aproximar da porta para ver o que havia de tão diferente naquela cena.

    Meus olhos se arregalaram em espanto; eu não pude creer em meus olhos. Era Ireas no topo daquela árvore, e sua mana parecia... Fluir para fora de seu corpo! Sim! Fluía como as luzes da Aurora Boreal das Ilhas de Gelo, só que brilhando em um único tom pálido e gélido de azul. A energia estava sendo levada pelo vento, mas não parecia ser fruto de um dreno de mana, tão doloroso e sofrido. Não... Era como se ele estivesse ofertando parte de sua mana para os céus.

    A grande pergunta era: por quê?

    Pouco depois de eu testemunhar essa cena, Ireas abaixou os braços e o fluxo cedeu, sumindo no ar.

    Exani Hur, Abaixo! — Ouvi-o pronunciar, com a voz levemente enfraquecida.

    Assim que seus pés tocaram o chão, suas pernas bambearam e ele se apoiou no tronco da frondosa árvore, e logo Solstícia correu para lhe amparar. Meu corpo estava travado; limitei-me a observar a cena. Aquele rapaz... Essa habilidade... Nunca vi ninguém fazer o que ele fez. Havia algo a mais nele além do que a filosofia druídica poderia fornecer.

    Amparado por Solstícia, vi-o manter a consciência e rapidamente se equilibrar em suas pernas. Ele disse alguma coisa ou outra para ela mas nada que eu pude distinguir. Senti uma melancolia tomar conta de mim. Ireas tem outros amigos. Outros contatos. Outros aliados. Um poder próprio além da compreensão de outros de sua e de outras vocações. É óbvio que ele não precisa de mim.

    Já não sou mais tão necessário assim.

    — Está tudo bem com você?

    Ergui meu olhar triste – era a voz de Ireas. Seu semblante estava sereno, e parecia confiante com o que viria a seguir. Endireitei meu tronco e pus-me mais altivo, meneando positivamente minha cabeça e tentando afastar de minha mente tais pensamentos. Emulov veio até nós pouco depois, com seu semblante tímido de sempre.

    Os membros da guilda de Solstícia – um total de outras quinze pessoas bem-armadas e equipadas – se aproximaram de nós, entregando-nos Poções de Mana, Poções de Cura, runas e outros equipamentos em boa quantidade para que entrássemos com vida e saíssemos vivos de lá também.

    — Muito bem... — Falou Solstícia, dona de uma voz gentil, porém firme — Senhores, hoje vamos a um local perigoso, onde os fracos não têm vez: Vamos à Rocha de Ulderek, auxiliando Ireas Keras e nosso ilustre amigo Emulov Suv em sua missão em nome dos Marid, os Djinns Azuis da fortaleza Ashta' Daramai de Kha'zeel. Nós já perfizemos um caminho similar dentro daquele terreno antes, e o faremos de novo. Vocês me seguirão novamente?

    — Sim! — Os demais membros da guilda gritaram orgulhosamente em uníssono.

    — Excelente! — Falou Solstícia, orgulhosa — Que Crunor esteja conosco! Vamos!

    O espírito daquela guilda estava animado; eles de fato estavam prontos para comprar briga com os Orcs. Respirei fundo e fui com eles; alguns possuíam montarias, e outros, assim como eu e Ireas, locomoviam-se à pé, mas acelerados, movidos à magia e ânimo sem igual.

    Quisera eu estar tão animado; costumava gostar dessas empreitadas, de caçar tudo com gosto com meus companheiros de batalha. Contudo, naqueles últimos dias eu vinha sentindo um... Grande vazio em minha alma. Poderia ser...? Não, não poderia. Ele já estava destruído.

    E nós Yalahari também.


    ***

    (Narrado por Ireas Keras)

    Andarilho do Vento está mais fechado que de costume. Acho que pisei na bola de vez... Ou então talvez seja mais saudade dos amigos e da terra natal. Afinal de contas, ele é Yalahari, e já ouvi falar de muita coisa sinistra a respeito do passado e do presente dessa cidade-ilha. De toda a forma, eu espero que ao menos a invasão sirva como uma forma de animá-lo. Ainda gosto muito dele, mas não sei se posso confiar no Andarilho de novo.

    Enfim, Solstícia nos dera o sinal de partida. Com a bênção e apoio de todos os Elfos pelos quais passamos, atravessamos o portão de entrada de Ab' Dendriel, prontos para o que estivesse diante de nós além das árvores podres que rodeavam a Fortaleza Orc.

    Entretanto, um pensamento não deixava a minha mente em paz – aquela mensagem trazida pelo Vento. A voz de Jack. Ele já havia feito isso uma vez antes, me lembro bem. E eu também já havia dirigido minhas preces ao Vento mais vezes do que poderia me lembrar; não só desde que deixei Rookgaard e passei a habitar Ankrahmun, mas também muito antes, quando era apenas uma criança vivendo na abadia de Cipfried. Quando ainda acreditava apenas na bondade das pessoas. E quando achava que algum dia teria respostas para as perguntas que nunca ousei fazer em voz alta.

    Utani Gran Hur! — Pronunciei minha feitiçaria em alto e bom som.

    Estava ficando para trás; não podia ficar para trás. Possivelmente, era assim que eu me sentia na maior parte do tempo – perdido no tempo, jogado ao vento. Eu não poderia mais ficar assim. Muitas perguntas que ainda tinha não haviam sido completamente respondidas, e eu precisava dessas respostas mais que tudo. E, principalmente, encontrar quem detinha a maior parte delas.

    Esquecimento Eterno, minha mãe.


    ***

    A marcha até o maior covil dos Orcs transcorrera sem grandes problemas; não houve nenhuma resistência à nossa chegada, o que me parecera muito estranho. Nossa recepção fora feita por um pequeno grupo de Orcs de hierarquia menor, despreparados para enfrentar a comitiva de Solstícia. Sequer precisei usar minha mágica – Solstícia estava se encarregando de tudo.

    Por fim, chegamos à primeira entrada da Fortaleza – uma pequena cadeia de serras feitas à mão, com pedras grandes, afiadas e lustrosas mantendo o monte de terra seguro. Acima dela, podíamos ver torres cheias de Orcs munidos de lanças afiadas, prontos para nos atingir ao primeiro comando. Naquele ponto, Solstícia sinlizou para que parássemos a marcha.

    — Atenção! — Falou a moça com sua voz gentil e que denotava experiência — Nos estamos aqui apenas para abrir caminho até o castelo do Rei Orc e seu trono. Devemos manter Ireas, Emulov e Andarilho a salvo do perigo! Não se esqueçam – nosso objetivo é conseguir uma "audiência" com o Rei! Vamos!

    Com isso, Solstícia brandiu suas armas, motivando sua comitiva inteira a seguir com ela; os urros de motivação e ânimo eram ensurdecedores. Aquele pessoal sabia como intimidar alguém.

    Utamo Vita! — Pronunciamos eu e Emulov em uníssono.

    E lá fomos nós; Solstícia e seu bando subiram a barricada primeiro, e logo ouvimos o estrondo de pequenos mísseis elemetais sendo arremessados contra os seres esverdeados. Andarilho sinalizou para que esperássemos um pouco; alguns segundos depois, ele nos deu sinal afirmativo para subirmos, e o seguimos.

    A comitiva ainda estava lá, esperando por nós. Diante deles, vimos apenas destroços e sangue do que antes eram Orcs. Eles sinalizaram uma vez mais, e seguimos adiante. Eu e Emulov renovamos nosso escudo de mana, pois, dali em diante, não estaríamos mais tão seguros.

    E, de fato, eu estava certo; tão logo quanto todos nós saímos da primeira entrada e nos aproximamos do portão principal, fomos recebidos por um batalhão de Orcs Berserkers e Cavaleiros, esse últimos montados em ferozes Lobos de Guerra, que vieram com tudo para cima de nós.

    Solstícia fazia seu melhor para comandar as tropas, bradando feitiçarias e reorganizando toda sua estratégia a cada segundo. Eu e Emulov fazíamos o possível para ajudar, ora pronunciando nossas magias de ataque, ora renovando nossas forças mágicas e auxiliando aqueles que estavam mais feridos do que achávamos que ficariam.

    Eram Orcs demais para contar. Primeiro, fomos recebidos por trinta; logo, o número aumento para cinquenta e, em pouco tempo, nos vimos cercados por mais Orcs que podíamos rapidamente contar. Eu comecei a entrar em pânico; não queria morrer ali. Ainda não estava pronto; eu queria viver.

    Então, tive a brilhante ideia de usar uma das várias runas que me haviam sido fornecidas antes de partir de Ab' Dendriel – uma runa chamada "Chuva de Pedras", a qual nunca havia usado antes. Eu me concentrei e a joguei em direção a um dos maiores grupos de Orcs Berserkers.

    Para a minha surpresa, funcionou; em um instante, o céus se fecharam e pedras enormes começaram a descer das nuvens, acertando em cheio cada um dos Orcs portadores de machados de duas lâminas, sepultando seus gritos patrióticos em uma tempestade de pedra.

    KRAAAK OOORRRKKK! — Urraram muitos deles em agonia.

    Eu continuei a atirar as runas, e logo vi que outros da comitiva passaram a fazer o mesmo; os Orcs mais fracos bateram em retirada assim que viram as pedras, temendo por suas frágeis vidas. Os mais fortes interpelaram esses desertores, ferindo-os de morte com suas almas e correndo de encontro a nós com fúria em seus olhares e ódio em seus corações. E nós persistimos, revidando com mais pedras e mais poder de fogo.
    Notei, então, que a Terra parecia ferir brutalmente esses seres; lembrando-me das palavras de Yandur, ditas há tempos atrás, decidi abandonar as pedras e tentar uma outra abordagem das forças primitivas da Mãe Natureza.

    Exevo Tera Hur! — Urrei.

    Concentrei minha mana e fiz nascerem vinhas agressivas do fundo do solo encharcado de sangue, comandando-as a ferir os Orcs em seu caminho; elas envolveram cada um dos horríveis seres verdes em um abraço espinhoso e mortal, arrastando-os para debaixo da terra e soterrando-os violentamente. Eu acabei recuando; não sabia que poderia ser capaz de fazer um feitiço tão violento assim. Mas não havia tempo para recuar. Eu precisava continuar.

    Utamo Vita! — Renovei meu escudo uma vez mais.

    Ingeri rapidamente o maior número de Poções de Mana Fortes que pude antes de ficar levemente nauseado; arremessei algumas para Emulov, que parecia estar passando dificuldade. O único que parecia estar em uma situação confortável era Andarilho do Vento, que atingia a tantos Orcs de uma vez com suas lanças que parecia estar enrentando não Orcs Senhores de Guerra, senão pequenos ratos.

    Não havia mais nada no ambiente senão o som de lâminas se chocando umas contra as outras, de fogo incendiando vivos os adversários, da própria terra se revirando em desgosto com as vis criaturas, e de seus gritos de agonia enquanto tombavam, uma a uma.

    Eu e Emulov estávamos protegidos em meio à comitiva, e raramente víamos algum dos seres se aproximar de nós. Os que conseguiam escapar ao bloqueio dos mais poderosos geralmente estavam fracos demais para nos ferir, e nossas manas garantiam que nossos corpos continuariam intactos.

    A cadência da troca de tiros e golpes aumentou; estámos conseguindo ganhar mais terreno, e o palácio parecia cada vez mais próximo. Usei minha mana para aumentar minha velocidade uma vez mais; estava começando a me sentir cansado pela jornada, ainda queeu estivesse apenas finalizando o serviço da comitiva.

    O sol já estava se pondo no horizonte, e o castelo parecia cada vez mais perto. O time de solstícia já começava a dar sinais de cansaço, mas não havia outra alternativa para nós senão continuar avançando — se voltássemos, corríamos o risco de sermos emboscados por Orcs sem a menor chance de defesa. Ela nos guiou a um local um pouco menos hostil dentro da Fortaleza para que pudéssemos recobrar nosso fôlego. Despistamos todas as patrulhas e batalhões que pudemos, até encontrarmos um local seguro.

    Sentamo-nos dentro de um antigo quartel abandonado, tomando todo o cuidado para não evidenciar ainda mais nossa presença no local. Todos deixamos nossos corpos cair no chão simultaneamente, de tão exaustos que estávamos; Solstícia se recostou na parede de pedra e abriu seu cantil, ingerindo água sofregamente.

    Exevo Pan. — Pronunciei meu encanto, e fiz alguns nacos de carne, pedaços de presunto cru, rodas de queijo e algumas frutas aparecerem à minha frente.

    Repeti o encanto mais algumas vezes, gerando mais comida para todos presentes, e fui passando para eles os excedentes por mim criados. Tal ação pareceu consumir mais da minha energia do que eu poderia imaginar, e acabei por recostar-me na parede fria de pedra, sem forças, a poucos palmos de distância de Andarilho do Vento.

    — Dia cheio, não? — Falou o Yalahari para mim. — Aposto que poderemos chegar ao castelo em mais algumas horas...

    — O difícil será voltar... — Respondi, quebrando o gelo.

    — Pois é... — Suspirou o ruivo, visivelmente cansado — A última vez em que estive cercado por tantas criaturas antes foi em... Goroma.
    Virei meu rosto em sua direção, sem dizer nada; deixei-o falar como tanto queria.

    — Achei que não fosse voltar daquele inferno... — Andarilho continuou, com o olhar vazio voltado para o horizonte — Não era nem para eu estar ali... Eu, um Yalahari, compartilhando o campo de batalha com outros não-Yalahari, que parecerem ainda ter pelo quê lutar? — Um som de leve escárnio escapou de sua boca — Parece no mínimo errado...

    Depois desse comentário, ficamos em silêncio por um bom tempo. Fiquei refletindo em cima das palavras do Yalahari, e de tudo o que havíamos passado juntos — e em cima de tudo o que fizemos cada um passar. Não sabia ao certo o que dizer e como dizer, mas Wind me parecia desolado, deprimido; era como se sua vontade de viver estivesse reduzida. Acho que ao menos cabia a mim, como rapaz que já nutrira, e talvez ainda nutrisse sentimentos fortes por ele dissesse algo para reverter esse sentimento ruim.

    — Se você foi... — Comecei, meneando devagar a cabeça — É por que tinha um motivo, e ele não tem nada a ver com o lugar de onde você vem e onde vive.

    Ele voltou seu olhar para mim, com um semblante interessado. Eu tinha sua atenção agora.

    — Eu não sei muito sobre Yalahar, eu confesso. — Continuei, sereno — Assim como não sabia praticamente nada a respeito da minha terra natal, Svargrond. Ainda assim, eu fui até lá para lutar pelo que era meu, porque... Por que eu precisava daquilo. — Um sorriso sereno brotou em meu rosto — Por que eu tinha uma razão muito forte para isso. E certamente sei que você tinha um bom motivo para lutar lá em Goroma também.

    Em troca de meu discurso, recebi um sorriso um pouco mais motivado. Bom, ao menos pude dar um incentivo a ele. Talvez pudéssemos ser apenas amigos... Isso facilitaria mais as coisas. De qualquer forma, essa questão poderia esperar. Tínhamos só mais algumas horas de descanso até chegarmos ao castelo. Depois disso... Chegaríamos ao Rei Orc e à Lâmpada.

    E tudo estaria resolvido.

    Continua...


    -----

    Bem, eis aí mais um capítulo xD

    Estou voltando, e dessa vez espero terminar logo esse Pergaminho. Vamos, que vamos, pois A Voz do Vento está quase no fim!

    Por favor, me deem seu feedback mais honesto! Comentem, se joguem!

    Abração!

  7. #227
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
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    Ótimo capítulo, Iri. Não me lembrava ainda de quem era o Wind, depois que lembrei, fiquei ainda meio wtf de alguém de Svargrond ser gay. Ele tem espírito bárbaro e sangue de headbanger correndo nas suas veias, até habilidade pra beber ele tem. Mas você deve ter seus motivos.

    Gostei do capítulo, por vezes parecia a narração de uma verdadeira guerra! Quinze contra mais de cem é loucura, mas a guilda me pareceu forte o bastante para isso. Mas sinto que vai dar merda. E você narrou bem, parabéns

    No aguardo do próximo capítulo.



    ◉ ~~ ◉ ~ Extensão ~ ◉ ~ Life Thread ~ ◉ ~ YouTube ~ ◉ ~ Bloodtrip ~ ◉ ~ Bloodoath ~ ◉ ~~ ◉

  8. #228
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    Li esse último capítulo,

    você escreve muito bem!

    Dá gosto de ler e a história é intrigante e interessante!

    Continue assim e eu vou continuar lendo!
    Gosta de Roleplay?
    Então pegue uma xicará de chá, sente-se e leia a história de Dan da Cidade de Carlin.

    (Última Atualização: Livro V: Capítulo 5 - A Guera de Reconquista (Parte 2/2), postado no dia 06.03.2017)

  9. #229
    desespero full Avatar de Iridium
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    Padrão Segundo Pergaminho, Capítulo 24

    Saudações, frequentadores da Seção Roleplay!

    Nesse finalzinho de férias estou finalmente retornando. Pretendia ter postado mais Capítulos assim que o semestre da faculdade se encerrou, mas precisava dar atenção in-game para o Ireas até mesmo para me animar a continuar essa história. Ainda pretendo finalizá-la esse ano, então correrei com as postagens, mas farei o possível para não deixar a qualidade cair. Conto com o mais honesto feedback por parte de todos vocês para continuar a escrever. Esse Pergaminho está passando da metade! (spoilers lol)

    Mas, antes de passar para o vigésimo quarto capítulo do Segundo Pergaminho, umas respostas aos últimos Comentários se fazem necessárias:

    Spoiler: Respostas aos Comentários



    Sem mais delongas, o Capítulo de hoje!


    ----


    Capítulo 24 – Dois Oásis no Deserto: Por Ashta' Daramai, INVADIREMOS! (Parte 3)

    E a busca pela Lâmpada de Cem Gemas continua...

    (Narrado por Ireas Keras)


    Enfim, era a hora.

    Uma ou duas horas depois de minha breve conversa com Wind se dar por encerrada, Solstícia nos deu o sinal para nos levantarmos e darmos continuidade à nossa empreitada. Era noite e, pelo que podíamos ouvir, o campo estava praticamente deserto – Orcs, assim como praticamente todas as criaturas mortais e diurnas, precisavam de um período de repouso, e nós faríamos um bom uso deles.

    Pé ante pé, fomos todos andando até a entrada da caverna; com o indicador pousado em seus lábios, Solstícia pediu silêncio; assentimos, sem questionar. Andávamos lenta, mas constantemente. A Fortaleza estava praticamente toda imersa na escuridão, contando com poucos pontos luminosos gerados pelas tochas da Fortaleza; havia ainda algumas pequenas patrulhas rondando determinadas rotas da Fortaleza a fim de garantir que não havia nenhuma alma invasora presente.

    Utana Vid... — Sussurrei.

    Senti minha mana me envolver como uma capa, e a segurança tomou conta de mim; vi a maioria dos membros da comitiva desaparecer de minhas vistas depois de colocarem algum anel em seus dedos; todos o fizeram – exceto Solária. Ela nos estava guiando, e, para isso, precisava permanecer visível.

    Estranhamente, ela nos guiou rapidamente ao castelo, despistando todas as patrulhas como se elas nem estivessem no local. Comecei a desconfiar – não podia estar sendo assim tão fácil. Ingeri mais algumas Poções de Mana Forte e sussurrei baixo, porém bém-pronunciado:

    Utamo Vita.

    Solstícia novamente sinalizou para que ficássemos quietos, e apontou para uma escadaria que levava para o subsolo. Notei, então, que havíamos passado pela entrada do castelo do Rei Orc. Respirei fundo, sentindo um calafrio percorrer minha espinha. Eu não tinha opção – tinha que pegar a Lâmpada a todo custo. Então, vi-a chamar, baixinho, por outros três da comitiva. Juntos, os quatro pularam em direção à escuridão; pouco depois, todos fomos mergulhando.

    VOCÊS QUEIMARÃO!

    Assim que meus pés tocaram o solo, senti uma rajada de fogo violenta me atingindo, arrancando minha capa de mana de meu corpo e me inflingido muitas queimaduras – a criatura não só me vira através da invisibilidade como também fora capaz de atravessar meu escudo de mana. Vi Emulov gritar de dor – as queimaduras em sua frágil pele decerto foram mais profundas e fortes que as minhas, e vi-o ingerir uma alta quantidade de poções para se recuperar.

    Eu me mantive firme; renovei meu escudo de mana e ingeri mais poções.

    Exori Frigo!

    Decidi revidar o ataque da criatura; a escuridão não me permitia vê-la tão bem, então me orientei a partir dos mísseis de gelo lançados pelos demais. Nossa recepção no castelo fora feita por um Lorde dos Dragões, bem como alguns outros Orcs mais fortes. Ainda que a comitiva se utilizasse de runas de gelo para frear a multidão de Orcs e outras criaturas que vieram nos receber, ainda assim o ambiente estava quente e nocivo demais para se suportar.

    Senti meus pulmões se apertarem em meio ao ar sufocante; as vozes estavam ficando cada vez mais distantes. Minha visão estava ficando mais turva, e minhas pernas pareciam incapazes de sustentar o peso de meu corpo. O que diabos estava acontecendo?!

    Quando estava para desmaiar, senti alguém me amparar e impedir minha queda. Era Wind! Certamente vira que comecei a fraquejar. Eu meneei a cabeça, tentando me recuperar; aceitei a ajuda, mas não quis ser carregado – quis tentar correr junto a ele, a fim de não retardar o time.

    — Vá em frente, Wind! — Minha voz soou rouca, como se eu tivesse rosnado para o Yalahari — Eu consigo acompanhar!

    Ele simplesmente concordou com a cabeça, ainda que exibisse preocupação em seu semblante; eu respirei fundo e fechei meus olhos, ouvindo apenas a balbúrdia que se instalou aos pés da escadaria.

    Exura Vita! — conjurei a maior de minhas proezas curativas, fazendo minhas queimaduras se fecharem.

    Abri meus olhos e vi a guilda de Solária revidar com força avassaladora; alguns dos Druidas cercaram o Lorde Dragão e atiraram suas runas de gelo em sua direção, fazendo-o cair com um urro monstruoso de dor e fúria. Assim que a fera caiu, senti o ar ficar mais leve naquele recinto e retomei o controle de meu corpo. Emulov estava ao meu lado e o ajudei a se levantar; o Zaoano estava mais revigorado, ainda que algumas queimaduras ainda estivessem presentes em sua pele.

    Seguimos em frente, acompanhando o rastro de destruição deixado pela guilda; perdi a conta de quantos Orcs mortos vi desfigurados no chão. A fim de poupar minha mana para o que estava por vir, limitei-me a seguir os rastros da guilda, sempre atento à iluminação mágica criada por eles.
    Não demorou muito para chegarmos ao local que mais queríamos: o salão real. Era um aposento enorme, com alguns crânios decorando as paredes de pedra escura e limosa, guardando um trono de madeira escura e almofada roxa, com um par de baús de madeira branca a alguns metros de distância dele. Estranhamente, o recinto parecia vazio.

    — E então? — Perguntei, desconfiando daquele cenário — Onde está o Rei?

    — Era para estar aqui, Ireas. — Solária falou igualmente desconfiada. — Eu vou inspecionar o local... Preciso que você venha para trás do trono, tanto você quanto Emulov. Se o Rei aparecer...

    De repente, começamos a ouvir um barulho diferente de nossas vozes, passos e respirações; era um som gorgolejante que começou baixo e foi aumentando gradativa e lentamente na medida em que parecia vir em nossa direção. As luzes conjuradas estavam começando a se esvair; Solária passou para alguns dos membros de sua comitiva uma Runa de Campo Venenoso.

    — É agora, senhores... — Ela falou com a voz firme. — Quero que vocês façam o que tem que ser feito! Ireas e Emulov precisam ficar seguros!

    Antes que eu pudesse perguntar, ao menos uns dez membros da guilda jogaram as runas no chão, que se espatifaram libertando uma densa cortina de veneno ao nosso redor, cobrindo uma boa área. Sendo uma nuvem mágica, ela não era capaz de nos intoxicar e era possível enxergar através do véu verde e de aspecto limoso.

    Foi através dessa cortina que eu o vi; o Rei dos Orcs. Mas não em carne, osso e armamentos, como imaginei que seria; em vez disso, eu vi uma massa verde, gosmenta e gorgolejante, que fazia meu estômago se revirar a cada movimento em direção ao seu trono.

    — Haaarrkk...! — Gorgolejou o Rei Orc. — Estão fortes agora?!

    O som parecia emanar de toda aquela massa verde asquerosa, e era uma voz grave e entrecortada, afetada pela própria movimentação do Rei. Respirei fundo e disse:

    — Saudações...

    Antes que eu pudesse terminar, recebi um ronco grosseiro como resposta.

    — Aaarrgh! Um pele-pálida sujo! VENHAM MINHAS CRIANÇAS! GUARDAS, MATE-OS!

    O Rei Orc se esparramou no chão e de seus fluidos surgiram pelo menos cinco Orcs dos maiores ranks da Fortaleza, bem como outras três criaturas feitas de puro limo; o grupo logo veio em nossa direção e foram impedidos pela cortina de veneno, que fez o limo vivo recuar e os Orcs caírem desmaiados ante o gás intoxicante.

    O Rei gorgolejou raivoso circundando lentamente seu trono; estranhamente, consegui visualizar um brilho incomum no interior de sua massa esverdeada. Poderia ser...?

    — Ireas, Emulov, falem com ele. — Sussurrou Solária. — Resolvam essa situação o quanto antes...

    Concordei com a cabeça, assim como Emulov.

    — Saudações, Rei dos Orcs! — Eu e Emulov falamos ao mesmo tempo.

    O Rei dos Orcs virou seu corpo em nossa direção.

    — Haaarrkk... — Gorgolejou o Rei. — Se acham fortes agora?! Vocês não vão escapar da minha ira!

    — Viemos aqui para uma coisa apenas, Rei Orc. — Falei com a voz mais calma que pude. — Gabel me mandou.

    — Gabel? — Gorgolejou o Rei, intrigado e irritado — Eu sei o que quer aquele Djinn... É a Lâmpada...

    O Rei se arrastou até nós, continuando seu monólogo.

    — Eu achei essa lâmpada um dia e libertei o Djinn que lá havia... Era um Djinn ruim, e ele me amaldiçoou! Perdi minha forma original... Ele me sacaneou!

    — Como assim? — Indaguei, curioso.

    — Ele ficou preso naquela Lâmpada por eras! Uma raça antiga o havia prendido lá, pelo que entendi de nossa conversa... — O Rei retrucou gorgolejante. — Ele agora está livre para dominar o mundo e, mesmo que tenha me sacaneado, aprecio o que ele e sua raça estão tentando fazer. Pode não ser mais o tempo dos Orcs, mas certamente a Era dos Djinns vai começar!

    Arregalei meus olhos e o pavor tomou conta de mim — aquele Djinn não era o bondoso Gabel, de forma alguma! Era Malor! O Rei Orc estava diretamente ligado à ascensão dos Efreet!

    — Ele foi verdadeiro em sua palavra em meus primeiros dois desejos — O Rei continuou — O primeiro desejo que me concedeu foi a construção dessa grandiosa fortaleza! Ele a construiu em um dia sob o túmulo de Ulderek. Meu segundo desejo foi ser imortal, e ele assim o fez! Tente me matar, garoto! Har, har!

    — E seu último desejo? — Indaguei.

    — Haaarrkk... — Gorgolejou o Rei, furioso — Eu havia desejado gerar Orcs mais férteis e fortes para que pudéssemos dominar esse mundo! Mas esse Djinn me sacaneou, transformando-me nesse limo asqueroso! Ele me humilhou em frente as minhas cortesãs e voou para longe, para as Montanhas do Desejo de Morte* e eu nunca mais o vi!

    — Fale-me dessas montanhas... — Minha voz saiu assustada de minha garganta, pois eu estava ciente do que aquilo acarretara.

    — A fortaleza desse Djinn estava lá, intacta e deserta desde sua partida... — O Rei Orc me respondeu. — Com sua libertação, tenho certeza que os outros Djinns maus retornarão ao seu mestre e ocuparão novamente aquela fortaleza. Entretanto, tenho certeza que essa ação também acordará os bons Djinns...

    Eu concordei com a cabeça um pouco mais calmo; o Rei Orc de fato estava certo – Gabel retornara a esse mundo em resposta à liberdade e à crueldade de Malor. Eu abaixei minha cabeça, tentando assimilar todo aquele montante de informação, e foi naquele momento que o Rei gorgolejou em um tom diferente daquele que outrora gorgolejara.

    — Ah... Eu consigo sentir as intenções ruins de vocês... — Ele respondeu em um tom sádico, como se sentisse prazer em concluir o que concluíra. — Não parecem tão diferentes dos que aprisionaram aquele Djinn antes...

    O discurso do Rei chamou a atenção de Emulov, que deu um passo à frente, chamando a atenção do Rei para ele.

    — Vocês querem essa lâmpada, a qual eu ainda possuo... — Continuou o Rei. — Quem vocês querem prender nessa Lâmpada?

    — O mesmo Djinn que te fez assim: Malor. — Emulov respondeu sério e com um olhar diferente do que antes exibia. — Dê-nos a Lâmpada e você terá sua vingança contra ele.

    O Rei gorgolejou em um tom aberto, como se estivesse rindo. Ainda que o som fosse diferente, soava ameaçador e sinistro como antes.

    — Eu estava louco por esse dia! — Comemorou o Rei Orc — Pegue a Lâmpada e faça Malor sentir a minha ira!

    Dito isso, ele estendeu parte de sua gosma até nós, revelando uma linda lâmpada ornada com várias esmeraldas e outras gemas de cor esverdeada. Ele recuou a massa verde e deixou a lâmpada cair em nossas mãos. Solária assinalou para que nós entregássemos a Lâmpada para ela e olhássemos o conteúdo dos baús próximos ao trono do Rei Orc. Assentimos com um movimento de cabeça e fomos até ela.

    — Quando estiverem prontos, podem sair por onde vieram. — Gorgolejou o Rei — Avisarei às minhas crianças que nenhum mal deverá ser feito contra vocês...Por ora. Boa sorte, peles-pálidas...

    Eu e Emulov terminamos de pegar as posses dentro do baú — um machado de fogo e uma espada de fogo — e voltamos para nossos lugares, despedindo-nos do Rei. Como combinado, o Rei nos deu salvo-conduto pela Fortaleza, e saímos dela muito mais rápido do que quando entramos. Eu ainda estava em choque com o fato de que Malor conseguia ser essa entidade ainda pior do que eu imaginara! O que me deixava ainda pior era saber que Wind o servia! A troco de quê?

    Eu não conseguia conceber o fato de alguém arriscar a vida pela causa dos Efreet... E menos ainda entender o porquê dessa mesma pessoa se oferecer para me ajudar a prendê-lo! Só sabia que estava cansado de lidar com aquela confusão toda... Eu queria apenas descansar e me preparar para voltar a Ankrahmun e resolver essa questão de uma vez por todas...


    Continua...

    ----

    (*): Montanhas do Desejo de Morte (Deathwish Mountains) é referência a Kha’ zeel, onde ficam as fortalezas dos Djinns, em especial Mal’ Ouqah, a fortaleza dos Green Djinns e Efreets.


    -----

    E é isso aí, pessoal! Essa parte do Segundo Pergaminho está quase no fim! Em breve trago mais um Capítulo! Não se esqueçam de comentar e divulgar por favor! Até o próximo!

  10. #230
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    Opa, Iri tá de volta.

    Ótimo capítulo! Gostei da luta naquela parte próxima da sala do torno do Orc King. Tava pensando justamente nessa parte, sobre como eles iam passar pelo dragon lord, sendo que ele vê invisibilidade. E o clima da luta ficou muito bom, deu uma puta duma sensação de realismo, com o calor no local por causa do DL, o poder do fogo dele e tal. Muito legal isso!

    E essa conversa com o Orc King ficou boa. Me lembra do porque a Cip não fez ainda um novo update sobre os djinns, relacionado a esse assunto do Malor e o objetivo de criar uma era de djinns. Ficaria muito bom e daria uma ressuscitada em Ankrahmun, que as vezes anda parada.

    Bom trabalho, continue assim.

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