Spoiler: Respostas
CAPÍTULO 9 – SIRIUS, O TRANSFORMISTA
Melany estava viva – e muito viva – no fim das contas, e surpreendentemente só tinha sofrido algumas escoriações. Apesar do arremesso sofrido, Leonard também estava inteiro; Jason e John foram curados por Melany em um instante, porém, o esforço de castar as magias de cura acabou exigindo demais dela, pelo que ela ficou recolhida em repouso durante um bom tempo.
O navio já estava a todo pano novamente, na direção da ilha de Vega. Jason, John e Leonard repassavam os últimos detalhes da batalha contra Bellatrix e já se preparavam para enfrentar Sirius. Apesar de a perda de Melany representar uma significativa baixa, talvez eles pudessem supri-la de outra forma.
Leonard, sem dúvida, era o mais empolgado. Repetia sem parar, e com detalhes, a respeito da habilidade de Jason ao empunhar o arco de Melany. Vez ou outra, dizia que a cena o tinha deixado igualmente perplexo e excitado, e que Jason poderia aperfeiçoar suas habilidades no manejo do arco e da flecha no futuro. O cavaleiro, por sua vez, somente pensava em o que poderia fazer quando aquela jornada terminasse.
Fato é que a espada dada por Lawton a Jason viera muito a calhar. Apesar de a força de Bellatrix o ter subjugado por um instante, ele considerou a nova arma muito mais positiva do que a lâmina serrilhada que tinha possuído antes.
Cedo demais, a ilha de Vega se tornou visível aos olhos. Ao contrário de Folda, não possuía montanha alguma; tratava-se apenas de uma superfície plana, com ligeiras ondulações de terreno e com uma casinha ao fundo, indiscernível àquela distância.
John sentou-se à mesa e mordiscou seu pãozinho, os olhos fixos no capitão.
— Sirius é um pouco mais… violento que Bellatrix, Jason – advertiu.
O cavaleiro respirou fundo, cansado.
— A esta altura, John, não estou preocupado com qual deles é o pior. A vitória sobre Bellatrix nos deu sobrevida. Podemos vencer Sirius também.
Leonard levantou a perna direita e peidou, sob os olhares de reprovação de Catarina. Em seguida, ele sorveu todo seu café de uma só vez, como se nada tivesse acontecido.
— Vou lhe dizer o que acho – disse ele, de boca cheia, sacudindo um pedaço de presunto na cara do amigo. – Na sua melhor forma, você é imbatível, cara. E com a equipe que possui, será uma surpresa se Sirius nos ofertar problemas.
— Mil metros – gritou a voz de Joshua, lá de fora.
Jason respirou fundo de novo e equipou novamente sua armadura, que fora consertada por John. Embainhando a espada, ele subiu as escadas para o convés, o corpo imediatamente protestando contra o choque intenso de frio que sofreu. John e Leonard o seguiram, após serem abençoados por Catarina.
Lá em cima, a ilha de Vega ia se aproximando cada vez mais.
Joshua chamou o capitão de lado, destacando-o do grupo.
— Capitão, quero que leve isto.
Ele entregou a Jason um crucifixo ornamentado, todo desenhado. Parecia pagão, mas, na verdade, era cristão.
— Crunor, Jesus Cristo, que seja, cara – ele engoliu em seco, tenso. – Qualquer que seja a nossa crença, nossa fé pode nos salvar. Este é um crucifixo abençoado por cada um dos templários de cada cidade.
Jason aceitou o presente, ligeiramente comovido, sem saber como dizer o que pensava. “Tá, e numa hora crítica, usarei isto para quê? Fincá-lo no peito de Sirius?”
— Se a situação ficar crítica, você vai saber o que fazer – disse Joshua, como se lesse seus pensamentos. – Que Deus, e seu Crunor, o abençoem, capitão.
Jason aceitou o abraço desajeitado do marujo, os olhos marejados, e retornou ao pelotão, a cruz presenteada firmemente presa ao pescoço em um cordão de prata. Ele a escondeu sob as vestes e se dirigiu à amurada.
— Três vão, o restante fica, mas, nessas condições, talvez preparado para combater também – orientou, a cabeça cheia de incertezas. Será que deveria expor a população não combatente ao combate?
Cotton, Gibbs e Reynold seguravam pesadas lanças dobráveis e pareciam prontos para ingressar. Joshua somente tinha sua bíblia, mas parecia ser o suficiente para ele. Catarina portava seu cajado.
Quando o barco atracou, Jason olhou para trás, nervoso, mas desceu. O caminho até a cabana rústica era curto; menos de trinta metros.
Adiante, pinheiros cheios de neve estavam espalhados, mas uma cerca-viva, também congelada, crescida de ambos os lados, fornecia uma passagem mais convidativa por uma passarela de pisos de cerâmica muito limpos através da caminhada. Jason, Leonard e John, todos armados, passaram a caminhar devagar, os pés escorregando aqui e ali, mas as armas firmes.
Ao fim, depararam-se com uma escadaria simples de madeira de três degraus que levava a uma varanda simples no casebre muito bem organizado. Era um chalé, como o de Bellatrix, mas muito mais convidativo e aconchegante.
Jason arriscou uma relanceada de olhar pela janela. A lareira estava acesa diante de um tapete fofo e uma poltrona e uma cômoda, onde havia um livro semiaberto. Uma caneca de chá, intocada, também compunha a paisagem.
Leonard torceu a cabeça de lado.
— Acho que estamos é na casa do Papai Noel – disse.
Jason revirou os olhos.
— Não seja obtuso.
— Não, é sério. Veja.
O cavaleiro foi até a porta da casa, toda de carvalho, ao lado da qual havia uma caixa de correio aparentemente comum. À porta, os dizeres “Welcome to Santa’s Home” estavam escritos. Pareciam até sonoros, quando se lia muito depressa.
Jason olhou para John, inquisitivo. O incandescente, contudo, parecia tão surpreso quanto eles. Deu de ombros.
— Se for mesmo uma porra de um Papai Noel – Jason revirou os olhos pela segunda vez –, então não se importará se nos dar meio minuto de sua atenção.
Ele levantou o punho para bater à porta, porém, ela já não estava mais ali. Diante dele, sob o batente da porta aberta, havia um homem de meia idade, gorducho, de longos cabelos e barbas muito brancos, bisonhamente trajado com um pijama de seda vermelho com detalhes dourados. Seus olhos eram muito negros – um contraste com o restante do que aparentava ser.
— Visitantes – disse ele, feliz. A voz era pueril e bondosa, jovial. Um “avô bem resolvido”. – Sejam bem-vindos. Bem-vindos! Podem entrar.
— Acho que vamos ficar aqui mesmo – disse Jason, friamente.
O homem se virou para ele, parecendo ligeiramente decepcionado, e assentiu bondosamente.
— Está certo. Alguém não está feliz comigo. Quem foi que eu desagradei?
— Isso depende.
O senhor assentiu devagar, reflexivo. Parecia, realmente, muito bondoso. Por um instante, Jason temeu que estivesse abordando a pessoa errada.
— Muito bem, muito bem – o homem olhou para Jason, curioso. – Gostaria de ver como é que você se sai sozinho e nos meus domínios, Jason Walker.
*
Jason abriu os olhos. Estava em uma espécie de arena fechada. Vazia. Fria. Úmida. Seus olhos apreenderam somente as paredes rachadas de pedra. O chão era de linóleo negro, e continha várias manchas secas que se pareciam veementemente com sangue. O teto era aberto e refletia o céu escuro da noite, embora, instantes atrás, fosse dia. Havia apenas três estrelas no céu, uma delas ligeiramente mais apagada que as demais.
Repentinamente, um homem se materializou no ar. Tinha cabelos revoltosos negros, na altura dos ombros, e barba rala. Seus olhos eram muito escuros. Usava um sobretudo azul-marinho e parecia estranhamente deslocado naquele ambiente. Ele mantinha as mãos entrelaçadas diante do corpo.
— Bem-vindo, Jason Walker, ao meu pesadelo – disse, a voz muito grave.
— Sirius – Jason respondeu, de espada na mão.
O homem fez que sim levemente, sondando.
— Você matou Bellatrix. Admito que deu um passo importante na sua missão, mas você enfrentará algo muito diferente nesta arena. Enfrentará seus medos e seus pesadelos. Questiono-me sobre se você está preparado.
Jason não respondeu, mas manteve seus olhos fixos no homem diante de si. Estava estudando a melhor forma de atacá-lo.
— Muito bem. Que os jogos comecem.
Sirius desapareceu. Jason girou várias vezes no mesmo lugar, procurando algo que lhe parecesse deslocado de alguma forma, e demorou alguns segundos até que percebesse. E, quando notou, já era tarde.
Um morcego enorme desceu dos céus sobre Jason, as garras de suas patas cortando o garoto na altura do ombro e abrindo um talho incrível em sua armadura. Ele caiu e se pôs de pé muito rapidamente, os olhos procurando pelo monstro, que desaparecera. Um segundo depois, um cachorro imenso de três cabeças se materializou no ar e cuspiu fogo em sua direção, a poucos metros de distância. Desta vez, contudo, Jason estava preparado, e conseguiu saltar para o lado a tempo. O linóleo derreteu onde a saliva do cão tocou.
No instante seguinte, um dragão vermelho apareceu no centro da arena, seu rabo ricocheteando na direção do cavaleiro. Ele saltou para trás a tempo e tentou um golpe curto de espada, mas não havia mais nada para ser tocado. O monstro desaparecera. Em seu lugar, surgira uma medusa, que disparou raios com seus olhos em todas as direções, errando o garoto por pouco.
Aos poucos, Jason ia ficando mais tenso a respeito daquilo. Os monstros de Sirius pareciam surgir sem padrão aparente, em cantos diferentes da arena, de modo que ele não conseguia prever seus movimentos.
Logo após, Sirius ressurgiu e abriu suas mãos espalmadas na direção do garoto. Um raio muito branco surgiu dali e cortou o ar em sua direção. Jason se desviou e o feitiço disparado pelo demônio atingiu a parede da arena, abrindo um buraco nela. Sirius desapareceu novamente.
Jason girou a espada nas mãos e raciocinou. Precisaria tomar uma decisão em breve, ou seria morto sem ter qualquer chance de se defender.
*
John e Leonard cercavam o corpo inerte de Jason do lado de fora da casa na ilha de Vega. O garoto simplesmente desmaiara e o senhor que os recebera desaparecera no ar, sem deixar qualquer rastro para trás. Os sinais vitais do cavaleiro estavam estáveis, mas, vez ou outra, disparavam inexplicavelmente, retornando ao normal logo na sequência. Era a primeira vez que John tinha contato com algo do gênero.
— Mas o quê…
— Sirius – disse John, fechando os olhos e sacudindo a cabeça, incrédulo. – Não consigo crer que deixei esta passar.
Leonard fez uma careta engraçada e olhou para ele. Em vez de lhe dar atenção, o incandescente simplesmente tirou a pequena caderneta de um dos bolsos e a folheou febrilmente, até, finalmente, encontrar o que procurava.
Um rabisco breve havia sido feito no rodapé de uma das páginas, cujos papiros já estavam muito gastos em função de tantas vezes que o incandescente havia folheado e folheado a caderneta. Ele sacudiu a cabeça mais uma vez, tenso.
— Sirius é um transformista – disse, por fim. – Tem sua própria dimensão de atuação, no reino espiritual. Provavelmente, arrastou a alma de Jason para lá e está fazendo um jogo de sobrevivência com ela. Ele o separou de nós para diminuir nossas chances.
Leonard torceu a cabeça de lado.
— Esse poder tem que ser canalizado em algum lugar – disse, relembrando algo sobre suas lições de magia onde fora treinado. – Ele não surge simplesmente do nada. Precisa ser trabalhado para que o feiticeiro chegue neste nível de desenvoltura.
— Você tem um ponto – John olhou em volta. – Onde é que podemos achar o local?
Leonard respirou fundo.
— Reviste o perímetro. Vou revirar este casebre de cima a baixo.
John assentiu, retornando pelo caminho de gelo até a entrada da ilha, onde o navio estava simpaticamente ancorado.
Vamos, Jason. Segure as pontas por nós.
Publicidade:
Jogue Tibia sem mensalidades!
Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
https://taleon.online







Curtir: 



morreu mesmo ou não, juro que fiquei de cara nessa parte
Tadinha kkkkk
Responder com Citação




