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Tópico: Jason Walker e a Arca do Destino

  1. #11
    Avatar de Neal Caffrey
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    CAPÍTULO 4 – NAVEGANDO EM ÁGUAS MISTERIOSAS

    Jason perdeu-se por um instante no pôr-do-sol, que tanto gostava de parar e admirar. Naquele instante, o sol, que sempre se levantava imponente, ia dando seus últimos ares da graça antes de desaparecer no horizonte para dar lugar à noite com seu manto escuro.

    Quando Leonard chegou – surpreendentemente seguido de perto por Margareth –, enfim, a tripulação estava completa.

    Eles estavam diante de sete homens e mulheres, cada qual com sua característica particular.

    — Apresentem-se ao seu capitão – ordenou Margareth, em tom enérgico.

    O primeiro homem, que usava um chapéu muito puído e roupas grossas de viagem, com uma longa barba grisalha, deu um passo à frente.

    — Sou Cotton, meu senhor – tinha uma voz grosseira, mas agradável. – Servi à marinha de Heloise por trinta anos antes de me colocar à disposição da iniciativa privada. Tenho conhecimentos de velas, mastros, remos e lemes.

    O segundo homem também deu um passo à frente. Este era um pouco mais baixo e atarracado, mas igualmente forte. Totalmente careca e sem barba. Tinha várias tatuagens malfeitas sobre a pele dos braços torneados.

    — Sou Gibbs, senhor – sua voz era baixa, mas marcante. – Servi com Cotton por quinze anos, e estou recém aposentado das atividades da marinha. À disposição.

    O terceiro componente do grupo era uma mulher. Usava um vestido de linho muito bonito, de todo, e era ligeiramente robusta. O rosto era muito bondoso e os cabelos castanhos haviam sido presos em uma cuidadosa trança.

    — Catarina, meu senhor – sua voz era aguda, mas bonita. – Fui disponibilizada pela Rainha Heloise para acompanhá-los nesta expedição. Não há cozinheira neste mundo que seja capaz de me vencer – ela deu uma piscadinha.

    Jason, até o momento, tinha achado a presença de Catarina muito mais vantajosa do que a dos demais, mas isso se dava porque ele era mais convencível pela
    barriga do que pela cabeça.

    O quarto integrante da tripulação era alto e magro, até desengonçado, mas transparecia confiança. Quando sorriu, revelou dentição perfeita.

    — Joshua, meu senhor – disse, com a voz firme. – Seus olhos no mastro e no mar.

    O quinto integrante era forte como os dois primeiros, mas seus olhos eram curiosamente mais perspicazes. Tinha uma barba rala e a pele queimada de sol.

    — Reynold, capitão – disse ele, a voz contida, como quem gostasse de dizer somente o necessário. – Seu condutor no timão.

    Já o sexto componente do grupo era consideravelmente mais agradável aos olhos. A garota não parecia ter mais de dezoito anos – Jason anotou mentalmente o fato para cobrá-la depois. Tinha longos cabelos ruivos, jogados para trás, olhos castanhos, corpo esguio, busto farto, bumbum empinado. Vestia-se com uma despreocupação que somente tornava a visão ainda mais bonita. Carregava consigo um arco, uma aljava e duas mochilas.

    — Melany, senhor – disse ela, sorrindo. Para Jason, sua voz soou como os sinos de uma igreja ao amanhecer. – Tradicionalmente, sou druida, mas me aperfeiçoei bem trabalhando com ambas as vocações. Da cura ao tiro certeiro, conte comigo.

    Jason levou uma fração de segundo constrangedora para desviar seu olhar de Melany e pousá-lo no último componente da tripulação, que era decididamente excêntrico. O homem era magro, utilizava um terno muito bem cortado, com uma gravata fina. Seus cabelos, sedosos, estavam jogados de lado num penteado elegante, e sua barba era tão perfeita que parecia ter sido cortada com uma régua. Os olhos eram da cor azul do céu.

    — John, capitão – disse ele, e Jason pensou já ter ouvido aquela voz antes. – Sou o maior cartógrafo deste continente. Consigo designar as horas pela posição do sol, das estrelas e da lua. Oferecerei o melhor caminho com o menor risco.

    Jason assentiu, olhando para Leonard.

    — Creio que seja isso – disse o arqueiro, sentindo-se ligeiramente embestado pela presunção do homem chamado John. – Vamos partir?
    — Jason, uma palavrinha – disse Margareth.

    O cavaleiro fez sinal para que todos embarcassem e o aguardassem.

    — Este trabalho não é nem remotamente parecido com aqueles que você já desempenhou até hoje, querido. Estamos concordantes quanto a isso?

    O menino assentiu.

    — Trate o desígnio do incandescente como se estivesse protegendo sua própria vida porque, afinal de contas, é exatamente o que você está fazendo. E, se trouxer a honraria para cá… será o cavaleiro mais lendário da história deste continente, até seu desfazimento total.

    Ela deu um beijo desajeitado no topo da testa de Jason, que o correspondeu como pode, com todos aqueles metros de mulher diante dele. Dando-lhe as costas com um aceno, ele embarcou.

    De fora, Margareth sorriu ao ouvir o jovem garoto bradar “levantar a âncora, içar as velas, cães sarnentos! Este navio serve para quê? Para navegar ou para aguardar a boa vontade do senhor Gibbs de parar de lançar suas artimanhas perigosas contra a jovem Melany?”

    Rindo, a bibliotecária deu um último aceno àquele que, por procedimento, decidira adotar como afilhado.

    E mais do que isso, Jason. Que Crunor esteja convosco, te guiando, te guardando e concedendo sempre as melhores alternativas diante das eventuais dificuldades com as quais você venha a ter contato com sua aventura.

    *

    A noite já lançara seu véu sobre o antigo continente na altura em que o navio chegou ao alto mar, onde já não se podia mais discernir a terra. A tripulação dormiria em redes no subsolo; Catarina e Melany dividiriam um quarto no convés; na popa, John requisitara presunçosamente um quarto somente para si; Leonard e Jason dividiriam a sala do capitão, na proa.

    O magrelo desengonçado chamado Joshua prontamente assumiu sua posição no cesto do mastro, com uma luneta antiquada nas mãos. Cotton, Gibbs e Reynold haviam trabalhado nas velas para que elas operassem a pleno vento. John, por sua vez, tornara-se um misterioso ser recluso tão logo recebeu os mapas, sob o pretexto de que os deveria analisar. Catarina já estava trabalhando na cozinha e Melany, segurando uma curiosa combinação de varinha e arco, fazia o patrulhamento no navio de proa a popa.

    A sala do capitão era bastante suntuosa. Tinha um grosso carpete vermelho, fofo, que revestia todo o chão, e duas redes penduradas em quatro mastros equidistantes. Havia uma escotilha de frente e outras duas de lado, e duas escrivaninhas sólidas com duas cadeiras de chintz haviam sido juntadas no centro do aposento. Ali, Jason e Leonard, agora, analisavam febrilmente um mapa parco do oceano e os escritos de Joseph W. Prince.

    Leonard coçou a cabeça, confuso.

    — Quer dizer que o incandescente é guardião dessa Arca do Destino.
    Jason fez que sim, utilizando um esquadro e um compasso para mensurar a distância no mar.
    — Existe a informação de que Oblivion foi o último cavaleiro custeado pela Coroa de Thais a buscar a relíquia em uma expedição – disse Jason, concentrado. – Desde que saiu, há mais de cinquenta anos, nunca mais se ouviu falar dele. A expedição destinava-se a Senja, então faremos o trajeto ao largo daquilo que Oblivion planejava fazer.
    — Jantar – gritou uma voz feminina lá de fora.

    Jason e Leonard saíram para o ar da noite, bastante frio. O céu estava inteiramente salpicado de estrelas e somente a imensidão do oceano sem fim era visível através das amuradas. Eles cruzaram o convés e desceram a escadaria para o subsolo.

    Ali, quatro redes haviam sido estendidas entre os mastros, e uma pesada mesa continha uma sucessão de alimentos. Imediatamente, Jason sentiu o cheiro de galinha assada, arroz de forno, batatas coradas e alguma coisa que parecia porco frito, o que fez seu estômago roncar e lembrá-lo de que ele tinha muita fome.
    Jason sentou-se à ponta da mesa, com Leonard do seu lado direito e John, do esquerdo. O restante da tripulação se distribuiu nos demais lugares disponíveis. Por um instante, ninguém falou muito; Catarina era, de fato, uma cozinheira de mão cheia, e conseguiu manter as bocas mais preenchidas com comida do que com fala.

    Ao fim do jantar, todos se sentiram demasiado preguiçosos e exaustos por um momento. Finalmente, John sacou um maço de papéis e os estendeu diante de si na mesa, voltando suas atenções para Jason.

    — Capitão, existem duas rotas que podem ser adotadas no interregno do nosso ingresso nas ilhas geladas – disse ele, em tom profissional. Jason piscou duas vezes e olhou para ele, aguardando. – A rota mais rápida é entre Folda e Vega, já que Senja é a última ilha, mas passaremos por uma região com relativo risco de emboscadas ou enfrentamento de picos de gelo.

    Jason assentiu, compreendendo.

    — Minha sugestão é a de darmos a volta por fora de Folda, e, então, passaremos ao largo de Vega e, finalmente, chegaremos a Senja.
    — Qual a diferença de tempo no trajeto?

    John franziu os lábios, reflexivo.

    — Hoje é terça-feira – disse, pensativo. – Se fizéssemos o trajeto de risco, chegaríamos na sexta-feira. Pelo trajeto alternativo, se não fizermos paradas no caminho, podemos chegar no sábado pela manhã.

    Jason fez que sim, e Leonard espelhou seu movimento, ambos raciocinando. A intenção de Jason era a de concluir a jornada até o domingo, quando, se tudo corresse bem, estariam aptos a retornar para Carlin.

    — Pelo caminho alternativo, portanto – disse Jason, colocando-se de pé. – Catarina, precisa de ajuda com a cozinha?

    Ela piscou com um olho, conspirativa.

    — Nada que um pouco de magia não possa resolver, meu capitão.

    Surpreendentemente, a cozinheira tirou de dentro das vestes um cajado curto e fez um gesto no ar. Os pratos se ergueram e se dirigiram até a pia, onde uma escovinha com sabão começou a lavá-los sozinha.

    — Excepcional – ele aprovou, sorrindo. – Cotton, Gibbs, Reynold e Joshua, gostaria que vocês se revezassem entre o timão e o cesto durante esta noite, começando com Gibbs no timão e Reynold, no mastro. Leonard, Melany e eu faremos a troca de patrulha; Leonard fará o primeiro turno. Os turnos serão de uma hora. Dispensados.

    Todos se levantaram e começaram a sair, quando Jason puxou John pelo braço. O cartógrafo olhou para ele, surpreso.

    — O que você sabe sobre as três ilhas geladas?

    John respirou aliviado, por algum motivo.

    — Folda, Senja e Vega são criações de Crunor, que as utilizava, inicialmente, para o plantio. Durante a Primeira Grande Guerra, Zathroth conseguiu tomar as ilhas para si, e colocou sob o governo dos seus três maiores demônios: Bellatrix, em Folda; Sirius, em Vega; Samuel, em Senja. Desde então, nunca mais se fez dia naquele canto do mundo, e a era glacial tomou conta de cada centímetro.

    Jason fez que sim, olhando para todos os cantos para verificar se alguém os ouvia.

    — Temos a missão de resgatar a Arca do Destino – confidenciou em voz baixa, para a surpresa total de John, que arregalou os olhos. – Porém, tenho alguns planos um pouco mais audaciosos.
    — Surpreendente – John aprovou, sorrindo. – És um guerreiro de alto patamar, capitão. Quais são os demais planos?

    O cavaleiro mordeu o lábio inferior, calculando.

    — Creio que possamos libertar as ilhas do comando de Zathroth. Consegue levantar informações a respeito das potenciais fraquezas desses demônios?
    — Certamente que sim – o cartógrafo aprovou, puxando uma caderneta e lançando nela uma anotação rápida. – É certo que os cidadãos nos serão eternamente gratos.
    — É isso, então – Jason colocou-se a caminhar, seguido por John. – Levante as informações para mim e, depois, discuto o plano com a população.

    Lá em cima, Leonard fazia a ronda em um movimento circular, com uma cigarrilha presa aos lábios. Gibbs manuseava o timão, com os mapas de John nas mãos, e Reynold utilizava a luneta de Joshua para analisar tudo que conseguia ver.

    Já na cabine, Jason se sentou. Acabara de tomar uma decisão importantíssima.

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    Jason Walker e o Retorno do Príncipe
    Sexta história da série de Jason Walker e contando. Quem sabe não serão dez?

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  2. #12
    Avatar de Glauco
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    Sua historia esta se desenvolvendo bem tem potencial

  3. #13
    desespero full Avatar de Iridium
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    Saudações!

    Primeiramente, lamento muito minha demora em ter respondido --- li todos os dois capítulos e responderei agora considerando ambos. Agora sim começo ver a "justificativa" para o título de sua obra: a ação vai começar, de fato. Gostei das adições ao universo demoníaco de Tibia, e estou muito ansiosa para ver a descrição de cada um desses demônios. Vamos ver onde isso vai dar; no momento, é muito cedo para que eu faça quaisquer conjecturas.

    Mas... Espero saber em breve o conteúdo dessa Arca do Destino, rs.


    Abraço,
    Iridium.

  4. #14
    Avatar de Skunky
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    Salve Salve!!
    Achei que ficou bem mais "clean" com as respostas em spoiler

    Muito boa a descrição dos personagens e do próprio navio em si!
    Excelente capitulo e tem uma boa introdução do que está por vir.

    Só ali no finalzinho que tem a seguinte frase:
    — É isso, então – Jason colocou-se a caminhar, seguido por John. – Levante as informações para mim e, depois, discuto o plano com a população.

    É população mesmo ou seria tripulação?

    No mais, aguardo o próximo!

  5. #15
    Avatar de Neal Caffrey
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    CAPÍTULO 5 – AS SERPENTES DE ZATHROTH


    Surpreendentemente, pela manhã, começou a fazer um calor inexplicável. Quando Jason se levantou, depois de três rondas que fizera, achou que o tempo se parecia muito com aquele que vivenciavam os cidadãos do deserto de Darama. Abrindo mão da parca pesada e vestindo-se com roupas de linho frescas, ele embainhou sua espada e saiu para o ar quente.

    Imediatamente, percebeu que algo não corria exatamente bem. De pé na amurada, Leonard e Catarina observavam aflitos o oceano no ponto em que tangenciava com o casco do navio. Aproximando-se, curioso, Jason posicionou-se ao lado do amigo arqueiro.

    Uma porção de bolhas de incomum tamanho se acumulava ao longo da casca do navio. Jason franziu o cenho e olhou para Catarina.

    — Serpentes marinhas – disse ela, parecendo muito culpada por algum motivo. – Eu sabia que devia ter lançado mão de um feitiço de imperturbabilidade. Elas foram atraídas pelo cheiro da comida. Pelo menos quatro delas.

    Jason sentiu como se uma pedra de gelo estivesse descendo por sua faringe e se alojando em algum incômodo local do estômago. Ele olhou para Leonard, que assentiu uma vez, como se confirmasse as informações transmitidas pela cozinheira.

    Naquele instante, o restante da tripulação ia se aproximando, tentando entender o que acontecia.

    — Melany – disse Jason, dirigindo-se à garota –, que espécie de habilidades de druidas você ainda conserva?
    — Todas elas – ela disse, enfaticamente.
    — Acho que tenho uma ideia. Cotton, Gibbs, Reynold e Joshua, posicionem os canhões, dois de cada lado do convés, equidistantes. Abasteçam-nos com as lanças trazidas. Leonard, posicione-se na proa, com bom campo de visão, e esteja armado. John…

    Ele olhou para o cartógrafo, que engoliu em seco.

    — Fique olhando – instruiu, desconcertado, certo de que John não tinha nenhuma habilidade de combate. Ele respirou aliviado. – Catarina, seria interessante se você guardasse posição na popa. Mantenha seu cajado em riste. Melany, acompanhe-a e fique atenta aos meus comandos. As serpentes sempre estão aos pares.

    Imediatamente, todos obedeceram às ordens do cavaleiro. Logo cada um dos marujos tinha posicionado os canhões, cada qual responsável pelo manuseio de um deles. Catarina tomou sua posição junto de Melany na popa, e Leonard ocupou seu espaço na proa.

    — Quanto de distância é necessária para lançar um encantamento? – gritou Jason, que manteve-se em pé no centro do convés.
    — Quer que eu acerte as serpentes? – ela perguntou, a voz subindo uma oitava.

    Rapidamente, Jason repassou mentalmente tudo que aprendera na academia de Carlin a respeito dos monstros que habitam o continente antigo. As serpentes marinhas tinham uma fraqueza que ele conhecia muito bem e pretendia explorar.

    — Congele os olhos delas – gritou ele, com convicção. – De todas elas.

    Um pouco ensimesmada, ainda assim, Melany decidiu não discutir. Ela fechou os olhos e concentrou as próprias energias, de varinha em punho. Não demorou para que, mesmo no ar quente, pequenos cristais de gelo começassem a se mover nos arredores dela, espiralando de forma contínua enquanto a força da natureza era invocada e canalizada. Poucos segundos depois, os cristais passaram a divergir, apontando para cantos distintos, até que deixassem a superfície do ar e penetrassem na imensidão da massa oceânica.

    Nenhum daqueles homens estava preparado para o que se seguiu.

    Quatro serpentes imensas impulsionaram seus corpos para fora do mar, os olhos inconfundivelmente congelados em função da magia de Melany. Três delas eram um pouco menores que a quarta, que era decididamente mais robusta. Todas tinham corpos azuis, enroscados com pedaços de pau e algas, longas barbatanas douradas protegendo as guelras e imensos dentes amarelados dentro das bocarras.

    — Acalmem-se, homens – ordenou Jason, os olhos fixos nas serpentes. – Muito bem… acalmem-se. Ao meu sinal, disparem contra a cabeça.

    Leonard tencionou o arco, no qual se prendia uma flecha contundentemente afiada. Catarina apontava sua varinha para uma das serpentes menores, e Melany, agora, ia sacando seu próprio arco, estarrecida com a visão.

    — Muito bem – aprovou Jason, enquanto as serpentes sacudiam as cabeças, extremamente incomodadas com a falta de visão. – Muito bem. Ao meu sinal…

    Jason sacou a própria espada e firmou os olhos na serpente maior.

    — Fogo.

    Os quatro canhões dispararam quase que simultaneamente. Três das quatro lanças se alojaram nas cabeças enormes das serpentes menores, cujo grito enregelante, de derreter os ossos, fez tremer as estruturas do navio. As serpentes atingidas sacudiram-se no mesmo lugar, os rabos chocando-se violentamente contra o casco, sangue esverdeado esguichando por todos os lados e tingindo de verde o convés.

    Simultaneamente à morte das três serpentes, que agora já iam sendo carregadas pela corrente, onde o mar criaria, em seu fundo, as suas sepulturas, a quarta lança não acertou a serpente maior em cheio. Gibbs vacilou por um instante e acabou tremendo ao manusear a posição do canhão, sendo que seu projétil se alojou em uma das barbatanas do bicho, o que só fez com que ele se tornasse ainda mais feroz.

    — Puta que o pariu – praguejou Leonard, abaixando ligeiramente o arco. – Depois eu é que sou o cabeça-oca.

    O feitiço lançado por Melany se desfez, e a serpente, irritada, não esperou por um segundo aviso. Ela projetou o corpo para trás e se atirou repentinamente para a frente, atingindo o chão do convés onde Cotton estivera um segundo antes.

    A estrutura do navio se sacudiu. O segundo bote da serpente atingiu o mastro em cheio e danificou seriamente uma das velas. Ato contínuo, ao sabor do vento, a vela acabou por influenciar o manejo do timão, que se torceu totalmente para a esquerda, fazendo o navio desviar-se totalmente da rota anteriormente traçada.

    O terceiro golpe da serpente mirou a popa, onde estavam Melany e Catarina. A cozinheira disparou um feitiço breve que queimou uma das escamas do monstro, que urrou, indignado, e atacou novamente, ainda mais depressa. Corajosamente, Melany deu um salto para o lado e puxou a flecha, mirando-a de qualquer jeito, e a disparou.

    O projétil chiou no ar e alojou-se com firmeza no olho esquerdo da serpente.

    Novamente, o bicho gritou muito alto, seu rabo atingindo o casco do navio com firmeza. Em algum lugar, o som de água corrente pode ser ouvido, e, aos poucos, a estrutura da embarcação começaria a ceder.

    Jason precisava tomar uma decisão.

    — Leonard – gritou, saltando para lá e para cá para fugir das abocanhadas quase certeiras do monstro. – Comande a guarnição. Se eu não voltar, conclua a missão.
    — Se você não o quê? – gritou o arqueiro de volta, puxando mais uma flecha da sua aljava.

    Jason não esperou. Ele saltou de trás da vela quebrada e desviou uma das investidas da serpente com a espada, arrancando um de seus imensos dentes. Repentinamente, com um quê de diversão, ele se lembrou da aparição do incandescente, dois dias antes. Estava prestes a repetir a mesma loucura.

    Surdo aos gritos de protesto de Leonard e Melany, Jason correu até a amurada do navio e, segurando a espada com firmeza, se atirou no mar.

    De certa forma, a água gelada acabou por representar um alívio naquele calor de enlouquecer. Porém, nos domínios da serpente, agora, Jason encontrava-se na situação mais crítica de sua vida. E a visão era igualmente assustadora.

    Mais de dez metros de serpente ainda estavam ocultos dentro da água. O rabo agitado dela passou perigosamente perto do cavaleiro, não o atingindo por pouco. Conservando o fôlego que lhe restava, Jason deu suas braçadas na direção do monstro.

    Lá em cima, a situação não era melhor. Os ataques da serpente já haviam destruído parte da popa, deixando os aposentos de John em ruínas. Cotton jazia desacordado próximo à escada que levava ao subsolo, e Gibbs, Reynold e Joshua, de lanças na mão, somente faziam se proteger enquanto a serpente avançava cada vez mais e mais.

    A destruição total do navio era iminente.

    Embaixo d’água, Jason finalmente alcançou o monstro. Agora, ele tomaria para si a vantagem de enfrentar aquele bicho imenso, porque suas escamas ofereciam um excelente apoio para que ele se içasse para cima, como era seu plano.

    Lentamente, ele emergiu, os olhos ardendo por causa do sal da água. De espada em punho, Jason subiu pacientemente, respirando profusamente, os pés escorregando aqui e ali, vez ou outra o corpo balançando perigosamente quando a serpente dava suas investidas e se sacudia inteira.

    No navio, Leonard estava boquiaberto. Embasbacado.

    — Puta que o pariu – repetiu o arqueiro, sacudindo a cabeça de leve. – Depois eu é que sou o cabeça-oca.

    Finalmente, Jason alcançou a barbatana onde a lança se fixara. O projétil estava totalmente danificado, não poderia ser reutilizado. Subindo devagar até a cabeça, iniciou seu trabalho.

    O cavaleiro posicionou firmemente os pés e, segurando a espada entre as mãos, cravou-a na cabeça do bicho.

    A serpente urrou novamente e se sacudiu de repente, atirando Jason para cima. Com um movimento ágil, abriu a bocarra e engoliu o cavaleiro. Imediatamente, preparou-se para dar mais um bote, como se nada tivesse acontecido, o sangue verde escorrendo-lhe pelos olhos.

    — Maria Mãe de Deus – disse Joshua, fazendo o sinal da cruz. – Se eu sobreviver, terei história para contar.

    A serpente investiu novamente, mas parou a meio bote. Sua cabeça girou de um lado para o outro, como se ela estivesse ouvindo um som ligeiramente familiar. Em seguida, ela ameaçou um segundo ataque, novamente interrompido pela metade.

    Ninguém esperava pelo que veio a seguir.

    A cabeça da serpente foi aberta de fora a fora. De dentro para fora, como se algo a estivesse cortando a partir do céu da boca. Um pedaço de lâmina serrilhada surgiu onde os olhos podiam enxergar, lâmina que traçou um caminho reto do topo da cabeça do monstro até a base do seu lábio superior.

    Quando a cabeça do monstro se abriu ao meio e o corpo sem vida da serpente ia sendo deixado para trás, um intocável – exceto pela gosma verde que o recobria – Jason esperou pelo momento certo e saltou de volta para o navio, rolando pelo convés.
    Catarina, Melany e Leonard correram para acudir o capitão, que levantou as mãos rapidamente, sinalizando que estava bem.

    — Catarina… e Melany – ele respirou fundo, os músculos queimando pelo esforço que fizera. – Por favor… digam-me que podem consertar o navio.

    Catarina assentiu enfaticamente.

    — Podemos providenciar os reparos urgentes, capitão – disse a cozinheira, que parecia se sentir muito culpada. – Vamos nos concentrar lá embaixo primeiro, depois subimos para restaurar o restante. Vamos soltar a âncora e começar.
    — Não se demorem – ele se limitou a dizer, e elas correram escada abaixo.

    Leonard logo trouxe alguns baldes de água com sabão para o cavaleiro se lavar. Os outros componentes da tripulação desceram para auxiliar as feiticeiras.

    — Por Crunor, Jason – disse Leonard, ao mesmo tempo abismado e espantado. – Que maluquice foi essa?
    — Estamos vivos, não estamos? – respondeu Jason, agora de roupas limpas e cheirosas.
    — Sim, mas… eu já vi você atuar em situações críticas no passado, mas nunca desse jeito. Você é um guerreiro completo, cara.

    Jason assentiu, ligeiramente encabulado.

    — Juro que quando você – o arqueiro fez um movimento, como se estivesse enfiando uma espada na cabeça de uma serpente –, caramba, cara, eu me borrei todo. Se você duvidasse, escorreria cocô pelas minhas pernas abaixo.

    — Prefiro não me deparar com situação semelhante – disse Jason depressa.

    O arqueiro passou os dez minutos seguintes explicando ao cavaleiro todas as sumárias e importantes diferenças entre o cocô regular e o cocô de nervoso, e como o cocô de nervoso podia ser muito mais líquido do que o cocô regular. Naquela altura, Jason já estava deveras acostumado com a obtusidade do amigo para interrompê-lo, então simplesmente ouviu toda aquela baboseira até o final.

    — Casco consertado – disse Catarina, finalmente.
    — Ótimo – aprovou Jason. – Vamos trabalhar aqui em cima.

    Na altura em que o sol vinha se pondo no horizonte, trazendo consigo a noite, o mastro já estava quase totalmente reconstruído, faltando a vela. O primeiro desafio fora vencido.




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    Jason Walker e o Retorno do Príncipe
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  6. #16
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    Essa cena da luta com a serpente ficou muito boa lembrou uma cena típica de piratas do caribe.

  7. #17
    desespero full Avatar de Iridium
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    Saudações!

    Apropriando-me das falas de um de seus personagens: puta que pariu! Puta que pariu, excelente capítulo! Perdoe o palavreado, mas acho que é a expressão que mas faz jus ao que eu acabei de ler.

    Na realidade, hoje fiquei namorando seu texto, impossibilitada de lê-lo de maneira corrida, sem interrupções. Além disso, concluí que ler seu texto no celular é uma tarefa impossível, dado que requer muito mais atenção: e o celular toma um pouco dessa atenção para si, o que não é nem um pouco justo com seus Capítulos.

    Devo dizer: está excelente! Aguardo ansiosamente a continuação!


    Abraço,
    Iridium.

  8. #18
    Avatar de Lacerdinha
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    Que história! Terminei de ler hoje e gostei pra caramba do jeito que você desenrolou a trama até agora. Vários elementos novos deixaram a história mais rica e eu gostei bastante disso. A parte da mágica envolvida tanto na biblioteca de Carlin quanto na hora de lavar a louça foi muito legal também.

    Pra ser sincero, você me deixou bastante curioso quanto ao conteúdo dessa Arca do Destino. Esse jogo de elementos (incandescentes, designados, a Arca do Destino, etc) deixou o enredo verdadeiramente enriquecido, sem contar a surpresa que eu tive com tamanho das serpentes do mar e a adição à mitologia tibiana que você fez com os novos demônios.

    Espero pelo próximo capítulo.

  9. #19
    Avatar de Skunky
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    Que luta cara! Sensacional!
    Descrição das Seas Serpents ficou muito boa! A historia envolve cada vez mais

    Anw, muito interessante o dialogo sobre cocôs.

    Aguardo o próximo!

  10. #20
    Avatar de Neal Caffrey
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    Spoiler: Respostas


    CAPÍTULO 6 – LAWTON WALKER


    Surpreendentemente, o sentimento não era de fracasso no jantar daquela noite. Catarina tinha cuidado do feitiço de imperturbabilidade com a máxima cautela, para que surpresas como aquelas não se apresentassem no caminho da tripulação outra vez. Melany, de sua feita, olhava para Jason de maneira distinta. Quase lasciva. O garoto se sentiu ligeiramente encabulado no começo, mas, depois, aprendeu a conviver com a sensação. Até se agradou dela.

    — Chegaremos no limite entre o antigo continente e o reino de Zathroth ao final da manhã de amanhã – disse John, que parecia respeitar ainda mais as habilidades de seu capitão agora, depois do que vira. – O tempo cuidará de nos avisar, porque a queda de temperatura será brusca. Do calor sufocante atual para o frio de congelar os ossos.

    Jason assentiu, sem dizer palavra. Leonard mastigava de boca aberta, e Catarina cuidava dos ferimentos de Cotton, sem favor algum o maior prejudicado naquela batalha.

    — Capitão… - John pigarreou, um pouco desconfortável. – Talvez seja a hora de discutir com a tripulação o seu… plano.

    Os olhares convergiram para Jason, que piscou duas vezes e soltou o meio pão que estava prestes a comer. Engolindo de uma só vez, ele umidificou os lábios.

    — Foi-me noticiado que Folda, Senja e Vega são comandados por demônios de Zathroth – começou ele, com pouca convicção. – A princípio, somente Senja possui uma população local. Nada mais cresce nas ilhas, somente se vê gelo por toda parte. A terra que anteriormente teria sido usada para cultivo por Crunor, atualmente, está mais salgada do que Cartago.

    Todos assentiram, fazendo com que o cavaleiro se sentisse momentaneamente estúpido. Aparentemente, todos conheciam as histórias a respeito das ilhas geladas, menos ele.

    — Acho que podemos trabalhar no sentido de libertar as ilhas do comando de Zathroth. Se John tiver obtido êxito ao levantar informações a respeito dos demônios, tenho a intenção de matá-los, atacando-os em suas fraquezas.

    O balançar de cabeças no sentido positivo surpreendeu Jason por um instante. Pelo visto, a performance que ele desempenhara ao derrotar a grande serpente produziu bons frutos; a tripulação parecia crer cegamente em suas habilidades, e parecia disposta, inclusive, a enfrentar três dos maiores soldados da guarda de Zathroth, simplesmente porque ele dizia que seria melhor se fizessem.

    Ele relanceou um olhar para John, que tirou de dentro do sobretudo – que ele nunca tirava, diga-se de passagem – um pequeno livro, muito gasto. Jason franziu o cenho por um instante.

    — O Ritual Romano – disse, empurrando o livro nas mãos de Jason. – É a forma mais eficaz de se combater um demônio, qualquer que seja.

    Jason passou o dedo pela capa do livro, cujas inscrições ele não reconhecia. Porém, nenhuma língua da Terra seria capaz de esconder de suas vistas o nome do autor do livro: Joseph W. Prince.

    — Prince escreveu o Ritual Romano? – perguntou, surpreso.

    John fez que sim, disperso.

    — Prince era um dos maiores historiadores da Arca do Destino. Seus sucessores foram proficientes na arte de combater o manto das trevas, e, pelo visto, seu descendente mais recente, mais jovem, ainda vivo, tem a intenção de seguir pela mesma trilha.

    Jason torceu a cabeça de lado, confuso. Logo em seguida, a compreensão o inundou de maneira avassaladora, derrubando todas as barreiras que ele cuidadosamente havia construído ao longo da vida. A morte dos pais, supostamente emboscados por trasgos; a proteção excessiva de Margareth, fora do comum; o fato de que ela colocou nas mãos dele o livro de Joseph W. Prince sem pestanejar.

    — O “W” resumido no nome de Joseph Prince é de Walker – disse ele, assoberbado.
    — Precisamente, meu capitão – John sorriu, triunfante.

    *

    John entrou em sua cabine, totalmente reconstruída, sentindo-se deveras satisfeito. Jason Walker havia, finalmente, conseguido criar o link necessário entre seu presente e seu passado. Se ele não fosse obtuso como o arqueiro, saberia destinar seus esforços no sentido de garantir a paz no antigo continente e, de quebra, obter a recompensa da Arca do Destino e se tornar o mais fiel seguidor de Crunor a pisar na Terra.

    Ele tirou o sobretudo, checando a trava da porta da cabine. Em seguida, posicionou-se diante do espelho e, com cuidado, removeu barba e cabelos postiços.

    A careca intransponível surgiu diante dele, o corpo seminu totalmente recoberto pelas tatuagens cinzentas que garantiam sua proteção contra agentes externos.

    Puxando para perto uma grande taça de prata, ele fechou os olhos e murmurou algumas palavras. Na sequência, um rosto de traços firmes e olhos muito azuis surgiu translúcido na água da taça. O homem tinha cabelos e barbas brancos e não tinha uma marca sequer no rosto.

    — John – cumprimentou, a voz grave ressoando como se viesse de outra dimensão. Do além. – Boas novas, espero.
    — Milorde, Jason Walker demonstra ser o guerreiro que imaginamos que fosse. O senhor acompanhou a batalha contra as serpentes?

    O homem assentiu.

    — Certamente que sim. Escolher alguém descendente do sangue de Prince foi um passo razoavelmente ambicioso, John, mas creio que você tomou uma boa decisão.

    O incandescente sorriu, sentindo-se lisonjeado.

    — Agora, milorde, acho que…

    Repentinamente, a porta da cabine de John explodiu, lançando pedaços de madeira e ferro para todos os lados. Jason ingressou de espada em punho, com Leonard o acompanhando, uma afiadíssima flecha embainhada em seu arco.

    O incandescente relanceou um olhar para a taça, de cujo âmbar o rosto havia desaparecido.

    — Solte a prata – ordenou Jason, com raiva. – Vire-se totalmente. Se fizer algum movimento brusco, arranco a sua cabeça.

    John se virou totalmente, as tatuagens cinzentas quase brilhando sob a luz fraca dos lampiões acesos. Ele olhou nos olhos de Jason e levantou os braços em sinal de rendição.

    — Cacete – praguejou Leonard, assustado. – Que diabo é esse esquisito?

    Jason arreganhou os dentes, animalesco.

    — É o incandescente que me visitou há dois dias. É o homem que designou a mim minha missão.

    Leonard abriu a boca em um “O” perfeito – e até cômico –, compreendendo. Em seguida, franziu a sobrancelha e trocou seu olhar continuamente do amigo para o outro, raciocinando – aparentemente, com muita dificuldade.

    Ele abaixou o arco e embainhou novamente a flecha. Seu rosto só apresentava curiosidade.

    — Que é que você está fazendo aqui, maluco? – perguntou, estreitando os olhos. – Quero dizer… você tem nos ajudado e tudo mais, mas qual é a do disfarce? Você é bem mais maneiro em sua forma original.

    Jason relanceou um olhar para o amigo, resistindo ao impulso de socá-lo no plexo.

    — Jason, eu sou John Rosenthal – disse ele, sem rodeios. A espada do garoto baixou por um instante, mas logo retornou à posição original. – Sou um incandescente de Crunor.
    — Por que é que você está trabalhando infiltrado? – perguntou Jason, sem baixar a espada. – Qual o benefício disso?
    — O que foi que me entregou?

    O cavaleiro levantou os olhos, impetuoso.

    — Quando abriu o sobretudo, vi as tatuagens. A princípio, achei que estivesse vendo coisas, mas, aí, boa parte do que incomodava minha cabeça se encaixou.

    John fez que sim com a cabeça, arriscando um sorriso curto.

    — É perspicaz, capitão.

    Jason avançou contra o incandescente e o imprensou contra a parede, a espada apertada contra sua garganta. Por um instante, lembrou-se de quando combateu os mercenários que ameaçaram Leonard, no que parecia ter sido há mais de trezentos anos.

    — Vou lhe dizer como as coisas vão correr. Diga-me algo que me valha a pena, ou, juro por Crunor, atiro você para fora deste navio, e, se você se salvar desta, serei o primeiro a sugerir que você dispute natação nas Olimpíadas Intercontinentais.

    O incandescente acenou positivamente, mas seus olhos azuis da cor do céu não expressavam o mesmo medo que os mercenários tiveram um dia antes. Pareciam deliberativos, quase curiosos.

    — Cada religião tem sua crença – disse, depois de pensar muito. – Os cristãos acreditam em Deus e no diabo, em anjos e em demônios; os crunorianos creem em Crunor e Zathroth, incandescentes e magos negros. Joseph Walker Prince foi um dos predecessores das crenças do mundo novo, qualquer bíblia de Crunor tem seu nome inscrito ao final. Chequem por vocês e, se eu estiver mentindo, vou requerer minha decapitação por mim mesmo.
    “Prince enfrentou a primeira horda de Zathroth, a que fracassou, na Primeira Grande Guerra. Desde então, os missionários de Crunor têm sido divididos em missões de campo ou de compostura, atuando nos bastidores ou como protagonistas, mas sempre em atuação. Como os cristãos oram a Deus para que intervenha, nós, incandescentes, trabalhamos para satisfazer as vontades de Crunor.
    “Lawton Walker, Jason, seu pai, foi um dos maiores combatentes das artes das trevas que conheci. Os ensinamentos de Joseph Prince chegaram até ele, e ele abraçou seu destino, mas, quando Lawton teve contato com a arte do contragolpe, suas variações já eram tantas que ele foi capaz de criar uma modalidade totalmente nova de magia branca. Lawton Walker criou a incandescência, e expôs nossa existência para o mundo”.
    — Incandescência – Jason repetiu. – Você é realmente muito corajoso. Meu pai era um comerciante.
    — Seu pai era um exorcista de primeira classe e um dos maiores feiticeiros da guarda de Crunor que o antigo continente conheceu – John respondeu automaticamente, mal fazendo conta de que estava sendo ameaçado por um homem armado. – Você pode conviver com isso, e saber que Lawton foi um grande homem, cumprir a missão que lhe designei e retornar a Carlin como o filho do feiticeiro bem-sucedido, ou pode me atirar às quaras e falhar miseravelmente.

    Jason virou de lado e cuspiu no chão, enojado.

    — Entendo muito bem a relação incandescente-designado que é criada pelas aparições fantasmagóricas e cheias de pirotecnia que vocês costumam promover, mas isso não nos torna amigos, Rosenthal.
    — Pois deveria torná-los, filho – disse uma quarta voz na sala.

    O cavaleiro se virou completamente, quase se esquecendo de que tinha a intenção de cortar a garganta de John. Leonard puxou seu arco e atirou por instinto, mas o homem recém-surgido segurou a flecha como se estivesse recebendo um lançamento em um campo de futebol, e a partiu no meio. Ele tinha olhos castanhos como os de Jason, cabelos desajeitados como os de Jason, era magro como Jason e alto como Jason. Era Jason, numa versão mais velha – e de bigode.

    A imagem dele era trêmula, translúcida, como se não pertencesse ao local onde se encontrava. Contudo, o sorriso bondoso, que revelou uma bonita dentição, como a de Jason, era muito palpável. Podia ser sentida no ar, e expressava um só sentimento: amor.

    — Você se tornou um grande homem, meu filho – disse o fantasma de Lawton Walker, lágrimas peroladas escorrendo-lhe pelo rosto. – Estou orgulhoso de você.

    Jason arriscou um passo na direção do pai e tentou tocá-lo. O que quer que fosse aquilo, era muito real – o calor, a sensibilidade do toque, a textura das roupas pesadas de feiticeiro, tudo.

    — Pai? – Jason soltou a espada e abraçou o pai, sem conseguir se conter.

    Lawton correspondeu ao abraço do filho, trocando um sorriso com John, que, de braços cruzados, assistia à cena, feliz.

    — Podemos voltar a nos falar futuramente, filho – disse Lawton, soltando-o e olhando para ele com alegria. – Puxa vida. Se deixares um bigode, rapaz, passar-te-ás por mim.

    Jason riu, imerso naquele universo totalmente novo e rejuvenescedor.

    — John é um guarda de Crunor, Jason, e somente se manteve oculto porque essa é sua natureza. Os incandescentes não gostam do protagonismo, não querem ser o rei, preferem ser seu conselheiro. Confie nele e conclua sua missão, filho.

    A imagem de Lawton tremeu por um instante, e ele olhou por sobre o ombro.

    — Hora de ir. Arrebente, Jason. E, John, dê a ele o que solicitei. É a hora.

    Lawton tremeluziu novamente e, um instante depois, já se havia ido.

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