Ira Eterna sob a Tumba de Horestis
Parte Final
.....Começou.
.....Minhas flechas e runas explodiam em qualquer coisa que se movia em direção a minha luz. Meu cansaço se curava com poções que já nem desciam amargas pela garganta. Eu avançava e sentia a dor das magias lançadas atingirem meus ossos. Os mortos puxavam minha felicidade e sugavam minha vida, mas eu seguia, flecha após flecha, seguia os gritos intensos que tentavam domar minha mente.
.....Quanto mais eu adentrava a tumba, maior era o medo. A adrenalina já dominava meu sangue junto ao veneno das aranhas mortas que me picaram. A paralisia das múmias travava-me as pernas que tiravam forças do infinito para continuar andando. O volume dos gritos informou que eu estava perto, foi então que meu sorriso se abriu involuntariamente. Um escorpião gigante e amarelo veio em minha direção. Agradeci Arito e sem pensar puxei minha mochila para frente do corpo e dela o embrulho que ele me dera. O tecido vermelho cruzou o ar podre da tumba e revelou o cetro que formava garras de escorpião em sua ponta, um raro item que segundo a lenda poderia domar este tipo de criatura. Corri em direção à fera que me perseguia com sua cauda à medida que eu me aproximava. Eu tinha o centro nas mãos e, mesmo não sabendo como usá-lo, corri. Corri para a incerteza.
.....Suspiro.
.....O tempo parou e eu senti a morte se aproximar com o ferrão do escorpião junto a meu rosto. Meu corpo parecia explodir a cada batida de meu coração, meu sonho poderia morrer naquela agulha.
.....Suspiro.
.....O ar entrou de volta em meus pulmões e todo o furacão da tumba voltou a minha mente. O barulho ensurdecedor dos gritos chicoteava meus tímpanos e ele estava ali, parado, o escorpião gigante que nos instantes anteriores desejava minha morte estava me esperando.
.....Eu o escalei e ajeitei-me em suas costas, ele sacudia as patas para afastar as criaturas menores que se aproximavam. Enquanto ele andava, eu disparava minhas flechas em tiros certos que zuniam através dos corpos mortos. E em uma última explosão de runa eu ouvi o grito que eu queria. Horestis corria e gritava em minha direção. “É hora de receber a lição do passado, humano!”. Era minha deixa. Era a vez de meu sonho ocupar seu lugar na linha do tempo.
.....Eu saltei das costas do aracnídeo e ele me olhou confuso. Fui rápido em responder “Essa luta é minha”. Eu parti com todas as dores que estouravam minha pele, com o veneno que me deixava tonto e com minha flecha apontada para a cabeça do faraó. Disparei. Ela atingiu-o entre os olhos e isso não o abalou. Meu riso confirmou o que eu já pensava aos sete. Não ia ser fácil.
.....Horestis conjurou um escorpião gigante para me atacar e no segundo anterior a meu assovio, o meu próprio escorpião já partia em investida contra ele. Voltei para olhar o faraó e atacá-lo. Eu murmurava magias que pareciam lhe causar pouca dor e ele me destruía a cada vez que suas mãos cobertas de ataduras brilhavam. O sangue que caia de meu corpo marcava o chão e selava naquela tumba o herói que eu era ou o que seria. Algumas runas de magia sagrada atingiam-no no peito e a cada um desses raios amarelos que o acertava, ele se enfurecia. Percebi sua fraqueza se tornar palpável.
.....Eu tinha acabado de beber a última de minhas poções vermelhas quando um raio negro me bateu forte, enegreceu minha visão e enfraqueceu minha força. Eu tombei. Minha cabeça chocou-se contra o chão. Senti meu corpo ficar leve e as batidas do meu coração ficarem escassas. Não tinha som na morte.
.....Não sei quanto tempo se passou, mas uma fagulha de força implodiu em mim, um fogo ardente, quente como o sol na areia. Uma força necessária para eu abrir os olhos e ver meu escorpião avançar sobre o faraó. Meu corpo se ergueu e me vi sentado frente à luta, os gritos foram voltando a minha cabeça e eu sabia o que tinha que fazer. Minhas mãos se juntaram e eu orei por todos os deuses naquela magia. Meus lábios se abriram e o ar rugiu forte da minha garganta “EVEXO MAS SAN!”.
.....Ele caia.
.....Horestis me fitou enquanto seus olhos se fecharam e seu corpo batia no chão. Sua boca murmurou palavras que inundaram a tumba com uma voz grossa e podre “Eu amaldiçôo esta tumba... eu amaldiçôo este deserto... e amaldiçôo você, humano. Você será perseguido até depois de sua morte...” e então parou e deixou apenas o silêncio.
.....Ele jazia derrotado no chão de sua própria tumba.
.....Aproximei-me de meu escorpião, também fraco da batalha e montei-o. Seguimos a trilha de destruição para a saída. A caminhada silenciosa foi me recuperando e eu já sentia meu corpo de volta. A luz da saída marcava o fim de uma mald...
.....“Que pó**a é essa?”
.....A nuvem negra da maldição tomava o céu do deserto fazendo do dia passar-se por noite. E de dentro da tumba, do seu íntimo, o grito rouco de Horestis ecoou e subiu a superfície. O deserto estava infestado de guardas de honra do faraó, prontos para atacar aquele que o calou.
.....Eu sorri. Eu ainda estava pronto.
.....As patas de meu escorpião criaram ondas de areia pelo deserto e minha primeira flecha partiu em dois o crânio do primeiro morto-vivo que cruzou nosso caminho.
.....Puxei a segunda.