Hey HEY!
Tudo bom com vocês, galera?
Bom, esta é minha primeira disputa da qual eu organizo. Talvez apareça alguns erros, não sei, mas... O que importa são os textos!
Esta disputa é entre dois ótimos escritores, Pedrinhospf e Gabriellk.
O tema escolhido foi A Origem da Hidra em Tiquanda.
Vamos aos textos!
Spoiler: Texto 1
Pesadelo Estival
“Ele roubou o ovo.”
Novamente sinto o úmido e cálido toque da brisa de verão. Ela invade meu quarto, uma intrusa indesejada, insinuando-se sutilmente por debaixo das frestas das portas, preenchendo o ar com seu cheiro salgado. Um cheiro que me é terrível, embora outrora tenha sido calmante. É no verão que me lembro com mais intensidade, ao olhar pela janela a distante linha do horizonte ao leste, coberta por um azul oceânico que se estende a perder de vista, levando até os confins do mundo, onde os fantasmas de minhas memórias ainda vivem. Um raio azulado corta o céu ao meio, e logo vem o majestoso som do trovão, me fazendo lembrar o pavoroso som que ouvi aquele dia naquela ilha. Não consigo evitar, as memórias regressam, vivas, estimuladas pelo clima daquela estação.
Eu era então um rapaz em seus vinte anos, integrante de um bando pirata qualquer. Pilhávamos na rota comercial entre as cidades do deserto e Venore, porém devido a uma tempestade de verão incomum havíamos sido desviados muito para oeste, e acabamos naufragando em uma ilha deserta. A ilha. Só de lembrar-me das gigantescas árvores que cresciam até quase alcançarem o céu, das inúmeras ervas retorcidas que cobriam cada centímetro do solo, das plantas de cores e silhuetas macabras jamais antes vistas, que se mexiam pavorosamente, tenho calafrios. O aspecto geral da ilha sem nome era absolutamente selvagem.
“Foi hediondo. Matou a família a sangue frio, incluindo os filhos. Perdeu a sanidade.”
De nosso bando sobraram apenas três tripulantes que chegaram vivos à verde costa da ilha, nosso capitão Jeff, um homem atarracado e corpulento cujos braços mais pareciam toras de madeira de tão grossos, eu, franzino e assustadiço, e um homem estranho, careca e mirrado, cujo nome ninguém sabia, sendo conhecido simplesmente como Dançarino, devido ao bizarro modo gingante que ele tinha de andar, que já havia sido alvo de muitas troças em nosso navio. Havia boatos de que o homem fora certa vez contatado por demônios, e que a visita o perturbara além de qualquer cura. Dentre todos os tripulantes do navio, ele era aquele cuja companhia eu menos apreciava.
— O capitão vai morrer hoje.
A improvável comitiva adentrou a mata, dispondo apenas de nossas cimitarras para cortar uma tosca trilha através da densa vegetação. Embora as memórias da viagem sejam difusas, asseguro de que foi o momento mais infernal que vivi até o presente dia. Estávamos certos de que morreríamos ali. Não tínhamos comida, a não ser que nos arriscássemos a comer alguma das gigantescas tarântulas ou outros artrópodes nojentos que nos espreitavam, vindos de todos os cantos. Nossa única água era a da chuva, que caía sem dar trégua. O capitão ia à frente, mantendo uma falsa expressão de segurança. Mas logo mesmo ele cansou-se, sua expressão obstinada logo se transfigurou em uma cansada, desanimada. E depois veio o medo. Atingiu-nos a todos, mesmo ao Dançarino, que me observava a todo o momento com olhos assustadiços e arregalados que viam sem ver.
— O capitão vai morrer hoje!
A frase retumba em meus ouvidos. A voz amedrontada e rouca que a proferiu centenas de vezes insiste em aparecer à luz de minha consciência, enlouquecendo-me.
— Cala a boca, seu idiota! — Disse o capitão, quando o Dançarino mais uma vez a repetiu. Normalmente todos ignoravam as loucuras do estranho até que ele ficasse quieto, logo me surpreendeu a reação de Jeff. Estava pálido de medo. O Dançarino olhou-o, boquiaberto.
— Eu sei, eles me dizem! Aqui é onde vive o guardião, o guardião da floresta, e ele está por perto! Na verdade, está vindo, vindo para nós, posso ouvi-lo neste momento! O capitão vai morrer hoje!
“Ele viu-se sem alternativa senão esquecer o passado e entrar para a pirataria.”
A expressão de Jeff endureceu, ainda pálida. Suava e segurava a cimitarra cheia de restos de plantas tremulamente. Ergueu-a alguns centímetros.
— O capitão quer me matar, mas isso não vai fazer ele parar. Não vai fazer o guardião esquecer-se do que ele fez aquele dia!
O capitão congelou onde estava. Por alguns segundos, o mundo inteiro pareceu parar. A selva aquietou-se como que por milagre, a chuva já não provocava o ruído irritante ao cair no solo pantanoso, os animais não moviam um músculo. O ar úmido e pesado da floresta tropical estagnou-se. Tudo parou, como se o mundo estivesse à espera de algo.
E o algo chegou. Sem esforço, as memórias fluem como um rio caudaloso. Recordo o ruído farfalhante e venenoso das plantas que subitamente começaram a se mexer em algum canto, como se uma serpente rastejasse sinuosamente, por detrás de uma árvore qualquer. Do próprio solo que vibrava, feito um terremoto. Uma figura de tamanho inimaginável aproximava-se, sua silhueta bizarra difusamente visível através das plantas.
Eu sabia o que esperar, já ouvira sobre elas em histórias. Até aquele momento não quisera acreditar. Recordei-me nitidamente da impressionante pintura a olho que vi quando ainda era uma criança, numa parede de um mercado qualquer em Venore. Três cabeças imponentes brotavam de um pesado corpo, sustentado por quatro pilares de músculo e dura pele verde. A atitude era feroz e altiva, protetora, a expressão de um guardião protegendo seus domínios. Não esperava nada menos impressionante da versão real.
“Os deuses fizeram alguma coisa com o ovo. Ele ficou com medo. Jogou-o fora em uma ilha deserta.”
Então vi primeiro as patas dianteiras esqueléticas, que apareceram chutando galhos e folhas. Em seguida o corpo, reptiliano, falho, os pedaços de pele dura amarronzada desprendendo-se pateticamente e caindo ao chão como folhas de outono. Os três pescoços eram arqueados para frente, terminando em cabeças serpentinas, alongadas como um cone, deformadas em uma expressão assassina que deixava os dentes à mostra. Os olhos baços e amarelados possuíam um ódio nada régio. Que quer que fosse aquela aberração, não era um guardião da floresta. Não era uma Hydra, e sim uma imagem deformada, fruto do crime cometido anos atrás pelo capitão Jeff. Foi tomado pelo mais absoluto terror ao olhar para a hedionda figura.
Nada pudemos fazer. O cabo suado de minha cimitarra escorregou debilmente pela mão direita. Limitei-me a parar feito um espantalho, enquanto olhava três pares de olhos aproximando-se cada vez mais. O chão tremia. Dentes enormes e escuros à mostra, suficientemente grandes para partirem o pescoço de um homem como se rasga uma folha de papel. Por entre eles, escapava um rosnado absurdo, algo que não seria capaz de descrever em palavras. É o som do raio que escuto lá fora. O barulho que o medo faz.
Não tinha ilusões de enfrentar a fera. Resignei ao meu destino no tempo de um piscar de olhos. A morte estava em cima de mim.
“Acho que quiseram lhe ensinar uma lição.”
E, então, passou. Senti uma rajada de vento quente, enquanto algo titânico pulava por sobre minha cabeça, buscando algo que se encontrava atrás. Os ruídos que se seguiram foram semelhantes aos que um cão faz ao rasgar um boneco de pano. Não ousei olhar, apenas corri o mais rápido que pude. Demorei a perceber que o Dançarino vinha em meu encalço, surpreendentemente rápido. O capitão Jeff não veio.
Sem pensar, corremos, corremos, até que nossas pernas gritassem de dor. Senti o gosto de grama em minha boca, e depois a escuridão. Um homem engraçado, com panos ao redor da cabeça, levava-nos em um cavalo deformado e corcunda. Vi montanhas ao meu redor, montanhas cobertas de areia, e senti sede e calor. Será que morri? Não sei se naquele dia, mas agora acho que sim...
****
Dois soldados venorianos arrombam a porta de uma casa no extremo leste da cidade. Não era aberta há dias.
—Céus... —O soldado corre até a figura desmaiada próxima à janela aberta. O cheiro repugnante revela a verdade. O homem morrera olhando para fora, para o oceano além dos pântanos. Escrevia alguma coisa em um pergaminho. A pena ainda estava segura na mão, embora a tinta tivesse secado.
—Olha isso aqui. —Diz o soldado ao outro, ao tomar o pergaminho das mãos do cadáver. —Parece que ele tava escrevendo algum tipo de conto. Ele tava alucinando, não dizia coisa com coisa. “O ovo viera de...” — Cala-se por um instante. — Por Uman...
Mostra ao colega o desenho que o homem fizera na parte de baixo do papel. Nunca haviam visto uma de verdade, mas só podia ser. Porém, havia algo de errado. Sim, quanto mais olhavam, mais caricata a criatura lhes parecia. As pernas eram de fato finas demais, o corpo era deformado e amarronzado. As três cabeças contorciam-se em uma horrível expressão assassina.
Uma brisa estival adentra o quarto, provocando calafrios em ambos. Num impulso, o homem joga o pergaminho pela janela. Tinham deveres mais importantes a cumprir, afinal, havia ali um homem morto.
O pergaminho, contendo a história da primeira Hydra, perde-se na profundidade infinita dos pântanos de Venore.
Spoiler: Texto 2
Fome e Fuga
. Fome. Era tudo que se passava pela mente de Tasha. O jovem dragão fêmea plainava enquanto sua enorme sombra passeava pelo deserto de Darama. Seu lar era as Montanhas do Deserto, ou Kha'zeel, na linguagem dos gênios. Kha'zeel estava cheio de outros dragões, e a escassa comida era quase uma exclusividade dos lordes dragões. O ovo que ela ainda carregava em seu ventre logo seria posto no mundo, e o dragão que se originaria dele provavelmente seria morto para servir como alimento para os dragões mais velhos.
. Suas poderosas garras tocaram a fina areia do deserto. Tasha pousou. O clima árido da região era demais para ela, e ela sabia que não poderia continuar voando. Seu corpo grávido pesava, e voar ficava cada dia mais difícil. Seu rosto espontaneamente voltou-se para o oeste, e ela admirou a cadeia de montanhas que servia de lar para sua espécie. Seus picos imponentes eram os mais altos já habitados por dragões, e sua sombra abrangia quase todo o deserto ao final da tarde.
. ― O que será que existe atrás dessas montanhas? ― indagou-se Tasha. ― Nunca ouvi falar de nenhum dragão que ousara conhecer o que há além delas.
O pensamento dela foi interrompido pelo barulho de asas. Virando-se, Tasha viu um dragão de grandes proporções, com escamas vermelhas e resistentes. Um dos chifres vermelhos estava quebrado, recompensa de uma batalha pelo poder ocorrido há muito tempo. Era Merlon que se aproximava, um dos lordes dragões de sua morada. Como se fosse capaz de ler os pensamentos da fêmea, o enorme dragão disse:
. ― Existe um motivo para não ultrapassarmos essa fronteira rochosa, Tasha. Garsharak ordenou que as Montanhas do Deserto fossem nosso único lar, e devemos respeitar o desejo do Primeiro.
Merlon era, assim como os outros dragões anciões, um conservador, e a Tradição era o grande guia em sua vida. Segundo ela, Garsharak, o Primeiro, havia sido o primogênito da raça dos dragões, criado pelas mãos do próprio Brog, o rei da Destruição. O dragão teria a capacidade de enxergar o futuro com mais clareza que qualquer outro sábio, e por isso havia feito planos para todos os dragões.
. Para Tasha, entretanto, a Tradição era apenas uma forma dos anciões controlarem os dragões jovens. Guardou esses pensamentos, no entanto, para si mesma. Sabia que aqueles que questionavam a Tradição eram impiedosamente punidos. Alguns de sua época haviam simplesmente desaparecido após levantarem dúvidas sobre a veracidade das histórias da Tradição.
. ― Sei disso, Merlon. Desejo apenas que meu descendente tenha comida suficiente, assim como eu e aqueles antes de mim tiveram ― respondeu Tasha.
. ― A comida virá, futura mãe. Os deuses não deixarão os filhos de Brog serem vitimados pela fome ― profetizou Merlon, já levantando vôo.
Tais palavras não foram suficientes para convencer Tasha, que ao voltar seu olhar novamente para Kha'zeel tomou sua decisão. Voaria o mais alto que jamais havia voado para poder passar além das Montanhas do Deserto, e descobriria o que havia após essa barreira, mesmo que a tentativa custasse sua vida. Era preferível não ver seu sucessor nascer a vê-lo ser morto pelos seus companheiros de espécie. Deveria tentar o mais próximo possível, pois em muito breve não seria mais capaz de voar. Resolveu então que este seria seu último dia no lado leste das montanhas, pois durante a noite abandonaria furtivamente seu lar.
Começou a bater de forma gradualmente mais rápida suas grandes asas esverdeadas até levantar vôo. Esta seria sua despedida do deserto que por toda sua vida havia sido sua morada.
. Quando a lua já havia se despedido e o mundo estava em repleta escuridão, Tasha levantou-se. Conhecia bem a galeria que fora cavada no coração de Kha'zeel, e por isso não precisaria de luz para orientar-se para fora do lar dos dragões. Sem fazer o menor ruído a fêmea se retirou e levantou vôo.
. A adrenalina circulava em seu sangue em grande quantidade. Sabia que só estaria segura após atravessar a cadeia rochosa. Sentia a todo o momento que estava sendo seguida. Ainda restavam cerca de cinco minutos de vôo até estar protegida no outro lado das Montanhas do Deserto. Foi quando ouviu o vento batendo em asas que não eram suas. Sem olhar para trás, acelerou seu vôo, agora sem se preocupar em manter-se silenciosa. Tinha certeza que estava sendo seguida. Seus olhos já haviam se acostumado com a escuridão, e os afiados picos de Kha'zeel estavam adquirindo contorno. O peso de seu corpo grávido começava a fadigar suas fortes asas. Restava pouco agora. Uma dor intensa percorreu seu corpo. Sua carne sendo perfurada. Tasha olhou para cima. Viu o que mais temia: era Merlon quem profanara sua couraça.
. O dragão de escamas rubras havia descoberto a intenção de Tasha de desobedecer à Tradição e a seguiu para frustrar sua escapada. Seu semblante mostrava a fúria presente no coração do dragão. Seus olhos amarelos cintilavam em chamas aterrorizadoras que ofuscavam até as labaredas que brotavam de sua boca. Suas afiadas unhas haviam perfurado o pescoço da fêmea em fuga, e agora a possibilidade de fuga parecia impossível. O sangue da fugitiva tingia de vermelho a areia e a rocha dos andares mais elevados da imponente cadeia de montanhas.
. Quando as asas de Tasha começavam a desistir, uma nova vontade percorreu seu corpo. Lembrou-se que não era por sua vida que ela temia, mas pela de seu filho. Não poderia fracassar com ele. Girou seu pescoço ferido e fez algo que nunca pensou que faria um dia.
. A bola de fogo disparada por Tasha pegou Merlon de surpresa. Um lorde dragão sendo atacado por um de seus subordinados era algo impensável na cultura draconiana. Apesar da investida não ter sido forte, foi suficiente para atordoar o dragão vermelho. Tasha em um último esforço havia conseguido assumir a dianteira, e já estava atravessando a barreira imposta pelo Primogênito. Sabia que Merlon não ousaria cruzar aquela fronteira.
. Sentindo-se protegida no lado oeste das montanhas, Tasha pousou. Seus pés tocavam um terreno fofo e úmido, que a fêmea já conhecia. Era grama, igual aquela que forrava o chão do oásis no deserto. Um sorriso brotou em seu rosto. Sentia-se orgulhosa de si mesma. Sua visão estava turva, e a vida abandonava seu corpo. Cuidadosamente repousou na grama o ovo que havia trazido em seu ventre, e com seu corpo envolveu-o em sua proteção e calor.
. Quando Tasha abriu seus olhos no dia seguinte e não acreditou no que viu. Não foram a enorme quantidade de laranjeiras, bromélias, samambaias e inúmeras outras espécies de árvores e arbustos tropicais que impressionou Tasha, nem o rio de água cristalina que cortava a planície a poucos metros de onde ela estava. O que impressionou Tasha foi o fato de ainda estar viva. O ataque de Merlon parecia distante como se houvesse apenas acontecido em um sonho. Sua garganta clamou por água, e então ela levantou-se e foi caminhando até o rio beber água.
. Quando se abaixou para beber a água, surpreendeu-se com seu reflexo. Nos dois lados de seu pescoço, nos pontos onde suas escamas haviam sido destruídas pela garra de Merlon, algo estava brotando. Uma tuberosidade verde havia surgido em cada flanco, e estas cresciam sob o olhar de Tasha.
. Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, uma sombra cobriu a fêmea. Virando-se, Tasha teve a visão mais magnífica de toda sua vida. Uma enorme criatura se aproximava dela. Era mais alto que qualquer árvore ao seu redor, e possuía longos pêlos pretos e lisos por todo seu corpo, exceto em seu peitoral. Era capaz de andar usando apenas seus dois membros traseiros, mas utilizava os braços para se apoiar. Apesar do tamanho da criatura, Tasha não se sentiu ameaçada. Ela sentia que aquela era uma entidade da paz.
. ― Está se sentindo melhor? ― perguntou o gorila.
. ― Sim, mas ao mesmo tempo me sinto estranha ― disse Tasha ―. Quem é você?
. ― Meu nome é Bong. Sou o pai dos primatas, o primeiro de minha espécie ― respondeu serenamente Bong.
. ― O que aconteceu ontem? E o que são essas coisas em meu pescoço? ― disse a ainda confusa Tasha.
. ― Você entrou em minhas terras mortalmente ferida, e eu resolvi intervir. Creio que isto crescendo em seu pescoço seja uma conseqüência da minha intervenção ― explicou Bong.
. ― Intervenção? Do que você está falando?
. ― Foi concedido a mim pelos deuses o dom da cura. Para salvá-la, eu me utilizei desse poder, mas creio agora que fui um pouco além do necessário. Passei para ti parte desse dom, e vejo que seu corpo está se adaptando a esse novo poder.
. Antes que Tasha pudesse dizer algo, o primogênito dos primatas ordenou que ela olhasse novamente para os brotamentos em seu pescoço. Eles agora tomavam a forma de novas cabeças, idêntica à de Tasha. A fêmea, no entanto, não estranhou essas novas cabeças. Era como se esses novos apêndices de seu corpo sempre pertenceram àquele lugar. Era como se as três cabeças se entendessem mutuamente, sem necessidade de palavras.
. ― Parece-me que você se acostumará facilmente às mudanças em sua estrutura ― disse Bong.
. ― Eu sinto que isso deveria ser estranho, mas tudo parece certo, como se meu corpo sempre fosse assim ― responderam as cabeças em uníssono ―. Mas e meu filho? De que forma ele me reconhecerá como sua mãe, sendo eu diferente dele?
. ― Não se preocupe com isso. Irei passar este mesmo poder para seu filho. O corpo dele deverá rapidamente se adaptar para assemelhar-se ao da mãe ― respondeu o primata.
. Foram então até onde o ovo de Tasha estava. O gigante gorila estendeu suas mãos sobre o ovo, e faíscas azuis cintilantes saíram delas. O ovo então emanou uma aura verde esmeralda por poucos segundos, e então sua cor começou a mudar. Sua casca, que antes era alva com poucos detalhes em azul, se tornou verde como a grama em que ele se apoiava.
. ― Caso queiram abrigo, serão sempre bem vindos em minhas terras ― disse Bong ―. Não posso continuar com você agora, pois minha propriedade é extensa e devo cuidar de suas fronteiras. Adeus, e que Tiquanda trate-os bem!
. Antes que a criatura de três cabeças pudesse dizer algo, o primata se retirou, desaparecendo por entre as árvores. Tasha ainda ficou observando o movimento da fronte das árvores até ter certeza que Bong havia realmente ido embora.
. Virando-se, encontrou a cadeia de montanhas que serviram de casa para ela por toda sua vida. A parte oeste de Kha'zeel era apenas um paredão rochoso, o que passava para Tasha uma sensação de segurança que ela não tinha morando do outro lado da cordilheira. Estava agora em uma terra completamente diferente, e ela mesma era uma criatura diferente agora. Sentia isso em seu sangue. No entanto, algo a dizia que seria feliz ali. Segurou seu ovo ― que viria a chocar quase três após sua chegada em Tiquanda ― com a cauda e saiu para buscar alimento.
. Os anos se passaram, e em nenhum dia Tasha se arrependeu de ter fugido de sua terra natal. O alimento na selva de Tiquanda era abundante, e não havia espécies de fazer oposição à força do ex-dragão. Seu corpo continuou a adaptar-se à vida na floresta: o ambiente venenoso que impregnava aquele lugar rapidamente se tornou uma arma para a criatura, que os humanos posteriormente viriam a chamar de Hydra. Sua respiração, que anteriormente ardia em chamas, passou a liberar poderosas substâncias tóxicas. Cada ferimento que ela sofria era rapidamente cicatrizado, dando-a capacidade de sempre continuar lutando. Suas asas foram se atrofiando devido ao desuso, sendo que às vésperas de sua morte, Tasha nem se lembrava que um dia a possuíra.
. Seus descendentes continuaram a se reproduzir a povoar as terras de Tiquanda, se tornado uma das espécies mais perigosas e temidas que habitam a superfície.
Vocês têm até o dia 15/03 para votar. No caso de empate, será dado mais dois dias para o desempate. Caso não houver desempate, será decidido por mim.(~NEW RULES RULLEX RÇ)
Qualquer erro, me alertem!
Abraço,
Carlos.
Ps: É só aqui que o Fórum tá meio bugado?
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