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Tópico: A Décima Porta

  1. #1

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    Padrão A Décima Porta

    Isso mesmo, vocês não estão vendo uma miragem... Não é um tópico que voltou dos mortos para assombrar a seção.


    Espero que gostem dessa nova versão.

    Eu tenho apenas alguns capítulos iniciais ainda (O que ja é um avanço, porque eu não sei se vocês lembram, mas da outra vez que eu postei a história aqui, ela começava do capítulo 3 ou 4, pois eu ainda não tinha escrito o início.). Dessa vez, eu vou postá-la desde o zero.


    Então é isso... Essa história é pra vocês do fórum. Aproveitem, e comentem por gentileza, ok? Sério, em boa parte do tempo em que escrevi, estava tentando fazer de uma maneira a atrair o interesse de vocês.

    Me digam o que acharam, quais perguntas apareceram na cabeça de vocês (ou não), se conseguiram imaginar (mas eu devo confessar, vou descrever mais o emocional e psicológico do que o ambiente propriamente dito), se foi uma leitura boa, se deu pra entender bem lendo uma vez só... Esse tipo de coisa. Vocês é que sabem, espero a ajuda e os comentários de vocês.


    Boa Leitura!




    A Décima Porta






    Índice:

    Prólogo - Os Dois Sinos (Neste mesmo post)
    Capítulo Um - A Grande Fogueira (Parte I)
    Capítulo Um - A Grande Fogueira (Parte II)
    A Carta de Umêgar - ou "Sobre Falhar com Eficiência"
    Capítulo Dois - A Prole de Bavras (Parte I)
    Capítulo Dois - A Prole de Bavras (Parte II)
    Capítulo Três - Um Caminho sem Atalhos (Parte I)
    Capítulo Três - Um Caminho sem Atalhos (Parte II)
    Capítulo Quatro - Modesta Chave de Madeira, Parte 1






    Prólogo – Os dois sinos


    A sombra de um homem se aproxima silenciosamente da imponente muralha de madeira. Feita de muitos troncos de árvores enterrados verticalmente no solo ainda com suas cascas, ela parece tão sólida que dá a impressão de estar ali desde o início dos tempos. Insetos e liquens prendem-se à superfície como se as árvores ainda estivessem vivas.

    Ele caminha de um lado para o outro atento ao muro, mordiscando levemente os lábios. Pára diante de uma das toras e olha cuidadosamente para os arredores, como que procurando por algo.

    Ao se perguntar mentalmente se aquela barreira servia para impedir intrusos de entrar ou para evitar que os monges se encontrem com as prostitutas da vizinhança, ele acha mais provável que seja a segunda opção. Afinal de contas, nos amontoados de malocas, não muito longe dali, vivem mulheres vindas de todas as redondezas – Muitas trazidas à força. Elas certamente receberiam a visita dos religiosos daquele mosteiro... pelo preço certo. Não era um reduto religioso que valorizava muito a pobreza, por assim dizer... Bastava para perceber isso que se olhasse para a suntuosa torre central que se erguia sólida em meio às outras construções do mosteiro, a única coisa que era alta o bastante para ser vista do lado de fora da grande muralha. No topo da mesma estava o campanário, onde batia um grande sino de bronze – Quando o sol o atingia, os detalhes em ouro da sua orla refletiam a luz e pareciam ter luminosidade própria, ou pelo menos é o que dizem.

    Nesse período do ano, porém, no auge do inverno, os dias passavam tão nublados que não se podia ver o sino em seu total esplendor.

    Após alguns breves minutos, um dos troncos chama a atenção do homem, cujas vestes são de uma grande simplicidade, cobertas por um manto fino e cheio de buracos feito de plantas trançadas – provavelmente cipós achados facilmente na floresta dos arredores. Ao chegar mais perto, ele passa o dedo polegar suavemente sobre a superfície da casca úmida e aromática e arranca um pequeno pedaço, levando-o às narinas. Esfrega o fragmento e cheira levemente a ponta dos dedos.

    Sorrindo quase que de modo imperceptível, ele fala:

    - Pinho amarelo. Que construtores descuidados...

    As aves marrons e alaranjadas da região vão recolhendo-se aos seus ninhos, juntamente com suas melodias discretas e sóbrias. As árvores esvaziam-se daquele leve canto, os passarinhos gradualmente acabam dando lugar às corujas e morcegos, caçadores noturnos, e por fim um vento leste ligeiramente frio vem sorrateiro, balançando as árvores em dança, fazendo sons estranhos...

    "Vai anoitecer logo” – Pensa o estranho junto à muralha – Suas mãos começam a ficar frias.

    Escurece. Perto dali, nas fronteiras do vilarejo onde se encontra o mosteiro, um grupo de cinco varões armados de adagas, vestindo capas negras de couro grosso, cobertas de trapos, chegam ofegantes a uma clareira. Lá, um homem de idade avançada que usa vestes bem costuradas fuma uma espécie de cachimbo pequeno, e o cheiro da fumaça que vai subindo até a copa das árvores é insuportável, azedo.

    Um dos homens que vinha mais atrás do grupo, segurando a vontade de fazer caretas por causa do fedor do fumo, sussurra baixinho a um outro colega, que ri: “Que tabaco dos diabos!”

    Ao que o outro responde, debochando:

    -Já ouvi dizer que esse tabaco fede porquê o velho molha ele na bile dos cadáveres depois da batalha. Mas falando sério, sem contar os boatos, ninguém sabe de onde ele tira essa porcaria. Vai ver ele compra essas folhas de algum negociante que fede a enxofre, mesmo. Lá nas grelhas de cal do submundo...

    Os dois olham um para a cara do outro, e sorriem de um jeito a mostrar bem os dentes cariados e sujos. Por um breve momento, aquela piada anima seus ânimos. Era a primeira vez que sorriam em dias, mas logo são repreendidos por outro dos cinco, que olha para os dois por cima do ombro e faz sinal para que fiquem quietos.

    O mais alto dos maltrapilhos, que estava à frente do grupo, desamarra um lenço púrpura que está em volta do seu pulso direito e, ajoelhando-se ainda com o tecido estendido em cima das mãos viradas com as palmas para cima, diz, olhando para o chão em forma de penitência:

    - Não encontramos nada. –Ele diz com a voz hesitante

    O velho tosse secamente, cospe um líquido escuro fazendo cara de nojo e responde, em tom muito grave e ríspido:

    - Então teremos que seguir as ordens secundárias. Avisem a todos.
    Os cinco entreolham-se, assustados com o que o seu superior acabara de falar. Mostrando aflição em seus rostos, não sabem como reagir.
    Um deles, justamente o que fizera o comentário sobre o velho, esboça em seu rosto a intenção de fazer menção a alguma coisa, mas é impedido por um de seus colegas que estava ao seu lado, que aperta o seu braço firmemente com a mão grande e calejada, e olha de modo sério para o seu rosto com censura, mas de um jeito amigável e fraternal, acenando negativamente com a cabeça.

    O que está ajoelhado fala, mostrando decepção e cansaço em sua voz, que sai um pouco trêmula:

    - Como desejar, senhor.

    Ao terminar de proferir essas palavras, ele amarra novamente o lenço no pulso com gestos solenes e disciplinados, levanta-se e faz sinal positivo para os outros quatro com a cabeça, como que confirmando a ordem do velho. Aqueles, visivelmente contrariados, imitam o gesto e correm em direções opostas, respectivamente para o norte, sul, leste e oeste, desaparecendo rapidamente por entre os galhos e folhas cinzentas fazendo muito pouco barulho.

    Saem largas baforadas de fumaça da boca do ancião. Ele olha para o homem do lenço, que ainda estava ali como que esperando alguma ordem, e sinaliza com a mão que ele vá embora, olhando-o nos olhos com o desprezo de quem lida com um incompetente. Quando se vê novamente sozinho na clareira, ele suga o cachimbo com força e faz uma careta fechando bem os olhos, dessa vez aspirando quase toda a fumaça. Tossindo novamente, ele tira de um bolso escondido na parte de dentro das vestes um pequeno sino dourado fixado em um cabo de madeira proporcional, pára por um momento a olhar fixamente o objeto que é ricamente adornado com desenhos de espirais em alto relevo e, depois de um longo e quase solene silêncio, sacode-o uma única vez com força, logo após segurando-o de cabeça para baixo enquanto o metal ainda treme com força – As espirais gravadas no sino pareciam girar qual redemoinho, e emitiam um calor fraco, que deu ao velho a leve sensação de estar sendo atingido pelos primeiros raios de sol da manhã.

    O som que invade a mata saindo do sino é agudo, mas límpido, totalmente afinado de uma maneira que seria agradável até aos ouvidos mais sensíveis. Naquele momento, não havia som no mundo que fosse mais belo. Nem o canto mais delicado de pássaro, nem a sonoridade da cachoeira ao bater nas pedras, não fariam par àquela melodia.

    Em poucos instantes, como que respondendo ao chamado do sino, uma multidão de soldados maltrapilhos empunhando espadas curtas e lanças sujas de barro e sangue coagulado passa dos dois lados do velho em marcha rápida. Ele fica imóvel e de olhos fechados, segurando o sino que ainda vibra. Agora, entretanto, a música de outrora é abafada pelo som dos pesados passos dos guerreiros em furor.

    Eles invadem a cidade cercada, destruindo tudo o que estivesse no caminho - Fosse vivo ou não. Não mostravam temor, nem remorso, nem sentimento algum em suas faces, embora alguns ainda tivessem os olhos marejados de lágrimas. O ancião, guardando o objeto novamente em um bolso das suas vestes, pensa: “Realmente, é um sino muito especial...”





    A.E. Melgraon I

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    Última edição por Melgraon I; 28-07-2008 às 02:21.

  2. #2
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    Salve, salve!

    Achei que não viveria para presenciar este momento! (Já comecei fazendo espetáculo... Humpf). Bem... Depois desse momento de empolgação, segue as minhas palvaras.

    Bem, nem vale comentar um ou outro acaso em relação à gramática. Quero comentar mesmo é todo esse conteúdo. Eu me senti bastante atraído pelas descrições progressivas que, por sinal, deixaram todo o ambiente bem completo e manteve o texto bem fluente.

    Gostaria de elogiar também o modo como você caminhou de uma cena para outra, de forma sutil. Vale dizer que a conclusão sobre os pinhos feita pelo homem aliada a falta de um desfecho "cenográfico" me causou curiosidade, e que o surgimento dos soldados maltrapilhos me remeteu a este comentário.

    O único ponto que fiz uma pequena e praticamente imperceptível careta foi a conseqüência do sino, mesmo o sino sendo aparentemente um objeto com poderes ainda não explícitos. Me lembrou o tipo de vilão - se realmente for um vilão - esteriotipado, que tem a personalidade serena e aparência despreocupada, mas que é um homem poderoso e de grande influência. E o modo como este batalhão marcha em direção ao objetivo e este ancião parece não se importar com o desfecho desse ato, ficando ali entre eles... "Na paz".

    Talvez o sono me faça escrever algumas besteiras e ou deixar de notar algo que derrube as minhas opiniões, mas senti a necessidade de comentar aqui assim que sentasse no computador.

    Estarei acompanhando, pode acreditar!
    _/_/_/_/_/_/_/_/_/

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  3. #3

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    Hmm... Bem, já que surgiu essa questão, acho melhor eu fazer uns comentários antes que mais alguém pense isso.

    Talvez pareça um pouco o clichê do vilão poderoso, mas veja bem, vou lançar algumas perguntas para tentar mostrar uma outra interpretação sem dar "spoil" da história:

    "O velho reagiu realmente como alguém que desejava aquela situação / não se importava com o rumo que as coisas tomaram?" (Vide o modo como ele fuma um pouco antes de tocar o sino / Vide a maneira como ele encara o fracasso do grupo)

    "O velho tem opção, ou ele está seguindo ordens?"

    "A ordem secundária, que parece ser a de invadir a cidade (Não se esqueçam que em nenhum momento eles disseram do que se trata o plano secundário.), parece ser a prioridade, uma decisão já esperada por todos, ou foi uma surpresa desagradável, mas necessária?"


    Boa leitura a todos.




    A.E. Melgraon I
    Última edição por Melgraon I; 07-05-2008 às 14:06.

  4. #4
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    Opa o/
    Li, curti bastante. Mas assim, quando você diz que a multidão dos soldados surge, vem a parecer que eles não existiam antes - como se o sino fizesse com que eles passassem do plano espiritual para a Terra. Pelo que entendi, eles já estavam lá, só que na floresta, certo?
    Pra mim, o velho agiu por conta própria, e só disse que seria o plano secundário pra ficar sozinho ;P
    Achei as descrições muito boas, tanto de como o velho se sentia e do ambiente.
    Alguma idéia de quando o próximo capítulo sairá?

  5. #5

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    @Elementals:
    Uhum, eles ja estavam na floresta.

    Olha, o ritmo de postagem de capítulos depende só de vocês. Como esses capítulos iniciais ja estão prontos, eu só preciso ir colocando eles aqui.

    Então eu vou fazer assim: Vou esperar mais algumas pessoas postarem (mas não muitas, não se preocupe), e quando eu achar que um número legal ja teve contato com o prólogo, eu coloco o primeiro capítulo, ok?

    Vou fazer isso para que vocês possam curtir um pouco o prólogo e os mistérios que ele traz. É que logo no primeiro capítulo um dos mistérios do prólogo, pelo menos, acaba resolvido, e eu acho que esse mistério vai ter menos graça pra quem ler o prólogo e logo em seguida ja ler o capítulo um... (Não sei se consegui explicar...)

    Outra coisa, querem que eu divida o capítulo um em dois, ou poste ele inteiro?
    Respondam, por favor. Essa foi uma questão que surgiu da outra vez que eu tava postando essa história.

    Ah, e não deixem de comentar por saberem que os capítulos já estão prontos. Eu não me importo nem um pouco em modificá-los, e provavelmente vou fazer isso de uma maneira ou de outra.



    A.E. Melgraon I




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  6. #6
    Avatar de Emanoel
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    Interessante, como um Prólogo tem de ser.

    Algo que eu notei foram as quase-divagações, incertezas e comentários do narrador (sorri no terceiro parágrafo). É um recurso que admiro muito, apesar de geralmente não utilizar nos meus textos.

    Citação Postado originalmente por A Décima Porta
    Sorrindo quase que de modo quase imperceptível, ele fala:

    - Pinho amarelo. Que construtores descuidados...
    Agora vou comentar sobre algo que costuma me incomodar em todo tipo de história... Pessoas costumam falar sozinhas? Eu acho isso tão anti-natural.

    Eu nunca falo sozinho... Certo, admito que converso com minha cadela - sobre futilidades - e xingo meu computador (em raríssimas ocasiões, saliento). Mas nunca analisei nada ou tirei conclusões em voz alta, sem ter ouvintes por perto. Meio estranho, mas vai saber se os outros têm esse costume, né?

    Citação Postado originalmente por Melgraon I Ver Post
    Outra coisa, querem que eu divida o capítulo um em dois, ou poste ele inteiro?
    Na minha opinião, dividir é sempre a melhor opção. Só mande "inteiro" se uma parte depender muito da outra, no caso de uma pausa ficar realmente inoportuna... A sensação de que algo foi "arrancado" é desagradável (vide as pausas comerciais grotescas em alguns filmes exibidos na televisão aberta).


    Sobre a falta de comentários... Quanto aos outros usuários eu não posso dar certeza, mas sempre conte com minha presença.

  7. #7

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    Obrigado pelos comentários, pessoal.


    @Emanoel:
    E eu acho engraçado tu falar que acha estranho pessoas falando sozinhas, porque eu converso comigo mesmo com alguma frequência...
    (Mas eu não rasgo dinheiro, então tudo bem.)


    A.E. Melgraon I
    Última edição por Melgraon I; 09-05-2008 às 07:18.

  8. #8

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    Bem, já que parece que não vai adiantar esperar mais para conseguir alguns comentários extras, vou postar o primeiro capítulo.

    Mas ja vou adiantando: Preciso saber se vocês estão lendo. Eu digo isso porque, vendo só o número de visitas, não tenho como saber se o pessoal está se animando a ler a minha história, ou apenas entra no tópico e desiste. Então, se você está acompanhando o tópico, por favor colabore e deixe aqui um comentário, nem que seja para dizer que está lendo, se gostou ou não.
    Eu preciso saber se o tópico está sendo lido ou não para avaliar se devo fazer modificações no texto, como dividir o capítulo em dois, por exemplo.

    Aliás, esse capítulo está dividido em dois. Deu pra fazer isso porque o capítulo tinha duas cenas, uma interna e outra externa. No máximo, o leitor vai perder um pouco o clima de tensão que passaria da cena externa pra interna, mas eu posso corrigir isso deixando a cena dois mais "pesada".

    Boa leitura a todos, espero que gostem.






    Capítulo Primeiro – A Grande Fogueira (Parte 1)





    Uma após a outra, as casas de madeira e barro que se espalhavam sem ordem pelo lugarejo, uma grande clareira no meio da mata, tornaram-se sucata caída em cima de corpos inertes. Os guerreiros vinham de todos os lados atacando. Correndo cegamente, não faziam diferença entre homens, mulheres ou crianças, passando-os no fio de suas lâminas. Naquele momento, haviam se tornado animais sem alma. Nem os pequenos currais onde os moradores guardavam porcos e galinhas escaparam da violência, de modo que muitos animais assustados fugiam em direção à floresta para escapar das armas dos atacantes, aproveitando a confusão e o banho de sangue. O ar estava cheio de uma mistura dos sons de gritos e urros desesperados de animais e de homens. Aquele ambiente e o som eram como que um vinho amargo que embriagava os homens armados, levando-os a um êxtase sem paixão nem emoções.

    Cadáveres caídos pelo chão enlameado e frio tingiam o solo de vermelho-escuro em alguns lugares e algumas cabanas já pegavam fogo ao serem atingidas por tochas, soltando muita fumaça e escurecendo rapidamente com as chamas que as reduziam a carvão e brasas. O fogo avançava rápido, e passava de uma casa para outra por capricho do vento, e uma neblina de fumaça dava àquela noite um ar ainda mais soturno. Aos que se retorciam, caídos, segurando desesperadamente os seus ferimentos para tentar postergar a morte, logo vinham os lanceiros para dar o golpe final, e o esforço se tornava em vão. O barulho e a gritaria teriam chamado a atenção de povoados vizinhos, mas a vegetação da floresta era densa demais e o local habitado mais próximo ficava a quilômetros de distância ao sul, uma cidade portuária localizada na costa sul do continente.

    Muitos tentavam fugir dos golpes dos invasores, mas um pequeno grupo armado vigiava as fronteiras, cercando boa parte da vila como um muro humano feito de uma fileira contínua de homens colocados de pé lado a lado com mais ou menos quatro ou cinco metros de distância entre um e outro. Eles cuidavam para que ninguém escapasse com vida, ou pelo menos quase isso. Era estranho ver esse tipo de ação militar voltada para uma aldeia pequena sem valor estratégico como aquela. Afinal de contas, Utol, como era chamada, era uma vila, e nada mais. Aquele lugar estava alojado numa clareira na beira de um dos rios que cortavam a floresta de Utala, vindo desde suas nascentes nas Montanhas Baixas, que ficavam longe dali. Não havia sequer uma guerra em andamento que justificasse a mobilização de tantos homens, nem o cerco de um lugar sem importância aparente nenhuma como aquele.

    Porém, a matança continuava. Quem ainda não havia sido atacado, nas partes mais afastadas, podia ao menos ouvir a gritaria e sentia como se o clima de morte iminente estivesse entrando pelas suas orelhas, martelando as têmporas no ritmo acelerado e frenético do coração. Alguns subiram em árvores, outros entraram nos buracos cavados no chão onde se guardava as reservas de alimento, junto com as ânforas. Grande parte foi em direção à floresta, pegando o que conseguiam carregar e deixando todo o resto para trás – Estes últimos descobriram que já estavam cercados, tarde demais. O certo era que, ao passo que algumas pessoas conseguiam se esconder, muitas outras eram encontradas logo depois e sucumbiam.

    Por fim, após algumas poucas horas desde o início do ataque, restou intacta apenas a grande construção onde ficavam os monges da vila – A única fortificação, que desde início parecia ser um estranho contraste àquele local pacato, mas que agora havia provado a serventia das suas grossas paredes externas. Ainda sim, aquele local não havia sido feito com objetivos defensivos, e portanto nem mesmo aquelas muralhas poderiam resistir a um cerco.

    Centenas de homens sujos de sangue e terra, pingando suor, batiam furiosamente com as mãos, armas e o peso de seus próprios corpos contra as muralhas.

    Um comandante jovem e bem vestido com roupas limpas se aproximou calmamente do muro, mantendo a face consternada e visivelmente de mau humor. Ele olhou com desdém para aquela massa descontrolada de homens que ignorava a sua presença. Observando-os, viu que aquelas pessoas mostravam no rosto uma intensa raiva, mas que era uma raiva vazia. Longe de estarem em perfeito juízo, babavam e grunhiam como animais selvagens, atacando o muro irracionalmente, de modo que alguns, de tanto baterem a cabeça e outras partes do corpo no muro, desmaiavam e caíam ao pé da paliçada, apenas para acordar logo depois e continuar com o ataque. Uma hora a madeira iria ceder mesmo que aqueles homens fossem o único recurso disponível de investida contra o muro, mas esse não era o plano. Ainda sim, os homens batiam continuamente, machucando suas mãos e corpos, que começavam a ficar esfolados e sangrar, fazendo um som de tambor sem nenhum ritmo.

    Olhando para trás, o militar viu que todo o vilarejo agora estava se tornando uma grande pira, iluminando o a noite e esquentando o local como se fosse verão em pleno inverno.

    Do outro lado dos troncos que vibravam com os golpes, assustados, estavam alguns garotos com pouca idade, crianças e adolescentes, usando como vestimenta longas túnicas em cor oliva, mas de um corte rude sem muitos detalhes. Eram aprendizes de monge. Dois deles, os mais velhos, que ainda nem tinham barba em seus rostos e tinham suas cabeças raspadas, ao contrário dos mais jovens, colocavam as mãos e orelhas na superfície do muro, sentindo as investidas e urros violentos.

    Ficaram assim por um momento, em total silêncio e concentração. De repente, a madeira parou de tremer - Eles se olharam então interrogativamente. A tensão tornava o ar denso, e o calor parecia sufocar-lhes lentamente.

    Logo depois veio uma batida poderosa, que com um forte barulho estremeceu a parede e os fez cair sentados no chão, apavorados. O mais novo deu um curto e apavorado grito agudo com o susto, e eles encaravam uns aos outros de olhos bem abertos. Seus corações batiam forte como se fossem maiores que o peito, ficando difícil de respirar. Nos seus semblantes se via dúvida e pavor.

    Um dos garotos então levantou-se rapidamente e fugiu sem dizer palavra alguma, como se qualquer segundo perdido naquele momento pudesse ser mortal. Ele correu o mais rápido que pôde, aos tropeços, em direção às construções centrais do mosteiro. E não olhou para trás.

    Foi quando o menor dos aprendizes começou a chorar compulsivamente e alto, entre soluços: Largas lágrimas corriam pela sua face de criança. Correndo, foi em direção a um dos garotos carecas, gritando apavorado:

    - Letur! Letur!

    Agarrou-se nas pernas do outro, que era mais velho e olhava apreensivo para os lados com a boca semi-aberta, apertando um dos braços com a mão tentando disfarçar o próprio desespero e parecer mais seguro – Em vão.

    A criança balbuciava com sua voz infantil, falando pausadamente em meio à falta de ar causada pelo choro:

    - Eu não quero morrer! Não quero!

    Ao falar isso, a criança chorou mais e mais, e seu choro misturou-se com um clamor angustiante que só o desespero mais profundo e sem esperanças poderia causar.

    Com uma pena que lhe fazia doer o peito, e agora também chorando, Letur pegou o outro no colo, trêmulo, e secou suas próprias lágrimas com os braços e ombros.

    Foi quando o grupo ouviu uma voz grave de adulto que gritava atrás deles:

    - Saiam já daí! É perigoso demais!

    Eles pularam de susto com o grito, olharam para trás e viram se tratar de um dos monges supervisores que cuidava dos mais jovens e tratava de discipliná-los. Ele parecia menos desesperado, mas olhava constantemente para todos os lados onde havia escuridão, como que temendo que alguma coisa pulasse das sombras a qualquer momento.

    - Eu estava procurando por vocês! Todo mundo está no grão-salão junto com o mestre, e as portas principais já vão ser fechadas!

    Arrastando um dos meninos mais jovens pelo braço, o supervisor foi correndo apressado em direção ao grande templo de pedra localizado no meio do mosteiro, onde ficava a torre. Os aprendizes de monge o seguiram. Um deles, que ficou para trás, ainda olhando para os muros, viu boquiaberto uma cena que seus olhos não conseguiram acreditar: Um dos troncos começava a se retorcer e transfigurar-se tomando formas que lembravam os braços ondulantes de uma dançarina, estalando e soltando um uivo melancólico, longo e grave como se estivesse ganhando vida própria e tentasse retirar a si mesmo do buraco onde estava preso.

    Um forte cheiro de pinho encheu as narinas da criança. Agora correndo desesperadamente depois de ver tal inacreditável cena, que parecia tirada de um sonho distorcido, o menino foi em direção ao salão principal e suas grandes portas negras, cheias de baixos-relevos entalhados e imagens de deuses. Juntando-se aos outros e entrando no abrigo, chegou bem a tempo de ver os ferrolhos e grilhões de ferro maciço do portão fecharem-se atrás de suas costas. Tivesse entrado um minuto depois, estaria preso do lado de fora.

    O som das batidas que vinha do exterior continuou. Desta vez, além de tremer, os troncos começavam a balançar. Não era difícil ver que a estrutura logo iria ceder.
    Última edição por Melgraon I; 31-05-2008 às 20:43.

  9. #9
    Avatar de Emanoel
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    Começar a história em um ambiente de perigo e tensão é muita covardia para com os seus leitores, Melgraon. Admito que estava achando um tanto quanto tediosa a matança inicial, mas não demorei muito para entrar no clima e temer a queda da muralha.

    O exército (provavelmente) hipnotizado - ou coisa assim - me remeteu a várias outras histórias, mas não chegou a agradar nem desagradar, por enquanto.

    É chato ficar corrigindo errinhos mínimos, mas vou destacar esse que me deu três segundos de reflexão:

    Citação Postado originalmente por A Décima Porta
    Ele parecia menos desesperado, mas olhava constantemente para todos os lados onde havia escuridão, como que temendo que alguma coisa pulasse das sobras a qualquer momento.


    Por onde andará o "estranho" do Prólogo? :rolleyes:

    Estou acompanhando.
    Última edição por Emanoel; 13-05-2008 às 07:41.

  10. #10
    Avatar de Thulio Santos Almeida
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    Citação Postado originalmente por Emanoel Ver Post
    Por onde andará o "estranho" do Prólogo? :rolleyes:
    hahaha pensava nisso agora

    foi mal a demora para vir mas estava estudando para as provas -.-"

    realmente um história de alto nível, que me prende e me faz querer saber mais... faz um tempo que eu não passava nessa seção mas da última vez que passei as coisas "não iam bem" não sei o por quê de poucas pessoas comentarem -.- suas histórias podiam servir de exemplo para aumantar a qualidade das outras.... realmente estou curioso e esperando a continuação

    no mais

    plz plz plz next cap plz plz plz (tava com saudade de dizer isso xP)

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