Isso mesmo, vocês não estão vendo uma miragem... Não é um tópico que voltou dos mortos para assombrar a seção.
Espero que gostem dessa nova versão.
Eu tenho apenas alguns capítulos iniciais ainda (O que ja é um avanço, porque eu não sei se vocês lembram, mas da outra vez que eu postei a história aqui, ela começava do capítulo 3 ou 4, pois eu ainda não tinha escrito o início.). Dessa vez, eu vou postá-la desde o zero.
Então é isso... Essa história é pra vocês do fórum. Aproveitem, e comentem por gentileza, ok? Sério, em boa parte do tempo em que escrevi, estava tentando fazer de uma maneira a atrair o interesse de vocês.
Me digam o que acharam, quais perguntas apareceram na cabeça de vocês (ou não), se conseguiram imaginar (mas eu devo confessar, vou descrever mais o emocional e psicológico do que o ambiente propriamente dito), se foi uma leitura boa, se deu pra entender bem lendo uma vez só... Esse tipo de coisa. Vocês é que sabem, espero a ajuda e os comentários de vocês.
Boa Leitura!
A Décima Porta
Índice:
Prólogo - Os Dois Sinos (Neste mesmo post)
Capítulo Um - A Grande Fogueira (Parte I)
Capítulo Um - A Grande Fogueira (Parte II)
A Carta de Umêgar - ou "Sobre Falhar com Eficiência"
Capítulo Dois - A Prole de Bavras (Parte I)
Capítulo Dois - A Prole de Bavras (Parte II)
Capítulo Três - Um Caminho sem Atalhos (Parte I)
Capítulo Três - Um Caminho sem Atalhos (Parte II)
Capítulo Quatro - Modesta Chave de Madeira, Parte 1
Prólogo – Os dois sinos
A sombra de um homem se aproxima silenciosamente da imponente muralha de madeira. Feita de muitos troncos de árvores enterrados verticalmente no solo ainda com suas cascas, ela parece tão sólida que dá a impressão de estar ali desde o início dos tempos. Insetos e liquens prendem-se à superfície como se as árvores ainda estivessem vivas.
Ele caminha de um lado para o outro atento ao muro, mordiscando levemente os lábios. Pára diante de uma das toras e olha cuidadosamente para os arredores, como que procurando por algo.
Ao se perguntar mentalmente se aquela barreira servia para impedir intrusos de entrar ou para evitar que os monges se encontrem com as prostitutas da vizinhança, ele acha mais provável que seja a segunda opção. Afinal de contas, nos amontoados de malocas, não muito longe dali, vivem mulheres vindas de todas as redondezas – Muitas trazidas à força. Elas certamente receberiam a visita dos religiosos daquele mosteiro... pelo preço certo. Não era um reduto religioso que valorizava muito a pobreza, por assim dizer... Bastava para perceber isso que se olhasse para a suntuosa torre central que se erguia sólida em meio às outras construções do mosteiro, a única coisa que era alta o bastante para ser vista do lado de fora da grande muralha. No topo da mesma estava o campanário, onde batia um grande sino de bronze – Quando o sol o atingia, os detalhes em ouro da sua orla refletiam a luz e pareciam ter luminosidade própria, ou pelo menos é o que dizem.
Nesse período do ano, porém, no auge do inverno, os dias passavam tão nublados que não se podia ver o sino em seu total esplendor.
Após alguns breves minutos, um dos troncos chama a atenção do homem, cujas vestes são de uma grande simplicidade, cobertas por um manto fino e cheio de buracos feito de plantas trançadas – provavelmente cipós achados facilmente na floresta dos arredores. Ao chegar mais perto, ele passa o dedo polegar suavemente sobre a superfície da casca úmida e aromática e arranca um pequeno pedaço, levando-o às narinas. Esfrega o fragmento e cheira levemente a ponta dos dedos.
Sorrindo quase que de modo imperceptível, ele fala:
- Pinho amarelo. Que construtores descuidados...
As aves marrons e alaranjadas da região vão recolhendo-se aos seus ninhos, juntamente com suas melodias discretas e sóbrias. As árvores esvaziam-se daquele leve canto, os passarinhos gradualmente acabam dando lugar às corujas e morcegos, caçadores noturnos, e por fim um vento leste ligeiramente frio vem sorrateiro, balançando as árvores em dança, fazendo sons estranhos...
"Vai anoitecer logo” – Pensa o estranho junto à muralha – Suas mãos começam a ficar frias.
Escurece. Perto dali, nas fronteiras do vilarejo onde se encontra o mosteiro, um grupo de cinco varões armados de adagas, vestindo capas negras de couro grosso, cobertas de trapos, chegam ofegantes a uma clareira. Lá, um homem de idade avançada que usa vestes bem costuradas fuma uma espécie de cachimbo pequeno, e o cheiro da fumaça que vai subindo até a copa das árvores é insuportável, azedo.
Um dos homens que vinha mais atrás do grupo, segurando a vontade de fazer caretas por causa do fedor do fumo, sussurra baixinho a um outro colega, que ri: “Que tabaco dos diabos!”
Ao que o outro responde, debochando:
-Já ouvi dizer que esse tabaco fede porquê o velho molha ele na bile dos cadáveres depois da batalha. Mas falando sério, sem contar os boatos, ninguém sabe de onde ele tira essa porcaria. Vai ver ele compra essas folhas de algum negociante que fede a enxofre, mesmo. Lá nas grelhas de cal do submundo...
Os dois olham um para a cara do outro, e sorriem de um jeito a mostrar bem os dentes cariados e sujos. Por um breve momento, aquela piada anima seus ânimos. Era a primeira vez que sorriam em dias, mas logo são repreendidos por outro dos cinco, que olha para os dois por cima do ombro e faz sinal para que fiquem quietos.
O mais alto dos maltrapilhos, que estava à frente do grupo, desamarra um lenço púrpura que está em volta do seu pulso direito e, ajoelhando-se ainda com o tecido estendido em cima das mãos viradas com as palmas para cima, diz, olhando para o chão em forma de penitência:
- Não encontramos nada. –Ele diz com a voz hesitante
O velho tosse secamente, cospe um líquido escuro fazendo cara de nojo e responde, em tom muito grave e ríspido:
- Então teremos que seguir as ordens secundárias. Avisem a todos.
Os cinco entreolham-se, assustados com o que o seu superior acabara de falar. Mostrando aflição em seus rostos, não sabem como reagir.
Um deles, justamente o que fizera o comentário sobre o velho, esboça em seu rosto a intenção de fazer menção a alguma coisa, mas é impedido por um de seus colegas que estava ao seu lado, que aperta o seu braço firmemente com a mão grande e calejada, e olha de modo sério para o seu rosto com censura, mas de um jeito amigável e fraternal, acenando negativamente com a cabeça.
O que está ajoelhado fala, mostrando decepção e cansaço em sua voz, que sai um pouco trêmula:
- Como desejar, senhor.
Ao terminar de proferir essas palavras, ele amarra novamente o lenço no pulso com gestos solenes e disciplinados, levanta-se e faz sinal positivo para os outros quatro com a cabeça, como que confirmando a ordem do velho. Aqueles, visivelmente contrariados, imitam o gesto e correm em direções opostas, respectivamente para o norte, sul, leste e oeste, desaparecendo rapidamente por entre os galhos e folhas cinzentas fazendo muito pouco barulho.
Saem largas baforadas de fumaça da boca do ancião. Ele olha para o homem do lenço, que ainda estava ali como que esperando alguma ordem, e sinaliza com a mão que ele vá embora, olhando-o nos olhos com o desprezo de quem lida com um incompetente. Quando se vê novamente sozinho na clareira, ele suga o cachimbo com força e faz uma careta fechando bem os olhos, dessa vez aspirando quase toda a fumaça. Tossindo novamente, ele tira de um bolso escondido na parte de dentro das vestes um pequeno sino dourado fixado em um cabo de madeira proporcional, pára por um momento a olhar fixamente o objeto que é ricamente adornado com desenhos de espirais em alto relevo e, depois de um longo e quase solene silêncio, sacode-o uma única vez com força, logo após segurando-o de cabeça para baixo enquanto o metal ainda treme com força – As espirais gravadas no sino pareciam girar qual redemoinho, e emitiam um calor fraco, que deu ao velho a leve sensação de estar sendo atingido pelos primeiros raios de sol da manhã.
O som que invade a mata saindo do sino é agudo, mas límpido, totalmente afinado de uma maneira que seria agradável até aos ouvidos mais sensíveis. Naquele momento, não havia som no mundo que fosse mais belo. Nem o canto mais delicado de pássaro, nem a sonoridade da cachoeira ao bater nas pedras, não fariam par àquela melodia.
Em poucos instantes, como que respondendo ao chamado do sino, uma multidão de soldados maltrapilhos empunhando espadas curtas e lanças sujas de barro e sangue coagulado passa dos dois lados do velho em marcha rápida. Ele fica imóvel e de olhos fechados, segurando o sino que ainda vibra. Agora, entretanto, a música de outrora é abafada pelo som dos pesados passos dos guerreiros em furor.
Eles invadem a cidade cercada, destruindo tudo o que estivesse no caminho - Fosse vivo ou não. Não mostravam temor, nem remorso, nem sentimento algum em suas faces, embora alguns ainda tivessem os olhos marejados de lágrimas. O ancião, guardando o objeto novamente em um bolso das suas vestes, pensa: “Realmente, é um sino muito especial...”
A.E. Melgraon I
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(tava com saudade de dizer isso xP) 