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Tópico: Senhores Bíblicos

  1. #1
    Avatar de Wk~
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    Post Senhores Bíblicos

    Caros, decidi compartilhar uma história que estou construindo aos poucos - e bem lentamente. Imagino que toda sorte de comentários pode me ajudar a construir uma obra melhor.

    Abaixo sempre atualizarei o 'índice'.

    SENHORES BÍBLICOS
    Prólogo | 13/06
    Capítulo 01| 14/06
    Capítulo 02 | 19/06





    Prólogo

    Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram.
    Gênesis, 3:6-7





    Capítulo 01

    Era madrugada e os faróis do veículo utilitário iluminavam a estrada sinuosa, o motorista sabia que naquela hora não haveria trânsito para atrasá-lo, mas a neblina o fazia dirigir com mais cautela.

    A viagem era solitária, então uma música pop o acompanhava e impedia que os olhos fechassem de tédio. Não bastasse a escuridão, sabia que o guardrail enferrujado não seria suficiente para separá-lo do precipício a sua direita e, por isso, estava tenso, mas era responsável ao volante, sua avó sempre falava isso - logo riu ao lembrar da senhora que reclamava de suas curvas a 30 km/h - então se mantinha confiante.

    A poucos minutos de se livrar daquela quantidade desnecessária de curvas, sentiu seu coração parar e seu veículo derrapar até fazer o mesmo. Iluminado pelas lanternas de seu carro, um homem em trajes sociais olhava para baixo, na beirada da estrada onde o frágil guardrail sobre o qual havia pensado anteriormente estava destruído, envergado na direção do precipício - um acidente.

    Pegou logo uma lanterna no porta malas e desceu correndo do carro, o homem caminhava com dificuldades em sua direção, meio torto e mancando, enquanto uma das mãos acenava e tentava logo agarrar qualquer coisa no ar, a outra segurava a própria barriga, pressionando uma mancha vermelha de aspecto molhado. Sob a luz dos faróis era possível notar a pele pálida, as olheiras escuras e os cortes no rosto, quando passou o braço daquela pessoa sobre seu pescoço pôde sentir a mão fria - foi quando percebeu que ele morreria, independente do seu esforço.

    - Tem alguém lá em baixo? - o arrepio na coluna fez estremecer todo o corpo diante da afirmação - Fica aqui, o ar quente do carro vai te ajudar.

    Correu até a beirada da estrada e notou o carro la embaixo, com um dos faróis ainda aceso e projetando sua luz em direção ao barranco. Ficou calculando como faria para chegar lá e como faria para voltar caso conseguisse ajudar a pessoa que estava lá embaixo, sacou o celular ligou para a emergência, se imaginando com um mínimo de sorte por ter sinal com todos aqueles morros por perto.

    Enquanto aguardava na linha e encarava a cena a poucos metros de si, notou o corpo estendido próximo das luzes. Virado para cima, parecia ter tentado escalar a parede e desistido do esforço, ele queria saber se aquela pessoa estava viva, descer correndo para acudi-la, então notou que ela tinha o mesmo traje social do homem em seu carro, a calça escura, a camisa branca… A mesma camisa branca com a mesma mancha vermelha de aspecto molhado. Virou para o próprio carro, com os pelos do corpo eriçados, e percebeu que o homem que o encarava de dentro do seu carro era o mesmo corpo que jazia sem vida na base do barranco.

    Gênesis 4:1

    Era fim de tarde e as silhuetas das árvores se projetavam no céu cinza e laranja, era possível ouvir o alvoroço dos pássaros que se aninhavam nas copas e o ronronar preguiçoso dos animais, reagrupando os bandos.

    Na contramão da paz que se estendia pela natureza, gritos de dor ecoavam de uma pequena caverna de pedras, cujo interior era composto por folhas de árvores, vegetais sujos de terra e brasas meio mornas. Os gritos de Havvah seguiam o ritmo das contrações e só davam trégua quando lhe faltava o ar, mas apesar de todo o desespero, estava alheia a todo o distúrbio que causava e só lembrava das palavras de seu próprio criador - “multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição, com dor darás à luz os seus filhos”.

    Poderia ser rainha. Como primeira mulher do mundo, deveria mesmo ter um título que denunciasse sua condição, mas jogada no barro e com calos na mão, sabia que Deus havia escolhido para ela um fardo menos nobre e, naquela noite, só lhe restava gritar.

    Sabia que estava de olhos abertos porque enxergava os pontos laranjas das brasas ali por perto, mas de cócoras na terra batida, foi incapaz de romper o breu daquela noite e vislumbrar a lama de lágrimas, sangue e suor sobre a qual seu primeiro bebê foi lançado, não teve forças pra tatear em busca daquele corpinho e sentiu o próprio corpo ceder e a poeira grudar nas pernas e costas molhadas. Sozinha, torceu para que a criança se acomodasse no calor entre suas pernas.

    - Adamá… Adamá…

    Não tardou para que o primeiro choro do mundo rompesse do peito da criança com força suficiente para tirar a própria mãe do transe e da exaustão, ao abrir os olhos notou a silhueta que tomava seu filho no colo. Apesar da escuridão daquela noite, Havvah pode vê-lo com clareza e logo soube que se tratava de um conhecido de longa data.

    - Samael, o que faz aqui? O meu filho! - O corpo se eriçava e os braços, esticavam.

    - Mas… Mas eu só estava cuidando dele, Havvah. Jogado na lama…

    - Já faz tanto tempo - ela segurava o bebê pela primeira vez - achei que já tivesse se exilado deste mundo.

    - Ah… Pequena… Este mundo é o meu exílio, e a gente sabe que 130 anos é tão pouco… Qual será o nome da criança?

    - O Senhor me de um filho homem, seu nome será Caim.

    - Qayin, a lança.

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  2. #2
    Avatar de Lipe Tenebroso
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    wk~ so uma duvida a sua historia é ambientada no tibia e no universo tibiano?

  3. #3
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    Citação Postado originalmente por Lipe Tenebroso Ver Post
    wk~ so uma duvida a sua historia é ambientada no tibia e no universo tibiano?
    Acho que não leu né Lipe? Carros, Guardrail, farol...aiuehiueauieah

    Me interessei mais pela primeira história, achei bem legal, podia ter continuado.

  4. #4
    Avatar de Wk~
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    Citação Postado originalmente por Lipe Tenebroso Ver Post
    wk~ so uma duvida a sua historia é ambientada no tibia e no universo tibiano?
    Lipe, ela não é ambientada em Tibia não. É um mundo fictício, parecido com o nosso.

    Citação Postado originalmente por Datt Ver Post
    Acho que não leu né Lipe? Carros, Guardrail, farol...aiuehiueauieah

    Me interessei mais pela primeira história, achei bem legal, podia ter continuado.
    Datt, é uma história só e este foi o primeiro capítulo. Vou aguardar mais alguns comentários e postarei o próximo.
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  5. #5
    Avatar de Lipe Tenebroso
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    Citação Postado originalmente por Datt Ver Post
    Acho que não leu né Lipe? Carros, Guardrail, farol...aiuehiueauieah

    Me interessei mais pela primeira história, achei bem legal, podia ter continuado.
    nao, eu li e percebi sim que o primeiro texto era ambientado num mundo como o nosso no nosso tempo com carros e talz eu so perguntei se era ambientado no tibia porque poderia se tipo aqueles enredos em que o personagem e transportado para dentro do jogo como se ele entrasse em uma dimensao paralela foi nesse sentido que eu perguntei




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  6. #6
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    Citação Postado originalmente por Lipe Tenebroso Ver Post
    nao, eu li e percebi sim que o primeiro texto era ambientado num mundo como o nosso no nosso tempo com carros e talz eu so perguntei se era ambientado no tibia porque poderia se tipo aqueles enredos em que o personagem e transportado para dentro do jogo como se ele entrasse em uma dimensao paralela foi nesse sentido que eu perguntei
    Eu entendi, só brinquei com a ideia. =)

  7. #7
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    Bem interessante. Você escreve bem, dá bons detalhes sobre o que está acontecendo, é de longe o que mais gostei.

    O único problema é que, infelizmente, essa não é a seção para você postar esse tipo de história. Aqui, apenas as histórias ambientadas no mundo tibiano podem permanecer, as que não são sobre devem ser postadas na seção de Literatura, em OFF-Topic>Cultura. Se um moderador ver, capaz que ela vá parar lá. Mesmo assim, continue, a seção anda tão parada que eu não vejo problema de uma história não relacionada ao Tibia ser postada aqui.



    ◉ ~~ ◉ ~ Extensão ~ ◉ ~ Life Thread ~ ◉ ~ YouTube ~ ◉ ~ Bloodtrip ~ ◉ ~ Bloodoath ~ ◉ ~~ ◉

  8. #8
    Avatar de Wk~
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    Capítulo 02


    O som do celular quicando no chão o trouxe de volta para uma consciência dolorosa, seu peito ardia sob a pressão de seu coração acelerado, que parecia um pequeno tambor em seus próprios ouvidos. Os olhos estavam cheios de lágrimas, os músculos da face todos retesados, a garganta se emaranhava em uma rede de nós que dificultava a respiração e segurava o choro no céu da boca. Tentava amparar o estômago com a mão cerrada quando percebeu que ele parecia ser amassado, contorcido em uma sopa de órgãos.

    O homem dentro do carro apoiava o rosto na janela do carona e tinha sua bochecha deformada e a boca meio aberta pelo vidro que tentava segurar aquela cabeça que escorregava de sua posição inicial, com um único olho encarava, apático, seu salvador.

    Ele encarou aquele olhar como uma mensagem sádica e foi arrebatado pelos sentimentos. Os dedos das mãos estavam tão rígidos que começaram a ferir a própria palma, logo as têmporas começaram a palpitar e, sozinho, ele começou a chorar, se esforçando para conter, sem sucesso, os engasgos enquanto mordia os lábios. Em meio aos soluços, com a visão meio embaçada, correu na direção contrária ao carro, subindo sem destino a ladeira levemente inclinada.

    Mesmo zonzo, através do parabrisas ele pôde sentir o raciocínio daquele homem se formar como se estivesse lendo as páginas de um livro. Naquele estado deplorável, conseguiu acompanhar a corrida com apenas um dos olhos até a silhueta sumir entre a névoa e algumas curvas. Ajeitou o copo no assento e jogou a cabeça para trás, se permitindo um momento de desleixo, que foi sorrateiramente se estendendo em um sono leve.

    Em seus sonhos ele surgiu do banco traseiro de um pequeno carro e seus olhos se encontraram pelo retrovisor, iniciando imediatamente uma briga pouco técnica, com golpes limitados pelo espaço do veículo e pela preocupação de ambos em descarrilar ladeira abaixo. Já sem se lembrar dos pedais do veículo, a tentativa de fazer uma curva sem qualquer redução da velocidade os jogava para fora da pista e ele ficava preso no carro. Na primeira vez que sonhou, seu pé ficava preso em alguma ferragem, na segunda seu oponente conseguia segurá-lo a tempo, outras vezes pulava do carro, mas logo era arremetido pela porta e tinha o mesmo destino, mas nunca sentiu o impacto - o sonho sempre reiniciava bem a tempo de salvá-lo.

    Quando a cabeça escorregou de seu encosto e pendeu sobre o pescoço flácido, ele acordou assutado, se debatendo no painel do carro e abrindo sem querer o porta-luvas. Olhou assustado ao redor tentando se localizar, percebeu primeiro o silêncio do ambiente e então notou que ainda era noite - não soube dizer por quanto tempo dormira. Notou também o carro apagado, o apoio vazio para celulares colado no vidro, a pilha de revistas e a cadeirinha de elevação para crianças no banco traseiro, e então lembrou de que aquele carro era de alguém.

    Lembrava de te-lo visto correndo morro acima, mas não se esforçou para recapitular o motivo, o que ele sabia é que sua vida dependia da vida daquele homem e, a julgar pela neblina do lado de fora do veículo, a vida do outro também estava em risco. Tentou deslocar o próprio corpo para o banco do motorista, mas sentiu as costelas arderem e o abdome molhar em dor aguda, preferiu dar a volta. Tentou dar a partida no utilitário muitas vezes, mas nem mesmo os faróis se iluminavam, então lembrou da música que ouvira quando fora colocado no carro e da brisa quente e incômoda batendo no seu rosto. Mais cedo naquela noite fizera questão de desligar os dois, mas havia ignorado o fato de o carro permanecer ligado.

    Aparentemente sem opções, começou a andar, meio torto e meio manco, na direção que achava ter visto o homem correr. As pontadas em seu abdome eram constantes e logo passaram para uma dor crônica, por jogar o peso para o lado bom do corpo, também sentiu as cãibras começarem na coxa direita. Após dez minutos de um caminhada lenta e inclinada, os músculos de suas pernas deixavam para trás a palpitação para dar lugar a uma tremedeira visível através da calça social, as dores nas costelas arcavam seu corpo em um “cê”.

    Quando avistou um montinho na beira da estrada se imaginou gastando o resto da energia que tinha para chegar correndo a um cadáver, então não se apressou, mas para sua surpresa, aquele corpo reagiu a sua presença. O homem jogado no chão tremia mais que as coxas dele, sua pele estava pálida e o bater dos dentes foi a primeira coisa que ouviu, ainda a uma certa distância. Ao se abaixar na direção dele, pode ver os olhos se arregalarem de medo e sentir o corpo enrijecido começar a se debater, as mãos tentando agarrar o asfalto em um rastejo débil.

    - Shh… Você precisa de ajuda. Não, não, pára de lutar… Vai morrer aqui fora.

    - Eu… Eu torci meu pé.

    - Você deve estar mal… Não ta pior que eu. - o pigarro revelando o desdém.

    - Eu vi… vi você morto, seu corpo no carro… Você veio me buscar? Eu não quero morrer…

    - Como!? Eu sou o que, anjo da morte? Pára de chorar, vem… levanta! Vamos tentar voltar para o seu carro.

    Sem forças ou alternativas, as mãos se tocaram e a consciência de seus corpos gelados tomou espaço em seus pensamentos. Ajudar aquele homem desajeitado a se levantar causou novas ondas de dor pelo seu corpo, mas mesmo assim se fez de apoio para um homem bem mais frágil que ele. Quando fizeram a última curva antes de avistar o veículo, se depararam com uma luminosidade inesperada, outro carro havia parado no acostamento da via, alguém andava próximo do guardrail quebrado e gesticulava com um triângulo de sinalização nas mãos.

    Gênesis 4:2

    O véu de cipós e folhas que protegia a entrada da caverna de pedras não era espesso o suficiente para bloquear as primeiras luzes da manhã, que lá dentro encontrava uma pequena família, agrupada de joelhos frente a um punhado de verduras e frutas, sussurrando palavras de reconhecimento e agradecimento pelo novo dia que surgia.

    Nos quatro anos que seguiram o nascimento de Caim, a pequena família havia aprendido sobre sua nova condição e como seria possível sobreviver a ela. A gruta onde moravam agora contava com uma uma entrada protegida do frio, próximo de um amontoado de folhas largas que parecia ser o modelo rústico de uma cama estavam os montes de lã de ovelha, que se trançavam pouco a pouco na forma de uma coberta, um olhar mais atento notaria os pequenos buracos no chão que ajudavam a manter os alimentos preservados por mais tempo. Também havia uma luminosidade laranja, característica dos tempos anteriores ao pequeno Caim, proveniente de brasas que não pareciam se atiçar por completo, mas que também não eram consumidas, não importava quanto tempo passasse.

    Após repassar por uma extensa lista de agradecimentos, Adamá havia autorizado a refeição, Havvah procurou entre as frutas algo cuja aparência lhe agradava, mas tocando-as no chão se lembrou de um passado distante e, envergonhada, logo levou à boca o que estava em sua mão no momento, se estremecendo inteira ao morder uma laranja ainda com casca. Caim sequer percebeu a desatenção da mãe, passou a mão na primeira coisa que alcançou e correu para fora da caverna, quase batendo os calcanhares sujos na bunda pelada, antes de Havvah aproveitar o buraco que abrira com seus dentes para arrancar pedaços de casca com a mão.

    O céu sem nuvens dava um tom radiante para a natureza ao redor do lar de Caim, deixava o verde da grama das ovelhas mais verde, as copas das árvores pareciam mais frondosas, mas mesmo assim, ao se aproximar da orla floresta, era possível ver delicados feixes de luz atravessá-las. Caim gostava de admirar a fina poeira que flutuava de um feixe para o outro, sumindo de sua visão enquanto navegava pelas sombras claras da manhã, mas a pequena criança pouco se demorava ali, sabia que tinha uma missão pessoal a cumprir em todas as manhãs.

    O garoto caminhou entre as poucas ovelhas, sendo pouco mais de uma cabeça mais alto do que elas, e riu daquela que sua mãe havia tirado a lã, com seu corpo rosado e ralos tufos brancos espalhados. Colocou sobre o ombro uma comprida casca de árvore em formato de calha, arranhando o ombro nu, e entrou na mata aberta em direção ao riacho.

    Naquela manhã os sons da floresta eram suaves e, no seu caminho, ouviu os insetos e pássaros cantando, grupos de ursos se arranhando nas árvores e outros barulhos cuja origem permaneceu desconhecida. As margens do riacho eram rasas e calmas, com pequenas pedras redondas que faziam cócegas nos pés de Caim, mas seu pai já havia lhe mostrado uma outra porção deste mesmo córrego, com suas águas esbranguiçadas pela correnteza, então sempre que queria se molhar, o garoto se mantinha à distância, literalmente, de um pulo da margem.

    Caim se ajoelhou na areia grossa na beirada do riacho e sentiu a água endurecendo os dedos de suas mãos, e apesar do início de manhã frio, se sentia bem com a sensação. Soltou a calha de madeira no chão e tomou uma pequena distância da margem, correndo sem pensar e saltando meio sem preparo, querendo cair em pé dentro da água.

    Mal tocou o fundo, sentiu os pés escorregarem e o corpo desabar pra trás, o baque na água gelada expulsou o ar de seus pulmões, desesperado e encolhido, se levantou tão rápido quanto havia caído e correu a distância de um pulo até a margem. Levantou a cabeça enquanto saltava para fora do rio e teve tempo de ver o homem na sua frente, mas sem ter como desviar, seu corpo quicou no dele e se viu de novo sentado dentro da água.

    Sentiu toda a sensação de congelamento outra vez, mas continuou dentro do riacho, olhando impressionado para aquele homem alto, que devolvia o olhar sorrindo, sem menção de ajudá-lo.

    - Bom dia, Qayin.
    Última edição por Wk~; 19-06-2015 às 20:15.
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  9. #9
    desespero full Avatar de Iridium
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    Saudações!

    Bem, primeiramente bem vindo à Seção! (Não sei se vc já postou antes nessas bandas, rsrs)

    Eu gostei bastante da sua história! Ela me lembra um pouco o cenário geral da série de RPGs de World of Darkness (Mundo das Trevas) da White Wolf, especialmente pelo nome "Caim", que é extremamente importante para a mitologia do WoD. Já me ganhou aí, hahaha! XD

    Além disso, você escreve muito bem; seus capítulos são gostosos de ler e sua ambientação é fantástica. Fora que é um enredo bem diferente do que tempos por aqui. Ainda assim, espero que essa história não seja movida para o Off-Topic daqui. Ao menos não por agora -- essa história é uma que vale muito a pena ler. Continue, que estarei por aqui acompanhando!

    Abraço,
    Iridium



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