Caros, decidi compartilhar uma história que estou construindo aos poucos - e bem lentamente. Imagino que toda sorte de comentários pode me ajudar a construir uma obra melhor.
Abaixo sempre atualizarei o 'índice'.
Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram.
Gênesis, 3:6-7
Capítulo 01
Era madrugada e os faróis do veículo utilitário iluminavam a estrada sinuosa, o motorista sabia que naquela hora não haveria trânsito para atrasá-lo, mas a neblina o fazia dirigir com mais cautela.
A viagem era solitária, então uma música pop o acompanhava e impedia que os olhos fechassem de tédio. Não bastasse a escuridão, sabia que o guardrail enferrujado não seria suficiente para separá-lo do precipício a sua direita e, por isso, estava tenso, mas era responsável ao volante, sua avó sempre falava isso - logo riu ao lembrar da senhora que reclamava de suas curvas a 30 km/h - então se mantinha confiante.
A poucos minutos de se livrar daquela quantidade desnecessária de curvas, sentiu seu coração parar e seu veículo derrapar até fazer o mesmo. Iluminado pelas lanternas de seu carro, um homem em trajes sociais olhava para baixo, na beirada da estrada onde o frágil guardrail sobre o qual havia pensado anteriormente estava destruído, envergado na direção do precipício - um acidente.
Pegou logo uma lanterna no porta malas e desceu correndo do carro, o homem caminhava com dificuldades em sua direção, meio torto e mancando, enquanto uma das mãos acenava e tentava logo agarrar qualquer coisa no ar, a outra segurava a própria barriga, pressionando uma mancha vermelha de aspecto molhado. Sob a luz dos faróis era possível notar a pele pálida, as olheiras escuras e os cortes no rosto, quando passou o braço daquela pessoa sobre seu pescoço pôde sentir a mão fria - foi quando percebeu que ele morreria, independente do seu esforço.
- Tem alguém lá em baixo? - o arrepio na coluna fez estremecer todo o corpo diante da afirmação - Fica aqui, o ar quente do carro vai te ajudar.
Correu até a beirada da estrada e notou o carro la embaixo, com um dos faróis ainda aceso e projetando sua luz em direção ao barranco. Ficou calculando como faria para chegar lá e como faria para voltar caso conseguisse ajudar a pessoa que estava lá embaixo, sacou o celular ligou para a emergência, se imaginando com um mínimo de sorte por ter sinal com todos aqueles morros por perto.
Enquanto aguardava na linha e encarava a cena a poucos metros de si, notou o corpo estendido próximo das luzes. Virado para cima, parecia ter tentado escalar a parede e desistido do esforço, ele queria saber se aquela pessoa estava viva, descer correndo para acudi-la, então notou que ela tinha o mesmo traje social do homem em seu carro, a calça escura, a camisa branca… A mesma camisa branca com a mesma mancha vermelha de aspecto molhado. Virou para o próprio carro, com os pelos do corpo eriçados, e percebeu que o homem que o encarava de dentro do seu carro era o mesmo corpo que jazia sem vida na base do barranco.
Gênesis 4:1
Era fim de tarde e as silhuetas das árvores se projetavam no céu cinza e laranja, era possível ouvir o alvoroço dos pássaros que se aninhavam nas copas e o ronronar preguiçoso dos animais, reagrupando os bandos.
Na contramão da paz que se estendia pela natureza, gritos de dor ecoavam de uma pequena caverna de pedras, cujo interior era composto por folhas de árvores, vegetais sujos de terra e brasas meio mornas. Os gritos de Havvah seguiam o ritmo das contrações e só davam trégua quando lhe faltava o ar, mas apesar de todo o desespero, estava alheia a todo o distúrbio que causava e só lembrava das palavras de seu próprio criador - “multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição, com dor darás à luz os seus filhos”.
Poderia ser rainha. Como primeira mulher do mundo, deveria mesmo ter um título que denunciasse sua condição, mas jogada no barro e com calos na mão, sabia que Deus havia escolhido para ela um fardo menos nobre e, naquela noite, só lhe restava gritar.
Sabia que estava de olhos abertos porque enxergava os pontos laranjas das brasas ali por perto, mas de cócoras na terra batida, foi incapaz de romper o breu daquela noite e vislumbrar a lama de lágrimas, sangue e suor sobre a qual seu primeiro bebê foi lançado, não teve forças pra tatear em busca daquele corpinho e sentiu o próprio corpo ceder e a poeira grudar nas pernas e costas molhadas. Sozinha, torceu para que a criança se acomodasse no calor entre suas pernas.
- Adamá… Adamá…
Não tardou para que o primeiro choro do mundo rompesse do peito da criança com força suficiente para tirar a própria mãe do transe e da exaustão, ao abrir os olhos notou a silhueta que tomava seu filho no colo. Apesar da escuridão daquela noite, Havvah pode vê-lo com clareza e logo soube que se tratava de um conhecido de longa data.
- Samael, o que faz aqui? O meu filho! - O corpo se eriçava e os braços, esticavam.
- Mas… Mas eu só estava cuidando dele, Havvah. Jogado na lama…
- Já faz tanto tempo - ela segurava o bebê pela primeira vez - achei que já tivesse se exilado deste mundo.
- Ah… Pequena… Este mundo é o meu exílio, e a gente sabe que 130 anos é tão pouco… Qual será o nome da criança?
- O Senhor me de um filho homem, seu nome será Caim.
- Qayin, a lança.
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