Saudações!
Nossa, quantos anos que não escrevo, de fato, por aqui! Na época em que parei com a história, eu estava passando por um período complicado da minha vida leia-se, eu tinha terminado com o namorado que tive por quase cinco anos e tava UMA MERDA fazer QUALQUER COISA e eu me afundei no jogo, junto a um bloqueio artístico que demorei a quebrar. Acabou juntando outros problemas, pandemia, as pessoas deixando de estar aqui... Enfim.
Assim como o @Gabriellk~, que já me acompanha a alguns anos, e a @Marjyh, que foi uma grata surpresa (e ainda me pergunto como não nos conhecemos nos idos de 2011 aqui no Fórum), decidi completar Behogár Bradana... Pelo prazer de completar. Em meu site, eu farei a versão em quadrinhos dessa história, sim, com algumas modificações para deixar ainda mais pertencente a mime sem o risco da Cipsoft me processar, e espero que gostem.
Eu alterei o post inicial com informações relevantes, como os títulos desse capítulo e o próximo (que já estavam planejados desde 2018, faltava só postar mesmo) e os títulos dos dois últimos arcos. O meu planejamento original para a história segue firme e forte e eu espero que gostem!
Spoiler: Respostas
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Spoiler: Bônus Musical
Capítulo Quatro — Admirável Caçada Nova
A caçada pode ser algo mais subjetivo e introspectivo do que aparenta.
Um estrondoso rugido irrompeu no ar uma última vez antes de ser silenciado por completo; escamas jaziam no chão em meio ao sangue e os estilhaços de madeira. Só havia o barulho da respiração pesada, o chiar da carne que deixava de queimar e dos pingos de suor contra o couro e a areia no chão.
Da pilha de carne queimada, cujo peso equivaleria a pelo menos três a cinco toneladas, ergue-se uma figura bípede, de pernas fortes, ruiva e com sua besta erguida acima de sua cabeça. Seus olhos claros ainda percorriam a caverna, buscando sobreviventes.
Não havia mais nada ali senão os cadáveres dos dragões que a desafiaram. Não havia mais nada além da areia, do sangue, das pedras que compunham as paredes, do silêncio e Bradana.
Ela vivia. Ela respirava. Ela bradava de alegria, orgulhosa de si, ao ver que o desafio havia sido vencido.
*****
(Narrado por Bradana)
Eu mal conseguia acreditar em meus olhos; meu corpo, minhas pálpebras, minha respiração… Tudo pesava. Eu estava exausta e ferida; aqueles dragões vieram com fogo e fúria para cima de mim, quebrando o chão com suas passadas fortes e suas garras afiadas.
O chão estava esfacelado, com o sangue misturado às escamas e pedregulhos que foram levantados pela batalha. Dos animais mortos, cada um medindo cerca de cinco vezes o meu tamanho em altura e sete vezes em comprimento, consegui obter parte de suas escamas fortes como recompensa.
Minhas mãos tremiam; tentei alcançar a faca de obsidiana que eu tinha em meio aos meus pertences, mas senti tudo girar. Minha cabeça estava leve e minha visão foi ficando mais e mais turva; comecei a ouvir passos, leves e delicados, ecoando em meio àquele recinto. Ergui meus olhos em direção àquele som, agarrando minha besta com o que restava de minhas forças, mas tudo que pude ver foi uma silhueta antes de perder a consciência.
*****
— Acorda! Por favor…
Meu corpo parecia leve, como se eu flutuasse, simplesmente, no vazio. Eu simplesmente não conseguia abrir meus olhos, e sentia meu coração falhar. Algo pressionava meu peito, rápido, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes… Mas eu não parecia capaz de sair daquele vazio. E aquela voz, que poderia mudar meu destino, parecia longe, tão longe…
— Bradana, não… Respira..!
Respirar? Como? Se meu nariz parecia… Horrível. Eu não conseguia fazer algo tão simples, o que um bebê costumava fazer. Respirar. Estava doendo. Meu corpo parecia… Ir embora. Seria esse o fim da minha história? Derrotada por… Fumaça? Depois de matar cinco dragões sozinha? E aquela voz, para onde estava indo? O dono dela ainda estaria por ali, pronto para me ajudar… Ou terminar aquilo que os dragões começaram e não puderam finalizar?
— Fica comigo, por favor…
E foi aí que eu senti um toque macio, um sopro delicado e forte, me trazendo de volta à vida. Antes, minha mente, que parecia tão leve e flutuar rumo ao desconhecido, foi jogada de volta ao meu corpo com a velocidade de uma âncora em direção ao fundo do oceano. Meus pulmões, que pareciam indiferentes às minhas tentativas fúteis de enchê-los com ar, pareciam receber o ar de um tufão, e meus olhos, tão machucados pelo ar tóxico, pareciam renovados ao ponto que foi fácil abri-los.
E dar de cara com ela. Colada no meu rosto. Seus lábios colados nos meus, soprando ar de volta aos meus pulmões, me impedindo de conhecer os deuses antes da hora. A única pessoa possível.
Audrey Raines.
****
(Narrado por Audrey Raines)
Naquele momento, eu não era mais a dona de meu corpo. Eu não era mais dona de mim mesma.
—Hm…!
Não tenho certeza ao certo o que me levou a Ankrahmun, semanas atrás, e me fez permanecer; não gosto de lidar com a necrocracia daquela cidade-estado, que ofende os ensinamentos da luz que carrego comigo. Os mortos devem permanecer mortos, sempre pensei assim. Fui ensinada a pensar assim. Independente de tudo isso, contra meu melhor senso, eu estava lá. Eu pude estar lá, na hora certa e no momento certo, e tudo porque ela estava próxima de uma tumba que eu queria investigar.
— Audrey…?
Ela. Tinha que ser ela, mesmo. Atrapalhada, estabanada, falando alto para todos ouvirem… Desafiando meu marido. Marido esse que, bem… Não é o que eu gostaria. Ao menos não para mim. É um bom homem, mas… Não é para mim. O que era uma expedição para investigar a tumba abandonada daquele que chamavam Horestis, tornou-se uma missão de resgate.
— Bradana… — Balbuciei, olhando atentamente para o rosto ferido da garota que tinha pouco mais da metade de minha altura, mas cinco vezes a minha coragem.
— O que…? Como…? — Ela começou a articular, desorientada, a voz trêmula em meio à dor e ao choque de ter quase morrido.
— Sshh. Está tudo bem. —Falei, ajudando a anã a sentar-se com alguma postura, amparando seu corpo em um abraço que eu não queria soltar. — Foram eles, os dragões… E a fumaça de seus corpos.
— Você… Você me salvou. — Ela falou, ofegante, com seu par de piscinas fitando-me em um misto de susto e admiração. Ah, como a luz dos sóis faz um lindo reflexo neles…
— E eu faria de novo. Quantas vezes fossem necessárias, eu faria… — ‘Tudo por você. Eu faria tudo por você’, eu pensei, mas não consegui dizer. Não ousei dizer, apenas pensar.
— Você… Me beijou? — A ruiva me perguntou, piscando devagar e com os lábios entreabertos. Era um convite? E se fosse, eu deveria aceitar?
— Eu… Err… É uma manobra…! Isso, uma manobra! — Respondi, acuada, pela primeira vez em muito tempo. — Então, os xamãs de Nibelor me ensinaram, é algo bem interessante, e útil, pelo visto, dá para salvar a vida de muita gente enquanto um Druida não aparece e… — Comecei a tagarelar, com a voz tremendo. Céus, Audrey, por que?! Por que falar assim com ela? De todas as pessoas, justo com ela?!
— Oh… Entendi. — Eu consegui sentir a decepção na voz dela, talvez de uma maneira que nem mesmo ela pudesse compreender. Será que ela entendeu o que acabou de acontecer, ou sentiu, apenas, que foi ‘nada demais para mim’, como se fosse corriqueiro eu salvar outros novatos como ela?
— Olha… Melhor eu te levar de volta para a cidade. — Falei, tentando remediar uma situação possivelmente irrecuperável. — Você não está em condições de fazer mais nada por hoje.
— Mas… — Ela tentou protestar, afastando-se dos meus braços. Do meu abraço — E-eu consigo… Argh!
O grito de dor da brava combatente revelou um motivo ainda maior para preocupação: de fato, um dos dragões não faleceu sem oferecer resistência, e havia um corte enorme na perna direita de Bradana, e ela sangrava profusamente através do ferimento.
— Rápido, tome essa decocção! — Oferecia a Bradana um frasco arredondado, com um líquido vermelho; em seguida, peguei meu cantil e joguei um pouco da água no ferimento a fim de limpá-lo e rasguei parte de minhas vestes para criar ataduras, as quais amarrei ao redor da perna da moça.
— Não precisava… — Ela sussurrou timidamente, em um tom que nunca pensei que ouviria dela.
— Lógico que precisa. — Repliquei, talvez um pouco mais fria do que gostaria. — Se eu tivesse demorado a chegar… — Engasguei. Eu não poderia sequer imaginar. Não, eu não queria imaginar o que teria acontecido se eu tivesse demorado um segundo a mais.
Em silêncio, ajudei Bradana a subir em meu cavalo; juntas, galopamos de volta para Ankrahmun, e meu coração acelerou, de maneira indecorosa e inapropriada, quando senti a garota se aproximar mais, deixando o peso de seu corpo apoiado em minhas costas, seus braços descansados em minhas coxas e seu rosto repousando em meu ombro.
Que droga. Estou gostando disso muito mais do que deveria; muito mais do que eu de fato posso.
***
(Narrado por Szczeisny)
— Alguém viu minha esposa?! AUDREY?!
Que. Inferno.
Somos explosivos, nós Norsir. Sim, somos! Vivemos pelos nossos impulsos, nossa inteligência impulsionada pelo fogo das nossas emoções! Razão e emoção caminham lado a lado, e somos a tempestade quando contrariados! Ainda assim, quando estou perto dela, eu costumo ser mais calmo. Até a hora que ela resolve fazer uma das “saidinhas” dela.
E hoje, ela resolveu fazer isso. Justo no nosso aniversário.
— Não, senhor, não a vi hoje. — Feizuhl, em sua calma habitual, replicou. — Paladinos não costumam gostar da cidade… E, cá entre nós, eu compreendo. — Ele completou, encolhendo seus ombros na medida em que eu me aproximava.
— Beleza, mas que beleza! — Grunhi, irritado e mais sarcástico do que de costume. — E isso porque a mulher “sempre” lembra daquilo que é importante e…
— AJUDA! EU PRECISO DE AJUDA!
Em um impulso, empunhei meu machado e saí do edifício; dele, emanava veios de energia gélida, prontos para atender a quaisquer comandos meus. Entretanto, o pedido de socorro, vindo da minha esposa, não exigia o uso de lâmina ou magia. Ela vinha dos muros da cidade, já com os sóis escondidos além do horizonte, com o corpo coberto de fuligem, cheirando a fumaça e carcaça de dragão morto. Além disso, ela não estava desacompanhada.
— Audrey?! — Indaguei, preocupado, guardando meu machado nos ferrolhos atrás de minhas costas. — O que aconteceu?!
— A Bradana! — A voz da minha querida esposa tremia, de forma familiar e dolorosa. — Ela… Ela foi sozinha… Cinco dragões… O corte…! Ajuda, por favor!
Claro, a mestiça. Tinha que ser a… Bendita mestiça. Suspirei em meio a um resmungo, ajudando Audrey a colocá-la no chão.
— Não temos que levar ela…
— Não precisa. — Repliquei entre meus dentes, segurando um sentimento que eu não sabia definir ainda, ao certo. — Amor, por favor, pegue ataduras limpas, uma garrafa de rum e duas tigelas. Eu cuido do restante.
— Tá, tá… — Ela respondeu, nervosa, esquecendo até de amarrar o cavalo no poste do estábulo. — Ataduras, rum, tigelas… ataduras, rum, tigelas…
Ergui meus olhos em direção a Audrey, ignorando, por alguns instantes, a respiração pesada e difícil de Bradana, que sofria em meio aos danos e às feridas de sua caça, ao meu ver, mal sucedida; poucas foram as vezes que a vi nervosa assim, alterada de forma desproporcional em frente ao perigo. No entanto, esse nervosismo me parecia diferente; e eu não queria entreter a possibilidade de ser alguma outra coisa.
— Cof! Cof! Argh…!
O arfar pesado e urgente da mestiça trouxe-me de volta à realidade; agora, a ruiva tinha a minha indivisa atenção. Peguei meu cantil, o qual estava atado à minha cintura, e abri, despejando um pouco da água na palma de minha mão esquerda e o restante sobre as feridas de Bradana.
— Ao Pai Chyll, retorno a água da vida e ofereço essa prece — Entoei, vertendo a água de minha mão em direção à carne viva da anã — Para Freydís em sua barcaça eterna, peço que carrega o mal, a dor, a chaga e a pestilência para longe, que abrace essa guerreira… — A água começou a brilhar em um tom azul e gélido que muito me era familiar, e os ferimentos foram, aos poucos, ficando mais limpos e o sangramento, controlado. — …E permita que ela lute um dia mais. Exura Gran Sio.
A água rapidamente converteu-se em flocos de neve e gelo, e da minha vontade fez-se o vento, soprando para longe as dores e feridas de Bradana; o frio estancou o sangramento, e o ferimento foi se fechando aos poucos. A ruiva arfou, respirando de uma só vez, renovada, os ventos de cura; seu olhar voltou-se para mim, espantada, enquanto eu decidi encará-la, medindo sua estatura uma vez mais.
—V-você… — Ela começou, surpresa. — Você é…
— Seithmadur*? Sim. — Repliquei, franzindo o cenho para ela. — Isso seria… Um xamã para vocês, eu acho.
— Geomantes podem nos curar, em Kazordoon. — Falou Bradana, olhando para mim com outros olhos, eu acho. — Mas, não com água. Isso é coisa de druida, né?
— Sim, sim. Sou um Druida. — Repliquei em meio a um resmungo, cruzando os braços e desviando o olhar. — Mas, não gosto do termo. É o termo deles, não o da minha gente.
Os passos apressados de Audrey logo interromperam a conversa; ela voltou com tudo o que pedi, ajoelhando-se ao meu lado e com o semblante aliviado.
— Pela Luz de Uman, como é bom vê-la a salvo! — Exclamou a paladina, abraçando-me com força. — Obrigada, obrigada, marido meu! Desculpe ter saído sem te avisar, desculpe…!
— Não precisa disso, está tudo bem. — Repliquei, em um tom que não parecia meu, com uma convicção que definitivamente não era minha. — Não precisa se desculpar… — Menti, enquanto meu olhar lentamente se voltava para o motivo da estranha ausência de Audrey, que me olhava como se soubesse a resposta para a pergunta que estava em minha mente. — Foi por uma boa causa.
A anã engoliu em seco. Bingo. Alguma coisa aconteceu, eu tinha certeza absoluta disso; Audrey é uma pessoa altruísta, sim. Uma mulher incrível em muitos aspectos e generosa até quando isso coloca sua autopreservação em risco. Mas… Havia algo mais ali. Esperei Audrey se afastar do meu abraço, e voltei ao meu trabalho.
— Venha cá… Bradana, certo? — Falei em um tom mais afável, mas ainda com o semblante fechado. — Vai arder, mas, vai melhorar.
Sem dar espaço para perguntas, derramei parte do rum diretamente na ferida da moça e ao redor da pele maltratada, fazendo-a urrar de dor. Em seguida, coloquei um pouco da bebida em uma das tigelas e água na outra. De um pequeno saquinho, tirei algumas ervas, as quais amassei junto ao líquido dourado vindo de canaviais muito distantes dali, e mergulhei algumas das ataduras nele; para a tigela com água, separei outras ervas e repeti o procedimento.
— Isso dói! — Gritou a moça, e tive que segurar meu riso. — Por que fez isso?!
— Se reclamar vai doer mais. — Respondi, segurando a vontade de rir que queria se apossar de mim. Peguei uma das ataduras mergulhadas na mistura de rum e ervas e gentilmente enfaixei seu ferimento, cobrindo-o por completo — Isso que fiz serve para manter suas feridas limpas e fortalecer meu feitiço de cura. Sua carne e sua pele já estão se renovando, e sua noite de sono será desconfortável. Mas, pela manhã, você estará nova em folha.
— E a outra mistura, é para que? — Perguntou a moça, desconfiada, em meio a teimosas lágrimas que ela insistia em segurar.
— É para eu limpar a sua pele. — Respondi, tirando as ataduras da mistura de ervas e água. — E vai te fazer dormir bem; essas ervas são boas para o sono. — Completei, segurando o braço dela de forma firme, porém com delicadeza — Você não sentirá dor enquanto dorme.
Naquele momento, Audrey, que estava quieta em palavras, mas não em atitudes, aproximou-se de mim, e senti-a tirar meu machado e a bainha de minhas costas a fim de ter onde apoiar seu corpo, envolvendo-me em um abraço aliviado. Seu rosto estava aninhado em meu pescoço, e aquela pele macia roçava carinhosamente a região, fazendo com que eu quase esquecesse, por um instante, de que estávamos em um ambiente público e com uma companhia que era indesejada, de minha parte. Porém, havia algo em meu âmago querendo tomar posse de mim; um sentimento que eu era incapaz de dar a ele nome e sentido. E isso estava me incomodando profundamente.
— Preciso te pagar algo…? — Ela indagou, timidamente.
— Não. — Respondi, olhando-a no fundo dos olhos. — Apenas fique bem, sim? Você deu um belo susto em minha mulher. E eu não lido muito bem com isso.
O recado foi dado. E eu não acho que essa mestiça seja burra a ponto de não entender minha mensagem.
Continua…
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(*) Seithmadur: Do Nórdico antigo, Seiðmaðr, que significa “homem que pratica magia”. É o equivalente, em uma lógica Norsir/Viking, ao xamã/druida no universo tibiano. A contraparte feminina de um Seiðmaðr é uma "Seiðkona".
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Depois de uns... 6 anos(?) eu finalmente retorno! O objetivo é terminar Behogár Bradana ainda esse ano kkkkk
Será que eu consigo?
Aguardo os feedbacks, independente de qualquer coisa!
Forte abraço,
Iridium.
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)
Responder com Citação

e também pq ela, em essência, é mais ligada à herança de Anã dela do que ao lado humano, por ter sido criada pelo paizinho dela hahahahahaha


