Spoiler: Respostas
CAPÍTULO 16 – QUEM DE NÓS?
Zathroth e Heloise conversavam a um canto do restaurante do depósito de Carlin, ele surpreendentemente desarmado. O exército vinha realizando rondas regulares e, na sua visão, era desnecessário caminhar de forma hostil dentro de um território que, sinceramente, tinha o recebido tão bem.
A rainha Heloise era, no fim das contas, a monarca que menos se assemelhava a um monarca no antigo continente, Zathroth constatou cedo demais. Misturava-se ao povo e fazia parte dele constantemente, abandonando suas vestes reais com uma frequência maior do que se podia imaginar.
Agora, exatamente dentro das expectativas de Zathroth, às sete da manhã, ela comia bacon frito e ovos cozidos com ele, com uma boa caneca de café com leite, sentada no restaurante popular da cidade em meio à multidão. Bambi Bonecrusher, que fora promovida e assumira a vaga deixada pelo finado Svan, andava para lá e para cá, fechando detalhes importantes referentes à segurança da cidade.
— Ela é competente — disse ele, puxando conversa.
Heloise fez que sim, mastigando devagar.
— Minha melhor combatente.
— Depois de Jason Walker.
— Jason Walker sequer pode ser incluído na lista — ela sorriu, lembrando-se do jeito adolescente e atrapalhado do garoto que carregava nas costas os maiores fardos da humanidade. — Ele e Leonard Saint estão em outra posição. São incomparáveis.
— De acordo.
Por um certo tempo, Zathroth remoeu diversas coisas na cabeça. O respeito que Heloise tinha pelos dois meninos confirmava certas suspeitas a respeito de outras relíquias que ele estava rastreando, já tendo encontrado duas delas, estando de posse de uma.
Finalmente, quando não pode mais se aguentar, Zathroth tirou de dentro das vestes uma caixinha de joias pequena, abrindo sua tampa e mostrando o conteúdo para a rainha. Ela tomou um gole rápido do café com leite, detendo-se longamente na grande esfera brilhante lá dentro. Abaixo dela, e nela amalgamado, havia um arco tosco e rude feito, aparentemente, de níquel. Era um anel.
— O Anel Finalíssimo — identificou Zathroth, ao que os olhos dela brilharam. Ela conhecia o potencial do anel. — Trata-se de uma das 12 relíquias. Sabe o que ele faz?
— Mostra o futuro — ela respondeu prontamente, franzindo o cenho. — Ou pelo menos uma projeção dele.
— Precisamente.
Heloise aguardou, mas Zathroth e ela só se encararam nos olhos por um longo tempo. A rainha não precisava perguntar para saber que ele havia tirado aquilo de Lancaster Wilshere, na campina, durante o combate contra Lúcifer. Não sabia exatamente como se sentia a respeito de Zathroth acumulando relíquias, mas, a julgar pelo fato de que John tinha o Livro e Jason, a Espada, ao menos poderiam assegurar que ele não podia ter todas elas.
— Qual a relevância do tema para nós?
Zathroth respirou fundo, fechando a caixa e guardando-a em segurança novamente.
— Não resisti ao impulso e usei-o após a partida dos nossos destemidos heróis, seja lá para onde tenham ido. E os resultados foram catastróficos.
— Em que sentido?
Novamente, ele respirou fundo.
— Tudo é bastante… fosco, anuviado, para ser mais preciso. Um deles morrerá, Heloise, e não sei precisar quem será. Não sei dizer se o Inominado o matará, ou a matará, ou mesmo se isso acontecerá antes dele chegar. Na visão, Jason, John, Randal, Rafael e Leonard estão ajoelhados diante de um inimigo incompreensível, e incompreensivo. Ele lhes faz algumas perguntas. Nenhum deles responde qualquer delas. E, logo, uma cabeça rola. Não sei dizer a de quem.
“O anel possui um certo lastro, que registra as suas atividades. Lancaster o usou na noite anterior à sua morte. Ele viu um machado sendo disparado na sua direção, e viu uma cabeça rolar no chão. Mas sua ânsia por ter a Espada de Crunor o cegou. Ele achou que nada poderia afetá-lo.”
— Viu a cena de cima? — perguntou Heloise, transtornada. — Ou como espectador?
Zathroth sorriu com tristeza sincera.
— Você não entendeu, rainha. Eu estava na visão de quem cortou aquela cabeça.
*
Jason acordou de repente, o sol invadindo o quarto através da janela no topo. Estava vazio. Somente ele ainda estava dormindo.
Ele levantou devagar, sentindo uma estranha sensação de confusão. Lembrava-se de John quebrando algo num canto do quarto, muito irritado, e, depois, acordou. O que quer que fosse aquilo que Eremo lhe dera, era realmente bom. Não se lembrava de ter dormido tão bem em sua curta jornada de vida.
Ele saiu para o corredor, permitindo que os pés descalços assimilassem o chão frio. Finalmente, chegou ao jardim.
Eremo havia conjurado mesas e cadeiras e servia o almoço. O almoço. Por algum motivo, Jason pulara o café da manhã.
— Horas? — perguntou, sentando-se, desorientado e cheio de ressaca. A sensação da grama macia e fofa sob os seus pés nus lhe agradava.
Eremo olhou para o céu por um instante.
— Onze.
— Deveríamos estar em Krailos.
— Estarão antes do meio-dia.
De repente, as mesas quase se dobraram com o peso da comida que surgiu sobre ela. Galinha assada, algo que parecia a metade de uma vaca fatiada, arroz branco cozido, batatas, algumas folhas muito verdes e cebola picada. Leonard não esperou uma segunda oportunidade e logo começou a encher o prato, beliscando as travessas aqui e ali.
John, sentado à direita de Jason, nada disse. Eremo ocupou a cadeira à sua frente e começou a encher o próprio prato também.
— É um dos efeitos colaterais — disse, em tom de desculpas. — Essa ressaca quase insuportável. Mas passa em alguns minutos.
Jason assentiu uma vez, exausto demais para responder. Logo, Eremo começou a servi-lo também.
Por um instante, todos somente fizeram comer, sem dizer qualquer palavra. Finalmente, com todos satisfeitos, exceto Leonard, que ainda comia, Eremo agitou as mãos com displicência e as travessas desapareceram. Leonard terminou de devorar sua coxa de frango, limpando as mãos num guardanapo puído e gasto.
Alguns minutos depois, Eremo, que havia se dirigido para o interior da residência, retornou, trazendo consigo um tapete carcomido, de mais ou menos cinco metros quadrados. Ele o estendeu na grama e olhou para Jason, aguardando.
— O que é isso?
Ele sorriu, feliz.
— Estava esperando pela pergunta. É um tapete mágico, pura e simplesmente.
— Já ouvi falar deles — John se levantou, interessado. — Mas nenhum de nós sabe operá-lo.
— Seria muito fácil se soubessem.
Um homem de cabelos ruivos, camisa branca e calça jeans saiu da casa naquele exato instante. Tinha a pele queimada de sol e olhos bondosos. Também estava descalço, por alguma razão, mas foi o primeiro a subir no tapete.
— Este é Pino. Serve a cidade de Edron. Curiosamente, ele sabe operar um tapete mágico. Então, se estiverem todos prontos…
Gibbs e Cotton vinham de dentro da casa, carregando as mochilas nas costas musculosas. Logo, todos se espremeram sobre o tapete, sem bem saber o que fazer. Somente Rafael permaneceu destacado por um instante; Eremo cochichava algo em seu ouvido, e sua expressão não era das melhores.
Enfim, quando a conversa terminou, o arcanjo também embarcou, apertando-se ao lado de Jason, à frente de John.
— O que foi isso? — o cavaleiro perguntou, desconfiado.
— Não gosto desta coisa — ele bateu os pés no chão, incomodado. — Questionei Eremo sobre se não havia outra alternativa.
Jason semicerrou os olhos, aceitando parcialmente aquela resposta. Se houvesse algo que comprometesse a missão, Rafael deveria ser o primeiro a se manifestar, mas ele nada disse.
— Diga a Zeus que não esqueci do débito que ele tem comigo — disse Eremo, quando o tapete, magicamente, começou a planar e o vento sul levantava os cabelos de todos. — Se não saldá-lo antes de morrermos, bem, conversaremos nos Campos Elísios, se ele tiver essa sorte. E se Poseidon não acalmar essa maldita maré, terei que enfiar aquele tridente em um determinado local que vai desagradá-lo.
— Que débito é esse? — gritou Jason para se fazer ouvir, já a 20 metros de altura.
— Salvei uma de suas missões certa vez — Eremo respondeu, também aos gritos, mas também evasivamente. — E trazer energia elétrica à minha ilha não fará mal, no final das contas. E o estoque do remédio que fabriquei está no bolso da frente da sua mochila!
Jason estava prestes a perguntar o que era “energia elétrica” quando o tapete disparou no sentido leste, deixando a ilha para trás muito rapidamente. A última visão que todos tiveram foi a de Eremo acenando e retornando devagar para dentro da sua casa, antes que a ilha se tornasse um minúsculo ponto no horizonte.
*
— Conhece as regras, Poseidon.
Zeus, um homem alto, de cabelos e barbas muito brancos, olhos azuis da cor do céu e usando uma túnica azul-marinho muito comprida, segurava nas mãos algo que surpreendentemente se parecia com um raio vivo. Ao seu lado, um homem muito musculoso segurava uma espécie de maça presa numa corrente comprida.
Diante deles, Poseidon, segurando seu tridente, tentava convencê-los. Não seria tarefa fácil.
— Jason Walker simplesmente explodiu a hidra, de dentro para fora — ele argumentou, soturno. — Saiu voando, é verdade, mas vivo. Não podemos ignorar o potencial desse garoto.
O homem com a maça grunhiu, cuspindo no chão.
— Acalme-se, Hades — advertiu Zeus, conjecturando. — Não estou negando a eles uma audiência, mas o Olimpo tem um código de conduta que não pode ser afastado, nem mesmo em situações excepcionalíssimas. Você há de convir comigo.
— Não discordo — limitou-se a responder.
Zeus coçou o queixo.
— Nosso código determina a morte de ao menos um dos nossos visitantes, e ele servirá ao sacrifício. Porém, não pode ser qualquer um deles. Deve ser um dos líderes. Preferencialmente, aquele que detiver uma relíquia.
— Jason Walker tem a Espada de Crunor e John Walker traz consigo o Livro das Ciências Ocultas — argumentou Poseidon, verdadeiramente indiferente sobre qual deles iria morrer, mas desejando, secretamente, que a vida do espadachim fosse poupada, no final das contas. — Escolha um deles, qualquer um deles, mas os ouça.
Hades adiantou-se meio passo, irritado.
— Você amoleceu, Poseidon — disse, com sua voz grossa e profunda. — É uma pena que tenhamos chegado a este ponto. O Olimpo, submetendo-se aos desejos dos mortais. Realmente, estamos chegando no fim do mundo.
Poseidon virou seus olhos para ele, de má vontade.
— O Olimpo já serviu aos mortais antes. Esqueceu-se do que Ares fez? De quem ele recrutou?
Hades grunhiu mais uma vez, incomodado.
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