Prólogo
Uma sombra, um vulto do que parecia ser uma pessoa esgueirando-se pelo esgoto, ou talvez apenas mais um rato grande a procura de algum osso para roer, desesperado por um pouco de carne ou qualquer coisa comestível que satifazesse seu estômago faminto. Mas isso não fazia diferença. Sendo um homem ou um rato, era evidente que estava querendo comer, ou quem sabe, procurando algo ou alguém. Não era possível saber, aqueles esgotos eram escuros demais para se enxergar alguma coisa, pelo menos para olhos humanos.
A procura insaciável do vulto continuou por mais algumas horas, em busca de seu objetivo, vacilou por um segundo, o que resultou em um escorregão no musgo que revestia o chão daquele esgoto fedorento e sujo. Evidentemente, bateu com o rosto no chão. Tal impacto causou vários machucados ao longo de sua face, já suja com algo que parecia ser graxa ou algum tipo de óleo nojento. A pobre figura, suja, ridicularizada e agonizante começou a gemer baixinho, questionando para si mesma o por quê de estar naquela situação.
Por ali ficou, pensando no que faria para sair daquele estado deplorável. Resolveu tentar levantar. Levou sua mão para um cano ao lado, e com um tremendo esforço e constante dor devido aos vários ferimentos ocasionados por sua ruína, conseguiu seguir em diante com o objetivo de levantar do chão imundo da latrina. Mas dessa vez foi o cano que não aguentou, e rachou, levando o pobre homem para o chão novamente, mas agora em pior situação, com seu antebraço completamente cortado e jorrando sangue quente que, no momento, era o único recurso que o homem moribundo havia. Não pensou duas vezes, e sugou seu próprio sangue, que jorrava aos litros por suas veias e artérias devastadas pelo maldito cano que partiu-se em dois só para aumentar o sofrimento da pobre figura.
Mas algo, naquele momento, veio na cabeça daquele homem, algo que não sei explicar o que foi. Provavelmente uma única tentativa de manter-se vivo, fornecido por seus instintos. Munido de muita perseverança, o individuo devastado por si só, reergueu-se, cambaleante, e agarrou em uma escada de madeira que jazia há alguns metros de onde caíra há alguns minutos, causando-lhe muitos ferimentos. Em mais um impulso de coragem e perseverança, subiu a escada e retirou a tampa do bueiro, chegando, finalmente, ao nível do solo.
E alí ficou. Não tinha energia para mais nada, nem mesmo uma última prece. Sangue pingava de seu braço e rosto ferido. Era ocaso, e naquele momento, a pouca luz que havia foi o suficiente para notar que não se tratava de um homem, mas de um garoto, com não mais que 15 anos de idade.
A cidade de Edron preparava-se para mais uma noite fria de inverno, enquanto o pobre menino moribundo jazia em sua provável sepultura, agonizando em seus últimos momentos de vida.
Mas o destino o guardava um futuro diferente. Em alguns minutos, um cidadão passou por aquele beco mal frequentado de Edron, e avistando o garoto na beira da morte, preparou uma provável magia muito forte, criando uma grande esfera de luz verde, que tocou o garoto, fazendo-o parar de sangrar.
No mesmo instante, o menino desmaiou.