Capítulo 2 - O camarada Zerbrus.
— O que ? Rookgaard ? — Kruggel estava perplexo. Não entendia como estava em Rookgaard. — Como eu vim parar aqui ? — O garoto prosseguiu com suas perguntas.
O guarda, sem entender nada, olhou Kruggel nos olhos e deu de ombros.
— Acalme-se e me diga, como assim você não sabe como está aqui ? Julgando por sua aparência, deve ter por volta de 14 e 17 anos, estou certo ? — O guarda indagou com ar de desconfiança.
— Eu não sei senhor. Não sei quantos anos tenho. — Kruggel tartamudeou para o guarda, que parecia estar ficando nervoso.
— Escuta aqui garoto, não estou afim de ser caçoado. Largue de bobeira e me fale o que houve com você ? Parece ter visto um exército de Orcs. — A sentinela se virou e olhou para o horizonte, como se realmente fosse possível avistar uma tropa de Orcs furiosos acercando Rookgaard.
De fato, Kruggel estava bem sujo e pálido, mas isso se dava ao fato de estar um tanto assustado e alterado por estar em um lugar que mal conhecia. Em sua curta memória, vieram algumas lembranças desse nome, Rookgaard..., mas mesmo assim, não sabia nada sobre a vila.
— Meu senhor, me desculpe, mas não estou zombando-te. Realmente não me recordo de como vim parar aqui, nem quantos anos tenho. Acordei no pé de uma montanha sem me lembrar de nada, apenas de meu nome. — Kruggel tentou se explicar gesticulando nervosamente com as mãos.
O guarda levantou a sobrancelha em um ar desconfiado. Aquela figura, ao seu ver, não merecia muita credibilidade, afinal, podia ser apenas mais um adolescente tentando pregar-lhe uma peça de mal gosto.
— Hmm, curioso, muito curioso. Se isso que dizes é realmente verdade, infelizmente não posso te ajudar com mais nada, além de te apresentar uma pousada e alguns lugares que talvez sejam-lhe úteis.
O guarda continuava fitando Kruggel, afim de achar qualquer sinal de que estava mentindo, como um risinho ou algo do gênero. Mas não viu nada, o garoto era sério como uma porta. Estava muito sujo e com alguns esfolamentos em seu rosto.
— Se possível, ficarei muito agradecido. — Kruggel olhou para as tábuas que constituíam a ponte, um tanto acanhado.
— Tudo bem. Farei isto por você. Mas fique sabendo, que se eu descobrir que está tentando me pregar uma peça, lhe darei uma surra com bambu. — O guarda disse com firmeza na voz. — E...qual seu nome ? — Completou seriamente.
— Kruggel senhor, meu nome é Kruggel. — respondeu ao guarda com um ar de tristeza. E esse clima não era por acaso, Kruggel estava muito triste. Queria saber pelo menos algo sobre si mesmo. Se sentia como um bebê que tivesse acabado de nascer, sem amparo e amor nenhum, e tivesse a capacidade de andar e falar. — E o seu ? — Kruggel lançou para o vigia.
— Muito prazer senhor Kruggel. Meu nome é Zerbrus, guardião da cidade de Rookgaard. — Zerbrus respondeu-lhe levantando sua lança, como um troféu por sua profissão.
Como disse, Zerbrus pegou um mapa em uma sacola que jazia ao seu lado e indicou alguns locais de possível interesse para Kruggel, como uma pequena pousada, uma taverna, e a Academia. Explicou também algumas coisas sobre a cidade.
— Rookgaard não é tão grande como as cidades do continente principal, apesar de ter o suficiente para se manter e manter os iniciantes que vem para a vila. — Zerbrus explicou — Essa é a ilha para onde todos os iniciantes vem antes de começar sua jornada no continente principal. Aqui você vai aprender muitas coisas que lhe serão úteis por toda vida. Basta ir para a Academia quando quiser, e lá procurar por Seymour, ele vai te explicar melhor essa parte. — O guarda continuou — Não pense em sair por ai como um desmiolado. Pelo que você diz, deve ter despertado no sudoeste da ilha, local onde habitam muitos lobos. Realmente foi muita sorte você não ter topado com um. — Zerbrus finalizou sério.
— Lobos ? Nessa ilha... há lobos ? — Kruggel balbuciou nervosamente.
— Nessa ilha há mais do que lobos, meu amigo. Muito mais do que lobos ... — Disse assombrosamente. — Mas felizmente temos pessoas destinadas a não deixar nenhum mal entrar na vila, um bom exemplo delas sou eu. — Zerbrus terminou de falar e começou a rir.
Zerbrus ainda estava rindo grotescamente. Em toda aquela confusão, Kruggel não havia parado para olhar a aparência do sentinela, e agora que o mesmo havia retirado seu capacete, isso ficara bem mais fácil. Era um homem um tanto gordo, com uma barba mal feita e olhos negros como a noite. Em sua mão, jazia uma aliança de ouro, mostrando que era casado. Seu cabelo era bem cortado e grisalho, provavelmente devido a idade, que parecia ser um tanto avançada.
— O que foi menino ? Perdeu algo ? — Zerbrus tirou Kruggel de sua profunda avaliação.
— Eerr, me desculpe. — Desculpou-se e levantou o olhar de volta para Zerbrus.
— Bem, como eu dizia, marquei um pequeno hotelzinho em seu mapa. Vá para lá e peça um quarto para passar a noite. Felizmente eles deixam você pagar no dia seguinte, quando tiver dinheiro. Também marquei uma taverna. Se dirija para lá somente quando houver dinheiro, pois lá eles não fazem fiado. Mas vejo que comida não vai ser seu problema essa noite. — O guarda completou apontando para as maçãs na mão do garoto.
— Obrigado senhor Zerbrus. Certamente voltarei para visitá-lo daqui alguns dias. Você me ajudou muito. — Kruggel agradeceu o guarda com um aperto de mão.
— Não me agradeça, esse é meu trabalho. E volte quando quiser, este trabalho é um tanto entedioso, gosto de ter alguém para conversar. — O guarda retrucou com um sorriso estampado em seu rosto.
Kruggel atravessou a ponte de madeira e adentrou na vila. Caminhou por alguns minutos, e confirmou o que Zerbrus disse para ele, a vila não era muito grande. Em seu trajeto, havia passado por uma ponte que atravessava um riacho, além de alguns prédios feitos com grossas toras de madeira.
Chegou ao que parecia ser o núcleo da cidade. Por ali circulavam muitas pessoas, e também haviam muitos comerciantes em suas lojas. Kruggel agarrou seu mapa e o observou atentamente, mas foi interrompido por um grito.
— Pega ladrão !!! — Ululou uma voz feminina.
No mesmo instante um homem em toda velocidade passou ao seu lado. Kruggel, sem pensar duas vezes, correu atrás do sujeito, derrubando-o com um salto. O quidam grunhia embaixo de Kruggel, havia caído em cima de seu próprio braço, que provavelmente agora estava quebrado .
Kruggel agarrou a mochila que havia em sua mão e levantou segurando o indivíduo, que gritava de dor. Uma multidão formou-se em volta de Kruggel, que nem precisou segurar o ladrãozinho, apenas o largou em um canto, com um empurrão. Logo chegaram alguns aventureiros que pareciam mais experientes e o levaram embora. " Você vai ter um papinho com Seymour, meu amigo ", os sujeitos diziam quando o levaram embora.
— Ei, minha bolsa ! — A voz feminina que antes gritava, agora falava suavemente. Kruggel se virou para ver quem era, e teve uma surpresa, a garota era linda !