Capítulo II – A arte da cura
Segundo capítulo pronto xD
Resolvi aumentar um pouco o tamanho em relação ao primeiro, além de focar mais na narração do protagonista (causando também uma redução na quantidade de diálogos).
Enfim, espero que gostem :D
Boa leitura!
CAPÍTULO II – A arte da cura
LEON
Tive um sono intranquilo aquela noite; não cheguei a molhar a cama, como sugerira Marlon, porém, o sorriso zombeteiro do rapaz e o rosto assustador de seu amigo assombraram meus sonhos durante grande parte da minha luta para dormir. Por fim, acabei descansando bem menos do que o necessário, e passei o dia seguinte com uma dor de cabeça terrível.
— Dor de cabeça, é?! — Exclamou meu pai, após eu me queixar sobre a dor — Sinceramente, logo hoje que o trabalho será mais pesado... Vá procurar o velho Cipfried, ele deve saber o que fazer.
— Tudo bem, já estou indo — Respondi, enquanto me virava para sair da loja.
— E é melhor que isso não seja uma desculpa para não trabalhar! — Gritou meu pai da porta da loja, enquanto eu já tomava meu caminho.
Apenas fingi que não o ouvi, e segui em frente para encontrar Cipfried, o velho monge que vive no templo da vila; o caminho para lá era curto, mas, com minha cabeça latejando a cada passo dado, pareceu-me bem maior que o normal. Fazia mais frio que o comum para a época, e o templo ficava mais próximo do litoral, recebendo assim os ventos marítimos com muito mais intensidade. Acabei me arrependendo na metade do caminho por não ter trazido um casaco; os tratamentos do monge eram eficientes, mas a duração dos mesmos era completamente imprevisível — Cipfried costumava dizer que dependia do “humor dos deuses”, ou algo do tipo; bom, só espero que estejam felizes hoje. Um pouco mais para frente passei pela loja de armas do Obi; o simpático senhor mostrava um sabre para um possível comprador, e deu-me um aceno quando me viu. De vez em quando eu o ajudava a cuidar de sua loja, fazer entregas ou até mesmo serviços de limpeza, por isso o homem sempre me tratou bem — um dos poucos que não me julgavam por não gostar de lutar, mesmo sendo vendedor de armas. Acenei de volta para ele e segui caminho, já vislumbrando os pilares da entrada do templo.
...
O templo de Rookgaard era uma construção de pedra, com alguns desenhos e figuras esculpidas nas paredes, porém, por dentro era apenas um grande salão com pisos feitos de mármore; no salão havia apenas um altar e um pequeno cômodo, onde o monge vivia e fornecia abrigo a quem precisasse de ajuda. Também costumava ajudar o velho algumas vezes, portanto era um lugar que eu gostava de visitar.
— Oh, jovem Leon, que os deuses o abençoem — Disse Cipfried assim que me viu, enquanto acendia uma vela — O que te traz aqui hoje, meu jovem?
— Boa tarde, Senhor — Respondi, tentando falar apesar da dor intensa — Amanheci com dores terríveis na cabeça, e meu pai mandou-me aqui para pedir ajuda.
— Você fez bem em vir, meu rapaz; Tenho certeza que os deuses o livrarão desse pequeno tormento... Venha, você conhece o caminho — Disse o monge, se dirigindo ao seu quarto.
Segui-o em silêncio; falar muito já não era meu forte, e ainda mais com a sensação de ter um sino batendo dentro da minha cabeça... Não tive forças pra respondê-lo.
O pequeno cômodo tinha apenas duas camas, além de um baú com equipamentos de primeiros socorros e uma mesinha com tinta e papéis, na qual o monge escrevia seus sermões. Cipfried pediu-me para deitar, enquanto preparava seu ritual de cura. Certa vez pedi ao velho para ensinar-me a arte da cura, mas ele disse que seu poder é apenas uma fração do que os monges e druidas do continente são capazes de fazer, e que eu deveria conhecer algum deles, caso me interessasse; não disse mais nada sobre o assunto após essa conversa, não consigo me imaginar saindo de Rookgaard tão cedo, além de que precisaria tornar-me um guerreiro para tal, o que sempre esteve fora de questão. Cipfried terminou seus preparativos, e se dirigiu até mim.
— Meu jovem — Disse o monge, enquanto colocava a mão em minha cabeça — você sabe como é o processo, tenha fé nos deuses e feche os olhos, vou começar.
Sinalizei positivamente com a cabeça, e então fechei os olhos. A dor nesse momento estava mais forte do que nunca, mas tentei pensar numa pequena oração, mesmo assim. O velho recitava algumas preces indecifráveis para mim, enquanto sentia-me mais leve, e, aos poucos, a dor foi desaparecendo; não demorou mais do que dez minutos, e percebi — com alívio — que a ela havia passado; parece que os deuses estavam de bom humor.
— Muito obrigado pela ajuda, velho Cip — Agradeci, enquanto levantava-me da cama — Que os deuses continuem iluminando suas mãos.
Antes de Cipfried me responder, um grito vindo de fora do templo chamou nossa atenção.
— Ajuda, ajuda! Alguém salve meu amigo, pelo amor dos deuses!!!
A voz soava agoniada e chorosa, não consegui reconhecê-la; porém, quando saí correndo do quarto com o monge, a visão que tive foi algo horrível: Um garoto muito pálido e assustado, carregando outro rapaz pequeno e forte, com uma ferida gravíssima na altura do estômago, que parecia estar desacordado.
Demorei um pouco para entender a cena que via, porém, depois de alguns segundos não havia dúvidas: os rapazes eram Kyos e Marlon, os mesmos que assombraram meu sono na noite anterior.
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