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Tópico: Babel

  1. #1
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    Olá, piruzudos e piruzudas do TibiaBR.

    Estou com meu projeto de novo roleplay feito há meses, como sempre, com muitas dúvidas sobre qual tema iria escolher. Tinham vários pontos que tentei encaixar, várias idéias, muitas luzes na minha cabeça.

    Tinha, em especial, três idéias:

    • Tibia, mais sobre Pits of Inferno
    • Cutewood, um mundo que eu criei.
    • Caos, um RPG que eu criei.


    Então eu pensei, por que não usar as três? Eu, como mestre da Ordem dos conspiradores do TibiaBR, tinha que imaginar alguma situação divergente para poder fundir três mundos tão distintos. Assim sendo, minha idéia chegou ao cume.

    Essa história, porém, não será como o Cólera que estourou no começo.
    Ela tem seu enredo com segredos mirabolantes, por isso, seu começo está o mais confuso possível, já que o enredo vai girar em torno de todos os primeiros capítulos. Sendo que serão vários.

    A idéia está bem engaixada, fiquei semanas pesquisando coisas pra encaixar, então aqui vai uma tentativa suicida de lançá-la. De qualquer forma, as coisas só vão ficar boas, mas boas mesmo mais pra frente.

    Citação Postado originalmente por Caboom
    "Escrever é o mesmo que brincar de Deus..."
    Sendo assim, que comece a brincadeira

    Babel
    by Caboom




    Sumário

    Prólogo
    Capítulo I - Os Ponteiros
    Capítulo II - Projeto Babel: E eles falaram sobre sal de fruta...


    Prólogo


    Hoje em dia os ponteiros do relógio, de tão vazios, já não existem mais. As poucas coisas que restaram do que hoje você chama de presente se esvaiam e restou apenas um outro mundo que as pessoas chamam de futuro. Mas onde estaria esse futuro? Ele seria apenas uma criação de um passado ruim que, por coincidência ou força do destino, fora criado justamente para ser traçado um outro caminho pela linha do tempo? Talvez indagar essas perguntas precipitadas seja apenas assinar o próprio atestado de óbito, já que agora o mundo é um jardim. Algo paralelo ao que era antes, com uma curta ligação que é a própria criação vazia, a criação feita para gerar a esperança que tinha se acabado. Há muito que falar, muito que se indagar, mas o que falar para algo que não existe aqui? Sim, essa história não existe nesse planeta. Existe em um mundo diferente, mas que não passa de uma ramificação desse, esse mundo que é a força que tinha se desleixado nas gerações anteriores.

    Será que as coisas estão longe de acontecer ou demoram assim mesmo, como acontece aqui? Eu nunca estive tão entediado, é difícil ser um chato no meio de tantos babacas, não há cabimento. Logo as pessoas vão vender seus livros por feijões mágicos, mas não enquanto a linha do tempo for bloqueada por mim. Incontestável o fato de a natureza ser a fonte suprema dos poderes carcomidos hoje em dia que, aliás, nem há dia porque o hoje foi o ontem e o ontem será o amanhã. Vamos logo, só juntando palavras sem sentido que eu faço uma boa descrição. Talvez o ponto-chave que as pessoas – ou seja, eu – queiram chegar seja o próprio espírito, mas mal sabem que nesse local esse espírito já foi transpassado pelo poder do supercomputador. O supercomputador que transformou o passado, o presente e o futuro como bem entende, talvez por estar mal programado, talvez por fim por vontade própria. Mas seria possível uma máquina ter a vontade própria, necessária para ato tão pacóvio? Não para aqueles que te impedem de prosseguir, amigo, não para aqueles que se indagam se o caminho reto é ou não é o caminho certo a se seguir. Agora, onde estamos? O que diabos estamos fazendo aqui, se o correto já foi passado e nada mais tem sentido? Somos animais prontos para dilacerar as entranhas de outras criaturas herbívoras, apenas para sobreviver diante do grande desastre, se assim posso chamar, que é a maldita natureza. Mas ela não existe mais aqui, nesse lugar. Nesse lugar existe algo que não pode ser descrito pelas palavras abstratas, apenas com o físico, já que esse lugar não possui as coisas que, talvez sejam as únicas coisas abstratas que existem no planeta: os sentimentos. De resto, as coisas que as pessoas julgam “abstratas” são apenas variações filosóficas de coisas que podemos sentir com o tato, ver com a visão e ouvir como um canto de um pássaro.

    Ah sim, os pássaros. As boas e singelas criaturas que nos abençoam com seu canto magnífico, mas mesmo assim possui duas facetas, o suficiente para nos levar à ruína em apenas alguns meros passos e pregações maléficas que nós não imaginamos. Isso só ressalta cada vez mais a capacidade extraordinária que as coisas alheias tem a nos impressionar, sejam nos atos infames ou sejam nas coisas inúteis que tendem a cair em contradição perto das coisas que justamente deveriam ser eternizadas. Sim, há ligações incapazes de serem feitas entre as coisas e os elementos. O que nos resta é esperar essa grande explosão, que tendem a alimentar nossos sonhos e revelar nossos amores. E esse amor? Ele é fruto da paixão condensada e eterna, fraca mais a mais pura possível, não induz ao pecado. A paixão sim faz parte de trilhos eternos para uma vida fraca e feliz, mas acha mesmo que é feliz, amigo? Apenas porque tem no coração esse sentimento infame e se acha correspondido? Onde acabara tudo isso se não teremos paz nesse ideal inexistente? Sim, esse é um pseudônimo. Sim, isso é uma coletânea de versos enquanto vocês esperam sentados ao que vem a falar sobre o supercomputador que mudou o tempo e criou pássaros no lugar de humanos.

    Mal percebi quando comecei a me afastar da civilização. Claro que não pude deixar de reparar que cada vez o céu foi ficando mais azul e mais bonito, os edifícios gigantescos começaram a ficar pequeninos e o barulho infernal do meio urbano começou a sumir. Também fui me sentindo mais leve, coisa que só sentia em antigas, velhas passagens de minha vida onde eu me sentava na frente daquele balcão, olhava algumas figuras pitorescas ao meu lado caindo de males, e pedia aquele uísque alemão, dos bons, que o cervejeiro sempre me oferecia. Meu caminhar era fútil, objetivo oco o que eu possuía ente minhas vértebras, que ordenavam meus movimentos por aqui. A trilha no meio da floresta começou a ficar fina e estreita, tudo não de repente, mas fruto de um longo percurso já corrido, cerca de três dias na estrada. Aos poucos me vi perdido, mas ao mesmo tempo não me enxergava direito: Era como na época de bêbado. Eu podia xavecar travestis se não estivesse sóbrio. A questão é que ia me sentindo bem, a santa cura para o santo mal que me importunava, tudo ao adentrar cada vez mais aquilo que era o chamado “bosque”.

    Mais um parágrafo passou e eu continuava lá, caminhando. Minha garganta seca me trazia algumas compulsões no braço esquerdo, fazendo-o mexer desordenadamente. Olhei para cima e vi que as folhas das altas árvores não cobriam certo ponto de lá, criando uma clareira. As copas falhavam naquela área, o que mostrava logo em seguida uma fonte. Na fonte, respingavam as gotículas de água pura da montanha, que jorrava para um pequeno lago, logo em seguida. Mal reparei no estado da situação em que encontrava e já estendi minha mão na bica, bebendo desesperadamente aquela água, que se encontrava fresca e cristalina, então. Assim, me saciei.

    Levantei-me logo em seguida, enxaguando a água que estava em volta de minha boca com a manga da camiseta suja e já depravada. Pisquei por algum tempo, recobrando aos poucos a vida que parecia ter saído de mim por algum tempo. As imagens começaram a ser mais visíveis agora e, mesmo meus pequenos óculos tendo se partido há algumas milhas atrás, o grau deles era baixo, o que não me tornava tão dependente deles. Olhei para o horizonte de árvores, identificando algo que parecia uma pequena casinha, aconchegada em meio às folhas verdes, com uma pequena chaminé, que mostrava o fogo aceso lá dentro. Realmente estava um tanto frio naquele dia, mas nada o que não pudesse agüentar-se vivo. Fui a me aproximar, pois afinal minha fome também era grande e eu não tinha nada a perder ao mendigar algo ou procurar conforto. Fui andando a passos curtos, mas velozes, tanto porque estava em descida e meu corpo era impulsionado para frente, prestes a escorregar – Coisa que felizmente não aconteceu.

    Mas então tudo acabou e eu me perdi novamente na linha do tempo.
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    Última edição por Caboom; 28-01-2006 às 15:20.

  2. #2
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    Como não posso continuar no mesmo post...
    Continuando...

    __________________________________________________ _______________

    Capítulo I
    Os Ponteiros

    Seria simples se não fosse tão complexo.

    Os corredores encobertos de trevas só refletiam a escuridão. Aliás, mal refletiam, já que nada estava lá para fazer tal coisa ou até mesmo servir para ser usada e executada. Apenas passos medíocres eram ouvidos, avançando para uma saleta onde existia uma porta paralela, enorme, gigante, poderosa, que cheirava a poder. Era uma criança que andava por ali, por aqueles corredores de uma fortaleza tão manchada de vermelho. Tão manchada por maus sonhos. Os cabelos do garoto eram dourados. Sim, sim, seu ouro era a única coisa que refletia ali. Ele vestia um pijama azul, um simples traje de dormir, um simples traje para lhe trazer bons sonhos.

    Bons sonhos ele iria precisar.

    O menino do louco cacheado empurrou a maçaneta, abrindo lentamente a porta. Isso, claro, com um grande esforço, já que sua força era exigida naquele momento para passar. Portas grandes sempre inspiraram lugares que provavelmente guardam coisas grandes. Uma sala direcionada a uma cadeira no centro se mostrou, com janelas que mostravam o clarear da Lua adentrando-as.

    – O que faz aqui, pequeno Gad? – Dizia a voz de um velho, saindo da escuridão por trás da cadeira.
    – Eu não consigo dormir, Daolian... – Respondeu a criança, se aproximando sempre cada vez mais, com seus olhos azuis que inspiravam aquela sensação de ternura fraterna.
    – O sono é uma arte... Assim como os sonhos... – E virou-se, apalpando a cadeira e sentando na mesma. Passou a mão na barba, olhando para o pequeno –... Já sei porque você não consegue dormir, Gad. Seria a corrida dos sonhos, amanhã?
    – Eu não sei, mestre Daolian... Meu irmão também. Eu não consigo dormir com ele acordado em meu quarto.
    – Gaspar está acordado...? – Levantando-se.
    – Sim, ele está. Ele diz que não consegue dormir... – Ele olhou para baixo, inocentemente. Daolian sentou novamente na cadeira, passando a mão na barba espessa.
    – Volte a dormir. O dia vai ser longo amanhã.
    – Sim, sim. Até amanhã – E ele sorriu. Um sorriso singelo, daqueles que ficam na cabeça em momentos em que não se deve sorrir, ou que você sabe que tem que sorrir. Ele sabia que tinha que sorrir? Não, ele sorriu porque gostou das palavras. Gostou das pessoas.

    Daolian acompanhou com os olhos a criança saindo de sua sala. Seus olhos cansados de ver, sua barba branca de vida. Sim, a brancura indicava vida. Vida que saiu e foi-se para lugares onde não deveria ficar.

    – Amanhã... – E sorriu – Isso se houver amanhã, pequeno Gad...

    E ele levantou-se novamente, indo em direção às janelas, que eram primeiramente feitas para serem atiradas flechas, olhando a noite. Noite que era nada mais nada menos que a presença da Lua e a ausência dos sóis. Ao longe, via-se uma luz. Era óbvio que essa luz era não apenas um único foco, mas vários, como que várias tochas acesas.

    – Falnus... Você é um maldito.

    Colocou a mão na janela e virou-se bruscamente. Andou até sua cadeira, apoiou-se. Parecia estar passando mal. Respirou, mofou, respirou, sentiu o vento noturno. Começou a falar, então, olhando para uma das quatro paredes de pedra da sala:

    – Maldito seja você, Tibianus, por nos dar terras mortas para cultivar nossa arte...! – E sentou-se, pela última vez naquela noite na cadeira. Fechou os olhos e adormeceu.

    Histórias de emoção e glória de heróis. Os invencíveis sempre triunfaram desde os tempos remotos. Espada cravada em peito do bem é apenas um acaso. Espada cravada no peito do mal é o anjo da vitória. Belas noites sempre atraíram, em todas as belas histórias heróicas, sangue e morte. Sim, as noites sempre foram símbolo de tristeza, aqui também. Mas a tristeza é diferente. Uma tristeza que não existe, já que o mundo que cito não existe. Nenhuma das coisas, no fundo existe. Já fora pensado a possibilidade das coisas mortas na verdade nunca terem nascido? Você estar aqui seja uma coisa de certo ponto vista esquizofrênica? Eu particularmente não acredito que você exista.

    De qualquer forma, existindo você ou não, no meu mundo havia um homem dormindo. Obviamente, num dormitório, nem tanto assim daqueles que dormem soldados. Era o quarto dos soldados de guerra. Mas numa noite assim, apenas um lá dormi. Serenamente. Cabelos castanhos, barba mal-feita, sua aparência física é a característica de um soldado. Um soldado da Ordem. Olhe, que lindo. Gostei de falar “Ordem”. Pena essa não corresponder ao mesmo termo de “progresso”. Naquela sala, alguém abrir a porta. Um guerreiro armado de uma lança e com uma armadura. O soldado segurou no ombro do homem que estava dormindo:

    – Endulos! ... General Endulos!
    –... O quê...? –Disse ele, abrindo os olhos e incomodado com a luz da vela que fora acendido na sala – Não vê que estou dormindo?
    – General, acorde! A Irmandade está batendo à nossa porta!
    – A Irmandade dos Ossos... O que está esperando? Vamos, logo ou eles vão derrubar o portão! – Disse o homem, nome Endulos, levantando-se ligeiramente e já correndo para fora do dormitório.
    – Sim, sim, senhor – Gaguejou o soldado, seguindo o outro.

    Barulhos horríveis eram ouvidos do lado de fora da fortaleza. Para alguns pobres domadores de som, aquilo seria como batidas de um sino enferrujado. Não, era a pressão, alguém, alguns, milhares queriam entrar. Os barulhos eram acompanhados de gritos melancólicos, como se pessoas gemessem por lá. Pessoas gemeriam porquê? Talvez por estarem fora de seu lugar de descanso? O descalço frígido. Um vento frio soava lá fora também. Durante esse momento de descrição poética, porém, Endulos já tinha pegado sua espada. Espada forte, ah sim. Espada de general. Era bonita apenas, com um potencial comum se comparado com as demais armas dos guerreiros.

    – Vamos, posicionem os arqueiros no alto das torres para atirar. Os defuntos não devem agüentar muito – Disse Endulos, se aproximando dos soldados. Imediatamente alguns já seguiram para as escadarias.

    Não se passou tempo ao certo. Todo aquele barulho citado a dois parágrafos atrás cessou. Não se ouviu nem mesmo mais um ruído de grilo. Os soldados olharam entre si, olharam para os lados, olharam para as paredes. Apenas piscaram quando um estrondo enorme ecoou em uma potência titânica, abalando totalmente a fortaleza.

    – Sigam para os jardins, rápido! – Gritou o general, conduzindo as tropas para o lugar onde eles deviam estar se concentrando para algum ataque simultâneo – É inacreditável, como os mestres dos sonhos não conseguiram prever esse ataque da Irmandade? – Pensou o general, correndo.

    No pé da escada, porém, que ligava os jardins suspensos com resto da fortaleza, alguém foi visto. Talvez inesperado. Endulos olhou e em uma das fendas estava escondido Gad.

    – Gad! O que você está fazendo aqui, garoto? É perigoso!
    – Eu não consigo dormir, tio Endulos...
    – Onde está seu irmão?
    – Acho que está nos dormitórios... Os outros feiticeiros não vieram ainda, eu acho. O mestre dos sonhos disse que eles não poderiam vir.
    – Mas que diabos... – Murmurou o general – Corra para os dormitórios junto de seu irmão, vá que é melhor...

    Talvez fosse uma mensagem, ou até mesmo uma simples bobagem, mas algo vez aquele homem anexar mais algumas palavras, dizer algo a mais, quem sabe.

    – E tenha bons sonhos – E ele sorriu.

    E ele correu.

    No jardim, tudo parecia normal se não fossem os defuntos subindo pela muralha. Ah, sim. Uma cena linda invocada pelos necromantes, que deviam estar por aí, fazendo qualquer coisa, rindo da cara dos humanos vagabundos que sacavam suas armas pateticamente mortais e se dispunham a desencantar a magia. No meio do jardim tinha uma árvore, ser cheio de vida da mãe Tibia. Era outono, e suas folhas estavam espalhadas por aí, não mortas, mas semiprontas para um dia renascerem e voltarem a tingir aquele lugar de verde. Mas por enquanto só se viam ossos ambulantes e ossos e carne.

    – Vamos, não os deixem entrar! – Gritou Endulos, correndo em direção a eles, segurando sua espada com duas mãos. Parecia estar mastigando um pedaço de carne. Diziam que isso trazia sorte às pessoas que lutavam em batalha. Talvez funcionasse melhor quando a carne fosse do oponente.

    Os outros o seguiram, expelindo gritos de guerra e coragem de suas bocas imundas, com suas armaduras sujas indo a combate. Provavelmente elas seriam espatifadas no chão. Se não fossem destruídas pelos mortos, seriam desmanchadas com uma única brisa de vento quente. Os mortos se aproximaram. Alguns golpes e eles iam para o lugar de onde nunca deveriam ter saído, mas talvez aí que estava o problema: quantidade...? Eram muitos. Mortos que ali viviam, mortos que não foram para o além-mar, além-céu e repousaram durante séculos nas Planícies do Caos. As espadadas dos soldados eram efetivas, mas não dava. Nada dava. Nada daria. Desistir? O que seria isso na linguagem deles? Nada.

    Endulos avançou contra aquela horda, fatiando os corpos dos esqueletos e dos defuntos que andavam como bocós. Infelizmente, ao entrar no meio de tantos, acabava de assinar seu próprio atestado de óbito, tinha assinado a estada no mesmo hotel daquelas criaturas. Morte. Elas se juntaram em volta dele, começando a devorá-lo. Ele sentiu as mordidas, dentadas inexistentes. Sentiu e gritou. Seres providos de vida real poderiam derrotá-los? Não, não era esse o sonho de batalha que ele e os Cavaleiros do Pesadelo queriam. Em um impulso, Endulos emanou de seu corpo uma energia, lançando os defuntos para longe, fazendo-os em pedaços de carne e ossos inúteis. Mas a energia emanada foi demais. Um homem não consegue tanto e fica intacto. Endulos fechou os olhos e caiu de cansaço, com as forças esgotadas.

    Enquanto isso, futilmente alguns soldados matavam os zumbis, enquanto os arqueiros no alto das muralhas semidestruídas atiravam setas e bestas nos necromantes que enfeitiçavam por trás das colinas ralas das Planícies do Caos. Eles riam e se vangloriavam por tal feito, desabando humanos, a raça de Banor com apenas alguns encantamentos. Mas algo vinha por trás das colinas. Era uma nuvem negra, uma nuvem feita por seres voadores. Dragões, dragões mortos. Eles voavam com suas asas tortas e de puro ossos, indo em direção à fortaleza. Montado em um dos dragões, o dragão que voava mais alto de todos, um homem encapuzado vinha, tendo em punhos um livro de magia e um cajado com uma lua na ponta. Era o rei dos necromantes, o ser que era a segunda voz no Tibia dos mortos-vivos, o mortal que julgava a vida.

    Imediatamente, ao terem consciência daquilo, alguns homens buscaram abrigo voltando para dentro das quatro paredes, outros poucos avançaram ainda mais contra as hordas de cadáveres. Apenas via-se no centro do jardim em pleno outono Endulos, olhando para o céu sem estrelas de uma noite com uma Lua tão bonita. Olhando para cima ainda, apenas viu os dragões mortos pousando e atacando as muralhas, derrubando os atiradores no solo. Quando estava para fechar os olhos, fatigado, algo o tirou do solo. Uma mão o segurou pelo pescoço, levantando-o acima de seu rosto. Essa mão era do senhor encapuzado.

    –... O quê...? – Ainda tentou dizer algo, com a respiração fraca.
    – O dia do general será hoje – Disse o ser, com voz de homem comum. Grossa, mas de homem, jogando Endulos contra a muralha.

    Endulos gemia e olhava para a sombra que tinha sido feita pelo capuz. Aquele buraco negro que tapava os olhos daquela criatura, aquela escuridão que enchia os olhos do general de medo e curiosidade. Seu pescoço estava sendo prensado contra a muralha de pedra, enquanto seus olhos saltavam para fora das órbitas e seu rosto ficava vermelho. Ele resistia segurando na mão fria daquele ser, mas ele apenas segurava o seu pescoço e o apertava, o unhava.

    – Onde está o senhor das armas dessa Ordem...? – Perguntou o senhor encapuzado, jogando Endulos no meio do jardim, que caiu de cabeça nas folhas e flores que haviam se espalhado por ali –... Reconhece minha voz, senhor dos exércitos?
    – O quê? – Apoiou-se com as mãos o seu corpo ferido, olhando atentamente para o outro, o rei dos necromantes – Eu... Sei quem é você?

    Ouviu-se uma risada. Uma risada que parou o jardim naquele momento. Parou toda a Planície, parou todo o mundo. A mão foi lentamente ao rosto, segurando no pedaço de pano negro que cobria o rosto. Um rosto saiu daquilo que parecia uma cova escura, um rosto de homem, homem mortal. Imediatamente Endulos arregalou os seus olhos, olhos castanhos bem claros. Sua garganta gritou seca, gritou com um pouco de angústia, de dor e de surpresa:

    –... Falnus?

    O homem olhou para o céu. Seus olhos estavam vermelhos. Sua boca abriu em um sorriso um tanto demoníaco, mostrando alguns caninos maiores que os demais dentes. Seus olhos vermelhos arregalaram-se. Uma chuva fina começou. Não houve relâmpagos como os filmes belíssimos de grandes vilões. Apenas uma chuva fina e serena. O homem levantou as mãos para o alto e as enxaguou com a água da chuva, limpando as manchas vermelhas de sangue. Ele secou a mão na túnica que vestia e olhou diretamente para os olhos de Endulos. Esse estava lá, sentado como um coelho no meio da grama.

    – É Goshnar.

    Foram as únicas palavras do homem, ao ir caminhando em direção ao “coelho”. Coelho, porém, poderia ser algo vulgar demais para ele. O homem ajoelhou-se em sinal de referência a Endulos, abaixou a cabeça. Ah, a cabeça. Endulos olhou para ele de um jeito estranho, da mesma forma que um garoto olha para um dragão gigante. Os dragões estavam ali perto, parados como estátuas, moinhos-de-vento. Até pode ser que eles sejam moinhos-de-vento, não? Imediatamente, o homem que estava ajoelhado levantou sua mão e, num súbito, segurou o pescoço de Endulos, perfurando sua garganta. Ele gritou, gemeu, mas a estada no solo mortal parecia mais curta naquele momento.

    – Que os deuses recebam o general da Ordem de braços abertos – E o homem arrancou uma espada de algum lugar, algum lugar que não conhecia o valor ao suspiro, apontando-a para a testa da criança em suas mãos.

    Sim, pura criança.

    E a lâmina entrou na cabeça de Endulos e ele morreu. Todos os seus sentimentos sumiram. Houve poucos sentimentos durante sua estada. Houve poucos sentimentos depois de sua partida. E o mundo calou-se para ouvir o último ressoar da trombeta.

    Os ponteiros do relógio pararam e o mundo acabou.
    Não há mais história a partir daqui.
    Não há histórias sem mocinhos, não há lendas sem heróis.

    E esse foi o fim dos tempos, o tempo que a Babel não conseguiu prever.
    A brincadeira acaba aqui.
    Fim.
    __________________________________________________ _______________

    Não se engane, padawan.
    Ainda temos muito o que fazer...
    Última edição por Caboom; 13-01-2006 às 18:23.

  3. #3
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    Be, amigo, digamos que finalmente, cólera foi superado.A quanto tempo desenvolve este projeto?Digo desde Cutewood.Seriam 6 meses?

    Não sei, mas só sei que o resultado me surpreeendeu de tal forma que só posso me curvar e dizer

    Citação Postado originalmente por Virgo Shaka
    Caboom, será sempre meu eterno buda, e meu algoz.
    Não me entendas mal, mas o dia que eu lhe superar, será o dia em que o mundo perderá o que ainda resta de sanidade.Aqui atesto a superioridade deste texto.
    "Longos dias e belas noites "

    Lhe deseja,
    Virgo Shaka
    Última edição por Virgo Shaka; 14-01-2006 às 20:56.

    Simplesmente Futuro: O Futuro Como Você Nunca Imaginou Antes

    Entre Por Sua Própria Conta e Risco...

  4. #4
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    Padrão ...

    Lol...

    Nada mal. Confesso que fiquei extremamente confuso com o prólogo, se bem que suspeito que essa era sua intenção! O fluxo de pensamentos do personagem narrador está ótimo, embora muitas vezes o personagem não saiba se o que está narrando é real ou não (suspeito que isso também seja intencional). Encontrei duas partes no prólogo que estão muito repetitivas (depois edito indicando-as). Gostei muito do 1 capítulo em especial, a descrição da batalha está ótima!

    Aguardando a continuação!

    Jotinha
    :rolleyes: :rolleyes: :rolleyes:

    19:31 GM Ryrik Danubia [2]: Good bye everyone, thanks for all of the great memories :-)

  5. #5
    Banido Avatar de Billy Joe
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    Depois de ler,descobrir, e ajudar a fazer dois topicos sobre isso.
    É otimo lê um RPG sobre isso ;D




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  6. #6
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    Citação Postado originalmente por Billy Joe
    Depois de ler,descobrir, e ajudar a fazer dois topicos sobre isso.
    É otimo lê um RPG sobre isso ;D
    É isso ae, amikow.
    Mas não pense que a história vai girar apenas em volta de Pits of Inferno, muito pelo contrário. Tenho como pretenções passar a história de Plain of Havoc, mas apenas usando-a como cenário, já que mais pra frente (se depender, no próximo capítulo) que não quero o Tibia, massa pura.

    Vou conspirar no meio.
    Vou mostrar o Tibia de uma maneira esquisita, uma teoria.

  7. #7
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    Putz o.O
    Ta legal, porém o prólogo ficou meio confuso, e também há alguns errinhos de português, mas no geral, está ótimo.
    Pena que acabou.=D
    eheeheh zuera......
    Esperando a continuação...não sei nada sobre Pits do Inferno ou seja lá o que for...xD

    Good bye

  8. #8
    Banido Avatar de Favaru
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    Sim sim...

    Lol... Seu rp está muito bom caboom... Excelente, aliás...

    Mas, o virgo se curvar de tal forma me deixou assustado... Não vejo porque dizer tais palavras apenas por testemunhar um belíssimo texto...

    Aí o post vai ficar melado... Concordo plenamente que o texto está muito bem escrito, mas acho que o Virgo exagerou desta vez...

    Ou será que tem algo a mais nisso? :rolleyes:

    []'s

  9. #9
    Avatar de Virgo Shaka
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    Citação Postado originalmente por Favaru
    Sim sim...

    Lol... Seu rp está muito bom caboom... Excelente, aliás...

    Mas, o virgo se curvar de tal forma me deixou assustado... Não vejo porque dizer tais palavras apenas por testemunhar um belíssimo texto...

    Aí o post vai ficar melado... Concordo plenamente que o texto está muito bem escrito, mas acho que o Virgo exagerou desta vez...

    Ou será que tem algo a mais nisso? :rolleyes:

    []'s
    Favaru, Caboom vinha querendo desistir deste fórum a meses.E eu o queria ver ele aqui, pra sempre, pois como cólera me inspirou, um novo tópico deste mestre fará bem às futuras gerações.

    Caboom tem o dom inato de nos arrebatar, e o que eu mais desejo é que SF seja assim.Porém eu,Caboom,você favaru, Trolha, Guardian, e todos aqueles que mudaram este fórum para melhor, estamos envelhecendo.E por isso preciamos deixar um legado, para que as futuras gerações continuem se aprimorando.

    SF será o meu,você já tem o seu.Guardian, trolha, todos eles têm.E Cólera,o grande legado, foi perdido, devido à um moderador em plena TPM*cof*Havengar*cof*

    Então favaru,admirremos babel e digamos, em nome do Mooh'Tah que ainda arde neste fórum:


    Viva la revolución


    Sem mais,
    Virgo Shaka
    Última edição por Virgo Shaka; 16-01-2006 às 01:07.

    Simplesmente Futuro: O Futuro Como Você Nunca Imaginou Antes

    Entre Por Sua Própria Conta e Risco...

  10. #10
    Banido Avatar de Favaru
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    Sim sim...

    Lol... Não precisa chegar a tanto... Admiro muito babel, etc e tal.

    Apenas não quero ser meloso, você já devia esperar isso de mim.

    O Rp do Caboom está muito bom, aliás, agora caboom, você é que me deve um comment (Para descontrair).

    E também é verdade que estou velho, aliás, preciso encomendar minha bengala esta semana. Não agüento mais andar sem nenhum apoio.

    Virgo, não precisa pensar demais no futuro... Todos vão, mas um dia voltam...

    Apenas fiquei assustado quando vi você entregar a coroa e o cetro para o caboom... :rolleyes:

    []'s

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