Spoiler: Disputa de Terceiro Lugar
Saudações!
A II Justas Tibianas se encerra! Nesse tópico, estarão dois textos à disposição de vocês, escritos do ponto de vista dos Personagens dos dois Participantes que se enfretam aqui, a fim de que leiam e escolham o melhor por meio de voto. O vencedor passará para a próxima rodada e poderá usar os votos como pontos para a Ficha de Personagem.
O esquema é de anonimato, ou seja, cada texto aqui disposto não terá o nome do Autor em sua respectiva janela, a fim de tornar mais justa e interessante a competição. Por favor, peço que deem um feedback honesto e construtivo sempre na medida do possível. Respeito é palavra de ordem e de lei. Quaisquer dúvidas quanto às regras, favor consultar o Tópico de Inscrições.
As demais disputas estarão disponíveis no Tópico Central e aqui também (e nos demais tópicos), em uma outra janela separada, caso necessário.
BOA SORTE, JUSTADORES! A Votação começa hoje e tem prazo de 08 (oito) dias para ser encerrada. A Votação acabará às 23:59 do dia 26/02, domingo!
Spoiler: Introdução: Glenn e Rato de Rook
Os Justadores estão, agora, diante de um espelho que mostra seus maiores pesadelos. Aqui, há dois textos sobre o tema.
Glenn
Um Anão nascido e criado pela irmandade dos Comedores de Dragões (Order of the Dragoneaters), que perdeu o pai e foi separado de sua mãe em uma expedição a Thais em sua juventude. Atualmente um Cavaleiro treinado em Thais, utiliza seu treinamento e sua inteligência acima da média de sua raça para buscar por pistas que o levem a descobrir o paradeiro de sua mãe biológica.
Rato de Rook/ Acricius Lemistorivis
Acricius Lemistorivis, vulgo Rato de Rook, nasceu na mítica ilha de Rookgaard. Filho de Gentris e Alicia Lemistorivis. Seus pais eram agricultores, também naturais de Rookgaard. Gentris e Alicia tiveram um destino trágico. Foram tentar lavrar algumas terras na parte leste de Rook e foram estraçalhados pelas feras, e Acricius fora poupado pelos lobos e criado por sua avó, Zirella. Sofreu também, com seu coração adolescente, por um amor não correspondido. Hoje, passados cinco anos do término de seus estudos e treinamentos em Rookgaard, Acricius Lemistorivis, vulgo Rato de Rook, apelido trazido de Rookgaard e com o qual seus camaradas de guilda também o “honram”, vive aventuras e desventuras como um conceituado e habilidoso arqueiro da Adaga.
Gosta de sentar-se em uma mesa bem localizada, em qualquer uma das tabernas que conhece, nas cidades e localidades do Reino, e como um bardo, contar ou cantar, como talentoso harpista que é, suas aventuras e feitos, como também os de seus camaradas de guilda.
Seu coração se divide entre indagações sobre o destino de Estella, sobre quem não consegue notícias ou informações, desde que a faceira druideza retornou a Edron, após o curso na Academia, e planos para, na primeira oportunidade que tiver, retornar a Rook, para rever seus familiares e tutores, e os demais habitantes da mítica ilha de Rookgaard.
Spoiler: Texto 1
Algo de incomum havia no ambiente desértico quando finalmente saí do túnel que levava ao mausoléu do conspirador flamejante. Relm, minha nova companheira de viagem, caminhava ao meu lado, e parecia alheia ao clima insólito que o deserto apresentava. Não havia nenhum vestígio da presença de Zack no horizonte, como se o anão tivesse se teleportado magicamente para outro lugar após deixar a tumba; àquela altura, não ficaria surpreso se isso fosse mesmo verdade.
Os sóis brilhavam normalmente, quentes e implacáveis como de costume; após vários dias naquele lugar, meu corpo já estava se acostumando ao novo clima. Todavia, o céu estava mais obscuro do que deveria naquela hora. Num primeiro impulso, pensei simplesmente que o dia estava nublado, porém, não havia sinal de nuvens até onde meus olhos enxergavam. Depois das minhas últimas experiências com faraós, maldições e magias profanas, qualquer anormalidade parecia ser um lúgubre presságio dentro da minha mente.
— Está tudo bem com você, rapaz? Deveria estar mais contente por ter escapado ileso daquele lugar...
A voz firme, porém doce de Relm trouxe minha atenção de volta. A anã olhava-me com a cabeça levemente curvada, além de esboçar um tímido sorriso. Definitivamente a moça não tinha muito a ver com o estereótipo da espécie.
— Eu estou aliviado, acredite — Respondi, tentando sorrir amistosamente, mas sem tirar os olhos do céu. A cor azul pálida, quase acinzentada que o firmamento apresentava prendia minha atenção de uma forma indescritível.
De relance, notei algo curioso também na superfície arenosa. Apesar da escuridão, os raios dos sóis ainda causavam um efeito reflexivo na areia, o qual era responsável pela formação das famosas miragens desérticas. Entretanto, contrariando a lógica, o efeito era muito mais expressivo naquele momento do que em dias claros. A areia funcionava como um primoroso espelho, refletindo minha imagem com perfeição no solo.
A visão do meu próprio reflexo de forma tão repentina assustou-me, primeiramente. Meus cabelos e barba estavam em uma situação crítica, maltratados pelos dias no deserto. As roupas não pareciam muito melhores, já que estavam rasgadas em vários lugares e chamuscadas pela batalha na tumba. Olhei para aquela cena exótica durante alguns instantes, mal acreditando que se tratava mesmo de mim. Quando já estava me recuperando do susto, algo estranho começou a acontecer comigo. Minha vista estava escurecendo, ao mesmo tempo em que sentia os outros sentidos também falharem. Bastaram alguns segundos para que minhas pernas cedessem e eu caísse inerte no chão.
— Ei... O que houve? — A voz de Relm passou como uma suave brisa pelos meus ouvidos, logo antes da escuridão encobrir-me completamente e minha consciência desaparecer.
...
Não sabia dizer onde estava naquele momento. Meus olhos se abriram lentamente, mas tudo que enxergavam era uma silenciosa escuridão; tentei tatear o espaço ao meu redor, mas não encontrei nada que pudesse ser tocado. Alguns instantes depois, minha visão começou a vagarosamente se acostumar àquele novo ambiente, revelando uma tímida fonte de luz alguns passos a minha frente. Apertei bem meus olhos, mas não fui capaz de dizer do que se tratava o objeto; se eu quisesse descobrir, teria que me aproximar mais. Respirei fundo, ganhando tempo para reunir coragem, e fui andando até a luz.
A distância que me separava do objeto luminoso era maior do que parecia; precisei andar por quase um minuto para atingi-lo. Ao chegar próximo, consegui observar melhor do que se tratava. O objeto que emitia a luz, na verdade, ainda estava oculto, já que três placas acinzentadas, tendo em torno de meio metro de comprimento cada, estavam inclinadas umas sobre as outras, de forma que encobriam a fonte do brilho.
“Devo estar sonhando. Não consigo imaginar outra explicação para isso”, pensei, enquanto olhava em volta. A escuridão ainda cobria completamente tudo ao redor daquele objeto. Voltei o olhar novamente para a placa que estava virada para meu lado; aproximei-me dela, e consegui notar que algumas letras estavam se materializando em sua superfície. Surpreso, vi quando os caracteres se organizaram, formando uma palavra que fez meu corpo estremecer: “O temor”. Assustado e ao mesmo tempo curioso, estiquei a mão para tocar na placa e, assim que meu dedo indicador encostou-se à sua superfície, uma luz acinzentada começou a fluir com mais intensidade dali, preenchendo todo o local. Em poucos instantes, eu estava em um ambiente completamente distinto.
A nova visão que tive após o contato com a superfície era de tirar o fôlego. As placas haviam desaparecido, e eu estava de pé em uma ponte suspensa, já com sua estrutura de madeira bem avariada; o vento no local era suave, e carregava consigo um aroma familiar. Ao meu redor, uma paisagem extraordinária se estendia de forma sufocante. Uma montanha gigantesca envolvia uma pequena clareira, que era composta por vegetação rasteira, basicamente gramínea; alguns ninhos de aves também podiam ser vistos entre as saliências da montanha. Às minhas costas, a parte mais impressionante: uma estrutura rochosa robusta, imponente, que reproduzia a aparência de um anão e guardava a entrada de uma cidade. Não havia dúvidas de que eu estava no grande Colosso de Kazordoon.
— O temor... Vejo que decidiu começar por aqui.
Fui surpreendido pela fala inesperada e quase me desequilibrei, segurando nas frágeis cordas da ponte para não cair. A voz tinha um tom pesado, quase sobrenatural, e parecia estar carregada de sofrimento. Quando olhei para trás, de onde vinha a fonte do som, abafei um grito de horror. O dono daquela voz era um anão – ou, pelo menos, lembrava um; a criatura apresentava uma aparência horrenda, decrépita, como se fosse o resultado de uma experiência mágica mal sucedida. Os cabelos e barba, geralmente um orgulho da espécie, eram finos e quebradiços, além de terem uma cor cinza fosca e sem brilho. Os olhos eram caídos e rodeados por profundas olheiras, e o corpo era extremamente magro e enrugado.
— Q-Quem é você? Onde estou? — Consegui dizer, por fim, após alguns segundos em silêncio. A criatura não mudou sua expressão, apenas mexendo levemente a boca para falar.
— Ora, eu sou o que você está vendo — Começou o anão. — Eu sou um anão. Eu sou esse lugar. Antes de tudo, Glenn, eu sou você.
Meus ossos tremiam a cada palavra dita pela criatura. Aquilo só serviu para me deixar ainda mais confuso.
— Explique-se! Isso é um sonho, uma ilusão, não é? Apenas esperarei que eu acorde e estarei livre disso!
— Bom, você não conseguirá sair tão facilmente, rapaz. Talvez isso pareça mesmo um sonho, um pesadelo... Afinal, estamos em sua mente. O fato é: você não sairá daqui se não conseguir me superar.
— Superar? Por acaso vou precisar lutar com você? — Perguntei, ainda muito confuso com a situação. As minhas sensações eram reais demais para um simples pesadelo.
— De certa forma, você está certo. Mas não será uma luta física, obviamente. E o adversário será poderoso, acredite. Se você acabou vindo para este lugar, isso quer dizer que as trevas o cobriram quase por inteiro; muitas vezes os seres conseguem seguir em frente com suas vidas apesar dos problemas, Glenn. Você sabe muito bem disso. Todavia, há um certo momento no qual sua mente está prestes a perder o controle, a ponto de sucumbir à escuridão. Nessas horas, poucos são aqueles que conseguem resistir à própria degradação. Você, garoto, está aqui por esse motivo: não conseguirá continuar seu caminho se não superar o que mais teme, o que mais te prende às trevas. E eu represento isso, também.
As palavras da criatura me deixaram completamente sem fala. “O que mais temo? Como devo superar isso, se nem mesmo sei exatamente do que se trata?”, pensei, tentando organizar minhas ideias. “Talvez...”
— Exatamente, rapaz — a entidade disse, interrompendo meu pensamento. Ele parecia conseguir ouvir o que se passava pela minha mente. — Não fique surpreso; já disse: eu sou você. Eu represento um dos seus medos mais profundos e antigos: o temor pelos anões.
Apesar de já estar desconfiando, ouvir aquilo em forma de palavras era ainda mais cruel. Continuei sem conseguir falar nada, apenas olhando firmemente para a criatura.
— Crescer em meio aos humanos... Certamente um fardo pesado demais para um anão jovem carregar. Mas você precisou aguentar, Glenn. Você passou por esses anos em uma sociedade doente, com criaturas sujas, corruptas e inescrupulosas; você viu como uma espécie, como uma sociedade pode corromper-se facilmente. Como o ser humano pode ser cruel. O que você não sabia era que suas tenras memórias infantis eram enganosas. Os anões, dos quais você tinha poucas, porém positivas memórias, são iguais aos humanos — Nesse momento, a imagem de Zack passou como um raio pela minha mente. Eu estava ainda mais paralisado e sem reação. — Eles também mentem. Eles também dissimulam. Eles também enlouquecem. No fundo, você sempre soube, Glenn: sua espécie é tão suja quanto os humanos. E isso te atormenta...
Cada frase dita pela entidade açoitava-me com violência. Ele estava completamente certo... Ao mesmo tempo em que estava ansioso para conhecer melhor a cultura do meu povo, temia do fundo da alma que eles fossem parecidos com os humanos. O encontro com Zack foi um choque de realidade enorme e poderoso. Senti como se meu corpo estivesse imundo, maculado por ter nascido de um povo corrupto. A cada instante, sentia-me mais deprimido e paralisado, e o grande Colosso começara a desmoronar com rapidez sobre mim. Os fragmentos de rocha, inicialmente pequenos, começaram a trazer consigo enormes blocos rochosos, que caíam rapidamente na minha direção, como uma avalanche. Mesmo que eu tentasse, minhas pernas não se moviam um milímetro sequer.
— Nunca sairá daqui caso perca o controle, Glenn. Já disse e irei repetir: não poderá seguir em frente se não superar as trevas — Dizendo isso, a criatura desapareceu em meio à montanha, deixando-me sozinho, prestes a ser soterrado.
Era isso. Eu era fraco, de corpo e de espírito. Ficaria ali, condenado a passar a eternidade soterrado pelos meus medos e frustrações. Naquele momento, não tinha vontade alguma de tentar resistir: as palavras da criatura levaram consigo a chama que me mantinha são. Tudo isso por temer algo tão previsível... Fechei os olhos, esperando pela chegada das rochas, que se aproximavam.
“Glenn?”
Uma voz suave e quase indistinta passou rapidamente pela minha cabeça, me fazendo abrir os olhos. Era inconfundível: tratava-se de Relm. A simples lembrança do som da voz da anã fez com que minha mente se clareasse parcialmente. Como eu estava sendo tolo! Fui enganado por aquela entidade de forma tão simples... Julguei toda a sociedade dos anões pelas atitudes de apenas um indivíduo. Ignorei as lembranças que tinha de infância, nas quais meus companheiros de espécie eram seres trabalhadores, aventureiros e honrados. Não levei em conta Relm... A anã se arriscara muito para frustrar o pérfido plano de Zack, e ainda confiou em mim sem mesmo ter nenhum indício de minha índole. Era absurdo pensar que não existiam bons valores na sociedade dos anões!
À medida que voltava ao meu estado normal, a paralisia ia passando, lentamente. As pedras ainda caíam, e já estavam bem próximas de mim. Juntei todas as forças que pude buscar naquele momento e, com um impulso, saltei da ponte, caindo de forma desajeitada numa pequena saliência da montanha, à direita dali. As rochas soterraram o local em que eu estava apenas alguns instantes após minha aterrissagem.
Passei longos minutos deitado naquele local, recuperando o fôlego. Estive muito, muito próximo de me entregar por um motivo tão parvo... Era vergonhoso ser enganado daquela maneira. Levantei-me com dificuldade, e olhei para a enorme pilha de rochas que o desmoronamento do Colosso formou. Não fosse por aquele flash sobre Relm... Talvez eu estivesse ali embaixo agora, derrotado. Fitei o topo da pilha, e notei que ele terminava bem no lugar onde o rosto do Colosso se localizava. Apertando a vista, consegui observar que havia algo lá: tratava-se do objeto luminoso cercado de placas, dessa vez, com apenas duas. Parecia que eu havia superado o primeiro obstáculo. Comecei a escalar as rochas em direção ao objeto, e o ambiente se escurecia mais a cada passo dado. Ao chegar à frente das placas, eu estava de volta à primeira sala, completamente imersa em trevas e silenciosa.
“Superar minhas trevas. Quer dizer que devo enfrentar tudo isso de novo para sair daqui... Parece que não tenho outra escolha”, pensei, enquanto observava as placas. A luminosidade, apesar da placa do temor ter desaparecido, continuava débil, porém, era o suficiente para que eu não soubesse do que se tratava o objeto ali no centro. Era claro que eu deveria superar as outras placas para poder libertar o que quer que estivesse ali.
Aproximei-me das duas placas restantes, enquanto observava as letras se formando, como acontecera com a outra. Deveria escolher uma delas logo para terminar aquilo o mais rápido possível; dessa vez, eu não seria enganado tão facilmente. Após alguns segundos, as palavras estavam bem claras, e nenhuma delas parecia convidativa: na placa da esquerda havia “A incerteza”, e na da direita “O inevitável”. Sem ter ideia do que fazer, acabei escolhendo aquela que representava bem meu sentimento no momento: “A incerteza”. Estiquei o dedo indicador, como fiz também na primeira vez, e uma luz levemente azulada começou a cobrir o ambiente.
Dessa vez, a mudança de ambiente foi ainda mais brusca. O que parecia ser apenas um brilho azulado na verdade era água, que cobriu todo o espaço visível por mim, enquanto o objeto desaparecia novamente. Quase entrei em desespero ao notar que estava imerso em um gigantesco oceano, porém, surpreendentemente, eu conseguia respirar normalmente. Assim que me acalmei um pouco, passei a olhar freneticamente para os lados, a procura da entidade que provavelmente estaria ali. Não demorou mais do que alguns segundos para que a criatura aparecesse.
— Vejo que conseguiu passar pela primeira parte. Interessante, Glenn.
A entidade, dessa vez, tinha uma aparência menos desagradável, mas tão surpreendente quanto a anterior. Sua voz era mais suave, quase como um sussurro. A fraca luminosidade não me permitia visualizar muitos detalhes dela, mas consegui notar que se tratava de uma tartaruga marinha, parecida com as nativas da região próxima à Baía da Liberdade. O casco escuro emanava uma sensação de rigidez, e o rosto era sereno e harmonioso. A criatura me observava com uma expressão surpreendentemente aprazível.
— Resolveu assumir uma forma interessante dessa vez, não é? — Disse, tentando, sem muito sucesso, disfarçar minha tensão.
— A forma que assumo depende exclusivamente de você, rapaz. Tentar ser irônico ou disfarçar seus sentimentos será tão efetivo quanto beliscar-se para tentar despertar. Ou você acha que pode enganar a si mesmo?
As palavras me atingiram como um soco no estômago, e fiquei completamente sem resposta. Definitivamente eu não poderia subestimar aquela situação.
— Glenn... Talvez essa forma represente seu medo mais óbvio e, ao mesmo tempo, mais doloroso. Você já deve imaginar, não é? O nome da placa ser incerteza, essa forma... Não adianta simplesmente me ignorar ou tentar negar o óbvio; se não me superar, ficará preso aqui. Para sempre. O que será que sua mãe pensaria dessa situação?
Mais uma vez. Aquela entidade... Provavelmente estava falando sério quando disse que éramos um só. Incerteza... É a definição perfeita para o que sinto sobre minha mãe. Será que voltarei a vê-la? Será que ela não quis voltar após livrar-se dos sequestradores? Será que ela, de fato, se importa comigo? Pensei que teria algumas dessas respostas quando encontrasse o livro na fortaleza dos djinn, mas tal artefato só trouxe mais dúvidas. A incerteza por vezes é mais cruel que a própria verdade, por mais dura que seja. E aquela dúvida me consumia diariamente. Enquanto pensava, sentia minha respiração lentamente começar a se tornar mais difícil.
— Tartarugas marinhas... Uma espécie fascinante. Porém, elas não têm vida fácil desde o seu nascimento. A mãe abandona os filhotes à própria sorte, e os poucos que chegam até a vida adulta vivem solitários no fundo dos oceanos... É quase exatamente o que acontece com você, Glenn. Mesmo rodeado de humanos durante todos esses anos, sempre esteve só, isolado em sua própria companhia — Minha respiração continuava ficando mais e mais comprometida, e eu não conseguia resistir ao sentimento de angústia que as palavras me causavam. — E pensar que você passou por tanta coisa para correr atrás de uma mãe que não liga para sua existência...
Eu tentei resistir. Não queria acreditar na entidade. Eu sabia que não deveria aceitar aquilo. Porém... Era impossível. Quanto mais eu lutava, mais minha mente era preenchida por pensamentos pessimistas e destrutivos. Mais minha respiração se tornava difícil. Mais eu era derrotado pelas trevas...
— Talvez seja mesmo o momento de desistir, Glenn. Já fez muito ao conseguir livrar-se do temor... Adeus — Ao dizer isso, a tartaruga começou a nadar lentamente para a direção oposta, enquanto uma correnteza surgia repentinamente na água, levando-me sem resistência para longe dali.
Eu tentei lutar. Dessa vez, eu tentei de verdade. Todavia, quando pensava em minha mãe, apenas imagens negativas surgiam na minha mente. Minha respiração já estava completamente cessada, e eu era carregado para algum lugar bem longe de onde estava inicialmente. Meus olhos começaram a se fechar, e meu corpo já não respondia mais aos meus comandos. Será que acabaria mesmo assim...?
Num último relance antes de fechar os olhos completamente, avistei, distante, o objeto luminescente. Ele estava lá, calmo e imóvel como sempre, e as duas placas ainda estavam intactas. Tirei forças de onde não havia mais, e, num ato de desespero, tentei nadar contra a correnteza, em direção à luz. Batia meus pés freneticamente na água, e esticava os braços o máximo que conseguia. Não foi suficiente para avançar na direção certa, mas pelo menos diminuiu a velocidade da correnteza.
“— Mamãe! Veja! É um rio!
— Estou vendo filho. Pule. Vou te ensinar a nadar.”
Minhas pernas pareciam ganhar força. Lentamente, eu tinha a impressão de que começava a avançar na direção correta.
“— Não se esqueça das pernas! Elas que lhe darão o impulso necessário.
— Assim, mãe? Está me vendo? Eu estou nadando!
— Claro que estou, filho. Eu sempre estarei te vendo...”
É verdade... Minha mãe nunca me abandonou. Se ela esteve longe durante esses anos, deve ter tido uma boa razão. E, com certeza, não é porque não se importa comigo. Sentia-me envergonhado por quase ter perdido a razão novamente. Afinal de contas, voltar a ver minha mãe sempre foi o que me motivou a seguir em frente. Agora eu tenho certeza.
Senti minha respiração voltando ao normal e, aos poucos, a correnteza mudava de sentido, levando-me em direção à luz. Rapidamente aproximei-me do objeto e, quando fiquei de frente para ele, tudo desapareceu novamente, voltando ao cenário obscuro. Dessa vez, só uma placa havia em torno da luz.
Fiquei alguns minutos parado em frente à última placa, enquanto recuperava-me do incidente anterior. O brilho do objeto havia aumentado ligeiramente, mas ainda era tímido, e seu formato continuava oculto. “O inevitável”... Sem dúvidas esse era o nome que mais me assustava, principalmente porque eu não fazia ideia do que poderia significar. Entretanto, eu não tinha alternativa além de encará-lo. Precisava vencer a entidade de qualquer maneira, independentemente das táticas que ela utilizasse. Estiquei o dedo, tocando a superfície da placa rapidamente, de olhos fechados.
Quando abri os olhos novamente, após alguns segundos, minha surpresa foi ainda maior do que nas outras duas placas. Inexplicavelmente, o ambiente não mudou em nada. A escuridão continuava lá, absoluta, e o objeto permanecia da mesma forma e no mesmo lugar. Pensei ter feito alguma coisa errada dessa vez, mas tudo que precisei fazer nas outras era tocar a placa. Enquanto pensava em qual tipo de erro poderia ter cometido, notei um barulho vindo de algum lugar na escuridão. Aproximando-se sorrateiramente de onde eu estava, a entidade reapareceu.
Dessa vez, a criatura não exibia nenhuma forma grotesca ou extravagante. Ela caminhava ainda em meio à escuridão, mas eu conseguia enxergá-la perfeitamente, como se possuísse luz própria. A entidade era praticamente um reflexo da minha aparência, assim como o que vi na areia antes de perder a consciência; com estatura mediana para a espécie, possuía barba e cabelos bem negros, apesar de descuidados, e vestimentas em farrapos. Seus olhos não transmitiam nenhuma emoção, e seus passos eram lentos e comedidos. Por alguma razão, ver minha própria imagem projetada na criatura me aterrorizou mais do que qualquer outra forma que ela tenha assumido.
— Conseguiu chegar até aqui, rapaz. Impressionante. Pensei que a incerteza era o limite.
A voz da entidade, dessa vez, era como um misto de várias vozes projetando-se umas sobre as outras. Consegui identificar a das outras formas que ela assumiu em meio àquele amálgama de sons, porém, a que mais se destacava entre elas era a minha própria voz. Ela estava em um tom diferente, um pouco mais pesada e densa; mas ainda era a minha voz.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a criatura mudou bruscamente sua expressão. Seus olhos ficaram mais tensos, e as sobrancelhas arquearam-se, enquanto a boca se transformou em uma linha reta e firme. Definitivamente, não era uma aparência amigável.
— Saque sua arma, Glenn. Está na hora de resolvermos tudo isso — A entidade disse, enquanto empunhava um machado idêntico ao que eu usava normalmente, que estava em suas costas.
Olhei de relance para trás, e notei que meu machado estava amarrado às minhas costas também. Por alguma razão, não havia me dado conta de sua presença até aquele momento. Ainda surpreso pela reação inesperada da criatura, empunhei a arma sem muita firmeza, sem tirar os olhos dela por nenhum segundo.
— Você não havia dito que isso não seria uma luta físic... — Fui interrompido bruscamente pela criatura, que avançou para cima de mim com o machado em mãos. Pego de surpresa, quase deixei que minha arma caísse, mas consegui segurá-la e aparar o ataque da maneira que foi possível. O golpe veio muito mais forte do que eu pensei que seria, numa potência que dificilmente eu conseguiria imprimir em um ataque daqueles. A lâmina atingiu em cheio a região central da superfície do meu machado, arrancando uma lasca do metal que o formava.
— Inevitável... Talvez a expressão genuína da sua essência. O medo que sempre esteve com você, mas nunca era admitido. O medo que você sabe ser o mais verdadeiro, o mais próximo, o mais... Inevitável — A entidade dizia, enquanto continuava a desferir golpes contra mim. Eu mal podia defender-me dos ataques, que eram violentos e carregados de ódio. E aquelas palavras... O que poderiam significar?
— Não cairei em suas artimanhas novamente, criatura. Superarei o que for necessário. Deixarei esse lugar e viverei livre das trevas! — Exclamei, enquanto me recompunha de mais uma tempestade de ataques da entidade. Firmei o corpo e segurei o cabo do machado com força, preparando-me para contra-atacar.
— Eu já disse várias vezes, garoto. Eu sou você. Não adianta tentar mentir para si mesmo — A criatura dizia, enquanto evitava meus ataques com certa facilidade. — E, nesse momento, eu sou você em sua forma mais pura.
— Calado! — Gritava, enquanto aumentava a potência dos golpes. Não poderia me deixar levar pelas palavras da criatura novamente... Eu precisava resistir. — Eu não sou assim!
— Você não quer ser assim, garoto. Mas lá no fundo, você sabe. Sabe, porque eu sou você. Eu represento o que há de verdadeiro em seu âmago, o que você não consegue esconder. Eu sou o ódio. O ódio que você tem tanto medo de sentir. O ódio contra os humanos, o ódio contra os anões. O ódio contra si mesmo. O medo de perder a razão para esse ódio e transformar-se em um monstro é aquilo que corrói sua alma. É a verdadeira fonte da escuridão que envolve seu ser. É o seu fim inevitável!
Os ataques cessaram por alguns instantes. Minha cabeça doía, as palavras da criatura martelando cada vez mais meus pensamentos. Esse medo... Era real. No fundo, sempre foi o que esteve nos confins da minha mente. A ameaça silenciosa que eu sentia a todo tempo, mas não era capaz de explicar. Mas... Não era inevitável!
— Eu cheguei até aqui, criatura. Eu superei o que tinha medo de admitir que sentia, e aceitei o que era inevitável. Mas isso... Isso não sou eu! Não me entregarei ao ódio. Eu não o aceitarei!
— Insistirá nisso? Percebo que não adianta repetir, você não consegue... Você não quer entender — A expressão da criatura tornou-se levemente melancólica por um breve momento, mas logo voltou à fúria de antes.
— Talvez você não tenha o suficiente para seguir em frente, Glenn. Hora de acabar com isso.
A entidade empunhou o machado com firmeza, e veio em minha direção, disposto a colocar um fim naquilo. Ele avançava rapidamente, porém, para mim, o tempo parecia fluir de forma diferente. Mais lenta.
“Ac...”
Eu ouvia algo. Sem dúvidas. Mas não era uma voz, não era um barulho. Era um pensamento, muito débil e quase impossível de se detectar. A criatura continuava vindo em minha direção, sua fúria ainda mais visível. Levantei o machado sem muita firmeza, abalado por toda aquela situação.
“Acei...”
O pensamento, dessa vez, era mais vívido. Ainda não entendia o seu significado, mas percebi que ele se fortalecia mais a cada instante. Minha mente parecia se clarear, à medida que era invadida por aquela sensação. A entidade continuava vindo, porém... Eu a via de forma diferente, naquele momento. Sua fúria parecia desesperada, sua expressão era melancólica. E sua arma... Seria possível?
“Aceite...”
Tudo fazia mais sentido, naquele momento. Não acredito que demorei tanto para perceber... A entidade repetia insistentemente que nós éramos o mesmo ser, que eu deveria superá-lo para deixar aquele lugar, que eu não podia mentir para mim mesmo... Era isso! Um sorriso formou-se instantaneamente no meu rosto, enquanto eu largava o machado e aguardava pelo ataque da criatura.
“Aceite-se!”
Eu não deveria lutar contra mim mesmo. A entidade representava o que eu era, o que não havia forma de esconder. As trevas... Elas vinham da minha rejeição aos meus próprios medos. Às minhas próprias verdades. Não é como se eu fosse um ser inteiramente rancoroso e cheio de ódio como a entidade representava, mas aquilo fazia parte de mim. Sem a totalidade do meu ser, eu deixo de ser um indivíduo. Eu caio na escuridão, e fico impedido de seguir em frente. A criatura prosseguiu com o ataque, atingindo-me em cheio no peito com a lâmina.
— Finalmente decidiu escutar, não é? — Sussurrou a entidade, sorrindo. O ódio desaparecera completamente de sua face.
Não senti dor. Nem poderia: a entidade e eu éramos um só, assim como aquele machado, as placas, todo aquele lugar. Uma vez aceitando a forma que sou, com meus medos e imperfeições, nada daquilo seria capaz de me ferir mais. Enquanto eu pensava, a entidade e o machado, tal como todo aquele ambiente, iam perdendo sua forma física, voltando ser parte de mim. Já conseguia vislumbrar o ambiente do deserto de Darama, onde desmaiei, indicando que eu estava voltando à consciência. Antes de despertar completamente, fitei o objeto luminoso, agora livre de qualquer placa que o inibia e irradiando sua luz sem barreiras. No fundo, eu já sabia que aquele era meu cérebro. Fechei os olhos, enquanto sorria, e quando tornei a abri-los já estava de volta ao mundo real.
— Glenn! Você está bem!?
A voz suave e preocupada de Relm acelerou meu despertar. Eu estava com a cabeça encostada no colo da anã, e ela me olhava de cima com uma expressão de agonia. O céu, logo acima, estava mais claro do que nunca.
— Não se preocupe, Relm, estou bem. Finalmente posso seguir em frente.
Spoiler: Texto 2
__Nunca ceda a chantagistas, Acricius. Você deveria ter deixado aquele sujeito falando sozinho e vindo para cá. O objetivo principal de nosso trabalho em Ankrahmun já foi alcançado, já estabelecemos relações formais com os Marid. __disse-me Hovgar, à mesa de jantar, em tom de suave repreensão. E continuou. __Em caso de necessidade, tenho certeza que Gabel nos acolheria, ainda que temporariamente, em Ashta’daramai.
__Gabel certamente os receberia com alegria em Ashta’daramai. Ele já o considera mais que um aliado, Hovgar. Para ele, você já é um verdadeiro amigo. __Interveio Aysha, com sua voz doce e melodiosa.
Hovgar pousou sua mão direita sobre a mão esquerda de Aysha, de acordo com a posição de ambos na mesa. Creio que ele não fora sincero, em outra ocasião, quando referiu não ter segundas intenções em relação à djinn. Aquela rápida cena produziu uma pequena melancolia em meu interior. O druida, então, continuou. __Mas não posso negar que seu relato me impressionou, Acricius. Eu nunca estive em uma dessas tumbas que existem nas cercanias de Ankrahmun. Creio que não gostaria de sentir a atmosfera pesada que caracteriza os ambientes dominados pela necromancia... De qualquer forma, você terminou por adquirir um novo e sofisticado equipamento. Depois enviarei correspondências e informes para a sede da guilda em Venore, e para nosso contato em Darashia, alertando sobre esse sujeito... O tal de Siv... E seus companheiros... Inclusive sobre as atividades de informantes dele, em Port Hope...
__Acredito que não há motivos para preocupações, Hovgar. __complementei. __Siv me pareceu sincero quando disse, ao fim de tudo por que passamos na tumba de Mahrdis, que não tinha intenções de atrapalhar as atividades da guilda. Mas... Faça como achar melhor, afinal informações nunca são demais, ainda mais para a Adaga.
__Siv Tausebatt... Ele é conhecido pelas ruas de Ankrahmun... __disse Melchior, na extremidade oposta da mesa, em relação a Hovgar. __É um notório profanador de tumbas e caçador de tesouros. Atua também como agiota, com seus capangas usando métodos não muito suaves, quando precisam cobrar de algum devedor. Não acredito que tenha coragem de se meter com uma guida como a de vocês. Ainda mais porque a Guarda do Sultão também gostaria de colocar as mãos nele, hehe...
Depois do jantar ficamos todos conversando um pouco na sala. Hovgar, Aysha e Melchior estavam ainda muito curiosos a respeito de minhas impressões e aventuras vividas na tumba de Mahrdis. Hovgar também contou algumas novidades a respeito das traduções de obras da biblioteca de Ashta’daramai para o Idioma thaiano.
Finalmente nos recolhemos a nossos respectivos aposentos. Eu estava bem cansado em decorrência da invasão à tumba. Ainda contemplei por alguns minutos o equipamento dado a mim por Siv. Lavei-me e fiquei observando minha imagem em um belo espelho que Hovgar colocara em meu quarto. O espelho era emoldurado por lindos motivos típicos de Ankrahmun, simulando pequenas serpentes e cabeças de falcões.
Deitei-me achando que dormiria rapidamente, mas a imagem de Hovgar pousando sua mão sobre a de Aysha, na mesa, voltou à minha mente. Me perguntei se estava desenvolvendo algum sentimento mais profundo em relação à bela djinn. Era tudo o que eu não precisava, em minha vida afetiva. Não bastasse o sentimento em relação a Estella que eu sabia ainda perdurar em meu coração. Ainda havia Regina, que conseguia me desestabilizar e atrair os meus olhares. Tentei me convencer, sem muito sucesso, a aceitar o fato de que, caso Hovgar e Aysha começassem um relacionamento, eu deveria simplesmente desejar que fossem felizes. Meus pensamentos começaram a se dissipar em meio à luz suave do pequeno candelabro que deixara acesso.
Minutos depois comecei a sentir uma espécie de tonteira, mesmo estando deitado. O teto do aposento dava a impressão de girar. Notei, espantado, que uma luminescência tênue e intermitente parecia emanar do espelho. Levantei-me, ainda um pouco tonto, e me dirigi até o espelho. Assim que pude contemplar a imagem refletida de meu rosto, visualizei, como se estivessem atrás de mim, mas no interior do espelho, cenas e paisagens que se sucediam em uma velocidade vertiginosa. Na sequência, senti como se meu corpo estivesse sendo tragado ou sugado para dentro da superfície espelhada. Era como se eu voasse através de um atalho cósmico, em uma sensação parecida com a que se tem ao se utilizar um teleporte.
Caí sobre uma superfície árida e rochosa. Não estava mais no aposento, na residência de Hovgar, em Ankrahmun. Ao meu redor, areia e rochas de uma coloração ocre, escura. Uma luminescência avermelhada caia sobre a superfície, vinda do céu, este permeado por nuvens ou línguas gasosas de cor rubra, sobre um fundo escuro e negro. Aquele ambiente era sufocante, deprimente. Pensei estar tendo um pesadelo, mas tudo parecia tão real; eu podia tocar nas rochas. Eu conseguia sentir uma presença maligna ao redor, oculta. Avistei uma espécie de portal luminoso, de onde emanava uma luz branca, reconfortante, e uma brisa fresca. Corri na direção do portal.
Ao transpor o portal, outro cenário se descortinou diante de mim. Fafnar subiu rápido no horizonte. Toda a morfologia do lugar se transformou e me vi cercado por uma paisagem familiar, agradável, o solo coberto por uma relva verde; várias árvores frondosas ao redor. Rookgaard! Sim, era a ilha onde nasci. Parecia ser uma localidade da porção leste de Rook. Observei um jovem casal de agricultores lavrando a terra. Tentei me aproximar para conversar com os dois, perguntar-lhes o que ocorria. Então a moça direcionou seu olhar para mim e com uma expressão de angústia disse: __Acricius... Não... Não venha aqui. __senti um aperto no coração. A jovem me parecia, de alguma forma, familiar, embora eu tivesse a certeza de nunca ter falado com ela, antes. Súbito o casal se viu cercado por uma alcateia de enormes e ferozes lobos de guerra. As bestas avançaram sobre ambos e começaram a estraçalhá-los diante dos meus olhos. Um estalo me veio à mente e de alguma forma compreendi: eram meus pais! Corri na direção do local onde o massacre acontecia. __Mamãe!!! Papai!!! Não!!! Não!!! __eu gritava e corria, mas parecia que a distância entre eu e a cena não diminuía...
Ouvi um som lúgubre de trombeta e no momento seguinte toda a paisagem ao meu redor parecia se dissolver. Fafnar, e Suon, em seu encalço, mergulharam rápido no horizonte. Aquela paisagem inicial, desolada, voltara. Novamente eu sentia uma presença maligna perto. Mas não conseguia vê-la. Eu ainda respirava fundo e chorava, após ver meus pais sendo massacrados por aquelas feras. __Todos vocês sucumbirão... __uma voz soturna, cavernosa, ecoou pelas cercanias, mas eu nada conseguia ver.
Olhava ao redor procurando algum local ou caminho por onde seguir, para tentar fugir daquele lugar. Ao longe percebi a presença de outro portal luminoso. Corri o máximo que pude, ao mesmo tempo em que percebia o portal crescer, como se ele também se deslocasse em minha direção. Novamente a paisagem rochosa se transformou em um ambiente diferente. Fafnar estava mais uma vez no céu. Eu me encontrava em um salão e da mesma forma que na primeira visão, a de meus pais, as imagens me eram familiares. Logo entendi que estava no Templo de Rookgaard. Meu velho mestre e tutor, o monge Cipfried, sentado em um banquinho perto do altar e vários jovens acomodados no chão, ao redor de Cipfried, escutando uma de suas aulas sobre o gênesis de Tibia. Sim, era a minha turma na Academia. Eu podia ver vários de meus colegas, ainda bem jovens; estavam ali, entre outros, Bressi, Geoffrey, as gêmeas Turvy e Topsy. E Estella... Tão jovem e bonita... Tão perto e tão real... Quase podia tocá-la... __Um dos mais insidiosos e perigosos seguidores de Zathroth é Urgith. __disse Cipfried, exatamente como naqueles dias...
__Um dos mais insidiosos seguidores... Um dos mais insidiosos... __a frase de Cipfried começou a ecoar em minha mente e percebi que a imagem do Templo começava a se dissipar. Eu não queria sair dali, eu queria ficar perto de Estella... Falar com ela... Mas novamente o som lúgubre de trombeta ecoou e em questão de segundos eu voltei para a superfície árida...
O ar estava mais pesado do que das outras vezes. Havia um odor fétido. Comecei a ter a impressão que as rochas espalhadas pelo solo arenoso se moviam. Não era impressão. As rochas aumentavam de volume e aos poucos tomavam a forma de vultos sombrios. Eu me afastava das rochas e dos agrupamentos de rochas o mais que podia, mas eram muitos ao redor e eu terminava por me aproximar de outras rochas, que por sua vez começavam a se transformar. Eu ouvia murmúrios e lamentos em tom fúnebre e logo me vi cercado por seres horripilantes em seus aspectos e gestos. Compreendi que eram os seres abatidos pelos efreet durante a invasão da tumba de Mahrdis. Ghouls, múmias, esqueletos, zumbis... E vampiros. Os vampiros me olhavam com uma expressão de avidez, como se encarassem uma refeição saborosa e mostravam, ameaçadoramente, seus caninos compridos e pontiagudos. Eu tentava encontrar rotas de fuga, mas o cerco se fechava cada vez mais. Mais e mais rochas se transformavam e eu praticamente não via saída, não enxergava como poderia escapar das mãos daquelas criaturas putrefatas. Então uma voz firme, mas serena, ecoou à minha direta: __Por aqui, filho de Banor, rápido! __ percebi uma luz clara sobre uma pequena formação rochosa. Em seguida o foco de luz se transformou em outro portal luminoso. Ao lado do portal, uma figura alta, imponente, trajando uma bela túnica branca adornada com motivos florais dourados. Pelos cabelos louros amarrados em um estilo elegante e pelas orelhas pontiagudas percebi: era um elfo. __Vamos, humano, rápido! __o elfo insistiu, de maneira senhorial e resoluta.
Eu queria lhe fazer perguntas, conversar sobre tudo o que acontecia ao redor, mas as criaturas mortas-vivas se aproximavam e eu percebi que não tinha tempo para considerações ou outras ações além de me precipitar através do portal. E assim fiz.
Novamente Rookgaard. Novamente a brisa suave que soprava sobre a ilha, vinda do oceano. Eu logo reconheci que estava no bosque ao sul da fazenda dos irmãos Willie e Billy. Lebres e veados passavam correndo e saltando pelas clareiras e arbustos. Podia ver, na parte norte do bosque, o laboratório e loja de poções da mestra druidesa Lorna.
Naquele momento ficou claro para mim que, apesar de tudo ao redor parecer plenamente real para os meus sentidos, aquela realidade era de algum modo construída a partir de minhas lembranças, pois eu sabia que mestra Lorna havia deixado Rookgaard logo após minha turma ter sido enviada pelo Oráculo para a Ilha do Destino. Ela obteve permissão dos patriarcas elfos para habitar em Ab’Dendriel, um antigo sonho dela. E eu a via, naquele instante, na porta da loja, ao lado da druidesa Lily. Lily havia terminado seus estudos e treinos em Rookgaard e na Ilha do Destino três anos antes de minha turma concluí-los e, após estudos em Main com Marvik, retornou a Rook para assumir as funções de mestra e de responsável pelo laboratório e loja de poções, em substituição a Lorna.
As duas me viram e acenaram para mim. Pensei em me aproximar delas para conversar. Mesmo que aquela realidade fosse forjada a partir de minha mente, seria interessante ouvir o que teriam a dizer. Mas quando dei o primeiro passo, ouvi vozes, vindo de trás de uns arbustos na direção sul, em relação ao local onde me encontrava.
Pareceu-me já ter vivido aquilo antes. E justamente por isso um misto de ansiedade e tristeza envolveu minha alma. Eu já sabia o que se passava atrás daqueles arbustos. Mas mesmo assim, do mesmo modo quando ainda era um aluno adolescente na Academia, caminhei até os arbustos e afastei algumas folhas para ver novamente aquela cena.
Lá estavam o estudante da guilda dos Leões de Thais, Anselmo Ravatter, na ocasião cursando o último semestre, e... Estella. Novamente a mesma cena se descortinou diante de meus olhos; Estella e Anselmo seguravam as mãos um do outro... E seus lábios se tocaram suavemente, enquanto uma brisa fresca carregava folhas e flores ao redor.
A cena reverberou mais uma vez em minha mente. Uma lágrima escorreu por meu rosto. Soltei os arbustos e folhas e saí dali. Caminhei cabisbaixo pelo bosque até enxergar o caminho que leva à saída sul da vila, atravessando o portão e conduzindo, através de uma ponte, à Ilha do Sul. Pensei em minha avó Zirella. Seria para mim um refrigério poder vê-la, e quem sabe falar-lhe, ainda que aquela realidade que me cercava fosse de algum modo construída a partir de meus medos e angústias.
Avistei o portão sul da vila, mas quando iniciei minha caminhada em direção à saída, novamente o som lúgubre de uma trombeta ecoou ao redor, intercalado com a frase proferida por Cipfried, no Templo: __ Um dos mais insidiosos e perigosos seguidores de Zathroth é Urgith... Um dos mais insidiosos e perigosos seguidores... Um dos mais insidiosos...
__Não! __gritei. __De novo, não! __senti que a paisagem de Rook se dissolvia novamente, como novamente a desolada visão do mundo de areia, rochas e escuridão se recompunha diante de mim. Mais uma vez o ar pesado... O céu escuro... Os murmúrios e lamentos fúnebres dominando o ambiente.
Em um pequeno monte rochoso pude perceber a presença de cerca de dez vultos trajando hábitos como os dos monges, mas de coloração negra e com símbolos estranhos estampados no tecido. Naquele momento lembrei-me dos necromantes mortos no confronto com os efreet profanadores, na tumba de Mahrdis. Sim, usavam o mesmo hábito. Entoavam um cântico com melodia e ritmo pesarosos, como se evocassem alguma força ou entidade sinistra. Então um conjunto de rochas próximas aos necromantes começou a se agrupar, a se fundir... Formando a imagem de um trono de pedra negro, adornado com motivos mortuários; crânios e ossos sobre o encosto e os braços... Enquanto o canto fúnebre dos necromantes e cultistas continuava, sobre o trono ganhou forma a figura de um ser humanoide, grande e forte, com mais de três metros de altura, trajando uma armadura negra com protuberâncias pontiagudas. O Rosto do ser exibia uma pele pálida, cinzenta, e longos cabelos brancos; seus olhos completamente negros e assustadores, sem que se pudesse distinguir a Iris da esclerótica. Mostrava uma expressão e um riso perversos, exibindo ameaçadores dentes serrilhados. O ser me olhou e disse: __Todos vocês sucumbirão... __eu não tive dúvida: era Urgith.
Urgith ergueu seu braço esquerdo e, da mesma forma quando de minha última presença neste ambiente desolador, as rochas ao redor começaram a assumir formas de vultos sinistros e sombrios. Novamente dezenas, centenas de mortos-vivos ergueram-se e começaram a se arrastar em minha direção.
Diante de Urgith havia uma rocha de grandes dimensões, que aos poucos foi assumindo uma silhueta familiar. Logo uma grande múmia estava de pé, olhando-me com uma expressão de ódio. Mahrdis. O mesmo Mahrdis que tombara sob os tiros potentes e certeiros de minha besta. O feiticeiro grunhiu algumas palavras em um idioma parecido com o ankrahmuni e começou a vir em minha direção, rápido. Eu não tinha ali a minha besta e a minha munição. Sentia que o mana era fraco em minha mente e em meu corpo, impossibilitando-me de evocar o poder sagrado.
Corri...
Corri o mais que pude, perseguido por Mahrdis e por um exército de mortos-vivos. Podia ouvir a risada perversa de Urgith, como se estivesse se divertindo com minha angústia...
Eu procurava ao redor, com o olhar, a presença do elfo que me ajudara da última vez. Mas não conseguia divisar nada além de areia e rocha, até onde conseguia enxergar. Sentia-me pesado e esgotado e Mahrdis se aproximava cada vez mais.
Então, à minha direita, uma voz ecoou com firmeza: __Por aqui, arqueiro!
Vi um ser humano, um cavaleiro trajando um belo manto de cor azul escuro, dividido em duas partes, que lhe cobriam a frente e as costas e era amarrado por um largo cinturão de cor branca. No peito, uma majestosa insígnia prateada com símbolos evocando motivos celestiais. __Desça por aqui... __disse-me o cavaleiro, apontando um alçapão luminoso na superfície arenosa.
Conseguia distinguir degraus descendentes e sem demora comecei a descer a escada de luz, mas ainda consegui perguntar ao meu benfeitor: __Quem é você?
__Sou um dos que recebeu e preservou a herança e os conhecimentos do Mestre dos Sonhos... Do Mestre dos Sonhos... Do Mestre...
A resposta do cavaleiro ecoou em minha mente, mas à medida que descia a escada e imergia naquele ambiente luminoso, nada mais podia ver além de uma intensa claridade. Em seguida, a luz aos poucos foi se dissipando e algumas formas e sombras começaram a ganhar contornos de nitidez.
Eu me vi em um belo salão com pavimento e paredes de mármore. Um burburinho alegre tomava conta do ambiente... Indivíduos muito altos e fortes, cujas peles ostentavam um tom azulado, conversavam e circulavam pelo salão; alguns flutuavam e se deslocavam suavemente alguns centímetros acima do pavimento, com seus corpos parcialmente tomados e envoltos em uma espécie de névoa; belas fêmeas carregavam bandejas e jarros e serviam uma enorme mesa colocada no centro do grande recinto... Sim, eu estava em Ashta’daramai!
Andei pelo salão, cumprimentando os djinns que porventura me dirigissem o olhar, curiosos, com a saudação tradicional. Mas além da saudação, eu nada mais sabia falar no idioma dos Marid. Procurei com o olhar algum humano que pudesse estar nas cercanias, para que eu pudesse me comunicar com alguém. Será que Hovgar faria parte daquela realidade paralela? Não o via ao redor, no entanto... Mas avistei uma bela djinn trazendo uma bandeja repleta de uvas para a mesa. Ela me parecia familiar... Observei-a com atenção e não tive dúvidas: era Aysha! Caminhei em sua direção e ao pronunciar seu nome, ela se voltou para mim e estampou um bonito sorriso.
Mas naquela minha jornada os momentos mais suaves eram prenúncios de realidades tormentosas...
Logo aquela maldita trombeta começou a ecoar. O rosto de Aysha foi tomado por uma expressão de surpresa e medo e todo o salão ao redor começou a se dissolver como se fosse formado por um mosaico de pequenas pedras. Eu comecei a cair através de um abismo escuro, onde só podia divisar algumas nuvens e línguas de vapor, avermelhadas, como o aspecto do céu escuro que cobria aquele outro ambiente desolador. Para onde eu sempre voltava. Subitamente, fui seguro pelos pulsos... Seguro pelo que parecia ser um par de mãos fortes e frias, feitas de alguma espécie de metal.
O vazio escuro ao redor se transformou em uma horrível masmorra, com paredes de pedras brutas amontoadas e pavimento de terra batida intercalada com trechos rochosos. Pequenos filetes de lava fluíam em alguns pontos do solo; um calor insuportável. Mas eu conhecia aquele lugar... Já estivera ali... Sim, eu estava mais uma vez nas masmorras de Mal’ouquah. Minhas mãos presas e suspensas por fortes correntes...
Olhei para o meu lado esquerdo e vi, surpreso, que, do mesmo modo como da última vez, Hovgar estava também ali, pendurado pelas mãos. Estava com a cabeça abaixada, como se tivesse perdido os sentidos. Chamei por ele: __Hovgar... Hovgar... Pode me ouvir?
Hovgar ergueu a cabeça lentamente e, após voltar o rosto na minha direção, tive uma das mais aterradoras visões desde que comecei a transitar por essa dimensão de realidades paralelas: Hovgar tinha seus dois olhos vazados; dois grossos filetes de sangue escorriam desde as órbitas dos olhos até seu queixo.
__Não! Não pode ser! Hovgar... __nem bem pronunciei estas palavras quando percebi, diante de mim, aquela bela e voluptuosa fêmea efreet que tentara cegar Hovgar, na outra ocasião. Ela veio em minha direção e segurou com força meu queixo, direcionando os dedos indicador e médio, com suas enormes unhas, para os meus olhos... Eu tentava mover a cabeça para os lados, mas não conseguia... Fechei os olhos e comecei a pensar na hipótese de alguma ajuda aparecer... Algum fato novo que me tirasse daquela situação desesperadora.
E, como da última vez, a ajuda chegou...
Todo o ambiente começou a tremer, a efreet se desequilibrou e soltou meu rosto; diferentemente da última vez, quando um intenso foco de luz irrompeu no recinto, desta vez a luz emanava dos filetes de larva, e era tão intensa que tomou todo o ambiente, dissolvendo as formas e sombras ao redor. Tudo começou a sumir; as paredes... O pavimento... A efreet... E Hovgar... Senti meus braços livres das correntes e me vi dentro de algum tipo de dimensão luminosa. Não havia nada em qualquer das direções, apenas luz.
Me perguntava se tudo aquilo não seria mais uma intervenção de Daraman, como na ocasião anterior. Mas eu não via ou sentia qualquer presença ao redor. Nada, só uma atmosfera de intensa luz.
No entanto, comecei a notar uma silhueta um pouco distante, dentro daquele universo de luz. Logo em seguida a silhueta começou a se aproximar até que tomou a forma de um homem... Um homem conhecido para mim. Era Daraman, em suas vestes reluzentes, com sua expressão afável e acolhedora. Ergueu levemente sua mão esquerda, fazendo surgir um portal, através do qual eu podia distinguir uma espécie de corredor, em cujo fim uma luminosidade tênue, como a luz de um candelabro, chegava até os meus olhos...
__Vá filho de Banor, volte para os seus. Eu zelarei por seu sono, e por seus sonhos... Para que as forças das trevas não mais o atormentem, quando você mais uma vez andar por esse caminho... __disse Daraman.
Sorri para o Profeta, agradecido, e comecei a percorrer o corredor, na direção da luz tênue. Senti-me um pouco sonolento à medida que me aproximava do fim do corredor e comecei a ouvir uma voz feminina em minha mente: __Acricius... Acricius... Acorde...
No momento seguinte eu estava de volta ao quarto, deitado. Suava muito e percebi que Aysha estava sentada em minha cama, ao meu lado, enxugando minha testa com um paninho que exalava um aroma extremamente agradável.
Hovgar estava de pé, diante da cama, e Melchior parado na porta do quarto, tentando perscrutar o que acontecia.
__O que houve, Acricius? Teve um pesadelo? __indagou-me Hovgar. __Você gritava alto e todos ouvimos, de nossos quartos...
__Hovgar... __exclamei. __Seus olhos, estão normais... Que alívio.
__Claro que estão normais. __respondeu-me o druida. __Estavam bem fechados, em meu quarto. Se abriram quando acordei com os seus gritos desesperados.
Então me pus a explicar tudo o que me aconteceu após me deitar; disse como tudo parecia tão real, como no mundo físico e natural; os sons, as cores, as pessoas, as criaturas maléficas, os seres que me ajudaram a sair das situações perigosas. Definitivamente aquilo pelo que passara não fora um sonho normal. Eu estivera em uma dimensão paralela ao mundo de Tibia...
__Você transitou pelo Caminho dos Sonhos, Acricius. __disse-me Aysha. __Uma dimensão descoberta pela antiquíssima casta élfica dos Teshial. Nessa dimensão tudo o que a mente imaginar e armazenar pode ser materializado. É um poder terrível, muito perigoso. Em Ashta’daramai apenas Gabel e Fa’ Hradin tem alguma habilidade neste sentido. Algum ser ou entidade o atraiu para o Caminho, Acricius.
__Podem acreditar que isso é obra de Urgith. __complementou Melchior. __Os faraós antigos cultuavam Urgith. Foi dele que conseguiram o conhecimento a respeito do estado entre a vida e a morte. Como você profanou a tumba de Mahrdis, matando-o, ele deve ter solicitado a Urgith que você fosse levado a um lugar onde a múmia pudesse ter sua vingança. Mas uma vez no Caminho dos Sonhos, suas lembranças, angústias e temores começaram a se materializar...
__Caramba, que coisa assustadora... __disse Hovgar. __E agora, Acricius? Será que você terá coragem de voltar a dormir, depois de tudo pelo que passou?
__Terei sim, Hovgar. __respondi. __Daraman me garantiu que zelaria pelo meu sono e pelos meus sonhos. Eu confio no Profeta.
__Bem, se é assim, fico mais tranquilo, por você. __completou Hovgar.
__Eu ficarei aqui ao seu lado, Acricius, até que você pegue no sono novamente. __disse Aysha, afagando suavemente meus cabelos.
__Aham... __pigarreou Hovgar, demonstrando uma ponta de ciúme e visivelmente incomodado com o que Aysha dissera. __Bem, eu também ficarei aqui esperando você dormir, Acricius, zelando... Err... Pelo seu sono.
Eu sorri, divertindo-me com a reação de Hovgar e com a risada de Melchior, que também percebeu o que acontecia. Acomodei-me no colo generoso de Aysha e aguardei o sono chegar, novamente... Curioso a respeito dos sonhos que teria... Dos sonhos... Dos... Zzzzzzz...
@Japixek
@Edge Fencer
Quaisquer dúvidas, entrem em contato comigo.
Abraço,
Iridium.
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