Quem acompanha divulgação científica sabe que nunca levou, na real. A mídia geralmente publica qualquer estudo com resultados midiáticos ou controversos, sempre com títulos que nunca batem de acordo com a conclusão real do trabalho. Até estudo que eu já participei, que é da área de exatas, já foi publicado como uma coisa diferente do que realmente foi pesquisado. O intuito costuma sempre ser o de chamar público. Jornalista, como a maioria das pessoas, entende muito pouco de ciência, alguns simplesmente compilam notícias de outros veículos internacionais, sem nem checar a fonte.
Um exemplo clássico é que até hoje ninguém sabe se o ovo faz bem ou faz mal. Qualquer estudinho de prospecção divulgado os caras já colocavam na chamada "Pesquisadores de -insira universidade internacional- descobrem que ovo faz mal". Quando é Harvard, Stanford ou Oxford então, os caras ficam doidos.
Nessa pandemia, até rolou um certo cuidado de alguns veículos quanto a isso. Mas a notícia é diária, tem que dar clique e vender anúncio. Já a ciência demanda tempo e paciência, além do contraditório e da falseabilidade. Aí o deslize e inevitável. Fica nas pessoas a impressão que ninguém sabe de nada quando, na real, as evidências de um estudo é a ferramenta que nos permite fazer algum tipo de afirmação em um nível de precisão conhecido, dentro de um cenário específico. Um estudo individual pode ter limitação de escopo, erro de metodologia e até mesmo viés. Só depois de ser replicado algumas vezes e, todas essas replicações serem analisadas à luz de uma boa meta-análise, é que dá para fazer afirmações um pouco mais robustas. Aí a força da afirmação vai depende de qual tipo de estudos foram analisados.
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Pra mim, a maior crítica aos governos na pandemia é a incapacidade do Estado em responder rápido às mudanças de nível de evidência. Um exemplo é que até hoje tem instituição investindo dinheiro pra caralho pra comprar álcool em gel, tapetes higienizados e portais com desinfetante, sendo que já sabemos que a via prioritária e quase totalitária de propagação do vírus é o ar e não superfícies. Aqui na minha instituição, fizeram licitação no meio do ano passado, que só está sendo executada agora. Imagina o dinheiro público que não foi para o ralo por causa disso.
Isso sem contar nas questões ideológicas e mentiras deliberadas, que atrasam ainda mais algumas decisões. Por exemplo, eu não julgaria em certo momento da pandemia o uso da cloroquina, quando estudos iniciais indicaram associações do medicamento com melhoria dos quadros. O problema foi criar uma muleta política a partir disso e não abrir mão do negócio mesmo quando os estudos com maior nível de evidência começaram a demonstrar que o negócio não fazia muito efeito.
A gente tem outros exemplos, como a demora na compra da vacina, a demora na reação inicial à pandemia, mal uso da testagem, fechamento da expansão do sistema de saúde mesmo conhecendo a possibilidade de uma segunda onda, restrições dos serviços de transporte que provocaram mais aglomerações, etc, etc. O Estado, mesmo com os melhores profissionais e pesquisadores disponíveis para consultar, esbarra sempre em questões que são alheias ao problema. Isso valeu pra qualquer governo, alguns mais outros bem menos.
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