Devo dizer que estou realmente decepcionado. Esperava que uma história envolvendo o mundo real globalizado chamasse mais a atenção dos leitores desta seção. No entanto, eu permanecerei firme com a minha decisão de fechar a história com 13 ou 14 capítulos. E aqui vai o terceiro. Outra coisa, senta que lá vem história. Estou tentando melhorar com os comentários do Melgraon, e isto me rendeu este enorme capítulo.
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Capítulo 3
O terceiro homem entrou no salão oval. Era exatamente quem esperavam. O homem era baixo, calvo e moreno, não chegando a ser negro. Usava trajes informais, calça jeans e camisa de linho branca, comum. Não era o que Springfield esperava, mas, considerando-se as circunstâncias, não havia tempo para futilidades. Junto do homem, outras seis pessoas entraram, carregando equipamentos de escuta e de rastreamento altamente avançados.
- Bruce Fletcher. Seja bem vindo ao salão oval novamente.
- Obrigado. A que devo a honra?
Bruce Fletcher era o diretor da NSA, a
National Security Agency, uma empresa norte americana diretamente ligada à desencriptação de códigos que vêm e vão através da troca de e-mails pela internet. Englobando totalmente as funções da empresa, a NSA deveria interceptar e desencriptar, trocando em miúdos. Mas Bruce tinha ali uma função maior que isso. Gerena prometera fazer novo contato, e sua função era localizar a chamada, que dispunha de diversos mecanismos de propagação de sinal. Bruce era conhecido por ir sempre direto ao assunto e não deixar que a conversa tomasse muitos rumos diferentes.
Jordan e Thurman cumprimentaram-no rapidamente, e colocaram-se nos arredores de uma mesa improvisada no centro do salão oval. Jordan mostrava-se firme diante da situação, mas Thurman não parecia nem um pouco familiarizada com ela. Seria mais correto que ela soubesse lidar melhor com o problema, já que era a presidente do FBI, mas não era o caso. Gerena era seu maior fugitivo.
- Enfim, vamos lá. Coloquem os aparelhos e posicionem-os com delicadeza. Precisamos de total precisão – Bruce dava as ordens. – Frank, Jackeline, preciso que se distanciem. Preciso trabalhar sozinho. Podem fazer o favor? – deu-lhes um sorriso gentil.
Com acenos rápidos de cabeça, Jordan e Thurman distanciaram-se. Era claro que Bruce era o dono da situação por onde passava, e até mesmo Springfield dera-lhe carta branca dentro de seu local de trabalho.
Jordan e Thurman sentaram-se em duas poltronas no lado oeste da sala, enquanto Springfield permaneceu em sua cadeira, olhando para fora.
Jordan era alto e forte, e suas feições firmes davam a quem estivesse no seu arredor total segurança. O presidente da CIA era uma das pessoas mais honestas e uma das figuras públicas mais conhecidas dos Estados Unidos da América. Jackeline era loira, mais baixa que Jordan, e tinha o cabelo cortado no estilo “jornal do almoço”. Era totalmente repicado e o comprimento descia até o ombro. Era linda. Seu corpo era escultural.
Diversas vezes nos corredores da sede do FBI, circulavam comentários sobre a presidente da instituição. Comentários sobre sua beleza física. Certa vez, o diretor do departamento de relações públicas do FBI fora demitido, porque algumas fotomontagens feitas a partir do corpo de Jackeline foram expostas na mídia. Com frieza e total tranquilidade, Jackeline foi a fundo com a investigação até que detectou o culpado. O diretor de relações públicas fora demitido no minuto seguinte, e a carreira do colunista, que aceitara publicar as fotos, fora totalmente devastada. Jamais qualquer tipo de comentário fora dito em voz alta nos corredores do FBI depois do ocorrido.
Ela parecia exausta. Jordan olhou rapidamente para o rosto dela recostado no encosto da poltrona confortável.
- Parece cansada.
Jackeline surpreendeu-se com o comentário e olhou para o diretor da CIA, com expressão preocupada.
- Você acha?
- Está no seu rosto, Jackeline. Eu acho que seria melhor se você descansasse um pouco.
- Temos o caso do maior fugitivo do FBI se arriscando, ameaçando os Estados Unidos. Se há algo que eu
jamais poderia fazer neste momento seria descansar.
Jordan observou-a por um longo tempo. Trocaram olhares discretos. Bruce, com os fones nos ouvidos, observava a conversa dos dois, sem nada dizer. Tentava concentrar-se em seu trabalho.
- Bom, então eu acho melhor pegarmos logo esse cara, concorda?
Jackeline recebeu com bom humor a brincadeira do amigo.
- Realmente, Jordan – deu uma risada espontânea. – Gostaria que fosse fácil, realmente. O desgraçado roubou muito dinheiro e desapareceu diante dos olhos dos nossos agentes como fumaça sendo movida pelo vento.
Um ruído cortou a sala. Era o celular de Jackeline, novamente. Mark Phillman, pelo jeito, não aprendera a lição adequada.
- Diga, Mark.
- Senhora, digo, senhorita Thurman, a senhorita já se encontra na Casa Branca?
Jackeline revirou os olhos e dirigiu-os para Jordan. Ele parecia divertir-se
com o viva-voz do aparelho.
- Escute aqui, Mark – Jackeline resolveu ser mais enérgica, com a sua voz aguda de sempre. – Você está falando comigo novamente por uma linha aberta. Se você fizer isso outra vez, eu vou enfiar esse celular pelo seu rabo e eu acho que você vai ter dificuldade pra tirar. Ou sai por cima, ou sai por baixo. Fico com a segunda opção.
Todos na sala riram, inclusive o presidente.
Phillman estava branco, do outro lado.
- Mil perdões, senhorita! Eu apenas estava...
- Sei o que estava fazendo, Mark. Já pode parar. Vai para casa descansar. Acho que comprar um pouco de vaselina será importante, eu acho complicado que um aparelho desse tamanho entre sem que você sofra um pouco.
Mark desligou sem dizer uma palavra sequer. Springfield dava suas primeiras risadas no dia. Jackeline divertiu, realmente, a todos.
* * *
Guerreiro-Um estava surpreso, assim como todos os outros. A aeronave que os esperava era um MD 520 Notar. O helicóptero fora, basicamente, remontado para ser uma aeronave de
ataque. Era grande, forte e toda preta.
O mestre não quer que sejamos vistos por enquanto, mas mandou uma mega aeronave. Sabe lá o que ele quer.
Os guerreiros embarcaram nela. O controlador observava estupefato a uma grande leva de animais num pesado trenó ser deixada para trás. Mas não podia perguntar nada. Suas ordens eram chegar, buscar os tripulantes e levá-los para outro local.
- Ah, me sinto bem melhor - Guerreiro-Três manifestava-se. – Eu não agüentava mais esse lugar frio e sem vida. Vamos embora daqui.
- A Antártida nos deu boa experiência, amigo. Nos vai ser útil mais tarde.
Todos os guerreiros estavam sentados confortavelmente na aeronave, própria para cinco tripulantes.
Tudo na maior perfeição. O mestre é realmente inteligente.
- Para onde vamos? - Guerreiro-Um estava curioso desde que vira a aeronave.
- Para a Suíça.
Os guerreiros entreolharam-se.
Para a Suíça?
- Mas o mestre nos disse que estaremos lá daqui a quatro horas! A Suíça fica a 14 mil quilômetros daqui.
O controlador achou graça na preocupação do guerreiro. Mas entendeu.
- Sim, amigo. Ele prometeu que estarão lá em quatro horas, e vão estar.
- Então explique.
- Não se deixem levar pelo tamanho do helicóptero, amigo. O mestre realmente é uma pessoa muito cuidadosa. Ele remontou totalmente o helicóptero. Agora, esta aeronave voa a Mach 17. Um pouco estranho para um helicóptero, mas quem sou eu para questionar as ordens do mestre, correto?
Guerreiro-Um observou-o durante alguns instantes. Havia alguns sacos plásticos sobre a poltrona de cada um dos tripulantes.
- Ah – o controlador voltou a falar. – Os sacos plásticos serão úteis. Caso sintam enjôo, não pensem duas vezes. Antes aí dentro do que no chão da aeronave.
* * *
As risadas fizeram bem ao grupo. Agora, Jackeline estava com a cabeça recostada na poltrona, quase dormindo. Jordan não desgrudara o olho dela sequer uma vez.
Bruce ainda tinha os fones grudados ao ouvido, tentando captar qualquer sinalização. Por enquanto, nada. Jordan sentiu a necessidade de esticar as pernas, portanto se levantara e andava pelo salão para lá e para cá.
Repentinamente, outro ruído cortou o ar. Era uma ligação no celular do presidente. Instantaneamente, Bruce pressionou a válvula de destrava dos equipamentos e começou a receber o sinal. Vinha de longe. Da Europa.
Trêmulo, Springfield tomou o aparelho e digitou uma senha de cinco dígitos que confirmava sua identidade. Em seguida, o aparelho cessou o ruído e deu lugar a um bipe agudo, que indicava que a ligação estava sendo escutada.
Springfield aceitou a chamada. No mesmo instante, as caixas de som do equipamento emitiram um bipe curto, e uma voz foi ouvida por elas, antes mesmo de o presidente dizer “alô”.
- Senhor Springfield – a voz, para o presidente, era familiar. Para Jackeline, era inconfundível. Victor Manuel Gerena estava fazendo contato. – Como estão todos vocês, acomodados no salão oval?
- Diga o que quer, Gerena.
- Meu recado é para Jackeline Thurman e também para Bruce Fletcher.
Instintivamente, os dois citados levantaram-se e se aproximaram do aparelho.
- Senhores, e... Senhorita. Enfim, que seja. Jackeline, o primeiro recado será para você.
Jackeline curvou-se em direção às caixas de som.
- Eu sei que a ligação está sendo escutada. Então você pode me ouvir. Enfim, eu quero lhe dizer para que não se meta comigo outra vez. Eu fugi uma vez, e não será problema pra mim repetir o feito. Vocês não têm as condições necessárias para me enfrentar, desistam.
Jackeline ferveu de raiva, mas manteve-se em silêncio.
- Bruce Fletcher – Gerena prosseguiu, sabendo que as palavras ditas anteriormente tinham feito o efeito desejado. – Eu sei que está tentando rastrear minha chamada. Infelizmente, você é mais inteligente que o presidente. Mas, é em vão. Mesmo que você saiba a minha localização, dadas as circunstâncias, vocês não poderão chegar até aqui. E é isso. Entrarei em contato em breve.
Quando a ligação chegou ao fim, Bruce entendeu o que Gerena quis dizer. Um ponto brilhante, azul, piscava no GPS do aparelho. Apontava a Europa. Apontava o Afeganistão.