CAPÍTULO 2
Um bipe soou ligeiramente. O vento castigava bastante a tenda dos integrantes da equipe, mas não era algo de se preocupar, afinal. O mestre havia prometido muito mais do que qualquer um deles ganharia, nem se trabalhassem pelo resto de suas vidas. Estava escuro. Como sempre. Eles estavam acostumados com aquilo, e suas vidas resumiam-se, agora, a aquelas ações. Ordens do mestre. Ordens são ordens, mas as ordens do mestre eram obrigações involuntárias.
Eram quatro, dentro da tenda. O material acrílico, apesar de ser forte, estava prestes a ceder, por causa do vento.
É o momento de trocarmos de lugar. A escuridão não era nada para o primeiro homem, que deixou a tenda, porque eles dispunham de material altamente secreto e muito avançado. Os óculos de visão noturna deixavam tudo na maior clarividência possível, tornando impossível ao homem que qualquer coisa que se mexesse ou que tivesse calor escapasse aos seus olhos. Outro homem deixou a tenda. Parecia bem disposto para o dia que se iniciara.
O primeiro homem atendia pelo codinome de Guerreiro-Um. Os outros, por Guerreiro-Dois, Guerreiro-Três e Guerreiro-Quatro, respectivamente. Guerreiro-Um era alto, forte e robusto, austero. Não brincava em serviço. Apesar de a altura dar ao sujeito a impressão de ser lento, Guerreiro-Um era ágil e muito rápido, principalmente pensando. Usava um macacão inteiramente azul, sem logomarcas ou marcas de costura. Era um macacão feito de borracha, que o isolava completamente de toda a mudança atmosférica. Guerreiro-Dois, o segundo soldado que saíra da tenda, era um pouco mais baixo, porém tinha as mesmas características físicas do outro. Era bem mais lento raciocinando, mas, na arte de puxar uma pistola e disparar, não conhecia ninguém no mundo que tivesse a mesma habilidade.
- É o momento de trocarmos de posto. Falando nisso, eu não aguento mais esse frio castigando o meu rosto – disse o primeiro homem.
- Concordo, Guerreiro-Um. A tenda vai ceder em breve. Temos pouco tempo, talvez apenas quinze minutos. Guerreiro-Três foi atrás de suprimentos, Guerreiro-Quatro continua dormindo – fez uma expressão de nojo. – Temos que treiná-lo melhor, não parece ser um combatente militar de ofício.
- Está enganado - Guerreiro-Quatro saiu da tenda, já pronto e com o trenó pesado carregado com todos os equipamentos que dispunham, devidamente embalados dentro de uma lona também de material acrílico. – Eu aposto que a minha frieza em combate se justifica com minhas oito horas noturnas de sono. Não quero mais saber desse tipo de comentários. Trabalhamos juntos, portanto temos de nos respeitar. É o mínimo exigido.
Guerreiro-Um concordou com um aceno de cabeça. A contragosto, Guerreiro-Dois também fez o mesmo sinal. Guerreiro-Três surgiu numa depressão à frente, puxando outro pesado trenó. Caminhava com precisão militar. O trenó trazia em sua bagagem alguns animais abatidos. Pareciam lobos, e era impossível de não notar o urso polar fazendo pesar ainda mais o trenó. Guerreiro-Três vinha atrás do mesmo, conduzindo-o através de um controle remoto. O trenó movia-se sem esforço, e Guerreiro-Três vinha despreocupado. Olhou para Guerreiro-Um e deu-lhe um sorriso.
- Você me parece bem mal das pernas, amigo.
Guerreiro-Um devolveu-lhe o sorriso.
- Estamos melhorando. Agora, temos de deixar este local. O mestre, pelo bipe, nos informou de que...
- De que um helicóptero chegará para nos transportar, sei, sei. O nosso bipe soa numa precisão inacreditável, realmente, em perfeita sincronia. O mestre parece ser uma pessoa bem fluente dentro do exército dos Estados Unidos.
Guerreiro-Um olhou com orgulho para Guerreiro-Três. Fora o soldado em que depositara toda sua confiança, passando horas treinando-o para a missão. O mestre ligara para Guerreiro-Um cerca de três meses atrás, quando, em Miami, eles ainda sofriam com a falta do que comer. O mestre deu-lhe uma missão e recrutou Guerreiro-Dois, que foi escolhido a dedo dentro do exército afegão, que combatera as tropas estadunidenses com bravura desde o atentado ao World Trade Center em 2001. Guerreiro-Um recrutou Guerreiro-Três e o treinou bravamente, enquanto Guerreiro-Quatro fora escolhido por Guerreiro-Dois, para que fechasse a equipe do mestre.
Agora, temos um porquê de viver. Temos uma missão. Teremos dinheiro!
- Então, vamos. O mestre mencionou inclusive o modelo da aeronave. Eu fico surpreso com a influência dele dentro dos Estados Unidos. Realmente é uma pessoa de se admirar.
Os dois pesados trenós passaram a mover-se em extrema sincronia. Os guerreiros moviam-se em fila indiana, guiados pelos dois trenós à sua frente. Mal sabiam o que os esperaria, 900 metros adiante.
* * *
Frank Jordan e Jackeline Thurman estavam sentados à frente da mesa de Springfield. Apenas os três compunham a reunião, até então. Uma quarta pessoa era esperada, mas não tão cedo quanto as outras duas. Não passava sequer das oito da manhã.
Thurman ouvia incessantemente a gravação, mal podendo acreditar no que ouvia. Ela era a presidente do FBI. E era um fugitivo
dela que estava ameaçando o presidente de toda uma nação.
- Inacreditável! Passamos anos tentando capturar esse maldito filho-da-mãe, presidente! Não é possível que ele esteja...
- Sim, é possível – Springfield cortou-lhe a fala, impedindo Thurman de fazer outros comentários que ele considerava desnecessários. – Meu telefone, senhorita Thurman, é particular. Cá entre nós, o cara precisa ser realmente muito bom pra conseguir acessar minha linha particular.
Thurman tinha de admitir que Springfield tinha razão. Não é qualquer um que consegue acessar a linha particular do presidente dos Estados Unidos. Jordan sequer abrira a boca desde que a presidente do FBI entrara no salão oval. A Ala Oeste da Casa Branca nunca lhe pareceu tão necrótica quanto no momento, apesar do sol irradiando luz pelas janelas da sala. Jordan observou o gravador por um longo momento. Não havia o que dizer.
A águia da paz e da guerra, sem explicação, parecia estranhamente estar olhando para as flechas, naquele momento.