Bom, vou postar o capítulo aqui. Não posso assegurar com certeza que melhorei, mas alguns trechos sei que ficaram superiores. Não estou muito confiante em relação ao finzinho do capítulo, mas sei lá. Quero que opinem. Eu sei que peguei a idéia da descrição e emoção, portanto não sejam tão exigentes agora. Tenho que exercitar isso até ficar muito melhor.
Mas não pretendo desistir nunca. Sei que um dia vou poder melhorar minha escrita. Muito!
Capítulo VIII
O Conjurador
- Fark garrar. – Murmurou o Mago, com uma expressão cansada no rosto. Passou uma de suas mãos – ou melhor, patas – pela cabeça, limpando o suor frio que descia de sua testa. Ele bufou e sentou-se em sua cama – O dia será longo.
Venâncio abriu sua boca ao máximo para liberar seu bocejo. Entrelaçou seus dedos e esticou seus braços para cima, ouvindo seus ossos se estralarem. Sua cabeça pesou e o levou a baixá-la. Limpou os olhos ficou em pé. Observou seu escritório, completamente obscuro, sem qualquer vestígio de iluminação.
Tateou ás cegas na escuridão em busca de seu manto índigo e seu cajado de madeira entalhada. Ao encontrá-los, vestiu-se e seguiu até onde acreditou estar a porta. Após errar localização do portal três vezes, Venâncio enfim encontrou a maçaneta. Mas ao tentar girá-la, percebeu que estava presa. Por um momento esqueceu-se que a porta estava trancada. Ele falou algo em uma linguagem estranha e a porta se abriu.
A estranha luminosidade do Inferno penetrou em seus olhos e o fez ocultar o rosto com as mãos. Um ser acostumado com a escuridão de um escritório era consideravelmente sensível a luminosidade transmitida por uma fogueira erguida no centro da caverna. Venâncio se esgueirou pela gruta e apagou discretamente as tochas presas as paredes. A diferença foi basicamente nula. Venâncio fulminou a fogueira com o olhar e torceu a face. Fitou uma estranha forma adormecida ao lado do calor do fogo e cerrou os punhos e os dentes. Bufou e bateu seu cajado com força no chão. Uma estranha chama furiosa brilhou em seus olhos e ele correu até o minotauro adormecido.
- Sheng seu cretino – Ele vociferou. O aprendiz acordou em um pulo e arrastou-se para longe do monte de palha onde adormecera. Sheng fitou seu mestre e uma expressão de terror formou-se em sua face. Seus olhos brilharam, seu corpo inteiro tremeu seu coração acelerou-se. A temperatura de seu corpo aumentou consideravelmente, e ele começou a suar frio – Achei ter dito para você vigiar a escada! NÃO DORMIR!
- Pe-per-do-o-e-me, m-m-es-tre-e – Sheng gaguejou. Enrolou sua língua na boca, e ficou em pé. Limpou a poeira em seu manto tentou se acalmar. Ainda tremendo, ele baixou os olhos e começou a falar – Eu adormeci... Não pude agüentar a noite toda...
Os demais minotauros localizados na sala apenas olhavam a cena, sem entender uma palavra. Mas sempre que o Mago ficava enfurecido, ocorria um verdadeiro espetáculo.
- Tu não mereces meu perdão! – Venâncio gritou. Então ele começou a falar na linguagem dos minotauros – Faço questão que todos entendam essa conversa. E QUE SIRVA DE EXEMPLO!
O mago ergueu seu cajado e golpeou o rosto de seu aprendiz com toda a força que tinha. Sheng urrou e cambaleou pra trás, caindo sentado quase sobre a fogueira. Uma nuvem de poeira ergueu-se do chão de terra quando o minotauro caiu. Sheng levou sua mão ao ferimento. Um líquido vermelho escuro escapou entre suas garras e pingou pelo chão. O gosto de sangue invadiu sua boca. Sheng voltou a tremer. Seu coração acelerou muito mais, e ele deitou-se sobre as gotas de seu próprio sangue. Esfregou suas mãos na terra e tentou arrastar-se para longe de seu mestre, mas estava sem forças até para falar alguma coisa em sua defesa.
Sheng ouviu risos dos minotauros próximos e fechou os olhos. A imagem distorcida de dezenas de minotauros aglomerados em um nicho escavado na parede de terra não saía de sua mente. Os seres riam com vontade e falavam coisas grotescas e vulgares. O aprendiz levou as mãos a cabeça e começou a mexê-la furiosamente, com o único intuito de retirar a imagem borrada de sua cabeça. Seus olhos fechados criaram uma única lágrima, que nem chegou a cair por seu corpo. O minotauro jogado ao chão tremeu mais, e a única solução que encontrou foi se encolher, para tentar desaparecer dali.
Sheng tentou gritar, mas a voz ficou presa em sua garganta. Ele jamais havia passado por tal humilhação. A idéia de que vermes como aqueles estivessem fazendo pouco dele era incabível. Sheng se recordou de todo seu passado, do quanto sofrera para tornar-se um minotauro mago. Ele até podia sentir as dores dos treinos, seus ossos serem esmagados, seus membros adormecerem e seu sangue correr cada vez mais rápido. Sentiu como se fosse um inseto incapaz de se reerguer, incapaz de provar seu valor. Pela primeira vez, Sheng não se reconheceu. Estava com medo, um medo que invadia sua alma e paralisava seu corpo. O que era muito incomum para aquele ser incapaz de ter emoções.
- Isso – O Mago disse, ainda naquele mesmo idioma – Aceite a humilhação desses seres inferiores que dividem o Inferno conosco. Aceite e perceba o quão superior tu não és nem nunca foste – O Mago chutou a terra a seus pés, arremessando poeira e cascalho em Sheng. Este gemeu. O Mago torceu a face novamente e cuspiu no manto do aprendiz. Bateu com seu cajado nos cascos do minotauro e se virou – Tu enoja-me. És uma vergonha para o clan.
Sheng permaneceu sem objetar. Ele ouvia os xingamentos de seu mestre com medo. E extremo ódio. Os tremelicos de seu corpo agora eram pela raiva que tinha de seu mestre. Sua respiração estava pesada e seus punhos fechados em torno de uma porção de terra. Sheng esqueceu-se de seu sangramento – já quase todo coagulado – e se concentrou em levantar. Ficou em pé e abriu os olhos.
- Não sou digno que me ensine a arte da magia, mas se me falar o segredo terá alguém para orgulhar-se – Sheng disse, limpando o manto novamente. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto repleto de sangue. Ele tinha vontade de matar aquele mago que se julgava tão superior, mas deteu-se. Sabia que aquele ser iria fazer com que ele mesmo saísse da fossa onde localizava-se.
- É o que estou tentando fazer. E aliás me arrependo – Venâncio disse com desprezo. O mestre encarou seu pupilo e teve pena. Teve uma enorme pena daquela criatura que ousara bater a sua porta em busca de treino. De ser superior. O Mago fez um sinal negativo com a cabeça e tapou a face com o rosto, com extrema vergonha daquele outro. Nunca ele tivera um pupilo tão fraco e ao mesmo tempo tão ingrato. Venâncio o acolhera e Sheng retribuía se humilhando perante todos. Aquele ser jogava lama no nome do clan – Erga-te. Vou lhe apresentar uma forma de provar seu valor. E QUE ISSO NUNCA MAIS SE REPITA!
***
Sheng gemeu enquanto passava a mão pelo ferimento cicatrizado em sua face. Seus cascos doíam por culpa dos golpes do Mago. Ele ainda sentia a humilhação perambulando em sua mente. Ele seguia o Mago com dificuldade, já que o feiticeiro já sumira de sua vista. Ele apenas ouvia os cascos de seu mestre na grama fofa, e o farfalhar de sua capa ao esfregar-se pelas folhas da relva. Depois de um tempo, os sons pararam. Sheng apurou os ouvidos na esperança de ouvir um último som, mas nada ocorreu. Ele arriscou uns passos pra frente, e logo viu uma clareira em meio a mata fechada.
O Mago estava em pé ao centro da clareira, olhando triunfantemente para os arredores. Sheng caminhou até ele, e não entendeu o que seu mestre queria mostrar-lhe com tanta urgência. Naquele lugar havia apenas algumas árvores que ocultavam todo o caminho, algumas pedras e folhas secas pelo chão. O lugar era inteiramente ocultado pela colossal sobra de uma montanha que se erguia próxima ao local. Sheng apenas pode ver algo que assemelhava-se a uma cabana naquela montanha.
O Mago suspirou enquanto Sheng admirava o lugar. Depois de um tempo, o mestre chamou a atenção do pupilo e começou a falar.
- Eu trouxe-lhe a esse lugar para mostrar-lhe a arte da magia – O Mago falou. Sua voz estava séria, e seu rosto sem qualquer expressão – Aquela deplorável situação apenas ocorreu pela minha negligência, admito. Se eu tivesse lhe ocupado com treinos, nada disso teria ocorrido. Então, quero que aprenda a arte de conjurar criaturas.
O Mago ajoelhou-se na grama fofa e inspirou enorme quantidade de ar.
- Concentre-se na alma da natureza. Na calmaria dos ventos – Disse o Mago. Sheng imitou seu mestre – Limpe todos os pensamentos de sua mente, concentre-se no farfalhar das folhas, na oliva que cai das árvores, nos passos dos lobos, no trabalho das formigas , no rumo dos ventos, na fúria do mar, na serenidade das montanhas. Procure entender a vida que existe em mim, em você e em tudo que a natureza pode oferecer.
Sheng procurou se acalmar. Ignorou as duras lembranças de sua humilhação, e imaginou tudo que existia em um único lugar. Sua alma. As imagens da natureza se formularam em sua mente. Um lobo correndo em meio as folhagens que moviam-se conforme o vento. A água que colidia com a costa, movida pelo vento. As pedras, resistentes e frágeis ao mesmo tempo. Sheng sorriu. Seus olhos brilharam, sua alma se tranqüilizou e uma enorme sensação de bem-estar tomou conta de seu corpo. Seu corpo relaxou e ele não se preocupou com mais nada. Sentiu uma forte energia correr por suas veias, ele pode se sentir leve como nunca, e enfim pode entender a perfeição da vida.
- Tente converger essa energia na ponta de seus dedos. Imagina a vida, imagine um ser vivo! – Disse o Mago, sua voz estava perfeitamente leve, como uma pluma. Sheng jamais vira seu mestre tão calmo daquela forma.
Sheng apontou sua mão para frente e tentou canalizar todas as coisas boas que pensara nas pontas de seus dedos. Respirou fundo e suspirou. Sua mão não pode se conter e passou a tremer furiosamente, envolvida por um anormal brilho azulado. Uma esfera de energia azul projetou-se em sua frente, iluminando toda a clareira. A esfera desapareceu rapidamente, e o que apareceu em seu lugar foi algo grotesco.
Era um ser estranho, quadrúpede. Metade de seu corpo parecia um cachorro marrom, peludo. Ma suas patas eram puro osso. E ossos podres ainda por cima. O resto de seu corpo era uma larva esverdeada que soltava um pus amarelado e que fedia a esterco. Ele não possuía cabeça, apenas algo que parecia a cauda de uma cobra. O ser tremia e tentava andar, mas não sabia para onde. A criatura desequilibrou-se a caiu de lado, rolando na relva em pleno desespero.
O Mago bufou e escondeu a face nas mãos. Ficou em pé e caminhou em círculos, o mais distante possível daquela “coisa”. Ele teve vontade de gritar e chorar ao mesmo tempo. Sheng tinha que ser muito mentecapto para não ter capacidade suficiente para conjurar uma borboletinha sequer. Venâncio não podia ser um mestre tão péssimo assim. Recordou-se de seus tempos na Academia de Magos de Mintwallin. Ele era um dos melhores conjuradores da turma. Logo ele começou a ensinar seus colegas. E todos aprenderam em uma única lição. Velhos tempos de glória que jamais retornariam. O Mago já nem tinha mais orgulho de seus atos monótonos. Ele não era mais o mesmo de quando jovem. Um profundo mal-estar tomou conta de sua alma, e ele ao desejou voltar no tempo. Para nunca mais voltar. Sentiu que precisava ficar sozinho.
- Treine mais – Disse Venâncio disfarçando as lágrimas. Sua voz quase não saia, e se saia era chorosa. Ele se virou e caminhou na direção da montanha – Já venho...
O Mago desapareceu em meio as árvores. Sheng ficou em pé e tirou um cristal azulado de seu manto.
- Velho fraco – Sheng disse, torcendo a face – Depois quer falar de mim. Ele que é uma vergonha para os minotauros. Incapaz de conter suas emoções.
Mas Sheng sabia que não podia condenar seu mestre. Se Venâncio era fraco, Sheng não era nada. E era justamente esse o problema.
- Quer que eu treine? – Sheng disse. Ele riu. Apoiou seus braços nos joelhos e caiu de costas na grama. Começou a rolar enquanto gargalhava animadamente. Suas costelas já doíam de tanto que ele ria, mas ele nem se importava. Sheng se encolheu e abraçou os joelhos, rindo muito – Vai ver o meu treino – Sheng sentou-se e fechou o punho em torno do cristal. Falou alguma palavras mágicas e sorriu.
Sua mão brilhou fortemente, e uma espécie de bastão projetou-se para fora de seu punho. Uma das pontas do bastão tinha um cristal verde com uma serpente de bronze enrolada nele. Sheng o segurou e ficou em pé. Ele mirou a Varinha do Conjurador para o alto. As nuvens do céu começaram a dançar em torno de um feixe de luz que saia da varinha e ia aos céus. Estrondos de trovão tomaram conta da clareira, e uma barreira de ventos e folhas se projetou em espiral ao redor de Sheng. Ele baixou a varinha e a mirou em sua criação anterior.
- Que o show comece – Ele disse, Um raio esverdeado foi disparado da varinha e acertou a “coisa”. Ela levitou e começou a brilhar muito. Sheng sorriu perante a transformação.
***
Bem distante da clareira, Venâncio caminhou melancolicamente pelos verdejantes campos de Rookgaard. Ele olhava distraído para as colinas do nordeste, como se esperasse uma resposta para seus problemas. E o que ele viu não foi sua resposta, mas a causa de muitas outras perguntas interessantes.
Sejam bem sinceros! Quero que me digam se melhorou, onde melhorou e como melhorar mais. E também se piorou, onde piorou e como não piorar mais ^^