Eu estive gripado e de cama, por isso o atraso ( e pela feira de ciências tb XD)
Capítulo VI
Sheng
- Eu me chamo Clair Abaddon - Disse a mulher sentando-se na cadeira de madeira ao lado da cama – Muito prazer. Eu acho.
- Prazer – Disse Ulizin com um leve aceno de cabeça.
Estávamos no andar superior do moinho de Willie, dentro de um compacto quarto. O quarto era feito de madeira de carvalho, e o chão de tábuas velhas. A cada passo alguma parte do chão rangia e ameaçava cair a qualquer momento. Havia apenas uma cama idêntica as da pensão de Amber, um criado-mudo de bambu com as portas caindo, um toco de cedro que servia de mesa e uma cadeira de madeira. Esse era o simples aposento de Ulizin.
Apesar do forte cheiro de mofo que vinha das paredes repletas de musgo – o que dava uma aparência completamente deplorável ao quarto – nós fechamos a porta e as janelas para não sermos ouvidos. Era uma reunião muito particular. Mas apenas eu, Ulizin, Clair e Tiher fomos ao quarto, sendo que Tiher me confessou que foi apenas por Clair.
Eu estava sentado sobre a cama – mais uma vez em pouco tempo – encostado à parede, de frente para Clair. Ulizin estava ao lado dela em pé e Tiher se apoiava sobre o criado-mudo com um olhar bem desconfiado lançado sobre o móvel. Até o momento nós apenas nos apresentamos.
- Bem – começou Clair – Eu ouvi vocês falarem sobre um culto. Era isso?
- Era – Ulizin concordou, nem preocupado em esconder sua curiosidade sobre o momento.
- Por quê? – Pediu Clair.
Eu olhei Ulizin pelo canto do olho e pude ouvi-lo engolir em seco.
- Por quê? – Tornou a pedir Clair.
- É que – Eu comecei, tentando encontrar as palavras certas – Eu cresci com o culto. Eu fui uma espécie de aprendiz...
- Como? – Clair perguntou boquiaberta – E como veio parar aqui?
- Num teste com as botas de andar na água. Empurraram-me na água de sem eu tê-las calçado direito. Eu boiei até a ilha, e depois Ulizin me salvou. Mas eu não encontrei um dos pés da bota. Estávamos justamente discutindo sobre como iríamos procurá-lo.
- Interessante – Disse Clair.
- Por que queria falar conosco – Disse Ulizin.
- Eu sou um aprendiz – Disse Clair.
Houve um longo silêncio. Eu não parava de encará-la, me perguntando como ela poderia ser um aprendiz. Pude ver Tiher se decepcionar e Ulizin arregalar os olhos.
- Bem que achei você familiar – Eu falei, recordando-me de certo almoço no refeitório do Culto – Mas como você veio parar aqui?
- Longa história... – Ela disse. Parou um momento para tomar ar e começou a contar – Eu nunca fui muito boa em magia-negra. Como meu pai é um necromante, ele queria que eu aprendesse a magia escura. Por isso me enviou para o Culto. Desde então eu me tornei uma exibia lutadora de magia negra. Até mesmo Thul reconheceu minhas habilidades. E por isso disse que eu deveria vir para Rookgaard procurar e eliminar um certo individuo que estava atrapalhando nossos planos. Eu não sabia a identidade dele, me falaram que eu teria que aguardar informações para começar a missão.
- E eu simplesmente esperei. Mas nada me foi dito. Fiquei aqui como uma pateta esperando sentada. Até que semana passada chegou uma carta pra mim, em que Thul me contava sobre um incidente na Baía Sangrenta, a morte de tal Dionísio e que lamentava, mas me troou por um agente mais barato e esperto para essa missão.
- Então te trocaram? – Respondeu Ulizin.
- E pior. Não tenho como sair da ilha. O oráculo não permite, mas diz que estou preparada pra encarar o continente. Sou um paradoxo ambulante.
- E o que pretende fazer em relação a isso? – Eu disse.
- Jurei a mim mesma que iria encontrar esse outro agente e acabar com toda essa farsa. E ainda me vingar do Culto por terem detonado minha vida. Perdi anos naquela bosta pra terminar assim!
- Não é um exagero? – Disse Ulizin erguendo as sobrancelhas.
- Creio que não – Eu falei – Também perdi muito com o Culto. Quase morri só por um testezinho! É ridículo, eles não conseguem distinguir o bem do mal! Precisam ser parados antes que façam o que querem, seja lá o que for!
- E por quê? – Tiher falou pela primeira vez.
- Porque da última vez que eles agiram com sucesso os Cavaleiros do Pesadelo foram dizimados e a Irmandade dos Ossos junto com os Sete Cruéis botaram as mãos nos maiores tesouros da humanidade.
Houve outro longo momento de silêncio.
- Vão me ajudar? – Disse Clair – Posso ajudá-los em sua busca.
Encarei Ulizin.
- Com prazer – Ouvi-o responder.
***
E todos os minotauros presentes no tal “Inferno de Minotauros” encaram o suspeito elemento que desceu as escadarias. Seus chifres e cascos comprovavam que era um minotauro. E ainda mais estranho: usava um manto arroxeado e uma espécie de pluma vermelha na cabeça – símbolos do culto dos magos na ordem dos minotauros. E o único mago a pisar na ilha até então havia sido o Mago.
- Kaplar – Disse um dos minotauros em sua língua – Alto.
- Nakp laz? – Respondeu o recém chegado – Que foi?
- Kaplar! Alto!
- Harz culiakt? Estas louco?
- Huriaaaaak! Foooora!
- Lasz – Vociferou uma voz vinda do fundo da sala – Calado.
- Ptz Venank? Tu é Venâncio?
- Nitz. Claro – O lendário Mago surgiu das sombras do inferno e sorriu – Falemos nessa língua. Assim os outros não podem nos entender.
- Naturalmente – Respondeu o outro.
- Acompanha-me.
E eles foram até a sala de Venâncio.
***
- Quem és tu?
- Chamo-me Sheng – Respondeu o minotauro – Aprendiz Sheng.
- Não me lembro de já ter ouvido falar de você na ordem dos magos – Respondeu Venâncio.
- Sou novo.
- Claro. Mas o que fazes aqui na minha ilha? Murius já quer me substituir? O desgraçado nem me andou ajuda e já quer acabar comigo...
- Pelo contrário. Ele me enviou para auxiliá-lo em seu plano de tomada de Rookgaard. Vim aqui para tornar-me seu aprendiz, glorioso mestre!
- Anos enviando cartas e ele me manda... Isso! Garanto que nem sabes conjurar nada!
- Eu esperava que tu me ensinasse...
- Um exército de tomada não é feito de um soldado – Disse Venâncio friamente.
- Mas se me ensinar bem posso ser muito útil.
- Mas tu não vai derrotar todos os humanos dessa desprezível ilha.
- Murius pretende enviar mais soldados em breve. Ele só precisa treiná-los bem.
- Que seja – Respondeu Venâncio – Pois espero que esses reforços cheguem o mais breve possível. Já temos problemas de mais por aqui. Aliás, um grande problema.
- E esse problema tem nome?
- Chatterbone.
- Interessante. Posso auxiliá-lo em relação a isso. Basta me treinar corretamente.
Venâncio suspirou. Ele fitou o chão por um longo tempo e respondeu com desprezo.
- Que assim seja.
***
Sheng fitou o inferno e se assustou: Era uma enorme gruta com pilastras de mármore ocultando baús com tesouros inestimáveis. Próxima a sala do mago havia uma enorme mesa de pedra com cadeiras de granito. Essas eram as últimas heranças dos tempos de glória dos minotauros. O resto era conseqüência das derrotas sofridas: fogueiras com panelas gigantes de metal, montes de palha no chão, que serviam de cama e ainda alguns nichos cavados nas paredes com comida e água. De tempos em tempos os minotauros iam a superfície pegar mais suprimentos.
- Esta será sua morada até nossa triunfante vitória – Disse o Mago sério – Você será nosso guarda. Vigiara esse lugar atentamente durante o dia e a tarde. Pela noite pode e acomodar em qualquer monte de palha e descansar. Entendeu?
- Completamente. E quando meu treinamento começa?
- Quando eu tiver vontade. Agora vigie.
Sheng virou-se e correu até a escada de mármore que servia de entrada para o inferno e esperou. Venâncio chamou um minotauro e sussurrou em seu ouvido.
- Khaz visz def mino. Fique de olho naquele minotauro.