Bem, atualizando mesmo. Só pra que saibam eu tentei melhorar a descrição o máximo que pude, mas não posso dizer que fiz grandes progressos. Contanto que vocês consigam ter uma idéia do cenário - nem que vaga - pra mim já serve xD
Capítulo narrado por Adso.
Capítulo V
Vida em Rookgaard
- Está acordando – Gritou uma voz feminina vinda do fundo da sala – Rápido.
- Se acalma – Disse uma voz rouca e serena – Pelo menos ele não é mais um peso morto...
- Ferumbras cale a boca – Disse uma terceira voz. Lentamente eu fui abrindo os meus olhos. Estava tudo completamente escuro. Os vestígios de algumas camas e de pessoas começaram a se destacar em meio às sombras. Uma imagem borrada apareceu em minha frente. Depois de alguns segundos, pisquei e tudo entrou em foco.
Eu estava em uma sala ligeiramente ampla, com uma única saída que levava a uma espécie de sala compacta onde havia uma reluzente escada de mármore branco. Distribuídas randomicamente pela sala, havia camas de solteiro. Todas tinham um grande edredom azul-safira e travesseiros brancos. Percebi logo que estava em uma dessas camas. Sentei-me e passei a observar toda a sala. As paredes eram feitas de pedras acinzentadas totalmente cobertas de pó. O chão fora feito de um outro tipo de pedra, mais claro e fino. O teto era feito com placas perfeitamente quadradas de mármore branco, que assim como todo o local, estavam cobertas de poeira e teias de aranha.
De modo geral, a sala tinha um aspecto sujo e repulsivo, nada confortável e convidativa. Mas parei de observar a sala e pousei os olhos nas cinco pessoas que estavam presentes juntamente comigo. Quatro homens, um muito velho, mas os outros pareciam ter aproximadamente minha idade. E ainda havia uma mulher na sala. Aparentava trinta e poucos anos.
- Até que enfim acordou – Disse um homem vestido com uma capa alaranjada com bordados negros – Sou Ulizin Shirien, muito prazer. Eu que te encontrei na praia.
- Erm... Olá – Eu falei ainda meio confuso.
- Eu sou Tiher Jons – Disse um outro homem, este vestia um moletom azul como suas botas e calças negras. Ele também usava um chapéu negro com uma pena dessa mesma cor – Este é Crossfox Rave – Disse ele apontando parra um outro homem encostado a parede. Tinha longos cabelos castanhos e luvas com garras de urso. Seu corpo estava coberto por um sobretudo amarelo-ouro – E este Ferumbras de Rookgaard.
O velho sorriu. Usava calças bufantes negras e um robe azul marinho. Tinha uma longa barba acinzentada como seus longos cabelos.
- Não posso dizer que é um prazer conhecê-lo – Disse Ferumbras, exibindo seu sorriso podre outra vez.
- Obrigado pela sua simpatia Ferumbras... Eu sou Amber, muito prazer – Disse a mulher. Vestia uma blusa vermelho sangue e uma saia bordô com um chapéu negro sobre os cabelos louros que caíam sobre seus ombros. Tinha penetrantes olhos azuis e uma expressão serena – Mas deixemos as apresentações de lado. Você teve muita sorte mesmo.
- Tive? – Perguntei confuso.
- Não se recorda? – Falou Amber pasma. Balancei a cabeça negativamente – Bem... Você estava desacordado sobre um montinho de areia na praia das aranhas venenosas, próximo ao meu barco. Você poderia ter morrido se o Ulizin aqui não te encontrasse.
Virei meu rosto lentamente para o primeiro homem que se apresentara a mim. O vi sorrir.
- Não foi bem assim... – Disse Ulizin ainda sorrindo.
- Oras Ulizin, não venha dar uma de humilde pra cima de mim – Disse Ferumbras rispidamente. Ulizin fulminou-o com o olhar e parou de sorrir.
- Mas não sabemos seu nome, nem como chegou aqui – Disse Amber – Creio que não veio em nenhum barco... Poderia nos responder?
- Talvez estejas cobrando um pouco de mais do jovem – Disse uma voz vinda do fundo da sala – Ele ainda está muito cansado. Tente conter sua curiosidade Amber.
- Cipfried – Resmungou a mulher – Não o vi entrar. Chamou-me indiretamente de fofoqueira é?
- Não – Disse Cipfried – Foi diretamente mesmo.
Cipfried caminhou e parou em minha frente. Era um monge. Usava uma longa batina marrom amarrada por uma linha dourada na altura da cintura. Seu rosto estava completamente coberto pelo capuz da batina.
- Deviam tê-lo levado ao Hyacinth – Disse Cipfried, apalpando minha perna.
- Eu falei... – Disse Tiher.
- Eu já disse que não vou com a cara daquele velho louco – Protestou Ulizin.
- Isso não vem ao caso – Gritou Amber.
- Calem a boca – Disse Cipfried. Seus olhos se arregalaram de repente e ele murmurou algo inaudível. Depois, puxou meu pé de baixo do edredom e exibiu uma bota roxa nele – Explique-se meu jovem.
Eu travei. Mirei a bota pela primeira vez desde que cheguei ali e então tudo voltou como um tiro para minha cabeça. O culto, a aula prática, Bohn, a Baía Sangrenta, a bota de andar na água, a ilha, tudo!
- Quem é você – Pediu Cipfried sério. Toda a sala estava silenciosa.
- Adso. Aprendiz Adso – Eu falei, tremendo.
- Apenas isso? – Pediu Cipfried. Eu concordei com a cabeça – Como chegou em Rookgaard?
E eu falei. Falei tudo. Pela primeira vez na minha vida pude desabafar. Quanto mais eu contava, mais as pessoas na sala ficavam espantadas. Mas eu não parava. Quando eu enfim terminei prosseguiu-se um longo silêncio.
- É um espião? – Arriscou Amber.
- Não – Eu respondi – Apenas vivi com o culto porque meu pai fez parte dele. E porque sou órfão. Nunca tive interesse em magia negra.
- Pois prove – Falou Cipfried.
- Não tenho como. Olha, eu tenho que sair dessa ilha. Voltar ao continente e... Achar o outro pé dessa maldita bota!
- Apenas nível oito sai daqui – Disse Cipfried impassível – As regras do Oráculo são rígidas.
- Não acredito em níveis. São medidores feitos pela sociedade para oprimir os mais fracos e vangloriar os mais fortes – Eu falei.
- E depois não é membro do Culto – Retrucou Cipfried.
- Eu já vou indo – Falei me erguendo da cama – Obrigado a todos e adeus.
***
O centro de Rookgaard é uma grande praça situada no meio da ilha de mesmo nome. O chão do centro era feito de pedras amontoadas sobre lama e alguma pouca vegetação rasteira. Havia um bueiro bem no centro da praça. Em frente ao bueiro estava o suntuoso templo de Rookgaard, feito inteiramente de pedra e mármore. Exatamente a sua frente se localizava o enorme prédio da Academia e entre eles o prédio de vendas do Obi. Esses dois últimos eram feitos de madeira e palha. Havia ainda um poço e um poste de iluminação no centro da praça.
Era um lugar onde diversas personalidades se reuniam o tempo inteiro para comercializar equipamentos, conversas com os amigos e encontrar um grupo para explorar as mais profundas cavernas da ilha.
Eu sai mancando da academia em direção ao centro. Não sabia bem por onde começar, mas sabia que tinha que chegar ao lugar onde eu fora encontrado. Ouvi passos vindo atrás de mim. Virei-me e vi Crossfox, Tiher, Ferumbras e Ulizin correndo para me alcançar.
- Não pode sair por aí sozinho – Disse Ulizin – Vai acabar se perdendo.
- Não precisa de ajuda – Eu falei.
- Pois não vai receber mesmo – Falou Ferumbras.
- Cala a boca – Trovejou Crossfox – Você precisa de ajuda para encontrar a dita bota! Vamos ajudá-lo.
- Por quê?
- Pra que você saia logo daqui sua aberração – Vociferou Ferumbras.
- Na verdade é porque nós queremos e ponto. Aliás é nosso trabalho ajudar os novatos. E... Interessei-me por esse Culto – Disse Ulizin sorrindo e aplicando um discreto pontapé em Ferumbras.
- Ai meu Deus – Falou Tiher boquiaberto – Vejam isso.
Vinda direto do templo, apareceu uma mulher. Aparentava ter uns vinte anos, tinha longos cabelos negros, olhos verdes e um rosto redondo. Usava um longo vestido vermelho que se arrastava pelo chão batido da praça. Ela era sem dúvida um ser divino. Mas não senti qualquer atração por ela. Já não podia dizer o mesmo de Tiher.
- Ouvi vocês falarem em Culto? – Ela falou com uma voz suave.
Então Tiher teve uma nada discreta pulsação no baixo ventre.