Irei adotar a seguinte postura aqui, os eventuais comentários irei responder sempre que postar um novo capítulo. Facilitando a fluidez do conteúdo, evitando de ficar muito espalhado.
-@Edge Fencer
Agradeço por estar acompanhando.
Acabei optando por deixar as duas versões justamente para efeito comparativo, é interessante ver o que foi adicionado, o que foi retirado.
A respeito dos deslizes em pontuação e acentuação, acho bom registrar que eu nunca fui forte no português, tampouco é uma matéria de meu interesse, sempre achei a língua brasileira muito complexa e rebuscada comparada a outras línguas, por isso não me importo muito com o caráter técnico,acredito que a mensagem (a historia nesse caso) deve ser passada com clareza, independente de eventuais falhas de acentuação, por exemplo.
Quanto aos versos da música do bardo, sim são extremamente simples, e confesso que foi a parte mais difícil de fazer para mim, nesta vez e na outra, nunca fui fã de poesia, e acho muito superestimado, porém é um recurso muito interessante para ser usado, por isso tem seu valor, apesar de simples.
Espero que você acompanhe o decorrer da história.
Quem quiser conferir a versão original
Capítulo II - Versão Original
Postado originalmente por CAPÍTULO II - VERSÃO II
II
É curioso quando as coisas fogem do controle. Num instante tudo procede conforme o roteiro, não se imagina que as rédeas podem ser num piscar de olhos. Mas quando se analisa calmamente, as condições para o fracasso, para o acidente e para os desastres são construídas passo a passo. E eram nessas condições em que Mirzig se pôs a refletir depois daquilo tudo.
A primeira condição:
A indisciplina de Nevrok. É notório da natureza dos anãos o seu temperamento explosivo, são como uma runa da morte súbita esperando a ser acionada, com pouca pressão é natural que se exploda. Mas mais notório ainda é o ego inflado do filho de um imperador em posse do maior tesouro de uma civilização inteira. Esse era o caso de Nevrok, o último do povo de Durin.
De fato o anão era o último de uma linhagem milenar e orgulhosa, e ele não seria diferente de seus antecedentes. Seu bisavô, Busmar certa vez decapitou um de seus criados por tropeçar e desperdiçar uma garrafa de cerveja secular, herança do tataravô de Nevrok. O caso de Busmar não é o primeiro e não foi o último da linhagem real dos anãos. Nevrok ainda não havia explodido mas era questão de tempo.
E esse tempo parecia cada vez encurtar mais, o surto de raiva na taverna até então nunca havia ocorrido ao pobre anão. E justamente por ser a primeira ocorrência, o fato não saltou à atenção de Mirzig, que interpretou como um simples efeito da cerveja.
O surto de raiva do anão leva diretamente à terceira condição, que na concepção de Mirzig foi o estopim de todos os fatos daquela noite.
A terceira condição:
Além da indisciplina de Nevrok, Mirzig tentou refletir sobre o que mais teria levado àquilo tudo, e nisso encontrou a sua própria imprudência.
Carlin era a segunda cidade mais influente naquela época da história, havia tomado o posto de Edron há pelo menos uma década. Após a morte da Rainha Trisha, a quarta na linhagem da exemplar Rainha Eloise, sua filha assumiu o trono, e passou a abolir a política da mãe que levou o reino a falência quando fechou os portos, acreditando que o reino era auto suficiente. O maior índice de mortes por inanição na história do reino carliniano ocorreu durante o governo de Trisha. Reconhecendo a falha, sua filha abriu novamente os portos, estimulando o livre comércio com todos os reinos, trazendo prosperidade e crescimento num ritmo extremamente acelerado a Carlin.
A cidade era bastante povoada, estando aí a imprudência de Mirzig. Seu raciocínio não foi apurado o suficiente ao escolher Carlin como o refúgio do amigo anão. Ele se perguntava como foi tolo de não ter percebido isso antes. O vilarejo de Northport seria o local ideal, relativamente próximo para que Nevrok pudesse ir a seu encontro e muito mais discreto; outra opção seria a cidade élfica de Ab’Dendriel, porém Nevrok não aceitaria devido ao seu desprezo pelo povo élfico.
Mirzig estava velho, e não conhecia mais o mundo. A notícia da tomada de Kazordoon chegou a seus ouvido apenas dois dias após o ocorrido, era fato que o mundo ao seu redor também já estaria informado. Não eram só os pombos correios que eram melhor treinados, as carruagens também eram mais rápidas.
Vinte e oito dias haviam se passado desde a invasão dos ciclopes à montanha dos anãos, e já eram cantaroladas canções a seu respeito. Mesmo Kazordoon não sendo o único refúgio do povo nanico, a raça não era comum naqueles tempos, Nevrok perambulando pelas ruas levantava suspeitas e o velho decidiu ignorá-las. Naquele momento ele se arrependia disso.
A terceira condição:
O ataque de Nevrok a Jonas não passou despercebido.
Mal sabiam, mas um informante estava presente na taverna. Mirzig e Nevrok estavam sentados à uma mesa em uma extremidade da taverna, o informante em outra, de frente para o bardo.
Quando a cantiga do bardo teve seu início o informante voltou sua atenção à pessoa que executava ela, não esperava que alguma coisa acontecesse, apenas apreciava a arte e bebia de uma taça de vinho enquanto cantarolava silenciosamente os versos. Somente mais uma noite normal, até o anão fazer o seu teatro.
O informante não indicava nenhuma característica incomum, em meio à multidão era apenas mais um humano em vestes comuns, não vestia seda, tampouco usava trapos. Mantinha os cabelos aparados, sem franja, talvez sua única característica fossem as sobrancelhas grossas e negras. Não esboçou nenhuma reação de surpresa mas parecia se divertir com a cena do anão. Se limitou a apenas acompanhar o desfecho.
Quando o velho os guiou para fora, o informante simplesmente dirigiu-se ao dono da taverna, pediu mais uma taça de vinho e acertou o pagamento de suas despesas naquela noite. Entregou dez moedas de ouro e ficou ali por mais alguns minutos, saboreando o vinho barato. Dirigiu-se à saída, vestiu o capuz — a maioria das vestes baratas de inverno possuíam um capuz embutido — e andou em direção aos três indivíduos que ali confabulavam. Fez uma singela cortesia, educadamente pediu licença e seguiu seu caminho. Em meio a conversa, pôde distinguir a única palavra que lhe importava: Nevrok.
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Optaram os três por passar aquela noite em uma das quatro hospedarias da cidade. Escolheram a mais barata, a poucos quarteirões do portão norte de Carlin, vinte e quatro moedas de ouro por pessoa foi o preço acertado com o proprietário. Já passava das vinte e três horas quando chegaram ao local e não demoraram muito até caírem no sono.
O anão vinha sendo assombrado com pesadelos em que presenciava novamente a destruição do lugar que outrora era seu lar, nesses pesadelos ele era forçado a ver cada um dos habitantes da cidade ser transformado em pedra pelo Basilisco.
Porém naquela noite ele não sonhou, seu sono era tranquilo. Em nenhum momento se revirou na cama, permanecendo estático durante todo o tempo em que repousava, apenas o movimento tranquilo da sua respiração era notado.
Foi Jonas quem acordou no meio da noite. Não por estar sonhando, mas sim pela simples necessidade de utilizar o banheiro.
Os quartos daquela hospedaria não possuíam banheiros individuais, em seu lugar um banheiro coletivo no final do corredor que levava aos quartos.
Jonas não estava completamente acordado, seus olhos se recusava a abrirem-se completamente; sentia também uma leve dor no peito, cortesia dos murros do anão. Arriou as calças e sentou-se na latrina, considerou não ter plena coordenação para conseguir fazer o que deveria em pé. Ficou ali sentado, mesmo após ter terminado, em maio ao silêncio daquela madrugada fria uma chuva leve caía lá fora.
A hospedaria apesar de modesta, tinha dois andares, no térreo ficava a recepção, cinco quartos e um banheiro, não serviam refeições ali. O andar de cima, no qual Mirzig, Nevrok e Jonas estavam hospedados, era tomado por sete quartos e um único banheiro, este que Jonas estava naquele momento. O banheiro do andar superior situava-se exatamente acima da recepção. Por isso Jonas pode ouvir aquele baque seco.
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Enquanto o bardo encontrava-se aliviando a sua bexiga, no andar de baixo o dono da hospedaria argumentava com dois meio-ciclopes, uma raça relativamente nova, resultado do estupro de fêmeas aprisionadas pelos humanos. A estatura desses híbridos era mais baixa que os ciclopes convencionais, mais ainda assim mais alta que a raça humana, possuíam um único olho, característico dos genes maternos, a influência humana notava-se na inteligência, não eram completos idiotas como os originais.
Os meio-ciclopes procuravam por três hóspedes, um velho, um jovem e um nanico, claramente se tratava dos três alojados no quarto número oito. A política de confidencialidade da hospedaria impedia que o dono revelasse quaisquer informação a respeito de seus clientes. Mal sabia ele que eles não estavam ali para argumentar. Na primeira indicativa de resistência por parte do dono, um dos híbridos o ergue acima da cabeça e o jogou em uma das paredes. Prosseguiram com o ataque ao homem, não interessava mais a informação, eram cruéis, e o sofrimento alheio era entretenimento.
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Ao ouvir aquele baque Jonas acordou, ergueu as calças, lavou as mãos na pia, saiu do banheiro e desceu cautelosamente pelas escadas, definitivamente alguma coisa estava acontecendo, vozes roucas se tornavam cada vez mais audíveis. Quando chegou ao pé da escada pôde ver nitidamente os dois ciclopes de costas para ele, golpeando o dono da hospedaria, sua face inchada, ensopada em sangue.
Jonas sabia que não era nenhum herói, a vida daquele homem já estava fora de seu alcance, qualquer interferência de sua parte iria resultar em apenas mais um lugar ocupado no cemitério. Subiu as escadas, tentando não fazer nenhum barulho, não queria atenção para si. Chegando ao andar superior, tentou manter a calma e dirigiu-se ao quarto. Não sabia se notificava os outros a respeito do que presenciou, aquilo não era assunto deles, mas e se fosse?
Optou por acordar apenas Mirzig, explicou o que aconteceu, desde a ida ao banheiro até o assassinato que estava prestes acontecer na sala de baixo, foi então que Mirzig começou a ligar os pontos.
Acordaram o anão. Nevrok não sabia o que se passava, apenas obedeceu aos comandos do Mirzig, que os instruiu a fugir pelo telhado. Saíram pela escada no corredor, que levava diretamente a única abertura que levava à rua. Jonas ia a frente, seguido por Nevrok e Mirzig atrás. Aquele momento exigia cautela, teriam que encontrar uma saída dali, não podiam simplesmente pular, a queda traria consequências.
Seguiram pelo telhado, com todo o cuidado que conseguiam ter, tentando fazer o mínimo de barulho.
Um passo errado foi necessário para comprometer tudo. O prédio era antigo e possuía algumas bases fracas e podres, foi em uma dessas que Jonas pisou, seu corpo foi direto ao chão. Por sorte caiu em um dos quartos vagos, por azar, uma das telhas caiu em sua cabeça, abrindo um corte, por onde escorria sangue. Passos pesados se aproximavam pelo corredor, atraídos pelo acidente do bardo. Eram os ciclopes, já haviam terminado o serviço com o dono da hospedagem e agora procuravam suas presas.
Entraram no quarto vazio em que Jonas caiu, empunhavam agora martelos de batalha, que estavam amarrados à cintura enquanto faziam o interrogatório, o bardo não havia notado as armas antes. Nevrok e Mirzig saltaram do buraco deixado por Jonas no telhado. A batalha agora era inevitável.
Ao ver o velho, um dos meio-ciclopes avançou em sua direção, desfigurando golpes lentos e pesados com o martelo, Mirzig desviava com dificuldade, seu corpo não era tão ágil como antigamente, em meio às evasões golpeava com o cajado a cabeça da criatura que não parecia se importar com os golpes.
Nevrok avançou contra o outro ciclope, retirou o martelo do trovão da mochila antes de saltar em auxílio do bardo e agora o empunhava. Os martelos se chocavam, mas quem sofria com isso era Nevrok, que nunca esteve em um combate de verdade e perdia em força para o meio-ciclope. Jonas enquanto isso não sabia o que fazer, sua única arma era uma faca de cozinha que sempre trazia na mochila. Num surto de coragem decidiu ajudar o anão em seu embate, avançou furtivamente sem que o ciclope percebesse e apunhalou-o pelas costas, deixando a faca cravada em seu ombro, não poderia acertar suas costelas, as mesmas estavam coberta pela armadura de bronze.
Quando notou a dor o meio-ciclope se virou e desferiu um chute no peito do bardo, jogando-o contra a parede. O tempo em que o ciclope desviou a atenção para o bardo foi o suficiente para o anão ter uma leve vantagem, golpeou uma das pernas com o martelo, derrubando a criatura ao chão, na queda o meio-ciclope perdeu a posse do martelo de batalha, que caiu longe o suficiente para recuperá-lo.
Enquanto isso Mirzig ainda tentava desviar dos golpes do outro adversário, a batalha corpo a corpo não era sua especialidade, e precisava de mais tempo e concentração para invocar suas magias. Foi uma investida de seu cajado contra a cabeça do meio-ciclope que conseguiu acertar seu olho, por reflexo o ciclope levou uma das mãos ao lugar ferido, ignorando o velho, postou-se a chorar, a batalha não importava mais para ele. Foi logo após isso que o anão derrubou o outro ciclope. Era a única chance que teriam de escapar.
Quando Nevrok golpeou a perna do ciclope Mirzig ordenou a fuga, eles tinham poucos segundos de vantagem, deveria ser suficiente. Jonas já havia se recuperado do chute e compreendia o que se passava, fugiu junto dos outros dois pelo corredor estreito. No andar de baixo encontraram o corpo desfalecido do dono da hospedaria, não havia nada que poderiam fazer para trazer ao menos dignidade ao falecido, ignoraram o corpo e seguiram em direção a saída.
Nevrok seguia à frente, em um dos becos parou, virou-se e desferiu um soco no estômago de Jonas.
— Bardo desgraçado, traidor. Foi você que me entregou não foi? Por que você estava acordado no momento do ataque? Eu juro que irei tirar sua vida.
Nevrok caiu de joelhos e começou a chorar.
Jonas por sua vez apenas negou as acusações, não sabia o que poderia dizer que iria mudar o que Nevrok pensava dele.
O velho sabia que o bardo era inocente da acusação, aproveitando o momento de calmaria naquele beco sem iluminação, botou-se a pensar no que teria levado àquilo tudo, em todos os acontecimentos daquela noite e das noites anteriores. Foi então que lembrou do rapaz encapuzado da noite anterior.
— Burros, burros, nós somos a nossa própria perdição. Vamos logo embora daqui, não estamos em segurança, nem aqui nem em lugar nenhum.
Nevrok e Jonas não responderam, seja lá o que Mirzig pensava, não iriam importuná-lo por ora com aquilo, mas alguma coisa o incomodava, disso Nevrok tinha certeza, só não sabia o que.
Os três seguiram ao norte, pelos bosques, fora da estrada principal, uma morte já estava contabilizada e o inimigo agora sabia quem acompanhava o anão.
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