CAPÍTULO 5

Alani era a mais nova das doze guardas reais que haviam deixado a cidade de Carlin naquela manhã. Duas tropas, sendo que metade das garotas de cada grupo eram inexperientes, e as restantes não eram um exemplo a ser seguido como combatentes, mas era o mais apropriado para aquela tarefa.

— Eles são homens, e homens são preguiçosos, em breve iremos encontrá-los. — Essa frase se tornara frequente naqueles dias. A encarregada pelas tropas era a mais velha dentre todas ali, e também a mais experiente, tanto em combate quanto em perseguições. Havia começado a apresentar algumas rugas cerca de dois anos atrás, e desde então passou a odiar os homens, pois, anteriormente era alvo de inúmeros olhares, agora era evitada.

— Como a senhora pode ter tanta certeza de que aqueles mercenários vieram por aqui? Seria mais sensato se eles tivessem contornado a montanha, entrando no território de Ab’Dendriel. Apesar de ser o caminho mais longo, é o mais seguro. — Era o terceiro ano de Alani na Guarda Real, prestou o juramento sob a espada da mesma mulher que a comandava agora. Uma garota ingênua, com pouco conhecimento do mundo e das pessoas, mas que se mostrou um belo prodígio nos treinamentos e nas estratégias de combate, sabia o que tinha que ser feito, porém tinha dificuldade em executar.

— Sua linha de raciocínio está certa, por esse caminho existem mais daqueles imundos goblins e muitos bandidos e foragidos costumam montar acampamento por estes lados, mas se esqueceu de que estamos tratando com homens, e além disso, homens apressados, ou já se esqueceu de quão súbito eles deixaram os nossos portões? — Apesar de estar convicta da sua escolha, a encarregada daquelas tropas ainda tinha suas dúvidas, aquele terreno era inóspito e perigoso, apesar do grande número que trazia consigo, uma batalha com adversários experientes seria fatal.

— Weolyn, com todo o respeito, mas o que a senhora diz não faz sentido! Primeiro alega que aqueles homens são preguiçosos e lentos, agora diz que estão com pressa. Eu não entendo a senhora. Devemos voltar enquanto ainda temos tempo, em duas horas de viagem e estaremos naquela rota, uma e meia se andarmos um pouco mais rápido. Temos que voltar. — Alani suplicava, algo em seu interior dizia que aquele caminho levaria ela e a todas as outras à morte, e a morte não viria das mãos daqueles que procuravam.

A face de Weolyn, a encarregada daquelas tropas, avermelhou. A garota estava tomando a mesma atitude que a mãe, Bliza Bonecrusher, tomara na primeira missão de campo em que Weolyn participou, e aquilo não a agradava, sempre sentira inveja da coragem e da destreza de Bliza.

— Não ouse me desafiar Alani! Não pense que ter o bravo sangue das Bonecrusher irá me intimidar e fazer com que eu faça o que você acha correto, se quer tanto ir por aquele caminho, vá, mas saiba que não pedirei que alguém vá com você.

Alani deu meia volta e antou naquela direção, o resto das tropas parou, impressionadas e, ao mesmo tempo, admiradas com o atrevimento da garota. Acompanharam o distanciar dela com simples movimentos com a cabeça, até que Weolyn repreendeu-as, deviam seguir adiante, a missão deveria prosseguir, com ou sem Alani.

Vinte e dois metros foi a distância que Weolyn teve que andar para perceber que estava sozinha, ninguém a seguia, e sim a Alani. Entrou em um dilema: esquecer o orgulho e voltar juntos das outras guardas, agora sob comando de Alani, ou seguir seu próprio caminho? Seguiu em frente, o orgulho falou mais alto, agora estava sozinha naquela jornada.

O resto das tropas não se importou com a perda de Weolyn, a mulher era arrogante e estava naquela missão só para adquirir prestígio entre a guarda real.

O caminho era belo, à direita erguia-se Femor Hill, a montanha lendária dos goblins, antigamente uma princesa viveu aprisionada na única edificação existente ali, antigamente também existia uma torre de vigia da Guarda de Carlin, mas esta fora destruída pelos goblins. À direita se encontrava uma infinidade de árvores, carvalhos, teixos e alguns pinheiros aqui e ali, uma floresta ainda intocada, mas não por muito tempo.

Uma hora e vinte e três minutos depois entraram no caminho que Alani julgava ser o certo, haviam aumentado o ritmo para que a perda de tempo fosse menor, e aumentariam mais ainda para que fosse possível encontrá-los na manhã do dia seguinte. Ainda restavam três horas de luz naquele dia, finalmente o Eclipse de Fafnar havia se desfeito, depois de quase quatro dias, e o dia e a noite voltaram a ter a mesma duração.

Duas horas depois três flechas vieram de dentro das árvores, todos os tiros certeiros, três guardas caídas com as gargantas abertas despejando sangue.

— Em guarda! — Gritou Alani.

Todas se agacharam e se colocaram em uma fila vertical com duas guardas protegendo as laterais, uma em cada lado, os escudos em frente, protegendo o corpo.

— Saiam de onde estejam e rendam-se, a Rainha Seline exige que retornem para Carlin, aprisionados. — Quem deveria dizer isso eram eles, estão armados com arcos e nós nem sabemos onde eles estão, pensou Alani.

— Sua Rainha poderia querer chupar o meu pau que eu não voltaria para aquela cidade! — Gritou um homem entre as árvores.

— Vocês preferem morrer em combate, ou preferem uma morte rápida e indolor? — Outra voz, dessa vez mais grossa que a anterior.

— Apareçam! Se tivermos de morrer, será com espada em mãos! — Gritou uma das garotas que acompanhava Alani.

Silêncio novamente, três flechas foram disparadas novamente, dessa vez direcionadas para o escudo de Alani, que se posicionava no centro da tropa. Uma distração.

Três homens com vestes de couro saíram da mada do lado direito, um empunhava duas cimitarras, outro um machado de duas lâminas, o terceiro era o único que utilizava escudo e trazia também uma das poucas “estrela da manhã” que ainda restavam — uma bolota de ferro maciço cravejado acorrentado a uma empunhadura de madeira —, uma das melhores armas pra combater escudos já feita.

As guardas logo mudaram sua formação, com exceção da garota que fazia a proteção lateral direita, que não os mercenários se aproximarem e foi pega desprevenida, um rosto dividido em dois sangrava ao chão.

Atacante e defensor ficaram posicionados um em frente ao outro durante alguns segundo, então todos avançaram, com exceção do homem com as cimitarras.

Alani e outras duas garotas perceberam que aquele homem não avançara e deixaram os outros dois para o restante das guardas, aquele homem era o seu alvo, seu dever agora era matá-lo.

Avançaram, as duas garotas gritando, Alani silenciosa, com escudo em frente. Antes de desferirem o primeiro ataque ao homem, cederam e caíram, ambas com cortes na altura do tornozelo, a velocidade daquele homem era impressionante. Antes que desferisse o golpe de misericórdia, Alani deu o primeiro ataque, uma estocada que facilmente foi bloqueada pelo homem. Este voltou-se para ela, com o sol atrás de si, Alani estava em desvantagem, não era boa em batalha, porém a primeira lição que aprendera fora nunca ficar de frente com o sol.

Ouviu gritos e gemidos vindo da sua direita e esquerda, aparentemente as outras garotas não estavam tendo bons resultados em suas batalhas, sabia que aquilo era insensato, mas virou-se, viu o rosto de uma amiga ser esmagado pela clava do mercenário e sangue escorrendo pelo corpo de outras duas, estava perdida, a missão fracassara. Voltou-se para o seu oponente, mas era tarde demais, este estava na sua frente, com as duas lâminas em seu pescoço, como uma tesoura, já podia estar morta, mas algo o impediu de matá-la, e algo a impediu de matá-lo. Alani ainda estava com a espada na sua mão direita, um pequeno movimento e ela estaria na barriga do homem, mas não o fizera, e ele percebeu.

Um joelho encontrou a barriga dela, e o outro seu rosto quando caiu, de joelhos. — Vá para a sua Rainha, informe a ela que a sua guarda é um fracasso, e também entregue esse recado a ela — O homem desferiu um soco que atingiu a testa da garota, esta desacordou no mesmo instante.

Os outros dois mercenários se aproximaram, viram a garota no chão, com sangue escorrendo de seu rosto.

— Essa aí era bonita pelo menos, uma pena que tenha preferido as armas, e não os bordéis. Aliás, onde você aprendeu a lutar assim?

O homem olhou para a garota, seu rosto agora estava tomando a tonalidade de seus cabelos, um vermelho vivo e brilhante, sangue.

— De fato era muito bela, uma pena que teve que me enfrentar em batalha, que na outra vida eu possa fodê-la, então. Quanto às minhas habilidades... só posso dizer que o que eu aprendi, mais ninguém poderá aprender, meu mestre conheceu a morte nas minhas mãos.

Dirigiu-se até as outras duas guardas que havia cortado os calcanhares e finalmente deu o golpe de misericórdia, suas lâminas beberam o sangue, sedentas, e as vidas se esvaíram dos corpos.
Desculpem a demora, fiquei numa grande dúvida sobre qual capítulo lançar, qual personagem seria, quais acontecimentos, porém, para que a história fizesse sentido, tive que adicionar essa nova personagem, Alani. Achei esse o capítulo mais fraco até agora, mas vai ser necessário, ao meu ver, para o seguimento da história. Realmente não sou bom em descrever batalhas, por isso peço perdão pelo clímax do capítulo ter ficado assim.

É isso, próximo capítulo trago personagens já conhecidos e a continuidade da história, vou tentar fazer amanhã mesmo, mas sexta feita é certo dele estar aqui.