CAPÍTULO 4
— Mexam-se! A Rainha quer tudo pronto para ontem, essas festividades não podem atrasar. — Disse a Chefa das Aias da Rainha.
A Rainha Seline Turnivan ainda dormia, precisava estar bem descansada para aquele dia. Na cama sua barriga subia e descia, sinal da tranquilidade de seu sono. Ao seu lado estava seu filho, Richard Turnivan.
Richard era o segundo dos três filhos d’A Rainha, o mais velho era Gareth, porém este fora enviado para a Guilda dos Mercenários poucos meses antes, e o filho mais novo se chamava Ostrey, um rapaz de cinco anos, muito parecido com o irmão Richard.
Richard faria dezoito anos dentro de dois meses, já era um homem feito, alto e forte, deixava a barba por fazer, pois gostava de dar a impressão de ser uma pessoa desleixada, embora fosse exatamente ao contrário, Richard era perfeccionista e exigente, não desistia até que as coisas acabassem do jeito que gostaria.
Porém naquela manhã algo perturbava seu sono, virava-se de um lado para o outro na cama e suava muito, isso vinha acontecendo com certa frequência nos últimos tempos, porém os curandeiros sempre diziam que era comum nessa idade, ansiedade, meu jovem, é somente ansiedade, diziam eles. Porém o filho da rainha sabia que não era nada do que aqueles velhos diziam.
Richard acordou gritando, sem dúvida era um sonho, mas não sabia do que se tratava, esqueceu-se. Sua mãe acordou com o grito e pôs uma mão na testa do rapaz para acalmá-lo.
— De novo o mesmo pesadelo?
— Pode ser que sim, porém pode ser que não, nunca me lembro deles.
A Rainha se levantou da cama, despiu-se do roupão de dormir e vestiu-se em uma roupa de seda alaranjada.
— Você fica linda nessa roupa, mãe, realça o seu corpo. — Comentou Richard, também se trocando.
— Eu sei que você adora, diz isso todas as manhãs. — Se dirigiu até um cesto de frutas em uma mesa próxima à sua cama e retirou uma maçã avermelhada. — É bom que você se apresse e saia logo daqui, logo as aias devem chegar para limparem o quarto, e não estou afim de dar desculpas pela sua estadia aqui esta noite.
— E por que não dizemos logo a verdade? — Indagou Robert.
— Por que eu gosto desse trono e não quero perdê-lo, e também prezo pela minha reputação de mulher santa que não fode desde que o marido morreu. Isso já faz quanto tempo? Quatro anos? — Deu uma mordida na maçã e colocou-a de volta ao cesto, estava podre.
— Três anos e meio, para ser mais exato. E dane-se o trono, só quero o que está no meio de suas pernas. — Mal terminara de falar e uma queimação percorreu sua bochecha esquerda, mais um dos fortes tapas da rainha Seline, seus finos dedos ficaram marcados no rosto de Robert.
— Iriam fazer pior que isso se descobrirem... quer ficar sem a cabeça?
— Depende de qual cabeça você se refere...
— Você e suas piadinhas, eu falo sério Robert. Já esta na hora de você ir. — A Rainha abriu a porta do quarto e indicou a saída ao filho.
Robert se despediu com um leve abaixar de cabeça. — Com toda licença, Vossa Alteza
Menos de cinco minutos depois as duas aias chegaram ao quarto e encontraram A Rainha escovando os cabelos.
O quarto da Rainha Seline Turnivan era a terceira maior peça do castelo de Carlin, perdendo somente para a sala do trono e para o salão de festas. Um grande hexágono cor de rosa com uma grande cama de ébano em uma de suas extremidades. Em quatro das outras cinco extremidades se encontravam imensas janelas com arabescos floridos em suas bordas, a única sala onde era possível ver todas as terras pertencentes ao reino de Carlin.
— As preparações para as festividades de hoje já estão prontas, senhora, a Chefa das Aias pediu que lhe avisássemos. — Disse uma das aias enquanto arrumava a cama da rainha.
— Obrigada pelo aviso, perdi-me em meus pensamentos e quase me esqueço dessa festa. — Seline se dirigiu à janela que dava vista para o oeste — Pelo menos o propósito dela ainda está lá em cima.
A Rainha havia decidido na noite anterior que daria uma festa para comemorar o Eclipse de Fafnar, tal evento não ocorria há milênios, segundo o que os anciãos diziam, porém o verdadeiro motivo era a popularização da Rainha Seline; recentemente haviam circulado boatos de que ela havia contratado mercenários para assassinar alguém importante, a festa acabou aparecendo no momento perfeito, pois se tornara o centro das conversações.
— Aliás, alguma noticia daqueles mercenários que mancharam meu nome?
— Saíram daqui há dois dias, Vossa Grandeza, um outro homem se juntou a eles e se dirigiram para oeste. — Respondeu a aia.
— Alguma idéia de quem eles sejam?
— Ninguém jamais os viu aqui, Senhora, acreditam que sejam homens do sul, ou das terras além do oceano. Acabamos tudo aqui, Vossa Grandeza, as festividades começarão dentro de duas horas, todos estarão ansiosos pela sua presença.
— Esta bem, eu estarei lá.
A Rainha permaneceu parada em frente à mesma janela, quem diabos são esses mercenários, pensava.
As trombetas soavam anunciando a chegada da Rainha Seline Turnivan.
O salão de festas estava lotado: embaixadores, comerciantes, cavaleiros e a nobreza inteira da cidade de Carlin estavam presentes, alguns imperadores e governadores das províncias próximas que conseguiram chegar a tempo também marcavam seu lugar no salão de festas.
A Rainha desceu as escadas que levavam aos seus aposentos, esbanjando a sua beleza num belo vestido de cetim roxo. Apesar de já ter atingido os quarenta e cinco anos, a Rainha Seline se mantinha em ótimo estado de beleza: seios fartos, poucas rugas, nariz fino, grandes olhos e longos cabelos dourados. No seu auge a rainha fora uma das mais belas mulheres de todo o Tibia.
— Saudações povo de Carlin, amigos e convidados. É tão gratificante ver esse aglomerado de gente para prestigiar esse acontecimento tão maravilhoso —
e entediante — e belo. Desfrutem da boa comida e bebida que ofereço a vocês, tenham uma vida próspera e bela. —
espero que empobreçam e venham mendigar aos meus pés, para que eu possa pisá-los.
O sorriso d’A Rainha e suas palavras pomposas escondia todos os seus pensamentos.
— Rainha Seline, Vossa Beleza Real, ilumine-nos com sua presença. — Gritou o embaixador de Thais de uma mesa à sua esquerda.
A Rainha fingiu que não ouviu e voltou-se para sua direita onde seu filho Robert conversava com o Embaixador de Venore.
— Embaixador Turmói, a que devo a honra da sua presença?
— Rainha Seline, mais bela do que nunca. Recebi o convite da sua festa e vim o mais depressa que pude. — O Embaixador puxou uma cadeira e ofereceu o assento à Rainha.
— E como conseguiu chegar a tempo? Magia negra?
— Haah! Sempre bem humorada. Na verdade vim pelos mares, comprei o Cruzador há pouco tempo, dizem que ele é o maior e mais veloz navio em atividade. — Serviu-se de uma cerveja e ofereceu à Rainha e seu filho.
— Não, obrigada. Então está nadando em dinheiro.
— Digamos que eu sei administrar meu dinheiro e tenho bons contatos. — Esvaziou o copo em um gole.
— Admiro homens como o senhor, Embaixador. Porém terá de me perdoar, tenho que dar atenção aos outros convidados também, falo com o senhor mais tarde.
Mal se levantou e uma das guardas reais se aproximou e disse em seu ouvido:
— Duas patrulhas foram enviadas atrás dos mercenários, dentro de dois dias eles estarão aprisionados ou mortos. — E se retirou tão de repente como apareceu.
O embaixador thaiano chamou Seline novamente, dessa vez ela atendeu.
— Senhor Embaixador, não sabia que viria. Como vai sua esposa? —
aquela porca — Soube que está grávida de novo.
— Oh, sim, Madalena acha que o bebê nasce ainda esse mês, não é uma maravilha?
Não, não é uma maravilha.
— Claro! Espero que ele seja forte como o pai e belo como a mãe. — pobre criança.
Uma mulher gritou. A cabeça da Chefa da Guarda Real voou de repente em direção ao centro do salão de festas, um grupo com cerca de cinquenta piratas entrava no salão derrubando mesas e degolando os convidados, da rua vinham mais gritos, haviam mais piratas lá fora.
— Guardas! — Gritava a Rainha.
— Tsc, tsc, tsc. Todas mortas. — Disse um dos piratas que se aproximava dela.
Robert, num ato heróico empunhou uma das facas que estavam distribuídas junto aos pratos para o banquete e se pôs entre sua mãe e o pirata.
Seline tentou impedir o filho, em vão, ferro ultrapassou tecido e carne, atravessando o peito do rapaz que caiu no chão com as mãos tateando o ferimento. Um grito percorreu o salão, a Rainha Seline caiu em prantos, não acreditava no que havia acontecido. O pirata agarrou-a, A Rainha tentou se desvencilhar daquelas mãos, mas todo esforço foi em vão.
Minutos depois o rapaz estava morto e os piratas carregavam a Rainha a bordo do Cruzador, atrás deles vinha do Embaixador Turmói.