Fala ai, galera!
Trago hoje, depois de vários séculos de espera, a disputa do Lacerdinha contra o Pedrinhospf!
O tema usado para a disputa foi Dark Mansion.
Bom, agora vamos aos textos.
Texto 1:
Spoiler: Texto 1Olhos Vermelhos
........— A entrada de estranhos não é permitida após o sol se pôr. Lamento, mas não passará por estes portões esta noite.
........Após dizer essas palavras, o vigia fechou a estreita fresta do grande portão de madeira. Um misto de raiva e frustração percorreu toda a extensão da espinha do homem que estava do lado de fora de Thais. Era alto, chegando quase à altura de um elfo, porém seus cabelos escuros não deixavam dúvidas sobre sua raça — era um humano. Seu rosto marcado pelo sol dava a impressão de que ele estava na casa dos trinta anos de idade. Tyler era o seu nome.
........O dia que se encerrava era o quinto desde que deixara sua casa, em Venore, e percorrera a vastidão do continente com o intuito de se encontrar com sua irmã, Lynda, em Thais.
........Na noite antes de partir, Tyler recebera uma correspondência escrita por ela, avisando-o do falecimento de seu pai. Decidira na mesma noite abandonar sua vida de estivador no porto venoriano para viver junto com a única pessoa de sua família que ainda estava viva. Sua mãe havia morrido quando Tyler possuía dezenove anos e, transtornado com o fato, fugiu da capital do império, indo morar na cidade do pântano, sede do comércio no continente.
........O frio noturno estava se instaurando, e o jovem já era experiente a ponto de saber que suas vestimentas não seriam suficientes para mantê-lo aquecido. A noite que começava seria mais fria do que qualquer outra que ele já havia enfrentado durante suas viagens, e sabia que deveria buscar abrigo logo. Uma densa camada de névoa — saída do riacho que acompanhava paralelamente a muralha norte da cidade — já encobria os seus pés, e parecia subir cada vez mais, em uma velocidade sobrenatural. Deixou as grandes pedras que compunham a fortaleza da cidade para trás, e foi procurar uma estalagem onde poderia passar a noite.
........Já havia andado por uma hora, e não encontrara nenhum refúgio da friagem. O nevoeiro já era denso, impedindo-o de enxergar com clareza nada que estava além de alguns metros a sua frente. Quando já estava perdendo as esperanças de encontrar abrigo, a luz vinda da lua foi encoberta por algo. Tyler pode reconhecer os contornos de uma construção, e sem pensar duas vezes, foi em sua direção.
........Era uma mansão de grandes proporções, construída com pequenos tijolos de barro escuro. O jovem não pode analisar a construção cuidadosamente, pois a neblina impedia sua visão e o frio confundia sua mente. Se houvesse perdido tempo observando a casa, talvez notasse a aterrorizante escultura de pedra em sua fachada, talvez lesse as placas de advertência fixadas nas paredes, talvez percebesse que ela havia sido construída sobre parte de um antigo cemitério thaiano — e jamais teria entrado nela. Não observou nenhum desses detalhes, no entanto, e adentrou a Mansão Negra.
........Uma onda de calor percorreu o corpo de Tyler assim que o rapaz fechou ruidosamente a pesada porta de madeira nobre. Uma fraca chama queimava a lenha em uma lareira na esquerda do grande hall em que ele se encontrava. O teto era baixo, o que favorecia o aquecimento da casa. Suas paredes eram todas construídas com pedras negras, o que conferia ao cômodo a aparência de um enorme forno.
........— Alguém em casa? — gritou Tyler.
........Sem obter resposta, o jovem acendeu uma de suas tochas no fogo da lareira e saiu em busca de comida. Estava faminto. Após explorar um pouco a casa, encontrou uma despensa. Pequenas aranhas habitavam o cômodo, tecendo delicadas teias próximas ao teto. Sem se importar com esse fato, Tyler comeu alguns poucos pedaços de pães e de queijo.
........Saciado, restava agora um local para dormir. Vagou por alguns quartos da casa, todos cheios de poeira e aparentemente desertos, até encontrar um que parecia ser habitável. Um limpo lençol branco cobria a cama, e um pequeno armário de madeira velha se encontrava na parede oposta. Uma janela voltada para o oeste completava o quarto. Sem importar-se em saber quem morava ali, largou sua mochila ao pé da cama, deixou a tocha acesa em um castiçal na parede e, exausto, adormeceu em poucos minutos.
........O barulho de uma porta se fechando bruscamente acordou Tyler no meio da noite. O jovem levantou-se, pegou a tocha na parede e espiou pelo corredor. Do final deste vinha uma fraca iluminação. Com sua curiosidade instigada, foi procurar a fonte dessa luz.
........Percorreu vários cômodos da casa, sem encontrar algo que pudesse explicar tal fenômeno. Quando voltou para o quarto no qual dormia, porém, o frio — ou talvez a surpresa — fez arrepiar todos os pêlos de seu corpo. A janela encontrava-se agora aberta, e uma densa camada de névoa entrava por ela. Temeroso, foi fechá-la. Antes de completar a ação, porém, uma mão formada pela bruma segurou seu pulso.
........— Por que viraste as costas para tua família? — disse uma voz lamentosa trazida com o vento.
........Um grito ficou travado na garganta de Tyler. O rosto de seu pai estava se formando no meio da neblina. Sua face possuía mais rugas do que o jovem se lembrava, e uma expressão de dor era nítida. Livrou-se da mão feita pela névoa e saiu apressado, abandonando suas coisas no quarto. Chegando ao hall, no entanto, o que viu o fez querer voltar.
........Seu pai estava ali, em carne e osso, olhando para ele. Sua pele estava pálida como a neve, com alguns poucos cabelos grisalhos caídos sobre sua fronte. Seus olhos — com um leve brilho amarelo causado pela chama que teimava em queimar na lareira — miravam os de Tyler, e sua expressão era de puro sofrimento. Sua boca estava cerrada, mas mesmo assim o jovem entendia o que seu pai dizia:
........— Por que me deixaste, quando mais precisei de você? — chorou o pai.
........— Eu...eu...não... —Balbuciou Tyler.
........Lágrimas escorriam pela face do filho que, sem saber o que fazer, tirou sua espada da bainha e golpeou a figura do pai. A lâmina atravessou sem nenhuma resistência o que seria o corpo do velho, e chocou-se contra a parede. O barulho do metal batendo contra a pedra preencheu toda a casa, e a lâmina da espada de Tyler se quebrou, ficando apenas o cabo em sua mão.
........Desnorteado, o rapaz caiu de joelhos no gelado chão de pedras negras, que já estava molhado por suas lágrimas. Um intenso cheiro de putrefação estava enchendo suas narinas, o que o impedia de pensar corretamente.
........Com o rosto voltado para o chão, Tyler não percebeu que um sorriso brotara na face de seu pai. Os olhos do velho agora brilhavam em um intenso vermelho, e seu semblante era aterrorizador. Pequenas porções de fumaça preta escapavam pelos poros de seu corpo, acumulando-se ao redor de seu corpo. ........Quando Tyler levantou seus olhos, seu pai não estava mais ali. No seu lugar, uma criatura formada por uma densa fumaça negra e amedrontadores olhos vermelhos o fitava, com um enorme sorriso em seu rosto. O fogo da lareira havia deixado de existir, e a única iluminação vinha dos olhos da criatura. As trevas haviam engolido a sala, e agora ele encontrava-se em um cômodo feito de rochas negras, sem nenhuma saída visível. Seu corpo tremia involuntariamente por causa do frio. O cheiro de morte na sala era insuportável para seu nariz.
........Um lampejo veio a sua mente, e Tyler entendeu o que se passava. Estava diante de um devorador de almas, uma criatura capaz de impor temor no coração até do mais corajoso dos homens. Antes que Tyler pudesse esboçar qualquer espécie de reação, o devorador avançou em sua direção. Os medonhos olhos rubros da criatura ficaram por toda a eternidade cravados em seu cérebro, assim como a estranha e aterrorizante risada:
........— Weeheeheeheehee!
........Na manhã seguinte, Holmes e Marcus saíram pelo portão norte da cidade de Thais para patrulhar a região próxima à cidade. Após andar algumas horas, os experientes guardas já haviam verificado toda a porção noroeste da planície. Chegaram à porção mais setentrional do Lago Alatar, e tomaram o rumo leste, chegando até a torre de vigia, ao sul do Monte Externo. Nada de anormal acontecera até ali, e já se preparavam para a refeição do meio-dia na cidade. Andaram para o sul até chegar à conhecida trilha de terra batida, que os levaria diretamente para o portão de onde vieram.
........Nas portas da Mansão Negra, porém, viram algo de diferente. Ali estava estirado o corpo de um homem. Já haviam encontrado algumas poucas vezes corpos de viajantes que haviam sido atacados por trasgos, mas nunca tão perto da muralha de Thais. O homem que jazia ali era alto, e possuía bonitos cabelos escuros. Holmes se aproximou dele, tocando seu pulso por alguns segundos.
........— Está morto. Seu corpo está frio, provavelmente morreu durante a noite. — disse ele.
........— Pobre viajante — respondeu Marcus. — Irei até a cidade buscar algum sacerdote para cuidar da alma dele.
........Dizendo isso, saiu em passos apressados para a cidade. Holmes permaneceu ajoelhado ali, diante do corpo. Notou que sua mão apertava fortemente um objeto. Forçou a abertura da mão do cadáver, e retirou dela o punho de uma espada. Sua lâmina fora quebrada quase na altura do cabo. Não notou, porém, que ao forçar o punho do cadáver, este se levantou. Quando Holmes virou seu rosto, o que há pouco tempo era um defunto, agora estava encarando-o, com olhos escuros e sem nenhum traço de humanidade, e um sorriso aterrorizante.
........Já havia passado uma hora e meia quando Marcus retornou ao ponto onde ele e Holmes haviam encontrado o cadáver. Um pouco atrás, acompanhado seus passos, vinha uma jovem mulher, com cabelos loiros balançando sobre seu vestido verde. Seu nome era Lynda, a sacerdotisa de Thais.
........— Ali está o cadáver, mas onde será que Holmes foi? — indagou Marcus.
........Chegando mais perto, porém, sua pergunta foi respondida. O corpo que se encontrava estirado no chão pertencia a seu colega Holmes. Seu rosto estava virado para cima, e seu semblante era perturbador — seus olhos arregalados denunciavam que ele morrera sofrendo uma insuportável dor. A única vez que Marcus havia visto olhos assim havia sido em um prisioneiro que fora torturado até a morte. Havia um buraco no peito de sua armadura, que parecia ter sido feita por um punho, e o coração do sentinela retirado através desta abertura.
........Enquanto Marcus chorava pela perda de seu companheiro, Lynda avistou algo caído ao lado do corpo do cadáver, e apanhou o objeto. Era o cabo de uma espada quebrada, e ao analisar os detalhes do cabo, logo reconheceu quem era o dono do artefato: Tyler, seu irmão. Levantou seus olhos, cheia de dúvidas, e a primeira coisa que viu já forneceu todas as respostas que necessitava. A escultura de pedra que marcava a entrada da Mansão Negra estava ali, com seus traços perturbadores. Lynda sabia que coisas horrendas já haviam acontecido ali, e podia sentir que o mal tinha a mansão como moradia.
........Lynda ajudou Marcus a transportar o corpo para seu templo, onde seria preparado para as cerimônias fúnebres. Deixou o corpo repousando em uma pequena sala, e adentrou seu templo. Atravessou o iluminado corredor, ornamentado por belas flores, e chegou até o altar. Ajoelhou-se e rezou pela alma de seu irmão.
........Já longe dali, nas profundezas do Monte Externo, um ser se arrastava. Filetes de sangue escorriam por seus lábios. Ainda trazia na sua boca os restos de sua refeição — o coração de um guarda thaiano. Apesar da escuridão na raiz da montanha, a criatura movia-se sem dificuldades. O forte cheiro de excrementos, proveniente dos roedores que habitavam as profundezas, em nada o incomodava. Sua mente era guiada por apenas um instinto — a fome eterna. Não possuía lembranças de sua vida passada, não sabendo sequer sua identidade. Apenas uma memória ficou para sempre em seus pensamentos: o cheiro de podridão, uma risada apavorante, e aqueles intensos olhos vermelhos fitando-o.
Texto 2:
Spoiler: Texto 2Mais Nada
O estouro tremulante veio após o espalhar dos tentáculos luminosos no céu noturno. Anna viu sua taça de vinho agitar-se em suas mãos, formando rubros círculos perfeitos. O vento além das janeletas da taberna de Frodo proporcionava à Thais um aspecto fúnebre... Porém Anna pouco se importava com isso. A noite estava demasiada fria, e precisava, realmente, de um ninho quente e bebida.
— Frodo, dê-me mais uma garrafa desse vinho e a chave para um quarto. Rápido. Preciso me aquecer — Anna bateu o copo já vazio na bancada à frente do homem com o semblante claro de insatisfação.
— Desculpe-me, porém não há mais quartos vazios — Ele fitou profundamente seus imóveis e belos olhos amendoados. Seu rosto era um dos mais belos que já viu, porém era marcado profundamente pela cólera constante.
Um homem demasiado bêbedo, ouvindo por alto a conversa, logo oferece seus calorosos braços à bela garota. Estava a ponto de abraçá-la por detrás, mas logo Anna deu-lhe um soco e o homem se viu no chão imundo da taberna — menos que o próprio homem, entretanto — e com um dente faltando-lhe na boca. Eventuais brigas eram frequentes na taberna, e as atribuídas à Anna eram ainda mais frequentes.
— Que seja Frodo. Onde há um lugar em que eu possa dormir essa noite? — Ela suspirou. — Os administradores sulistas são extremamente burocráticos. Há semanas tento arranjar uma moradia por aqui, contudo, continuam atrasados no serviço. Se é que me entende.
— Tudo bem. Só não tente mais nada contra minha clientela, sim? — Anna assentiu com tom de mofo. Frodo aproximou-se da garota, a fim de ter uma conversa um tanto mais particular, se fosse isso possível ali. — Você deve conhecer aquela mansão acerca do portão norte da cidade, certo? — Ele sussurrou — Pois eu tenho a chave de lá, se desejar. Ninguém mora lá há alguns anos; só está um pouco mal cuidada, ademais, é bem grande.
— Então me dê a chave, e, amanhã, logo de manhã, passarei aqui para devolver-lhe e pagar a quantia que achar necessário. Essa será minha última noite aqui.
— Tudo bem, então. — Frodo foi até um aposento à meia luz, oculto ante os grandes tonéis de bebida, e trouxe a tilintar um molho de chaves. Agarrou uma em especial e jogou para Anna. Era ricamente adornada: totalmente feita de prata e alguns arabescos em cobre, porém era perceptível o desgaste pelo uso.
Logo que pegou a chave, a garota saiu da taberna de Frodo a largos passos. Parecia de certa forma ansiosa, mesmo que em seu subconsciente ela rejeitasse a ideia. Era notável o fato de burlar todo um sistema da cidade e obter a chave de uma mansão com um taberneiro — mesmo que esta não esteja em uso há um bom tempo —.
O vento fechou a porta atrás de si com uma enorme força. Anna simplesmente caminhou pela rua deserta até o enorme portão da cidade, sem se importar. O vento implacável fazia seu sobretudo esvoaçar sonoramente, e o fragor só era interrompido pelos estrondosos trovões nos céus.
E então, a casa ficou visível. Era tão grande que fazia frente à escuridão impenetrável da noite. Anna seguiu quase aos tropeços pela estrada até chegar à mansão; era míope, porém usava sabiamente os outros sentidos a fim de distinguir o caminho. Na noite, sua visão tornava-se ínfima. Por esse motivo, lembrou-se da tocha que trazia consigo na mochila, e então tratou de acendê-la. Quando alumiou o caminho, viu-se sozinha. Até então a escuridão fazia-lhe companhia, mas a luz provinda da tocha afastou seu único e sombrio refúgio.
Anna tremeu. Não de me medo, mas sim de frio. A chave que tirou de um dos bolsos estava fria e escorregadia como gelo. Quase a deixou cair, mas a fechadura a abraçou como uma irmã. Anna girou a chave, destrancando a porta. Com a outra mão, a garota tocou a superfície toscamente trabalhada e gélida, e a empurrou. O fragor enferrujado das travas da porta estilhaçou o tênue silêncio noturno. O morno cheiro agridoce do lugar esvaiu quase às pressas do interior e encontrou a fria garota a encarar-lhe.
As gastas botas de couro profanaram o assoalho empoeirado da mansão sonoramente, logo depois da porta se fechar. Quase que ao tom de mofo, o lugar todo rangia aos ouvidos da garota; o som era oco e forte. Anna procurou onde colocar sua tocha, porém não obteve sucesso. O objeto eufórico jogava sombras dançantes pelo salão, fazendo Anna perceber alguns móveis espalhados aleatoriamente. Uma mesa chamou sua atenção, podendo ser usada para descansar a tocha. Justamente ali poderia ser o local onde ela dormiria. Anna apertou o passo, não vendo um pequeno alçapão nos arredores. Tropeçou na madeira levantadiça e caiu.
O chão logo abaixo também era de madeira, porém era úmido e desnivelado. Seu rosto e pé direito doíam. Decerto havia torcido na queda e dado com o rosto no chão. O ambiente continuava escuro: a tocha ficara no andar acima. Ela tentou levantar-se, mas algo frio prendia seus tornozelos. Algo muito frio. Se isso não fosse impossível, Anna poderia achar que fossem grilhões de ferro. Mas não eram. Ela buscou sua adaga dentro do sobretudo, porém não conseguiu mover os braços.
Aquilo tinha de ser uma brincadeira.
Anna esboçou um sorriso — ao menos isso ela conseguira — e se acalmou. Sua situação era deplorável. O ar do lugar era estranhamente pesado. E então aquilo veio à tona. O ambiente havia mudado. O ar pesado se desfez e o frio clamou àquela calorenta sensação. Anna sentiu as tímidas e despreocupadas batidas em seu peito darem lugar a sufocantes e violentos soquetes. Sua respiração fora quase tomada.
Aquele sentimento tão puro e inerente ao ser humano tomou por conta a garota. O medo inundou o lugar e o seu coração. A naturalidade daquilo era impressionantemente presente ali. O medo agarrou a alma de Anna e a fez de brinquedo para divertimento, mas então o fino e lírico ruído foi a tomar de volta.
Anna voltou a si ao ouvir aquele ínfimo ruído. Procurou ansiosa e apressadamente de onde provinha aquilo, então viu o relógio de parede perto dali. A natural curiosidade então bateu à consciência da garota: como aquilo continuava a funcionar? Era impossível. Mas, ao passo que o ruído a trouxe de volta, aquele compasso infernal levou-a novamente em segundos. Era como se algo impedisse que a resposta viesse à mente de Anna e ela percebesse que o que se passava ali era, de fato, impossível.
A escuridão deu um sorriso à indefesa garota. Um sorriso amarelo de gozação e indiferença. Então, a tortura novamente recomeçou; os olhos abertos da garota nada viam, enquanto sua árdua alma sofria pelo medo. Seu corpo latejava de dor, e em seus belos e imóveis olhos amendoados escorriam lágrimas sepulcrais. Anna lutava contra aquilo, porém era uma batalha que já foi perdida. Esse sentimento era forte o bastante para se tornar quase intocável. Um sentimento que brinca com a mente humana de forma espontânea e rápida. Mortal.
A melodia era regida pelo tempo tênue e quebradiço. Minutos pareciam horas, e mais nada fazia sentido. Porém a dor se fazia presente em toda tentativa de Anna para recobrar a consciência. A um momento, o relógio, os trovões... Mais nada se tornou audível. Mais nada se era sentido. Mais nada se era visível. Mais nada.
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Aquela morna e deliciosa sensação trazia um aspecto cintilante à sua pele. Os acanhados feixes de luz vindos daquela janela embaçada focavam diretamente em seu rosto. A garota acordou como se alguém tivesse acabado de acariciar seu rosto sonolento. A balançar os cabelos, Anna levantou-se do chão e bateu as roupas amassadas. Subiu os degraus sem olhar para trás. Notou cinzas espalhadas pelo assoalho de madeira da casa. Algo havia sido queimado e a brisa que entrava pelas frestas das janelas as soprou pelo chão. A brisa matutina que rescendia o frescor do orvalho trazia consigo o perfume dos campos ao redor da mansão.
Anna estava sem as botas, e andou descalça até a grande porta de entrada. Trancada, uma chave jazia na fechadura do lado de dentro. Ela havia trancado ao entrar? Anna não se recordava. Simplesmente a destrancou e saiu.
O céu reluziu em prata. O dia estava límpido, e o doce céu anilado fazia um convite a todos a parar o que estavam fazendo para simplesmente contemplá-lo. Anna não fez diferente. Ela se sentia livre, e incrivelmente despreocupada. Trancou novamente a porta e colocou a chave em seu bolso. Estava prestes a partir para Thais, a fim de devolvê-la a Frodo, mas um ligeiro devaneio lhe tomou a ideia. Decidiu por impulso que ele não precisava mais daquela chave.
Ela retirou o objeto prateado do bolso e o ergueu. A chave reluziu sobre seu rosto. Logo, Anna levou-lhe novamente ao bolso e repensou sobre aquilo. Andou sem rumo pela estrada, sempre a olhar para cima para contemplar, pelo menos por uns poucos instantes, o céu incrivelmente azul. Aliás, o dia estava bonito demais para se importar com isso, então a atirou no primeiro riacho que cruzou seu caminho.
~Carlos
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