Capítulo 13 - O significado de um cavaleiro
Spoiler: Capítulo 13
Capítulo 13 - O significado de um cavaleiro
Wiler Benson - Terras élficas
– Segure direito esta espada, rapaz – ralhou Maxwel Prester, o cavaleiro de elite. – Você parece uma banana com braços.
– Sim, senhor – respondeu Wil, com um suspiro, e se aprumou. Segurava sua espada bastarda - com a lâmina embotada por um protetor, a fim de não causar acidentes - com as duas mãos. Só assim poderia ter alguma chance de aparar os golpes de Maxwel, pois o cavaleiro de elite não economizava forças. Felizmente para Wil, Maxwel estava usando a espada de Trent, que era mais curta e delgada do que o monstro de dois gumes que ele possuía. Wil imaginava que teria desmontado com um golpe daquela imensa lâmina.
O próprio Trent observava o duelo dos dois companheiros, e ria ou vaiava, a depender do acontecimento. Parecia estar torcendo por Wil. Era uma boa plateia. O comandante Artos também estava nos arredores, mas demonstrava pouco interesse. Norton e Mart estavam envolvidos em seus próprios afazeres, e Hal e Lucius, os paladinos e exploradores, haviam saído para escoltar.
Wil olhou para o céu, momentaneamente, e verificou os sóis a leste, já uma boa distância acima da linha do horizonte. Devia ser por volta das sete horas. Estavam praticando desde o nascer dos sóis, quando Maxwel o revirara energicamente em seu saco de dormir, chamando-o para combater. Wil estava no limite de suas forças, e seus braços tremiam e doíam. Ele rangia os dentes, buscando conter em si mesmo seus desconfortos. Não queria que os companheiros percebessem sua fraqueza - principalmente Maxwel.
O próximo golpe do cavaleiro de elite veio com força total, e Wil sentiu os braços vibrarem com o impacto entre as lâminas embotadas.
– Vamos, Wil, acerte pelo menos um – exclamou Trent, rindo. O segundo cavaleiro descansava, após ele próprio já ter participado da sessão de combates. Wil praticara contra ele durante mais ou menos uma hora antes de enfrentar Maxwel.
– Talvez daqui a uns vinte anos – disse Wil, suando e arfando.
– Há! Bobagem – respondeu Maxwel. – Você só precisa perder esse nervosismo.
– Que tal pararmos por alguns momentos para comer? – sugeriu Trent, e Wil sentiu-se capaz de dar um abraço no companheiro.
Maxwel, finalmente, deixou a espada pender solta do lado do corpo.
– Tem razão – disse ele. – Um cavaleiro precisa de energia.
Wil realmente precisou de toda a sua energia para não desabar no chão naquele momento. Passou a mão pela testa e limpou o que lhe pareceram litros de suor quente. Apesar das roupas frescas que usava, sentiu que estava cozinhando. Maxwel usava a armadura de placa completa, mesmo diretamente sob os sóis, mas não se via uma gota de suor em seu rosto duro e esculpido por inúmeras batalhas.
– Senhor – disse Wil –, é verdade o que dizem a seu respeito na academia?
Maxwel fitou o cavaleiro mais jovem, com o semblante anuviando-se.
– É o que é que dizem as más línguas? – ele perguntou.
– Que o senhor matou um dragão vermelho, sozinho. E foi por isso que foi feito Cavaleiro de Elite, sem precisar pagar.
Maxwel relaxou.
– Ah, isso. Bem, se você precisa mesmo saber, não, não foi sozinho. Tive a ajuda de alguém.
– Quem?
– Um guerreiro formidável – respondeu o cavaleiro de elite, em um tom como de quem quer encerrar aquela conversa.
Wil não insistiu no assunto, e de bom grado se juntou a Trent para comer o que sobrara do café da manhã - os outros companheiros já haviam feito seus próprios desjejuns, mas Maxwel insistira que a primeira sessão de prática acontecesse antes de se alimentarem.
Maxwel havia tomado um interesse renovado por Wil após o jovem cavaleiro ter enfrentado o orc e, principalmente, vencido. Wil admirara Maxwel desde o início da missão, quando puseram os pés além da ponte norte da capital. Até então, no entanto, o cavaleiro de elite havia amplamente ignorado a existência de Wil. Wil não o culpava. Era só um novato, que ainda por cima só estava ali porque insistira.
Depois do episódio com os orcs, Wil percebeu que Maxwel o via com novos olhos. Não olhos de respeito, ainda, mas o cavaleiro de elite parecera decidir que Wil tinha algum potencial. O jovem, é claro, se alegrara muito com essa mudança na disposição do companheiro que mais respeitava. Mas ela vinha com certas ressalvas.
Aparentemente, atrair a atenção de Maxwel Prester significava que ele não mais o deixaria descansar ou ficar em paz. Todo momento era um momento de treinar ou se exercitar. Toda situação era uma situação na qual Wil estava confortável demais, e precisava deixar de ser mole. Por vezes, o jovem só queria ter alguns instantes de tranquilidade pensativa após acordar, mas lá estava Maxwel, propondo uma nova sessão de exercícios.
– Você cresceu dormindo em camas de penas, rapaz – dizia o cavaleiro de elite. – É por isso que é todo macio.
Após o café da manhã, Wil e Trent foram novamente intimados para uma sessão de flexões.
– Precisamos trabalhar esses braços franzinos – disse Maxwel. – Um cíclope o ataca, e o que acontece? Você desmonta como uma boneca de trapos.
Inicialmente, Wil considerara a atitude de Maxwel desconcertante. Agora, no entanto, já se adaptara melhor ao companheiro, e entendia que ele não tinha intenção de ser malicioso. Pelo contrário; aquela era a maneira do cavaleiro de elite demonstrar que se importava. Enquanto ele estivesse importunando, tudo estava bem. E não era como se Trent escapasse do peso da atenção de Maxwel. Os comentários do cavaleiro de elite em relação a Trent pareciam se direcionar singularmente para a prodigiosa capa de gordura que o companheiro adquirira durante aquela viagem.
– Olhe para você. Está tão roliço quanto um anão. Deveríamos tê-lo deixado em Kazordoon – era um dos comentários que Maxwel gostava de dirigir a Trent.
Trent, no entanto, não se importava nem um pouco, e ria mais do que todos quando era alvo de alguma troça. Afinal, sentia-se seguro com suas habilidades, e todos os outros também sabiam das capacidades do cavaleiro, apesar de quaisquer piadas a respeito de sua forma física.
– Quero te mostrar uma coisa hoje – disse Maxwel, depois de uma série de flexões que parecia interminável, e que deixou o peito de Wil em chamas.
– O que, senhor?
– Quão familiarizado com a mana você está? – perguntou Maxwel.
Wil refletiu por alguns instantes.
– Todos temos mana – disse por fim –; a maioria não nasce sabendo encontrá-la, quanto mais, usá-la. Usamos as sílabas corretas do Idioma Antigo, na ordem correta, para produzir o efeito desejado…
– Isso – interrompeu Maxwel. – Norton, venha cá.
O feiticeiro, que até então estava de cochichos com Mart, o druida, de repente se aproximou.
– Sim? – perguntou ele.
– Por que não reacende a nossa fogueira? – pediu Maxwel. – Já faz trinta minutos que Trent tomou o café da manhã; ele com certeza já está com fome.
O feiticeiro riu.
– Demonstração mágica, hein? – ele disse, e então, direcionou a mão espalmada para os restos da fogueira que havia sobrado do café da manhã, agora reduzida a brasas, e pronunciou as palavras exori flam min.
Os homens viram a pequena bola de fogo partir da palma do feiticeiro, sem causar-lhe nenhum mal aparente, e viajar na direção da fogueira, que recobrou a vida.
– Exori é um chamamento – disse Maxwel, depois que Norton se afastou. – Quando você pronuncia essas palavras, caso já tenha aprendido a encontrar sua mana, deve ter cuidado. Ela evoca quaisquer poderes existentes em você, e os coloca para fora. Druidas e feiticeiros costumam materializar o elemento que mais anima suas almas. Nosso Norton é feito de fogo.
Wil assentiu. Apesar de já saber tudo o que o cavaleiro de elite dizia, prestava atenção plena em suas palavras.
– Agora – continuou Maxwel, levantando-se –, qual é a nossa força? – ele perguntou, com um gesto que abarcava a si próprio, Wil e Trent.
Wil pensou muito antes de responder.
– É isso aqui, rapaz – disse Trent, rindo e fazendo um muque com o braço.
Maxwel assentiu.
– Então, o que acontece quando você utiliza exori, mas sem algum complemento, como flam, vis, ou con? – perguntou Maxwel. – O que é que é chamado?
– Acredito que seja a sua própria força física, ou vitalidade – disse Wil, franzindo o cenho.
– Isso! – bradou Maxwel. – Agora, venham os dois.
Wil seguiu Maxwel e Trent, curioso, na direção de um conjunto de árvores, talvez a uma centena de metros do acampamento. Maxwel dirigiu-se para o meio de um círculo de olmos.
– Afastem-se, pelo menos uns dez metros – disse o cavaleiro de elite.
Wil fez como comandado, seguido por Trent.
– Exori – Wil ouviu Maxwel gritar.
Então, foi como se uma grande descarga de energia saísse do cavaleiro e se espalhasse por todos os lados, num raio de uns três metros ao redor dele. Por um instante, Maxwel havia se transformado em uma bomba, e detonado. Inúmeros galhos foram partidos e voaram para longe, e até mesmo alguns troncos foram rachados. Wil sentiu a pressão da força do cavaleiro em seu rosto, mesmo de onde estava, como uma forte lufada de vento. O tremor do cavaleiro. Wil nunca havia visto um tão poderoso quanto aquele.
– Exibido – disse Trent, rindo.
– Sua vez, Trent – disse Maxwel.
Trent, então, trocou de lugar com Maxwel, e bradou a mesma palavra: exori.
O efeito do tremor de Trent não foi tão poderoso quanto o de Maxwel, mas ainda assim, Wil sentiu o poder do cavaleiro quando ele o manifestou através da palavra mágica.
– Acho que só tenho mais um desses em mim – disse Trent, se aproximando, e limpando suor do rosto.
Maxwel assentiu.
– Eu mesmo consigo produzir uns quatro até precisar dormir por um dia inteiro. O exori é o trunfo de um cavaleiro, mas só deve ser usado quando não houver alternativa. Você sabe por quê, Wiler?
– O tremor do cavaleiro consome muita mana – respondeu Wil, prontamente.
– Esse é um dos motivos – disse Maxwel. – Agora, vá lá e tente.
– Eu? Senhor, nunca utilizei o tremor. Não acho que esteja pronto para…
– Blá blá blá. Ande logo – incitou Maxwel, já empurrando-o.
Wil suspirou, e com passos resignados dirigiu-se até o pequeno grupo de árvores, agora já bastante devastadas pelos dois tremores. Não havia como argumentar, portanto, ele apenas tentaria e falharia.
O jovem cavaleiro concentrou-se, de olhos fechados, acessando sua mana. Este era sempre o primeiro passo necessário para a canalização de energia mágica. Os poucos feitiços que ele conhecia já utilizavam quase todas as suas parcas reservas. Duvidava que fosse conseguir utilizar o exori. De qualquer forma, respirou fundo e bradou a palavra.
Wil arfou e se ajoelhou, não conseguindo manter a força das pernas, enquanto sentia toda a sua mana ser consumida de uma vez. O cavaleiro viu o mundo girar, e precisou fechar os olhos para deixar de perceber as árvores rodando à sua volta. Arfava, e sentia-se esgotado, apesar do desjejum recente. Não houve sequer um farfalhar de folhas e galhos.
Trent riu, e Maxwel se aproximou, sorrindo.
– Isso só significa que você ainda não tem a mana suficiente para evocar o tremor – disse o cavaleiro de elite, estendendo uma manzorra para servir de apoio para Wil. – Não se sinta mal. É natural que um cavaleiro demore a aprimorar este lado do combate.
Wil assentiu. Ainda sentia-se fraco e nauseado.
– O segundo motivo pelo qual o tremor é nosso último recurso – continuou Maxwel. – É que ele é contrário à ideia de ser um cavaleiro. Você sabe o que eu quero dizer com isso?
O Cavaleiro de Elite agora olhava nos olhos de Wil.
– Acho que sei, senhor. Um cavaleiro quer atrair o perigo para si, não afastá-lo. O tremor manda tudo para longe.
– É isso – disse Maxwel, com um sorriso feroz. – Eu, você, Trent e nosso comandante, somos a linha de frente. Nós desejamos que o inimigo nos procure. Nos cerque. Não há fuga para um cavaleiro.
– Sim, senhor – disse Wil, cabisbaixo, refletindo sobre todas as vezes em que agira de maneira pouco cavaleiresca durante sua primeira missão.
– Não se sinta mal, rapaz – disse Trent, com um sorriso. – Maxwel e eu também não nascemos cavaleiros perfeitos.
– E continuamos sem o ser – completou Maxwel.
A conversa foi interrompida, então, pela constatação de que Hal e Lucius estavam correndo de volta ao acampamento. Ainda estava cedo demais para eles voltarem da escolta, refletiu Wil.
– O que aconteceu? – interrogou-os o comandante Artos, quando os dois paladinos se aproximaram, ofegantes.
– Você quer a boa ou a má notícia primeiro? – perguntou Lucius.
– A boa – exclamou Trent, antes que o comandante pudesse responder.
– A boa notícia – disse Hal, sorrindo – é que poderemos ter camas de verdade para dormir esta noite. Encontramos um pequeno povoado élfico a norte. Eles parecem receptivos.
– E a má notícia? – indagou Artos.
– A má notícia é que avistamos um grupo de orcs surgir no horizonte a leste. Parecem estar se dirigindo para o povoado, e duvido que tenham boas intenções – Lucius respondeu.
– Precisamos correr – disse Hal. – O grupo que lá chegar primeiro pode decidir o destino do vilarejo.
Spoiler: Respostas
@Iridium
Interessantíssimas reflexões!
Vamos lá:
Quanto ao realismo histórico, acredito que ele possa ser seguramente descartado, até porque Tibia se passa em um universo alternativo, e acredito que um escritor de fics tibianas possa inventar quaisquer dinâmicas culturais e sociais que quiser em suas histórias!
Mas eu sempre considerei Thais, no meu headcanon, como sendo uma sociedade particularmente rígida e, bem, masculina. Não a toa que muitos homens inseridos em tal sociedade (principalmente nas altas classes) ajam de maneira tão protetora em relação às mulheres. No caso de Sara, creio que isso seja agravado pelo fato de ela ainda ser adolescente e ser basicamente uma 'filha única' nesse momento, já que os irmãos estão em outros cantos do mundo. Além disso, a morte da mãe provavelmente piorou o instinto protetor nos outros homens que a cercam.
Faz sentido? De um ponto de vista lógico, não. Ela é perfeitamente capaz de se defender, agora que é uma druidesa não oficial. A frustração dela é porque os homens ao seu redor ainda não entenderam isso. Tomara que ela consiga fazê-los entender.
Sobre o paralelo Jan-Sara: muito bacana! Confesso que esta justaposição não foi planejada por mim, conscientemente. No entanto, uma questão consciente que tenho desde o início dessa história, é inserir personagens de todos os tipos, tamanhos, gêneros, idades, formas e classes na minha história. E mais importante, demonstrar que índoles boas - e ruins - aparecem em todos estes tipos de pessoas.
E eu não sei se eu ficaria tão ansioso para rever o Jawad. Pode ser que, quando ele apareça novamente, as coisas não estejam tão boas.
Obrigado, e até a próxima!
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