Chegou a hora da Chave 4!!!
Lembrando que os textos são postados de forma anônima. Para votar, basta identificar qual a disputa e qual o texto escolhido. Todos usuários podem votar, mas apenas aqueles com uma justificativa plausível serão levados em conta. Votos de usuários fantasmas também serão desconsiderados. E lembrando que a votação popular será apenas um dos pesos da nota dos textos, e o vencedor final será decidido por membros da Equipe TibiaBR. Por último (e talvez o mais importante):
Chave 4
Berius Fabim x kilua paladino
Tema: O Labirinto das Almas Perdidas (The Maze of Lost Souls)
Spoiler: Texto 1Entre Deus e o Diabo
Séculos atrás nossos ancestrais construíram este labirinto para proteger nossa cidade Demona de bandidos e guerreiros. Com a ajuda de nossos leais trolls, eles terminaram este labirinto gigante em 1 mês! Este labirinto têm nos protegido por séculos, e nós esperamos que continue protegendo por muito tempo.
Cedriel fechou o Livro Negro depois de lê-lo mais uma vez. Aquela era, em disparado, sua obra preferida de toda a biblioteca da Ilha dos Reis, uma ilhota localizada ao sul das Terras-Fantasmas, onde vivia desde sempre com seus irmãos monges.
Por algum motivo que desconhecia, Cedriel sempre foi fascinado por aquele gigantesco labirinto. Ele sentia, no fundo de seu coração, que aquele lugar lhe era importante de uma forma que não conseguia explicar, e, mais de uma vez, sonhara percorrer seus escuros caminhos. Tinha certeza de que precisava cumprir uma missão lá, embora não soubesse exatamente qual. E, somente quando o fizesse, estaria realmente livre.
Aquele livro, aliás, era uma das poucas coisas de que Cedriel gostava. Quando não estava na biblioteca, passava o resto do tempo vivendo uma vida que, ele sentia, não era a dele. Odiava a meditação que era obrigado a praticar, as orações que era forçado a fazer e as preces que formulava para deuses que o haviam esquecido completamente. Amaldiçoava a si mesmo por ser diferente dos outros. Sentia muito ódio o tempo todo. Sua ira dirigia-se até mesmo aos pais, que nunca chegou a conhecer, por terem-no abandonado ali para ser criado por monges. Daria tudo por uma vida diferente. Tudo.
— A biblioteca está fechando, Cedriel! — anunciou Phillos, um monge rechonchudo e de cara rosada.
Cedriel nada respondeu. Apenas colocou o livro de volta na estante e fulminou, com o canto dos olhos, aquele que, diariamente, expulsava-lhe de seu santuário particular. Sentiu a ira revirar-se dentro de si novamente, como um pequeno feto em crescimento que procura uma posição mais confortável. Mas, tão rápido quanto veio, ela se foi. Cedriel desceu correndo as escadas da biblioteca, de repente envergonhado por desejar mal a um irmão.
~~
— Perdoe-me, Padre, pois eu pequei — revelou um constrangido Cedriel, encarando a tela de um confessionário escuro.
O padre do outro lado ficou em silêncio por alguns instantes. Reconheceu aquela voz já na primeira palavra que lhe foi dirigida. Dentre todos os monges da ilha, sem dúvida o dono daquela voz era o que lhe procurava com mais frequência. Ele estava começando a ficar realmente preocupado. Por fim, adotando os procedimentos de praxe, respondeu:
— Diga-me o que fez, filho. Embora somente os deuses possam perdoar-te, eu posso ouvir-te e aconselhar-te.
— Tive desejos impuros, Padre. Desejos de fogo e destruição, desejos de morte e horrores — a voz de Cedriel começou a falhar, e o Padre percebeu que ele estava realmente arrependido. — Tive sonhos com gritos e lava. Sangue e suor. E sinto crescer cada vez mais a vontade de percorrer o Labirinto das Almas Perdidas. Eu não entendo, Padre, eu não entendo... — Cedriel começou a chorar baixinho.
O Padre estava aflito do outro lado, mas, quando falou, sua voz soou segura:
— O Labirinto das Almas Perdidas não é lugar para monges, filho. É um lugar criado por Bruxos e repleto de criaturas demoníacas. Tire essa ideia da cabeça.
— Mas, Padre! — Cedriel explodiu em protesto, e o Padre sentiu o ódio naquela objeção.
— Não quero ouvir suas argumentações, filho. Ore para Uman, o deus da sabedoria, e peça serenidade; ore para Fardos, o deus da criação, e peça paz. Eu também irei orar por você. Para que seu coração se acalme e seu espírito se ilumine, como deve ser.
— Essa é a outra confissão que preciso fazer, Padre... Tenho orado para Zathroth, o deus da destruição, e, quando o faço, sinto-me muito bem... — um sorriso afetado surgiu no rosto de Cedriel.
O Padre abaixou a cabeça e, só então, percebeu que estava chorando. Embora os segredos que ouvisse geralmente não saíssem daquele confessionário, aquela era uma situação atípica. Desta vez teria que quebrar seu voto de sigilo e levá-los ao conhecimento de uma terceira pessoa.
~~
— Falhamos com o rapaz, Costello. Talvez a natureza dos indivíduos não possa mesmo ser alterada — o Padre falou baixo para que a quebra de seu sigilo profissional não ultrapassasse as paredes daquela sala, na qual estavam apenas ele e seu velho amigo. — Talvez o melhor, e que os deuses nos perdoem, seja a expulsão de Cedriel. Sua presença aqui ameaça a todos nós.
— Não. As pessoas são o que decidem ser. Tenho certeza disso. — respondeu Costello, um monge de olhos azuis como o céu e rosto cansado pela ação do tempo. — Somos o resultado de nossas escolhas; não das escolhas alheias.
O Padre encarava o amigo com uma expressão vazia.
— Durante os últimos 20 anos tentei acreditar nessa sua verdade, Costello, mas, com o perdão do trocadilho, preciso confessar que começo a perder a fé...
— Retire tudo de um monge, menos sua fé. Um monge sem fé é qualquer coisa, menos um monge.
O Padre olhou para o chão, claramente envergonhado. Costello continuou:
— Diante de tudo que você relatou, penso que o rapaz Cedriel possa estar certo em relação a uma coisa: talvez seja mesmo a hora de ele percorrer o Labirinto das Almas Perdidas.
— Mas, Costello, você entende o que está sugerindo?! Isso pode significar que...
— Isso pode significar o fim de tudo. Ou um novo começo. De qualquer forma, todo homem precisa enfrentar o seu destino em algum momento de sua vida.
O Padre sabia que o amigo tinha razão. Desde sempre soube que aquele momento chegaria.
— Então que os deuses nos protejam... — e, enquanto falava, percebeu que Costello rabiscava em um pergaminho os traços do rosto de uma jovem mulher. — Mesmo depois de todos esses anos, você ainda pensa em Aiella?
Agora foi a vez de Costello olhar para o chão, envergonhado.
— Todos os dias de minha vida.
~~
Cedriel recebeu com entusiasmo a notícia de que finalmente teria a oportunidade de percorrer o Labirinto das Almas Perdidas. Precisou de apenas alguns dias para organizar suas provisões e praticamente memorizar o mapa do lugar. Embora preferisse fazer sozinho aquela peregrinação, Costello fez questão de acompanhá-lo.
No início sentiu-se irritado, como se sentia, aliás, praticamente a respeito de tudo. Depois de pensar um pouco sobre a estranha benesse que lhe havia sido concedida, chegou à correta conclusão de que o Padre havia revelado suas confissões a Costello. Maldito Padre. Mas se a violação de sua privacidade era o preço a pagar para ter o que queria, então ele aceitaria de bom grado.
— Não estamos diante de uma viagem a passeio, Cedriel — dissera-lhe Costello, antes de partirem. — O Labirinto das Almas Perdidas é um lugar que exala maldade por todos os seus caminhos. Um passo em falso lá pode significar a morte.
Maldito Costello. Sempre com uma lição de moral pra tudo. Um conselho ou opinião sobre qualquer assunto. Embora soubesse que o velho tinha razão, Cedriel não conseguia deixar de se sentir desconfortável com aquele que talvez fosse a figura mais próxima de um pai que ele jamais conhecera.
— Eu sei, senhor Costello. Já li muito sobre o Labirinto das Almas Perdidas — respondeu, sem deixar transparecer qualquer indício de rebeldia. Era realmente bom em abafar seus impulsos.
— Não duvido que você já tenha lido, rapaz. Porém, se há uma coisa que você aprenderá durante essa peregrinação, é que existe uma diferença enorme entre conhecer o caminho e percorrer o caminho. Algumas coisas não podem ser aprendidas em um livro, no sossego de uma biblioteca — e, assim que terminou de falar, Costello teve a impressão de ter visto cintilar um brilho sombrio nos olhos de Cedriel. Talvez ele não fosse tão bom assim.
~~
Após alguns dias de viagem, chegaram finalmente à entrada do labirinto. Antes disso, passaram uma noite em uma estalagem em Carlin, alimentaram-se uma vez de um urso pardo que abateram no caminho, fizeram fogueiras e descansaram sob a luz do luar. E agora estavam ali, tão perto do labirinto que Cedriel já conseguia senti-lo em todas as células de seu corpo.
Percorreram o labirinto de forma mais tranquila do que Cedriel – e talvez até mesmo Costello – poderia esperar. O local parecia simplesmente abrir-se para que fosse desvendado por aqueles dois.
Em uma parte do caminho, depois de abaterem um troll, Costello falou:
— Essas criaturas foram escravizadas por Bruxos para que construíssem esse lugar. Não tiveram escolha. Depois disso, muitos deles continuaram aqui.
Um pouco adiante, venceram um pequeno grupo de orcs, e Costello disse:
— Essas bestas foram criadas por Brog, filho de Zathroth. Sua maldade é inata. Eles não têm opção alguma a não ser praticar o mal.
Já quase perto do final, encontraram um aventureiro que precisava de uma corda para fazer o caminho de volta. Costello cedeu-lhe a sua e, depois que o homem foi embora, comentou:
— Ajudei-o porque escolhi o caminho do bem. O de guardar o próximo como a si mesmo. Somos todos instrumentos dos deuses e devemos honrá-los.
Cedriel sentia que Costello estava tentando lhe dizer alguma coisa que ele ainda não compreendia.
No final do caminho, Costello disse:
— Aqui termina nossa viagem, rapaz Cedriel. Percorremos todo o Labirinto das Almas Perdidas, como era seu desejo. Se continuássemos a caminhar chegaríamos a Demona, a cidade escondida dos Bruxos.
Cedriel continuou andando. Não sentia nenhuma vontade de parar.
— Nem mais um passo, Cedriel! — esbravejou Costello, em uma tentativa de quebrar a espécie de transe no qual Cedriel mergulhara. — Existem coisas que você precisa saber!
Cedriel parou e os dois se sentaram no chão sujo do labirinto. Costello respirou longa e profundamente, preparando-se para a conversa mais difícil de toda sua vida.
~~
— Quando jovem, amei profundamente uma mulher. Seu nome era Aiella. Ela também me amava e nós dois planejávamos um futuro juntos. Foi então que ouvi o chamado para tornar-me monge. Parti deixando tudo pra trás: amigos, família e a mulher que eu amava. Não foi uma decisão fácil, mas não me arrependo.
Terei agora que ouvir os devaneios de um velho...queria apenas continuar seguindo em frente!
— Muitos anos depois, durante uma passagem por Carlin, fiquei sabendo que essa mulher, que um dia eu havia amado, estava em seu leito de morte. Fui ao seu encontro a fim de amenizar sua passagem deste mundo de alguma forma. Encontrei-a, moribunda e sozinha, em uma cama. Meu coração estava apertado e triste. Perguntava-me se sua vida teria sido diferente se eu não a houvesse abandonado.
E o que é que eu tenho a ver com isso?! Oh, céus!
— Com grande esforço e em uma voz fraca, ela relatou que seu filho recém-nascido lhe havia sido roubado. Pediu-me que recuperasse a criança, custasse o que custasse, e deu-me indicações sobre onde procurá-la. Corri por esse labirinto em que agora estamos e encontrei o bebê em uma mesa de rituais na cidade escondida dos Bruxos: Demona. Estava sozinha, aparentemente abandonada à própria sorte, mas bastou que eu a pegasse no colo para que um Bruxo aparecesse. Identificou a si mesmo como Bruxo Haki e disse que a criança lhe pertencia. Eu respondi que a levaria dali e lutaria se fosse preciso. Ele sorriu e me disse que eu poderia trocá-la por uma vida: a minha. E que se aquela criança um dia voltasse a colocar os pés naquela cidade, então minha existência chegaria ao fim. Aceitei a oferta, pois não conseguiria encarar Aiella se voltasse sem seu filho. Não depois de tudo o que eu já a havia negado.
Àquela altura as reclamações mentais de Cedriel já tinham cessado e ele prestava muita atenção à história que lhe era contada. Algumas peças começavam a encaixar-se em sua cabeça.
— Aiella morreu assim que cheguei com a criança nos braços. Parecia que estava esperando somente isso para partir deste mundo. Mas, antes de ir, me fez prometer que cuidaria do garoto como se fosse meu próprio filho. E escolheu também um nome para ele. Você deve estar se perguntando por que estou contando essa história. E o motivo é que o nome escolhido foi Cedriel. E você era aquela criança.
E, então, para Cedriel, tudo fez sentido. Entendia agora o ódio que sempre sentiu pelos monges e as pequenas maldades que praticou escondido ao longo da vida. Os sonhos que o atormentavam não eram realmente sonhos, mas lembranças. Porém, não ficou triste nem revoltado. Muito pelo contrário: sentiu-se feliz por finalmente entender a própria natureza. Então perguntou:
— O que exatamente os Bruxos fizeram com aquela criança?
— Nunca tive certeza absoluta, mas suponho que talvez ela tenha sido submetida a algum tipo de ritual...
— Então é isso que sou? O resultado de uma bruxaria? — para o espanto de Costello, Cedriel sorria ao tirar as próprias conclusões.
— Não, filho! Você é um monge! O poder dos deuses corre em você — embora pretendesse soar confiante, a voz de Costello revelava uma ponta de desespero. — O que importa na vida são as escolhas que fazemos, filho! Diferentemente dos trolls e orcs que encontramos no caminho, e, assim como eu, você tem uma escolha!
Cedriel não podia concordar. Nunca teve escolha alguma. Desde sempre esteve fadado a ser diferente. E, agora que conhecia a verdade, não seria capaz de continuar lutando contra aquilo que era. De uma vez só deixou que sua besta interior se libertasse e o possuísse. Finalmente. Costello percebeu de imediato a transformação: os olhos de Cedriel eram puro negrume.
— Você está errado, Costello. Sou o que sou — Cedriel virou as costas e começou a dirigir-se em direção a Demona. — E não me chame de filho.
Caminhou sozinho até começar a sentir o calor aumentando. Os rios de lava seriam uma visão deliciosamente familiar. Foi retirando, pouco a pouco, as peças de roupa que cobriam-lhe o corpo. Precisava desfazer-se de todas as lembranças de sua antiga vida. Quando finalmente chegou a Demona, estava completamente nu. Não sentiu, porém, vergonha alguma, pois agora caminharia entre seus iguais.
Quando viu Cedriel, o Bruxo Haki sorriu satisfeito. Seu retorno encerrava mais uma fase do importante ritual começado muitos anos antes. Tudo havia saído como planejado. Em pouco tempo os poderes daquele rapaz iriam se manifestar de forma estupenda, e ele então poderia usar o nome que uma velha profecia lhe reservara: Zarabustor, o Senhor de todos os Bruxos.
Perto dali, jazia imóvel e frio o corpo de Costello. E assim permaneceria até que do corpo somente restassem os ossos. E até que dos ossos somente restasse o pó. E até que o pó fosse carregado pelo vento. Seu espírito deixou este mundo assim que Cedriel colocou os pés em Demona. Foi recebido do outro lado por Aiella. Deram as mãos e percorreram, juntos, o caminho que separava os dois mundos. E, então, não havia mais dor, culpa ou desespero. Apenas uma sensação de paz que o acompanharia por toda a eternidade.
Spoiler: Texto 2O Mago Perdido e o Labirinto das Almas
A noite caía nos Campos da Glória, quando um grupo de quatro jovens exploradores adentrava os domínios dos Bruxos, abaixo do Labirinto das Almas Perdidas. A equipe, composta por um cavaleiro, um druida e dois paladinos, era, na verdade, um time de resgate. A trilha de sangue seco que seguiam levava diretamente ao covil de Zarabustor, na cidade denominada Demona. Descobririam mais tarde, no entanto, que seus esforços para salvar Bruno haviam sido em vão.
Dez dias atrás
Dia 1
Querido diário, finalmente a nossa amada Rainha Eloise ouviu as minhas súplicas, de que algo terrível está acontecendo abaixo dos Campos da Glória. Minha mulher, Marlene, chegou a descer em uma pequena caverna e ouviu vozes assombrosas lá embaixo. Agora, com autorização da Rainha, lidero um conjunto de cinco pessoas para explorar a área. Poucos sabem, mas, antes de tornar-me um pescador, que sobrevive da venda de peixes frescos, eu fui um mago da corte de Carlin, o que me permitiu certa influência ao conversar com Eloise. A Rainha ficou de nos enviar um segundo grupo de apoio, daqui três dias. Nesse exato momento que escrevo, estamos descendo os primeiros níveis da caverna, bem equipados com um bom suprimento de poções, runas e comida. Sou o único mago do time e, por isso, ando no meio de meus companheiros, sendo protegido na vanguarda por um cavaleiro e um paladino, e na retaguarda por outra dupla igual. Não encontramos nada por enquanto com o que se preocupar. Os poucos lobos, trasgos, cobras e aranhas que encontramos não ofereceram resistências ante as armas afiadas de meus amigos.
Dia 2
Após termos acampado a última noite em um trecho do segundo nível da caverna, o qual possui algumas árvores e até mesmo um pequeno lago para reabastecermos nosso estoque de água, demos início às nossas buscas. Ainda próximo de onde acampamos, descobrimos um buraco escondido pela relva e, ao adentrarmos, descobrimos uma alavanca ao lado de uma placa, assinada por alguém chamado Zhandramon. As instruções diziam para que virássemos o interruptor para a direita e seguíssemos a luz azulada para encontrarmos Demona. Não sabemos que local é esse, mas temos um pressentimento de que se trata da fonte de terror que Marlene identificou.
Assim que fizemos o que nos fora ordenado, ouvimos um forte estrondo em algum local ao noroeste de onde estávamos, parecendo com o desabamento de alguma pedra. Subimos novamente para a relva e seguimos sempre naquela direção, eliminando os fracos trasgos que tentavam nos deter. Após algumas horas de caminhada, sem parar nem mesmo para comer ou beber, finalmente conseguimos encontrar o começo da “Trilha Azul” que nos mandavam seguir. Um grupamento de trasgos protegia um buraco, cercado por campos de energia, e, ao ver o brilho azul que emanavam, tínhamos certeza de que aquele era o local. Utilizei uma de minhas runas de Destruir Campo e abri passagem para nosso grupo. Descemos e encontramos uma nova placa. Estávamos adentrando, ao que parecia, o Labirinto das Almas Perdidas. Ao ler aquele nome, diário, senti um calafrio que não consigo descrever. Tive vontade de retroceder, mas sabia que agora não poderia fraquejar. Não enquanto era líder de uma missão dessa natureza. Quatro portas nos cercavam, cada uma apontando para um dos pontos cardeais. Cansados como estávamos, decidi que era hora de pararmos para comer, beber e dormir. E por isso vim escrever aqui mais uma vez. Amanhã continuaremos nossa expedição, procurando por essa tal de Demona.
Dia 3
As coisas vão de mal a pior, querido diário. Não devíamos ter adentrado um local com esse nome. Achei que poderíamos marcar por onde viemos riscando a espada de Mirus no chão, formando uma seta a cada bifurcação que encontrássemos. Mas eu estava errado. Alguns caminhos simplesmente desmanchavam-se após serem escolhidos, e logo ficamos totalmente perdidos. No caminho, encontramos alguns ogros, minotauros e ciclopes, os quais matamos sem muitos problemas. Mas o que realmente não entendo, meu amigo, é porque fomos atacados por elfos e anões que encontramos. Sei que, geralmente, eles protegem suas florestas e suas minas, agredindo qualquer invasor, mas aqui não há nem um nem outro. E o pior eram suas expressões! Não conseguia ver nenhuma inteligência racional neles, apenas o mais puro ódio! Me dói admitir que precisamos matá-los, afinal, tenho amigos dessas duas raças…
Encontramos, também, no caminho, mortos-vivos. Isso me faz pensar que há algum Necromante por trás desse lugar. Tivemos que passar por Carniçais, por Múmias e até por Demônios Esqueleto para conseguirmos encontrar um pequeno refúgio onde estamos descansando. Em breve dormiremos, fazendo turnos de vigília. Não sei dizer exatamente onde estamos, mas suponho que a superfície encontra-se bem distante de nós. Os túneis pelos quais cruzamos são muito frios, e nossa única fonte de calor vem das tochas que acendemos, ou dos rios de lava, que passam em alguns pontos. De fato, estamos bem próximos de um desses rios, o que nos permite relaxar um pouco de todo esse estresse.
A Rainha, a essa altura, já deve ter enviado um segundo grupo, para nos apoiar. Só espero que a fortuna deles seja melhor que a nossa. Precisaremos de ajuda para sair daqui, pelo jeito.
Dia 4
Por quanto tempo ficaremos presos aqui? Já é nosso segundo dia nesse labirinto, e não fazemos ideia de por onde devemos ir. Nosso estoque de alimentos já está pela metade e, mesmo racionando a água, não vejo como irá durar mais de três dias. E o pior não é isso, caro diário. Encontramos outras pessoas enquanto rumávamos a esmo. Isso deveria ser um motivo de alegrias, mas elas simplesmente nos atacaram! Pelas roupas que vestiam, outrora foram Caçadores e Monges, mas hoje nada mais eram que semi-humanos. Não nego que tenha chorado ao ouvir os berros deles, depois de serem atingidos por minhas magias e pelas armas afiadas de meus companheiros. Mais que matar outro ser humano, o fato de ver o que eles haviam tornado-se nos encheu de desespero. Escrevo aqui em uma breve pausa, pois hoje não dormiremos. Tentaremos encontrar uma saída logo, ou perderemos a sanidade.
Dia 5
Não… Isso não pode estar acontecendo! Mirus e Rollin estão mortos! Ontem à noite, depois de termos feito o descanso que me referi no dia anterior, descemos mais alguns buracos, aprofundando-nos no interior da terra. Encontramos, então, uma fonte de luz azulada, que parecia guiar-nos diretamente para o local que procurávamos. Após debater alguns instantes, resolvemos segui-la. Não tínhamos muita esperança em sair do Labirinto por conta própria e, caso chegássemos ao destino final, ao menos teríamos chance de entender o que estava acontecendo e, com alguma sorte, sair desse local terrível.
Chegamos em um ponto tão fundo do Labirinto que não havia mais lava alguma sequer para nos aquecer. Nossas tochas mal iluminavam o caminho e tivemos que recorrer às magias de Luz para enxergar. Em compensação, começamos a sofrer com o frio excessivo. Cansados, por não termos dormido, acabamos não vendo uma Aranha Gigante que surgiu em uma bifurcação, por trás de nós. Rollin, um dos paladinos, que ia na retaguarda, foi pego por sua teia e arrastado. Antes que conseguíssemos reagir, o bravo guerreiro já havia tido seu pescoço perfurado pelas poderosas presas. Enquanto eu e Kirnosh, o outro cavaleiro, cuidávamos de vingar nosso amigo, Mirus e Misrod, o outro paladino, ocuparam-se com um Lorde Dragão que surgira. Meu sangue gelou ao ouvir o berro de Mirus e, ao virar para trás, vi meu melhor amigo caído, agonizando, com um rasgo profundo em seu peito, onde sua Armadura Dourada havia sido derretida, pelas fortes chamas do monstrengo. Juntos, terminamos de eliminar as duas ameaças e ainda tivemos tempo de tentar salvar a vida de meu colega, mas era tarde demais. Antes que pudéssemos dar-lhe uma das poções da vida que restavam para beber, ouvimos seu último suspiro e vimos seu coração parar de bater.
Passamos o resto do dia chorando. Kirnosh, Misrod e eu éramos grandes amigos daqueles que se foram, e a perda é inconcebível. Se consigo escrever isso aqui, caro diário, é porque espero que algum dia te encontrem em meio a nossos restos mortais e saibam o fim que tivemos. Eu queria poder derramar mais lágrimas por nossos entes perdidos, mas sinto que meu corpo, já ligeiramente desidratado, não consegue perder água por esse meio.
Dia 6
Não sei o que está acontecendo comigo, caro diário. Há horas que sinto como se estivesse perdendo a minha identidade. Não consigo recordar-me de quem sou e o que vim fazer aqui. Não fosse pelos registros que li aqui, acho que já teria enlouquecido. Não consigo mais lembrar-me dos rostos de meus amigos. Nem do de minha esposa. Do grupo que entrei aqui, acho que somente eu ainda estou vivo, pois não vejo mais ninguém aqui. O mais estranho é que, antes de escrever isso agora, encontrei com um Dragão, e preparei-me para lutar até a morte com ele. Mas a criatura não me atacou. Ignorou-me e passou a meu lado, sem causar nenhum dano. O que estará acontecendo aqui? Agora vou parar de escrever por hoje, pois sinto uma dor horrível dentro de meu peito. É como se estivessem tentando arrancar algo de dentro de mim. Vou tentar dormir um pouco para ver se passa. Mas não tenho muitas esperanças.
Dia ?
Querido diário, não sei mais que dia é hoje. Meu relógio, o único recurso para manter um padrão para minha vida, quebrou durante um ataque de um Ogro Líder. Minha perna também quebrou e, já sem comida, não me restam muitas horas de vida, tenho certeza. Desmaiei por um longo tempo, e a dor que sentia em meu peito antes agora está mais forte. Sinto como se estivessem arrancando minha Alma, e isso explicaria o porquê desses lapsos de memória que sinto. Temo que essa seja a última vez que escrevo aqui. Não sei se a Rainha enviou mesmo um segundo grupo, ou se nos abandonou à própria sorte, mas não vi sinal de… Espere!! Ouço vozes não muito longe de onde estou. Será que são eles?? Espero poder relatar isso em breve, querido diário!
Dia ?
Não lembro de nada que ocorreu em minha vida, exceto do que posso ler nesse diário. Não lembro sequer de meu nome, pois não escrevi-o aqui. Mas agora sei o que é esse Labirinto e porque sobrevivi. Deixe-me contar do começo.
Depois que escrevi meu último relato, encontrei com os humanos que faziam aquele barulho. Ao vê-los, reconheci-os como Feiticeiros, pelo modo como se vestiam e os objetos que carregavam. Fui salvo por eles e, então, carregado por um túnel que deu acesso a uma cidade, que hoje reconheço ser Demona. O líder deles, Zarabustor, recuperou-me e me alimentou. Além de apagar o resto que sobrou de minha memória. Sei disso pois ele contou-me tudo ainda há pouco.
A Ordem dos Feiticeiros, da qual agora faço parte, foi criada por Zarabustor, um mago exilado de Carlin, que jurou vingança à Rainha. Levando um séquito de Feiticeiros consigo, refugiou-se abaixo dos Campos da Glória e enfeitiçou os Trasgos, para que construíssem um labirinto que servisse de proteção à cidade que pretendia criar. Após a construção, os refugiados lançaram um encantamento por todo o trajeto. Tal feitiço tinha por finalidade arrancar a alma daqueles que passassem pelo Labirinto, eliminando suas memórias e retirando quaisquer traços de humanidade. Aqueles que fossem fortes o suficiente para sobreviverem os terrores ali encontrados, tornariam-se servos dos Feiticeiros e fortaleceriam suas defesas. Ou isso ou, no caso do sobrevivente ser um mago, como eu fui um dia, tornariam-se parte da própria Irmandade. De todo modo, uma vez que o ser perdesse sua alma, ou estivesse prestes a perdê-la, nenhuma outra criatura no Labirinto a atacaria. E isso explica porque aquele Dragão passou direto por mim. O poder de Zarabustor sobre as tropas de Zathroth é impressionante. Não é à toa que tornou-se um tenente do Deus da Destruição.
Agora, plenamente recuperado, aprenderei com eles mais sobre as artes da feitiçaria. Aos poucos, estamos aumentando nosso número. E, uma vez que estivermos em grande quantidade, iremos marchar sobre Carlin e dominá-la, matando todos que se opuserem a nós e escravizando os fracos demais para apresentar resistência. Manterei você comigo, diário, para recordar-me que um dia já fui humano e, agora, faço parte das fileiras de Zathroth.
Diferentemente dos outros Feiticeiros, decidi manter minha identidade, o que só é possível graças aos registros desse diário. É por isso que não te jogarei fora, mas continuarei a ler sempre que esquecer quem fui um dia. Mas não mais escreverei aqui. É, com isso, que me despeço de você, diário.
Dia Atual
Tendo finalmente chegado em Demona, o grupo de resgate encontrou um Feiticeiro, que protegia a entrada da cidade, como um vigia. Sendo mais experiente que a equipe original de exploradores, conseguiram derrotá-lo, se bem que com certa dificuldade. Uma vez terminada a batalha, o líder da equipe reconheceu o rosto de seu amigo, Bruno. Aproximando-se do cadáver, examinou seus objetos pessoais e encontrou o diário cujo relato havia sido feito pelo antigo marido de Marlene. Após terem lido todos os relatos, descobriram que sua antiga missão havia fracassado, e que precisavam sair logo daquele local, e avisar à Rainha. Na volta pelo labirinto, contudo, foram emboscados pela Ordem, que havia descoberto a infltração. Depois de uma fuga alucinada, apenas o líder do esquadrão sobrevivera para voltar a superfície. Bastante ferido, e sabendo que em breve iria encontrar-se com seus companheiros, arrastou-se até Porto Norte, o vilarejo mais próximo, e entregou o diário a Marlene, que, enfim, soube do destino do marido. A bela mulher entendeu a importância do documento e correu até Carlin, entregando-o à Eloise. Após isso, retornou à sua vila natal, onde ganha a vida hoje como contadora de histórias. Mas dizem que, toda vez que perguntam sobre os estranhos sons vindos de algum lugar abaixo dos Campos da Glória, a viúva põe-se a chorar, relembrando do marido.
Quanto ao diário, ele hoje encontra-se guardado na Biblioteca Real de Carlin, e foi de ótima ajuda para os membros da cidade. A Rainha prontificou-se em aumentar as defesas mágicas da cidade, e a cabeça de Zarabustor recebeu uma generosa recompensa. O mago, por sua vez, sabendo que não mais poderia contar com o elemento-surpresa, ainda aguarda pelo dia em que suas fileiras estarão poderosas o suficiente para destruir a cidade de Carlin e iniciar uma expansão de seu Reino pelo continente.
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