Disputas da Chave 6
Lembrando que os textos são postados de forma anônima. Para votar, basta identificar qual a disputa e qual o texto escolhido. Todos usuários podem votar, mas apenas aqueles com uma justificativa plausível serão levados em conta. Votos de usuários fantasmas também serão desconsiderados. E lembrando que a votação popular será apenas um dos pesos da nota dos textos, e o vencedor final será decidido por membros da Equipe TibiaBR. Por último (e talvez o mais importante):
Infelizmente, essa chave acabou tendo apenas uma disputa para ser votada.
Enfim, seguem os textos da chave 6!
Disputa A
Sero x Zhaphirusz x Sir Winterfell x Magic Iceheart
Tema: Hugo, o coelho-demônio
Spoiler: Texto 1Quem é pior: o homem ou o demônio?
I)Hugo, O Demon-Bunny
Era uma sala escura. Na verdade ela não era apenas escura. Ela parecia ser simplesmente composta de nada. Um estudioso compararia aquilo ao vácuo, já um religioso diria que aquele era o lugar para onde os mortos iam caso não se comportassem bem na Terra e um romântico descreveria que aquela é a sensação de vazio que os homens sentem quando seu amor não é correspondido.
Todos estariam enganados.
Era o cárcere da pior de todas as criaturas: Hugo, o Demon-Bunny.
Tudo o que se via naquele mar de matéria escura, que sufocava toda a sala, eram inscrições flutuando em uma língua desconhecida. Na verdade, elas não flutuavam, mas tinha-se a impressão, já que não era possível enxergar as paredes em que estavam cravadas. Foram desenhadas ali por nada mais nada menos que os melhores mágicos de todo o continente, e apresentam como única e fundamental função impedir que a criatura se utilize de qualquer tipo de mágica.
Ao ser aprisionado, Hugo passou a usar a mente maligna apenas para maquinar sua fuga. E por isso, desde aquela época em que aqueles vermes conseguiram trancafiá-lo, ele rastejou até o meio da sala, permanecendo ali na mesma posição durante décadas. Seus músculos se tornaram rígidos e até sua respiração foi interrompida, tudo com o objetivo de se concentrar com tamanha intensidade a ponto de ultrapassar aquela barreira mágica.
Em alguns breves instantes ele conseguia transcender seu corpo petrificado, e observar o mundo externo, o lugar onde aqueles humanos estúpidos viviam. Além disso, ele até conseguia mover alguns objetos e influenciar em algumas ações toscas desses seres desprezíveis.
Seu plano era simples. Tempo e paciência era o que precisava. E isso ele tinha de sobra.
Atrair a presa para o bote, essa é a regra número um da cadeia alimentar.
II) Rykardo
Toc
- Abra a droga da porta! – mandou Rykardo. – É um mandato de Vossa Majestade! - Dando maior ênfase às últimas palavras. A autoridade sempre fora o seu forte, e abusar um pouquinho dela de vez em quando não fazia mal pra ninguém.
Toc
- É o último aviso, abra logo, ou então farei isso do meu jeito. – Na verdade, era disso que gostava, as coisas do jeito dele. No fundo, não queria que abrissem aquela porta, seria muito fácil. O que dava prazer a ele era a ação, a violência, talvez até a maldade. Ele sentia-se bem ao ouvir o estalar de ossos quebrando e o grito de pessoas desesperadas. Parecia que alguma substância demoníaca era liberada em seu sangue durante essas atrocidades, tornando-o um ser anestesiado contra qualquer tipo de emoção.
Não houve a terceira batida. A porta escancarou-se ao seu primeiro chute. Entrou sem hesitar. Parecia não haver ninguém lá. Será que hoje não vai ter diversão?
Chegou a uma sala comprida e retangular. A primeira coisa que reparou foi num fio cinzento que subia da lareira. Havia fumaça, e isso era sinal de que alguém estivera ali há pouco tempo. Depois seus olhos atravessaram rapidamente a extensão do cômodo, e o que viu foram estantes com livros, livros e mais livros. No meio de tudo isso havia uma cadeira acolchoada, e foi ali que sua visão parou.
Um homem velho parecia estar dormindo sobre sua poltrona. Rykardo aproximou-se dele e descobriu o que já sabia, estava morto.
Então se lembrou das instruções que recebera do próprio Rei.
- Vá atrás daquele metidinho a sabichão. – ordenara o Rei. – Ele serviu bem ao meu pai, e foi um mago melhor ainda ao ajudar a prender aquele terrível demônio há décadas atrás. – Explicou o Rei, que não precisava explicar, pois era o Rei, mas estava de bom-humor no dia. – Mas agora ele resolveu espalhar boatos e calúnias sobre a ameaça que essa criatura representa e, por isso, de forma alguma estou disposto a ver meu povo entrar em pânico por causa de um velho caduco.
Pronto, o velho estava morto, tinha um frasco vazio ao seu lado, possivelmente o covarde ingeriu o próprio veneno. Aquele inútil não serviu nem pra animar o seu dia com um pouco de ação.
Andou até a lareira. Parecia que o mago-caduco de alguma forma sabia que viriam atrás dele. Deve ter queimado os documentos mais importantes para não dá-los de mãos beijadas a Vossa Excelência. Mas de alguma forma, havia um papel ali dentro que parecia intacto, alguma pequena brisa deve tê-lo movido, deixando-o protegido da chama.
Rykardo segurou-o e primeiro leu mentalmente. De início, não acreditou naquelas palavras, e talvez por causa disso precisou ler em voz alta, como que para confirmar suas suspeitas.
Era a localização exata do Demon-Bunny.
Isso é um verdadeiro milagre, pensou eufórico, imaginando a fama que isso poderia lhe trazer.
III) Seraphin
Seraphin andava cambaleando para longe da cidade. Seus cabelos compridos apresentavam uma cor de um fogo vivo, uma das poucas coisas de sua vida que ele poderia dizer que se orgulhava.
Se alguém o visse diria que estava bêbado ou então com uma ressaca daquelas. Seus olhos estavam semicerrados, pois a dor de cabeça era tão intensa que a pupila contraia involuntariamente à sensação da luz.
De todos os sintomas aquela vontade de mijar, era a pior.
Sem pensar, arriou as calças até o joelho, e logo se concentrou na gloriosa arte de arrastar as pedrinhas da estrada com a força daquele jato divino. Enquanto fazia isso, tentou lembrar-se do porque havia fugido da cidade. Não se lembrava de nada do dia anterior.
- Devo ter exagerado um pouco na cerveja. – Disse em voz alta, falando consigo mesmo. – Mas pelo menos meu cabelo ainda tá intacto. – falou enquanto alisava-os, aliviado. – Já tava na hora de tirar uns dias de folga mesmo. – justificou-se.
Enquanto filosofava e arrastava as pedrinhas com habilidade, aconteceram três coisas comuns, porém surpreendentes. Um pássaro gorjeou de cima de uma macieira, Seraphin olhou, logo em seguida, uma maçã caiu dela e, como que para completar o processo desse fenômeno completamente normal, ela começou a rolar. Até aí tudo bem, para Seraphin era só mais um dia bonito, com a natureza realizando seu eterno ciclo de vida. Mas o que aconteceu em seguida não foi tão comum assim.
A maçã rolou sem parar. Os olhos de Seraphin até conseguiram abrir-se para ver algo como se um spectre arrastasse aquele objeto com os pés.
Perseguiu a maçã por quase 2 km ao leste da estrada. Fazia isso não por estar com fome, mas sim curioso. De repente ela parou. Agora que eu pego essa sacana, pensou, rindo, porque talvez estivesse louco.
Quando estava a dois passos o mundo desabou.
Mergulhou na escuridão...
IV) Hugo, O Demon-Bunny
O coelho demônio estava rindo. Mas o som não era nada parecido com o que conhecemos, pois ele não vinha dos pulmões e nem mostrava nenhuma contração ou movimento durante seu ato. Parecia vir de toda a sala, como se a matéria escura possuísse a capacidade de originar esse som.
A criatura não se sentia tão feliz desde que aqueles guerreiros não a tinham pego. Os malditos haviam sumonado dragões apenas para distraí-lo, enquanto os druidas desenhavam aquelas runas nas paredes.
-Meu corpo aqui é tão inútil quanto vocês, mas a mente... ah, a mente vai longe. Aqueles dois já estão vindo, e junto com eles, a chave.
V) Seraphin
Abriu os olhos, não entendendo como havia ido parar ali. E de repente uma memória súbita subiu à sua consciência.
- A maçã me pegou. – Disse, sentindo-se tão idiota que riu da própria desgraça.
Levantou vagarosamente, tinha ralado um pouco as mãos na hora de ter pousado no chão e a bunda tava meio dolorida, mas fora isso, a queda não tinha sido violenta. No máximo dava uns 2 metros.
Ele pensou em tentar voltar, mas não, não era o que realmente queria. Aquilo era um sinal, e quem sabe não descobrisse algo realmente importante? Talvez houvesse tesouros há muito perdidos, ou então algum segredo mágico, pergaminhos que poderiam interessar a estudiosos de renome. No entanto, não era na fama que pensava propriamente, era nos efeitos dela. Imagine só os melhores cabeleireiros do Rei sendo designados a fazerem um belo trato em seus cabelos!
Seraphin então avançou. O túnel era baixo, largo e um tanto escuro. Então resolveu usar aquela velha mágica que seu avô havia lhe ensinado: ‘utevo lux!’, era uma das poucas que sabia, mas mesmo assim se orgulhava dela, era bem útil em alguns momentos.
O túnel iluminou-se. Bem melhor, pensou ele.
De repente ouviu um “crac” vindo do local onde pisou, e no instante seguinte uma flecha passou, deslocando o ar a poucos centímetros.
- Preciso tomar mais cuidado. – falou consigo mesmo, imaginando a sorte que teve.
Chegou a uma etapa que o corredor ramificou-se em três. Lembrou-se então de uma velha cantiga que seu avô costumava lhe cantar, e a cada sílaba da música ele apontava para um diferente caminho, até que quando chegasse à última, seria o caminho escolhido. Nada como a sorte pra facilitar as escolhas!
Entrou na do lado esquerdo. Pelo caminho, mais a frente encontrou uma sequência de machados enfileirados um atrás do outro, que ficavam realizando um movimento pendular.
Foi passando com calma, por cada um dos machados, sendo ágil na etapa que tinha que passar entre um e outro. Teve um momento em que perdeu o equilíbrio e quase caiu para frente, em direção à lâmina, mas por algum milagre, pareceu que algo, como uma mão invisível o fez recobrar de pé.
Quando passou por todos eles, se viu em uma sala quadrada, com uma porta do lado oposto de onde estava, e com estatuetas de dragões em cada uma de suas quatro paredes. Todos eles estavam com suas bocas horríveis, cheias de dentes, mirando para o meio da saleta.
Deu um passo, dois, três. Os olhos de uma das estátuas começaram a brilhar. Era de uma cor azul terrível, quase dando vida àquele dragão de pedra, como se estivesse prestes a levantar voo. Seraphin olhou assustado para aquela imagem e começou a apressar os passos. Agora já eram três pares de olhos o observando. Decidiu que só havia uma coisa a fazer: correr.
Estava a cinco passos da porta quando o pior lhe aconteceu. A ironia é que o fogo não veio de nenhuma daqueles bustos com olhos de gelo. Do chão, a cinco passos de onde Seraphin estava, uma quinta estatueta surgiu, e foi esta que espirrou chamas na direção de sua cabeça. Mais uma vez, aquela força misteriosa, a mesma dos machados, imaginou, o protegeu, mas não completamente. A barreira mágica – se aquilo pode ser chamado disso – impediu que aquelas labaredas chegassem ao seu rosto, no entanto, faíscas e chamuscadas atingiram o seu cabelo, fazendo-o, inicialmente, apenas flamejar, no entanto as chamas aumentaram, e seu tão precioso e indescritivelmente lindo cabelo passou a arder em chamas.
O ódio apoderou-se dele, e esqueceu completamente de qualquer armadilha, só pensou em correr, correr e correr, na direção do fim daquele inferno.
VI) Final
Rykardo chegou à sala final. Ele tinha certeza disso, afinal de contas estava sentindo. E sua percepção nunca estava errada. Por isso que ele era o braço direito do Rei em momentos que o trabalho sujo era necessário, como por exemplo, em interrogatórios regados a um pouquinho de tortura.
A sala consistia em uma estrutura parecida a uma cúpula, tinha um eixo arredondado e abobadado. Seu teto era altíssimo, e também sentia que havia descido muito em relação ao nível da terra, após passar por aquelas armadilhas ridículas. Estava no subsolo, e era ali que seu destino se resolveria.
Havia também uma porta, gigantesca, com milhares de palavras que brilhavam como vagalumes. Parecia magia. Do outro lado de onde Rykardo estava, uma criatura pareceu surgir de uma brecha semelhante a de que ele próprio tinha chegado. Soltava fogo pela cabeça, e vinha correndo na sua direção como mendigo correria atrás de um prato de comida, ou como uma mãe tentaria salvar seu filho em apuros.
- É você, demônio?! – gritou Rykardo, com seu eco refletindo nas paredes circulares, enquanto olhava para a criatura que agora que estava mais próxima, parecia ser mais um homem com os cabelos em chamas, do que ele imaginaria de um demônio.
- Sim. – Respondeu uma voz que parecia vir de todos os lugares e ao mesmo tempo de nenhum. – Ajoelhe-se perante a mim, e deposite suas armas no chão. – Ordenou a voz.
O que vinha correndo com os cabelos flamejantes, não era um demônio, e sim Seraphin, mas Rykardo não sabia disso. Todo aquele teatro já fazia parte dos planos de Demon Bunny.
Rykardo estava ali não para matar o demônio, nem para roubar qualquer tesouro que guardasse. Ele estava ali por um pacto. Ele ajudava o maldito, e em troca o maldito o ajudava. Era simples. E Hugo sabia disso. Por isso, Rykardo obedeceu e ajoelhou-se.
O fogo nos cabelos de Seraphin pareciam estar apagando, mas a dor era lancinante em seu couro cabeludo queimado. No entanto estava muito próximo do homem, e na verdade, estava desesperado, só queria uma ajuda para sair dali.
Então, os dois homens ficaram um de frente para o outro. Um ajoelhado e outro em pé. O que estava abaixado tocou nos pés de Seraphin, como que para pedir uma bênção ao seu Rei.
Esse toque então desencadeou a última etapa do maligno plano de Demon Bunny.
Seraphin começou a ter visões, viu todas as atrocidades que aquele homem a sua frente tinha realizado durante toda a sua vida. Desde as queimadas de vilas, até a matança de famílias inteiras. Numa das visões havia um homem com uma espada levantada em sua direção e como num ato involuntário, Seraphin levantou sua mão em direção à barriga do homem para impedi-lo.
A visão então acaba nessa parte, e quando olhou para baixo, havia pego o machado que Rykardo deixara no chão, não se lembrava como, e a cravara em sua cabeça.
- Apenas o sangue puro de um Homem tão ruim quanto um demônio seria capaz de me libertar. – Vociferou a voz. – E vocês são todos seres mesquinhos e manipuláveis. Você acaba de matar um homem contra a sua vontade, somente porque é necessário, para que essa maldita porta abra.
No chão, onde Rykardo jazia morto, haviam pequenos canalículos que levavam o sangue até a direção da porta.
- Precisa de sangue puro?! – perguntou exasperado Seraphin, tentando pensar em algo. – Então olha o que eu faço com seu maldito sangue puro.
Foi até a direção dos canalículos, arriou a calça e deu uma mijada como nunca antes, criando uma mistura vermelho-amarelada, de sangue e urina.
E depois, desmaiou.
Quando abriu os olhos estava embaixo da macieira onde havia seguido a maçã. Haviam três homens ali que se identificaram como Fardos, Uman e Banor. Eram Deuses. Um deles falou:
- Foi a coisa mais espetacular que já vi desde os inícios do tempo. Você impediu o pior dos demônios de sair ao mijar na chave dele. É um gênio. Escolha um pedido, meu jovem, e o realizarei.
- Meu cabelo! O cabelo de volta! – levantou Seraphin, pulando de alegria.
Spoiler: Texto 2O Execrável Hugo
Como sempre faziam nas tardes de quinta-feira — e também nas de sexta, quarta e terça, ou praticamente qualquertarde —, Gomalderem e Hüif jogavam conversa fora em seu escondedouro, um velho casebre abandonado onde se reuniam para realizar algumas das atividades que mais gostavam. Proseavam sobre toda e qualquer coisa que acontecia na cidade ou perto dela. Comiam e bebiam, e papeavam um pouco mais. E depois de papear, comiam. Resumindo, faziam naquele casebre o que faziam de melhor.
Hüif era um mago que mal tinha aprendido o mais básico dos encantos de cura, mas já se sentia um duro páreo para qualquer um. Gomalderem era um cavaleiro rechonchudo e um tanto caçoísta que sofria para abater os poucos lobos dos quais conseguiam carne para embalar suas longas e despreocupadas prosas.
Muitos lhes diziam para largar a mandriice e procurar aventuras; mas eles gostavam de aventuras, oh, e como gostavam! O que não gostavam era de treinar, e por isso, os desfechos de suas aventuras nunca eram lá muito favoráveis. Mas eles sempre voltavam rindo e se divertindo, sem reclamar, mesmo quando mais perdiam do que ganhavam em todos os sentidos.
O que faltava naquele momento era o terceiro integrante do singular grupo; Fiorlios, um druida aprendiz que vivia parando para observar e tomar anotações de qualquer animalzinho que encontrasse. Dizia que sua grande ambição era compilar o melhor de todos os bestiários.
E no momento em que Gomalderem falava a Hüif sobre como os lobos andavam fortes ultimamente que Fiorlios abriu a porta do esconderilho com violência.
— Encontrei! — disse ele a plenos pulmões, como se tivesse acabado de achar uma mina de diamantes. — Estimados amigos, eu encontrei!
— Uma nova espécie de coelho caolho, meu bom Fiorlios? — perguntou Gomalderem, virando sua cara redonda para olhar o druida.
— Isso também, caríssimo Gomo — disse Fiorlios, enquanto adentrava o recinto com um livro em mãos. — E é mais fascinante do que as que encontrei antes. O único olho é meio embaçado, acho que não enxerga bem. Nem me viu chegando, tropecei na pobre criatura. Devo dizer que suspeito ter lhe pisado a pata, pobrezinho, vai juntar a manqueira aos seus problemas... mas estou me referindo, meus amigos, a isto!
E ergueu o livro como se levantasse um maravilhoso troféu. Hüif e Gomalderem o olharam, se entreolharam, e olharam-no de novo.
— Que te parece, sábio Hüif? Que tipo de objeto misterioso é esse? — indagou Gomalderem, arriscando um humor do qual apenas ele mesmo era fã.
— O que tem de especial esse livro, meu caro Fiorlios? — indagou o mago, alisando o bigode.
— Oh, vocês vão ver! — disse Fiorlios, e prontamente jogou o livro sobre a mesa, começando a folheá-lo freneticamente. — Esse livro fala, meus caros e bons amigos, de Hugo!
— O Humilde? — indagou Hüif, torcendo alguns fiozinhos da bigodeira.
— Que humilde? — perguntou Fiorlios sem entender, desapontado por sua frase espetacular não ter surtido o efeito desejado.
— Tu sabes, Hugo, o Humilde — disse Gomalderem, fazendo gestos no ar com sua manápula. — “Era uma vez um monge chamado Hugo. Ele era tão humilde que...”
— Não, é claro que não é esse Hugo, meu estimado cavaleiro — disse Fiorlios, sorrindo. — Estou falando do Hugo terrível e perigoso, o mais temido de todos os Hugos...
— Nem sabia que existiam vários — comentou Hüif, o canto do bigode tão torcido que já fazia um cachinho.
— Por Fardos e Uman, meus amigos, estou falando do coelho demônio!
— Qual coelho demônio? — perguntou o mago, alisando o bigode enrolado como que avaliando se precisava de mais alguma torcida. — Diga-me cá, amigo meu, onde encontraste essa espécie, agora?
— Meus amigos, que os leva a troçarem comigo? — indagou Fiorlios. —Como é que vocês podem não conhecer o terrível, assustador, temível e assombroso, o abominável e execrável Hugo?
— Pergunto-me como tu o conheces, meu amigo— disse Gomalderem. — Coelho demônio, como é isso?
— Sim, caríssimo Gomo, é um coelho terrível — disse o druida, feliz por finalmente ter uma chance de explicar aquilo tudo. — Não se sabe muito sobre ele. Dizem que foi transformado em algo pavoroso nalgum tipo de acidente mágico, coisa assim. A besta mais assustadora e demoníaca de todas as terras! É claro, não tenho muitas informações, e é por isso que preciso de mais dados para o meu excelente bestiário que ando a compilar...
— Estás interessado nesse tal diabinho por causa de teu bestiário? — indagou Hüif. — Parece-me justo. Interesses dessa espécie são louváveis, caríssimo Fiorlios. A sabedoria é acima de tudo.
— E este livro, meus amigos, que encontrei numa aventura pelos pântanos venoreanos, foi escrito por alguém que planejava usar uma mistura de poções para fazer-se invulnerável ao hálito mortífero do esconjurado — explicou-lhes Fiorlios.
— Sequer deve existir esse tal coelho, meu estimado amigo — disse Gomalderem.
— Perguntemos, pois, a Pathríbm — sugeriu Fiorlios, sorrindo; pelo jeito, já tinha aquele plano em mente desde que chegara no casebre.
— Oh, não, não àquele velho maluco! — disse Gomalderem, repentinamente preocupado, passando os dedos gordos pelo rosto. — Cada vez que inventas de ir até a cabana daquele homem, meu caro Fiorlios, eriçam-me os pelos da nuca.
— Eu também não me sinto muito empolgado com a ideia, querido Gomo, amigo meu — disse o druida, mas seu semblante mostrava o contrário. — Mas sabes tu melhor do que qualquer um de nós aqui presentes, que aquele velho Pathríbm é o mais sabido conhecedor de bestas dessas terras. Por certo ele sabe algo sobre o infando Hugo, e seu conhecimento nos iluminará.
Hüif e Gomalderem ainda não se sentiam nem um pouco inclinados a visitar o velho Pathríbm, que sempre falava de coisas esquisitas, mas Fiorlios falou-lhes tanto do tal Hugo que, no fim das contas, eles também ficaram muito curiosos.
Pouco depois, puseram-se a caminhar até a cabana do velho conhecedor de bestas. O homem vivia numa cabaninha ainda mais velha que o esconderijo de Hüif, Fiorlios e Gomalderem, ao norte de Venore, entre várias árvores.
Ao chegarem lá, precisaram bater na porta oito vezes até que Pathríbm viesse atender.
— Qual tolo bate à minha porta com tamanha irritante insistência? — indagou o velho, visivelmente desgostoso com a visita. Ao bater os olhos em Fiorlios, todavia, abriu um sorriso que mostrava todos os seus cinco dentes. — Ora, é Fiorlios e seus companheiros!
— Vim fazer-lhe uma pergunta, ó caríssimo e estimado Pathríbm, senhor dos bestiários, esperando que a possas responder-me.
O velho gostava muito de quando tinha uma oportunidade de mostrar que entendia de toda sorte de criaturas estranhas. Convidou-os a entrar e sentarem-se nas velhas e empoeiradas cadeiras, preparado para dar-lhes uma aula completa sobre fosse o que fosse que Fiorlios queria perguntar.
— Sábio que és, ó Pathríbm, certamente saberás me dar a resposta que procuro — disse Fiorlios —, e poderás falar-me sobre o temível e nefasto Hugo.
— Oh, sim, um monge admirável... — começou o velho, ao que Fiorlios o interrompeu.
— Ó Pathríbm, não é a tal monge que refiro-me ao dirigir-te a pergunta minha, que apesar de humilíssimo e, de fato, admirável, não é o responsável por aguçar minha curiosidade. Quero saber sobre Hugo, o coelho!
O velho não respondeu imediatamente, mas arregalou os olhos verdes e ficou boquiaberto, mostrando o mais torto de seus cinco dentes.
— De onde surgiu uma curiosidade destas, meu caro Fiorlios, pupilo meu? — indagou o velho, nitidamente surpreso. — Terrível é tua pergunta, e sei bem que tu também bem sabes disso que acabo de dizer-te.
— Sei-o, meu sábio e bom Pathríbm — disse Fiorlios, enquanto seus companheiros apenas acompanhavam o diálogo. — Mas tal conhecimento é indispensável para a compilação do meu excelente bestiário. Não tenho dúvidas de que, conhecendo a importância de tal, me transmitirás o conhecimento sobre esta fera, a respeito da qual te perguntei.
— Conheço e compreendo como é para ti importantíssimo e muito necessário que compiles teu tão desejado excelente bestiário. Falarei-te, então, ó Fiorlios, dalgumas coisas que sei. Dizem pois, ó caro pupilo meu, que este odioso Hugo estava preso, longe daqui — explicou, por fim, o velho. — Os misteriosos Nightmare Knights, que ninguém sabe direito o que faziam ou para que faziam, dizem as lendas, foram os que capturaram o aberrante Hugo.
— Ah! Está então tal besta terrificante presa e distante — disse Hüif, aliviado. — Melhor. Assim, respiro aliviado. Mas temo, ó caro Fiorlios, que o bestiário teu ficará com uma entrada a faltar.
— Quem diz, ó mago? — perguntou o velho, surpreendendo a todos. — Dizem, é verdade, que Hugo está sabe-se lá onde. Mas eu creio que tal fera é mais astuta do que pensaram muitos, e livre está novamente para espalhar seu reinado de terror...
— Livre? — indagou Hüif, torcendo o outro canto do bigode compulsivamente. — Como pode tal ser verdade?
— O pouco que se sabe sobre Hugo é o que foi escrito a seu respeito em livros, é verdade — disse o velho, andando em volta da mesa; cada vez que passava atrás de Gomalderem, o cavaleiro sentia um arrepio, pois o velho usava uma perna de pau que emitia desagradável som cada vez que ele manqueava. — Mas, já que me perguntastes sobre tal assunto assustador, lhes contarei a verdade, que há algum tempo, descobri, e para mim mesmo apenas guardei, e de todos, todos mesmo, omiti; Hugo está logo ali.
— Ali onde? — perguntou Gomalderem, sentindo um arrepio com aquela rima bizarra do velho enquanto olhava por cima do ombro. — Onde, ó velho?
— Mais ao norte, meu caro cavaleiro. Numa caverninha escondida, pequena e escura, que muitos já viram, mas poucos deram importância. Sim, e todo aquele que passa perto demais dela, não é poupado.
— “Não é poupado”, tu dizes, ó mestre dos bestiários? — indagou Hüif, curioso. — Pergunto-me o que queres tu dizer com tais palavras!
— Como pensam que Ladurin, o pobre Ladurin, perdeu o nariz e o olho esquerdo? — indagou o velho, e deu uma risadinha aguda sinistra.
— Falas de Ladurin, o Mira-Certa, que pereceu misteriosamente aos campos mais ali ao norte? — indagou Gomalderem. — É verdade que encontrado foi sem olho e com o nariz faltando, mas insinuas tu, ó velho dos bestiários, que Hugo é o responsável por tal barbaria?
— Não foi outro, ó louvável cavaleiro, se não o execrável animal — confirmou o velho. — Tal foi o destino também de Istálend, o que tirava o couro de lobos e coelhos e coureava como ninguém. Confundiu com uma lebre qualquer o nefasto Hugo, que em vez de se deixar courear, foi quem coureou.
— Encontrado foi sem as orelhas e sem a mão esquerda — disse Hüif, assustado. — É verdade, ó Pathríbm, mas que devemos compreender disso tudo? Que a referida sanguinária besta está a colecionar pedaços de viajantes?
— Porventura almejará montar um ser aberrante com as partes furtadas? — disse Gomalderem, assustado.
— Foi assim, meus amigos, asseguro-lhes e digo-lhes com toda verdade, e sinceramente, que perdi esta minha perna.
O velho levantou um pouco a calça, apenas o suficiente para mostrá-los a perna de pau que usava.
— Fui um dos poucos, quiçá o único, que saiu com vida das garras da fera nefanda — disse o velho.
— Então ele é real! — disse Fiorlios, feliz. — Tu mesmo o encontraste, ó sábio Pathríbm!
Assim, Fiorlios questionou Pathríbm acerca de várias coisas e todos os detalhes, tirando o máximo de informações possível dos lábios do velho.
Quando julgou saber o suficiente, saiu da choupana do velho direto para a localização que, segundo o mestre dos bestiários, vivia Hugo.
Ao chegarem lá, levados pela curiosidade que invariavelmente conduz à ruína, viram que se tratava de uma caverna pequenina, mas assustadoramente escura. Não se podia enxergar nada lá dentro.
— Pergunto-me, ó caro Fiorlios, que devemos fazer para que a besta abominável apareça — disse Hüif, enquanto puxava o cachinho que fizera mais cedo no bigode.
Tentaram colocar uma maçã logo diante da caverna, para ver se conseguiam atrair para fora o tal coelho demoníaco. Ao verem que não houve sucesso, experimentaram com alguns farelos de pão, e depois, com um punhadinho de gramas. Por último, tentaram usar como isca um pedaço de carne fresca de lobo, mas nada daquilo parecia apetecer Hugo o suficiente para trazê-lo para fora de seu covil.
— Aquele velho dos bestiários deve ter se enganado — disse Gomalderem, já impaciente. — Ou inventou que tal coelho vivia nesse buraco vazio.
— O sábio Pathríbm não se enganaria sobre uma fera, ó meu amigo — disse Fiorlios. — Que dizer de sua perna, devorada pela besta? Ou do olho de Ladurin, pobre Ladurin?
— A sanguinária fera recusa até mesmo carne fresca — disse o cavaleiro, apontando para o filé de lobo que ele mesmo colocara sobre o chumaço de grama. — Ou não lhe apetece carne como dizem por aí, ou está sem apetite hoje.
— Então, já que não resta-nos outra maneira de verificar a verdade, façamos um teste — disse Fiorlios. — Tira a espada tua da bainha e mete-a nessa toca. Sim, com a lâmina. Assim, descobriremos se há algo nessa caverninha, ou se é, de fato, inabitada.
— Excelente ideia, estimado amigo — disse Hüif, agora fazendo um cachinho na barba.
Gomalderem desembainhou sua lustrosa espada e, sem pestanejar, penetrou-a na toca. Não houve som algum, exceto o do ferro entrando na terra. Retirou a lâmina e desferiu ainda várias estocadas na toca, e eis que nada se passou.
— Nada acontece, meu caro Fiorlios — disse Gomalderem. — Não vive coisa alguma nesse buraco detestável. Pathríbm deve ter-se enganado, ou está a variar das ideias.
— Não é possível, meu caro Gomo! — disse o druida, decepcionado.
Ajoelhou-se bem diante da toca, espiou lá dentro, mas era escuro demais para ver qualquer coisa. Tudo estava em completo silêncio, e o mago começou a acreditar que, de fato, Pathríbm devia ter-se enganado.
Como que para confirmar sua decepção, meteu a mão dentro da toca e a revolveu, procurando alguma coisa.
Então, tombou para trás e pôs-se a rolar na grama entre brados de dor; sua mão se fora.
Eis que seus companheiros prontamente o carregaram para longe dali, correndo o mais rápido que suas pernas permitiam. Não voltaram ali nunca mais, e Fiorlios com muito gosto resolveu esquecer a entrada de Hugo em seu bestiário, o qual precisou escrever com a mão esquerda; ainda bem que era canhoto.
Disputa B
Flashbek x Zuriel x Matheus Bernardino
Tema: O romance de Eleonore e Raymond Striker
Spoiler: TextoAmor à Sangue e Chamas
Completar-se-ão cinco anos. Pode parecer pouco aos olhos de um sábio ancião, entretanto pode representar uma eternidade na visão de um jovem aventureiro. Há aproximados cinco anos tive a honra de testemunhar a ascenção de um dos maiores piratas que já passou por Tibia, ascenção essa que se deu através muitos conflitos, os quais culminaram até mesmo em grandes batalhas navais. Dificil imaginar que em meio a tamanha agitação poder-se-ia amadurecer um sentimento tão doce, pleno e incrivelmente forte no coração daquele pirata.
Era uma tarde de sol, quando um jovem e prodígio mago de Thais era incumbido da nobre missão de proteger a filha do governador de Liberty Bay. Imensa era a importância política de Percy Silverhand, uma vez que este era o representante do rei Tibianus nas Ilhas Quebradas, dessa forma era essencial que sua filha viajasse com total segurança da capital em Thais para a o centro da colônia em Liberty Bay. Sendo assim, tomei meu lugar na embarcação, foi então que avistei a jovem Eleonore Silverhand pela primeira vez. Seus negros cabelos ao vento e sua pele branca ao sol denotavam uma beleza extraordinária e incontestável, porém ao mesmo tempo um semblante vazio e triste. A viagem da capital até a colônia deveria demorar apenas algumas semanas, contudo calmarias atrasaram o deslocamento. Nesse tempo me aproximei muito de Eleonore, sua grande semelhança física com minha falecida irmã despertava em mim uma necessidade enorme de protegê-la, tal necessidade quase me matara.
Certa noite, encontrava-me no convés contemplando o açoitar do agitado mar do sul em uma cadeia de montanhas que se fechavam ao longe no que parecia ser uma ilha, quando uma voz suave resgatou-me do meu transe:
— É linda, não acha? A ilha de Meriana. Dizem que há sereias lá.
— Nunca vi nada igual, princesa. Quanto às sereias, seres dotados de uma grande beleza física, porém traiçoeiros. — A presença de Eleonore ainda me deixava um tanto quanto sem jeito.
— És engraçado, mago! Acho que és meu único amigo. — Eleonore rira de uma forma muito sincera. Aquilo me deixava pleno, porém tal plenitude estava prestes a acabar. O mar daquela noite estava muito agitado, o navio subia e descia pelas ondas como uma serpente que se esgueira por entre um terreno acidentado. A tripulação descansava e Eleonore voltava aos seus aposentos, quando um baque estrondoso ressoou no navio alertando os marinheiros, ele havia se chocado com algo. Porém nada era visível nos primeiros minutos, até que um enorme vortex se revelara à frente do navio e com ele algo que parecia uma besta marinha. Abracei Eleonore, banhando-a com energia espiritual. A tripulação estava em pânico e antes que o primeiro canhão pudesse ser disparado, a besta desferiu um golpe certeiro contra a proa da embarcação, depois mais três golpes, o terceiro visava a princesa. Protegi Eleonore com meu corpo e em uma velocidade impressionante, gritei:
— EXEVO GRAN VIS LUX! — Um feixe de relâmpago azul cortou o convés atingindo a criatura em cheio, porém não foi o suficiente para destruí-la, ela atacaria novamente e com raiva. — Princesa, o barco está perdido, venha comigo! — Agarrei Eleonore, vestindo-a com um Elmo das Profundezas e usei a energia que meu corpo ferido permitia para lançar-nos no mar a uma distância segura da besta. O navio foi destruido e a frota desapareceu na névoa, segurei Eleonore como se estivesse segurando minha própria alma em minhas mãos e direcionei minha mente para manter-nos vivos.
Passou-se algum tempo, talvez horas, mas a concentração para segurar Eleonore em um braço e ao mesmo tempo converter energia espiritual em térmica não cessara, por outro lado eu já estava quase sem forças e não gostaria de pensar no que aconteceria se aquele navio negro não aparecesse em meio à névoa. Apesar de que um navio negro, com velas negras e uma bandeira negra não deveria significar um bom presságio, Eleonore morreria se eu não chamasse atenção dos marinheiros, portanto concentrei o resto da minha energia no cajado e disparei uma bola de fogo para cima, porém, desmaiei. Quando acordei, estava reecostado no convés do navio negro, ajoelhada ao meu lado estava Eleonore e ao nosso redor havia em torno de vinte homens, todos armados com espadas e com rostos que pareciam transbordar a maldade.
— Deixem o garotão comigo! — Apressou-se um deles.
— Não, eu vou esfolá-lo! — Bradou um outro. E assim instalava-se uma confusão entre os marujos para decidir quem iria me matar, essa só seria cessada ao som de uma forte voz.
— Ora, ora, ora. O que temos aqui? Quem ousa vir a bordo do Caçador Negro? — Este parecia ser o capitão do navio, era alto e imponente, sua voz ecoava no convés e a sua presença intimidava até mesmo o mais forte dos marujos. Seu chapéu era da cor do navio e sua jaqueta era laranja como lava. Eu me erguia à medida que ele se aproximava, a fim de tentar esconder a presença de Eleonore. De repente ele parou:
— Diga-me de onde vens e talvez eu poupe sua vida! — Eu ouvira muitas histórias de piratas, porém não me recordava de ter ouvido algo à respeito da piedade deles. — Acho que irei alimentar os tubarões... — O capitão continuava, quando, antes que eu pudesse soltar uma palavra, Eleonore se projetou na minha frente, gritando:
— NÃO TOQUE NELE! — Ela, que estava de olhos fechados, os abrira e estes encontraram os olhos do capitão. Nessa hora pude sentir uma energia que jamais havia sentido antes. O semblante dos dois fora completamente mudado, eu podia enxergar tons rubros nas maçãs do rosto de Eleonore e, em sua frente, vislumbrava um capitão sem palavras, como se houvesse sido hipnotizado.
— Voltem aos seus postos, ratos imundos! Icem as velas! Não vamos ficar aqui para sempre, ou será que vamos!? — Ordenou o capitão. — A garota está sob a minha proteção, ninguem encostará em você, princesa, nem em seu amigo!
— Nem que eles quisessem conseguiriam, ele é um mago, meu senhor. — Respondeu Eleonore delicadamente. Os olhos do capitão brilharam como os olhos de uma criança ao receber o presente que sempre sonhara.
— Um mago!? Vejam, homens, temos um mago entre nós! — Ao que parecia, o capitão tinha um sonho antigo de conhecer um mago e aprender com ele, que ironia. — Seja bem vinda ao Caçador Negro, minha senhora, sou o capitão Raymond Striker, aos seus serviços. — A maneira, pela qual Raymond observava Eleonore era tão intensa que poderia ser comparada com a maneira com que Fardos admirava Tibiasula, antes do tempo, antes de tudo.
— Obrigada, meu senhor, sou Eleonore Silverhand. Este é meu irmão, Matth Elthrord. — Senti-me honrado com o título e ao mesmo tempo feliz pela maneira como o rosto de Eleonore cintilava sob as estrelas (esplendor completamente diferente daquele que eu vira em Thais), especialmente quando seus olhos encontravam os de Raymond.
Acolhidos pelo Caçador Negro, Raymond Striker prometeu levar-nos em segurança até Liberty Bay, utilizando-se das montanhas à leste da cidade como cobertura. Com o passar dos dias ganhei a amizade do capitão que era um admirador incondicional dos magos. Os marujos observavam estarrecidos as magias que eu desferia no ar enquanto treinava no convés, muitos tentavam obter ensinamentos. Nesse intervalo de tempo, Eleonore e Raymond não só se aproximaram muito, como se apaixonaram. Na noite do oitavo dia de viagem a bordo do navio negro, pôde-se avistar Liberty Bay, entretanto muita coisa mudara nesses oito dias, inclusive os nossos destinos:
— Não, não posso! — Sussurrou Eleonore. — Não conseguirei deixá-lo, meu capitão.
— Então não o faça! — Respondeu Striker com um brilho no olhar. — Fique comigo. Ele a abraçou e os dois se beijaram naquela fria noite, sob a luz do luar, ao som do agradável barulho das ondas no casco e banhados pela bênção da deusa Bastesh, a Soberana dos Mares. O Caçador Negro não voltaria à baia de Liberty Bay.
Disputa C
Pell x Secret Facts x AthilyaAbnara
Tema: Rashid, o comerciante viajante
Spoiler: TextoRashid, o comerciante viajante
O ar gélido da noite impossibilitava-me de sentir minhas mãos. Quando saí de casa, foi como se um soco tivesse atingido o meu tórax. Segui para o sul e entrei na taverna. Sentei na mesa mais próxima do balcão, ainda conseguindo sentir um pouco do calor do pequeno fogão. No meio do salão, uma figura caminhava de um lado para o outro. De vez em quando alguns homens iam ao seu encontro, e após alguns segundos, retiravam-se. Era Rashid, um nômade dos negócios. Ele visita a cidade uma vez por semana, para negociar com vendedores de confiança.
Dankwart, o dono da taverna, aproximou-se de mim. Pedi dois copos de hidromel quente. Bebi lentamente o hidromel, usurfruindo também do calor do copo para aquecer minhas mãos, então Rashid caminhou em minha direção e sentou-se ao meu lado.
— Como vão os negócios hoje, companheiro? — Perguntei-lhe gentilmente enquanto oferecia-o o outro copo cheio de hidromel. Ele pegou-o e tomou um grande gole.
— Ah, como sempre. — Respondeu-me. — Cada dia novos vendedores, novas mercadorias, novas histórias. — Ele soltou um suspiro e bebeu mais um gole. —
— Falando nisso, que tal me contar aquela história que prometeu-me?
Desde que ganhei sua confiança, fiz o possível para ser seu amigo, pois amizade difícil é amizade boa. Quando consegui seu respeito, percebi que ganhei muito mais do que isso. Nunca me arrependi.
— Sobre o que quer saber? — Perguntou-me, e acabou com seu hidromel. — Dank, mais dois copos por favor, por minha conta. — Terminei meu copo e entreguei-o a Dankwart, enquanto ele nos dava outros dois.
— Sobre como, quais e o por quê de ter escolhido certas cidades para comprar mercadorias.
— Muito bem. — Disse, depositando o copo na mesa. — Eu costumava viajar com um grande amigo meu, Baelfire, antes de adentrar no mundo dos negócios. Nos aventurávamos por todo o mundo, fazíamos muitos amigos e enriquecíamos fazendo favores para a realeza. Mas um dia, durante uma batalha contra os Dragões de Zao, Bae foi morto por um dos Dragões, junto com tantos outros guerreiros. Eu fui um dos sobreviventes, um dos que trouxe a vitória e a tristeza.
— Eu lamento. — Bebi um pouco do hidromel. Dankwart sentou-se conosco para ouvir a história também.
— Enfim, para cada cidade há uma história. Vai ser uma longa história. — Ele também terminou seu copo e entregou-o a Dank, junto de um saquinho de moedas de platina. Embora quente e estimulante, o hidromel era um pouco caro aqui.
— Temos uma noite fria e uma taverna cheia de hidromel quente, ouvi-la será um grande prazer. — Enquanto a taverna estivesse quente, não havia problema algum...
— Comecemos então por Svargrond. — Ele fechou a janela ao lado de nossa mesa e suspirou. — Estávamos no fundo da montanha, explorando os túneis desconhecidos. Quando chegamos a um certo ponto, encontramos as famosas Minas de Formorgar. Ouso dizer que fomos as primeiras pessoas a ir em tal profundidade nas montanhas. Durante essa pequena expedição, encontramos diversas criaturas. Desde seguidores do Culto até horrendos Demônios. Retornamos com vida, e pelo o que ouço, são poucos que conseguem. Há boatos dizendo que aqueles seguidores do Culto estavam fazendo mais do que viver lá. Desde então, Svargrond tem estado mais alerta. Ambos recebemos um prêmio, uma cabeça de Veado empalhada. Muito rara, mesmo nos dias atuais. Então, quando alguns interessados querem negociar comigo, sempre peço uma dessas quando estou aqui, para provar se conseguem ou não obter objetos raros.
— Muito interessante. — Comentou Dankwart. — Ouvi muitos falarem sobre esses dois que encontraram as Minas de Formorgar, mas nunca imaginei que eram Rashid e Baelfire.
— Como eu disse, não sou de conversar muito. Então aproveitem bem! — Respondeu ele, com um sorriso em sua face. Conti uma leve risada.
— E agora, qual a próxima cidade? — Perguntei, aquecendo as mãos. Quase conseguia senti-las novamente.
— Vejamos... Ah sim! Baía da Liberdade. Estávamos de passagem, descansando um pouco no albergue antes de partirmos, quando um homem entrou na estalagem. Ele anunciou que em algumas horas começaria um campeonato, no qual o governador Percy Silverhand presentearia o vencedor com moedas de cristal. Tratava-se de uma série de combates, testando a força e habilidade dos competidores. Eu e Baelfire nos animamos com isso, pois adorávamos quando algo novo aparecia para quebrar a monotonia, então nos inscrevemos. Não era nada como uma luta bruta até a morte, eram disputas para realmente nos testar.
Dankwart foi atender um homem que entrou na taverna, e Rashid continuou a contar-me a história.
— Pois bem... Tivemos de lutar separadamente, e até que foi divertido. Não participava de um campeonato assim desde criança. Eu e Bae seguimos ganhando até a luta final, onde nos enfrentamos. Nunca tínhamos nos enfrentado desde que nos conhecemos, mas cada um conhecia os pontos fortes e fracos do outro. A luta durou alguns minutos, pois nenhum de nós pretendia ferir um ao outro, então nos limitamos a pequenos golpes. Por fim, acabei por vencer a luta, e recebendo o prêmio do próprio governador. Dividimos o dinheiro entre nós dois e retomamos nosso rumo.
— Que emocionante. Eu soube desse campeonato, mas como uma história para dormir contada pelo meu pai. Quer dizer que eram vocês dois também? — Espantoso como nunca ouvi falar das conquistas dessa dupla.
O sujeito foi embora e Dankwart sentou-se novamente conosco. Pedi por um prato de carne e um chá quente, chega de hidromel por hoje.
— Então, quando você pede para que busquem aquele pacote para você, é para que você teste a força da pessoa? — Perguntei a Rashid.
— Exatamente. — Dankwart retornou com a carne e o chá em mãos, paguei-lhe com seis moedas de platina. Dei a mais porque já passava da hora em que ele fechava a taverna.
— Muito bem, prossiga por favor. — Pedi-lhe.
— Bom, a proxima cidade é Porto Esperança. Estavamos tendo dificuldades na mata de Tiquanda, até caímos em uma armadilha de Dworcs. Só assim achamos então a maldita caverna dessas pequenas criaturas. Fomos até lá a pedido de Angus, um amigo meu que é representante da Sociedade dos Exploradores. Não era nenhuma missão importante ou algo assim, ele só estava curioso sobre essa espécie. Pediu-nos para conseguir algum objeto que fosse de seu interesse. Sua comida, suas armas, algo assim. Enfrentamos alguns Dworcs sem dificuldades, elas não eram fortes, porém inteligentes. Não estávamos ali para nos aventurar, então pegamos algumas armas e utensílios que julgamos ser interessantes, inclusive comida. Baelfire guardou as armas, eu guardei a comida e os outros objetos. Quando já estávamos chegando em Porto Esperança, percebemos que algo não estava cheirando bem, literalmente. O fedor vinha de dentro de minha mochila. Não sei o que me veio à cabeça para abri-la, aquilo podia ter matado meia floresta. O cheiro vinha daqueles malditos pedaços de queijo que peguei junto a comida. Fechei-a e nos apressamos a entregar nossas mochilas à Angus. Ele nos presenteou com um saquinho de moedas de cristal, nos despedimos rapidamente e saimos correndo daquele local. Não sei e não quero saber o que aconteceu depois com Angus e com aquele queijo. Só sei que limito-me ao pequeno bar perto do barco, Angus pode estar com raiva.
— Então você força essas pessoas a aguentar o cheiro daquela porcaria de queijo, desde a loja de Miraia até o bar de Porto Esperança por causa disso?
— Sim. A velha amiga Miraia tem prazer em me ajudar com esses queijos. Mas eu sempre enterro-os, longe da cidade obviamente. — Respondeu Rashid, sorrindo. Eu e Dank começamos a rir. Ainda bem que peguei um pequeno atalho nessa tarefa...
— Acho que eu faria o mesmo... — Disse Dankwart. — Qual a próxima história? Espero que não seja nada sobre comida podre, isso trás um pensamento ruim para minha taverna.
— Não, embora ela seja na cidade dos Elfos, não é sobre comida. Eu fui visitar um velho amigo meu, que uma vez me salvou de uma alcatéia, perto da entrada da cidade. Seu nome era Briasol. Baelfire também foi, porque adorava a cidade élfica. Ele ficou admirando a cidade enquanto fui atrás de Briasol.
— Para quem lutou contra Dragões, alguns lobos deveriam ser fáceis não? — Indagou Dank.
— Ehrm... Fui pego de surpresa. Aliás, eu tinha só treze anos. — Respondeu-o.
— E o que você fazia em Ab'Dendriel com treze anos? — Perguntei para Rashid, desconfiado.
— Ora, isso não importa, não importa! Quer a história ou não quer? Pois bem... Fui visitá-lo, e ele ficou feliz com a surpresa. Depois de muito conversar, percebi que ele estava olhando demasiadamente para uma Elfa, muito bonita por sinal. Incentivei-o a ir até ela, mas ele era tímido, desde que o conheci ele era assim. Briasol descobriu que ela gostava de arte, principalmente cerâmica. Ele fez um vaso para ela, um vaso infinitas vezes mais bonito do que qualquer outro que eu já vi. Eu sabia exatamente o que fazer. Quando ele saiu para caminhar, como sempre fazia, peguei o vaso e levei até a casa da Elfa. Segui-a por várias horas para descobrir onde ela morava. Deixei-o na entrada da casa dela, junto com um bilhete que escrevi. Retornei para a moradia de Briasol e descansei. No dia seguinte, encontrei ele e sua amada, juntos. Ele me agradece desde então. Quando peço para me trazerem um vaso como aquele, ele fica feliz em ajudar. É bom também para seus negócios.
— De muitas histórias que eu esperava, uma de amor era a última. Mas gostei bastante. — Falei, enquanto entregava meu prato vazio a Dank.
— Eu também, embora esperasse mais ação. — Disse Dankwart, levando o prato para o balcão. — Mas ainda acho muito boa. Mas por que a história se passa em Ab'Dendriel, sendo que nesse dia da semana você fica em outra cidade? Ankrahmun, para ser exato.
— Ora, pois Ankrahmun é meu lar. Através dessa história obti um teste para meus novos negociantes, mas ainda prefiro ficar em Ankrahmun do que em Ab'Dendriel. Como eu pedi para que Briasol fizesse vasos frágeis, é muito mais engraçado ver eles quebrando o vaso e tendo que comprar outro do que ficar esperando ali perto. Assim vejo se eles tem cuidado com a mercadoria, não quero comprar coisas destruídas. — Disse Rashid.
— Sim, tive que ser muito cuidadoso com aquele vaso, não queria ver meu dinheiro indo embora por descuido de minha parte. — E como deu trabalho.
— Passemos então a proxima história. Essa é curta. Eu e Baelfire estávamos em Darashia, mais exatamente no deserto. Resolvemos caminhar um pouco por lá para ver se achávamos alguma aventura. Ele tinha acabado de comprar uma espada nova de Uzgod em Kazordoon, a cidade dos anões. Ela era a Espada Carmesim. Avistamos alguns minotauros depois de um tempo, então fomos atrás deles. Mesmo com minha Cimitarra mais afiada do que nunca, a espada de Bae causava mais danos nas criaturas. Ele as matava rapidamente e sem nenhuma dificuldade. Comecei a sentir inveja daquela espada. Foi a primeira vez que senti inveja de algo que pertencia a Baelfire, e também a única.
Eu teria perguntado o por quê de ser tão curto, mas lembrei que Baelfire fora morto por um Dragão, e era um grande amigo de Rashid, então tive de demonstrar respeito.
— Desde então, quando estou em Darashia, peço uma Espada Carmesim. Eu normalmente dou ela para alguma pessoa que acaba de chegar de Rookgaard quando avisto uma, ou então guardo no meu estoque. Ás vezes devolvo a Uzgod, esse é um teste para ver sua habilidade de negociação.
— Gostei bastante. Embora curta, foi bem legal. O modo como você descreveu seu ciúmes pela espada de Bae, achei interessante. Essa foi a história de Darashia, a próxima é a de Edron certo? — Disse Dank.
— Sim sim, ah Edron! Dessa vez Bae não estava comigo, fora para sua cidade natal, Thais. Edron sempre me interessou. As ruas ficaram muito bonitas depois de reformadas, assim como o castelo. Foi nessa cidade que a encontrei. Eu estava indo para a casa de um parente meu, mas minha surpresa foi interrompida por uma moça. Seus cabelos eram negros e seus olhos verdes como a grama. Nós trombamos um com o outro. Ela carregava um aquário nas mãos, com um pequeno peixe dentro. Consegui agarra-lo antes que caísse no chão. Ela agradeceu-me com um beijo, e saiu andando. Eu fui atrás dela, sem que ela notasse. Até que a moça entrou em uma casa. Estava indeciso, mas fui mesmo assim. Bati em sua porta.
Dankwart levantou-se da mesa e foi checar o forno, estava preparando alguma coisa.
— Bati em sua porta. Ela abriu, cumprimentei-a e perguntei seu nome gentilmente. E ela me respondeu com a mesma gentileza: Clara. — Rashid soltou um suspiro depois de pronunciar seu nome.
— Algo errado? — Perguntei-lhe.
— Bem, esse foi o início de tudo. Nós gostávamos um do outro. Um mais que o outro a cada momento. Até que, num dia chuvoso, ela desapareceu. Não deixou nenhum vestígio, somente aquele aquário com o pequeno peixe dourado. Eu sabia que ela foi forçada a isso, só não sabia o que ou quem a forçou. Fui atrás dela, mas nunca mais encontrei-a. Desde então, quando vou à Edron, peço um aquário com o mesmo tipo de peixe. Embora seja triste, esse tipo de lembrança nem sempre vem para nos deixar infelizes.
— E o que você faz com os peixes? — Indaguei.
— Eu solto praticamente todos no mar. Alguns dos objetos que peço para os novos vendedores com os quais negociarei, eu dou para amigos que faço durante esses testes, como você. — Fiquei um pouco sem graça. Até hoje cuido do peixe que peguei no lar das Quaras, Calassa. Venho pensando em soltá-lo. — Desde que Baelfire faleceu, tenho usado o dinheiro que adquiri em nossas viagens para comerciar armas, escudos, armaduras, e tudo o mais. Nunca liguei para o dinheiro. Alguns objetos eu revendo para companheiros de negócios, outros mais raros eu guardo para mim. Desde então, não viajei mais, o que me impossibilitou de obter raridades. Sendo assim, compro-as.
— Muito bem, quem quer um pouco de presunto? — Disse Dankwart, vindo em nossa direção com dois pratos com pedaços de presunto que acabaram de sair do forno.
— Ah, já está tarde. Mas acho que vou levar alguns para casa. — Disse eu.
— Bem, leve o prato então. E você, Rashid?
— Não, obrigado. Devo ir também. Amanhã é um novo dia, como sempre falo. Tenho que arrumar minhas coisas e pegar o barco para a Baía da Liberdade, lembram?
— Ah sim. Bem, já estou ficando com sono. Obrigado pela comida, Dank. E obrigado pela história, Rashid. Vejo você semana que vem. — Despedi-me dos dois e fui para casa. O ar estava tão frio quanto antes. Saí da taverna e segui para o norte, dessa vez correndo. Abri e fechei a porta de casa rapidamente. Tirei o presunto da sacola que Dankwart me forneceu e deixei em cima da mesa. Subi as escadas e deitei em minha cama, tentando me aquecer antes de dormir.
Então, foi assim que Rashid tornou-se um comerciante... Quem diria. Gostei bastante dessa história, me mostrou que uma pessoa pode ser muito mais do que aparenta. Como falei antes, nunca me arrependi de tê-lo como amigo.
Boa sorte a todos, e que o melhor texto vença!
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