Sim, sim, éé. Também acho que não devemos nos policiar pra escrever só coisas boas, e sim sair escrevendo o que dá na telha. E na verdade eu até gosto de Bukowski, só impliquei um pouquinho naquele seu conto (Cachorro Louco), hahaha.
Agradeço às demais críticas.
Agora; um contozin ae, espero que gostem.
Dois Rios
É bom começar uma história com uma pergunta que estimule a reflexão do ouvinte, leitor, ou quem quer que seja. Porque afinal, quem se dispõe a acompanhar uma história de maneira espontânea está em busca dessa reflexão, mesmo que não saiba. Com o texto escrito mais ainda. O próprio escritor precisou refletir para que suas palavras aparecessem no papel, e o seu objetivo é transmitir isso ao leitor, que naturalmente está aberto para que isso aconteça.
Então eu vos faço a derradeira pergunta: o que é amor?
Ela era a mulher mais estonteante e perigosa que toda a longínqua cidade de Dois Rios já havia visto. A cidade não era lá muito grande, tá certo. Na verdade só possuía duas ruas, cortadas por outras duas, e pronto. E não podemos esquecer dos dois rios, claro, cada um d’um lado da cidade. Era uma roça que ficava em algum lugar entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais e sequer constava no mapa, com pouco mais de duzentos habitantes. Nunca recebeu turistas ou qualquer tipo de “gente de fora”, visto que era impossível chegar lá de carro, e o caminho, conhecido apenas pelos moradores, era um verdadeiro labirinto.
Nunca.
Nunca até aquele dia, em que a tal dona chegou lá e parou a cidade.
No início era apenas uma jovem desamparada, cheia de barro da cabeça aos pés, montada em um cavalo branco e também todo cheio de barro. Caíram na correnteza em algum lugar de um dos rios e foram parar lá, era a teoria mais plausível. Mas ninguém nunca confirmou nada, e a moça nunca abriu o bico também. Desde o início era toda envolta por mistérios, o que começou a despertar a atenção da cidade (e também a excitar o imaginário masculino dos que ali viviam).
Foi logo acolhida pelos Siqueira, uma família tradicional da região, mas que atualmente era composta apenas pelo casal precursor daquilo tudo, dois velhinhos simpáticos com uns sessenta anos cada um. Seus filhos e netos haviam sofrido um acidente terrível, e ninguém nunca mais ousou entrar na casa deles, que viviam reclusos desde então.
Ninguém.
Ninguém exceto a dona, que foi bem recebida por eles e logo encontrou ali seu novo lar.
Um lar perfeito, diga-se de passagem. Comida e moradia em troca de nada, os Siqueira não faziam nem perguntas, tudo que queriam era uma companhia como aquela, uma moça bonita e direita, cheia de carisma. Estavam preenchendo o vazio deixado por seus filhos, era a teoria mais plausível. E é bem capaz mesmo.
Por onde a moça passava todos olhavam, mas isso não durou muito. Bastou uma volta por Dois Rios montada em seu cavalo com aquele ar intimidador que só ela possuía e ninguém mais ousou olhar, pelo menos não “daquele jeito”. Esse tipo de coisa que só Deus explica.
Ou o Capeta, obviamente. Não tardou e a jovem já recebeu fama de enviada do lá de baixo pelas mulheres, todas invejosas. Mas não é culpa delas. Eu também ficaria.
E as confusões começaram. Três das mais tradicionais famílias da cidade entraram em crise. Nunca antes houve tanto marido sendo despejado de casa. Porque claro, os rapazes de Dois Rios não eram assim tão frouxos. Meia dúzia foi lá bater na porta dos Siqueira flertar com a dona, e voltaram todos com as mãos abanando. A cidade estava um verdadeiro caos.
Até que entra nessa história um novo personagem, o Maurinho. Maurinho, apesar do nome no diminutivo, era o maior cavaleiro que Dois Rios já havia visto. Não havia cavalo nenhum que ele não pudesse montar e domar. E com as donzelas ele ia muito bem, obrigado. Em uma manhã em que a dona foi cavalgar nos arredores da cidade, lá foi ele atrás. Alcançou-a e a acompanhou na cavalgada por um tempo, até que os dois se entreolharam e ela disparou no galope. Aquele era claramente um desafio.
Maurinho e a moça galoparam por quase uma hora, lado a lado. Estavam em uma colina, com mato baixo por todos os lados e o Sol ainda nascendo ao fundo. Podiam ouvir o barulho do rio, que desaguava logo ali na frente, em uma cachoeira. Ao chegar nela, ambos pararam e desceram do cavalo.
- Aquele é o meu lar – disse ela.
- A cachoeira?
Não houve resposta, ao menos não com palavras.
E eu vos pergunto novamente, leitores: O que é amor? Definitivamente, não é o que aconteceu naquela cachoeira, naquela manhã.
E, pela primeira vez desde que a dona chegara lá, Dois Rios finalmente amanheceu calma.
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