Um breve relato da vida de Vicus Ghaladrius Tiharotor II, pelo próprio, datilografado por Karkarien Callipso.
Muitas pessoas passam por estas terras, mas nem todas ficam. Algumas persistem, e ficam o resto de suas vidas por aqui, em busca da verdade. Eu sou uma delas.
<esvazia sua taça de conhaque aromático>
Não sei ao certo desde quando posso considerar minha existência. Já passam muitos invernos que me vejo por aqui, e o tempo nos leva tudo, inclusive a memória. O que eu vou escrever aqui é apenas um breve relato do que me ocorreu em tempos passados.
<serve-se de outra taça de conhaque>
Não sei de muito sobre meus pais, e talvez um dia já tenha sabido mais. O que acontece é que, há muitos anos, deixei-me levar pelo coração e saí de casa para vir residir na ilha. Não me lembro como cheguei aqui partindo do continente, lá fora, mas sei que estava sendo recebido por um monge bondoso quando cheguei. O mesmo monge continua, como eu e outros de meu tipo, perambulando por aí. Espere, devo ter alguma imagem do monge...
Por longos anos, me dediquei a busca pela mítica Espada da Fúria. Nunca sequer cheguei perto, mas não posso dizer que não tentei. Minhas memórias falham em vários pontos de minhas explorações... Muito do que me lembro delas é de acordar novamente no templo, com o mesmo monge a me saudar.
Eu sonhava com a fama, a glória e o poder, e tinha sede do sangue de meus inimigos, e pelos mesmos inimigos nutria um fascínio incontrolável que me impelia a buscar mais e mais fundo nas ruínas de suas civilizações.
<entorna mais um pouco do conhaque>
Nunca fui um homem de grandes amigos... para ser sincero, nunca foi um homem de amigos. Tinha meus companheiros de bebida e luta, mas nunca os amei como deveria se amar um amigo. Até que um dia... até que um dia eu o conheci...
<encolhe-se na poltrona>
Não me recordo de seu nome, nem de sua linhagem, mas me recordo de muitos bons tempos que passamos juntos. Nos conhecemos neste mesmo bar, e Norma...
<chama Norma>
Norma, meu doce, lembra-se dele? Ah, faz tanto tempo, não adianta tentar. Volte lá, volte. Aquele sujeito no canto está me irritando... Aonde estava? Ah, exato. Tudo corria às mil maravilhas. Eu e ele nos dedicávamos a busca pela Espada. Dia e noite, respirávamos mistérios e magia. Mas um dia, quando tudo corria normalmente, o fim chegou. Prefiro não falar sobre isso, mas devo ter alguma lembrança...
Eu nunca fui muito sentimental, mas aqueles tempos eu não posso esquecer... Bom, depois de tudo aquilo, tentei por fim em minha vida...
<bebe o conhaque>
Tentei inúmeras vezes o suicídio... Sim, inúmeras vezes, mas nunca conseguia criar coragem para deixar os animais selvagens darem o golpe fatal. Senti muita falta de meu amigo nos anos seguintes à sua morte. Resolvi, por fim, me isolar das terras de Tibiasula na antiga Torre do Druida, com o mesmo, meu velho companheiro de prosa, Hyacinth. Lá... lá fiquei por mais uns bons cinqüenta invernos, recluso, sem vontade ou inspiração para voltar ao convívio da cidade. Tenho muitas lembranças dessa época...
Tenho uma dívida para com ele... Ah, ele achava engraçado quando eu dizia que iria herdar a casa quando ele morresse. Velho desgraçado, continua vivo. Mas enfim, aqui a minha vida começa a entrar de uns anos para cá... Me lembro muito claramente de uma manhã de verão eu despertar e olhar para oeste, em direção à longínqua cidade, e me deparar com um grande exército de ogros. Malditos ogros, me tiraram da minha meditação com os malditos gritos de guerra. E aquela maldita luta me obrigou a voltar escondido para a cidade. Sempre soube que não devia ter jurado ao monge que iria proteger a cidade a todo custo...
Sabe, hoje em dia minha ajuda não é muito valiosa. Voltei à cidade e luto para me acostumar com o movimento. Mas tenho oferecido meu conhecimento em luta e estratégia aos guerreiros, que mantém a cidade segura. Devo ter alguma memória recente...
<toma o último gole do conhaque>
<boceja>
Ai, ai, devo estar mais velho do que penso... Morrendo de sono, sabe como é... Chega de bebida por hoje. Hyacinth já dizia que eu bebia como um alcoólatra. Aaaaha, ele dizia que se eu continuasse bebendo, era capaz de morrer do fígado antes dele de velhice... Nossa, está tarde... Ah, meu jovem, creio que já é suficiente para seu livro, não é? Vou me recolher, então. Boa noite. <gritando> Amber, meu bem, me ajude a ir para a minha cama. Epa, espere aí... Ah, cale a boca, Seymour, seu resmungão. Quero dormir.
<cai no sono>
Nota do Escritor: a luta pela defesa de RookGaard continua. Vicus, apesar de em longa idade e fora de sua saúde mental plena, serve a todos os guerreiros com conselhos e ensinamentos antigos. Não se sabe desde quanto vêm ajudando os guerreiros, mas por seu serviço é conhecido na ilha como Vicus, o herói.
Relato da vida de Vicus Hero. Ficou meio grande, acho.