Página 4 de 7 PrimeiroPrimeiro ... 23456 ... ÚltimoÚltimo
Resultados 31 a 40 de 69

Tópico: Ferumbras

  1. #31
    Avatar de Kamus re
    Registro
    17-10-2004
    Localização
    Salvador
    Idade
    34
    Posts
    3.642
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Capítulo 4 - Fechar de Estações.



    Ao retomar os sentidos Pepelu logo pôde perceber que estava em um lugar muito diferente de onde havia desmaiado. Viu-se em uma cama quente e confortável, e não mais no chão de mármore fria onde batalhara com Arieswar. Ao levantar a cabeça percebera que em outra cama, próxima a ele, Diogo estava acordado lendo distraidamente um jornal que certamente roubara do Fórum enquanto tomava uma fumegante xícara de café. O arqueiro chamou seu nome com uma voz rouca e seu amigo abriu um largo sorriso ao vê-lo consciente.

    - Ah, finalmente acordou!

    - Onde...onde estamos?

    - Como assim “onde estamos”? Não está reconhecendo a famosa casa número 38? A sua casa?

    Pepelu ainda sentia a cabeça doer muito e não notou de imediato que aquele quarto estreito e com paredes de madeira era o seu cômodo para hóspedes. Estava em casa! Ainda cheio de dúvidas na cabeça sentiu um grande alívio ao ver sua esposa, Kala, abrindo a porta e trazendo uma bandeja cheia de comida.

    - Ah, Cris... – suspirou ela ao ver o marido acordado – você me matou de susto!

    Ela largou a bandeja no criado-mudo ao lado da cama e atirou-se em seus braços. Pepelu e ela trocaram carícias intensamente, enquanto Diogo tentava minimizar sua presença no quarto afundando-se no jornal. A cena de amor, entretanto, foi encerrada abruptamente quando Kala passou a esbofetear o marido.

    - Você só pode ser maluco, Crispin Pepelu! Como que arranjou uma encrenca dessas? E se tivesse morrido? Como eu ficaria? E seu filho?

    Seu acesso de raiva parou por aí. Logo ela começou a chorar e novamente se jogou sobre o marido. Diogo se assustou com a cena e logo começou uma profunda reflexão interior sobre os prós e contras do casamento.

    - Tome! – falou Kala, mais calma, erguendo a bandeja – Coma tudo que você precisa melhorar logo. Deixei seu café lá embaixo que era pra não esfriar, mas vou pegá-lo.

    Pepelu se ajeitou na cama e viu uma fartura de frutas, biscoitos e pães em sua frente. Estava morrendo de fome e encheu a boca com tudo que conseguiu pegar de uma só vez. Foi entre uma mordida e outra que ele perguntou ao capitão Natarde:

    - Diogo, o que aconteceu? Apareceu um homem lá, não foi? Quem era?

    - Verdade. – disse o capitão, deixando o jornal de lado – Hesperides, o druida, apareceu no templo e acabou com a briga. Ouvi-o falando que estava com um pressentimento de que algo naquela manhã sairia errado.

    - E ele nos trouxe para casa?

    - Foi. Primeiro ele perguntou se eu estava bem e pediu para zelar por você. Aí ele resolveu que levaria primeiro Arieswar ao castelo real e depois ficou de nos trazer aqui. Kala quase caiu para trás quando nos viu, mas ele a acalmou, deixou alguns medicamentos em sua mão e disse que se os tomarmos poderemos até mesmo ir à festa hoje de noite.

    A festa. Parecia tão estranho para Pepelu que aquele era o dia de Fechar de Estações pelo qual tanto esperara e ao mesmo tempo fora quando mais se viu perto de morrer. Olhando pela janela viu que o mundo seguia normalmente o seu curso, enquanto ele se recuperava de uma longa batalha secreta com um dos mais respeitados homens da coroa thaiense.

    - Mas lógico que não precisamos ir caso você não queira. – completou o capitão.

    - O que está dizendo? É lógico que vou! Arieswar tem um exército ao seu lado, e se ele quiser me matar não será ficando em casa que eu escaparei.

    Ao falar no cavaleiro, Pepelu ficou a pensar onde ele estaria no momento. Será que já estaria melhor que ele?

    ****

    A enfermaria do castelo estava um alvoroço. Apinhada de feridos e doentes na época de maior movimento da cidade de Thais, os enfermeiros e curandeiros mal conseguiam dar conta do trabalho. A chegada de um Arieswar inteiramente machucado pegou a todos de surpresa.

    - Leve-o à ala especial. - pediu Hesperides - Isso é confidencial.

    Uma velha enfermeira seguiu a orientação e o levou ao local reservado aos mais altos nobres que, como quase sempre, estava vazio. Deitando Arieswar numa maca, ela tirou-lhe a roupa e o colocou numa banheira com água fria, visando diminuir a dor do cavaleiro e contrair seus vasos para evitar uma maior perda de sangue. Ele podia sentir cada músculo do seu corpo reagindo à temperatura, mas não emitia um grunhindo de dor. Sua cabeça estava voltada apenas para o capitão Natarde e Pepelu, e para a sorte que eles tinham tido. Não era normal que dois combatentes de baixo nível tivessem causado tantos problemas a um guerreiro da corte e por um momento ele chegou a nutrir um ódio mortal a Hesperides, que o impedira de matá-los.

    Arieswar ficou por um bom tempo naquele tratamento chamado crioterapia até que Hesperides apareceu.

    - Obrigado pela atenção. – disse o druida à velha – Pode deixar que eu cuido dele agora.

    Mesmo pelo canto do olho Arieswar pode ver um traço de desapontamento no rosto dela. Certamente ele era mais atraente pelado do que seu velho marido. Hesperides o levou até uma das camas da enfermaria e lá o deixou, depois procurou num dos muitos armários do lugar por uma toalha para que ele pudesse se cobrir. Feito isso, passou em suas feridas uma espécie de óleo que retirou de uma garrafinha que carregava no bolso. Por fim, pediu para que bebesse uma poção e passou a examinar quais membros do amigo estavam quebrados.

    - Tem ossos realmente muito fortes.

    Arieswar bebeu todo o medicamento e se reajustou na cama para ficar mais nivelado com o druida.

    - Essa é aquela sua receita especial?

    - Sim. Meimendro negro, ópio, euforbia e sementes de alcaçuz batidas. Vai dormir como um bebê e acordará muito mais disposto.

    - Obrigado, Hesperides. – disse ele, já sentindo as pálpebras pesarem – Mas você devia ter me deixado matá-los.

    - Não diga besteiras. Você se complicaria muito com o Conselho caso assassinasse duas pessoas no templo. Já vai ter muito o que explicar pela bagunça que fez. Sorte que você tem prestígio por aqui.

    - Eu sei. – retrucou ele – Acontece que...

    - Ouça, Arieswar. – e Hesperides passou a falar com a voz cada vez mais baixa, depois encarando-o nos olhos – Nós não estamos mais com Yorik. Quem manda agora é Damaso e um simples movimento descuidado pode fazer com que morram até pessoas de reputação, como eu e você. Tente, portanto, não se meter em confusões.

    Aquele argumento o convencera. Fosse o governo de Yorik I e ele certamente teria toda a cobertura necessária para poder dar um fim naquela dupla que o desafiara, mas no atual reinado ele não tinha tanta segurança. Desde que Damaso, o ditador, assumira como rei, todos os funcionários do antigo governo estavam sob observação constante. Por isso Arieswar, que havia sido questionado pelo próprio Damaso quando Yorik o levou a Thais, precisava manter sua credibilidade, até então indiscutível.

    - Vou providenciar que algum empregado vá arrumar o templo pdeir à alguma enfermeira para assistir Pepelu e o capitão. Vai ser melhor para você que eles não faltem à festa.

    - Obrigado, Hesperides. Não sei como te agradecer.

    - Não estou fazendo nada que você mesmo não faria por mim. Ou mesmo por Acanthurus ou Dragonslayer. Nós, além de Guerreiros da Corte, somos uma equipe. E nesse período sombrio que está por vir não podemos nos dar ao luxo de perder o que temos de mais valioso: a parceria.

    - Período...sombrio? – indagou Arieswar – Do que está falando? É mais um dos seus pressentimentos?

    Mas o druida não respondeu. Apenas olhou fixamente para um ponto qualquer da enfermaria. Hesperides parecia sentir pelo ar quando havia algum distúrbio no espaço. Arieswar, apesar de admirar tal poder, não desejaria uma capacidade dessas para si; às vezes é melhor deixar para o futuro as surpresas que ele nos guarda.


    ****


    À medida que Fafnar e Suon terminavam sua corrida diária pelos céus de Thais, as milhares de pessoas que habitavam ou visitavam a capital iam deixando suas casas, palácios ou pensões. Em pouco tempo as ruas estavam tomadas e a cidade agora parecia pulsar como um organismo vivo.

    Na pequena casa de madeira número 38 da Travessa do Pântano, o ambiente que já fora de tensão agora era finalmente tomado de felicidade. Pepelu e Kala fizeram questão de chamar seus amigos para lá, onde todos se reuniriam para saírem juntos para a festa.

    Para o contentamento do casal anfitrião, todos os convidados apareceram. Primeiro chegaram os irmãos Bürgy e Bulok Durkhein, amigos dos tempos da escola de arqueiros; depois Sara Lionheart, prima de Kala; seguindo-a veio o misterioso Rafos Niegel, que fazia parte de um seleto grupo de colonos que enriquecera na Baía da Liberdade; por último chegou Octavian, amigo de infância de Pepelu, sua mulher e suas três crianças.

    Era com esse último que o incrivelmente recuperado arqueiro agora conversava, comendo alguns quitutes preparados por Kala e tomando uma taça de vinho. Octavian trabalhava no Diário Oficial, o jornal da cidade que, como o nome supõe, submete-se à Coroa. Suas publicações estavam sempre presentes no Fórum e em demais espaços públicos, trazendo fatos diversos, notícias militares, obituários, crônicas esportivas, entre outros assuntos. Para Pepelu Octavian era alguém de tanta confiança quanto o capitão Natarde.

    - Bonito chapéu, Pepelu. – comentou ele – Mas devo admitir que Diogo está mais elegante.

    Kala havia preparado para eles roupas especiais de festa. Diogo, mais extrovertido e brincalhão, vestira um casaco roxo com várias listras coloridas, além de uma espécie de turbante do qual pendiam bolinhas douradas. Parecia um bobo da corte e ainda viam-se alguns dos seus hematomas, mas ainda assim esbanjava de um charme que nem a dureza da vida no mar conseguiu tirar de si. Pepelu, mais discreto, apenas usava um chapéu de plumas vermelhas que até o ajudou a esconder os curativos da cabeça.

    - Vai se danar. – foi a única coisa que conseguiu pensar.

    - Mas...espere aí. Você está com alguns machucados por debaixo dele, não? – falou ele, chegando mais perto, enquanto Pepelu tentava disfarçar – O que foi isso, Pepelu? Por acaso andou brigando escondido com um Guerreiro da Corte no Fórum Thaiense?

    Pepelu arregalou os olhos.

    - Como soube?

    - Ah, foi só uma suposição. Ora, Pepelu, eu trabalho para o Fórum!

    - Será que vou ter problemas por causa disso?

    - Talvez. Menos se a lei for cumprida. Só que não adianta ficar pensando nisso agora. E o bebê? Já decidiu os nomes?

    O arqueiro agora tomou um grande gole do vinho. O nascimento de seu filho era um assunto que o deixava ansioso.

    - Pra falar a verdade, sim. Se for menino será Augusto. Se for menina, Eurídice.

    Octavian então levantou-se e chamou a atenção de todos. Com o copo erguido, proclamou:

    - Brindemos a esse casal maravilhoso que está nos recebendo e a o herdeiro que virá por aí!

    Todos fizeram barulho e celebraram. Logo depois foi a vez de Diogo subir numa pequena mesa e erguer seu copo:

    - Um brinde a bebida! A solução e a causa de todos os nossos problemas!

    A sala caiu na gargalhada. Foi a vez de Pepelu se levantar e convidar todos a irem para a festa.

    - Vamos nessa! – gritava Diogo – Vamos beber até amanhã!

    O grupo saiu da número 38 e juntou-se à multidão nas ruas. Pepelu ficou feliz ao sentir que os medicamentos de Hesperides realmente haviam surtido efeito; tanto ele quanto Diogo, apesar de não estarem completamente recuperados, estavam em ótima forma para a noite. O arqueiro então deu o braço a Kala, ajeitou seu chapéu e começou a cantarolar músicas populares. Mais na frente, o capitão Natharde e Octavian iam juntos mexendo com as pessoas que passavam.

    ****

    De olho naquela cena, numa das sacadas do grandioso castelo real, estava Arieswar. O cavaleiro acabara de pôr sua armadura repleta de condecorações e agora arrumava a capa vermelha que a completaria. Seu corpo já estava menos dolorido e o permitiria, como de costume, aparecer junto ao rei na hora de seu discurso.

    Ao perder de vista o grupo de Pepelu quando este misturou-se demais na multidão, o cavaleiro readentrou na sala em que os outros três Guerreiros da Corte se vestiam.

    - Já posso sentir o cheiro da comida daqui. – comentou Erick Dragonslayer, que era o mais novo entre eles.

    - E o perfume das mulheres? Isso está me enlouquecendo. – disse Corleo Acanthurus.

    Hesperides não se pronunciou. Ele estava em um espelho separado dos demais, arrumando uma espécie de gravata que usaria com a camisa branca e a capa azul turquesa. Arieswar sentia nele certa tensão.

    - O rei falará alguma coisa que não deve? – arriscou Arieswar, falando apenas para que o druida ouvisse.

    - Talvez. Mas o que me preocupa são os vento que vem do Norte.

    - Vamos animar aí, senhoritas? – chamou Acanthurus – Que clima de festa é esse? Eu até entendo a cabeça de Arieswar, mas, e você Hesperides?

    - Estou com algo estranho em mente. Acho que precisarei de uma das moças da Dona Arlinda para melhorar meu ânimo.

    - Nem me fale em Dona Arlinda! – protestou Dragonslayer – Da última vez que fui lá nem desconfio como voltei pra casa.

    Arieswar riu. E fez mais do que isso. Decidiu que dali em diante tiraria de sua cabeça todas as preocupações do mundo, inclusive Pepelu.

    ****

    O arqueiro e seus amigos agora chegavam ao centro da bem decorada praça principal, cheia de bandeirolas, balões e serpentinas a pender das casas próximas. Para isso cruzaram dezenas de barracas que ofereciam as mais diferentes comidas e bebidas de todas as partes do mundo, inclusive as locais. Jogos, apostas, teatro, malabarismo, e diversos outros tipos de entretenimento também eram oferecidos; inclusive aquele destinado aos adultos, como Pepelu pôde notar pela presença de várias prostitutas que seduziam os forasteiros. O capitão Natharde, inclusive, parecia ter sido tentado.

    - Vai apelar para esse tipo de serviço, Diogo? – perguntou-lhe Pepelu enquanto Kala fora chamada para conversar com Sara Lionheart.

    - Estou só brincando um pouco com elas, Pepelu. – respondeu ele, risonho – A enfermeira que Hesperides mandou já tirou um peso das minhas costas.

    - O quê?! Não me diga que...

    Mas Diogo deu-lhe uma piscadela e foi atrás de mais moças para flertar.

    Pepelu e Kala ficaram com os amigos vendo algumas das atrações e estavam a entreterem-se com um grupo de contorcionistas quando puderam notar que a música, as conversas e até os gritos daqueles já bêbados começaram a cessar. Eis que então a figura imponente do rei Tibiano aparece em sua sacada e todas as outras vozes se calam por completo.

    Junto ao rei estava o mais alto escalão da corte e do clero; à sua direita o Pontifex Maximus, o mais alto membro da Igreja; à sua esquerda os Cônsules, que em número de dois, eram os segundos em ordem de importância dos magistrados, embora, na prática, tivessem responsabilidades maiores que as dos seus superiores, os censores. Comandavam o exército, convocavam o Conselho, presidiam os cultos públicos e, em épocas de "calamidade pública", indicavam o ditador, sendo assim, responsáveis diretos pela majestade de Tibiano; fechando a corte, atrás do rei estavam os seus Guerreiros particulares: Hesperides, Arieswar, Acanthurus e Dragonslayer.

    - Está vendo aquele olho ainda meio fechado? – apontou Pepelu para Kala, falando de Arieswar – Foi praticamente meu último suspiro.

    Parecia surreal que fora apenas horas atrás que os dois haviam se enfrentado no Templo de Banor, e agora, embora Arieswar não pudesse identificá-lo em meio a tanta gente, eles estavam de novo muito próximos.

    - Meu querido povo de Thais! – esbravejou o rei – Gostaria de saudar a todos nesse momento especial. Para mim, inclusive, por ser minha primeira festa de Fechar de Estações como rei da mais nobre cidade do mundo!
    "Primeiramente quero agradecer a todos que me ajudaram durante esse período a reger essa terra abençoada por Banor."

    A apenas alguns passos de distância, Arieswar observava o discurso com certo interesse. Sua atenção, contudo, estava mais voltada para o povo. Naquele dia, “bárbaros” e thaienses celebravam sob a regência do mesmo homem. Será que se eles soubessem das prisões e execuções realizadas desde primeiro dia do seu reinado até as últimas, algumas horas antes, aquelas pessoas estariam ali, em paz?

    Voltou a ouvir o discurso. Segundo a tradição o rei citaria os nomes de alguns dos membros mais importantes da nobreza e do Conselho; após isso viria ele. Passado esse momento de expectativa, nada além do protocolo. Ou assim pensava ele.

    - Aproveitando a oportunidade, é perante a todos os cidadãos thaienses e a todos os forasteiros que aqui nos visitam que informar-lhes-ei do grande projeto que arquitetei para a nossa Thais.

    Um burburinho intenso se proliferou, mas que logo foi abafado pela voz do rei:

    - Nossas recentes expedições nos levaram até lugares jamais antes imaginados. Talvez já tenham ouvido boatos das grandes ilhas cobertas de gelo que repousam no norte do mar de Sula.
    “A região, até então tida como inabitável, nos revelou uma grande surpresa. Uma próspera civilização bárbara ali se faz presente e seus habitantes agora já vislumbram o nosso continente.”
    “Eis que os tentáculos da cidade de Carlin entraram no caminho de tal civilização. Já há carlinianos entre os nativos e seus relatos de que ricas minas de ouro oferecem-se a qualquer um que lá desembarque despertou o interesse da governanta da cidade, a rainha Eloíse.”

    Aquilo realmente fizera a multidão explodir. Apesar de haverem muitos forasteiros presentes, pouquíssimos eram carlinianos e, à exceção desses, nenhum certamente conseguia aceitar o fato de que a cidade teria chegado num local tão interessante; principalmente os thaienses, seus eternos rivais.

    - Não podemos esquecer, porém, da ordem que Banor nos dera ao fundar Thais! Devemos espalhar pelo mundo nosso conhecimento, nossa religião e nossa cultura. Nós não podemos falhar com esse compromisso e não haverá força no céu ou na terra que nos impeça de cumprir nosso destino e salvar essas pobres almas da barbárie!
    “Por isso quero informar a todos que em breve alguns dos nossos bravos homens thaienses serão convocados para colonizar o local. Não falhem com seu dever e sua lealdade a Thais! Honrem-na e mesmo quando seus corpos perecerem, seus espíritos serão imortais ao lado de Banor!”

    Do alto daquela sacada Arieswar pôde ver a multidão ovacionar Tibiano. Alguns rostos, talvez carlinianos ou apenas mais sensatos, não expressavam reação; eram, contudo, a minoria.

    ****

    Pepelu e sua mulher agora estavam no coração da festa. Já se havia decorrido um par de horas desde que Tibiano encerrara seu discurso. Perdidos entre tantas barracas de bebidas, comidas e jogos, Kala corria puxando o marido pela mão e mostrando algumas entre tantas coisas interessantes que podia encontrar.

    - Espere um instante, amor. – disse ele – Vou ganhar uma coisinha pra você.

    Pepelu viu um desafio de tiro ao alvo. Ao aproximar-se da barraca o dono o chamou:

    - Venha, venha participar do jogo do arco! Por apenas dez moedas douradas você pode tentar ganhar o prêmio simples, ou, por cinqüenta tentar ganhar esse lindo colar de ametista.

    Ao ver aquela linda pedra violeta Pepelu não teve dúvidas. Entregou-lhe um saco com cinqüenta moedas e pegou o arco.

    - Ah, eu gosto dos grandes apostadores! – deliciou-se o comerciante ao ver o saco repleto de moedas brilhantes – Mas devo avisá-lo que para esse desafio a dificuldade aumenta um pouco.

    O alvo fora retirado do cavalete onde estava posicionado e colocado em outro, atrás de duas grandes pedras quase encostadas, separadas apenas por uma pequena fresta para que a flecha pudesse passar. De onde estava, Pepelu só podia vê-lo de relance.

    - Tenha calma, Pepelu. – pediu Kala.

    Mas o arqueiro estava completamente confiante. Notou que pelo espaço delimitado pelas pedras a flecha nunca passaria, por isso mirou por cima delas de modo que a seta fizesse um arco e atingisse o centro do alvo. Poucos instantes depois, estava feito.

    - Obrigado pelo colar! – acenou ele ao dono da barraca, que observara a cena incrédulo.

    Pepelu e Kala saíram dando sonoras gargalhadas. Ele então parou-a e colocou o colar de ametista.

    - Todas as pedras preciosas do mundo eu daria a você.

    Eles se abraçaram longamente e juntos resolveram sentar-se à beirada de uma das fontes da praça. Namoraram um pouco até que Kala se levantou e anunciou, contente:

    - Ah, preparei uma surpresinha para você. Espere aqui que eu vou pegá-la.
    Pepelu a viu sair correndo, com o colar recém-conquistado a balançar no pescoço, e adentrar novamente naquele mar de gente.

    Solitário, o arqueiro pôs-se a pensar na vida. Logo mais seria pai e estava realmente esperando que o momento chegasse logo. A única coisa que o preocupava no momento eram as consequências da sua batalha com Arieswar, mas se esforçava para pensar positivamente. Inclinou-se um pouco mais para dentro da fonte lá observou seu reflexo na água. Olhava profundamente dentro de seus próprios olhos, admirando o homem no qual havia se tornado, até que algo o chamou a atenção.

    A água dentro da fonte começou a ondular. Pepelu observou-a, curioso, e viu que a cada instante as vibrações aumentavam. Então ele sentiu o chão tremer um pouco e o medo tomou conta de si. O que estaria acontecendo? Um outro reflexo, atrás do seu, revelou-lhe a verdade. A música parou.

    Um demônio; um enorme demônio de cerca de dez metros de altura, vermelho, chifrudo e escamoso estava ali: no meio da festa. Seus olhos amarelos brilharam com intensidade e um sopro de fogo saiu de sua boca cheia de dentes pontiagudos.

    ··Hail the prince of Saiyans··

    Publicidade:


    Jogue Tibia sem mensalidades!
    Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
    https://taleon.online

  2. #32
    Avatar de Emanoel
    Registro
    04-06-2006
    Posts
    6.851
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Oito páginas e meia! E nada cansativo.

    A história está tomando um rumo interessante, mas muitos aspectos ainda não foram definidos. Sinto que pode acontecer qualquer coisa no próximo capítulo.

    Eu gostei do desenrolar, mas achei que alguns diálogos ficaram corridos: emoções, entonações e demais eventos foram suprimidos durante as falas dos personagens. De resto, nem mesmo a constante mudança de focos foi capaz de incomodar.

    A sexta e última parte pareceu ter sido escrita para criar um "gancho" e atiçar a curiosidade do leitor. Não direi que não deu certo, mas ficou bastante estranho, pois o final do discurso seria o clímax perfeito para esse capítulo. Você explicou os aspectos políticos, preparou o terreno para uma grande revelação e depois – aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo – criou outro problema e deixou o capítulo saturado de informações. Não é exatamente uma crítica negativa, pois tudo depende de como isso será trabalhado no próximo.

    Percebi que você inventou alguns nomes e sobrenomes para completar os nicks de jogadores anticanos. Poderia explicar o motivo dessas escolhas? Creio que todos são bastante antigos...


    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    Viu-se em uma cama quente e confortável, e não mais no chão de mármore fria onde batalhara com Arieswar.

    frio
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    Ele podia sentir cada músculo do seu corpo reagindo à temperatura, mas não emitia um grunhindo de dor.

    grunhido
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    - Vou providenciar que algum empregado vá arrumar o templo pdeir à alguma enfermeira para assistir Pepelu e o capitão. Vai ser melhor para você que eles não faltem à festa.

    ?
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    Para Pepelu, Octavian era alguém de tanta confiança quanto o capitão Natarde.

    vírgula excencial para o entendimento da frase
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    - Brindemos a esse casal maravilhoso que está nos recebendo e a o herdeiro que virá por aí!

    ao
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    - Talvez. Mas o que me preocupa são os vento que vem do Norte.

    ventos
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    Inclinou-se um pouco mais para dentro da fonte e lá observou seu reflexo na água.

    e

    Até o próximo.
    Última edição por Emanoel; 01-09-2009 às 13:52.

  3. #33
    Avatar de Ldm
    Registro
    20-08-2009
    Localização
    Florianópolis
    Posts
    795
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Sem dúvida, o melhor capítulo até agora. Gostei muito da sutileza e leveza empregadas no texto. Só algumas pequenas observações:


    - Vou providenciar que algum empregado vá arrumar o templo pdeir à alguma enfermeira para assistir Pepelu e o capitão. Vai ser melhor para você que eles não faltem à festa.
    Esse trecho ficou confuso, ao menos para mim.


    - Talvez. Menos se a lei for cumprida.
    Ambiguidade. "Menos", nesse caso, é um sinônimo de "a não ser" ou está indicando intensidade?


    ganhar o prêmio simples, ou, por cinqüenta tentar ganhar esse
    preocupava no momento eram as consequências da sua batalha com
    De duas, uma: ou o texto inteiro seguindo o novo acordo ortográfico ou utilizando da antiga grafia.


    que está nos recebendo e a o herdeiro que virá por aí!
    Contração.

    quando Yorik o levou a Thais, precisava
    - Um brinde a bebida!
    Embora não conheça muito sobre crases, acredito que haveria ali.



    Continue assim. A história está sensacional.
    Até o próximo


    "Este tem sido o problema dos místicos. Alcançam o Definitivo, mas não podem relatar aos que lhes vêm após. Não podem relatá-lo a outros, que gostariam de ter essa compreensão intelectual. Tornaram-se um com o Definitivo. Todo o seu ser o relata, mas a comunicação intelectual é impossível. Poderão dá-lo a ti, se estiveres pronto para recebê-lo, poderão permitir que o alcances, se também o permitires, se fores receptivo e aberto. Mas as palavras não farão isso, os símbolos não ajudarão, teorias e doutrinas não serão de uso algum."

  4. #34
    Avatar de Steve B
    Registro
    19-05-2007
    Localização
    Maravilhosa
    Idade
    32
    Posts
    1.727
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Demorei mas li.

    Outro excelente capítulo, com um desfecho de arrepiar.


    Tudo que eu ia falar em termos gramaticais já foi dito.

    Esperando o próximo capítulo! :128:

  5. #35
    Avatar de Wu Cheng
    Registro
    13-11-2008
    Posts
    118
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Não gosto de escrever sem ter um comentário consistente pra fazer.

    Ainda não tive tempo de ler o roleplay com um olhar crítico, mas acho que já sabe que sua história está muito boa e não precisa de elogios.

    De qualquer jeito, a ideia de evocar a rivalidade de antigos jogadores de Antica foi muito boa.

    Deu vontade de buscar as entrevistas de Arieswar, Hesperides e Pepelu.

    Arieswar falava coisas insólitas em 2005, como dizer que tinha mais de 30 anos e que não trabalhava nem estudava, mas estava pensando em criar cavalos (!!!).

    Espero que ele já tenha conseguido um emprego.




    Publicidade:


    Jogue Tibia sem mensalidades!
    Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
    https://taleon.online

  6. #36
    Avatar de Kamus re
    Registro
    17-10-2004
    Localização
    Salvador
    Idade
    34
    Posts
    3.642
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Desculpem pela demora, depois darei mais satisfações a vocês
    Capítulo 5 - O homem da igreja

    O silêncio profundo imediatamente transformou-se em histeria coletiva. Uma grande besta demoníaca estava no centro da festa de Fechar de Estações e no seu primeiro ataque o estrago já fora enorme.

    Dezenas de barracas agora ardiam em chamas e as pessoas, assustadas, corriam e pisotevam-se. Pepelu não conseguia se mover de tanto espanto. Perto dele alguns corpos incinerados o chamavam à realidade. Foi então que ele despertou e num estalo de consciência atirou-se na água da fonte bem em tempo de livrar-se de um novo sopro de fogo do animal.

    Ainda submerso, Pepelu foi até a outra extremidade da fonte para sair com um pouco mais de segurança. Viu que ao seu lado já haviam corpos boiando na água e não conseguia parar de pensar em Kala.

    Atirou-se no chão da praça e olhou por cima do ombro para localizar o monstro; ele estava de costas, indo em direção ao castelo real. Pepelu aproveitou para correr o mais rápido que pôde até onde virar sua esposa sumir de vista, que era mais ou menos o mesmo caminho percorrido pelo demônio.

    Em meio à correria desenfreada ele tentava localizar Kala gritando pelo seu nome. Pulava barracas já destruídas e constantemente olhava o monstro para certificar-se de que estava à uma distância razoável. Tropeçando entre pedaços de madeira, bancos ou lixeiras, ele se esbarrava com as outras pessoas e por uma ou duas vezes ele achou tratar-se de sua esposa.

    O monstro então virou-se novamente para o lugar em que o arqueiro estava. Com uma de suas mãos, patas, garras ou seja lá o que fosse aquilo, arrastou meia dúzia de pessoas do seu lado. Pepelu escapou, mas logo em seguida foi a vez da cauda do demônio chicoteá-lo para cima. Ao cair Pepelu bateu as costelas na rua de paralelepípedos e sentiu que várias delas haviam se partido.

    Desesperado, ele arrastou-se pelo chão às cegas esperando o momento em que levaria o golpe derradeiro. Quando a fera já estava tão próxima que ele podia sentir seu calor, porém, sua mão tateara algo estranhamente macio.

    Levantando um pouco a cabeça Pepelu viu botas de couro perfeitamente costuradas. Com um pouco mais de esforço, vislumbrou uma armadura negra reluzir. Ao erguer-se o máximo que pôde, reconheceu o rosto inflexível que pairava sobre si.

    Como um fantasma, Arieswar encarava o arqueiro que agora se encontrava suplicante aos seus pés.

    - Não...não me mate.

    Arieswar estendeu-lhe uma mão e Pepelu, por reflexo, levou as suas ao rosto, protegendo-se. No entanto não aquele gesto não se tratava de um ataque, mas sim de uma oferta de ajuda.

    - Quer sair vivo ou não? – perguntou Arieswar, sentindo a hesitação do arqueiro.

    Ao ver que não havia nada mais a perder, ele resolveu arriscar. Com a ajuda do cavaleiro, pôs-se de pé. Ao olhar para trás vira que o monstro se distanciava, como se Arieswar o tivesse afugentado.

    - Minha esposa... – grunhiu Pepelu, com dificuldade para falar – Sabe onde está minha esposa?

    - Natarde a levou. Mas você não conseguirá chegar em casa. Há uma igreja que fica logo aqui ao lado; entre lá e protega-se.

    Pepelu sentiu-se mais aliviado, mas ainda tremia de alfição. Por continuar parado foi novamente repreendido por Arieswar, que mandou ele se apressar. Pepelu, cambaleante, pegou no chão qualquer coisa que pudesse lhe servir de bengala e rumou em direção à basílica. Antes, porém, perguntou ao cavaleiro:

    - Por que está fazendo isso por mim?

    - Porque acabar com você é um trabalho meu e não quero que ninguém se intrometa nisso.

    Aquela foi de fato uma resposta inesperada, mas que as circunstâncias o fariam aceitar de bom grado.

    O arqueiro então rumou para a Igreja da Criação, cravada, e aparentemente esquecida, entre dois monumentos em homenagem a grandes reis passados. Pequena, se comparada aos outros prédios do Fórum, aquela era, contudo, uma das mais velhas igrejas do mundo, remetendo-se a data de criação da própria cidade de Thais por Banor, e tradicionalmente era regida por uma linhagem de sacerdotes da mesma família, que moravam no seu subsolo, onde também se encontrava o cemitério familiar. Pepelu largou a lança que utilizava como bengala do lado de fora, entrou e fechou suas grandes portas de madeira.

    Após seu enorme esforço para prestar uma reverência ao local, ele começou a notar que pareciam haver lembranças daquela igreja em sua memória, embora desconfiasse que jamais estivera ali.

    O santuário tinha forma retangular, sendo mais longo do que estreito, adquirindo a aparência de um grande corredor onde se dispunham dezenas de bancos para os fiéis assistirem às missas. Nas paredes laterais vários pilares de arenito davam sustentação ao teto, formando arcos uniformes. Ao longe, alguns degraus acima do nível do resto da igreja, estava o altar, regido de perto por uma magnífica escultura de Uman Zathroth, o deus da criação e representação do maniqueísmo, possuindo um lado generoso e outro maligno.

    Pepelu sentou-se num dos bancos na fileira mais próxima do altar e ficou a escutar a gritaria do lado de fora. Ainda tremendo de pavor, rezou para todos os deuses pedindo proteção a cidade de Thais e aos seus moradores, em especial sua esposa e seus amigos. Em meio as orações, perdeu a noção do tempo, mas comprovou que realmente havia demorado ao perceber que já não ouvia mais ruídos vindos do exterior da igreja.

    Se por um lado Pepelu ficou mais aliviado, por outro o silêncio era perturbador. Tentou se distrair contemplando a imagem de Uman Zathroth e sua combinação mística, que trouxe a ele a vida eterna, mas o fardo de conviver com duas personalidades distintas. Aquela imagem de pedra, no entanto, o encarava com um olhar tão bestial, até mesmo assustador, que Pepelu não conseguia se concentrar. Será que já seria seguro lá fora? Ele já pensava em se levantar para conferir quando sentiu as maçanetas das portas da igreja se movimentarem.

    Apavorado, o arqueiro se atirou embaixo do altar, onde um grosso pano rendado o esconderia. As portas se abriram e novamente foram fechadas. Mesmo poucos degraus acima do novo visitante da igreja, Pepelu não conseguia vê-lo com perfeição; apenas sabia que era homem e vestia uma espécie de túnica vermelha.

    O arqueiro não sabia o que fazer. Seria aquele homem um thaiense refugiando-se do monstro, como ele próprio fizera, ou seria um inimigo? A pior das hipóteses foi confirmada quando uma voz rouca cortara o silêncio, ecoando pela igreja:

    - Apareça! Sei que alguém está aqui!

    Pepelu se contorceu de medo. A voz do sujeito era intimidante, e ele voltou a orar, desta vez pedindo aos deuses que protegessem a si mesmo, pois além de debilitado, ele estava no pior dos esconderijos.

    - Apareça! – voltou a ordenar – As portas não se fecharam sozinhas!

    Já em desespero, Pepelu ouviu passos atrás de si. Possivelmente vinda do andar inferior, outra pessoa cruzava o altar onde estava o arqueiro e ia de encontro ao homem misterioso.

    - Quem é você? – perguntou uma voz feminina.

    Não houve resposta. Poucos segundos depois o corpo da mulher jazia no chão; sem sangue, sem uma marca de magia, sem nada.

    Pepelu gelou. O homem agora andava em direção ao altar. Seus pés agora estavam a poucos palmos do arqueiro.

    Aquele enigmático sujeito, contudo, não parecia estar interessado em Pepelu. De maneira agitada parecia procurar por alguma coisa. Encolhido embaixo do altar, o arqueiro travou a respiração; a distância entre os dois era tão pouca, porém, que ele chegou a temer que o outro ouvisse as batidas do seu coração.

    Por sorte, o homem não parecia voltar suas atenções para algo além daquilo que procurava. O par de pés agora se movia freneticamente por toda a igreja, do altar aos bancos inferiores, passando por um momento no qual eles sumiram e Pepelu deduziu que o sujeito descera ao aposentos onde morava a sacerdotisa. A irritação do misterioso ocupante da Igreja da Criação parecia se propagar pelo ar.

    - Maldição! – gritava ele – Onde está?

    Profundamente aborrecido, o homem se aproximou do corpo da sacerdotisa, estendido no chão. Aparentemente ele a olhava fixamente enquanto a cabeça estava tomada por pensamentos.

    - Vou ter que levá-la comigo. – sibilou ele.

    Foi então que Pepelu viu seu rosto. Foi apenas por alguns segundos, enquanto ele se abaixou para colocar a mulher sobre seu ombro, mas o arqueiro contemplou a imagem do sujeito como se o tempo tivesse parado. Ele tinha cabelos curtos, barba feita e algumas rugas na pele, indicando que era vários anos mais velho que o arqueiro. Todo aquele semblante parecia ser recoberto por uma aura de poder que emanava de maneira incomensurável. Inconscientemente, Pepelu soltou um gemido de medo.

    O homem percebeu sua presença. Bastou um leve ruído para que o par de olhos negros mais penetrantes que Pepelu já vira na vida o encararem fixamente. O arqueiro parecia estar paralisado pelo efeito daquele olhar. A sacerdotisa fora esquecida no chão enquanto que o dono dos olhos negros avançava ferozmente em direção a Pepelu, ainda tentando identificá-lo por debaixo do pano rendado que recobria o altar.

    Eis que as portas da igreja foram forçadas. Alguém tentava arrombá-las. Bastaram três tentativas para que a madeira finalmente cedesse e uma grande quantidade de guardas thaienses tombassem para dentro, seguidos de perto por Arieswar. Pepelu tentou gritar, mas a voz não saiu. Contudo Pepelu notou em apenas poucos segundos que o dono dos olhos penetrantes havia simplesmente evaporado; como fumaça.

    ****

    - Peraí. – perguntou Diogo mais uma vez – Você ACHA isso? Ou você tem CERTEZA?

    - Tenho certeza. – respondeu Pepelu, já irritado – Vai perguntar de novo, merda?

    O arqueiro, sua esposa e o capitão já estavam novamente em casa. Os sóis já iam timidamente anunciando um novo dia, mas nenhum deles havia dormido.

    Pepelu estava na cama, recostado, tentando curar sua dor de cabeça com um chá. Diogo estava parado à porta, e agora tentava organizar tudo que ouvira do amigo. Kala estava sentada ao seu lado, olhando a cidade através de uma janela.

    Thais estava irreconhecível. Primeiramente o clima de alegria de horas atrás fora trocado por tristeza e tensão. Mas além do dano psicológico, parte da cidade também estava materialmente destruída.

    Escombros de barracas e casas se espalhavam pela praça principal do Fórum. Corpos jogados por todos os cantos exalavam um cheiro insuportável de carne queimada e mostravam as dimensões da tragédia. O chão assumira a cor do sangue misturado às bebidas que vazavam dos barris quebrados. Todo esse cenário era recoberto por cinzas e principalmente pela fumaça de prédios ainda incendiados.

    Da casa de Pepelu era visível que o céu nos arredores da praça ainda estava sendo impestiado por fumaça, mas os outros elementos só eram sensíveis a quem estivesse no local da fatalidade, como estava agora Arieswar.

    O cavaleiro trabalhava junto a Dragnslayer, o caçula dos guerreiros da corte, na identificação e retirada dos mortos. A fuligem irritava seus olhos e o cheiro de podridão o afligia. Quantas daquelas vítimas estariam agora carbonizadas? Seus passos eram cuidadosos, de modo que não pudesse tropeçar nos escombros ou, mais dificilmente, em algum sobrevivente.

    - Olhe, Arieswar! – chamou Dragonslayer.

    Caído em cima de um arbusto, completamente ensangüentado, achava-se o corpo de Grof, o guarda do portão norte.

    - Mande alguém levá-lo. – disse Arieswar, sem nem olhar para seu companheiro.

    O cavaleiro agora compreendia o mal pressentimento de Hesperides. Antes do ataque realizado pelo demônio ele achava que teria algo a ver com o projeto anunciado pelo rei, mas agora tinha noção do quão irrisório aquilo era perto do que aconteceu.

    Então ele pensou em Pepelu. O arqueiro e a sacerdotisa foram achados na Igreja do Criador, onde acreditava-se que alguém desconhecido havia entrado. Pepelu de fato contou uma versão muito estranha em que um homem aparecera e sumira do local misteriosamente, mas muitos encararam a história como um delírio. Restava ao cavaleiro confirmá-la quando a sacerdotisa acordasse do grave atentado à vida que sofrera, segundo Pepelu causado pelo sujeito anônimo.

    Foi quando Arieswar soltou um suspiro. Em sua casa, Pepelu fazia o mesmo. Cada um pensava de seu modo que o dia que ficou para trás fora simplesmente o mais longo das suas vidas.

    ··Hail the prince of Saiyans··

  7. #37
    Avatar de Ldm
    Registro
    20-08-2009
    Localização
    Florianópolis
    Posts
    795
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Excelente! Não é necessário ficar elogiando aqui...pularei essa parte. Acredito que você já saiba todas as qualidades de sua história.

    Os primeiros parágrafos ficaram bem confusos...era difícil distinguir o que cada um estava fazendo. Talvez a ausência de vírgulas tenha gerado tal confusão.


    correria desenfreada ele tentava localizar Kala gritando pelo seu nome.
    A ausência de uma vírgula ali gerou uma ambiguidade...é claro que todos sabemos que Pepelu estava gritando por Kala mas seria mais prudente evitar esse tipo de erro.


    rápido que pôde até onde virar sua
    Não sei...ficou mais próximo de "viu".


    mais aliviado, mas ainda tremia de alfição.
    Aflição, creio eu.


    junto a Dragnslayer, o caçula
    O nome do sujeito seria Dragonslayer, não?



    É isso. Bom domingo à todos e até qualquer hora.

  8. #38
    Avatar de Emanoel
    Registro
    04-06-2006
    Posts
    6.851
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    O capítulo fluiu tranquilamente e a descrição da basílica é louvável: bem escrita, porém circunspecta, sem extensões desnecessárias. Só achei estranho Pepelu ter ido duas vezes para o mesmo lugar ("rumou em direção à basílica"; "rumou para a Igreja da Criação"); acredito que o segundo trecho é desnecessário.

    Apesar dos longos capítulos e constante mudança de focos, o enredo mantém meu interesse, pois o misto de competência no escrever com a imprevisibilidade dos acontecimentos apresenta ótimo resultado. Na minha opinião, o ponto fraco é a afetação de algumas passagens; as várias costelas partidas de Pepelu acaba sendo exemplo de exagero esquecido pelo escritor ― o arqueiro ficou cambaleante, mas não demonstrou sentir grande dor ou desconforto.

    Personagens como Arieswar me desagradam. É difícil não lembrar de Vegeta, Hiei, Sasuke Uchiha, Ikki de Fênix, Scar, Ryou Mashiba, Seto Kaiba, Kai Hiwatari, Matt Ishida, Koji Karakushi, Hajime Saitou e vários outros bad boys de shounens. É uma personalidade controversa e geralmente pouco substancial; espero estar diante de uma exceção. Por outro lado, Pepelu é um protagonista interessante; apaixonado, invejoso, saco de pancadas, mas decididamente sortudo (mais uma vez, acabou sendo salvo pelo gongo).


    Alguns outros erros:

    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    Dezenas de barracas agora ardiam em chamas e as pessoas, assustadas, corriam e pisotevam-se.

    pisoteavam-se
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    No entanto não aquele gesto não se tratava de um ataque, mas sim de uma oferta de ajuda.

    Trecho confuso.
    Citação Postado originalmente por Kamus re Ver Post
    Há uma igreja que fica logo aqui ao lado; entre lá e protega-se.

    proteja-se

    Até o próximo.
    Última edição por Emanoel; 22-09-2009 às 23:35.

  9. #39
    Avatar de ESTRANHOSO
    Registro
    26-12-2008
    Idade
    31
    Posts
    21
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Cara eu acompanho a sua historia ja faiz um bom tempo e tb ja li os
    22 capitulos da historia antiga!!!
    queria saber se vc naoi pode me mandar a historia completa!!!
    pq tipo pra mim é meio ruim espera um tempao pra ler o proximo capitulo!!
    e atarde eu tenhu cerca de 1 hora livre entaum eu gosto de ler esse tempo!!
    se for possivel entra em contato!!!!:yelrotflm

  10. #40
    Avatar de Wu Cheng
    Registro
    13-11-2008
    Posts
    118
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Citação Postado originalmente por ESTRANHOSO Ver Post
    Cara eu acompanho a sua historia ja faiz um bom tempo e tb ja li os
    22 capitulos da historia antiga!!!
    queria saber se vc naoi pode me mandar a historia completa!!!
    pq tipo pra mim é meio ruim espera um tempao pra ler o proximo capitulo!!
    e atarde eu tenhu cerca de 1 hora livre entaum eu gosto de ler esse tempo!!
    se for possivel entra em contato!!!!:yelrotflm
    Você pode acessar todos os capítulos da história antiga e salvar no seu PC, selecionando o texto e copiando no Word.

    Publicidade:


    Jogue Tibia sem mensalidades!
    Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
    https://taleon.online



Tópicos Similares

  1. [Entrevista] TibiaBR entrevista Ferumbras de Rookgaard
    Por Admin LokiRJ no fórum Entrevistas TibiaBR
    Respostas: 335
    Último Post: 19-06-2010, 11:18
  2. Ferumbras é derrotado em Askara 2 vezes em 2 dias seguidos!!!!
    Por Mestre Thaigon no fórum Tibia Geral
    Respostas: 19
    Último Post: 08-06-2009, 07:45

Permissões de Postagem

  • Você não pode iniciar novos tópicos
  • Você não pode enviar respostas
  • Você não pode enviar anexos
  • Você não pode editar suas mensagens
  •