Capítulo 4 - Fechar de Estações.
Ao retomar os sentidos Pepelu logo pôde perceber que estava em um lugar muito diferente de onde havia desmaiado. Viu-se em uma cama quente e confortável, e não mais no chão de mármore fria onde batalhara com Arieswar. Ao levantar a cabeça percebera que em outra cama, próxima a ele, Diogo estava acordado lendo distraidamente um jornal que certamente roubara do Fórum enquanto tomava uma fumegante xícara de café. O arqueiro chamou seu nome com uma voz rouca e seu amigo abriu um largo sorriso ao vê-lo consciente.
- Ah, finalmente acordou!
- Onde...onde estamos?
- Como assim “onde estamos”? Não está reconhecendo a famosa casa número 38? A sua casa?
Pepelu ainda sentia a cabeça doer muito e não notou de imediato que aquele quarto estreito e com paredes de madeira era o seu cômodo para hóspedes. Estava em casa! Ainda cheio de dúvidas na cabeça sentiu um grande alívio ao ver sua esposa, Kala, abrindo a porta e trazendo uma bandeja cheia de comida.
- Ah, Cris... – suspirou ela ao ver o marido acordado – você me matou de susto!
Ela largou a bandeja no criado-mudo ao lado da cama e atirou-se em seus braços. Pepelu e ela trocaram carícias intensamente, enquanto Diogo tentava minimizar sua presença no quarto afundando-se no jornal. A cena de amor, entretanto, foi encerrada abruptamente quando Kala passou a esbofetear o marido.
- Você só pode ser maluco, Crispin Pepelu! Como que arranjou uma encrenca dessas? E se tivesse morrido? Como eu ficaria? E seu filho?
Seu acesso de raiva parou por aí. Logo ela começou a chorar e novamente se jogou sobre o marido. Diogo se assustou com a cena e logo começou uma profunda reflexão interior sobre os prós e contras do casamento.
- Tome! – falou Kala, mais calma, erguendo a bandeja – Coma tudo que você precisa melhorar logo. Deixei seu café lá embaixo que era pra não esfriar, mas vou pegá-lo.
Pepelu se ajeitou na cama e viu uma fartura de frutas, biscoitos e pães em sua frente. Estava morrendo de fome e encheu a boca com tudo que conseguiu pegar de uma só vez. Foi entre uma mordida e outra que ele perguntou ao capitão Natarde:
- Diogo, o que aconteceu? Apareceu um homem lá, não foi? Quem era?
- Verdade. – disse o capitão, deixando o jornal de lado – Hesperides, o druida, apareceu no templo e acabou com a briga. Ouvi-o falando que estava com um pressentimento de que algo naquela manhã sairia errado.
- E ele nos trouxe para casa?
- Foi. Primeiro ele perguntou se eu estava bem e pediu para zelar por você. Aí ele resolveu que levaria primeiro Arieswar ao castelo real e depois ficou de nos trazer aqui. Kala quase caiu para trás quando nos viu, mas ele a acalmou, deixou alguns medicamentos em sua mão e disse que se os tomarmos poderemos até mesmo ir à festa hoje de noite.
A festa. Parecia tão estranho para Pepelu que aquele era o dia de Fechar de Estações pelo qual tanto esperara e ao mesmo tempo fora quando mais se viu perto de morrer. Olhando pela janela viu que o mundo seguia normalmente o seu curso, enquanto ele se recuperava de uma longa batalha secreta com um dos mais respeitados homens da coroa thaiense.
- Mas lógico que não precisamos ir caso você não queira. – completou o capitão.
- O que está dizendo? É lógico que vou! Arieswar tem um exército ao seu lado, e se ele quiser me matar não será ficando em casa que eu escaparei.
Ao falar no cavaleiro, Pepelu ficou a pensar onde ele estaria no momento. Será que já estaria melhor que ele?
****
A enfermaria do castelo estava um alvoroço. Apinhada de feridos e doentes na época de maior movimento da cidade de Thais, os enfermeiros e curandeiros mal conseguiam dar conta do trabalho. A chegada de um Arieswar inteiramente machucado pegou a todos de surpresa.
- Leve-o à ala especial. - pediu Hesperides - Isso é confidencial.
Uma velha enfermeira seguiu a orientação e o levou ao local reservado aos mais altos nobres que, como quase sempre, estava vazio. Deitando Arieswar numa maca, ela tirou-lhe a roupa e o colocou numa banheira com água fria, visando diminuir a dor do cavaleiro e contrair seus vasos para evitar uma maior perda de sangue. Ele podia sentir cada músculo do seu corpo reagindo à temperatura, mas não emitia um grunhindo de dor. Sua cabeça estava voltada apenas para o capitão Natarde e Pepelu, e para a sorte que eles tinham tido. Não era normal que dois combatentes de baixo nível tivessem causado tantos problemas a um guerreiro da corte e por um momento ele chegou a nutrir um ódio mortal a Hesperides, que o impedira de matá-los.
Arieswar ficou por um bom tempo naquele tratamento chamado crioterapia até que Hesperides apareceu.
- Obrigado pela atenção. – disse o druida à velha – Pode deixar que eu cuido dele agora.
Mesmo pelo canto do olho Arieswar pode ver um traço de desapontamento no rosto dela. Certamente ele era mais atraente pelado do que seu velho marido. Hesperides o levou até uma das camas da enfermaria e lá o deixou, depois procurou num dos muitos armários do lugar por uma toalha para que ele pudesse se cobrir. Feito isso, passou em suas feridas uma espécie de óleo que retirou de uma garrafinha que carregava no bolso. Por fim, pediu para que bebesse uma poção e passou a examinar quais membros do amigo estavam quebrados.
- Tem ossos realmente muito fortes.
Arieswar bebeu todo o medicamento e se reajustou na cama para ficar mais nivelado com o druida.
- Essa é aquela sua receita especial?
- Sim. Meimendro negro, ópio, euforbia e sementes de alcaçuz batidas. Vai dormir como um bebê e acordará muito mais disposto.
- Obrigado, Hesperides. – disse ele, já sentindo as pálpebras pesarem – Mas você devia ter me deixado matá-los.
- Não diga besteiras. Você se complicaria muito com o Conselho caso assassinasse duas pessoas no templo. Já vai ter muito o que explicar pela bagunça que fez. Sorte que você tem prestígio por aqui.
- Eu sei. – retrucou ele – Acontece que...
- Ouça, Arieswar. – e Hesperides passou a falar com a voz cada vez mais baixa, depois encarando-o nos olhos – Nós não estamos mais com Yorik. Quem manda agora é Damaso e um simples movimento descuidado pode fazer com que morram até pessoas de reputação, como eu e você. Tente, portanto, não se meter em confusões.
Aquele argumento o convencera. Fosse o governo de Yorik I e ele certamente teria toda a cobertura necessária para poder dar um fim naquela dupla que o desafiara, mas no atual reinado ele não tinha tanta segurança. Desde que Damaso, o ditador, assumira como rei, todos os funcionários do antigo governo estavam sob observação constante. Por isso Arieswar, que havia sido questionado pelo próprio Damaso quando Yorik o levou a Thais, precisava manter sua credibilidade, até então indiscutível.
- Vou providenciar que algum empregado vá arrumar o templo pdeir à alguma enfermeira para assistir Pepelu e o capitão. Vai ser melhor para você que eles não faltem à festa.
- Obrigado, Hesperides. Não sei como te agradecer.
- Não estou fazendo nada que você mesmo não faria por mim. Ou mesmo por Acanthurus ou Dragonslayer. Nós, além de Guerreiros da Corte, somos uma equipe. E nesse período sombrio que está por vir não podemos nos dar ao luxo de perder o que temos de mais valioso: a parceria.
- Período...sombrio? – indagou Arieswar – Do que está falando? É mais um dos seus pressentimentos?
Mas o druida não respondeu. Apenas olhou fixamente para um ponto qualquer da enfermaria. Hesperides parecia sentir pelo ar quando havia algum distúrbio no espaço. Arieswar, apesar de admirar tal poder, não desejaria uma capacidade dessas para si; às vezes é melhor deixar para o futuro as surpresas que ele nos guarda.
****
À medida que Fafnar e Suon terminavam sua corrida diária pelos céus de Thais, as milhares de pessoas que habitavam ou visitavam a capital iam deixando suas casas, palácios ou pensões. Em pouco tempo as ruas estavam tomadas e a cidade agora parecia pulsar como um organismo vivo.
Na pequena casa de madeira número 38 da Travessa do Pântano, o ambiente que já fora de tensão agora era finalmente tomado de felicidade. Pepelu e Kala fizeram questão de chamar seus amigos para lá, onde todos se reuniriam para saírem juntos para a festa.
Para o contentamento do casal anfitrião, todos os convidados apareceram. Primeiro chegaram os irmãos Bürgy e Bulok Durkhein, amigos dos tempos da escola de arqueiros; depois Sara Lionheart, prima de Kala; seguindo-a veio o misterioso Rafos Niegel, que fazia parte de um seleto grupo de colonos que enriquecera na Baía da Liberdade; por último chegou Octavian, amigo de infância de Pepelu, sua mulher e suas três crianças.
Era com esse último que o incrivelmente recuperado arqueiro agora conversava, comendo alguns quitutes preparados por Kala e tomando uma taça de vinho. Octavian trabalhava no Diário Oficial, o jornal da cidade que, como o nome supõe, submete-se à Coroa. Suas publicações estavam sempre presentes no Fórum e em demais espaços públicos, trazendo fatos diversos, notícias militares, obituários, crônicas esportivas, entre outros assuntos. Para Pepelu Octavian era alguém de tanta confiança quanto o capitão Natarde.
- Bonito chapéu, Pepelu. – comentou ele – Mas devo admitir que Diogo está mais elegante.
Kala havia preparado para eles roupas especiais de festa. Diogo, mais extrovertido e brincalhão, vestira um casaco roxo com várias listras coloridas, além de uma espécie de turbante do qual pendiam bolinhas douradas. Parecia um bobo da corte e ainda viam-se alguns dos seus hematomas, mas ainda assim esbanjava de um charme que nem a dureza da vida no mar conseguiu tirar de si. Pepelu, mais discreto, apenas usava um chapéu de plumas vermelhas que até o ajudou a esconder os curativos da cabeça.
- Vai se danar. – foi a única coisa que conseguiu pensar.
- Mas...espere aí. Você está com alguns machucados por debaixo dele, não? – falou ele, chegando mais perto, enquanto Pepelu tentava disfarçar – O que foi isso, Pepelu? Por acaso andou brigando escondido com um Guerreiro da Corte no Fórum Thaiense?
Pepelu arregalou os olhos.
- Como soube?
- Ah, foi só uma suposição. Ora, Pepelu, eu trabalho para o Fórum!
- Será que vou ter problemas por causa disso?
- Talvez. Menos se a lei for cumprida. Só que não adianta ficar pensando nisso agora. E o bebê? Já decidiu os nomes?
O arqueiro agora tomou um grande gole do vinho. O nascimento de seu filho era um assunto que o deixava ansioso.
- Pra falar a verdade, sim. Se for menino será Augusto. Se for menina, Eurídice.
Octavian então levantou-se e chamou a atenção de todos. Com o copo erguido, proclamou:
- Brindemos a esse casal maravilhoso que está nos recebendo e a o herdeiro que virá por aí!
Todos fizeram barulho e celebraram. Logo depois foi a vez de Diogo subir numa pequena mesa e erguer seu copo:
- Um brinde a bebida! A solução e a causa de todos os nossos problemas!
A sala caiu na gargalhada. Foi a vez de Pepelu se levantar e convidar todos a irem para a festa.
- Vamos nessa! – gritava Diogo – Vamos beber até amanhã!
O grupo saiu da número 38 e juntou-se à multidão nas ruas. Pepelu ficou feliz ao sentir que os medicamentos de Hesperides realmente haviam surtido efeito; tanto ele quanto Diogo, apesar de não estarem completamente recuperados, estavam em ótima forma para a noite. O arqueiro então deu o braço a Kala, ajeitou seu chapéu e começou a cantarolar músicas populares. Mais na frente, o capitão Natharde e Octavian iam juntos mexendo com as pessoas que passavam.
****
De olho naquela cena, numa das sacadas do grandioso castelo real, estava Arieswar. O cavaleiro acabara de pôr sua armadura repleta de condecorações e agora arrumava a capa vermelha que a completaria. Seu corpo já estava menos dolorido e o permitiria, como de costume, aparecer junto ao rei na hora de seu discurso.
Ao perder de vista o grupo de Pepelu quando este misturou-se demais na multidão, o cavaleiro readentrou na sala em que os outros três Guerreiros da Corte se vestiam.
- Já posso sentir o cheiro da comida daqui. – comentou Erick Dragonslayer, que era o mais novo entre eles.
- E o perfume das mulheres? Isso está me enlouquecendo. – disse Corleo Acanthurus.
Hesperides não se pronunciou. Ele estava em um espelho separado dos demais, arrumando uma espécie de gravata que usaria com a camisa branca e a capa azul turquesa. Arieswar sentia nele certa tensão.
- O rei falará alguma coisa que não deve? – arriscou Arieswar, falando apenas para que o druida ouvisse.
- Talvez. Mas o que me preocupa são os vento que vem do Norte.
- Vamos animar aí, senhoritas? – chamou Acanthurus – Que clima de festa é esse? Eu até entendo a cabeça de Arieswar, mas, e você Hesperides?
- Estou com algo estranho em mente. Acho que precisarei de uma das moças da Dona Arlinda para melhorar meu ânimo.
- Nem me fale em Dona Arlinda! – protestou Dragonslayer – Da última vez que fui lá nem desconfio como voltei pra casa.
Arieswar riu. E fez mais do que isso. Decidiu que dali em diante tiraria de sua cabeça todas as preocupações do mundo, inclusive Pepelu.
****
O arqueiro e seus amigos agora chegavam ao centro da bem decorada praça principal, cheia de bandeirolas, balões e serpentinas a pender das casas próximas. Para isso cruzaram dezenas de barracas que ofereciam as mais diferentes comidas e bebidas de todas as partes do mundo, inclusive as locais. Jogos, apostas, teatro, malabarismo, e diversos outros tipos de entretenimento também eram oferecidos; inclusive aquele destinado aos adultos, como Pepelu pôde notar pela presença de várias prostitutas que seduziam os forasteiros. O capitão Natharde, inclusive, parecia ter sido tentado.
- Vai apelar para esse tipo de serviço, Diogo? – perguntou-lhe Pepelu enquanto Kala fora chamada para conversar com Sara Lionheart.
- Estou só brincando um pouco com elas, Pepelu. – respondeu ele, risonho – A enfermeira que Hesperides mandou já tirou um peso das minhas costas.
- O quê?! Não me diga que...
Mas Diogo deu-lhe uma piscadela e foi atrás de mais moças para flertar.
Pepelu e Kala ficaram com os amigos vendo algumas das atrações e estavam a entreterem-se com um grupo de contorcionistas quando puderam notar que a música, as conversas e até os gritos daqueles já bêbados começaram a cessar. Eis que então a figura imponente do rei Tibiano aparece em sua sacada e todas as outras vozes se calam por completo.
Junto ao rei estava o mais alto escalão da corte e do clero; à sua direita o Pontifex Maximus, o mais alto membro da Igreja; à sua esquerda os Cônsules, que em número de dois, eram os segundos em ordem de importância dos magistrados, embora, na prática, tivessem responsabilidades maiores que as dos seus superiores, os censores. Comandavam o exército, convocavam o Conselho, presidiam os cultos públicos e, em épocas de "calamidade pública", indicavam o ditador, sendo assim, responsáveis diretos pela majestade de Tibiano; fechando a corte, atrás do rei estavam os seus Guerreiros particulares: Hesperides, Arieswar, Acanthurus e Dragonslayer.
- Está vendo aquele olho ainda meio fechado? – apontou Pepelu para Kala, falando de Arieswar – Foi praticamente meu último suspiro.
Parecia surreal que fora apenas horas atrás que os dois haviam se enfrentado no Templo de Banor, e agora, embora Arieswar não pudesse identificá-lo em meio a tanta gente, eles estavam de novo muito próximos.
- Meu querido povo de Thais! – esbravejou o rei – Gostaria de saudar a todos nesse momento especial. Para mim, inclusive, por ser minha primeira festa de Fechar de Estações como rei da mais nobre cidade do mundo!
"Primeiramente quero agradecer a todos que me ajudaram durante esse período a reger essa terra abençoada por Banor."
A apenas alguns passos de distância, Arieswar observava o discurso com certo interesse. Sua atenção, contudo, estava mais voltada para o povo. Naquele dia, “bárbaros” e thaienses celebravam sob a regência do mesmo homem. Será que se eles soubessem das prisões e execuções realizadas desde primeiro dia do seu reinado até as últimas, algumas horas antes, aquelas pessoas estariam ali, em paz?
Voltou a ouvir o discurso. Segundo a tradição o rei citaria os nomes de alguns dos membros mais importantes da nobreza e do Conselho; após isso viria ele. Passado esse momento de expectativa, nada além do protocolo. Ou assim pensava ele.
- Aproveitando a oportunidade, é perante a todos os cidadãos thaienses e a todos os forasteiros que aqui nos visitam que informar-lhes-ei do grande projeto que arquitetei para a nossa Thais.
Um burburinho intenso se proliferou, mas que logo foi abafado pela voz do rei:
- Nossas recentes expedições nos levaram até lugares jamais antes imaginados. Talvez já tenham ouvido boatos das grandes ilhas cobertas de gelo que repousam no norte do mar de Sula.
“A região, até então tida como inabitável, nos revelou uma grande surpresa. Uma próspera civilização bárbara ali se faz presente e seus habitantes agora já vislumbram o nosso continente.”
“Eis que os tentáculos da cidade de Carlin entraram no caminho de tal civilização. Já há carlinianos entre os nativos e seus relatos de que ricas minas de ouro oferecem-se a qualquer um que lá desembarque despertou o interesse da governanta da cidade, a rainha Eloíse.”
Aquilo realmente fizera a multidão explodir. Apesar de haverem muitos forasteiros presentes, pouquíssimos eram carlinianos e, à exceção desses, nenhum certamente conseguia aceitar o fato de que a cidade teria chegado num local tão interessante; principalmente os thaienses, seus eternos rivais.
- Não podemos esquecer, porém, da ordem que Banor nos dera ao fundar Thais! Devemos espalhar pelo mundo nosso conhecimento, nossa religião e nossa cultura. Nós não podemos falhar com esse compromisso e não haverá força no céu ou na terra que nos impeça de cumprir nosso destino e salvar essas pobres almas da barbárie!
“Por isso quero informar a todos que em breve alguns dos nossos bravos homens thaienses serão convocados para colonizar o local. Não falhem com seu dever e sua lealdade a Thais! Honrem-na e mesmo quando seus corpos perecerem, seus espíritos serão imortais ao lado de Banor!”
Do alto daquela sacada Arieswar pôde ver a multidão ovacionar Tibiano. Alguns rostos, talvez carlinianos ou apenas mais sensatos, não expressavam reação; eram, contudo, a minoria.
****
Pepelu e sua mulher agora estavam no coração da festa. Já se havia decorrido um par de horas desde que Tibiano encerrara seu discurso. Perdidos entre tantas barracas de bebidas, comidas e jogos, Kala corria puxando o marido pela mão e mostrando algumas entre tantas coisas interessantes que podia encontrar.
- Espere um instante, amor. – disse ele – Vou ganhar uma coisinha pra você.
Pepelu viu um desafio de tiro ao alvo. Ao aproximar-se da barraca o dono o chamou:
- Venha, venha participar do jogo do arco! Por apenas dez moedas douradas você pode tentar ganhar o prêmio simples, ou, por cinqüenta tentar ganhar esse lindo colar de ametista.
Ao ver aquela linda pedra violeta Pepelu não teve dúvidas. Entregou-lhe um saco com cinqüenta moedas e pegou o arco.
- Ah, eu gosto dos grandes apostadores! – deliciou-se o comerciante ao ver o saco repleto de moedas brilhantes – Mas devo avisá-lo que para esse desafio a dificuldade aumenta um pouco.
O alvo fora retirado do cavalete onde estava posicionado e colocado em outro, atrás de duas grandes pedras quase encostadas, separadas apenas por uma pequena fresta para que a flecha pudesse passar. De onde estava, Pepelu só podia vê-lo de relance.
- Tenha calma, Pepelu. – pediu Kala.
Mas o arqueiro estava completamente confiante. Notou que pelo espaço delimitado pelas pedras a flecha nunca passaria, por isso mirou por cima delas de modo que a seta fizesse um arco e atingisse o centro do alvo. Poucos instantes depois, estava feito.
- Obrigado pelo colar! – acenou ele ao dono da barraca, que observara a cena incrédulo.
Pepelu e Kala saíram dando sonoras gargalhadas. Ele então parou-a e colocou o colar de ametista.
- Todas as pedras preciosas do mundo eu daria a você.
Eles se abraçaram longamente e juntos resolveram sentar-se à beirada de uma das fontes da praça. Namoraram um pouco até que Kala se levantou e anunciou, contente:
- Ah, preparei uma surpresinha para você. Espere aqui que eu vou pegá-la.
Pepelu a viu sair correndo, com o colar recém-conquistado a balançar no pescoço, e adentrar novamente naquele mar de gente.
Solitário, o arqueiro pôs-se a pensar na vida. Logo mais seria pai e estava realmente esperando que o momento chegasse logo. A única coisa que o preocupava no momento eram as consequências da sua batalha com Arieswar, mas se esforçava para pensar positivamente. Inclinou-se um pouco mais para dentro da fonte lá observou seu reflexo na água. Olhava profundamente dentro de seus próprios olhos, admirando o homem no qual havia se tornado, até que algo o chamou a atenção.
A água dentro da fonte começou a ondular. Pepelu observou-a, curioso, e viu que a cada instante as vibrações aumentavam. Então ele sentiu o chão tremer um pouco e o medo tomou conta de si. O que estaria acontecendo? Um outro reflexo, atrás do seu, revelou-lhe a verdade. A música parou.
Um demônio; um enorme demônio de cerca de dez metros de altura, vermelho, chifrudo e escamoso estava ali: no meio da festa. Seus olhos amarelos brilharam com intensidade e um sopro de fogo saiu de sua boca cheia de dentes pontiagudos.
··Hail the prince of Saiyans··
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