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Tópico: Ferumbras

Visão do Encadeamento

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    Capítulo 3 - O templo de Banor


    Ao raiar de Fafnar e Suon, os sóis-irmãos, o rebuliço já era grande na cidade de Thais. Enfim chegara o esperado dia de Fechar das Estações e tudo havia de estar preparado para a festa.

    A praça principal, onde o Rei apareceria na sacada de seu castelo para um breve discurso que antecederia muita música, dança e bebedeira já estava quase completamente decorada, mas o movimento ainda era intenso. Comerciantes circulavam de um lado a outro montando as dezenas de barracas que encheriam o ambiente logo mais; na porta das igrejas a fila de fiéis que queriam tomar a benção no dia por si só abençoado já começava a se formar; os guardas tratavam de organizar cercos de segurança para as eventuais confusões que os beberrões sempre causavam e em meio a tudo isso, alheio à movimentação, sentado em um dos diversos bancos que posteriormente desapareceriam em meio à multidão, estava Arieswar.

    Ao acordar na manhã daquele dia ele apenas queria cumprir com suas obrigações rapidamente a fim de que estivesse logo livre para curtir o clima de alegria da cidade, todavia ao passar na casa de Hesperides para receber as chaves dos templos do Fórum percebeu que teria de gastar um pouco mais de tempo e energia com a situação do que o esperado.

    Primeiramente ele achou que levaria o capitão Diogo Natarde para conhecer o setor administrativo da capital visando despertar nele o interesse que lhe permitiria aceitar o cargo de Tribuno do Senado que estava vago. No entanto, Hesperides, o druida, informara-lhe que Natarde já teria praticamente acertado a ocupação do ofício por seu amigo Pepelu, que geria um famoso estabelecimento comercial local, o Armazém, e o acompanharia hoje até o Fórum.

    Arieswar não via a situação com bons olhos. Para ele Pepelu não merecia um cargo de tamanha importância, e que a mera menção de seu nome para tal se devia apenas a sua amizade com o capitão Natarde. De qualquer maneira, ele teria de cumprir com suas obrigações, uma vez que a decisão do Conselho estava acima das suas opiniões particulares.

    - Arieswar! É um honra. – saudou uma voz atrás dele.

    Não estava a muito tempo sentado naquele banco quando o capitão Natarde aparecera trazendo consigo Pepelu. Arieswar os cumprimentou com um aperto de mão e foi direto ao assunto:

    - Vamos ao templo?

    - Sim, mas creio que Diogo não precise nos acompanhar. – disse Pepelu, tomando a frente – Eu serei o novo encarregado das funções.

    Durante aquela noite o arqueiro havia refletido bastante sobre a possibilidade de se tornar um Tribuno. Aquele cargo certamente traria a sua família muito mais respeito, tradição e dinheiro do que qualquer antepassado seu teria sonhado em conquistar com o Armazém ou a Hípica e ele se considerava competente o suficiente para assumir tal responsabilidade. Pepelu confiava também que, mesmo sem muita experiência política, teria o apoio das camadas populares, especialmente de Kala, do herdeiro que esta carregava em seu ventre e de Diogo.

    Falando no capitão, se houve alguma coisa na qual Pepelu realmente refletiu deitado em sua cama, enrolando-se nos lençóis de sua mulher depois de fazerem amor, foi no fato de estar recebendo de Diogo mais um presente que talvez não pudesse retribuir à altura.

    Vendo tudo aquilo refletido nos olhos brilhantes do arqueiro, Arieswar não fez questão nenhuma de esconder seu desgosto. Chamou Pepelu e com ele partiu.

    - Caso precisem de mim, estarei na hípica! – avisou Diogo antes de perdê-los de vista.

    O Fórum, não muito longe de onde se encontraram, era composto de todos os importantes pontos de encontro e comércio da capital e seu setor administrativo era dividido em diversos prédios, chamados de templos, erguidos em homenagem aos mais diversos deuses e reis notáveis.

    Os templos de Banor, Cronur, Nornur e outros deuses eram basicamente prédios do governo. Esse três primeiros eram, respectivamente, a sede das reuniões do Conselho, o Cofre do Tesouro e os Tribunais. Todos seguiam o mesmo modelo arquitetônico, sendo construções à mármore gigantescas com traços e colunas retangulares e teto em duas águas. O primeiro deles, o Templo de Banor, era o destino de Arieswar.

    Até chegarem ao ponto de encontro do Conselho os dois cruzaram diversas outras construções magnânimas, como a Basílica de Thais, onde ao cair da noite celebrara-se-ia o maior de todos os cultos a Banor; os teatros e anfiteatros, pontos de lazer dos cidadãos; e as Termas, originalmente um lugar para banhos públicos, mas que logo se transformou em mais um importante centro de reuniões sociais e esportivas da cidade.

    Qualquer um que passasse ali pela primeira vez ficaria de queixo no chão, contudo para aqueles dois thaienses que certamente cruzaram o local centenas de vezes não havia espaço para contemplações. Não demoraram a chegar ao Templo de Banor, que Arieswar tratou de abrir com seu grande molho de chaves para que pudessem entrar.

    Foi a primeira vez que ambos viram aquele imenso prédio completamente vazio. O átrio principal, de um branco-pérola intenso, agora ecoava a qualquer passo que dessem. Sua decoração suntuosa, diversas espadas, lanças, escudos e armaduras que representariam o poderio militar da cidade, agora davam ao Templo um ar sombrio. Um tapete vermelho percorria todo o espaço do átrio, inclusive ramificando-se para as diversas portas que ali existiam e para as duas escadarias principais, ambas em espiral, uma levando para o segundo andar e outra para o inferior. No teto, como Pepelu logo observou, lustres de vidro pequenos e redondos se dispunham em torno de um único maior e cravejado de cristais.

    Arieswar fechou e trancou as portas do templo e começou a mostrar a Pepelu aquele que seria seu novo local de trabalho. Antes, porém, hesitou:

    - Pra falar a verdade...eu deveria convencer nosso caro amigo Natarde a aceitar o cargo de Tribuno. Contudo já que você é o novo escolhido e, cá entre nós, já está convicto o suficiente, será que precisamos mesmo disso?

    - Sua má-vontade me surpreende. – respondeu Pepelu rispidamente, os olhos brilhando de excitação – Isso aqui é fascinante e eu gostaria de conhecer melhor.

    - Terá tempo suficiente para conhecer o prédio mais tarde. Isso é, supondo que você se mantenha no cargo...

    - Se depender disso, terei tempo sim. Ao menos vendo o nível de exigência para ser aceito pelo rei.

    - Pelo menos você demonstra ser um homem de opinião, embora ela não me interesse nem um pouco.

    - Você vai me mostrar o templo ou vai ficar fazendo considerações sobre mim? Para isso eu já tenho uma esposa, sabe?

    Sem mais palavras Arieswar tomou a dianteira e foi mostrando-lhe as diversas salas do local, informando a serventia de cada uma. Pepelu invariavelmente impedia que o cavaleiro apenas abrisse e fechasse portas, entrando em cada ambiente e dando-lhe atenção demasiada. Justamente por isso Arieswar considerou não chegar perto da principal sala de reuniões, onde o fascínio aborrecedor de Pepelu seria maior e mais sincero, mas isso era inevitável.

    O salão principal, no andar inferior, organizava-se como um anfiteatro; bancadas de mármore formavam degraus que rodeavam um palco principal situado no nível mais baixo. Decorando as paredes, além das próprias janelas que de tão belas podiam ser consideradas obras de arte, haviam afrescos e quadros dos mais variados pintores retratando grandes passagens da história da cidade. No teto uma imensa abóbada formava um mosaico do semi-deus Banor.

    Pepelu fez questão de descer até o centro, acompanhado de perto por Arieswar, que usava de sua presença como forma de apressá-lo.

    - É aqui que uma minoria responde pela vida de todos? – perguntou o audacioso arqueiro, divertindo-se com a irritação de Arieswar.

    - É aqui que o magistrado tenta dar boas condições aos cidadãos thaienses, independentemente da sua mediocridade.

    - Deve ser muito bom ser importante, Arieswar, mas importante mesmo é ser bom.

    - Não creio que seja você quem deve julgar nossa competência. Eu mesmo não questiono o fato de você estar aqui por uma indicação de um amigo.

    Aquela frase tocou a ferida de Pepelu. Mais uma vez lhe veio a lembrança juvenil de ser a sombra do capitão Natarde. Um ódio crescente subiu como o sangue fervente para sua cabeça e ele se viu estraçalhando Arieswar com todas as forças que Banor fizesse aflorar em seus músculos.

    - Que besteira. – rebateu com os dentes cerrados - O que seria minha indicação por Diogo comparado ao que fez seu grande padrinho, o falecido rei Yorik? Não é por causa dele que está aqui agora e não lavando as botas de um nobre qualquer numa colônia de merda?

    - Não são reis que fazem cavaleiros, seu tolo, mas sim suas ações. Mas tenho todo o direito de ser grato a Yorik assim como você o tem ao lamber o traseiro do capitão.

    - Pelo menos minha família não acha isso. E sua família, o que acha de você?

    Num movimento de incalculável rapidez, Arieswar desembainhou sua espada e roçou a lâmina na garganta de Pepelu.

    - Me dê um motivo. – ele rosnou – Eu te imploro.

    Pepelu levantou a mão no instintivo movimento de lançar algum golpe mágico, mas outro leve toque da espada no seu pomo-de-adão fez ele repensar.

    - Direi ao Conselho que a missão foi dada por cumprida, apesar da falta de cooperação do seu ex-novo encarregado. Vou sair à sua frente e espero que me siga rapidamente, caso contrário passará sua noite de Fechar de Estações conhecendo melhor o ex-ambiente de trabalho.

    Pepelu estava lívido de raiva, mas nada podia fazer. Arieswar subiu cada degrau do salão praguejando aquele folgado que fora deveras ousado com ele. Subiu a escada em espiral e já se achava a altura do átrio principal quando uma rajada de energia passara zunindo seu ouvido.

    - Não se preocupe. – falou Pepelu, a mão ainda levantada – Essa foi só para alertar.

    Arieswar sentia o sangue pulsar mais forte. Ele adorava essa tensão, mas naquela ocasião precisava se controlar:

    - Ouça, Pepelu, vou te dar uma chance porque você tem uma mulher grávida em casa. Abaixe essa mão e não faça a besteira de tentar lutar comigo. Mesmo que você tivesse poder para isso, não tem nem uma fração do treinamento.

    - Por mais que o povo te considere um herói, não permitirei que manche minha honra diante da minha família só pelo fato de eu não poder descontar na mesma moeda. Eu estou disposto a lutar com você, seu cretino.

    - Minha família é a cidade de Thais. E agora ela corre o sério risco de perder um membro!

    Os guerreiros estavam a ponto de um combate. Pepelu se viu sem seu precioso arco, mas muitas das armaduras decorativas dispunham de poderosas lanças e não foi difícil para ele arrancar a que estava mais próxima de si. Arieswar desembainhou sua espada e a partir daí deixou que todo seu espírito guerreiro aflorasse; e ele entendia daquilo como poucos.

    O cavaleiro partiu para cima e Pepelu, sem perceber a loucura que era tudo aquilo, ficou na defensiva, bloqueando os golpes de espada com sua lança. Arieswar então aplicou-lhe uma rasteira que fez com que ele caísse e desse de costas com o chão duro e frio. Antes que o cavaleiro pudesse atacá-lo de novo, porém, Pepelu soltou uma rajada de energia à queima-roupa, obrigando o adversário a recuar.

    Pepelu se pôs de pé e foi agora o atacante, mas Arieswar desviava-se dos seus golpes com uma facilidade monstruosa. Na primeira brecha do arqueiro ele ainda aproveitou para dar com o cabo da sua espada no nariz do adversário. Pepelu tombou para trás levando à mão ao rosto que agora sangrava. O chão branco-pérola começava a ganhar manchas vermelhas.

    - Já vi que posso ganhar de você com apenas uma das mãos. – vangloriou-se Arieswar.

    Pepelu olhou para ele com espanto. O cavaleiro posicionou um braço atrás das costas e lá o deixou. Sem cerimônia, atacou novamente.

    Aquela foi uma exibição impressionante. Mesmo utilizando apenas um braço Arieswar conseguia levar enorme vantagem sobre o oponente. Seus ataques eram tão rápidos que não permitiam reação. Num breve momento em que sua espada parou de girar freneticamente no ar, Pepelu chegou a vislumbrar a possibilidade de golpeá-lo, mas antes disso recebera um chute no abdome tão forte, que fez seus olhos lacrimejarem instantâneamente, e as mãos, trêmulas, deixarem a lança cair.

    - Percebeu o abismo que existe entre nós?

    Eis que o arqueiro puxa do seu cinto uma flecha e tenta enfiá-la no pescoço de Arieswar. Centímetros antes da ponta perfurá-lo, contudo, o cavaleiro usa sua espada e a corta pelo talo. A surpresa de Pepelu fora inútil.

    - Idiota! – esbravejou Arieswar – Acha que não percebi que você tinha um plano ridículo desses? Eu não sou um Guerreiro da Corte à toa!

    Pepelu agora se via numa péssima situação. Sua estratégia falhara e o homem com quem lutava era muito mais habilidoso do que ele. Mesmo que usasse toda sua magia sabia que não seria o suficiente. Ao ver Arieswar brandir sua espada mais uma vez sua cara de assustado deve ter sido tão ridícula que o cavaleiro riu.

    - Sinceramente, dá pena de acabar com alguém assim, mas eu já fiz coisa mui...

    O cavaleiro parou a frase pela metade. Alguém estava milagrosamente à porta do templo, a mão erguida como se tivesse arremessado algo. De fato, ao ver que Arieswar tombara no chão, Pepelu notou uma adaga cravada nas suas costas.

    - Diogo! – gritou o arqueiro, tomado pela felicidade.

    - Passei aqui para ver como as coisas iam. – e ele mostrou seu chaveiro de caveira com a mágica chave-mestra que podia abrir quaisquer portas – Não sei o que ele te fez, mas achei que devia me intrometer nessa batalha.

    - Eu só espero – disse Arieswar, levantando-se, arrancando a adaga das costas e jogando-a longe – que chegue a ser uma batalha!

    Diogo e Pepelu postaram-se lado a lado. Não pôde deixar de passar pela cabeça do arqueiro que mais uma vez seu amigo estava ali para resolver alguma coisa que não tinha sido competente o suficiente para fazer sozinho. Então, juntos, iniciaram um ataque.

    Experiente, Arieswar movimentou-se rapidamente e os dois tiveram que brecar para não se chocarem. O cavaleiro então acertou simultâneamente um chute no peito de Diogo e um soco na barriga de Pepelu. Mesmo aturdidos com o golpe, partiram para um novo ataque, dessa vez um pela frente e outro por trás do cavaleiro. Novamente Arieswar não se exaltou e, com um giro sutil da espada, ameaçou-os de tal modo que Pepelu chegou a sentir alguns fios de seu cabelo sendo cortados.

    Diogo então partiu para um combate corporal solitário, enquanto Pepelu deu vários passos para trás e concentrou toda a energia que possuía para usá-la numa grande rajada. Arieswar, percebendo o plano, voou para o capitão Natarde, agarrou-o pelo colarinho e arremessou-o na direção de Pepelu. O arqueiro se viu obrigado a conter sua técninca especial, e com isso perdeu o tempo necessário para esquivar-se do amigo. Os dois bateram cabeça com cabeça.

    - Droga, achei que depois da adaga ele ficaria mais abatido. – comentou Pepelu.

    - Ele é mesmo muito forte, Pepelu, mas acho que talvez possamos vencê-lo.

    - Tem alguma idéia?

    - Primeiro se concentre na luta. Ele vem vindo!

    Arieswar tentou atingir os dois com sua espada, mas Diogo rolou para o lado enquanto que Pepelu pulou para trás. O cavaleiro preparava um ataque para o arqueiro quando percebeu que o capitão queria pegá-lo pela retaguarda. Foi quando, num chute preciso, ele acertou o rosto de Diogo, que fora aremessado a metros de distância, chocando-se violentamente contra a parede de mármore. Um filete de sangue escorreu da sua cabeça e ele agora parecia desacordado.

    - Acho que terei de brincar um pouco com você agora. – disse sadicamente Arieswar a Pepelu.

    O arqueiro tentou correr, mas seu adversário segurou suas pernas e jogou-o para cima. Descrevendo um arco no ar, Pepelu rodopiou e caiu de pé, mas Arieswar o recepcionou no solo com uma joelhada nas costelas. Pepelu bambeou de dor e não teve como escapar da sequência de golpes que se seguiu. Com requintes de crueldade Arieswar pegou sua cabeça e arrastou pelo corrimão da escadaria em espiral. Depois disso forçou seus dois joelhos num movimento oposto ao natural, o que levou Pepelu ao chão imediatamente, sem conseguir levantar-se novamente.

    O arqueiro tossiu o sangue acumulado em sua boca por todo o chão. Seu corpo já estava em frangalhos e a dor que sentia era pior que a morte. Enquanto isso, Arieswar judiava:

    - Esse é o preço que se paga por querer lutar com um guerreiro de elite, seu cachaçeiro folgado. Você foi muito precipitado e quero que sofra bastante para lembrar disso para sempre!

    O cavaleiro pisava nos ossos do adversário como se quisesse partí-los ao meio. Foi quando uma rajada de energia surpreendentemente vinda do arqueiro o atingiu diretamente no rosto.

    - Não...contava com essa né? – riu Pepelu – Mas esse foi...meu último golpe. Pode fazer de mim o que bem enteder agora.

    Arieswar se contorceu de raiva. Aquela rajada o atingira em cheio e sua visão estava completamente embaçada. Voltou a pisar o corpo de Pepelu quando uma nova rajada o atingiu, desta vez lateralmente. O capitão Natarde estava novamente de pé.

    - Não...nos subestime.

    Arieswar deu dois passos a frente e esperou que Diogo viesse. O capitão correu em sua direção e, para surpresa do cavaleiro, jogou-se contra ele. Aquilo parecia suicídio, mas quando Arieswar tentou detê-lo percebeu sua tática.

    Com a colisão Diogo empurrou ambos às escadas. Arieswar tentou em vão se manter de pé, mas rolou escada abaixo, batendo com a cabeça em cada degrau. O capitão, por sua vez, calculou bem o movimento e conseguiu se segurar no corrimão. Olhando de relance, ele viu as marcas de sangue pela escadaria e o corpo estatelado de Arieswar no andar inferior. Agora tinha que ter acabado; ninguém resistiria a uma queda daquelas.

    - Muito...bem...Diogo!

    O capitão soltou um suspiro de alívio. Conseguira.

    Cambaleou até onde estava Pepelu e sentou-se ao seu lado.

    - Essa foi por pouco. Por vários momentos achei que não iríamos conseguir.

    O arqueiro ainda arfava de dor, mas esforçou-se para dar um sorriso de canto de boca.

    - Ele...morreu?

    - Ah, eu suponho que sim. – respondeu Diogo com tranqüilidade – Venha comigo, você está acabado. Segure em meu ombro que eu te levo.

    Apoiando-se no capitão Natarde, Pepelu ficou de pé. Mais uma vez se impressionara em como Diogo sempre estava presente para resolver seus problemas, por mais que eles parecessem tão impossíveis quanto derrotar um guerreiro da corte. A velha sensação de inferioridade que o fazia reconhecer que o capitão merecia justamente a preferência que sempre tivera novamente o tomou enquanto cruzavam o átrio.

    O local, por sinal, estava bem diferente de quando entrou ali com Arieswar. Manchas de sangue estavam espalhadas por todo o lado, acompanhadas de rasgos no tapete, rachaduras na parede, armas jogadas pelo chão e até mesmo alguns quadros caídos e danificados. Quem quer que entrasse ali certamente levaria um susto, mas nada comparado ao que sentiria quando achasse o corpo de um dos guerreiros da corte sem vida no andar inferior.

    - Esse Arieswar realmente era um guerreiro e tanto. – comentou Diogo – Tivemos muita sorte em meu plano despretensioso dar certo.

    - Mas, e agora. Diogo? Nós matamos um dos guardas pessoais do rei. Temos que fugir da cidade!

    - Está louco, Pepelu? Nos caçariam em qualquer lugar do mundo. Temos que explicar a situação perante o Conselho e torcer pra que Tibiano realmente torça o nariz para Arieswar, como andam dizendo, e fazer com que se cumpra a lei. Ela nos dá o direito de tirar a vida de qualquer guerreiro num combate justo e de concordância dos dois lados.

    - A desgraça é que esse cara era um herói. O povo não vai querer saber de merda de lei nenhuma.

    - Pois é. Não quero nem imaginar o enterro dele.

    - E SE EU ENTERRAR VOCÊS PRIMEIRO?

    Empapado em sangue e com o rosto transtornado de fúria estava a figura imponente de Arieswar. Terminava agora de subir o último degrau da escadaria e Pepelu pôde notar as pegadas vermelhas que este deixava quando chegou ao átrio. O medo voltou a tomar conta do seu corpo.

    - Não acredito que vou usar isso com vocês, vermes! – murmurrou ele – Exori.

    Alguma coisa muito estranha aconteceu ao corpo de Arieswar. Seus músculos pareceram inchar repentinamente, assim como suas veias, que ficaram mais à mostra; suas pupilas dilataram-se e o sangue que escorria da cabeça simplesmente parou de fazê-lo. Aquela era, como gostava de chamar, a sua fúria.

    O renovado cavaleiro correu para alcançá-los enquanto Diogo, paralisado de pânico, não se mexeu, sendo atingido por um pesado murro no tórax. Pepelu, atingido por tabela, foi ignorado por Arieswar. O foco da sua fúria era mesmo o capitão Diogo Natarde.

    - Você – ele falava, babando sangue – é muito ousado! Se eu não fosse tão forte com certeza teria morrido. Agora vai me pagar por isso!

    Arieswar enchia-o de socos e pontapés. Diogo não conseguia fazer nada nem para esquivar-se do seu ímpeto, quanto mais para contra-atacar. Insatisfeito com o resultado, o cavaleiro foi até onde estava sua espada, pegou-a e voltou para terminar o serviço. Acertou o rosto do capitão diversas vezes com o cabo da sua arma, evitando dar uma pancada que o matasse de vez.

    - Sofra! Sofra! Você sofrerá muito antes de morrer!

    O enlouquecido cavaleiro tomou uma distância maior e estava prestes a dar o golpe derradeiro quando uma idéia veio à mente de Pepelu. Apontando para o teto ele soltou uma mínima onda de energia que seu corpo conseguira produzir. Ela cruzou o átrio para atingir em cheio a corrente que segurava um dos lustres secundários do local, que imediatamente se partiu. O grande lustre de vidro desabou bem em cima de Arieswar.
    Cacos de vidro voaram para todos os lados. Diogo precisou usar suas últimas forças no relfexo de cobrir os olhos para que estes não fossem perfurados. O barulho ecoou intensamente por aquele átrio completamente vazio, até que, aos poucos, cessou.

    Pepelu recostou a cabeça no chão frio. Respirou fundo, sentindo com isso as fraturas em seu tórax arderem. Era, entretanto, uma respiração de alívio, e não de dor. Dali ele ouvia também um ofegante Diogo arrastar-se entre os cacos para se afastar do corpo de Arieswar, como se ainda temesse que outros objetos caíssem do teto.

    Os amigos se entreolharam. O capitão fez um aceno com a cabeça para Pepelu, agradecendo a ele por ter salvo a sua vida, e este se encheu de orgulho. Certamente no saldo total ainda estava devendo, mas naquele momento em especial fora ele, Pepelu, quem salvara a vida de Diogo; e não o contrário.

    A partir daí um outro som se fez audível no átrio. Metal sendo arrastado e mais vidro caindo na mármore. Dos destroços do lustre saía Arieswar.

    - Não...é...possível! – choramingou Diogo – Será...será que é imortal?

    O cavaleiro, assim como o vidro que agora se espalhava pelo ambiente, estava em cacos. Mal conseguia pôr-se em pé, mas com um esforço sobre-humano alcançou novamente sua espada. Pepelu perdeu as esperanças.

    Num último suspiro, o arqueiro virou-se para a grande porta que o separava da liberdade. Entreaberta, ela deixava entrar um raio de sol naquele que para tanta gente era um dia de festa. O inesperado aconteceu quando aquela tira de luz foi aumentando e aumentando, revelando uma sombra salvadora. A silhueta de um homem foi tudo o que vira antes de desmaiar.

    ··Hail the prince of Saiyans··

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