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Tópico: O Outro Lado da Lua Cheia

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  1. #1
    Avatar de Manteiga
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    Hora de atualizar! Eeeee. Bom, comparando com minhas tramas anteriores essa ficou curtíssima, pelo meu planejamento deve ter entre 20 e 25 capítulos. Mas devem ser uns 23 =p

    Mas não quer diser que será curta. Já to com 65 páginas no world e quinze capítulos escritos, tem muita coisa pra acontecer ainda XD

    Bom, sobre o capítulo. Apesar de não parecer, o que ocorre nele é realmente muito pouco. Mas ja nos dá uma boa idéia da sociedade da época (na minha concepção) e apresenta o segundo personagem principal da história.

    Capítulo Dois
    Encontro

    - O CÉU ESTÁ NO CHÃO. - Dissera Sir Isaac Evans certa vez, parado junto à janela do corredor do segundo andar. Seu corpo voltava-se em direção à varanda, mas a face permanecia paralisada na visão do horizonte. Os olhinhos pretos se perdiam na imensidão. Dawn estava com ele, abraçada à sua perna, a cara sofrida. Forçava a face na vã tentativa de fechar os ouvidos ao som dos trovões do lado de fora. Sir Isaac afanava sua cabeleira desgrenhada com aquela mão seca. Só agora ela percebia como não havia emoção naquele gesto tão falsamente paternal.

    Sir Isaac fechou os olhos e baixou-se, ficando na mesma altura da jovem Dawn. Encarou-a e em sua face formou-se um leve sorriso quando viu a expressão de medo em seus grandes olhos.
    - Venha cá. - Disse em um tom mais de ordem. Não foi uma necessidade ou um pedido, um carinho à parte. Foi sim uma ordem. Sequer esperou uma resposta e puxou-a para perto de si, abraçando-a meio sem vontade, como que por obrigação. - Tudo ficará bem. Eu prometo que nada nunca irá te acontecer, minha rainha.

    Chovia. Não era uma chuva forte, tampouco uma simples garoa. Os pingos d’água do tamanho de grãos de arroz despencavam do céu, esborrachando suas formas no chão de pedra tão frio. Ainda chicoteavam nas paredes com certa força, provocando estalidos fantasmagóricos. A neve já havia derretido. Não caía mais gelo do céu. O céu já não está mais caindo, afinal. Pensou a jovem Dawn, em um desamparo melancólico. Pelo menos não literalmente.

    Queria voltar para casa. Se é que podia chamar o canto que Arthur lhe dera em sua mansão campestre de casa. Estava morando no pequeno depósito no jardim, afastada de todo o contato possível com ele e, sobretudo com os convidados, que gostava de chamar quase que todas as noites. Mesmo sem poder, Dawn gostava de aproximar-se da casa na calada da noite, enquanto Arthur trabalhava em seus modelitos. Observava-o trabalhar e sentia-se dentro dos vestidos de veludo, calçando os sapatos finíssimos para a noite e as jaquetas de couro tingido. Usava ainda jóias caras e exuberantes, grandes como seus expressivos olhos.

    A simplicidade deprimente de seu casebre nos jardins enlameados agora lhe parecia tão aconchegante... Tinha pelo menos como se aquecer, tinha uma cama... Mas ainda assim, de um jeito ou de outro, não vivia com seus méritos. Era uma abrigada como sempre fora, uma miserável que só ganhou abrigo e comida por uma dose de pena que provavelmente passaria logo. A única coisa que mudara é que Fletcher tivera a hombridade de admitir que só a estar acolhendo por pena.
    - Regresse apenas quando todos os folhetos forem entregues. - Dizia todas as vezes que saía de casa para trabalhar. Nos primeiros dias fora difícil, estava vestida ainda como miserável e era atormentador distribuir porcarias na rua mais movimentada da cidade, ironicamente a em que se localizava a varanda que conhecia tão bem, onde Sir Isaac gostava de passar o fim de tarde. Apesar disso, nunca o vira lá depois de sua partida. Perguntava-se como estava, se estava bem, se sentia sua falta de verdade. Pro inferno com ele! Era o que queria pensar.

    Com o passar do tempo, foi ficando pior.
    Mesmo com roupas mais adequadas, uma postura melhor e a face limpa, Dawn era enfrentada com olhares frios e intolerantes, como se os cidadãos thaienses reprimissem um ódio aos mendigos ou trabalhadores das ruas, ou ainda a ela própria. Vivia afastada demais para saber se o fato de sua fuga vazara, se as pessoas a procuravam ou a tinham como morta. Só via refletidos nos olhares impiedosos daqueles que nela esbarravam os sentimentos mais cruéis que já imaginara.

    E a distribuição dos folhetos ia de mal à pior. Nos três primeiros dias conseguira distribuir alguma pouca coisa, mas nada significativo. Voltara diversas vezes para a residência e tentara persuadir Arthur.
    - Não terminou ainda. Como quer pagar pela sua incômoda estadia se não trabalhar direito? Volte lá! - Era tudo o que ele tinha a lhe dizer, quase expulsando-a. A partir daí, em uma injeção de ousadia e uma coragem de desafiar as regras que sequer acreditava ter, habituou-se à esconder uma grande parte dos papéis nos esgotos, vendendo o resto para algumas lojas de reaproveitamento. Com o dinheiro comprava alguma coisa para comer, geralmente na taverna do Frodo, às vezes de viajantes que não conheciam sua história. Dizia a Arthur que as coisas estavam melhorando e que até recebera trocados de algumas madames após certos dias de espera.

    Mas o prometido dia em que sua situação melhoria não chegava. Pelo menos até aquele fim de tarde melancólico.

    Sons vieram da distância, ecoando. Dawn estava sentada na lama, escorada à mansão que por anos habitou, abaixo da sacada. Não que o teto improvisado ajudasse muita coisa. A chuva vinha transversalmente. Com os dentes batendo e a pele arrepiada, ergueu os olhos por entre os cabelos sujos e molhados para ver uma suntuosa carruagem ricamente decorada com o selo real parar perante o estabelecimento logo à frente. Dawn ergueu-se, caminhando para junto do cocheiro, estendendo para ele um dos folhetos. Ele negou. Ao som do relincho dos cavalos brancos, deu a volta na carruagem e viu a porta dourada abrir-se. Do prédio de pedra saiu um homem coberto por uma capa preta. Vestia-se bem, andava bem. Era alto, corpulento. A face trazia uma expressão dura e os olhos de cor indecifrável buscavam as escadinhas para entrar. Ele parou ao ver Dawn. Indecorosamente, ela estendeu um dos folhetos molhados para ele, os olhos carregando uma súplica. Ele pegou carinhosamente o papel e o enrolou com todo o cuidado, guardando-o nas vestes negras. Devolveu um olhar complacente e entrou na carruagem, sem dizer uma palavra.

    E o veículo partiu, perdendo-se na distante névoa.

    ***

    Varkhal Lins era um homem de sorte. Tinha uma posição privilegiada em relação à sociedade thaiense, tinha mais dinheiro do que sua conta bancária podia manter, tantos flertes quanto podia e de quebra uma acomodação invejável. Tinha uma capacidade intelectual acima da média e um corpo esculpido pelos deuses. Eu sou perfeito, costumava pensar.

    Era o mais jovem, mais popular e um dos mais importantes parlamentares da capital. Eleito já há três anos com uma esmagadora vantagem de votos, Varkhal sabia perfeitamente que sua popularidade repentina dava-se única e exclusivamente pela sua beleza física estonteante. E daí? Pegava-se pensando. Pelo menos eu sou um dos homens mais poderosos de Thais. De fato, sua posição política e os poucos milhares que recebia mensalmente lhe tornavam um ser temido pela grande maioria. Além disso, tinha uma capacidade de raciocínio rápida e monstruosa, que lhe permitia sair por cima em qualquer situação, fosse ela favorável ou desfavorável. Não era à toa que em poucos meses o rei Tibianus I pediu-lhe que assumisse uma cadeira um pouco mais importante no parlamento. Um ano depois ele já trabalhava diretamente com o rei e era responsável por muito mais do que podia cuidar, o que o fazia silenciosamente negligenciar alguns casos menores. Nenhuma queixa nunca fora registrada, então não havia problema.

    Na verdade, nenhuma queixa era registrada simplesmente porque todas as pessoas na cidade atingidas direta ou indiretamente pelas ações de Varkhal sabiam que era uma tolice desafia-lo. Ele era - e sabia disso - uma das poucas pessoas no mundo que sabiam verdadeiramente usufruir do poder que possuíam. Suas influências e conexões o tornavam suficientemente perigoso a ponto de jamais sequer ser contrariado. No parlamento, porém, ainda encontrava dificuldades em superar os membros mais antigos. Mas mesmo tendo muito mais do que podia, Varkhal ainda achava-se pequeno.

    Suas liberdades terminavam onde começavam as implicações reais. Não tinha poder para comandar o exército, a economia, os templos ou qualquer outro estabelecimento público. Não podia mandar nas pessoas que passavam na rua, apenas esfregar na cara delas a superioridade que tinha, mas que mantinha reclusa por questões óbvias. O povo o botara lá, e, o mínimo que ele podia fazer, era fingir que estava agradecido por causa disso. Como se eu sozinho não pudesse chegar a tanto...

    A guerra de Thais contra os orcs se arrastava já há mais de dez anos e graças a isso vinha castigando o desenvolvimento da capital. E com o Projeto Carlin, a situação ficava cada vez mais insustentável. Varkhal sabia que Tibianus estava sobre pressão constante do parlamento e dos civis, o que fazia da guerra o momento perfeito para dar o bote e afastar o velhote da monarquia de vez. Um golpe bem planejado não poderia ser detido, e, se o exército se aliasse à Varkhal, a hegemonia thaiense jamais seria quebrada e enfim ele teria um pouco mais do que tinha antes. Mas ainda seria pouco.

    O problema era que, até que chegasse esse dia, era preciso calcular tudo com extrema calma. E até lá, era de extrema necessidade manter as aparências e delongar as relações do rei com a “diplomacia” orc. Era justamente por isso que Varkhal descera de sua magnífica carruagem naquela tarde chuvosa para ter com o rei. Mas foi barrado logo na entrada do castelo, por um guarda metido. Costelloe devia ser seu nome.

    - Preciso de imediato ver o rei. - Tentara argumentar, com a cara mais lavada do mundo.
    - O rei está em reunião secreta com os líderes diplomatas. Tenho ordens de impedir a entrada de qualquer um no castelo hoje.
    - Mas eu sou Varkhal Lins!
    - Qualquer um. - Costelloe disse com tamanha imposição que Varkhal teve que ceder. Era melhor não criar intrigas com os empregados diretos do rei. Não ainda.
    - Diga a ele então que estive aqui. E que é relativo à guerra. Sabe como me importo com essas circunstâncias terríveis, não é?

    Voltou para sua bela casa de dois andares, feita de tijolos caríssimos e decorada com o melhor que a decoração estrangeira podia oferecer. Tapeçarias coloridas e religiosas do deserto de Ankrahmun desenhavam um museu à parte na parede. Vasos e esculturas de Darashia enfeitavam as mesas de madeira de lei extraída de Rookgaard e diversos móveis caros entalhados por mestres anões de Kazordoon ocupavam os demais lugares. No cair da noite, preparou-se para dormir em sua gigantesca cama de ouro puro, no segundo andar. Despiu-se e, ao retirar as calças, percebeu um som estranho. Enfiou a mão no bolso e logo retirou um punhado de farelos de algum papel estranho. Varkhal tentou e tentou recordar-se quando e como o tal escrito fora parar ali, mas nada veio à sua mente.

    Largou os farelos em um vaso de porcelana pintado à mão com figuras religiosas do deserto de Jakundaf e deitou-se, cobrindo-se com o cobertor de linho. E nunca mais voltou a pensar naquele papel.
    Uma consideração sobre o parlamento: eu decidi amparar o governo de Tibianus I com um parlamento, por motivos futuramente revelados.

    Manteiga.

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    Dezesseis anos depois, estamos em paz.

  2. #2
    Avatar de gorner
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    Esse último capítulo foi mais informativo, admito que gostei mais do capítulo I, mas está bom sim, espero os próximos =D
    Inri-Locke.
    Pode acreditar... eu fui enviado pelo ''meeeu PÁI''



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