Falando nele, aí vai!
CAPÍTULO 9 - E VOCÊ, CAPITÃO, É O PRÓXIMO!
A Rainha Eloise estava na janela de seu Castelo, observando atentamente os portões da cidade, como quem esperasse a chegada de alguém. De Svan. A preocupação da mulher não era pequena, seu cavaleiro havia saído para defrontar um demônio. Todas as crenças e confianças de Eloise em Crunor cederam, naquele momento. O assombro de igual circunstância vinha da direção de Thais, onde Melchior e Tibianus III ainda travavam sua sangrenta batalha. O quarto perfumado da Rainha mal fazia-a lembrar-se da situação hostil na qual se encontrava a mais ou menos uma hora atrás. A cama, que tinha um cobertor de veludo impecável, somada à pintura das paredes e o chão de ouro assentado, dava à Rainha uma falsa sensação de sono. A curtíssima camisolinha provocante lembrava a ela, também, o beijo que ganhara de Svan. Mas aquilo certamente não dava à Rainha a tranqüilidade que ela desejava. Svan corria risco. Grave risco.
Caminhando incessante porém vagarosamente pelo quarto, Eloise lembrou-se de tudo que fez com que Svan tornasse-se o Capitão dos Capitães da Armada que levava seu nome. A trincheira na guerra de Darama, todo o aprendizado em Rookgaard, e como cresceram juntos, como o cavaleiro a tirava do Castelo onde seu pai praticamente a mantinha prisioneira para fazerem suas artes na cidade. Lembrou-se de como era divertido roubar o capacete do velho Melchior, só para vê-lo rindo, depois de um bom tempo enfurecido tentando procurá-lo. Lembrou-se de tudo. Com o rosto colado ao espelho, sentiu uma lágrima rolar pelo seu rosto. Mas alguma coisa chamou sua atenção. Caminhou rapidamente para a janela, e viu na direção de Northport uma nuvem negra.
- Mal sinal.
***
O orvalho da noite era escorregadio para Svan. O cavaleiro caminhava sob firmes passos, mas estes oscilavam de vez em quando, quando ele escorregava em alguma plantinha molhada no caminho. Tudo já estava ajeitado. Quando ele chegou na pilha de pedras que bloqueava o acesso às cavernas, já havia uma pá do lado de fora. Arksoul astuto, não? Enquanto abria o buraco novamente, Svan pensou na Rainha Eloise. Naturalmente, se morresse, o último encontro entre ambos teria sido no beijo, o único beijo de toda a vida, de cada um deles. Desceu na caverna com um pouco de dificuldade. O ambiente era hostil e estreito: várias gotas de água fétida e podre, vinda dos bueiros e dos encanamentos de esgoto da cidade de Northport. Alguns pequenos ratos e aranhas eram facilmente mortos pelo Capitão, que caminhava com a mão esquerda estendida, de onde saíam fracos feixes de luz. Os golpes com a espada eram precisos, apesar dos errantes passos no irregular chão de terra. Encontrou um jardim subterrâneo. Como diz a lenda. Descendo no único buraco presente, havia uma alavanca. Realmente, como diz a lenda! Svan estava assustado. Tudo que tinha ouvido sobre Demona, tudo que sempre ouvira ser lenda, era verdadeiro. Puxou a alavanca, travando-a e posiocionando-a para o lado direito. Subiu novamente, e seguiu o caminho em direção à passagem que abrira. Uma gigantesca porta brilhante estava bem no meio do caminho. Ao atravessá-la, esta deteriorou-se. Não tem mais volta.
Enquanto andava, Svan não pode deixar de notar que a caverna estava muito larga para a ocasião. A alguns passos atrás, ele espremia-se para poder passar no estreito caminho, e naquele momento sabia que naquele largo caminho caberiam pelo menos três dele. Algumas tochas estavam acesas, presas à parede, como que criando um caminho. Havia uma bifurcação: por uma, havia um segmento de tochas, por outra, breu completo.
- Pela lógica, o caminho de tochas deve ser o verdadeiro.
Svan seguiu sua intuição. Em alguns minutos, o chão de terra batida transformara-se num categórico e negro chão de pedra-marfim brilhante e em alguns momentos até mesmo escorregadio. Svan olhou para o teto e, para sua surpresa, havia um enorme símbolo da Armada Inversa lapidado na mais perfeita descrição. À frente, apenas uma escada de concreto, e algumas inscrições em linguagem desconhecida num pequeno quadro negro. Parou em frente ao quadro, coçando o queixo, numa falsa tentativa de entender o que ali estava inscrito.
- Há, eu já sei - Svan tentava convercer a si próprio -, devo descer a escada.
Tentando manter o humor no ar, apesar de ter entre os seus sentimentos maiores o medo, Svan desceu. Era uma pequena sala, com alguns pilares e uns esqueletos humanos, dos que ousaram chegar até ali, também. Do lado esquerdo, um pequeno elfo não trouxe problemas ao Capitão, que com apenas um golpe, o matou. Svan seguiu em frente. Havia uma porta lacrada. Ele fez força e conseguiu a abrir. Que espécie de magia negra é essa?
- Estou sentindo a aura. O Incubo está próximo.
Caminhou por um longo corredor, que tinha um tapete vermelho impecável. Havia uma bifurcação. Direita ou esquerda? Seguiu pela direita. Um pequeno lance de escadas, para subir, e um barulho infernal de vozes. Svan prosseguiu.
Demona era a cidade dos poderosíssimos magos, chamados Warlocks. A construção torrencial de pedra e mármore preto trazia tom fantasmagórico ao local. Os Warlocks eram conhecidos por sua força inigualável entre os magos da mesma categoria, e tinham dominado facilmente a cidade, depois de sua construção pelos seres humanos normais. A aura mágica que envolvia o lugar era forte o suficiente para poder manter a força dos demônios fora, mas não foi capaz de deter o Incubo.
Enquanto caminhava dentro de Demona, ele teve a impressão de que uma seita demoníaca estava para se iniciar. Chegou próximo de outro lance de escadas, no fundo de Demona, que dessa vez, descia. O Capitão deitou-se no chão, pressionando a cabeça contra o mesmo, e fazendo com que seu ouvido tivesse mais precisão sobre o que acontecia lá embaixo.
- QUIETOS, DESGRAÇADOS.
As vozes cessaram-se.
- É chegado o grande dia, meus Warlocks! Melchior com certeza deve ter matado aquele desgraçado que é o único que sabe como me prender de volta nessa desgraça aqui, então, eu acho que eu já posso emergir.
A voz era seca, e ríspida. Amedrontadora. Svan sentiu um arrepio subir-lhe a espinha. A voz continuou.
- Começou com sangue, e com sangue vai terminar. Tá na hora de eu trazer esse planeta na xinxa e destruir tudo. De vocês, réles mortais, já não preciso mais.
Svan assistiu a tudo. Com um golpe só, o Incubo matou cerca de quarenta e nove Warlocks.
Como eu vou combater essa coisa?
Lá de baixo, o Incubo estava de costas para a escada.
- E você, Capitão, é o próximo!
Svan sentiu-se gelar.
***
O castelo de Thais poderia facilmente ser confundido com uma ruína qualquer. Alguns cidadãos de Edron apontavam dizendo "O que será aquilo?", ou "Fogos de artifício? Qual a comemoração?". Dentro do Castelo, a situação era outra. Dois dos mais poderosos magos do continente travavam uma batalha épica, e nenhum dos dois aceitaria sair derrotado. Mesmo porque, a derrota resultaria em morte.
Na parte interna do Castelo, Melchior tinha uma ligeira desvantagem: o terreno havia sido santificado pelo Rei, dando-o força extra. Tudo já estava planejado para a guerra. Mas Melchior tinha vantagem mágica no duelo, mesmo que nenhum dos dois pudesse ser considerado o vencedor, por hora.
- E então, Melchior? Seremos dois imortais engajados numa batalha épica até o fim da história da humanidade?
- Claro que não. Você pode desistir, se quiser.
Um novo golpe mágico, e Melchior desviou-se facilmente. Tibianus III estava claramente abatido. Mas a vitória começa em Demona... o pobre Svan não conseguirá defrontar o Incubo nem por cinco minutos. Com o rosto encostado ao chão, o Rei pode sentir o novo golpe que aproximava-se. Mas deste, não houve como desviar-se: pancada na certa, e novamente o seu corpo dava voltas no ar, em direção à parede, onde sofreria outro fortíssimo baque. Melchior estava de pé, posicionado com as duas mãos abertas, na direção do Rei.
- Vá em frente, Melchior. Termine com isto.
- Não hesitarei.
Mas rapidamente, Tibianus desapareceu. Usando-se com Melchior da mesma técnica que usou com Eloise, surgiu às suas costas, fazendo-o bater de frente com a parede, devido ao golpe mágico. Paredes... não haviam mais muitas paredes em pé no castelo. Toda a estrutura tinha vindo abaixo, nenhum dos dois magos controlara seu poder e Melchior certamente não se sentia sequer com a consciência pesada por destruir todo o Castelo de Thais.
***
Às oito da noite, aquela figura avermelhada, tenebrosa e com os quatro braços abertos gritava em frente a Svan, que permanecia de pé, com a espada embainhada, e sem medo. O Incubo já estava gritando por segundos, talvez minutos, na esperança de abater a vítima e não ter de realizar uma luta justa.
- Você tem algum problema mental? - Svan provocava-o. Neste instante, o grito cessou, e o Incubo passou a encará-lo diretamente nos olhos, pronto para atacar. Porém, nenhum movimento se seguiu. - Eu vou perguntar novamente: você tem problemas mentais, sua coisa feia e medonha?
- Tu deveria ter respeito comigo, seu bastardo.
- Ah, sim. Sob que circunstâncias?
- Melchior não me desafiou, e eu dei-lhe a vida de volta. Você não acha que eu posso fazer o mesmo por você?
- Isso não será necessário. Eu acabarei com você PRA SEMPRE, agora mesmo.
Desembainhando a espada, Svan permaneceu imóvel à frente do demônio, visivelmente determinado a acabar com aquilo de uma vez por todas.
- Se é o fim que tu quer, cavaleirozinho de sub-exército, é isso que eu vou lhe dar.
- Você não pode dar a vida, seu desgraçado. Apenas Crunor pode. Você é um ladrão de almas, nada mais que isso, só tem o poder de devolvê-las a seus corpos. Não seja idiota de achar que me surpreende. Fale menos, e faça mais.
Do golpe que se sucedeu, Svan desviou com muita facilidade. Algo o dizia que o próximo seria bem mais mortal.
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