CAPÍTULO 7 - VEJO VOCÊ NO INFERNO
Bambi Bonecrusher coordenava incessantemente o pelotão de obras da cidade. Carlin estava sendo reconstruída aos poucos, e realmente eram muitos os homens que na reconstrução trabalhavam. Eloise caminhava nas calçadas da cidade com um pensamento fixo - Svan estava dentro do Castelo Real em Thais. A druidisa-rainha não parava de pensar em formas de auxiliar o cavaleiro na busca interna por Olk. No entanto, para a Rainha, Mercy ainda era o traidor e ainda tinha a guilhotina em seu aguardo, e este também era um pensamento que tomava sua cabeça.
Meu homem de confiança... desgraçado.
- Rainha - Bambi se aproximava -, tenho ótimas notícias para sua alteza.
- Diga-me, Bambi! Sem cerimônias, estamos fora do castelo.
***
Svan percorria toda a escadaria leste do Castelo Real com certa velocidade. Encostado nas paredes, tentava fazer o menor ruído que fosse possível para não ser notado. Obviamente, se alguém visse o estardalhaço no quarto de Arksoul, com todas aquelas coisas quebradas, iria estranhar um pouco a coisa. E ele sabia o que era feito, nestes casos: inspeção geral. Mas seu pensamento estava fixo na retirada dos dois prisioneiros. Svan tinha tudo arquitetado, até mesmo a forma de sair, sem atrair atenções. Continuou descendo a longa escadaria quando deu de frente com uma bifurcação. Dois caminhos, um para a direita, outro para a esquerda. Svan olhou para as paredes claras, tentando re-montar a planta do Castelo que estava em sua memória - fotográfica, diga-se de passagem.
- Para a esquerda, aposentos reais. Para a direita, quartel general. É isso.
Seguiu pela direita onde encontrou novas escadarias. Estas, porém, eram bem mais tenebrosas e assustadoras que as outras. O chão, que até dois passos atrás era de assoalho de madeira impecável e sem um risco sequer, se transformara num chão de pedra arenosa e retangular, ofusca, de cor azul mesclado a preto. Mal havia espaço para o corpo de Svan passar, e ele ficou ponderando naquela situação de que forma levavam os prisioneiros por ali. Nas paredes, símbolos de punhos fechados contra mãos abertas levavam Svan a lembrar do símbolo que fez a Josh, antes de matá-lo: o símbolo real da Armada Inversa. No teto, uma imensa clarabóia dava mais ainda o ar tenebroso ao local: um verde-musgo caía levemente sobre as escadarias.
Svan encontrou então a carceraria. Um soldado dormia com as chaves amarradas ao pescoço. Ligeiramente, o Capitão retirou de seu bolso um pequeno pedaço de lenço, seguido de um pequeno frasco plástico. Encharcou o lenço com o conteúdo do frasco, removendo o excesso. Então, posicionou-se agachado atrás do soldado que dormia e pressionou firmemente o lenço contra o nariz e boca do mesmo.
Clorofórmio. O soldado desmaiou, desta vez desacordado pelo efeito da droga e não pelo sono. Svan tomou-lhe as chaves e seguiu em direção a uma grossa porta de madeira. Haviam cerca de doze chaves. Tentou cerca de cinco, até encontrar a certa. Com certa dificuldade, puxou o imenso trinco circular de metal da mesma. Com a porta escancarada, Svan entrou no corredor principal da cadeia. Não haviam prisioneiros nas celas. Apenas duas celas, no final do corredor, estavam ocupadas: Mercy e Olk estavam de pé, observando o Capitão.
***
- Então... Josh era o traidor, na verdade?
- Sim, Rainha. Essa informação me foi transmitida por Svan por telepatia.
Eloise fez cara de quem não acreditou.
Telepatia? Isso lá existe? E Bambi Bonecrusher sabia que este seria o espanto da Rainha. Mas preferiu não mais passar as informações - mas sim, deixá-la em contato direto com Svan. Aproximou as mãos da testa de Eloise e pressionou delicadamente a pele branquinha dela. Em poucos segundos, Eloise ouvia a voz de Svan, falando com ela com certa empolgação.
Ah, meu querido... você está vivo! Eu te amo, Svan!
***
Mercy e Olk seguiam Svan fielmente até a parte mais profunda da prisão.
Eu tenho certeza de que há uma saída por aqui. Svan sabia, de fato, que Arksoul já deveria estar sabendo do acontecido a Josh, e andava o mais rápido que podia. O caminho era único, e não havia rigorosamente
um preso nas celas. Elas estavam preparadas para receberem os soldados da Armada de Eloise, caso a Armada Inversa vencesse. Mas Svan, com técnica, estratégia e garra, virara o jogo muito rapidamente, sem nem deixar Arksoul com tempo para pensar. Tibianus III dormia, e não suspeitava de rigorosamente nada.
Eloise... eu tenho que voltar! Por você, meu amor!
- Svan - Olk fazia sua voz ser ouvida -, talvez você queira saber de uma coisa.
- Diga, Olk.
- Arksoul está a alguns metros daqui.
Arksoul descia sozinho as escadarias em direção às prisões. Svan sabia que não havia tempo para enfrentá-lo. Olhou para o cinto de runas, onde localizou a pedra mágica de desintegração passageira. Um disparo em Mercy, outro em Olk, e ambos estavam invisíveis. Ele apontou rapidamente para uma abertura no teto, e orientou-nos para que saíssem por lá. Havia um bote muito bem escondido, esperando pelos três... ou, talvez, apenas dois. Mercy e Olk saíram, enquanto Svan desembainhou a espada e permaneceu com os olhos fixos no corredor, esperando pela aproximação de Arksoul. Nada aconteceu. O Capitão permaneceu intacto no corredor - Arksoul, porém, nem apareceu.
É... Olk está ficando velho, mesmo! Virou as costas em direção ao buraco no teto, quando deu de frente ao capitão da Armada Inversa, que estava atrás de Svan o tempo todo.
- Olá, Svan. Fazendo uma visita ao meu Castelo?
Svan gelou.
Como esse desgraçado fez isso? Arksoul, porém, não tinha nenhuma arma.
- Svan, estou aqui para negociar. Josh ressucitou um demônio maldito, e se você não o parar, nada irá fazê-lo.
- Do que está falando, Arksoul?
- O Incubo, Capitão. O Incubo.
Svan gelou, talvez pela centésima vez no dia.
O Incubo? Por que motivos Josh ressucitou essa desgraça?
- A alma de Melchior ainda não foi absorvida por ele, Capitão. Neste exato instante, Josh está lá, em alma, tentando negociar a própria libertação. Mas Josh não tem mais utilidade para o Incubo: o demônio já está forte o suficiente para sair da toca, tranqüilamente.
- E como espera que eu o derrote? E o que ganharei em troca?
- Se você o fizer, ganhará o cessar de hostilidades contra Carlin. Caso contrário, estaremos em guerra. O Incubo está numa das cavernas de Northport, não sei ao certo qual. Ouvi Josh dizer que o ressucitou na entrada da cidade de Demona, e os Warlocks renderam-se a ele rapidamente. Se você for, tenha muito cuidado: um golpe pode ser fatal.
***
Nas mãos do Incubo, em Demona, estava um pequeno relógio prateado. A alma de Melchior se assemelhava a uma roupa, pendurada a um cabide num quarto comum. Era assim que Melchior, em alma, estava: pendurado em um cabide. Na frente do Incubo, Josh argumentava, sem sucesso. No pequeno relógio prateado, uma inscrição minuciosamente esculpida: M E L C H I O R. Este relógio já havia dado uma volta completa.
- Mas, senhor, eu fiz tudo conforme ordenou!
- Sim, Josh, eu e tu sabemos disso, meu amigo. Mas agora, tu não me serve de mais nada, consegue me entender, peão? Teu trabalho já foi cumprido, meu bom, o negócio é desfeito aqui. Tu me vendeu tua alma, Josh, sabendo das consequências que viriam caso você morresse, meu bom. Consequências devidamente explicadas, consequências aplicadas. Sinto muito, Josh. Vejo você no inferno.
O Incubo tomou a alma de Josh e devorou-a com voracidade desconhecida até mesmo pelo experiente mago. Depois de devorá-la, o Incubo virou-se para a alma de Melchior.
- Você tem mais uma volta no meu relógio, velho. Se teus amigos não vierem, meu bom, você morre pra sempre.
O demônio olhou firmemente para o relógio em suas mãos. Algo não estava certo. O relógio estava se desintegrando, e virando pó, pouco a pouco. Em segundos, não havia mais nada na mão do Incubo. Sem nada entender, olhou firmemente para a alma de Melchior, com ferocidade. Abriu a boca e os braços, e gritou com fúria infernal. Em seguida, avançou em direção à alma.