Capítulo 18 – Os cavaleiros do diabo.
Argos foi acordado por um pontapé. Uma pausa, depois um segundo pontapé e uma xícara de água fria no rosto.
- Crunor!
- Sou eu – disse Vince Farz. – O padre Hobbe disse que você estaria aqui.
- Oh, Crunor – tornou a dizer Argos. A cabeça estava dolorida, a barriga azeda, e ele estava enjoado. Piscou levemente com a luz do dia, e depois olhou para Farz com o cenho franzido. – É você.
- Deve ser ótimo ser tão inteligente assim – disse Farz. Ele sorriu para Argos, que estava nu na palha dos estábulos da taberna que compartilhava com uma das filhas da viúva. – Você devia estar bêbado como um lorde para enfiar sua espada nisso – acrescentou Skeat, olhando para a garota que puxava um cobertor para se cobrir.
- Eu estava bêbado – gemeu Argos. – Ainda estou.
Levantou-se cambaleando e vestiu a camisa.
- Havoc quer falar com você – disse Farz, bem-humorado.
- Comigo? – Argos pareceu ter ficado alarmado. – Por quê?
- Talvez ele queira que você case com a filha dele – disse Farz. – Nossa, Argos, olhe só em que estado você está!
Argos calçou as botas e vestiu a cota de malha, e depois apanhou as calças na sacola e vestiu um blusão de tecido por cima da cota. O blusão levava o emblema do mago Havoc Bohun de Edron, de três estrelas verdes e vermelhas sendo pisoteadas por um trio de leões. Argos jogou água no rosto, e depois raspou a barba com uma faca afiada.
- Deixa crescer a barba, rapaz – disse Farz. – Isso poupa trabalho.
- Por que o mago quer falar comigo? – perguntou Argos.
- Depois do que aconteceu na cidade ontem? – sugeriu Farz, pensativo. – Ele acha que tem que enforcar alguém como exemplo, e por isso me perguntou se eu tinha alguns bastardos inúteis de quem eu quisesse me livrar, e eu pensei em você.
- A julgar pelo que eu estou sentindo – disse Argos -, ele bem que poderia me enforcar. – Ele teve uma ânsia seca de vômito e bebeu um pouco de água.
Ele e Vince Farz voltaram para a cidade e encontraram Havoc Bohun instalado com toda a pompa. O prédio no qual seu estandarte estava pendurado devia ser uma sala de reuniões de corporações, embora talvez fosse menor do que a sala da guarda no castelo do mago, mas Havoc estava sentado em uma das extremidades enquanto uma série de requerentes clamava por justiça. Eles estavam reclamando por terem sido roubados, o que de nada adiantava, levando-se em consideração que eles tinham se recusado a entregar a cidade, mas o mago ouvia, delicado. Então um advogado, um sujeito com nariz de doninha chamado Belas fez com que ele prestasse atenção.
- Se sua senhoria – disse Belas, sorrindo de modo malicioso para o mago – não interviesse, a condessa teria sido estuprada por Sir Simon Skeat.
Sim Simon afastou-se para um lago da sala.
- Isso é mentira! – protestou ele em carliniano.
O mago suspirou.
- Então, por que seu calão estava nos tornozelos quando eu entrei na casa?
Sir Simon ficou vermelho quando os homens que estavam na sala caíram na gargalhada. Argos teve que traduzir para Vince Farz, que fez um gesto afirmativo com a cabeça, porque já tinha ouvido a história.
- O bastardo estava para trepar numa viúva com título – explicou ele a Argos – quando o mago chegou. Ele a ouviu gritar, entende? E ele tinha visto um brasão na cada. Os aristocratas cuidam uns dos outros.
O advogado, agora, apresentava uma longa lista de acusações contra Sir Simon. Parecia que ele estava declarando a viúva e seu filho prisioneiros que tinham de ser detidos para que fosse cobrado um resgate. Ele também roubara os dois navios da viúva, a armadura do marido dela, a espada e todo o dinheiro da condessa. Belas fez as reclamações com indignação, e depois curvou-se para o homem de Edron, o imponente mago Havoc Bohun.
- O senhor tem uma reputação de homem justo – disse ele, obsequioso –, e eu coloco o destino da viúva em suas mãos.
O mago pareceu surpreso ao ser informado de sua reputação por fazer justiça.
- O que o senhor deseja? – perguntou ele.
Belas envaideceu-se.
- A devolução dos artigos roubados, senhor, e a proteção do rei de Thais para uma viúva e seu nobre filho.
O mago tamborilou os dedos no braço da cadeira, e depois olhou para Sir Simon de cenho franzido.
- Não se pode pedir resgate por uma criança de três anos de idade – disse ele.
- Ele é um conde! – protestou Sir Simon. – Um menino de classe!
O mago suspirou. Ele chegara à conclusão de que Sir Simon tinha uma mente tão simples quanto um touro castrado à procura de comida. Não conseguia entender ponto de vista algum que não o dele, e era determinado quando se tratava de procurar satisfazer seus apetites. Talvez fosse por isso que ele era um soldado tão respeitável, mas ainda era um tolo.
- Nós não mantemos crianças de três anos de idade para cobrar resgate – disse o mago com firmeza – e não mantemos mulheres prisioneira, a menos que haja uma vantagem que seja mais importante do que a cortesia, e eu não vejo vantagem alguma aqui. – Havoc voltou-se para os escrivães que estava atrás de sua cadeira: - A quem Sir Bardo Henri apoiava?
- Charles de Batalha, senhor Bohun – respondeu um dos escrivães, um clérigo de Batalha alto.
- Propriedades ricas?
- Poucas, senhor – disse o escrivão, cujo nariz escorria, falando de memória. – Há uma propriedade em Venore que já está em nosso poder, algumas casas perto de Ab’Dendriel, creio eu, mas nada mais.
- Aí está – disse o mago, tornando a se voltar para Sir Simon. – Que vantagens iremos obter de um menino de três anos que não tem um tostão?
- Sem um tostão, não – protestou Sir Simon. – Eu peguei, lá, uma rica armadura.
- Que sem dúvida o pai do menino apanhou em combate!
- E a casa é rica. – Sir Simon estava ficando zangado. – Há navios, armazéns, estábulos.
- A casa – o escrivão parecia enfarado – pertencia ao sogro do conde. Creio que era um vendedor de vinhos.
De cenho franzido, com ar zombeteiro, o mago olhou para Sir Simon que abanava a cabeça diante da obstinação do escrivão.
- O menino, senhor – respondeu Sir Simon com uma caprichada mesura muito próxima a um ato de insolência –, é parente de Charles de Batalha.
- Mas por não ter dinheiro algum – disse o mago – eu duvido que desperte carinho. Seria um fardo, não acha o senhor? Além do mais, o que é que o senhor ia querer que eu fizesse? Obrigasse o menino a jurar obediência ao verdadeiro duque de Batalha? O verdadeiro duque, Sir Simon, é uma criança de cinco anos que está em Thais. Seria uma farsa num berçário! Um menino de três anos curvando-se para um outro de cinco! As amas de leite deles estarão presentes? Depois do ato, será que iremos nos banquetear com leite e bolinhos? Ou quem sabe poderemos desfrutar de uma brincadeira de caça ao chinelo quando a cerimônia acabar?
- A condessa lutou contra nós, posicionada sobre os muros! – Sir Simon tentou um último protesto.
- Não me conteste! – gritou o mago, esmurrando o braço da cadeira. Neste exato momento as chamas de seu Cajado Infernal pareciam mais ameaçadoras do que o normal. – O senhor se esquece de que eu sou o representante do rei e tenho os poderes dele.
Havoc Bohun recostou-se na cadeira, tenso de raiva, e Sir Simon engoliu a sua raiva, mas não resistiu a resmungar que a condessa tinha usado uma besta contra os homens de Thais.
- Ela é Blackarch? – perguntou Argos à Farz.
- A condessa? É o que dizem.
- Ela é muito bonita.
- Depois do que eu vi o senhor atacando hoje de manhã – disse Farz –, como é que consegue distinguir?
O mago lançou um olhar irritado para Farz e Argos, e voltou a olhar para Sir Simon.
- Se a condessa lutou contra nós no alto dos muros – disse ele –, admire seu espírito. Quanto aos outros assuntos... – Ele fez uma pausa e suspirou. Belas parecia estar na expectativa e Sir Simon, desconfiado. – Os dois navios – decretou o mago – são presas e serão vendidos em Thais, ou colocados a serviço real e o senhor, Sir Simon, receberá como valor um terço do valor deles.
Aquela decisão estava de acordo com a lei. O rei receberia um terço, o mago outro terço, e a última parte caberia ao homem que tivesse capturado a presa.
- Quanto à espada e à armadura... – O mago fez outra pausa. Ele havia salvo Jeanette de um estupro e gostara dela, e tinha visto a angústia em sua expressão e dado ouvidos a sua apaixonada alegação de que não possuía nada que tivesse pertencido ao marido, exceto a preciosa armadura e a bela espada, mas coisas daquele tipo, pela sua própria natureza, constituíam o legítimo saque de guerra.
- A armadura, as armas e os cavalos são seus, Sir Simon – disse o mago, lamentando a decisão, mas reconhecendo que era justa. – Quanto ao garoto, eu determino que ele pode decidir para quem irá a sua obediência – Ele olhou para os escrivães, para certificar-se de que eles estavam anotando suas decisões – O senhor me disse que quer instalar-se na casa da viúva? – perguntou ele à Sir Simon.
- Eu a ocupei – disse Sir Simon, brusco.
- E a depenou, pelo que ouvi dizer – observou friamente o mago. – A condessa alega que o senhor roubou dinheiro dela.
- Ela está mentindo. – Sir Simon parecia indignado. – Mentindo, senhor, mentindo!
O mago duvidou, mas dificilmente poderia acusar um cavalheiro de perjúrio sem provocar um duelo e, embora Havoc Bohun não temesse homem algum em todo o continente, exceto seu rei, não queria brigar por um motivo tão insignificante. Ele deixou passar.
- No entanto – prosseguiu ele – eu prometi à senhora uma proteção contra o assédio. – Ele encarava Sir Simon enquanto falava, e depois olhou para Vince Fazer e mudou para a língua de Thais. – Você gostaria de manter seus homens juntos, Vince?
- Gostaria, senhor.
- Neste caso, vai ficar com a casa da viúva. E ela deverá ser tratada com respeito, está me ouvindo? Com respeito! Diga isso aos seus homens, Vince!
Farz balançou a cabeça.
- Eu corto as orelhas deles se tocarem nela, senhor.
- As orelhas, não, Vince. Corte algo mais adequado. Sir Simon irá lhe mostrar a casa, e o senhor, Sir Simon – o mago voltou a falar carliniano –, vá procurar o leito em outro lugar qualquer.
Sir Simon abriu a boca para protestar, mas um olhar do mago o fez ficar quieto. Outro suplicante se adiantou, querendo indenização por um porão cheio de vinho que tinha sido roubado, mas o mago transferiu-o para um escrivão que iria registrar as reclamações do homem num pergaminho que o mago duvidava que algum dia acharia tempo de ler.
Depois, fez um gesto para Argos.
- Eu tenho que lhe agradecer, Argos Fall.
- Agradecer, senhor?
O mago sorriu.
- Você encontrou um caminho para entrar na cidade quando todas as outras tentativas que fizemos tinham falhado.
Argos enrubesceu.
- Foi um prazer, senhor.
- Você pode me pedir uma recompensa – disse o mago. – É o costume.
Argos deu de ombros.
- Eu estou satisfeito, senhor.
- Então, você é um homem de sorte, Argos. Mas eu me lembrarei da dívida. E muito obrigado, Vince.
Vince Farz sorriu.
- Se esse sujeito tolo não quer recompensa, senhor, eu a aceito.
O mago gostou daquilo.
- Minha recompensa para você, Vince, é deixá-lo aqui. Estou lhe dando toda uma nova área de interior para devastar. Pelos dentes de Banor, em breve você vai estar mais rico do que eu. – Ele se levantou. – Sir Simon irá guiá-lo até seus aposentos.
Sir Simon poderia ter reagido contra a ordem ríspida para ser um mero guia, mas surpreendentemente obedeceu sem demonstrar qualquer ressentimento, talvez porque desejasse outra oportunidade de encontrar-se com Jeanette. E assim, ao meio-dia, ele levou Vince Farz e seus homens pelas ruas até a grande casa à margem do rio. Sir Simon tinha vestido a nova armadura e usava-a sem qualquer sobretudo, de modo que a couraça polida e os ornamentos de ouro brilhavam com intensidade ao fraco sol de inverno. Ele encolheu a cabeça coberta pelo elmo ao passar por baixo do arco da entrada para o pátio e no mesmo instante Jeanette saiu correndo da porta da cozinha, que ficava logo à esquerda da porta.
- Saiam daqui! – gritou ela em carliniano. – Saiam daqui!
Argos, cavalgando logo atrás de Sir Simon, olhou fixo para ela. Ela era realmente Blackarch, e tão bonita de perto quanto parecera quando ele a vira de relance no alto dos muros.
- Saiam daqui, vocês todos! – Ela ficou parada, as mãos nas cadeiras, cabeça descoberta, gritando.
Sir Simon ergueu o visor do elmo.
- Esta casa está requisitada para fins militares, minha senhora – disse ele, contente. – Ordens do senhor Bohun.
- Havoc prometeu que iam me deixar em paz! – protestou, inflamada, Jeanette.
- Pois então sua senhoria mudou de idéia – disse Sir Simon.
Ela cuspiu na direção dele.
- Você já roubou tudo o que era meu, e agora quer me tirar a casa também?
- Sim, madame – disse Sir Simon, e esporeou o cavalo para avançar de modo que o animal a empurrou. – Sim, madame – repetiu ele, e então deu um puxão nas rédeas a ponto de fazer com que o cavalo girasse e avançasse contra Jeanette, jogando-a ao chão. – E vou tirar sua casa – disse Sir Simon – e tudo o mais que eu quiser, madame.
- Os arqueiros, que assistiam, ovacionaram a visão das longas pernas desnudas de Jeanette. Ela puxou as saias para baixo e tentou se levantar, mas, Sir Simon fez o cavalo avançar, para obrigá-la a atravessar o pátio cambaleando, numa corrida que nada tinha de digna.
- Deixe a moça se levantar! – gritou Vince Farz, irritado.
- Ela e eu somos velhos amigos, mestre Farz – respondeu Sir Simon, ainda ameaçando Jeanette com as pesadas patas do cavalo.
- Eu disse para deixar que ela se levante e para deixá-la em paz! – vociferou Farz.
Sir Simon, ofendido por receber ordens de um homem do povo e diante dos arqueiros, voltou-se irritado e pos sua mão sobre o cabo da sua novíssima e majestosa, mas havia em Vince Farz um ar de competência que fez com que o cavaleiro se detivesse. Competência, um belo arco, e runas de morte súbita. Junto a isso, Farz tinha o dobro da idade de Sir Simon, e todos aqueles anos tinham sido passados lutando, e Sir Simon tinha bom senso suficiente para não provocar um confronto.
- A casa é sua, mestre Farz – disse ele, condescendente –, mas tome conta de sua dona. Eu tenho planos para ela.
Ele fez o cavalo recuar, afastando-se de Jeanette, que estava em lágrimas de vergonha, e depois esporeou o animal, saindo do pátio.
Jeanette não entendia thaisense, mas reconheceu que Vince Farz havia intercedido em seu favor e por isso pôs-se de pé e fez um apelo a ele.
- Ele roubou tudo o que era meu! – disse ela, apontando para o cavaleiro que se retirava. – Tudo!
- Você sabe o que a moça esta dizendo, Argos? – perguntou Farz.
- Ela não gosta de Sir Simon – disse Argos, lacônico. Ele estava inclinado sobre a sela, olhando para Jeanette.
- Acalme a garota, pelo amor de Deus – pediu Farz, e depois girou o corpo na sela. – Daniel? Providencie para que haja água e feno para os cavalos. Peter, mate duas daquelas novilhas, para que possamos jantar antes que a luz acabe. Os outros? Parem de olhar para a garota de boca aberta e vão se instalar!
- Ladrão! – gritou Jeanette para Sir Simon que se afastava, e depois voltou-se para Argos.
- Quem é você
- Meu nome é Argos, madame. – Ele deixou o corpo escorregar para o chão e atirou as rédeas para o Sam. – O mago mandou que viéssemos morar aqui – prosseguiu Argos – e proteger a senhora.
- Me proteger! – disse Jeanette, indignada. – Vocês são todos uns ladrões! Como poderão me proteger? Há um lugar no inferno para ladrões como vocês, e ele é igualzinho à Thais. Vocês são ladrões, todos vocês! Agora, vão embora! Vão!
- Nós não vamos – disse Argos, decidido.
- Como poder ficar aqui? – perguntou Jeanette. – Eu sou viúva! Não fica bem ter vocês aqui.
- Nós estamos aqui, madame – disse Argos –, e a senhora e nós teremos que aproveitar ao máximo essa situação. Nós não vamos nos intrometer. É só me mostrar onde ficam seus aposentos privados, e eu vou providenciar para que nenhum homem os invada.
- Você? Impedir? Há! – Jeanette voltou-se para se afastar e imediatamente tornou a girar. – Você quer que eu lhe mostre meus aposentos, não é? Para que fique sabendo onde estão meus bens de valor? É isso? Quer que eu lhe mostre onde pode me roubar? Por que eu não lhe dou logo tudo?
Argos sorriu.
- Eu pensei que a senhora tivesse dito que Sir Simon já tinha roubado tudo.
- Ele tirou tudo, tudo! Ele não é cavalheiro coisa nenhuma. Ele é um porco. Ele é – Jeanette fez uma pausa, querendo pensar num insulto esmagador – ele é de Thais! – Jeanette cuspiu nos pés de Argos e empurrou a porta da cozinha, abrindo-a. – Está vendo esta porta, thaisense? Tudo além desta porta é privado. Tudo! – Ela entrou, bateu com a porta e imediatamente tornou a abri-la. – E o duque está vindo. O duque certo, não o seu hipócrita menino fantoche, então vocês todos vão morrer. Ótimo! – A porta tornou a bater.
Vince Faz fez um muxoxo.
- Ela também não gosta de você, Argos. O que é que a moça estava dizendo?
- Que nós todos vamos morrer.
- Ah, mas isso é verdade. Mas na nossa cama, com a graça de Fardos.
- E ela disse que nós não devemos passar daquela porta.
- Tem muito espaço aqui fora – disse Farz placidamente, observando um de seus homens brandir um machado para matar uma novilha. O sangue escorreu pelo pátio, atraindo um grupo de cachorros para lambê-lo enquanto dois arqueiros começavam a abater o animal que ainda estrebuchava.
- Escutem! – Farz havia subido num bloco que servia para ajudar a montar num cavalo ao lado dos estábulos e agora gritava para todos os seus comandados. – O MAGO DEU ORDENS PARA QUE A MOÇA QUE ESTAVA CUSPINDO NO ARGOS NÃO SEJA MOLESTADA. ESTÃO ENTENDENDO, SEUS BASTARDOS? MANTENHAM SEUS CALÇÕES AMARRADOS QUANDO ELA ESTIVER POR PERTO, E SE NÃO FIZEREM ISSO, EU CASTRO VOCÊS! TRATEM-NA COM EDUCAÇÃO, E NÃO PASSEM DAQUELA PORTA. VOCÊS JÁ SE DIVERTIRAM, E POR ISSO AGORA PODEM VOLTAR A AGIR REALMENTE COMO SOLDADOS.
O mago de Edron partiu uma semana depois, levando a maior parte de seu exército de volta para as fortalezas em uma cidadela próxima à Batalha, que era o coração dos adeptos do duque Jean Monteforte. Ele deixou Richard Totesham como comandante da nova guarnição, mas também deixou Sir Simon Skeat como substituto de Totesham.
- O duque não quer o bastardo – disse Vince Farz à Argos – e por isso empurrou-o para cima de nós.
Como Farz e Totesham eram capitães independentes, poderia ter havido ciúmes entre eles, mas os dois se respeitavam e, enquanto Totesham e seus homens ficaram em La Roche-Ogre e fortaleciam as defesas da cidade, Farz seguiu para o interior a fim de punir as pessoas que pagavam as rendas e deviam obediência ao “falso” duque Charles. Os cavaleiros do demônio ficaram, assim, liberados para se constituírem numa maldição no norte de Carlin.
Era uma tarefa simples, arruinar uma região. As casas e os celeiros podiam ser feitos de pedra, mas os telhados pegavam fogo. O gado era capturado e, se houvesse cabeças demais para levar para casa, os animais eram abatidos e as carcaças atiradas em poços, para envenenar a água. Os homens de Farz incendiavam o que pegasse fogo, quebravam o que era quebrável e roubavam o que podia ser vendido. Matavam, estupravam e saqueavam. O medo levava os homens a abandonar suas fazendas, deixando a terra devastada. Eles eram os cavaleiros do diabo, e faziam o que estavam com vontade em relação à rainha Eloise, arrasando a terra do inimigo.
Destruíram uma aldeia atrás da outra – Kervec e Lanvelle, um acampamento de amazonas e uma aldeia de refugiados de Carlin próximo ao barco para as ilhas geladas, e outros cinco lugares cujos nomes nunca aprenderam. Era a época em que comemorariam o surgimento de Thais e os descobrimentos, e se estivessem em Thais gigantescas fogueiras estariam sendo arrastadas por campos endurecidos pela geada até salões de pé-direito alto, nos quais trovadores e bardos cantavam sobre as histórias dos Deuses e batalhas de Banor, lendas da época de Ferumbras quando apenas Thais triunfava. Porém, nos arredores de Carlin os cavaleiros do diabo lutavam a guerra verdadeira. Soldados não eram modelos de virtude; eram homens com cicatrizes, maus, que sentiam prazer na destruição. Atiravam tochas acesas no sapé e derrubavam o que gerações tinham levado para construir. Lugares pequenos demais para terem nomes morriam, e só as fazendas na larga península entre os as florestas ao leste de La Roche-Ogre foram poupadas, porque eram necessárias para alimentar a guarnição. Alguns dos servos das aldeias que eram arrancados de suas terras foram obrigados a trabalhar para aumentar a altura dos muros de La Roche-Ogre, ampliar o campo de combate diante das defesas e construir novas barreiras à margem do mar. Nos arredores de Carlin, foi um inverno de extrema miséria. Chuvas frias, vindas do mar norte, açoitavam, e os thaisenses devastavam as terras agrícolas.
De vez em quando, havia alguma resistência. Um bravo disparava uma besta da beira de uma floresta, mas os homens de Farz eram peritos em encurralar e matar inimigos assim. Doze arqueiros desmontavam e se aproximavam silenciosamente do inimigo pela frente, enquanto vinte outros galopavam pela retaguarda dele, e em pouco tempo ouvia-se um grito e mais uma besta era acrescentada ao espólio. O dono da besta era despido, mutilado e enforcado numa árvore como aviso a outros homens para que deixassem os cavaleiros do diabo em paz, e as lições davam resultado, porque aquele tipo de emboscada foi diminuindo. Era a fase de destruição, e os homens de Farz ficaram ricos. Havia dias de sofrimento, dias de caminhadas com dificuldade sob chuva fria, com as mãos rachadas e a roupa encharcada, e Argos sempre tinha horror quando seus homens recebiam a incumbência de guiar os cavalos de reserva e depois conduzir de volta o gado capturado. Os gansos eram fáceis – os pescoços eram torcidos e os pássaros mortos pendiam das selas – mas as vacas eram lentas, os cabritos indóceis, os carneiros eram burros e os porcos teimosos. Mas havia nas fileiras um número suficiente de rapazes criados em fazendas para garantir que os animais chegassem a La Roche-Ogre em segurança. Uma vez lá, eles eram levados para uma pequena praça que se tornara um campo de abate e fedia a sangue. Vince Farz também mandava carroças cheias de produtos de saque de volta para a cidade, e a maior parte era despachada para Thais. Em geral, tratava-se de artigos baratos: vasos, facas, lâminas de arado, baldes, qualquer coisa que pudesse ser vendida, até que se disse que não havia uma só casa no sul de Thais que não possuísse pelo menos um objeto saqueado dos arredores de Carlin.
Em Thais, cantava-se sobre Arieswar e Pepelu, Eternal Oblivion e Taifun Devilry, mas nos Campos de Glória os cavaleiros do diabo estavam à solta.
E Argos era um homem feliz.
Sinceras desculpas. Provas e trabalhos no colégio, problemas pessoais.
E agora que esta um pouco melhor eu virei CEGUETA!
Sim, fiz exame de vista. Quem já fez sabe que estou sofrendo de "hipermetropia passageira" e não estou conseguindo ver o PC direito.
Me esforcei e escrevi, espero que gostem porque eu escrevo pra vocês!
Obrigado por todos os comentários, mas acho que este próximo capítulo talvez demore um pouco... também.
Provas Bimestrais começam na quarta. :triste:
Bom bom, então desculpem novamente.
Sem mais;
Asha Thrazi!![]()
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