Semana horrível.
Desculpem, aí vai o capítulo.
Capítulo 6 – Decepção, o ódio de Crunor.
_AAH! – bradou Argos, acertando a costela do lado direito do troll. A criatura cambaleou e deixou seu corpo cair sobre o corpo de outro troll que havia sido morto há minutos atrás. Uma lança escorregou das mãos do troll, rolando pelo chão da caverna fracamente iluminada pela tocha de Argos. O jovem a pegou, colocando-a junto com outras quatro que estavam embrulhadas e presas nas suas costas por uma corda, o peso das lanças deixava o jovem no limite, havia cortes pelos seus braços e rosto. Alguns hematomas deveriam estar nascendo por trás da sua cota de malha, causado por algum golpe bem sucedido de algum troll mais habilidoso. Argos agradecia a todos os deuses por ter um escudo quando um golpe bateu seco contra a madeira do mesmo, há momentos antes. Suas habilidades com o escudo não era de um guerreiro normal da ilha de Rookgaard.
Seguindo pela escuridão da caverna com as lanças sobre suas costas, um machado preso à cintura e o escudo de madeira em punho, Argos percebeu que havia crescido: do garoto tolo e tímido que havia chegado há dois anos, só restava o respeito por Cipfried, Seymor e seu falecido mestre, Donovan. Os cabelos agora eram cortados com uma faca, os olhos verdes como esmeraldas, o corpo de homem começando a se formar, suas habilidades com armas havia encontrado o machado, porém o rapaz tinha outros planos. Com catorze anos vagava por todos os locais da ilha, enfrentando as mais estranhas criaturas que ele imaginara que existisse. Subindo as escadas de concreto da casa abandonada ao norte da cidade, Argos seguiu andando na direção da cidade enquanto as estrelas brilhavam no céu. O movimento nessas horas era o menor de todo o dia, os perigos que a noite escondia não encorajava os aventureiros, que preferiam ficar na cidade.
As botas de Argos afundavam na grama fofa, a cota de malha velha e rasgada firme ao seu corpo, assim como a calça. Já tivera oportunidades de melhorar seus equipamentos, de trajar armaduras de um legitimo guerreiro experiente na ilha de Rookgaard, mas não queria, era uma das últimas lembranças que tinha do seu mestre, as armaduras que ganhara de presente para se proteger do mal de toda a ilha há dois anos.
_Boa noite Dallheim. – murmurou o jovem ao subir as escadas da ponte que protegia a cidade das criaturas da ilha.
_Boa noite Argos. – respondeu o soldado, fazendo um sinal positivo com a cabeça.
A cidade dormia, os sons sincronizavam entre os passos do rapaz e os grilos. Argos estava entusiasmado, havia recolhido as lanças que Seymor havia pedido e as plantas de Cipfried, juntara algumas moedas de ouro enquanto enfrentava os bárbaros trolls, o dia havia sido proveitoso e o dia seguinte seria melhor, muito melhor.
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O único som vinha dos seus passos enquanto corria pelo mato, ao leste da cidade. Estava confuso pela missão que fora encarregado. Porque os mercenários queriam um jovem morto? Um jovem de Rookgaard? Mas esta era sua missão, e ele teria que se encarregar com perfeição e sem ser notado.
A brisa da noite carregava o vulto que corria por entre as árvores, se aproximando da cidade. Trazia em punho uma espada bem afiada e um escudo de bronze, matando as criaturas que ousavam a cruzar o seu caminho. Seu capuz negro chacoalhava com veracidade, borboletas voavam pelo seu estômago conforme se aproximava das muralhas da cidade. Teria que ser rápido e mortal, sem deixar pistas e terminar a missão. Mesmo ciente do seu trabalho, ainda lhe parecia estranho.
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Na manhã seguinte a cidade foi acordando aos poucos, enquanto os irmãos – Fafnar e Suon – se erguiam no céu azul anil, iluminando as ruas de pedra da cidadela. Argos se mostrava recuperado do dia anterior, os cortes no rosto foram esquecidos e os hematomas se tornaram leves detalhes quando se lembrou da importância deste dia.
Arrumou sua cama e sorriu, era a última vez que dormia nela. Caminhou na direção da escada, na esquerda do aposento. Com todos seus bens de Rookgaard, carregáveis é claro, Argos encontrou seu velho amigo que lia alguns livros, próximo a uma estante no fundo da biblioteca.
_Seymor! – exclamou ao ver o homem de cabelos ruivos, a excitação provocara um efeito estranho no garoto – Seymor! Vamos logo, por favor. Quase não dormi essa noite.
O homem gargalhou ao ver o estado em que o jovem se encontrava, é normal que os aventureiros ficam nervosos quando pensam em sair da ilha e voltar para o continente, mas Argos tremia e sorria sem parar, a saudade que tinha da sua família e a vontade de honrar a sua pacata vila era algo que Seymor não conseguia ver.
Chamando o garoto, ambos caminharam até o fim da biblioteca, no lado superior esquerdo da sala. Subiram as escadas e Seymor o guiou até chegarem à porta da estátua mágica. O bibliotecário parou e se ajoelhou, olhando para o jovem que não sabia o que fazer, tamanha a excitação.
_Pode ir Argos. – sorriu Seymor, mostrando o Oráculo com a mão.
Argos caminhou até o fim da sala carregando seus pertences em uma mochila, ele se sentia pronto para os desafios do continente. Quando chegou a cerca de três metros da estátua, o Oráculo abriu os olhos. No lugar dos olhos havia uma luz vermelha muito forte que assustou o garoto.
_Bom dia Oráculo. – disse o garoto, receoso.
_Porque o nervosismo, meu rapaz? – a boca da estátua se moveu enquanto pronunciava as palavras, com uma voz muito bela.
_Vim até aqui para saber se estou pronto, quero dizer, se meu tempo nesta ilha já é o bastante...
_Está preparado para receber a resposta? – questionou o jovem.
Entusiasmado, o garoto sorriu.
_Sim, estou!
_Não. Você não está pronto, volte aqui quando realmente for digno de sair desta ilha. – e dizendo isso, os olhos do Oráculo se fecharam, deixando Argos o encarando sem saber o que fazer.
O garoto ficou alguns minutos parado, até que Seymor chamou a sua atenção.
_Sinto muito Argos, de verdade. – disse ao ver o garoto que vinha caminhando na sua direção de cabeça baixa.
_Isso não vai amenizar nada. – e passou por Seymor, descendo as escadas.
A cabeça de Argos estava confusa, ele era um bom guerreiro e muitos sabiam disso. Era conhecido pela ilha por enfrentar criaturas com equipamentos básicos e antigos, e nunca voltar com um ferimento grave. Então porque não estava pronto? Seu sangue borbulhava e ele então decidiu que ficar lembrando de Donovan não iria ajudá-lo em suas aspiração, muito pelo contrário, ficaria preso à ilha pelo resto de sua vida, assim como seu falecido mestre ficou.
Argos seguiu na direção norte da cidade novamente, após ter deixado os equipamentos antigos em um pacote sobre sua cama, caminhando com um machado e seu escudo de madeira. Passou por Dallheim sem ao menos cumprimentá-lo e em seguida desceu a escada, do outro lado da ponte. Não conseguia se conformar com a resposta que recebera, a confiança era tanta que ele levou um soco muito maior quando a resposta foi negativa. Seu ódio era tanto que ele chegava a bufar enquanto dirigia palavras feias para a estátua mágica.
Argos desceu a escada da casa abandonada, agora sem os equipamentos de couro o peso era menor e ele tinha maior mobilidade e velocidade para atacar, porém sabia que algum golpe bem executado poderia ocasionar no fim de seu sonho. Acendeu a tocha e a prendeu a suas costas. Os cabelos negros e mal-cortados ficavam a poucos centímetros das chamas da tocha. Um calafrio percorreu toda sua coluna quando escutou um grito vindo de mais distante na escuridão da caverna, e o rapaz acelerou o passo.
_NÃO OUSE! – gritou o jovem empunhando o machado, ao ver o troll pronto para desferir o golpe em uma pessoa caída no chão, que pela escuridão não era possível distinguir.
O troll se virou para o jovem e rugiu, erguendo uma clava de madeira. O rapaz sorriu e colocou a tocha no chão.
_Vou descarregar meu ódio em você, você irá sofrer o que eu estou sofrendo. – o sangue do jovem borbulhava, nunca sentira tamanha raiva. E mesmo pronunciando essas palavras, uma parte dele não entendia o porquê desta reação. Aquela sensação de poder infinito que ele havia sentido a dois anos, naquele dia em que seu mestre foi morto, retornara.
E então seus passos se tornaram rápidos e o golpe acertou seco contra um escudo de madeira que o troll havia pegado da pessoa que ele estava atacando. Com um rugido o troll atacou com sua clava, visando acertar a cabeça do rapaz que assim como todo o corpo estava desprotegida.
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Estava pronto, nunca esperava uma chance tão perfeita como aquela. O rapaz totalmente sem equipamentos agora enfrentava um troll, e seu ódio havia o cegado de tal modo que seus golpes não eram bem sucedidos enquanto os golpes do troll apresentavam muito mais perigo. Resolvido a terminar tudo, pegou seu arco.
Os Mercenários ficariam satisfeitos com seu trabalho? Claro que estariam, teria um cargo de honra naquela Guilda caso tudo ocorresse como o planejado, talvez algo como líder dos Mercenários de Rookgaard...
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Ao sentir a clava do forte troll bater seco contra seu escudo, Argos abriu a guarda para atacá-lo com seu machado. O troll então se defendeu rapidamente, batendo o escudo contra o peito do rapaz e desequilibrado o jovem caiu, o machado sendo lançado um pouco longe do seu alcance. O troll conseguira desarmá-lo com facilidade.
Havia errado novamente, assim como fizera no dia em que Donovan Skyhole falecera. O ódio havia se tornado tão forte que ele não conseguia se conter, mesmo sentindo que o poder que ele adquiria era gigantesco isso não fazia diferença na batalha. Pelo menos na visão de Argos.
Se arrastando o jovem alcançou o machado quando o troll desferiu um golpe, o jovem conseguiu bloquear tão rápido que até ele mesmo se surpreendeu. Levantou rapidamente, se apoiando no escudo levemente rachado. O troll rugiu e voltou a correr na sua direção e novamente foi bloqueado, Argos estava tendo sucesso em canalizar seu ódio.
O rapaz atacou com veracidade e acertou o braço do troll, que não conseguiu ser rápido o suficiente para bloquear e logo em seguida bateu seu escudo contra a criatura que cambaleou. Com o machado ensangüentado o rapaz tornou a atacar, mas desta vez o troll acompanhou seu movimento e, conseguindo esquivar, deu alguns passos para trás.
_Mantenha a calma Argos... – murmurava para si mesmo enquanto batia com o lado contrário do machado contra seu próprio escudo, não queria deixar que o troll o intimidasse.
O troll rugiu alto e tornou a correr na direção do rapaz que então se preparou, o golpe dessa vez foi com tamanha força que rachou o escudo do garoto que saltou para trás com o braço ferido.
_Maldito! MALDITO! – via o sangue escorrer e novamente o ódio que estava canalizado em enfrentar o troll como um verdadeiro guerreiro explodiu, e com um movimento idiota e mal pensado Argos lançou seu machado na direção do troll.
Seus olhos se abriram após o movimento e encontraram um troll em pé, com uma clava em punho e um machado cravado contra seu escudo. O troll parecia satisfeito consigo mesmo e começou a correr na direção do rapaz sem nenhuma arma, escudo ou equipamento.
Argos sorriu.
Espero que semana que vem seja melhor, espero mesmo.
Bom final de semana para vocês, amigos leitores. 
Só espero que gostem e comentem.
Obrigado.
Sem mais;
Asha Thrazi!