
Postado originalmente por
Neal Caffrey
OOOOOOOOOOOOOOOOOOHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH YYYYYYYYYYYYYYYYYEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEAAAAAAAAAAAA AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH
Caraca, bicho. Prioridades primeiro.
Este capítulo foi uma obra prima. Já havíamos comentado sobre Senzo antes, e o fato do seu mau humor aparente poder ser facilmente dissolvido com algumas palavras gentis diz algo sobre ele, sinceramente. Lembro-me, certa feita, de ter criado um personagem semelhante, que pretendia ser mau, mas que, no fundo, era um verdadeiro gentleman. Severo Snape feelings.
E, cá entre nós: engenheiros sendo engenheiros. Qual é o problema com a droga de um anel que faz açúcar? Particularmente, como um cafeinólogo inveterado, bastaria que Udel criasse uma máquina de café que funcionasse sem café e voilà: teríamos chegado ao auge do desenvolvimento humano. Pobre Udel. Talvez a mãe dele nem seja tão feia assim.
Cara, é inenarrável o prazer de tê-lo de volta. Tão logo acessei o fórum e vi a atualização do tópico, corri até aqui, torcendo pra que fosse um capítulo novo, e não uma postagem postergando o seu retorno. E, oportunamente: Carlos, Carlinhos, Carlão, bah, tanto faz. Todos os três, que na verdade são a mesma pessoa, são excelentes escritores e são exímios criadores de personagens e narrativas. Já disse antes e repetir não mata: Bloodtrip é uma das obras-primas da seção.
Welcome back, old friend! Espero que, tão provisória quanto foi a retirada, seu retorno seja definitivo.
Conte comigo. Gratidão eterna por ti e pelo seu trabalho.
Olha esse Neal

obrigado pelo comentário e pelos muitos elogios. Não que eu os mereça.
É bom saber que o capítulo foi tudo isso pra você, mostra que não estou escrevendo tão mal. Eu dei um certo esforço pra tudo sair ok, do começo ao fim. Notei que ainda tenho certa dificuldade com cenas de casal. Isso provavelmente porque não sou tão experiente no assunto (leia-se não tive vários casos de amor tampouco li trabalhos românticos o suficiente) e penso que estou cometendo algum erro. As melhores cenas mesmo são as que eu posso colocar ação seja através de palavras, seja através de porrada.
Senzo ser comparado ao Severo Snape até que faz sentido. Agora que você falou, notei certa semelhança entre os dois. Btw, mal tomavam café nessa época ainda, pois se você notar, a história está se passando muitos anos antes do caso atual com Nightcrawler. (Inclusive vocês já deveriam ter notado isso, tô jogando na cara já

) A propósito, também adoro café e preferia que ele tivesse criado algo do tipo também, mas aí seria demais pra um estudante de 16 anos.
Obrigado mesmo por todos os elogios Neal, mas acho que você exagera um pouco. Ainda assim, se pensa dessa maneira, não irei te parar. Isso me incentiva a continuar com a história, e trazer pra cá o que planejei até então, que não se restringe a Bloodtrip. Basicamente estou confirmando uma sequência. E ela pode acabar sendo mais longa que a história atual.
Agradeço por tudo e espero que goste desse capítulo!

Postado originalmente por
Senhor das Botas
HE IS BACK!
Enfim, assim como o Neal, fico feliz que tenha retornado xD. Agora, sobre o capítulo, conseguiu atiçar minha curiosidade mais uma vez, e isso sem um cliff hanger. Sério, essa p*ta personalidade do Nightcrawler, o seu jeito bem ácido de ser, que escreveu esse capítulo e acabou por encarnar na personalidade do Nightcrawler...
Continue Carlão. A história está por chegar em seu fim, e tenho certeza de que um fim glorioso ela terá, baseado em seus últimos capítulos, e mais importante, na história como um todo.
Salve Botas, agradeço pelo comentário e pelos elogios.
Agora, calma lá porra, chegou aqui mais perdido que cachorro que cai de caminhão de mudança. Esse capítulo em questão e suas partes não falam em
nenhum momento de Nightcrawler. Aqui temos o personagem Senzo (que já revelei que é Soulslayer, um dos principais da Irmandade) e seus amigos e conhecidos. Estou contando uma história do passado e como ela se conecta com o presente. Eventualmente os pontos se ligarão.
Mas obrigado pela presença Botas, espero que continue comigo até o final da história. E depois dela também. Falta leitores aqui.
Pessoal, como disse na resposta acima, estou confirmando que Bloodtrip terá uma sequência. Em 2018 farei o possível para continuar escrevendo e não planejo parar. Estou aqui há cinco anos e planejo ficar mais tempo ainda!
Agora, vamos seguindo com a história de Senzo.
Espero que gostem!
No capítulo anterior:
Senzo está em seu último ano no colégio Centro das Almas de Ferro e está próximo de receber seu certificado de alquimista. Nuito se tornou um tutor para acompanhar os últimos anos dele. Senzo também conseguiu uma namorada chamada de Miraya, e ela tem apoiado ele em todas as suas criações. E no retorno da Feira Internacional de Maravilhas, o futuro alquimista humilha um dos inventores por ele ter entristecido Miraya, e por estar irritado com a admiração que tem ganhado dos alunos mais novos.
Capitulo 31 – Resmonogatari
Parte 3
Faz horas desde que a feira terminou, mas Senzo não saiu de sua casa. Sentado no banheiro embaixo do chuveiro*, ele nota seu medo por si próprio, bem como um leve desespero. Está confuso e nervoso. Viu seus únicos amigos o olharem como todos pareciam olhar para ele quando criança, em momentos onde parecia outra pessoa. Como se um alterego se levantasse das sombras para fazer o que ele não tem coragem.
Está escuro no banheiro. Isso ajuda ele a se lembrar dos rostos de todos. Até mesmo de sua amada, que estava assustada com ele. Eu sou assim?, pensa. Eu sou realmente assim?
Sim. Eu sou assim. Esse monstro sempre foi Senzo. Esse corpo magro e pálido, esse olhar perturbado, nervoso e louco. Isso tudo sou eu.
Mas eu raramente sabia disso.
Ele me fazia esquecer disso. Aquele maldito Nuito.
Ele me fazia pensar que eu sou alguém bom.
Eu nunca fui bom.
Duas vozes. Tons diferentes, tempos diferentes, mas o mesmo pensamento.
Senzo percebe que não pode ficar assim, recuado, sentado em posição fetal embaixo da água, pensando que seus problemas irão embora com o tempo. Isso é impossível.
Ele não é uma boa pessoa.
Com isso, ele se levanta, fecha os olhos por um momento, e abre-os de novo. Gira o registro do chuveiro e sai do box, com um olhar sério. Ele precisa lembrar-se daquela sensação de quando saiu do colégio, olhando para o céu. Não foi há anos, nem há meses, tampouco semanas. Foi há poucas horas. Não há dificuldade alguma nisso.
— Senzo! O amor da sua vida tá na porta! Se arruma direitinho pra receber ela! — Grita sua mãe, do lado de fora do banheiro.
Normalmente, Senzo sente uma mistura de vergonha com nervoso ao ouvir sua mãe mandar uma frase dessas. Mas hoje é diferente.
Hoje ele começou a mudar.
Passam-se alguns minutos e Senzo vai em direção da sala, arrumado, com uma camiseta branca e calças verdes. Lá, ele encontra Miraya e apenas ela, sentada num sofá laranja, usando a mesma blusa levemente roxa do encontro de meses atrás e uma saia roxa que vai até além de seus joelhos. Seu olhar parece preocupado, mas ela ainda assim dá um pequeno e gentil sorriso ao vê-lo. Por pouco Senzo não se derrete todo mais uma vez.
— Vem cá. Não vou te morder.
Um tanto ofendido, Senzo senta ao lado dela. Ele fita a mesinha de mármore em frente deles, com um tapete marrom embaixo. Em seguida, para as diversas lamparinas que iluminam bem o cômodo. A janela que dá para o corredor que vai para o quintal, no lado direito da casa, mostra as luzes fortes do lado de fora de casa, que se encontra envolvido por uma noite mais fria que o normal. É até possível que neve, considerando o período do ano.
Senzo quer ser mais firme, mas, como esperado, a garota não deixa. Ela repousa sua cabeça em seu ombro e o abraça. Nos segundos seguintes, era difícil prever o que iria acontecer.
— Miraya, eu...
— “Não sou bom”, é o que queria dizer?
As vezes o rapaz se assusta com a forma de como a garota o entende antes mesmo dele explicar alguma coisa.
— Bobagem. Você apenas se descontrolou. Não gostou de como o garoto agiu comigo. Normal.
— Aquilo não foi normal, Miraya...
A garota, no entanto, não responde. Isso dá um certo desconforto em Senzo.
— Não... Foi normal, sim. Aquilo era eu de verdade. Um homem cruel e sem coração, cujas falas são mais afiadas que o aço e machucam mais que mil espadas. Eu queria falar isso pra aquele garoto. Eu quis humilhá-lo. Eu quis vê-lo gaguejar. Ver seu ídolo fazer da sua primeira feira ser a última.
Miraya permanece sem responder, olhando para o chão. Senzo não vê opção senão continuar.
— Eu vou continuar sendo assim, e tanto faz o que falarão de mim. Ignorarei professores criticando minha atitude, minha personalidade. Os mandarei pro inferno e continuarei a ser o mesmo de sempre, sem amigos, sem ninguém. Vou terminar esse ano e sumir de Yalahar. Aqui não é mais o meu lugar.
Ele respira fundo, ao mesmo tempo que Miraya. Ela se afasta e deixa as mãos juntas as pernas. O jovem já sabia bem o que escolheu.
— Me desculpe, Miraya. Se não quiser continuar comigo, tudo bem. Eu entendo. Não sou dos melhores homens mesmo. Na verdade, sou só um garoto.
De forma abrupta, Miraya se levanta, e Senzo já imagina que ela irá embora sem falar nada. Ao invés disso, ela se espreguiça, vira-se para o rapaz e senta em seu colo, de frente para ele. Beija-o sem cerimônias, sem se importar que os pais dele estão por ali, dentro da casa. Sua irmã já deixou o lugar há tempos.
Ao deixá-lo, ela o encara com um olhar sério com um misto de desejo.
— Fique quieto. Não deixe essa aura viril que nasceu em você agora desaparecer.
— Hã? — Indaga o rapaz, totalmente confuso com o que Miraya estava fazendo.
— Estou dizendo que você foi muito sexy agora. Só isso.
Eles se encaram por alguns segundos, sem resposta.
— O quê? Será que você pensava que eu não era capaz de fazer ou dizer algo assim? Que eu sou muito comportada ou CDF pra tal?
— Eu... Nunca duvidei. Eu acho.
Miraya sorri e lhe dá um segundo beijo. E antes que pudessem perceber, já estavam no quarto, em cima de uma cama, com a porta trancada. Miraya está em cima dele, os dois se encaram sem fazer nada. Nem beijos, nem toques, nem uma peça de roupa retirada. Senzo está em total dúvida do que fazer em seguida, até mesmo do que perguntar. Mas tem uma ideia de última hora.
— Você... Já fez isso? — Pergunta o rapaz, curioso e confuso.
— Por que você não descobre? — Responde ela, com um sorriso zombeteiro.
E, felizmente, ninguém escutou nada do que veio a acontecer depois.
~*~
O ano é 330.
Por algum tempo, Senzo pensou que acabaria tendo um filho quando esse ano chegasse, mas nada aconteceu. Sua estadia em Carlin estava tranquila com Miraya, sem a necessidade de novos membros em casa.
Sentado na mesa do pequeno laboratório que construiu no primeiro andar da sua casa, ele olha para a carta de Nuito que acabou de ler. Deixou Yalahar um ano atrás. No mesmo período em que criou aquilo que está em pelo menos sete potes cheios, guardados num armário com portas de vidro. Aquilo que ele chama de Nancore.
Tanto a mesa quanto a cadeira onde está sentado foram criados a partir do material. Até mesmo a camisa social azul escura que está usando. Ele lembra-se de como começou a desenvolver tal mágica, e lembra-se do que estava faltando na sua explicação do Nancore, que se encaixava perfeitamente com o conceito da alquimia: A Lei da Troca Equivalente.
Dentro da história da alquimia, Senzo lembra-se do poderoso mago que um dia foi um grande cientista, conhecido pelo nome de Ferumbras. Seu nome é proibido e sua ilha extremamente temida. Senzo baseou-se nele, pois ele foi o criador da chamada Pedra Filosofal, que era usada para criar qualquer outra coisa por ser equivalente a qualquer coisa. O conceito do Nancore é igual: Ele é equivalente a tudo, ele cria tudo.
Ainda assim, ele não ousou chamar-se de Deus até agora.
Esteve vendendo as cadeiras, mesas e outros objetos que fez de forma disfarçada. Vendia para os principais vendedores de móveis de Carlin apenas para que eles revendessem, como se fossem os criadores. No fim, ele não se importa se tomarem o título da criação dos itens que fez, pois o que criou até então não se compara com o Nancore. Além disso, a venda desses itens dá dinheiro suficiente para ele e sua amada noiva viverem sem problemas. Mesmo que Carlin não goste muito de homens.
Alguém bate na porta. O pequeno laboratório tinha apenas uma mesa larga e duas mesas logo adiante vazias, além dos quatro armários de madeira nas paredes da esquerda e da direita. Nada a esconder. Com isso, ele pede para que entrem.
— Boa tarde. Estaria eu incomodando o futuro segundo senhor de Kharos?
Quem está ali é responsável pela Guilda dos Feiticeiros de Carlin. Alguém anterior a Lea. Bem anterior.
— Se não é Aria Ahrabaal. Entre.
A moça alta e magra entra no recinto e fecha a porta. Usa um vestido negro, uma capa verde-escura com vários ornamentos e sandálias brancas, além de vários braceletes de várias cores e um colar com um símbolo de uma fênix, por cima de outro, com uma moeda roxa. De cabelos negros e longos, um pouco mal arrumados, olhar sério e firme, essa mulher não passa um ar de elegância, mas sim de tensão. É como se ela fosse explodir tudo num instante, com um estalar de dedos. Mesmo que ela atraia um pouco de atenção com suas coxas e bumbum maiores que a média.
Embora Senzo não sinta medo dela, ele prefere manter-se reservado e de poucas palavras, em respeito a ela. Carlin dificilmente manteria a feitiçaria se não fosse por alguém com pulso firme e aura de poder. Puro poder. Até porque sempre correu rumores pela cidade que ela não podia ser derrotada, que sua força mágica era infinita. Entretanto, Aria sempre desmente esses rumores, alegando que seus poderes tem um limite. Embora ninguém tenha conseguido forçar ela ao limite até hoje.
— Diga, o que deseja hoje?
— Quis visitá-lo. E relatar algo importante, já que você é uma das poucas pessoas que confio.
— Certeza que não deseja nada? Sabe que posso lhe dar qualquer coisa. — Disse, tomando um pote pequeno com o mesmo líquido branco. Ele derrama um pouco do conteúdo na mesa, e em dez segundos, ele toma a forma de um sapato com asas. Botas de Velocidade. — Qualquer coisa.
Ela observa o calçado. Não pode negar que o poder daquilo era realmente tentador, e que deseja ao menos um pouco para fazer algo do seu agrado. Mas esteve resistindo a todas as ofertas do alquimista até então. Seu orgulho é mais forte.
— Não, obrigado. Certeza que já criou tudo que podia em Yalahar? Seus negócios em Carlin continuarão até quando?
— Aí que você se engana. Eles não acabarão. Permanecerei aqui com minha noiva o quanto for possível.
— Acredito que faria muito mais fora daqui.
— Por causa da rainha? Ah, não se preocupe. Se eu realmente tiver interesse em criar coisas melhores, posso ir para outro lugar. No momento, ainda estou testando o Nancore devagar e aos poucos. E como eu disse inúmeras vezes pra você, não sou um segundo Ferumbras ou seja lá o que você pensa.
— Ainda espero pela criação de um segundo Orbe da Natureza. E que você seja o cérebro por trás dele.
Senzo pigarreia e olha para o nada, ignorando o último comentário.
— Estive investigando alguém da casa dos Alarstake que foi para o tal mundo por trás do Orbe. Eu soube que essa mesma pessoa esteve observando você.
O homem levanta uma sobrancelha.
— Quem seria?
— Teros Jarili Alarstake. Ele é um espião e um bruxo formidável, também, sendo o sétimo na linha de sucessão da liderança da casa. Ele sabe que você é o alquimista renomado de Yalahar que trabalhou ao lado de Nuito, hoje um biólogo estudando espécies em Tiquanda. Caminhos totalmente opostos, devo dizer. Mas como as propriedades deles não ficam tão distantes de Carlin, é natural que coloquem os olhos em alguém como você.
— Por isso perguntou quando eu irei embora?
— Exatamente.
— Quem diria que em apenas um ano, você, a impermeável Aria, se preocuparia com o meu bem-estar ao ponto de pedir para que eu fuja. Estou realmente sem palavras.
— Não abuse do sarcasmo, Senzo. Sou uma mulher reservada demais para engolir palavras sem sentido.
— Perdão, não resisti. — Disse, com um pequeno sorriso. Está tentando não mudar a atmosfera da conversa — Além de Teros, há mais alguém atrás de mim?
— O detetive Cawlo Oraille, de Venore.
Conhecia esse nome. O próprio Nuito conhece o individuo, dizendo que ele é um dos melhores detetives que já viu, e corre por alguns lugares rumores de que ninguém jamais escapou dele. Ele engole em seco, batendo o dedo na mesa com agitação.
— Pois bem. Sairei de Carlin em dois meses.
~*~
Alguns meses após a audiência, Senzo habita agora Ankrahmun, lar das inúmeras pirâmides e casas de arenito, quente e inconquistável, protegido por antigos faraós e potência no sul. Além da Baía da Liberdade, é um ótimo local para comércio de tecidos e tapeçarias, bem como joias e diversos artefatos, riquezas como os vasos mais finos e os utensílios mais bem trabalhados para o lar.
Mas tudo isso é irrelevante para Senzo. Miraya sempre expressou um desejo por viver nessa cidade. Não poderia estar mais feliz decorando a casa onde vivem agora: Uma das pequenas pirâmides habitáveis, próxima do centro da grandiosa cidade desértica. O dinheiro pra consegui-la só foi possível após o alquimista conseguir, com sucesso, gerar uma falsa joia rara, de coloração púrpura, garantindo que foi um grande achado de um distrito abandonado de Yalahar. Vendida a preço milionário em Carlin, ele desapareceu em dois dias de lá junto com sua amada, desmanchando seu laboratório e sumindo com seus documentos no processo.
Agora, ele vende mais que mobília: Vende também pequenas joias, como se fossem achados de Yalahar. O mesmo relata para seus poucos – mas riquíssimos – compradores que trouxe-as da cidade dourada, local que quase ninguém dali visitou alguma vez na vida. Seu negócio atraiu até mesmo os olhares do grão-vizir, que convidou-o para um jantar, com o objetivo de discutir sobre assuntos e relatos da sua terra natal. Mesmo que o grão-vizir seja apenas uma múmia que não come nada.
A mudança foi positiva para Senzo, pois Nuito está vivendo em Porto Esperança. Cruzar Tiquanda não é uma opção, até porque ainda não há uma trilha definida que conecte ambas cidades em segurança, mesmo que já se saiba que elas ficam no mesmo continente. Dessa forma, essas cidades usam navios para chegar de um lugar até o outro.
Naquele dia em especifico, ainda no ano de 330, Senzo está recebendo Nuito, após ambos ficarem sem se falar por um bom tempo. Miraya está em uma casa de banho das redondezas. Tudo parece perfeito para eles.
— O Nancore realmente te gerou belos frutos! — Disse Nuito, sentado num sofá amarelo, na sala principal da casa — Essa casa é incrível. Na verdade, Ankrahmun é incrível. Mesmo que as vezes esse lugar pareça cheirar a morte.
— Normal para uma cidade que faz múmias atrás de múmias. E ainda é protegida por outras múmias. Já viu o Grão-Vizir? — Disse Senzo, sentado numa poltrona branca, próxima do sofá.
— Inclusive já vi o Faraó. Ele é bastante cultuado e respeitado aqui. Como se fosse um Deus.
Maldição. Ele atiçava desejos de poder que nunca tive.
— Deve ser bom a beça ser um Deus.
Senzo sente-se incomodado com algo no que acabara de falar. Talvez com o quão ganancioso pareceu.
— É, e existem vários deuses por aí. Por exemplo, Fafnar, o sol. Ela feriu gravemente a deusa do mar, Bastset, o que enfureceu seu irmão apaixonado pelo mar, Suon, fazendo ele a perseguir por toda a eternidade para se vingar. Por isso que temos ciclos de dia e noite. É minha lenda preferida.
— Não passa de lenda. Nunca acreditei nessas coisas.
— Você é ateu ou coisa assim?
— Pode-se dizer que sim, pode-se dizer que não. Nunca vi motivo para orar ou pedir benção dos deuses. Não tenho nada mais a reclamar de minha vida, Nuito. Eu inclusive não estou mais pensando em fazer alguma coisa depois do Nancore.
— Mas você poderia desenvolvê-lo mais ainda! E se você conseguisse moldar coisas ainda maiores que os simples itens que você faz? E se você conseguisse fazer até dragões surgirem do Nancore?
E se eu sou assim hoje, é TUDO culpa dele.
— Nuito, isso é loucura. Se esse poder cair em mãos erradas, o que você acha que vai acontecer com Tibia?
— Bem... — Balbucia Nuito, coçando atrás da cabeça — Eu admito que exagerei um pouco agora, mas o que eu quero dizer é que alquimistas sempre buscam melhorar, e nunca se acomodar porque já fizeram demais. Já te compararam com o Lorde de Kharos?
Por alguma razão, o ar pareceu mais pesado e até mesmo o chão parecia estranho. Como se vários corpos estivessem se movendo embaixo dele. Os faraós não gostam desses comentários, pensa Senzo.
— Já. E não planejo ser como aquele infeliz.
— Você poderia ser melhor do que ele. E eu estou disposto a te ajudar.
Senzo fica algum tempo calado. Depois, ele levanta e se dirige a janela, com os braços cruzados, pensando. Nuito estava com um pequeno pote de cerâmica no colo com alguns biscoitos, dos quais ele ia comendo sem se importar se alguém iria querer também.
O jovem alquimista está pensando sobre o Nancore, e que, de certa forma, Nuito está certo. Aquilo ainda não está completo. Falta mais pesquisa, mais testes, mais aprimoramentos. Sua invenção ainda está fraca, e ele está só começando. Afinal, enquanto ele esteve parado, Nuito esteve avançando como nunca antes, desenvolvendo curas e remédios para as mais variadas doenças que podiam ser pegas em Tiquanda ou em outro lugar, apoiando a medicina mundial e mapeando cada ser vivo que encontra por lá. Nuito esteve sempre avançando, mas Senzo se acomodou por ter conseguido uma mulher que o ama incondicionalmente e pela criação daquela invenção que cria tudo do zero.
— Verdade, Nuito. Eu posso ser melhor. Afinal, o Nancore não passa de uma invenção incompleta. Um criador de cópias.
— Nunca me passou pela cabeça que ela estava incompleta ainda, cacete. O que falta?
Senzo vira-se para ele com um sorriso. Um bem ganancioso.
— Exatamente o que você disse. O poder de criar dragões do zero.
Próximo: Capítulo 31 – Resmonogatari IV
Nota:
* Eu decidi que Yalahar teria uma tecnologia superior a todo o resto de Tibia, desde ter sistemas de encanamento e eletricidade até a criação de robôs e autômatos. Eu acredito que, caso eu acabe criando uma sequência, eu possa explicar melhor como os tibianos evoluíram, assim dando pano pra manga pra eu colocar algumas criações minhas em ação.