Página 15 de 19 PrimeiroPrimeiro ... 51314151617 ... ÚltimoÚltimo
Resultados 141 a 150 de 185

Tópico: Bloodtrip

Hybrid View

Post Anterior Post Anterior   Próximo Post Próximo Post
  1. #1
    Avatar de Neal Caffrey
    Registro
    27-06-2006
    Idade
    33
    Posts
    3.043
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Eu acho interessante essa "japonização" nos seus contos. Embora não seja exatamente um fã de anime ou de desenhos japoneses no geral, a abordagem num conto de RPG pode ser bacana. Continuo acompanhando o tema pra opinar com mais precisão em uma situação futura.

    Quer dizer então que a dona Miraya tá que tá querendo botar as manguinhas de fora? Se houver uma cena sexual em Bloodtrip como houve n'A Relíquia do Tempo, bah, I'll shit bricks. Mesmo que os romances não encham os meus olhos (os romances, não os romances policiais), acho o tema legal, talvez até envolvente.

    Finalmente, esse personagem, Suzio, tem potencial. Gostaria de ver mais algumas altercações entre Nightcrawler e ele (aliás, onde está Nightcrawler? Saudades), especialmente com o intermédio da atuação de Dartaul. São os três personagens mais elucidativos que você tem.

    Aguardando o próximo capítulo. Um forte abraço e um cheiro no cangote pela retaguarda.

    Publicidade:


    Jogue Tibia sem mensalidades!
    Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
    https://taleon.online
    Jason Walker e o Retorno do Príncipe
    Sexta história da série de Jason Walker e contando. Quem sabe não serão dez?

    Este fórum exige que você aguarde 120 segundos entre posts consecutivos. Por favor, tente novamente em 1 segundos.

  2. #2
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
    Registro
    23-03-2012
    Localização
    São Paulo
    Posts
    2.376
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Citação Postado originalmente por Neal Caffrey Ver Post
    Eu acho interessante essa "japonização" nos seus contos. Embora não seja exatamente um fã de anime ou de desenhos japoneses no geral, a abordagem num conto de RPG pode ser bacana. Continuo acompanhando o tema pra opinar com mais precisão em uma situação futura.

    Quer dizer então que a dona Miraya tá que tá querendo botar as manguinhas de fora? Se houver uma cena sexual em Bloodtrip como houve n'A Relíquia do Tempo, bah, I'll shit bricks. Mesmo que os romances não encham os meus olhos (os romances, não os romances policiais), acho o tema legal, talvez até envolvente.

    Finalmente, esse personagem, Suzio, tem potencial. Gostaria de ver mais algumas altercações entre Nightcrawler e ele (aliás, onde está Nightcrawler? Saudades), especialmente com o intermédio da atuação de Dartaul. São os três personagens mais elucidativos que você tem.

    Aguardando o próximo capítulo. Um forte abraço e um cheiro no cangote pela retaguarda.
    Grande Neal, obrigado pelo comentário e pelos elogios.

    Eu não estou exatamente "japonizando" Bloodtrip, ele foi planejado dessa forma mesmo. Ele tem influência japonesa, nórdica e europeia, pois são meus locais favoritos do mundo. Caso tenha reparado, os elementos asiáticos estão sempre do lado da Irmandade, e seria um dos mistérios que rondam as origens dela. É uma das coisas que escondi aí na história e não esperava que ninguém percebesse mesmo

    E cara, Suzio é o Nightcrawler você tá falando do Senzo. Os capítulos seguintes focarão nele. Teremos cenas dele com o detetive, elas estão chegando.

    Sei de nada da Miraya, também já adianto que não vai rolar mais essas cenas aqui não, TBR é um fórum de família e eu acho um saco escrever essas paradas, sério, aquela única que teve na história já foi bem difícil de escrever. Nunca mais

    Obrigado pela presença constante Neal, espero não perdê-lo.







    Vim avisar que meu PC tá com um possível problema de superaquecimento, e por isso, terei que parar Bloodtrip por tempo indeterminado. Ao menos até que isso esteja resolvido e o computador ainda sirva pra escrever textos.

    Apesar de estar mandando isso aqui pelo celular, não escrevei os capítulos seguintes por aqui. É péssimo fazer isso e a possibilidade dos capítulos saírem uma merda é bem alta. Passo longe.

    No mais, aguardem. I'll be back.



    ◉ ~~ ◉ ~ Extensão ~ ◉ ~ Life Thread ~ ◉ ~ YouTube ~ ◉ ~ Bloodtrip ~ ◉ ~ Bloodoath ~ ◉ ~~ ◉

  3. #3
    Avatar de Neal Caffrey
    Registro
    27-06-2006
    Idade
    33
    Posts
    3.043
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Citação Postado originalmente por CarlosLendario Ver Post
    Grande Neal, obrigado pelo comentário e pelos elogios.

    Eu não estou exatamente "japonizando" Bloodtrip, ele foi planejado dessa forma mesmo. Ele tem influência japonesa, nórdica e europeia, pois são meus locais favoritos do mundo. Caso tenha reparado, os elementos asiáticos estão sempre do lado da Irmandade, e seria um dos mistérios que rondam as origens dela. É uma das coisas que escondi aí na história e não esperava que ninguém percebesse mesmo

    E cara, Suzio é o Nightcrawler você tá falando do Senzo. Os capítulos seguintes focarão nele. Teremos cenas dele com o detetive, elas estão chegando.

    Sei de nada da Miraya, também já adianto que não vai rolar mais essas cenas aqui não, TBR é um fórum de família e eu acho um saco escrever essas paradas, sério, aquela única que teve na história já foi bem difícil de escrever. Nunca mais

    Obrigado pela presença constante Neal, espero não perdê-lo.







    Vim avisar que meu PC tá com um possível problema de superaquecimento, e por isso, terei que parar Bloodtrip por tempo indeterminado. Ao menos até que isso esteja resolvido e o computador ainda sirva pra escrever textos.

    Apesar de estar mandando isso aqui pelo celular, não escrevei os capítulos seguintes por aqui. É péssimo fazer isso e a possibilidade dos capítulos saírem uma merda é bem alta. Passo longe.

    No mais, aguardem. I'll be back.
    Caralho, sim. Senzo. Bati na trave no nome do personagem, mas apenas confundi um com o outro. Os personagens em si são inconfundíveis. Quis dizer que Senzo é um personagem com potencial. Suzio não é um personagem com potencial, Suzio é um personagem perfeito por si só.

    Espero que esse hiato não dure muito tempo, Carlinhos. Esteja certo de que, quando Bloodtrip voltar, estarei aqui novamente.
    Jason Walker e o Retorno do Príncipe
    Sexta história da série de Jason Walker e contando. Quem sabe não serão dez?

    Este fórum exige que você aguarde 120 segundos entre posts consecutivos. Por favor, tente novamente em 1 segundos.

  4. #4
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
    Registro
    23-03-2012
    Localização
    São Paulo
    Posts
    2.376
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão Capítulo 31 - Resmonogatari II

    Citação Postado originalmente por Neal Caffrey Ver Post
    Caralho, sim. Senzo. Bati na trave no nome do personagem, mas apenas confundi um com o outro. Os personagens em si são inconfundíveis. Quis dizer que Senzo é um personagem com potencial. Suzio não é um personagem com potencial, Suzio é um personagem perfeito por si só.

    Espero que esse hiato não dure muito tempo, Carlinhos. Esteja certo de que, quando Bloodtrip voltar, estarei aqui novamente.
    >carlinhos

    Neal, Neal. Obrigado pela constante presença no tópico.

    Acredito que Senzo possa ser do seu agrado. Há muito guardado pra ele nesses próximos capítulos. Mas certamente não será como Nightcrawler.


    Voltei, e espero não partir de novo dessa forma. Só é uma pena que eu não consiga terminar a história esse ano. Tá durando mais do que planejei originalmente.










    Caras, depois de um tempo sumido, estou de volta. Meu computador não foi consertado, então estou usando um notebook que entrou aqui em casa recentemente e serve para o propósito de escrever.

    Perdi um pouco da mão nesse tempo que fiquei fora, então é possível que eu dê uns deslizes nesses próximos capítulos. Mas não demorará muito pra retomar o ritmo. A propósito, decidi mudar o nome do capítulo 31 pois achei que se encaixaria melhor ao propósito dele.

    Espero que gostem!





    No capítulo anterior:
    O jovem Senzo conhece Nuito. Ele entra no Centro das Almas de Ferro, uma poderosa academia para aqueles que desejam ser alquimistas. Ela também ajuda a formar engenheiros e outros tipos de formação. Lá, ele constrói Yoru, um automato com o formato de um louva-a-deus, e o apresenta na Feira Internacional de Maravilhas, mas um acidente grave ocorre durante a apresentação.




    Capitulo 31 – Resmonogatari
    Parte 2




    O ano é 327. Passou-se três anos desde o caso Yoru.

    Embora o caso tivesse chocado Yalahar e se espalhado pelo mundo, Senzo não se deixou abalar. Isso porque seus amigos não permitiram que isso acontecesse. Ele ainda está estudando no Centro das Almas de Ferro, e este será seu último ano.

    As pessoas, bem como o colégio, se esforçaram para esquecer o episódio. Ver alguém sendo eletrocutado até a morte certamente não é uma boa programação para uma tarde, mas os humanos tem uma grande habilidade que até mesmo os elfos invejam: Esquecer. Dito isso, é normal ver mais jovens entrando no colégio todos os anos, e o movimento não diminuiu tanto. Agora mesmo, durante uma nova tarde ensolarada de Yalahar, dois rapazes de 14 anos andam tranquilamente até as escadarias que levam ao colégio. Mas no caminho delas, encostado, está uma figura de cabelos lisos e negros, pálida, encarando-os com cara de poucos amigos.

    Senzo desce e se dirige a passos lentos até a dupla. Receosos, decidem começar a falar.

    — Boa tarde... — Começa o primeiro rapaz, com tanto vergonha quanto medo — Somos novos alunos do colégio, disseram que um guia nos aguardaria no colégio para explicar o que precisamos saber. Você é o guia?
    — Eu tenho cara de guia?

    O segundo rapaz engole em seco. Ambos estão vestidos com o mesmo uniforme, um casaco de botões branco, calças negras e sapatos marrons. Os jovens parecem intimidados – certamente uma má recepção para ambos.

    — B-Bem... Você parece ser um aluno veterano daqui, achamos que poderia nos ajudar...
    — Não. Estou incumbido de proteger esse lugar de qualquer coisa que signifique ignorância. É um lugar para poucos. E não inclui vocês.
    — Com licença, mas fomos aceitos na nossa entrevista, com certeza podemos entrar nesse colégio. — Disse o segundo, da maneira mais educada e comportada possível para evitar problemas.
    — Não é porque foram aceitos que podem necessariamente entrar aqui dentro. Vocês não fazem ideia do que é estar nesse colégio nem do que é necessário. Posso dizer isso apenas olhando para as suas faces.
    — Me desculpe, mas você é apenas um aluno, não pode nos dizer que não podemos estudar aqui!

    Senzo levanta uma sobrancelha. Em seguida, seu braço, que é envolvido em segundos por uma peça de metal amarelada. Algo semelhante a um tentáculo saindo de suas costas, e envolvendo seu braço como um segundo braço mecânico, contendo uma lâmina de 30 centímetros na ponta.

    — O que você disse? — Dispara Senzo, notavelmente irritado.

    Mas ao invés das crianças se sentirem assustadas, elas se impressionam. Aparentemente, já viram aquilo de algum lugar. Logo acabam abrindo sorrisos de admiração.

    — Ei, ei! — Disse o primeiro rapaz, encarando com surpresa a peça — Isso é a Célula de Ferro! Você é Senzo?

    Agora quem está incomodado é Senzo. Pois ele já sabia que os rumores de sua criação se espalharam por Yalahar.

    — E se eu for?
    — Você é incrível! Criou não só isso como Yoru, o autômato mais bonito já criado! Mesmo que tenha acontecido aquele acidente, você fez um grande trabalho!
    — Entramos nesse colégio apenas por sua causa! Queremos ser grandes engenheiros como você! — Disse o segundo, acompanhando a agitação do primeiro.

    O jogo virou. Agora é Senzo quem está acuado, sem saber o que responder. Aquela admiração é realmente irritante para ele, alguém que está acostumado a ser, no mínimo, um figurante. Antes que pensasse em sair andando, uma boa alma surge para salvá-lo daquela situação.

    — Ora, ora, Senzo. Está assustando jovens a essa hora do dia? Ou seria o contrário? — Disse Nuito, brincando com o fato do amigo já estar numa péssima situação para ele mesmo.
    — Hein? Não estou fazendo nada!
    — E por que está mostrando a Célula de Ferro, então?

    Senzo fica um pouco cabisbaixo e irritado, e acaba se afastando. Nuito decide resolver o caso.

    — Não se preocupem, ele é assim mesmo. Gosta de testar todos os novos alunos. Ele está no último ano, afinal de contas.
    — Ah, você é Nuito?! Criador da Teoria da Criação por Alquimia e da Solução Lacrixca? — Questiona o primeiro rapaz, com um grande sorriso no rosto.
    — Sim, e sou o guia de vocês. Nuito Resgakr, tutor iniciante do Centro das Almas de Ferro. Devem conhecer meu amigo.

    O jovem desativa a Célula de Ferro, fazendo ela voltar para suas costas. Ou para um pequeno dispositivo que tem um formato semelhante a um ovo numa frigideira, que está no lado esquerdo de suas costas. Continua afastado, apesar de ainda atrair o olhar dos novatos.

    — Conhecemos sim!
    — Bem, ainda darão de cara com ele aqui algumas vezes. Não me verão com muita frequência, no entanto.
    — Que grosseria a nossa! Meu nome é Bertolomey e o meu amigo se chama Lucio! Prazer em conhecê-lo! — Disse o segundo garoto, estendendo sua mão para Nuito.
    — Igualmente. Logo alcanço vocês.

    Os jovens assentiram e foram rapidamente para a entrada do colégio. Senzo os fita ao longe, insatisfeito e ofendido. Nuito coloca seu braço em seu ombro, também observando os novatos.

    — Então você não sabe lidar com a fama? Deveria já ter se acostumado.
    — Me acostumei com o lado ruim dela.

    Nuito fica em silêncio por um instante.

    — Para, vai. Como eu já disse inúmeras vezes, você é inteligente. Muito inteligente. E merece o respeito que tem ganhado aqui dentro.
    — Que seja. Não gosto disso e ponto final.
    — Ah, que gênio chato.

    Por que acreditei nele?


    É a terceira vez que Nuito o chama dessa maneira. Ele continua incomodado com o elogio.

    — Não tem mais o que fazer?
    — Você também tem, não?
    — Pro inferno. Eu tô indo, te vejo depois.

    Senzo afasta-se e sai andando. Nuito ri e vai até o colégio para ajudar os novatos, como lhe foi pedido.

    Faz um bom tempo desde que Nuito se formou. Ele entrou no colégio com apenas 11 anos, e no ano seguinte ao que Senzo entrou, ele já se formou. Quatro anos de curso foram mais que suficiente para ele, mas ainda assim ele decidiu continuar lá tanto para ajudar seu amigo quanto para aprimorar seu currículo. Ele pode ser muito conhecido em Yalahar, mas não eram todos que ouviram seu nome fora da cidade-estado.

    Em direção ao leste, Senzo caminha pelas ruas brancas de Yalahar, seguindo pela calçada para não ser atropelado por algum maluco com um cavalo descontrolado, ou por uma carruagem em alta velocidade. Essas ruas sempre lhe eram interessantes, pois os cavalos não eram as únicas montarias que as pessoas usam por lá. Sempre há criaturas interessantes levando seus mestres aqui e ali. Talvez o caso mais engraçado que ele já viu até então foi um homem relativamente grande montando uma ovelha negra. Parecia que eu estava no circo por um momento, pensa Senzo.

    Ele atravessa a rua e para na fachada de uma casa relativamente grande, de dois andares, onde por uma extensa vitrine era possível ver um professor e alguém tocando um piano marrom. Ao entrar no lugar, ele encanta-se com a suave e ao mesmo tempo firme melodia que a pessoa toca para o professor, que contempla a execução dessa obra prima com orgulho. Aparentemente ela já está no fim, então Senzo fica ao lado da porta em absoluto silêncio.

    O jovem observa a sala onde se encontra. O chão é de madeira, e há apenas uma vitrine do lado de fora, e ao redor há apenas paredes brancas. Há diversos quadros pendurados nela, e há mais de um piano ali. Próximo de onde ele está, encontra-se uma mesa grossa também de madeira com muitos papéis em cima, bem como um pote de tinta com uma pena dentro dele.

    A música acaba. Quando o professor nota Senzo na porta, ele decide dar apenas alguns elogios para a pianista e se retira para o corredor próximo daquele piano, que está perto de uma parede cheia de quadros estranhos representando criaturas da noite. Um gosto um tanto exótico, ou diferente.

    Esta pianista fita Senzo ao longe e caminha rapidamente até ele. Indo em sua direção, com um belo sorriso no rosto, está Miraya, a garota de olhos levemente puxados e cabelo curto e escuro como o breu. Ao parar de frente para ele, ela pega suas mãos, e antes que o rapaz possa reagir, ela beija-o. Um beijo que dura quase 10 segundos.

    Logo que ela o solta, ele parece um pouco surpreso e também agitado. Ela dá uma risadinha entre os dentes.

    — Esse foi meu boa tarde. Como você está hoje, mocinho? — Indaga Miraya, sorrindo.
    — B-Bem... Ah, sei lá. Não consigo pensar em mais nada depois disso. — Responde Senzo, esforçando-se para não gaguejar ou parecer ridículo.
    — Então você está bem. Assim como eu.

    Miraya dá alguns passos para trás para vê-lo melhor. Senzo lhe manda um olhar curioso.

    — Você está realmente bonito hoje.

    Senzo está mais apresentável do que de costume. Seu cabelo está bem arrumado num pequeno rabo de cavalo. Seu paletó branco, bem como a camisa preta que está usando por baixo, contrasta bem com sua calça azul escura e seus sapatos sociais marrons. Ele não tem o costume de se arrumar, mas quando o faz, dá bons resultados.

    — Nem tanto. — Balbucia o garoto, coçando a cabeça — Só tentei parecer menos feio.
    — Isso é papo de gente triste! Vamos, você está sempre bonito. E hoje está bem mais que o normal. Sinto como se fosse arrancar a cabeça de qualquer garota que ousasse olhar pra você com interesse.

    Ela é boa demais pra mim, pensa, enquanto sorri sem jeito. Miraya, que está com uma blusa de mangas longas de um laranja bem claro, bem como calças escuras e sapatilhas brancas, parece roubar bem mais a atenção do público do que ele. Ela não está tão arrumada, mas ela não precisa de muito pra parecer atraente.

    — Bem, vamos indo? — Disse Miraya, pegando a mão de Senzo e levando-o para fora antes que ele pudesse protestar. Se é que ele deseja mesmo fazer isso.

    O casal cria seu próprio dia conforme passeiam pela cidade. Passam numa sorveteria, conversando e brincando sobre várias coisas. Passam num dos Centros de Xadrez e ficam um bom tempo disputando, sem se importar com o fato de serem o único casal dali; por fim, acabam num restaurante, onde Senzo se esforçou um pouco para pagar a conta. Um encontro comum entre um casal que parece se dar muito bem.

    Eles começaram a namorar há pouco menos de dois anos. Ambos se davam muito bem, e aparentemente Miraya lidava bem com o fato dele preferir estudar do que sair. Ela própria é assim, embora não estude tanto quanto Senzo. Ela também não se importa com o comportamento as vezes tóxico dele, com comentários um tanto ofensivos, chegando até a rir ao ouvi-los. Certa vez, ele acabou assustando sem querer uma criança, e ela se acabou de rir vendo aquilo ao invés de consolar o pequeno. Uma garota perfeita para ele.

    Embora não passem tanto tempo juntos, seus encontros eram mais que satisfatórios para os dois, que mais conversavam do que faziam outras coisas de casal. Por isso, Senzo não se sente culpado por deixá-la em casa para voltar ao Centro das Almas de Ferro para continuar trabalhando, ao invés de prosseguir com o encontro; e Miraya não se sente incomodada por ele preferir continuar seu trabalho. Afinal, ele está trabalhando em algo muito maior do que a Célula de Ferro, e precisa de tempo. E assim ele o faz no final do encontro, despedindo-se de sua garota com apenas um beijo rápido.

    Após vinte minutos, ele volta para o colégio, e dirige-se para os dormitórios, que ficam atrás da grande construção. Logo, ele chega nos laboratórios abaixo deles. Hora de trabalhar.


    Em seu dormitório, algumas semanas depois, Nuito testa a Célula de Ferro. Do mesmo jeito que antes, mas agora com um cilindro com seis buracos na ponta que lançam dardos. Com alguma dificuldade ele acerta todos os dardos num alvo do outro lado do quarto. Enquanto isso, Senzo observa um pequeno pote de vidro com uma tampa escura, com um liquido branco e viscoso dentro. Nuito repara e decide recolher a invenção que estava usando, vencido pela curiosidade.

    — Ei, Senzo. O que é isso aí?
    — Ah, isso? É muito mais complexo do que você imagina.
    — Ah, vamos lá, nada é complexo demais pra mim, sabe disso.

    Senzo gira um pouco a própria cadeira e contempla o potinho.

    — A Teoria da Criação por Alquimia diz que tudo que é físico nesse mundo possui não só uma assinatura própria em nível microscópico como também uma leitura própria. Algo semelhante a DNA e coisas assim. O que eu fiz foi estudar todas essas leituras a fundo e portar todas elas para uma coisa só. Elas assumiram essa forma líquida e branca que chamo de Nancore. E precisei apenas de alguns materiais que possuíam as leituras que eu precisava.

    Nuito parece perplexo.

    — Em suma, você criou uma coisa que cria outras coisas?
    — Exatamente. Não é incrível?

    Seu amigo não sabe como reagir.

    Senzo nem chegou a terminar o curso ainda, mas sempre se mostrou genial. Ele sabia que o amigo tinha potencial para ultrapassá-lo e criar coisas muito mais grandiosas que seus próprios estudos e teorias, algo grande até para um biólogo, coisa que ele planeja ser. Mas agora ele está vendo o rapaz criar algo baseado no que ele mesmo desenvolveu. Um estudo incompleto, uma teoria. Trazida para a realidade com forma física.

    Ele já pode se declarar superado.

    — Mas, no entanto, existem certas complicações na criação do Nancore, e ainda não consegui um material muito importante de Porto Esperança. Então acho que o Nancore não é capaz de criar nada ainda.

    Ou por enquanto não.

    — Ah, que pena. Seria incrível ver isso em ação. Conte comigo se precisar de ajuda.
    — Acho que vou precisar sim, afinal, foi você quem criou o estudo que me baseei.
    — E eu me baseei em outro estudo yalahari. Então não há nada demais no que estamos fazendo.
    — Claro que há! Estamos melhorando o que foi criado no passado! Não é assim que a humanidade sempre funcionou?

    Senzo sempre se empolgava na hora de falar sobre assuntos do tipo e até esquecia-se de certas coisas. Até mesmo sobre ética. Mas, no momento, ele não está prejudicando ninguém, o contrário: Está criando algo que pode ajudar muitas pessoas e mudar o mundo ao mesmo tempo. Mal dá pra imaginar o quanto de coisas que podem ser feitas a partir do Nancore.

    — De qualquer forma, você vai apresentar isso na feira desse ano? Seria um forte candidato a vencer.
    — Não. Ele não está pronto.
    — Ah é, verdade. Falta o material de Porto Esperança, não é? E qual é?

    Senzo guarda o potinho numa gaveta antes de falar alguma coisa.

    — Um coração de um lagarto templário de Chor.

    Nuito engole em seco.


    ~*~


    A Feira Internacional de Maravilhas retorna após três anos. O caso Yoru realmente foi fatal para a reputação do colégio e por muito pouco Senzo não foi expulso, e isso porque Nuito ajudou a aliviar a pena.

    Com o retorno, os projetos de alquimia já não tinham mais a mesma mistura complexa com a engenharia, apenas em raros casos. Peças de robôs não eram mais vistas, tampouco as pequenas maravilhas que se moviam sozinhas e eram feitas de muitas pecinhas. No ponto de vista do público, é como se a tecnologia tivesse atrasado seu progresso em alguns anos.

    Senzo veio com muita insistência por parte de Nuito para a feira. Acompanhado dele, bem como de Miraya e Ember, o grupo segue tranquilamente pelas barracas, evitando muita conversa com as outras pessoas. Elas ainda colocam os olhos em Senzo, e ele acaba ficando mais pálido do que de costume. Em inúmeras mesas, é possível ver machucados se recuperando instantaneamente, animais diminuindo de tamanho, pequenas mutações como uma cauda a mais, e até um hamster com supervelocidade, que atraiu bastante gente. Talvez o maior destaque daquela feira foi um remédio que fez um homem cego voltar a enxergar, mas o grupo não conseguiu chegar lá no momento em que aconteceu.

    Eles param em frente de uma barraca onde há vários alunos demonstrando soluções simples para problemas do cotidiano. Um deles era um garoto de 16 anos mostrando um anel que gerava açúcar infinito a partir do oxigênio, sendo usado para adoçar líquidos. Senzo está distraído e avoado, então não reparou quando o próprio criador do anel o chamou.

    Miraya o cutuca e ele percebe o jovem o encarando. Novamente fica incomodado.

    — Você é Senzo, não é? Senzo Damasukas! Eu queria muito que você me dissesse o que acha da minha invenção!
    — O... Quê? — Balbucia em resposta, não prestando muita atenção no que ele diz.
    — Meu nome é Udel, eu criei esse anel que pode gerar açúcar infinito! Veja, veja! — Disse, usando a ponta do anel, uma espécie de bola com formato octógono tridimensional, mergulhando-a num copo cheio de leite. Depois, ele o oferece.

    Todas essas coisas me dão ódio.


    Senzo encara o copo enquanto o tempo parece correr devagar. É muito estranho para alguém como ele receber esse tipo de atenção, como se alguém o admirasse. Ele sente ao mesmo tempo que a pessoa parece se rebaixar e se inferiorizar frente a ele, como se ele fosse a figura mais importante do mundo, quando nem passa pela sua cabeça algo assim. É um sentimento estranho, que o dá náuseas e faz sua cabeça formigar.

    Ser admirado parece lhe dar nojo.

    — Posso? — Pergunta Miraya para o garoto, tomando o copo de sua mão sem que ele pudesse reagir a tempo. Ela toma um gole um pouco longo e dá de volta para ele.

    Senzo e Nuito a encaram de forma estranha, mas ela parece ter gostado da invenção.

    — Eu gostei! Uma invenção simples, mas muito útil. Dá o açúcar na dosagem certa. É ótimo pra quem não tem tempo nem de ir pegar o pote de açúcar no armário e ainda é bonito.

    Apesar da resposta positiva de Miraya, o garoto não parece satisfeito.

    — Me desculpe, mas eu pedi apenas a opinião do Senzo e de mais ninguém.
    — Ah sim... Tudo bem. Só fiquei curiosa.
    — Espere que logo chamo vocês, pode ser?

    Pois me lembram dele.

    Senzo ouve aquilo e logo em seguida olha para Miraya, que assente para a resposta do estudante com um sorriso triste. E para Senzo, aquilo é um rosto muito mais triste do que aparenta. Que esconde muito mais sentimentos do que alguém pode imaginar. Pois Miraya é assim: Alguém pouco sentimental por fora, mas incrivelmente dramática por dentro.

    Isso é o suficiente para irritá-lo de verdade.

    — Sabe o que eu acho da sua invenção, Udel? — Disse Senzo, encarando o garoto, que não responde.

    O rapaz pega o copo e atira ele no chão, com muita raiva. Isso atrai vários olhares diretamente para o grupo.

    — Horrível. — Disse, com uma voz alta, porém rasteira e odiosa. De nojo.
    — O... O quê? P-Por quê? — Gagueja o pobre garoto, assustado com o ato de Senzo.
    — Um anel pra adoçar coisas? O que você tem na cabeça? Quer que os outros enfiem o dedo no meio da própria bebida só pra adoçar ela? Por que você acha que elas usam colheres ao invés da porra de um anel?
    — M-Mas ele p-pode criar pequenos c-cubos que-
    — Não importa o jeito que você explique, nem de como pode ser útil, é horrível. Uma merda. Jogue no lixo. Terá mais utilidade lá do que no dedo de uma pessoa, até porque ele é mais feio do que a sua mãe.
    — Senzo! — Grita Nuito, assustado com a forma que o amigo está atacando o jovem.

    Muitas pessoas estão encarando Senzo, que humilhou o jovem sem nem precisar gritar. Como se fosse algo desnecessário para alguém como ele. Isso assusta até Miraya, que até então não se importava com a forma que Senzo se comportava de vez em quando.

    Sem falar muito mais, ele sai andando entre o público, com um olhar sério e duro. Parece outra pessoa, ao menos para quem o conhece. E sem parar nem olhar para alguém, ele sai da feira, acreditando que foi um grande erro entrar lá dentro.

    Fora do Centro das Almas de Ferro, ele encara o céu, com algumas nuvens quase a cobrir o sol. Provavelmente choverá mais tarde.

    É o clima perfeito para o começo da formação de um homem.






    Próximo: Capítulo 31 – Resmonogatari III
    Última edição por CarlosLendario; 15-12-2017 às 18:34.



    ◉ ~~ ◉ ~ Extensão ~ ◉ ~ Life Thread ~ ◉ ~ YouTube ~ ◉ ~ Bloodtrip ~ ◉ ~ Bloodoath ~ ◉ ~~ ◉

  5. #5
    Avatar de Neal Caffrey
    Registro
    27-06-2006
    Idade
    33
    Posts
    3.043
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    OOOOOOOOOOOOOOOOOOHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH YYYYYYYYYYYYYYYYYEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEAAAAAAAAAAAA AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH

    Caraca, bicho. Prioridades primeiro.

    Este capítulo foi uma obra prima. Já havíamos comentado sobre Senzo antes, e o fato do seu mau humor aparente poder ser facilmente dissolvido com algumas palavras gentis diz algo sobre ele, sinceramente. Lembro-me, certa feita, de ter criado um personagem semelhante, que pretendia ser mau, mas que, no fundo, era um verdadeiro gentleman. Severo Snape feelings.

    E, cá entre nós: engenheiros sendo engenheiros. Qual é o problema com a droga de um anel que faz açúcar? Particularmente, como um cafeinólogo inveterado, bastaria que Udel criasse uma máquina de café que funcionasse sem café e voilà: teríamos chegado ao auge do desenvolvimento humano. Pobre Udel. Talvez a mãe dele nem seja tão feia assim.

    Cara, é inenarrável o prazer de tê-lo de volta. Tão logo acessei o fórum e vi a atualização do tópico, corri até aqui, torcendo pra que fosse um capítulo novo, e não uma postagem postergando o seu retorno. E, oportunamente: Carlos, Carlinhos, Carlão, bah, tanto faz. Todos os três, que na verdade são a mesma pessoa, são excelentes escritores e são exímios criadores de personagens e narrativas. Já disse antes e repetir não mata: Bloodtrip é uma das obras-primas da seção.

    Welcome back, old friend! Espero que, tão provisória quanto foi a retirada, seu retorno seja definitivo.

    Conte comigo. Gratidão eterna por ti e pelo seu trabalho.




    Publicidade:


    Jogue Tibia sem mensalidades!
    Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
    https://taleon.online
    Jason Walker e o Retorno do Príncipe
    Sexta história da série de Jason Walker e contando. Quem sabe não serão dez?

    Este fórum exige que você aguarde 120 segundos entre posts consecutivos. Por favor, tente novamente em 1 segundos.

  6. #6
    Avatar de Senhor das Botas
    Registro
    14-02-2011
    Posts
    2.320
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    HE IS BACK!

    Enfim, assim como o Neal, fico feliz que tenha retornado xD. Agora, sobre o capítulo, conseguiu atiçar minha curiosidade mais uma vez, e isso sem um cliff hanger. Sério, essa p*ta personalidade do Nightcrawler, o seu jeito bem ácido de ser, que escreveu esse capítulo e acabou por encarnar na personalidade do Nightcrawler...

    Continue Carlão. A história está por chegar em seu fim, e tenho certeza de que um fim glorioso ela terá, baseado em seus últimos capítulos, e mais importante, na história como um todo.


    Não espere algo bem elaborado e feito. De resto...

  7. #7
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
    Registro
    23-03-2012
    Localização
    São Paulo
    Posts
    2.376
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão Capítulo 31 - Resmonogatari III

    Citação Postado originalmente por Neal Caffrey Ver Post
    OOOOOOOOOOOOOOOOOOHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH YYYYYYYYYYYYYYYYYEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEAAAAAAAAAAAA AAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH

    Caraca, bicho. Prioridades primeiro.

    Este capítulo foi uma obra prima. Já havíamos comentado sobre Senzo antes, e o fato do seu mau humor aparente poder ser facilmente dissolvido com algumas palavras gentis diz algo sobre ele, sinceramente. Lembro-me, certa feita, de ter criado um personagem semelhante, que pretendia ser mau, mas que, no fundo, era um verdadeiro gentleman. Severo Snape feelings.

    E, cá entre nós: engenheiros sendo engenheiros. Qual é o problema com a droga de um anel que faz açúcar? Particularmente, como um cafeinólogo inveterado, bastaria que Udel criasse uma máquina de café que funcionasse sem café e voilà: teríamos chegado ao auge do desenvolvimento humano. Pobre Udel. Talvez a mãe dele nem seja tão feia assim.

    Cara, é inenarrável o prazer de tê-lo de volta. Tão logo acessei o fórum e vi a atualização do tópico, corri até aqui, torcendo pra que fosse um capítulo novo, e não uma postagem postergando o seu retorno. E, oportunamente: Carlos, Carlinhos, Carlão, bah, tanto faz. Todos os três, que na verdade são a mesma pessoa, são excelentes escritores e são exímios criadores de personagens e narrativas. Já disse antes e repetir não mata: Bloodtrip é uma das obras-primas da seção.

    Welcome back, old friend! Espero que, tão provisória quanto foi a retirada, seu retorno seja definitivo.

    Conte comigo. Gratidão eterna por ti e pelo seu trabalho.
    Olha esse Neal obrigado pelo comentário e pelos muitos elogios. Não que eu os mereça.

    É bom saber que o capítulo foi tudo isso pra você, mostra que não estou escrevendo tão mal. Eu dei um certo esforço pra tudo sair ok, do começo ao fim. Notei que ainda tenho certa dificuldade com cenas de casal. Isso provavelmente porque não sou tão experiente no assunto (leia-se não tive vários casos de amor tampouco li trabalhos românticos o suficiente) e penso que estou cometendo algum erro. As melhores cenas mesmo são as que eu posso colocar ação seja através de palavras, seja através de porrada.

    Senzo ser comparado ao Severo Snape até que faz sentido. Agora que você falou, notei certa semelhança entre os dois. Btw, mal tomavam café nessa época ainda, pois se você notar, a história está se passando muitos anos antes do caso atual com Nightcrawler. (Inclusive vocês já deveriam ter notado isso, tô jogando na cara já ) A propósito, também adoro café e preferia que ele tivesse criado algo do tipo também, mas aí seria demais pra um estudante de 16 anos.

    Obrigado mesmo por todos os elogios Neal, mas acho que você exagera um pouco. Ainda assim, se pensa dessa maneira, não irei te parar. Isso me incentiva a continuar com a história, e trazer pra cá o que planejei até então, que não se restringe a Bloodtrip. Basicamente estou confirmando uma sequência. E ela pode acabar sendo mais longa que a história atual.

    Agradeço por tudo e espero que goste desse capítulo!

    Citação Postado originalmente por Senhor das Botas Ver Post
    HE IS BACK!

    Enfim, assim como o Neal, fico feliz que tenha retornado xD. Agora, sobre o capítulo, conseguiu atiçar minha curiosidade mais uma vez, e isso sem um cliff hanger. Sério, essa p*ta personalidade do Nightcrawler, o seu jeito bem ácido de ser, que escreveu esse capítulo e acabou por encarnar na personalidade do Nightcrawler...

    Continue Carlão. A história está por chegar em seu fim, e tenho certeza de que um fim glorioso ela terá, baseado em seus últimos capítulos, e mais importante, na história como um todo.
    Salve Botas, agradeço pelo comentário e pelos elogios.

    Agora, calma lá porra, chegou aqui mais perdido que cachorro que cai de caminhão de mudança. Esse capítulo em questão e suas partes não falam em nenhum momento de Nightcrawler. Aqui temos o personagem Senzo (que já revelei que é Soulslayer, um dos principais da Irmandade) e seus amigos e conhecidos. Estou contando uma história do passado e como ela se conecta com o presente. Eventualmente os pontos se ligarão.

    Mas obrigado pela presença Botas, espero que continue comigo até o final da história. E depois dela também. Falta leitores aqui.









    Pessoal, como disse na resposta acima, estou confirmando que Bloodtrip terá uma sequência. Em 2018 farei o possível para continuar escrevendo e não planejo parar. Estou aqui há cinco anos e planejo ficar mais tempo ainda!

    Agora, vamos seguindo com a história de Senzo.


    Espero que gostem!




    No capítulo anterior:
    Senzo está em seu último ano no colégio Centro das Almas de Ferro e está próximo de receber seu certificado de alquimista. Nuito se tornou um tutor para acompanhar os últimos anos dele. Senzo também conseguiu uma namorada chamada de Miraya, e ela tem apoiado ele em todas as suas criações. E no retorno da Feira Internacional de Maravilhas, o futuro alquimista humilha um dos inventores por ele ter entristecido Miraya, e por estar irritado com a admiração que tem ganhado dos alunos mais novos.




    Capitulo 31 – Resmonogatari
    Parte 3




    Faz horas desde que a feira terminou, mas Senzo não saiu de sua casa. Sentado no banheiro embaixo do chuveiro*, ele nota seu medo por si próprio, bem como um leve desespero. Está confuso e nervoso. Viu seus únicos amigos o olharem como todos pareciam olhar para ele quando criança, em momentos onde parecia outra pessoa. Como se um alterego se levantasse das sombras para fazer o que ele não tem coragem.

    Está escuro no banheiro. Isso ajuda ele a se lembrar dos rostos de todos. Até mesmo de sua amada, que estava assustada com ele. Eu sou assim?, pensa. Eu sou realmente assim?

    Sim. Eu sou assim. Esse monstro sempre foi Senzo. Esse corpo magro e pálido, esse olhar perturbado, nervoso e louco. Isso tudo sou eu.


    Mas eu raramente sabia disso.

    Ele me fazia esquecer disso. Aquele maldito Nuito.

    Ele me fazia pensar que eu sou alguém bom.

    Eu nunca fui bom.


    Duas vozes. Tons diferentes, tempos diferentes, mas o mesmo pensamento.

    Senzo percebe que não pode ficar assim, recuado, sentado em posição fetal embaixo da água, pensando que seus problemas irão embora com o tempo. Isso é impossível.

    Ele não é uma boa pessoa.

    Com isso, ele se levanta, fecha os olhos por um momento, e abre-os de novo. Gira o registro do chuveiro e sai do box, com um olhar sério. Ele precisa lembrar-se daquela sensação de quando saiu do colégio, olhando para o céu. Não foi há anos, nem há meses, tampouco semanas. Foi há poucas horas. Não há dificuldade alguma nisso.

    — Senzo! O amor da sua vida tá na porta! Se arruma direitinho pra receber ela! — Grita sua mãe, do lado de fora do banheiro.

    Normalmente, Senzo sente uma mistura de vergonha com nervoso ao ouvir sua mãe mandar uma frase dessas. Mas hoje é diferente.

    Hoje ele começou a mudar.


    Passam-se alguns minutos e Senzo vai em direção da sala, arrumado, com uma camiseta branca e calças verdes. Lá, ele encontra Miraya e apenas ela, sentada num sofá laranja, usando a mesma blusa levemente roxa do encontro de meses atrás e uma saia roxa que vai até além de seus joelhos. Seu olhar parece preocupado, mas ela ainda assim dá um pequeno e gentil sorriso ao vê-lo. Por pouco Senzo não se derrete todo mais uma vez.

    — Vem cá. Não vou te morder.

    Um tanto ofendido, Senzo senta ao lado dela. Ele fita a mesinha de mármore em frente deles, com um tapete marrom embaixo. Em seguida, para as diversas lamparinas que iluminam bem o cômodo. A janela que dá para o corredor que vai para o quintal, no lado direito da casa, mostra as luzes fortes do lado de fora de casa, que se encontra envolvido por uma noite mais fria que o normal. É até possível que neve, considerando o período do ano.

    Senzo quer ser mais firme, mas, como esperado, a garota não deixa. Ela repousa sua cabeça em seu ombro e o abraça. Nos segundos seguintes, era difícil prever o que iria acontecer.

    — Miraya, eu...
    — “Não sou bom”, é o que queria dizer?

    As vezes o rapaz se assusta com a forma de como a garota o entende antes mesmo dele explicar alguma coisa.

    — Bobagem. Você apenas se descontrolou. Não gostou de como o garoto agiu comigo. Normal.
    — Aquilo não foi normal, Miraya...

    A garota, no entanto, não responde. Isso dá um certo desconforto em Senzo.

    — Não... Foi normal, sim. Aquilo era eu de verdade. Um homem cruel e sem coração, cujas falas são mais afiadas que o aço e machucam mais que mil espadas. Eu queria falar isso pra aquele garoto. Eu quis humilhá-lo. Eu quis vê-lo gaguejar. Ver seu ídolo fazer da sua primeira feira ser a última.

    Miraya permanece sem responder, olhando para o chão. Senzo não vê opção senão continuar.

    — Eu vou continuar sendo assim, e tanto faz o que falarão de mim. Ignorarei professores criticando minha atitude, minha personalidade. Os mandarei pro inferno e continuarei a ser o mesmo de sempre, sem amigos, sem ninguém. Vou terminar esse ano e sumir de Yalahar. Aqui não é mais o meu lugar.

    Ele respira fundo, ao mesmo tempo que Miraya. Ela se afasta e deixa as mãos juntas as pernas. O jovem já sabia bem o que escolheu.

    — Me desculpe, Miraya. Se não quiser continuar comigo, tudo bem. Eu entendo. Não sou dos melhores homens mesmo. Na verdade, sou só um garoto.

    De forma abrupta, Miraya se levanta, e Senzo já imagina que ela irá embora sem falar nada. Ao invés disso, ela se espreguiça, vira-se para o rapaz e senta em seu colo, de frente para ele. Beija-o sem cerimônias, sem se importar que os pais dele estão por ali, dentro da casa. Sua irmã já deixou o lugar há tempos.

    Ao deixá-lo, ela o encara com um olhar sério com um misto de desejo.

    — Fique quieto. Não deixe essa aura viril que nasceu em você agora desaparecer.
    — Hã? — Indaga o rapaz, totalmente confuso com o que Miraya estava fazendo.
    — Estou dizendo que você foi muito sexy agora. Só isso.

    Eles se encaram por alguns segundos, sem resposta.

    — O quê? Será que você pensava que eu não era capaz de fazer ou dizer algo assim? Que eu sou muito comportada ou CDF pra tal?
    — Eu... Nunca duvidei. Eu acho.

    Miraya sorri e lhe dá um segundo beijo. E antes que pudessem perceber, já estavam no quarto, em cima de uma cama, com a porta trancada. Miraya está em cima dele, os dois se encaram sem fazer nada. Nem beijos, nem toques, nem uma peça de roupa retirada. Senzo está em total dúvida do que fazer em seguida, até mesmo do que perguntar. Mas tem uma ideia de última hora.

    — Você... Já fez isso? — Pergunta o rapaz, curioso e confuso.
    — Por que você não descobre? — Responde ela, com um sorriso zombeteiro.

    E, felizmente, ninguém escutou nada do que veio a acontecer depois.


    ~*~

    O ano é 330.

    Por algum tempo, Senzo pensou que acabaria tendo um filho quando esse ano chegasse, mas nada aconteceu. Sua estadia em Carlin estava tranquila com Miraya, sem a necessidade de novos membros em casa.

    Sentado na mesa do pequeno laboratório que construiu no primeiro andar da sua casa, ele olha para a carta de Nuito que acabou de ler. Deixou Yalahar um ano atrás. No mesmo período em que criou aquilo que está em pelo menos sete potes cheios, guardados num armário com portas de vidro. Aquilo que ele chama de Nancore.

    Tanto a mesa quanto a cadeira onde está sentado foram criados a partir do material. Até mesmo a camisa social azul escura que está usando. Ele lembra-se de como começou a desenvolver tal mágica, e lembra-se do que estava faltando na sua explicação do Nancore, que se encaixava perfeitamente com o conceito da alquimia: A Lei da Troca Equivalente.

    Dentro da história da alquimia, Senzo lembra-se do poderoso mago que um dia foi um grande cientista, conhecido pelo nome de Ferumbras. Seu nome é proibido e sua ilha extremamente temida. Senzo baseou-se nele, pois ele foi o criador da chamada Pedra Filosofal, que era usada para criar qualquer outra coisa por ser equivalente a qualquer coisa. O conceito do Nancore é igual: Ele é equivalente a tudo, ele cria tudo.

    Ainda assim, ele não ousou chamar-se de Deus até agora.

    Esteve vendendo as cadeiras, mesas e outros objetos que fez de forma disfarçada. Vendia para os principais vendedores de móveis de Carlin apenas para que eles revendessem, como se fossem os criadores. No fim, ele não se importa se tomarem o título da criação dos itens que fez, pois o que criou até então não se compara com o Nancore. Além disso, a venda desses itens dá dinheiro suficiente para ele e sua amada noiva viverem sem problemas. Mesmo que Carlin não goste muito de homens.

    Alguém bate na porta. O pequeno laboratório tinha apenas uma mesa larga e duas mesas logo adiante vazias, além dos quatro armários de madeira nas paredes da esquerda e da direita. Nada a esconder. Com isso, ele pede para que entrem.

    — Boa tarde. Estaria eu incomodando o futuro segundo senhor de Kharos?

    Quem está ali é responsável pela Guilda dos Feiticeiros de Carlin. Alguém anterior a Lea. Bem anterior.

    — Se não é Aria Ahrabaal. Entre.

    A moça alta e magra entra no recinto e fecha a porta. Usa um vestido negro, uma capa verde-escura com vários ornamentos e sandálias brancas, além de vários braceletes de várias cores e um colar com um símbolo de uma fênix, por cima de outro, com uma moeda roxa. De cabelos negros e longos, um pouco mal arrumados, olhar sério e firme, essa mulher não passa um ar de elegância, mas sim de tensão. É como se ela fosse explodir tudo num instante, com um estalar de dedos. Mesmo que ela atraia um pouco de atenção com suas coxas e bumbum maiores que a média.

    Embora Senzo não sinta medo dela, ele prefere manter-se reservado e de poucas palavras, em respeito a ela. Carlin dificilmente manteria a feitiçaria se não fosse por alguém com pulso firme e aura de poder. Puro poder. Até porque sempre correu rumores pela cidade que ela não podia ser derrotada, que sua força mágica era infinita. Entretanto, Aria sempre desmente esses rumores, alegando que seus poderes tem um limite. Embora ninguém tenha conseguido forçar ela ao limite até hoje.

    — Diga, o que deseja hoje?
    — Quis visitá-lo. E relatar algo importante, já que você é uma das poucas pessoas que confio.
    — Certeza que não deseja nada? Sabe que posso lhe dar qualquer coisa. — Disse, tomando um pote pequeno com o mesmo líquido branco. Ele derrama um pouco do conteúdo na mesa, e em dez segundos, ele toma a forma de um sapato com asas. Botas de Velocidade. — Qualquer coisa.

    Ela observa o calçado. Não pode negar que o poder daquilo era realmente tentador, e que deseja ao menos um pouco para fazer algo do seu agrado. Mas esteve resistindo a todas as ofertas do alquimista até então. Seu orgulho é mais forte.

    — Não, obrigado. Certeza que já criou tudo que podia em Yalahar? Seus negócios em Carlin continuarão até quando?
    — Aí que você se engana. Eles não acabarão. Permanecerei aqui com minha noiva o quanto for possível.
    — Acredito que faria muito mais fora daqui.
    — Por causa da rainha? Ah, não se preocupe. Se eu realmente tiver interesse em criar coisas melhores, posso ir para outro lugar. No momento, ainda estou testando o Nancore devagar e aos poucos. E como eu disse inúmeras vezes pra você, não sou um segundo Ferumbras ou seja lá o que você pensa.
    — Ainda espero pela criação de um segundo Orbe da Natureza. E que você seja o cérebro por trás dele.

    Senzo pigarreia e olha para o nada, ignorando o último comentário.

    — Estive investigando alguém da casa dos Alarstake que foi para o tal mundo por trás do Orbe. Eu soube que essa mesma pessoa esteve observando você.

    O homem levanta uma sobrancelha.

    — Quem seria?
    — Teros Jarili Alarstake. Ele é um espião e um bruxo formidável, também, sendo o sétimo na linha de sucessão da liderança da casa. Ele sabe que você é o alquimista renomado de Yalahar que trabalhou ao lado de Nuito, hoje um biólogo estudando espécies em Tiquanda. Caminhos totalmente opostos, devo dizer. Mas como as propriedades deles não ficam tão distantes de Carlin, é natural que coloquem os olhos em alguém como você.
    — Por isso perguntou quando eu irei embora?
    — Exatamente.
    — Quem diria que em apenas um ano, você, a impermeável Aria, se preocuparia com o meu bem-estar ao ponto de pedir para que eu fuja. Estou realmente sem palavras.
    — Não abuse do sarcasmo, Senzo. Sou uma mulher reservada demais para engolir palavras sem sentido.
    — Perdão, não resisti. — Disse, com um pequeno sorriso. Está tentando não mudar a atmosfera da conversa — Além de Teros, há mais alguém atrás de mim?
    — O detetive Cawlo Oraille, de Venore.

    Conhecia esse nome. O próprio Nuito conhece o individuo, dizendo que ele é um dos melhores detetives que já viu, e corre por alguns lugares rumores de que ninguém jamais escapou dele. Ele engole em seco, batendo o dedo na mesa com agitação.

    — Pois bem. Sairei de Carlin em dois meses.


    ~*~


    Alguns meses após a audiência, Senzo habita agora Ankrahmun, lar das inúmeras pirâmides e casas de arenito, quente e inconquistável, protegido por antigos faraós e potência no sul. Além da Baía da Liberdade, é um ótimo local para comércio de tecidos e tapeçarias, bem como joias e diversos artefatos, riquezas como os vasos mais finos e os utensílios mais bem trabalhados para o lar.

    Mas tudo isso é irrelevante para Senzo. Miraya sempre expressou um desejo por viver nessa cidade. Não poderia estar mais feliz decorando a casa onde vivem agora: Uma das pequenas pirâmides habitáveis, próxima do centro da grandiosa cidade desértica. O dinheiro pra consegui-la só foi possível após o alquimista conseguir, com sucesso, gerar uma falsa joia rara, de coloração púrpura, garantindo que foi um grande achado de um distrito abandonado de Yalahar. Vendida a preço milionário em Carlin, ele desapareceu em dois dias de lá junto com sua amada, desmanchando seu laboratório e sumindo com seus documentos no processo.

    Agora, ele vende mais que mobília: Vende também pequenas joias, como se fossem achados de Yalahar. O mesmo relata para seus poucos – mas riquíssimos – compradores que trouxe-as da cidade dourada, local que quase ninguém dali visitou alguma vez na vida. Seu negócio atraiu até mesmo os olhares do grão-vizir, que convidou-o para um jantar, com o objetivo de discutir sobre assuntos e relatos da sua terra natal. Mesmo que o grão-vizir seja apenas uma múmia que não come nada.

    A mudança foi positiva para Senzo, pois Nuito está vivendo em Porto Esperança. Cruzar Tiquanda não é uma opção, até porque ainda não há uma trilha definida que conecte ambas cidades em segurança, mesmo que já se saiba que elas ficam no mesmo continente. Dessa forma, essas cidades usam navios para chegar de um lugar até o outro.

    Naquele dia em especifico, ainda no ano de 330, Senzo está recebendo Nuito, após ambos ficarem sem se falar por um bom tempo. Miraya está em uma casa de banho das redondezas. Tudo parece perfeito para eles.

    — O Nancore realmente te gerou belos frutos! — Disse Nuito, sentado num sofá amarelo, na sala principal da casa — Essa casa é incrível. Na verdade, Ankrahmun é incrível. Mesmo que as vezes esse lugar pareça cheirar a morte.
    — Normal para uma cidade que faz múmias atrás de múmias. E ainda é protegida por outras múmias. Já viu o Grão-Vizir? — Disse Senzo, sentado numa poltrona branca, próxima do sofá.
    — Inclusive já vi o Faraó. Ele é bastante cultuado e respeitado aqui. Como se fosse um Deus.

    Maldição. Ele atiçava desejos de poder que nunca tive.

    — Deve ser bom a beça ser um Deus.

    Senzo sente-se incomodado com algo no que acabara de falar. Talvez com o quão ganancioso pareceu.

    — É, e existem vários deuses por aí. Por exemplo, Fafnar, o sol. Ela feriu gravemente a deusa do mar, Bastset, o que enfureceu seu irmão apaixonado pelo mar, Suon, fazendo ele a perseguir por toda a eternidade para se vingar. Por isso que temos ciclos de dia e noite. É minha lenda preferida.
    — Não passa de lenda. Nunca acreditei nessas coisas.
    — Você é ateu ou coisa assim?
    — Pode-se dizer que sim, pode-se dizer que não. Nunca vi motivo para orar ou pedir benção dos deuses. Não tenho nada mais a reclamar de minha vida, Nuito. Eu inclusive não estou mais pensando em fazer alguma coisa depois do Nancore.
    — Mas você poderia desenvolvê-lo mais ainda! E se você conseguisse moldar coisas ainda maiores que os simples itens que você faz? E se você conseguisse fazer até dragões surgirem do Nancore?

    E se eu sou assim hoje, é TUDO culpa dele.

    — Nuito, isso é loucura. Se esse poder cair em mãos erradas, o que você acha que vai acontecer com Tibia?
    — Bem... — Balbucia Nuito, coçando atrás da cabeça — Eu admito que exagerei um pouco agora, mas o que eu quero dizer é que alquimistas sempre buscam melhorar, e nunca se acomodar porque já fizeram demais. Já te compararam com o Lorde de Kharos?

    Por alguma razão, o ar pareceu mais pesado e até mesmo o chão parecia estranho. Como se vários corpos estivessem se movendo embaixo dele. Os faraós não gostam desses comentários, pensa Senzo.

    — Já. E não planejo ser como aquele infeliz.
    — Você poderia ser melhor do que ele. E eu estou disposto a te ajudar.

    Senzo fica algum tempo calado. Depois, ele levanta e se dirige a janela, com os braços cruzados, pensando. Nuito estava com um pequeno pote de cerâmica no colo com alguns biscoitos, dos quais ele ia comendo sem se importar se alguém iria querer também.

    O jovem alquimista está pensando sobre o Nancore, e que, de certa forma, Nuito está certo. Aquilo ainda não está completo. Falta mais pesquisa, mais testes, mais aprimoramentos. Sua invenção ainda está fraca, e ele está só começando. Afinal, enquanto ele esteve parado, Nuito esteve avançando como nunca antes, desenvolvendo curas e remédios para as mais variadas doenças que podiam ser pegas em Tiquanda ou em outro lugar, apoiando a medicina mundial e mapeando cada ser vivo que encontra por lá. Nuito esteve sempre avançando, mas Senzo se acomodou por ter conseguido uma mulher que o ama incondicionalmente e pela criação daquela invenção que cria tudo do zero.

    — Verdade, Nuito. Eu posso ser melhor. Afinal, o Nancore não passa de uma invenção incompleta. Um criador de cópias.
    — Nunca me passou pela cabeça que ela estava incompleta ainda, cacete. O que falta?

    Senzo vira-se para ele com um sorriso. Um bem ganancioso.

    — Exatamente o que você disse. O poder de criar dragões do zero.






    Próximo: Capítulo 31 – Resmonogatari IV








    Nota:

    * Eu decidi que Yalahar teria uma tecnologia superior a todo o resto de Tibia, desde ter sistemas de encanamento e eletricidade até a criação de robôs e autômatos. Eu acredito que, caso eu acabe criando uma sequência, eu possa explicar melhor como os tibianos evoluíram, assim dando pano pra manga pra eu colocar algumas criações minhas em ação.
    Última edição por CarlosLendario; 27-12-2017 às 13:21.



    ◉ ~~ ◉ ~ Extensão ~ ◉ ~ Life Thread ~ ◉ ~ YouTube ~ ◉ ~ Bloodtrip ~ ◉ ~ Bloodoath ~ ◉ ~~ ◉

  8. #8
    Avatar de Senhor das Botas
    Registro
    14-02-2011
    Posts
    2.320
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Salve Carlão.

    Enfim, primeiro quero agradecer pela confusão. Confesso que tive de puxar da memória e reler algumas partes, mais especificamente as do "Hakugai" e do "Nightcrawler". Alguns trechos interessantes:

    — Você se chamava de Nuito há décadas atrás. Deveria lembrar de quem eu sou. Ou de quem Senzo sempre foi para você...

    ...Nightcrawler começa a sentir o seu peito ficar apertado. De alguma forma, ele sabia do que ela falava. Cada fala dela é como se fosse algo real acontecido há muitos anos atrás
    — Memória falsa...? — Murmura Nightcrawler, com uma voz sombria. Como se tivesse sido possuído. — Tudo aqui é falso. Esse momento. Os momentos anteriores. Essa vida que você tem. É tudo falso!
    E AGORA:

    Suzio vê a si mesmo mais novo. É dia, e o pântano de Green Claw, mesmo distante, enche seu nariz com um péssimo cheiro. E naquele lugar, no limite para as Planícies do Horror, ele aguarda, abaixo de uma árvore, alguém importante...


    ...O rapaz, tendo apenas vinte e seis anos nessa época, era um mago prodígio...
    Acho que deve ter sido aí a minha confusão. Não me lembrava de Nightcrawler, SUPOSTAMENTE, ter sido Nuito (um biólogo famoso, que acabou por virar um mago... Ou é o resultado de uma memória falsa, rs). Mas mesmo assim, após reler estou meio desconfiado do possível rumo que tudo isso pode tomar, e te conhecendo, não vai ser algo ordinário.



    Enfim, embora a Irmandade seja composta de fanáticos que supostamente assassinam/matam tudo em prol de um ideal, e o fazem por quaisquer meios necessários, após dar uma relida nesses capítulos que mencionei, e nesses capítulos do passado de Senzo... Sei não, ainda acho que você vai brincar mais com o conceito de "bom" e "mau" e "os fins justificam os meios" mais a fundo, e creio que Varmuda ainda vai ter uma participação maior na história. Se não for maior do que já tem nessa, com certeza na continuação que você anunciou.

    Enfim, espero que você não me engane na sua resposta, de que esses capítulos recentes não falem em NENHUM momento do Nightcrawler... E é isso. Estou incerto de minhas próprias interpretações do que está para ocorrer, e aguardo o desfecho de tudo
    Última edição por Senhor das Botas; 23-12-2017 às 23:54.


    Não espere algo bem elaborado e feito. De resto...

  9. #9
    Cavaleiro do Word Avatar de CarlosLendario
    Registro
    23-03-2012
    Localização
    São Paulo
    Posts
    2.376
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão Capítulo 31 - Resmonogatari IV

    Citação Postado originalmente por Senhor das Botas Ver Post
    Salve Carlão.

    Enfim, primeiro quero agradecer pela confusão. Confesso que tive de puxar da memória e reler algumas partes, mais especificamente as do "Hakugai" e do "Nightcrawler". Alguns trechos interessantes:





    E AGORA:



    Acho que deve ter sido aí a minha confusão. Não me lembrava de Nightcrawler, SUPOSTAMENTE, ter sido Nuito (um biólogo famoso, que acabou por virar um mago... Ou é o resultado de uma memória falsa, rs). Mas mesmo assim, após reler estou meio desconfiado do possível rumo que tudo isso pode tomar, e te conhecendo, não vai ser algo ordinário.



    Enfim, embora a Irmandade seja composta de fanáticos que supostamente assassinam/matam tudo em prol de um ideal, e o fazem por quaisquer meios necessários, após dar uma relida nesses capítulos que mencionei, e nesses capítulos do passado de Senzo... Sei não, ainda acho que você vai brincar mais com o conceito de "bom" e "mau" e "os fins justificam os meios" mais a fundo, e creio que Varmuda ainda vai ter uma participação maior na história. Se não for maior do que já tem nessa, com certeza na continuação que você anunciou.

    Enfim, espero que você não me engane na sua resposta, de que esses capítulos recentes não falem em NENHUM momento do Nightcrawler... E é isso. Estou incerto de minhas próprias interpretações do que está para ocorrer, e aguardo o desfecho de tudo
    Diga aí Botas, obrigado pelo comentário e pelos elogios.

    De fato eu te confundi por causa da Miraya se referir ao Suzio como Nuito, mas isso é pra criar um mistério e uma confusão na mente do leitor mesmo, principalmente por causa da Redchain e da esposa do Senzo serem a mesma pessoa, apesar de ter um século de diferença entre os tempos de cada história. Vou explicar isso detalhadamente nos próximos capítulos, e acredito que esse arco do Senzo ainda irá durar mais um pouco. Isso porque ele é um personagem extremamente importante pra história, embora eu não tenha deixado isso claro ainda.

    Varmuda vai ter mais destaque só na próxima sequência mesmo, como você disse.

    E não vou enganar não, relaxa.








    Galera, feliz ano novo atrasado! Obrigado pela presença e pela contribuição que fizeram durante todo o tempo em que Bloodtrip esteve de pé. Fiquem com o primeiro capítulo de 2018!





    No capítulo anterior:
    Senzo aceita seu lado ruim e foca em desenvolver o Nancore. Vai para Carlin após se formar, mas Aria, líder da Guilda dos Feiticeiros de Carlin, sugere que ele vá embora pois ele está na mira de um detetive veterano. Ele leva Miraya para Ankrahmun pra viverem lá, e Nuito o visita. Ele sugere que Senzo comece a melhorar ainda mais sua invenção.




    Capítulo 31 – Resmonogatari
    Parte 4




    Senzo deita em sua cama, frustrado.

    O ano é 331. Nos últimos meses, o alquimista se dedicou a melhorar o Nancore, usando das mais variadas fórmulas e soluções para testar qualquer reação, mas o problema é que o líquido simplesmente aumentava de tamanho ao invés de mudar ou ganhar mais força ou poder. Apesar de ter leituras ou assinaturas diferentes em sua textura, mesmo que fosse totalmente diferente do Nancore em si, ele nunca mudava. Continuava o mesmo.

    Pra piorar, o Nancore não gera criaturas vivas; apenas objetos inanimados. Senzo já tentou até mesmo ressuscitar uma múmia que conseguiu de um comerciante misterioso, dando-lhe o poder de sua criação, mas não funcionou. Tampouco zumbis ou qualquer morto-vivo ganhavam vida, apesar de estarem na terra dos mortos-vivos.

    Sua criação também tinha tempo limite em sua criação. Ao analisar uma joia que ele criou há quase dois anos com magia, ele concluiu que o objeto não duraria mais do que doze ou treze meses sem virar pó.

    Senzo está totalmente frustrado. Irritado. Desanimado. Sua criação é perfeita – Embora ela desapareça em pouco tempo, ela é perfeita em sua forma, sem precisar de mudanças. Não há como evoluir o que já é perfeito. Dessa forma, ele não sabe mais o que usar.

    No meio de suas indagações, ele escuta um barulho no andar de baixo. O quarto onde ele está fica no andar superior, bem como banheiro e seu laboratório. O barulho pareceu ter sido feito exatamente abaixo de onde ele está – como uma espécie de biscoito esquecido abaixo do sofá. Mas, para esse som ser feito, é preciso primeiro tirar o móvel de cima.

    Ou seja: Sua casa está sendo roubada.

    Senzo levanta rápido, mas silenciosamente, e se dirige ao guarda-roupa de madeira à esquerda da sua cama. De uma das oito gavetas, ele retira um objeto do tamanho da palma da sua mão e prende na lateral esquerda de suas costas, protegida apenas por sua camiseta branca. Ele ativa o objeto movendo o braço. Célula de Ferro com uma lâmina afiada na ponta, pronta para ser usada.

    Ele olha para Miraya. Ela está num sono profundo, como se estivesse livre de pensamentos. Apesar deles não terem tido um filho ainda, mesmo estando casados atualmente, e mesmo que ele próprio não dê muita atenção pra ela, ainda nutrem um amor de jovens difícil de ser derrubado. Um compreende bem o outro. E é por isso que Senzo sente muito medo de perdê-la, dessa forma, aumentando seu medo e preocupação quando nota que sua propriedade está sendo invadida por alguém.

    Ainda preocupado, ele também toma um frasco de vidro com Nancore dentro para alguma eventual situação, e sai do quarto ainda em passos bem silenciosos. Está descalço e atento a sons. Sabe que o gatuno tomará mais cuidado agora que fez barulho, dessa forma, ele próprio precisa de cuidado redobrado para não ser notado.

    Ele desce devagar a rampa de arenito para o andar inferior. Mal pode acreditar quando localizou o larápio fuçando um dos armários da sala. Um sujeito de turbante cinza escuro, calças brancas largas e cheias de estilo desértico, usando um gibão marrom de mangas longas. Está descalço, e na cintura, leva uma cimitarra. Tem uma mochila nas costas, provavelmente com algo roubado da casa.

    Senzo mantém uma aproximação cautelosa, mas ao notar vidro no chão, juntamente de sua invenção, o Nancore, em pequenas quantidades – provavelmente algo que ele escondeu na cozinha para casos assim – ele irrita-se profundamente. Na sua visão, sua criação parece inútil pro ladrão, que simplesmente dispensou aquilo. Então, ele percebe que aquilo foi a origem do som. Um habilidoso ladrão que parece ter ignorado o valor daquela coisa branca.

    Mas algo não parece estar certo. Por que diabos um ladrão jogaria vidro no chão de uma casa onde há pessoas vivendo, justamente enquanto está roubando, e nem mesmo pensa em ir embora?

    Existem poucas coisas que se pode pensar nessa situação.

    A primeira seria de que o gatuno não passa de um ladrão de galinhas, um pé de chinelo, que está tentando melhorar suas próprias habilidades passando de roubos simples como bater carteiras diretamente pra roubos domiciliares. Mas isso não parece fazer sentido, afinal, ele normalmente faria mais barulho que aquilo, e como Senzo ainda estava acordado quando ele entrou, provavelmente escutaria mais que um vidro se quebrando, mesmo se perdendo em pensamentos e achando que o barulho foi um biscoito sendo esmagado ao invés de vidro caindo. Praticamente impossível de ser o caso.

    A segunda seria de que ele é um ladrão experiente contando com a sorte. Como Senzo fica boa parte do tempo no laboratório do andar de cima, um local com uma única janela que fica escuro boa parte do tempo, recebendo pouca iluminação, geralmente provinda de lamparinas e esferas luminosas, e Miraya dorme cedo, o ladrão aproveitou para ter menos cuidado, pensando que o casal está dormindo há horas e não acordará no momento em que ele agir. Isso fez ele ser mais descuidado. Muito difícil de ser o caso.

    A terceira seria de que o ladrão não está se importando com o barulho que fizer. Que o ladrão não é um ladrão, e sim um bandido sem honra que sabe que está armado e sabe que o casal não conseguirá fazer nada contra ele. Mas um bandido não entraria sozinho numa casa daquele tamanho, afinal, ele não tem as mesmas habilidades de um ladrão renomado. Estaria acompanhado de mais gente. Pode moderadamente ser o caso.

    A quarta seria de que o ladrão não está sozinho, e fez aquilo para atrair Senzo e emboscá-lo junto do companheiro. Entretanto, sabe-se que em Ankrahmun, os ladrões sempre agem sozinhos, justamente pra evitar serem pegos pelas autoridades por estarem acompanhados, assim dificultando as chances dele ser localizado. Nesse caso, deveria ser um assassino no lugar de um ladrão. Entretanto, um assassino não rouba casas, não faz barulho de propósito, não atrai ninguém até ele, tampouco usa uma mochila nas costas. Se o alvo está dormindo, ele não vai querer criar situações para matá-lo de outras formas, simplesmente irá ceifá-lo em seu sono de uma vez. Impossível de ser o caso.

    A que sobra é a mais complicada e estranha possível. Um ladrão acompanhado de outro que atraiu Senzo de propósito para a sala, para capturá-lo, e ele está esperando em algum canto do cômodo para emboscá-lo, prendê-lo e então fazer o mesmo com Miraya para conseguirem saquear a casa e irem embora sem interrupções. É estranha, pois o alquimista não se destaca em Ankrahmun o suficiente para ser alvo de tal emboscada, e se caso ambos sejam ladrões e tenham essa inteligência e habilidade toda, é mais possível que sejam assassinos e ladrões ao mesmo tempo.

    Parece que é o caso.

    Senzo vira para trás em uma incrível velocidade e golpeia o escuro. Seu golpe é aparado por uma cimitarra, e feito isso, ele salta para trás, evitando pisar no Nancore. Sua visão periférica o faz se abaixar por reflexo ao notar que um dardo estava para ser lançado em sua direção, e ele percebe que está certo ao ouvir o barulho do objeto se chocando contra a parede. Com a Célula de Ferro, ele assume uma posição defensiva, conforme vê a aproximação dos dois indivíduos de turbante armados.

    Ele está irritado, mas também com medo. Mal tem experiência de combate, apesar de Ember no passado já ter lhe ensinado algumas coisas sobre manusear espadas, arcos e defesa contra armas do tipo. Apesar de ter acertado em seu pensamento, é chocante notar que ambos estão armados e parecem querer matá-lo. Ele pode estar certo e errado no que pensou.

    Felizmente, ele aprimorou algumas vezes sua criação, e adicionou algumas novas funções. Dessa forma, ele ativa uma pequena alavanca próximo da ponta do objeto, e a arma se abre nos lados e libera algumas peças de aço douradas que podem auxiliar na proteção de seu braço enquanto executa seus golpes. Logo, seu braço está envolvido por diversas peças de aço de formato retangular, e cada uma possui pequenos compartimentos para guardar dardos.

    Os dois indivíduos se afastam. Em poucos instantes, ele começa a atirar vários dardos bem pequenos na direção deles, provavelmente contendo veneno. Ambos não conseguem evitar todos e acabam sendo pegos por alguns. Um deles se irrita e avança contra Senzo, aos grunhidos. Mas antes que ele pudesse realmente fazer algo com sua cimitarra, ele escorrega no líquido branco no chão, e o alquimista aproveita para golpeá-lo com a Célula de Ferro. Comicamente, o ladrão recuperou o equilíbrio ao ser golpeado.

    A lâmina dá um tranco para trás e Senzo afasta seu braço, ao mesmo tempo em que o homem se afasta a passos dolorosos. Sangue sai de sua ferida, e ele se choca contra um sofá próximo, sentando no chão e deixando a cimitarra cair. O outro, ao ver a cena e o perigo da arma que o residente daquela pirâmide usa, decide desistir e tentar correr. Mas Senzo leva seu braço pra trás, como para pegar impulso, enquanto as proteções no seu braço se enrijecem e se afastam, e soca o ar, ao mesmo tempo em que sua incrível invenção se lança em direção do ladrão. A peça de ferro que lembra um tentáculo parece criar sua extensão sozinha, conforme se aproxima do alvo.

    Ao acertá-lo na lateral das costas, a alça da sua mochila é cortada, fazendo ela cair no chão ao mesmo tempo que o larápio tropeça devido ao poderoso golpe da arma. Ele acaba caindo e batendo a cabeça na quina da janela por onde planejava sair, ficando inconsciente. Dois imbecis, pensa Senzo, enquanto sente-se mais aliviado que tudo acabou sem ele se machucar. As lições de Ember foram úteis, no fim.

    Antes dele começar a ir em direção da mochila vermelha do homem, ele olha para o chão e vê algo estranho. Bem estranho.

    O individuo ainda está vivo, apesar de estar sangrando consideravelmente. O sangue vai em direção do Nancore que ainda não foi espalhado pelo seu pé, e converte ele para uma cor vermelha. A forma dele parece ter mudado um pouco, ficando levemente mais macio e menos grosso. Não parece mais tão viscoso como outrora, e parece exibir pequenas veias escuras, parecidas com as humanas.

    Boquiaberto, ele percebe o que aconteceu. O Nancore mudou de forma. O homem sorri ao notar que o sangue humano é o que falta para que o que era perfeito ficasse ainda mais perfeito. Mas sente-se horrível por dentro ao pensar que teria que lidar com sangue humano pra conseguir o que queria. Ele pode até lidar com doações dele mesmo, de sua esposa e de hospitais próximos com o fim de pesquisa; mas e se ele precisar de mais e não tiver de onde tirar? Se o sangue dele não for o suficiente, se sua esposa se recusar a dar seu sangue, se os hospitais se negarem a dar sangue para ele e ainda levantarem a suspeita dele ser um ghoul*?

    Não há dúvidas. Ele vai começar a matar.

    Então, não lhe resta opção. Pensara em chamar a guarnição da cidade para cuidar dos ladrões, mas teve uma ideia melhor.

    — Muito bem... Mudança de planos. — Disse ele, com um sorriso sombrio no rosto.


    ~*~


    A vida certamente não é uma maravilha.

    Faz duas semanas desde a invasão a sua casa. Ele avisara Miraya sobre o caso, mas ao invés de falar o verdadeiro destino deles, ele simplesmente disse que chamou alguns guardas da Guarnição Ankrahmunita para tratar deles, uma vez que eles não foram mortos por sua arma. Diferente de Yalahar, Ankrahmun não tem leis que proíbam ferir invasões de propriedades, decisão tomada após o próprio faraó ter uma de suas relíquias roubadas de dentro de sua pirâmide por um ladrão lendário.

    Mas a Guarnição nem mesmo saiu de suas delegacias para vigiar os distritos ou resolver casos de invasão. Pois Senzo manteve ambos ladrões cativos num depósito do sótão, acessível por seu laboratório. Ninguém podia ouvi-los gritar ou fazer grunhidos de dor, quando há tantos blocos de arenito grosso bloqueando os sons dos quartos. Os manteve alimentados por algum tempo, e também tirou o veneno de seus corpos, uma das razões para ele ter vencido o combate. Eles se preocuparam tanto com os dardos e o veneno que nem levaram em conta o quão bem armado Senzo estava. Queriam simplesmente acabar com aquilo logo.

    O resultado é que ambos estão presos com cordas grossas envolvendo seus braços e pernas, pendurados por uma suspensão de madeira no teto bem resistente. Suas bocas estão tapadas por precaução. Existe muitos potes e vasilhas fechados sobre um balcão do lado direito do cômodo, todos contendo não só sangue, como Nancore.

    Mas mexer com aquilo tem sido uma grande complicação para Senzo, pois o mesmo está agora deitado em sua cama, com uma febre intensa. Começou os experimentos há uma semana, mas o cheiro horrível que o novo Nancore exalava pareceu ter efeitos negativos sobre o alquimista, que está de cama desde então. Mas antes dos experimentos começarem, ele mandou uma carta para Nuito, dizendo que finalmente conseguiu aprimorar o Nancore, achando o que faltava. O biólogo agora está voltando o mais rápido que pode, acompanhado de Ember e dois novos amigos que fizera em Porto Esperança.

    Esse grupo se reúne a frente da porta da pirâmide onde Senzo vive. Nuito bate com um pouco de força na porta, e é recebido por Miraya.

    É um tanto surpreendente para ambos os lados se verem. Miraya está claramente mais bonita do que costuma ser, usando um belo vestido de alças roxo-escuro que vai até os seus joelhos, com um cinto negro na cintura. Usa vários anéis e braceletes de ametista em ambas as mãos, um costume de todas as mulheres bem abastadas de Ankrahmun. Sua pele está um pouco mais escura que antes, e seus cabelos estão mais longos, passando dos ombros, escuros como sempre.

    Enquanto isso, Nuito está com o cabelo preso num penteado que cai em seu ombro direito e vai até próximo da lateral do tórax, e sua pele permanece tão parda como de costume, parecendo mais bela com seus incomuns olhos azuis. Usa um casaco branco, e por trás usa uma camisa negra. Veste bermudas de uma cor semelhante a âmbar, um laranja rústico, e sandálias. Ember parece mais diferente, pois seus cabelos ruivos estão curtos, e está usando uma camisa regata laranja junto de calças azuis de estilo desértico, bem como sandálias também. Leva seu inseparável arco e sua aljava nas costas, bem como duas facas e três punhais na cintura, dentro de bainhas feitas por ela mesma. Miraya olha pra aquilo e pensa se é realmente necessário vir para a casa de alguém armada desse jeito.

    Os outros dois atrás de Nuito são dois homens, um de pelo menos vinte anos e o outro parece já estar dentro da casa dos cinquenta. Ambos tem cabelos loiros, enquanto o mais velho tem um porte grande e um grande físico. Usa uma armadura de prata e tem um Machado Nobre** na cintura. O outro, de porte mais comum, não está armado e usa somente calças comuns e uma camisa verde.

    Nuito toma a frente de todos demonstrando animação.

    — Boa tarde, Miraya! Como você está? Vejo que os anos tem te feito muito bem.
    — Senzo não fez nenhum experimento estranho em você, né, Miraya? Tem vivido bem com ele? — Pergunta Ember, um tanto preocupada.

    Apesar da animação por parte dos velhos amigos, Miraya não parece demonstrar nenhuma positividade.

    — Senzo bem que podia parar com esses experimentos... Mas ele nunca me escutaria.
    — Por quê? O que aconteceu? — Questiona Nuito, já desfazendo seu sorriso.
    — Ele te chamou por causa da evolução da invenção dele, né? Mas ela não correu tão bem quanto você pensa. Entrem, por favor.

    Nuito e Ember sentem a atmosfera de preocupação ao entrarem na residência, bem como os dois homens que os acompanham. Miraya fecha a porta e vai de encontro a eles, e Nuito aproveita para apresentá-los.

    — Hoje ia aproveitar para apresentar pra vocês dois esses caras que conhecemos lá em Porto Esperança. Esse é Stevan — Disse apontando para o mais jovem, que cumprimenta Miraya apertando sua mão — Ele também é um biólogo como eu e esteve conhecendo muito sobre Tiquanda comigo. Conseguimos uma rota mais segura para evitar Chor graças a ele.
    — Coloca muito mérito em mim sem tanto motivo, Nuito. Bom, não sou só um biólogo, sou também um arqueólogo e estudando para ser um cartografo. Espero colocar no papel toda Tiquanda algum dia.
    — Deixe de modéstia, homem! Bom, esse grandão aqui é-
    — Não é necessário! Não dependerei de suas palavras para me apresentar pra esta bela dama. Chamo-me de Agalberan Orrailo, mas pode me chamar apenas de Agal, se preferir. Meus amigos mais próximos me chamam desta maneira, e como é a esposa do genial Senzo, devo levar em conta sua importância, madame. É um grande prazer conhecê-la. — Disse orgulhoso e imponente Agalberan, estendendo sua mão para Miraya. Ela dá um sorriso um pouco vazio ao vê-lo dizendo essas coisas, e ao dar a mão para ele, ele beija a mesma com respeito e delicadeza, um cavalheirismo um tanto exagerado para um homem do seu tipo.

    Ember cruza os braços e sorri de canto, enquanto fita Agalberan. Sabe muito bem que ele não costuma ser assim o tempo todo. Nuito ri, mas fica um pouco triste com a reação desanimada da moça.

    — Ele é quase como nosso guarda-costas. É um explorador e experiente ferreiro, já foi alquimista no passado, e hoje em dia se dedica ao trabalho de arqueólogo. Ele estuda tanto lagartos quanto dworcs.
    — E eu também ensino esse moreninho a lutar. Ele só se dedica a ficar pesquisando e pesquisando, quando a merda feder pra ele é capaz que ele corra com o rabo entre as pernas e ainda tropece e caia no meio da fuga. Quero evitar que isso aconteça.

    Miraya assente com a cabeça e mantêm com esforço seu sorriso.

    — Enfim, Miraya... O que aconteceu com o Senzo? — Pergunta Nuito, sério.
    — Bom... Depois que ele começou os experimentos com a nova forma do Nancore, ele começou a sentir enxaqueca e enjoos frequentes, e agora está de cama, com uma febre alta. Ele já tentou manipular aquilo usando proteções no nariz e na boca, além de óculos especiais, mas mesmo que tenha resolvido, ele acabou desenvolvendo essa febre. Ele está muito fraco, mal consegue comer.

    Nuito cruza os braços e fita o nada por alguns instantes, pensando. O ar fica um tanto tenso.

    — Ele falou pra você como ele conseguiu evoluir o Nancore?
    — Não. Disse que seria um segredo absoluto, e acabei concordando.

    Nuito assente com a cabeça, ainda com uma expressão pensativa. Os outros três sentaram-se no sofá da sala, prestando atenção no assunto.

    — Na verdade, agora que penso... Tenho concordado com tantas coisas a respeito dele que me sinto um pouco culpada. Ele sempre teve seu jeito, e desde que fiquei junto com ele, percebi que precisava respeitar isso pra deixar a relação confortável entre nós dois. Mas sabe, isso já está indo longe demais. Sabe... Eu tenho muito medo de perder Senzo para esses experimentos. Muito mesmo. — Disse Miraya, com uma voz pesada e de cabeça baixa.

    Nuito põe sua mão em seu ombro. Está mostrando um semblante determinado, tentando passar coragem para a amiga.

    — Fica tranquila, Miraya. Sério! Ele é assim mesmo, descuidado como uma criança, mas genial a níveis incalculáveis. Eu sinceramente tenho inveja dele por ter uma esposa tão boa e ainda conseguir criar algo que cria outras coisas. Mal me desce ainda que ele criou aquilo, hah.

    Miraya sorri um pouco, grata por Nuito estar tentando animá-la. Ember fecha as mãos e as junta acima de suas pernas, incomodada com algo que Nuito disse. Mas mantém a seriedade.

    — Vamos ficar na cidade por um tempo para ajudá-la. Mas também não iremos embora tão cedo hoje. Se importa?
    — De maneira alguma. — Disse Miraya, com um sorriso um pouco mais animado.
    — Agora, podemos vê-lo?

    Miraya assente e leva todos para o quarto onde Senzo está. Ao encontrá-lo, notam como ele parece derrubado pela febre. Está deitado, mais pálido que o normal, com um pano sobre a testa e até um pouco mais magro. Nuito sente mais o impacto de vê-lo assim do que os outros. É quase como se estivesse vendo um cadáver.

    Ele se aproxima do amigo, que parece estar acordado, encarando o teto. Ao notar Nuito, parece se animar um pouco mais.

    — Ora ora, seu maluco. Será que vamos precisar te colocar numa coleira pra você não sair fazendo burrice? — Disse Nuito, com um sorriso.

    Senzo sorri, mas não responde. Sua visão está embaçada e ele não consegue ver seu amigo direito. Ember aparece ao lado dele, mas Senzo não consegue ouvir o que ela está dizendo.

    Miraya está na porta do quarto, junto com Stevan e Agalberan. Vê que Nuito está tentando o possível para animá-lo, esperando ver ele falando e dando suas respostas um pouco atravessadas de costume, mas isso não acontece. Senzo só concorda com a cabeça, com um esforço notável. Não faz ideia de como o marido acabou daquele jeito, só espera que ele melhore.

    Ela se pergunta no que Senzo está pensando enquanto tenta interagir com Nuito.

    A culpa é dele.
    A culpa é dele.
    A culpa é dele.
    A culpa é dele.
    A culpa é dele.
    A culpa é dele.
    A CULPA É TODA DELE.


    Mas ela sabe que nunca vai saber. É muito difícil dizer o que Senzo está pensando.


    ~*~


    Algumas horas depois, Senzo ainda está encarando o teto, sem melhoras. O pano em sua cabeça foi trocado, tomou alguns remédios e comeu uma sopa. Mas nada parece fazer efeito.

    Ao se lembrar do Nancore novo que esteve manipulando, lembrou-se bem dos muitos gritos e expressões aterrorizadas dos homens que capturou. Ele não deveria estar sentindo pena dos ladrões que capturou, que inclusive tentaram matá-lo, mas está. Está porque está fazendo algo covarde com eles. Simplesmente pensou como algum estudioso yalahari já disse alguma vez: Tudo pela ciência.

    Mas se a ciência é tão cruel assim, ele deveria rever seus preceitos sobre ser um alquimista.

    Agora mesmo, ele sente que está sofrendo uma punição divina. Mal teve tempo de notar que seu experimento podia ser tóxico a outras pessoas. Esteve tão animado com os resultados recentes que nem pensou nos riscos ou problemas que sua invenção podia ter. Que, inclusive, renomeou para Akonancore, por quaisquer motivos. Não ia pensar nisso agora.

    Mas se o potencial do Akonancore é infinito, ele ainda deveria testar tudo que aquilo é capaz de fazer. Mesmo naquele estado, ainda há uma coisa que ele é capaz de fazer.

    Ele ouve um barulho no banheiro, não tão distante de seu quarto, e então o fechar de sua porta. Logo repara em Stevan passando pelo corredor, e tem uma ideia.

    — V-Você! — Grita Senzo. Stevan olha pra trás assustado ao perceber quem o chamou.

    Stevan vai correndo até o quarto. Ao chegar lá, Senzo tira forças do nada para começar a falar.

    — E-Ei. Preciso q-que você me faça u-uma coisa. P-Por favor.
    — Pode falar. É algum remédio que você precisa?

    Senzo tem uma bela ideia.

    — I-Isso. E-Está no m-meu... Laboratório, segunda porta à d-direita do corredor. É um p-pote com um líquido... V-vermelho. Estará na... Bancada... A direita d-da porta.

    Senzo se cansa após falar tanto após tanto tempo em silêncio. Ele respira fundo.

    — Espere um pouco, logo volto! Aguenta firme! — Disse Stevan, bem preocupado com o estado em que Senzo se encontra. Ele segue rápido até o laboratório.

    Na cabeça de Stevan, ele está ajudando Senzo, indo atrás de um remédio para ele. Mas, na verdade, ele pode estar sendo cúmplice de um crime grave.

    Ele entra no laboratório, um lugar cheio de armários com materiais diversos e muitos potes, bem como utensílios. Procura à direita algo que se encaixe na descrição que ele deu, e logo encontra um pote com uma tampa púrpura, sem nada escrito. O líquido é vermelho, mas seu centro é um pouco escuro. Ao pegar aquilo, ele escuta um grito.

    Acaba pensando que é Senzo, por ser um grito masculino. Mas Senzo não tinha capacidade pra gritar.

    Logo, ele sai do laboratório, fecha a porta e vai rapidamente até o quarto dele, preferindo ser rápido ao invés de ficar se perguntando sobre bobagem. Ao entrar lá, ele vai até o lado de Senzo, coloca o pote no criado-mudo e se prepara para ajudar Senzo a sentar. Mas, para a sua surpresa, ele está conseguindo fazer isso sozinho, mesmo que devagar.

    Stevan pega o pote, mas Senzo toma de sua mão rapidamente, sem olhar em seu rosto.

    — Obrigado pela contribuição.

    Senzo abre o pote onde está guardado uma boa quantidade de Akonancore e vira-o garganta abaixo. Para a sua surpresa, aquilo não tem gosto. Ao terminar, joga o pote na cama e deita, fechando os olhos.

    — Precisa de mais alguma coisa? — Questiona Stevan, agindo como se aquilo fosse normal e nada demais tenha acontecido, embora a atitude de Senzo tenha sido estranha.

    O homem apenas mexe a cabeça positivamente, e Stevan decide ir embora para deixá-lo descansar, ignorando a estranheza de toda aquela situação. Odiava questionar o que tinha muito potencial pra ser bobagem. Mas talvez, só daquela vez, não haveria problema em questionar Senzo.

    Ainda assim, ele vai embora do quarto e deixa Senzo sozinho.




    Próximo: Capítulo 31 – Resmonogatari V




    Notas:

    *: Eu decidi que os ghouls serão como os vampiros de Ankrahmun. Agem praticamente da mesma maneira, apesar de vampiros não poderem andar a luz do sol. Aqui, os ghouls serão mais inteligentes.
    **: Tradução livre para Noble Axe.



    ◉ ~~ ◉ ~ Extensão ~ ◉ ~ Life Thread ~ ◉ ~ YouTube ~ ◉ ~ Bloodtrip ~ ◉ ~ Bloodoath ~ ◉ ~~ ◉

  10. #10
    Avatar de Senhor das Botas
    Registro
    14-02-2011
    Posts
    2.320
    Conquistas / PrêmiosAtividadeCurtidas / Tagging InfoPersonagem - TibiaPersonagem - TibiaME
    Peso da Avaliação
    0

    Padrão

    Li e inclusive deu like no capítulo... Mas não deixei o mais importante, que é o capítulo. Enfim, vamos lá.


    Meio que já comentamos de fora isso, mas... Sinto um cheirinho de briga feia, e creio que será Senzo x Nuito. Eu já meio que aguardo o resultado, já que se Soulslayer e Redchain aparecem no futuro (vulgo período presente em que a história ocorre), logo concluí-se que Senzo ganhou a possível batalha... E já que não é o líder, possivelmente obterá a maior das perfeições através do líder da Irmandade.

    Enfim, creio que você está trabalhando o passado de Senzo por ele ser MUITO importante na história (e aparentemente é, pela invenção que somada ao sangue deve criar coisas... Cabulosas, rs). No aguardo do próximo capítulo, e minhas desculpas por não comentar imediatamente, Carlos senpai.

    Publicidade:


    Jogue Tibia sem mensalidades!
    Taleon Online - Otserv apoiado pelo TibiaBR.
    https://taleon.online


    Não espere algo bem elaborado e feito. De resto...



Permissões de Postagem

  • Você não pode iniciar novos tópicos
  • Você não pode enviar respostas
  • Você não pode enviar anexos
  • Você não pode editar suas mensagens
  •