E aí pessoal!
Hoje eu apresento mais uma disputa roleplay. Os participantes são o Mano Mendigo e Gabriellk~, e eles escreveram sobre O Descobrimento de Zao.
A votação ficará aberta por uma semana e, em caso de empate, o prazo se estenderá por mais dois dias.
Boa sorte aos participantes!
Spoiler: Texto 1O caminho de Ida
Era mais uma tarde de um calor nauseante em Yalahar. Comerciantes ambulantes e guerreiros vindos de terras distantes andavam eufóricos, dando vida àquela cidade onde as torres em mármore branco com detalhes em ouro preenchem o horizonte. E em uma dessas torres, localizada ao extremo leste do lugar, um velho homem descansava em seu leito. Ele tinha barbas brancas e longas, usava um hat azul, e uma túnica branca. Era pacato, não convivia com muitas pessoas, vivia num lugar isolado do mundo por própria escolha. Oras, ele era um observador. Seus telescópios e lunetas estavam espalhados pela sala, apontados ao vasto horizonte ao leste da cidade, que é tomado por mares. Mas o velho dormia feliz, havia feito uma descoberta: Um movimento não identificado, tão longe que quase não conseguiu ver. Mas ele jurava que viu. Todas as noites ele via o mesmo movimento, as mesmas luzes vermelhas vindas do fim do horizonte, no pote de ouro do arco-íris, no lugar inalcançável. Ele sempre acreditou que existia um lugar onde ninguém jamais havia descoberto, mas o que seria sua crença diante da afirmação de todas as hierarquias tibianas de que toda tíbia estava desbravada e que não havia outro continente? E finalmente, depois de beirar o extremo de todas as partes do continente, viajando sem rumo e deixando amigos por todos os lugares, ele encontrou uma luz, uma luz no fim do túnel. Ah, o velho dormia feliz.
Yalahar amanhecia sob um manto de neblina, entrando por todos os cômodos da torre de Zao. Ele acordou mais cedo do que de costume, queria tirar um tempo da manhã para observar o horizonte, estava confiante. A neblina não o desanimou, ele arrumou sua luneta amarela e branca, e observou a imensidão azul. Por um tempo não viu nada, quando um foco o atiçou: um foco vermelho. Ele se ajeitou na cadeira, atencioso a cada movimento. E tomado por surpresa e admiração, ele observou este pequeno foco se tornar grande, e tomando várias formas, várias... Explosões. O mar ganhara vida, estava agitado. Seja lá que diabos estava acontecendo ou o que diabos era aquilo, este estava ganhando vida... Ou perdendo. Vários pensamentos ecoavam na mente brilhante de Zao, que borbulhava. De repente, as explosões pararam, tudo voltou ao normal.
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Mura caminhava solitário pelas ruas de Venore com sua mochila cheia de dinheiro e itens que ganhara na última caçada. Estava cansado, havia acabado de fracassar em uma missão, mas conseguiu pelo menos um pouco de dinheiro. Ele sonhava em ver seu avô, seu único parente vivo, que morava em Yalahar. Seus pais morreram lutando bravamente contra o poderoso mago dos magos, Ferumbras, dando suas vidas para combater a ascensão deste, e seu irmão foi convocado para as tropas do Norte quando ele ainda era um bebê, e nunca mais o viu. Depois disso, só sobrou Zao, com quem conversava todos os dias via carta, sobre várias coisas. Mura contava suas histórias, suas conquistas e fracassos, e seu sonho de ver pessoalmente seu avô e de ser um grande aventureiro. Já Zao passava seu conhecimento para o neto e também contava muito sobre as coisas de Yalahar, sobre como a arquitetura é bonita e como o lugar é limpo. Também só tinha seu neto como “amigo”, e um seguidor da “teoria”, em que na verdade Mura apenas esperava o dia em que seu avô fizesse a descoberta improvável e o chamasse. Zao queria muito viajar para ver o neto, mas os guardas e o próprio barqueiro da cidade o impedia, alegando que ele era muito velho e estava correndo sérios riscos. Mas, por carta, ele dissera que estava descobrindo algo que “talvez seja a maior descoberta de minha vida”, e que talvez viajar agora não seria prudente.
A única companhia do jovem de Venore era seu amigo, que encontrara quase morto por assassinos magos, na frente da caverna de ciclopes, e por uma obra do destino os dois tinham exatamente a mesma história de vida, eram órfãos pelo mesmo motivo, seu nome era Dante. Ele era apenas mais um jovem paladino, seus cabelos longos e louros imitavam os elfos, seus olhos eram azuis, e ele ainda tinha a cicatriz do incidente. Mura era totalmente o oposto, tinha curtos e rebeldes cabelos pretos e olhos cinza como um dia nublado, não era muito alto como o amigo, mas era muito forte, um verdadeiro guerreiro. Dante estava provavelmente em mais uma caçada nos elfos, tentando juntar dinheiro para compra sua armadura de paladino. Enquanto isso, chegando ao depósito, triste por não ter conseguido a permissão de viagem, Mura conferia monotonamente e ansioso ao mesmo tempo, as cartas. E um pedaço de papel embrulhado e lacrado com selos estava lá, esperando ser lida. Com um suspiro de felicidade, ele o pegou e abriu com cautela para não rasgar. Ao abrir lentamente, percebeu que a carta não era tão grande, como aquelas explicando coisas sobre anjos e demônios, cidades perdidas ou arruinadas, ogros ou humanos. O que havia ali era um simples parágrafo, escrito pelas mãos de um homem vivido:
“Caro neto, hoje eu confirmei sobre o que nós suspeitávamos. Lembra-se daquelas luzes vermelhas, que vinham de tão longe por entre os mares? Hoje, pela manhã, fui observar o céu novamente, e algo aconteceu. Explosões muito fortes e grandes, que substituíram os pequenos fachos de luz. Aquilo tudo aconteceu mesmo, Mura! Estamos perto de descobrir vida fora do continente tibiano! É certo que infelizmente não conseguirei desbravar o mar com o peso de minha idade, mas se confias veemente em mim, eu sei que o fará por mim. Eu daria minha vida para saber o que há além do mar, mas o escolhido é você. Você o fará e descobrirá maravilhas daquele novo continente. Recrute uma ou duas pessoas e faça sua réplica. Seja rápido. Não deixei ninguém interceptar esta carta de forma alguma.
Atenciosamente, Zao”
Mura leu cinco ou seis vezes a carta para realmente acreditar no conteúdo. O avô havia mesmo falado sobre a pesquisa, sobre pequenas manchas vermelhas ao leste, que pareciam explosões sem grande magnitude. E com certeza o velho não estava mentindo, muito pelo contrário, até sua letra mostrava grande anciosidade, estava “menos perfeita” como de costume. Mura fechou a carta e a guardou em sua mochila, totalmente atordoado. Na verdade, ele sempre acreditou na hipótese do avô pois ele queria ser o homem a pisar ali pela primeira vez, naquele lugar que até então não existia, e que parecia ridículo aos olhos dos outros, um verdadeiro sonho. Como Mura nunca pensou que este dia chegaria, ele se pegou questionando se tudo aquilo era uma mera alucinação, se realmente valia a pena botar as mãos no fogo por uma coisa que provavelmente não existia. Ele se questionou sobre o possível fracasso desta improvável missão, mas resolveu não largar Zao, resolveu proceder e organizar as coisas para a viagem seja lá de qual forma ela seria. E precisava contar para seu meu melhor amigo, seu companheiro de batalhas, e convidá-lo a viajar para muito longe.
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Enquanto isso, longe de Venore, mais precisamente em Carlin, Dante negociava enfim sua armadura de paladino. O sujeito era um mago marrento, e não queria vender por menos de quatro moedas de cristal, mas no fim acabou cedendo por três moedas, deixando o paladino muito feliz.
Os dois fizeram a troca, e sem hesitar o jovem vestiu a armadura. De início ficou meio desconfortável, mas automaticamente ela foi se ajustando ao corpo, mesmo que pesada pelo metal encantado que nela contém. A capa vermelha reluzia imponente, refletindo o sol daquela bonita tarde. Ele estava doido para contar a novidade ao seu melhor amigo, Mura, mas antes tinha que passar em sua casa para ver se sua irmãzinha, Jolie, estava bem. A casa não era grande, muito pelo contrário, era minúscula, muito simples. Mas confortavam perfeitamente os dois órfãos, cujos pais também morreram na primeira luta contra Ferumbras da história do Tibia. Segundo Mura, Jolie era um “anjinho que escorregou e caiu do céu”, os lisos cabelos louros e olhos azuis com sorriso contagiante não o deixam mentir.
A viagem até Venore fora cansativa, ele não pode ir de barco, pois não tinha um ouro no bolso. No caminho ele debatia consigo mesmo sobre o que ele daria para sua irmãzinha treinar, uma lança ou arco com flechas. E ainda debatia sobre como proteger uma recém-chegada criança de rookgaard, neste mundo “tão maldoso e imperdoável”. Dante ainda sofria muito a perda dos seus pais, e não desejava a nenhum ser o que ele passou, e toda vez agradecia aos céus por Jolie não passar o mesmo. Chegando em Venore, subindo até nordeste do labirinto que é a cidade, chegara em sua casa. Jolie brincava com dois bonecos que Dante conseguira: o boneco do rei bom e do vampiro malvado. Assim que a silhueta do irmão apareceu na porta, ela deu um pulo da cama, e aparentemente carregava uma carta na mão. Com um estampido e um sorriso, Dante entra e abraça a irmã, que logo depois começa:
- Dan, o seu amigo lhe deixou, e falou que é unge... Ungent....
- Urgente?
- Isso!
- Passa a carta aqui, maninha.
Na ponta dos pés, Jolie alcançou as mãos do irmão, que agora via a carta. Era estranho, por que ele não veio pessoalmente? Ele a abriu, com cautela, e logo reconheceu a espremida letra do amigo. Mas em cima do texto de Mura, havia outra coisa... Uma colagem. Uma colagem de outra carta, aparentemente. Dante se impressionou, nunca vira uma letra tão bonita. Ele fez uma careta, e começou a ler. Ainda na primeira frase, ele reconhecera de quem era a carta: Era do avô de Mura, Zao. Aquele que tinha uma teoria maluca, mas que era um gênio, sabia de todas as histórias do Tibia, muitas vezes narradas pelo próprio amigo, que falava muito bem do do parente. Ao terminar de ler tudo, Dante engasgou, piscou fortemente umas três vezes, dobrou a carta, desdobrou, leu de novo, e de novo, até captar a mensagem. Mas passou mal mesmo quando leu o parágrafo de Mura:
“Isso mesmo Dan, isso mesmo que você leu. Eu te procurei nos elfos, mas não te encontrei. Te procurei nas planices de Havoc, e nada. Andei, andei e andei, mas mesmo assim não te encontrei. Onde é que você se meteu? Então escrevi esta carta, já que não tenho tempo a perder. Estou preparando suprimentos de comida e poções, além de corda, pá, e outras coisas em duas mochilas. Partiremos o quanto antes, claro, se você puder largar tudo. Eu realmente acharia que meu melhor amigo cairia bem na maior aventura de nossas vidas, mas você tem a sua irmã, e ela o tem. Eu não queria te pressionar a fazer uma coisa tão radical para você, que não acredita na teoria, mas infelizmente, eu partirei de qualquer jeito. Morrerei sabendo se aquelas luzes são ou não um novo lugar. Pensa amigo, você não queria fama? Não queria dar uma boa vida à sua irmã? E se nós descobríssemos o que ninguém descobriu? E se achássemos riquezas lá? E ainda tem mais, eu quero muito conhecer meu avô pessoalmente, isso já está me matando, e você sabe disso. Ei cara, nossos pais morreram juntos, foi o destino deles, enfrentar o desconhecido! Dar a sorte ao vento, ter coragem para abrir uma porta nunca antes aberta. Se uma tragédia nos uniu, poderemos ter um desfecho feliz. Poderemos ter fé que algo existe, ou acreditar que só existe água naquele infinito. Não temos nada a perder, somos órfãos, e temos muita sorte por ter um homem tão sábio nos guiando. Quantos grandes guerreiros esperam pelo dia que eles irão desbravar um novo horizonte? Já pensou, que cômico, nós dois no topo dos aventureiros? Enfim, você escolhe. Eu vou para aquela maldita cidade nem que eu construa uma catapulta gigante que me arremessasse lá dentro. Se você topar, me encontre amanhã, no cás de Thais, na parte da noite.
Que a paz esteja com você, Mura.”
Um flash sobre toda a infância sofrida dos dois passou pela cabeça de Dante, todas as noites em cavernas escuras e geladas que passaram, sobre a preocupação de como contar
a irmã que ainda estava em rookgaard sobre a tragédia em MainLand. Sobre o sonho de Mura, se aventurar pelo mundo. E depois de muitos anos e muito esforço, os dois conseguiram construir uma amizade inabalável, apesar das várias brigas. Dante admirava muitas coisas no seu amigo, mas a principal delas era a certeza dele de um futuro melhor. Dante sempre achou que tinha uma visão mais real e menos sonhadora do mundo, mas pela primeira vez se perguntara se aquilo realmente era a visão correta. Logo, pensou em aceitar a aventura, mas a ideia parecia simplesmente inviável. E também, como disse Mura, ele tinha a sua irmã, seu único tesouro no mundo. Mura estava errado, estava muito precipitado. Pensou no amigo, que planejava a famigerada missão há tanto tempo, mesmo sabendo que era improvável uma descoberta. Dante realmente nunca pensou que aquele dia chegaria. Ele estava entre perder uma de suas pessoas mais queridas: Mura ou Jolie? Jolie, claro. Mas e Mura? Como ele morreria sabendo que o melhor amigo o abandonara? Mas será que ele estava louco? Não, não, ele só estava seguindo um sonho. Essas questões prologaram e muito o dia e a noite de Dante, que ainda pensava se ia ou não com Mura.
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Mura foi para Thais e ficou muito tempo lá matutando sobre como ele iria chegar ao destino. Já estava aceitando a hipótese iminente de seu amigo o deixar, mas estava muito cansado para pensar nisso. Quando o cansaço realmente o fisgou, ele pensou na hipótese de alugar um barco à vapor dos anões.
Ele já estava aprontando as malas para partir à cidade dos anões, mas se lembrou de uma coisa:
- A carta!
Rapidamente, ele pegou em seu depósito uma de suas cartas vazias e, em poucas palavras, mandou alívio ao velho:
“Eu aceito.”
Pegou suas coisas dentro do depósito, as mochilas com mantimentos, o ouro, tudo, quando uma carta apareceu magicamente no fundo do compartimento. Ele hesitou, não podia ser Zao, muito rápido! Despejando tudo de volta no grande compartimento, ele se esgueirou para pegar a carta lá no fundo, e quanto conseguiu pegar o pergaminho embrulhado, não acreditou no que viu: A letra de seu melhor amigo, Dante.
“Ei, te contei que meus pais eram cientistas? Eu tenho passagem livre para Yalahar. Ou seja, nós. Encontre-me em Thais assim que ler esta carta.”
Um misto de felicidade e raiva percorreu seu corpo, ele nunca havia contado aquilo, mas a felicidade ainda sim era maior. Ele guardou a carta no bolso imerso de alívio, juntou suas mochilas novamente, e estava fechando o depósito com muita dificuldade, quando um barulho oco entrou pelos seus ouvidos: um barulho de carta chegando.
- Ah, qual é!
Mais cansado ainda Mura jogou novamente suas coisas no depósito e puxou a mais nova carta, e pelo formato era vinda de Yalahar. Abriu o lacre, e desdobrou o pergaminho, e lá estava a letra delicada e perfeita de Zao, seu avô:
“Eu estou cuidando para construir uma barca para vocês, já estou começando as obras. Quero ver se esta carcaça de velho ainda serve para alguma coisa, além de ficar vendo através de uma lente. Que a fé te guie, e chegue rápido! Espero-te ansiosamente, meu neto.
Zao.”
Uma barca? Bem pensado, mas Mura por um momento se perguntou se o velho realmente daria conta, mas logo fugiu do assunto. Com um suspiro de tédio, pela terceira vez pegou suas
coisas, mas desta vez ele marchou sem interrupções até o cás de Thais. Marchando lentamente por conta do peso que estava carregando, ele chegou ofegando ao local. Subindo as escadas para a plataforma de onde sai o barco, logo ele avistou uma grande e fina silhueta, com cabelos longos e louros e olhos azuis, vestindo uma armadura preta com uma capa vermelha: Dante. E tomado de surpresa, mais afrente, ele viu uma menininha também loura e de olhos azuis, os cabelos delicadamente trançados e caídos ao ombro: Julie. Feliz, ele foi ao encontro dos dois, que carregavam mochilas.
- Eu pensei que você me abandonaria, cara! – Mura olhou para a menina – E você, princesinha?
Ela corou, e abraçou as pernas de seu irmão, escondendo o rosto.
- Eu tenho um plano para ela, ok? Mas só vai funcionar se o seu avô vier conosco.
Mura assentiu, mas ele ainda não tinha pensado no assunto, aquilo seria decidido na hora.
Logo, os três subiram no barco, e Dante disse o local aonde queria ir ao capitão. Ao entregar as moedas, o barco deslizou lentamente pela imensidão do mar, rumo ao norte. Mura dormiu o caminho inteiro em um banco que ali tinha, e foi acordado por um grande tranco que o barco fez, o banhando de água salgada. Os irmãos descendentes de elfos riram. Dante cuidou de arrumar todos os suprimentos e armas nas mochilas, tomando máximo cuidado. Julie estava entretida pelas histórias que o Capitão contava, sobre polvos gigantes e serpentes de gelo que ele já enfrentara. Tudo corria bem, e horas depois os três chegaram ao destino.
- Mura, Mura! Mura... EI!?! ACORDA, CHEGAMOS!
Mura, que estava esticado em outro banco, ainda molhado, levantou em um pulo, assustado.
- Ahn, onde?
- Como onde? Em Yalahar!
- Sério? Quan... Ei, é verdade! – Ele deu outro pulo só que desta vez levantando, tentando observar algo, mas o sol o cegava – Pela amazona perdida, é lindo!
- Dan, o que é aquilo? – Perguntou Jolie, apontando para uma torre.
- Aquilo é uma casa muito, muito, muito alta. Ela é chamada de torre.
Aos poucos, os três (que estavam sonolentos) foram se despertando com o calor que fazia. Mura pegou suas coisas, enquanto Dante pegou o resto. Jolie pediu para ir aos ombros do irmão, que assentiu mesmo cansado. E assim eles saíram do cás, rumo a escada afrente. Quando desceram, viram uma cidade totalmente diferente das outras: Tinha uma rara beleza, o mármore branco em todo o lugar dava uma sensação de leveza ao lugar. As construções perfeitamente arquitetadas, tudo, tudo era perfeito. Mura se sentiu em um sonho, mas teve a sensação que foi acordado dele, quando lembrou de algo:
- Espera aí Dan, precisamos avisar que chegamos! O velho já deve estar preocupado!
- Ok, mandaremos a carta. Mas se ele não responder rapidamente, iremos procura-lo por nossos próprios pés.
Assim os amigos e Jolie caminharam para aquilo que eles julgaram o depósito (era muito bonito para ser um, mas já que tudo ali era bonito...) e logo puxaram uma carta da mochila, escrevendo que chegaram e que o encontrariam na frente do depósito, Mura estava transbordando de ansiedade. Mandada a carta, Dante ficou na frente do lugar com sua irmã, enquanto o cavaleiro procurava sua bússola em uma das mochilas. Ele a achou, e rapidamente localizou o lado leste. Então voltou para a entrada, e esperou com seu amigo a resposta de Zao.
Passado dez minutos sem respostas, o que era muito, ambos ficaram preocupados, e por fim resolveram ir sozinhos até o leste da cidade. Ninguém se apressou ao aprontar os suprimentos, pois estavam admirando até o piso onde andavam. Mura piscava e balançava a cabeça várias vezes atordoado com as coisas novas que vira, e pouco a pouco ele absorvia a notícia que veria seu avô pela primeira vez. Dante foi mais rápido e pegou suas duas mochilas de comida e ferramentas, enquanto Jolie estava em cima de seus ombros, as mãos tampando os olhos do sol. Finalmente, começaram a andar, a bússola os guiando. Por tempos passaram por ruas largas e bem decoradas, com casas térreas por todos os lados, e até um templo. Um pouco depois, perceberam que a cidade era um círculo, ou quase isso, e começaram a se guiar por torres que estavam distantes. Jolie já estava cansada, Dante mais ainda, pois a carregava nas costas com mochilas penduradas em seu braço e ombros. Mura caminhava ansioso, sempre consultando a bússola, tomando cuidado para não se perder. E eis que finalmente, depois de vários minutos caminhando, uma torre pequena mas longa surge no meio das pequenas casas que a rodeavam. Mura teve a nítida certeza que aquele era o lar de Zao, pois telescópios e lunetas eram facilmente vistos no último andar, apontados para o mar. E ancorado nas águas, bem ao fundo, um barco de médio porte jazia. Novo em folha, feito em madeira pura, ele flutuava com sutil leveza, esperando para ser usado. Mura observou tudo aquilo com nítida surpresa, mas durou pouco tempo.
- Tem alguma coisa errada aqui, Dan. Espere aqui com ela enquanto eu vejo isso. – Indagava ele, preocupado.
- Estranho isso, ele devia estar nos esperando. Bom, vá então, mas volte com notícias concretas. Não me deixe mais preocupado.
Mura, que já estava a caminho da torre, virou o pescoço para seu amigo, sua cara confusa:
- Mais preocupado?
- Não sei não, cada vez mais isso me cheira loucura, ainda dá tempo de volt...
- Você já está aqui, e quer voltar? É isso? Não confia em Zao?
- Mura, sempre te contei que aquilo não é verdade!
- Faça como quiser, eu vou ver meu avô. – E assim Mura sai em disparada, sua espada de dois gumes em mãos, estava agora com raiva.
Quando chegou à entrada, viu um tapete velho, e uma porta de madeira. Estava aberta, e o cavaleiro entrou, seus passos ecoavam no vazio. Com o coração pulando, ele começou a subir as estreitas escadas, uma por uma, até finalmente encontrar uma porta, também aberta. Mura colocou a espada novamente nas costas, e entrou, sua cabeça borbulhava. Papéis e papéis estavam espalhados por uma mesa de mármore branco, lunetas por todos os lugares, anotações magicamente coladas em um mural diziam coisas sobre medidas e alturas. Uma estante gigante de livros jazia no outro canto da sala, totalmente tomada por antiguidades tibianas, as que o homem que estava deitado logo à frente de Mura, contava. Agora ele via a grande barba branca, a pele morena e descascada pelo sol, seus olhos cinza o fitando, lágrimas caíam de lá. O velho vestia um hat azul e túnica branca, e estava muito debilitado, muito magro. Mas mesmo assim tentou se levantar, o que não deu muito certo. Mura conseguiu o pegar antes que ele caísse. Seus olhos se encontraram, ele tentava se manter calmo.
- Avô, o que aconteceu com você? Alguém te fez isso? Fale!
Zao fez sinal para que Mura o largasse, e ele conseguiu andar até pegar sua bengala, que estava ao pé da cama. Seus olhos não piscavam, fitavam seu neto diretamente.
- O barco... Está pronto.
Mura não conseguiu achar palavras para responder, e ficou observando seu avô caminhar pela sala:
- Tão forte quanto a mãe, um verdadeiro guerreiro – Seu sorriso amarelo preencheu toda a sala – Grande guerreiro, grand... *COF*
Zao teve um ataque de tosse, e involuntariamente largou a bengala, Mura novamente o socorreu. Agora ele entendia, o velho estava daquele jeito por ter construído o barco.
- Eu trouxe suprimentos o suficiente para alimentar uma tripulação inteira, venha comigo. Irei cuidar de você, se sairá bem melhor do que ficar sozinho e...
- Esperar a morte? Eu já faço isso há tanto tempo, filho...
- Não, morrer na dúvida. – Mura segurou a mão de seu avô – Venha comigo, por Yara, por minha mãe.
O velho novamente teve uma crise de tosse, e deitou na cama, não conseguia falar. Desesperado, Mura desceu correndo as escadas e chamou Dante, que alimentava Jolie com um pedaço de pão. Vendo a expressão do amigo, ele foi em disparada, o arco deixado do lado da menina:
- Meu avô está passando mal, vamos carregar ele para o barco!
- O QUÊ? Para o barco?
- VENHA!
Os dois subiram, rapidamente, e encontraram o velho ainda tossindo sofregamente. Mura pegou as duas pernas magras de Zao, enquanto Dante o levantou pelos braços.
- No três... TRÊS!
Mura e Dante levantaram o velho, e com cuidado foram descendo as escadas, até chegar ao gramado que cercava a torre. Os dois se guiavam por sinais e expressões faciais, enquanto carregavam Zao até o barco, Jolie observava a cena assustada. Assim que pisaram no destino, uma balançada quase os derrubou, mas Zao foi colocado em um banco com sucesso. Passados minutos agoniantes tentando fazer o homem se sair melhor da tosse, Mura foi conduzir o barco, Dante ficara observando se o velho estava bem. Lá do fundo, o paladino dizia que estava correndo tudo muito bem, mas na verdade Zao só piorava e mais, enquanto Yalahar sumia em suas costas.
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Dante ficava cada vez mais irritado e apavorado por fugir do mundo com um barco, já haviam se passado sete dias e nem sinal de ilha. Em todo este tempo, mais da metade dos suprimentos se foram, as poções de mana para curar o velho já estavam se esgotando, Julie estava ficando entediada e Mura, muito cansado por conduzir tudo aquilo. De vez em quando, o cavaleiro ia verificar se o avô e o amigo estavam bem, mas Dante mascarava tudo para parecer certo, não querendo causar conflitos. Mas a verdade era que Zao piorou muito, adquiriu febre alta e seu corpo todo tremia. Os lábios estavam rachados, a pele sem cor. Sua barba caía levemente sob seu robe, os olhos vidrados na parede. Dante estava usando o dobro de suprimentos que programara, e Mura só foi perceber a situação alarmante dois dias depois, quando ele pegou Dante tentando limpar o suor do velho. Com os ânimos esgotados, Dante e Mura discutiam:
- Ele está passando muito mal! Precisamos de ajuda, Mura, AJUDA! – Gritava Dante, desnorteado.
Jolie, que brincava como sempre com suas bonecas ao fundo do barco, parou para espiar a cena:
- Estamos no meio do mar! A ajuda é nossa! Nós fazemos a ajuda! – Mura tentou acalmá-lo.
- Você que nos trouxe nessa emboscada sem fim, nós não temos nem uma mochila de comida, vamos todos morrer aqui, TODOS!
Um silêncio alarmante percorreu por todo o barco, e só foi cortado por um choro ao fundo. Era Jolie. Dante sacou o arco, explodindo de raiva:
- Você me fez cuidar por dias e dias deste velho patético e louco e fez-me levar minha irmã para cá, pensei que aquilo era real, mas É IMPOSSÍVEL SER REAL! VOCÊ NOS MATOU!
Dante, sem pensar, levantou seu arco e tirou uma flecha da bolsa, mirando no peito do amigo. Mura, que estava desarmado, tentou se esquivar para o lado, quando a flecha se fincou em seu braço. Jorrando de sangue e grunhindo de dor, ele se arrastou para até seu avô, mas não sabia o porquê, talvez queria pedir-lhe desculpas, ou outra coisa, mas pouco pensou quando a segunda flecha o acertou na perna, de raspão. Estancando o sangue, Mura chegou na pequena sala onde estava o velho, que agora fazia esforço para olhar o neto. Mura se ajoelhou ao pé da cama de Zao, e colocou sua mão vermelha no peito do avô:
- Me desculpe, eu fracassei... Me perdo...
A última flecha atingiu a barriga do cavaleiro, que já estava deitado no chão, mas ainda vivo. O golpe de misericórdia viria, mas uma grande bola de fogo atingiu o canto direito do barco.
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O sol ainda batia forte mesmo longe de Yalahar, mostrando os estilhaços do que antes era um barco. Se a água não fosse morna, todos teriam morrido congelados. A parte do barco onde Mura e Zao estavam jaziam encostada em um grande pedaço de pedra, totalmente destruída. Fagulhas boiavam há metros e metros de distância, e Mura só percebeu isso quando observou a cena. Seu corpo estava intacto sobre um grande pedaço de madeira e penas do que era a cama. Ele examinou sua perna, e não havia nenhum ferimento. Por estar tão atordoado, não percebeu que estava em terra firme, encostado sobre uma grande pedra. Alguns segundos depois, ele se levantou, totalmente atordoado, a cabeça girando. Por muita sorte, sua espada estava em uma pequena rocha plana, perto de onde ele estava. “Preciso encontrar meu avô, preciso encontrar todos”, ele falava para si mesmo. Ele se sentia esquisito, a impressão era de que ele havia sido ressuscitado, ou sido... Curado? A ideia de que seu avô usara uma magia “exura sio” ecoou em sua mente, “talvez ele tenha se sacrificado”. Não, ele não aceitava aquilo, seus passos foram se apressando, pulando entre pedras e pedaços de madeira, verificando entre o mar e entre as pedras. Seus pensamentos evoluíram, até chegar ao óbvio.
- Estou pisando em pedras... Pedras! – Ele olhou para o lado direito, e uma grande montanha se formava, e por uma pequena fresta entre as várias pedras juntas formando uma barragem, ele conseguiu ver um lugar plano e absolutamente desabitado por humanos.
Mura voltou dessa vez nadando, para o lugar onde acordou. Manchas de sangue traçavam uma marca pelo lado oposto onde ele viera, e cada vez mais ia se intensificando e aumentando, até chegar a certo ponto onde Mura cansou de nadar e foi para as pedreiras, que tampavam o horizonte plano dali. Ele tinha certeza, havia visto terra plana, mesmo que entre as pedras que cercavam todo o local. Novamente beirando o mar entre as pedras, ele tateava para não cair de cara, quando um movimento em falso com a mão o fez cair, mas não para o mar: Para dentro das pedras, uma pequena caverna.
O jovem se levantou, se limpando de poeira que acumulara com a queda, sua armadura de prata estava cada vez mais pesada. A caverna parecia ter mais profundidade, e sacando a espada, ele caminhou. Não demorou muito para que o escuro o cegasse, e ele teve de gastar o seu último resquício de mana para usar a magia “utevo lux”. Quando a sala se iluminou, seu coração quase parara de bater: Zao estava encostado em uma parede, e com uma pessoa muito ferida em seu colo, uma menina...
- JOLIE, ZAO!
O velho virou o rosto perplexo, acabara de ver seu neto ressurgir. Ele apenas observou ele correndo, pois não podia levantar mais. Jolie tinha um sério corte na testa, que estava sangrando muito. Se demorassem, a menina provavelmente iria expirar ali mesmo. Quando Mura chegou e se ajoelhou para os dois, Zao o implorou:
- Não tenho mais mana, filho... Preciso de uma poção, só uma... Salve esta alma sagrada, não a deixe morrer!
- Mas... Eu não tenho! Só achei minha espada!
Lágrimas saíram dos olhos do velho, várias coisas estavam acontecendo com ele, boas a ruins:
- Eu não posso ter o prestígio eterno e deixar uma garota morrer em meus braços, eu preciso... – Mura o cortou.
- Você não precisa de nada, fica parado aí com ela! Vou adentrar a essa caverna! – Sua voz ia se distanciando enquanto ele corria caverna adentro.
A escuridão o engolia, sua magia de luz estava se esgotando. A grande sala virara um corredor estreito, que estava ficando cada vez menor, Mura pensava que uma pedra era o fim do corredor, quando um besouro gigante apareceu da escuridão, o atacando por trás. Mura caiu de costas, e a espada voou para longe, batendo com som oco em uma pedra. O besouro tentou fincar suas presas na garganta do jovem, que rolou para o lado da espada e conseguiu apanhá-la. Esperando o outro golpe por cima do besouro, que aconteceu, Mura (ainda deitado) fincou com toda sua força sua espada de duas mãos no peito do inseto, que caiu em cima dele, morto. Ele estava tão preocupado com tudo que nem deu por percebido seu cabelo cheio de gosma preta e fedida, e um pequeno arranhão na armadura, o cavaleiro queria seguir em frente.
Com a luz totalmente apagada e com mais cautela, Mura andava agachado e com muita calma, tentando não atrair outro monstro, queria achar algo rapidamente. Andou por alguns metros, quando seus rumores se concretizaram: O fim do corredor era uma grande pedra. Nervoso, ele soca a parede atrás dele com toda a força, sentindo ódio de si mesmo:
- DROGA! E AGORA?
Aquilo fora suficiente para atrair mais dois besouros gigantes, que surgiram do teto, já indo atrás de Mura. Por sua vez, ele sacou novamente a espada e foi de encontro com um deles, despertando toda a sua ira, o que culminou com a morte do inseto. Ainda consumido pelo ódio, ele começou a cortar cada parte do corpo do besouro, e se esqueceu do segundo, que o abocanhou no braço, trazendo o veneno, e a dor. Caído, ele estava vendo o mundo girando, totalmente desnorteado, precisava se levantar e lutar novamente. Mas a dor estava subindo para os ombros e ao mesmo tempo descendo para as costelas e pernas, que começaram a bambear mais e impossibilitando Mura de levantar. Então só restou pegar a espada com a outra mão e esperar que o besouro viesse para poder dar o golpe final, o que acabou acontecendo.
Os danos causados por aquela batalha foram muitos, o veneno se espalhava rapidamente pelo corpo, a dor impossibilitava qualquer movimento, e deve ser por isso que ele não percebeu o que havia acontecido no momento:
- Eu... ahh.. Preciso... Levantar... Preciso, preciso, pr.. – Uma luz clareou todo o corredor escuro, e Mura percebeu que a luz vinha de trás, e tendo dificuldades para mover o pescoço, ele conseguiu ver um horizonte desértico com grandes plantações secas e mortas. Aquilo não era uma parede afinal, era musgo e restos de plantas que ali ficaram por milhares de anos. – Meu pai... – Ele primeiro se admirou com a vista, mas um ogro vinha em sua direção, correndo – Não, NÃO!
Mura começou a correr se arrastando, o ogro vinha logo atrás, e ele estava montado em um lobo de guerra. As patas ecoando no corredor o amedrontavam cada vez mais, eles estavam se aproximando. Mura não podia fracassar, tinha que matá-los. Quando o corredor voltou a se expandir, o corpo dele se paralisou de vez, e ele caiu. Sem nenhuma piedade, o lobo passou por cima do corpo de Mura, e uma lança ricocheteou em sua armadura de prata. Gritos e passos vieram depois, seguido de uma saraivada de flechas contra o ogro e o lobo: Era a guarda real de Yalahar, acompanhada de alguns cientistas magos.
Mura via sua vida inteira em um piscar de olhos no seu delírio, seu corpo doía tanto que a sensação era de ser queimado vivo. Prontamente dois cavaleiros de elite se aproximaram dele, o curando com poções de vida, e derramando a poção pelas feridas:
- Está envenenado senhor! – Disse o primeiro cavaleiro, que usava uma armadura que tampava todo o sue corpo. O senhor provavelmente era um cientista.
- Deixe-me ver os sintomas.
Ele andou até Mura, que sangrava e tentava falar algo para eles: “Me matem, por favor”.
- Ele provavelmente está sentindo uma dor insuportável, os olhos estão vermelhos e a pele quente. Está com as superfícies do corpo frias... Eu desconheço de tais sintomas, ele foi mordido por algo desta ilha. Algo muito forte, muito forte mesmo.
- Ele vai viver? – O segundo guerreiro tirou o capacete de guerreiro, mostrando seus cabelos pretos e olhos cinza, era idêntico a Mura, só que mais velho. Parecia muito preocupado.
Mura sentia sua vida se esvaindo, e se sentia na obrigação de falar alguma coisa, passar uma mensagem a eles, mas tudo que conseguiu dizer foi:
- Zao... Zao... Zao. – E assim os olhos do guerreiro se fecharam, o corpo parou de tremer e ficou calmo, seus pés pararam de se mexer.
Um silêncio percorreu toda a sala, agora todos os guerreiros e cientistas observavam o jovem morto no chão, teve uma morte muito sofrida. O guerreiro sem capacete colocou o mesmo no chão, e se ajoelhou em frente ao menino, então se lembrou da morte trágica de seus pais, que morreram combatendo o grande mago Ferumbras, e de seu irmão, que nunca vira desde que ele era um bebê. Colocando as mãos sobre os olhos do menino, ele o abençoou:
- Morreste como um verdadeiro guerreiro. Morreste combatendo o desconhecido. – E virando para o cientista que estava logo atrás, ele completou – O homem idoso se chama Zao. Traga-o aqui, ele precisa ver isto.
- E enquanto a menina? – Respondeu um dos guerreiros.
Antes que alguém pudesse responder, um homem interrompeu todos vindo da entrada da caverna, gritando desesperado:
- A menina sumiu!
Um burburinho correu por todos, e a voz esganiçada do cientista pairou sobre todas:
- ESQUADRÃO DOIS! Vão procurá-la pelo perímetro conhecido! Esquadrão um, peguem o homem e interroguem-no, enquanto preparamos o corpo para que ele possa ver. Esquadrão Três, volte para Yalahar e chame toda a tropa Norte para cá, precisamos investigar o perímetro desconhecido!
Guerreiros começaram a se pôr em ordem, e foram para seus destinos. Apenas o cientista e o guerreiro sem capacete ficaram, e arrumaram o corpo do menino em um canto, com uma pequena cama vinda de um dos barcos, que um dos guerreiros trouxera.
Pouco tempo depois, várias pessoas escoltavam um velho muito deprimido, Zao, que logo quando viu o corpo foi correndo em direção e chorou a maior perda de sua vida. Todos olhavam perplexos para o desespero do velho, e temendo que ele se suicidasse antes de contar algo, eles logo o recolheram. Precisou de tempo para que os ânimos se acalmassem, e que Zao começasse a contar toda a história, mas antes ele questionou:
- Como vieram parar aqui? Apenas eu consegui observar fenômenos aqui depois de décadas de estudos, e vocês vieram no dia em que viemos!
- Senhor, vimos uma explosão muito forte vinda dessa direção, foi vista por metade de Yalahar. Quando convocamos três patrulhas para vir para cá, achamos o barco despedaçado, mas ainda não sabemos de onde veio o foco do incêndio. – Retrucou com calma o cientista.
- Não foi incêndio, uma bola de fogo caiu na direção do barco.
Logo depois, Zao contou tudo, sobre o descobrimento, sobre Mura, a traição de Dante, e a explosão. Zao havia curado primeiro a menina que estava gravemente ferida, depois curou Mura, e deixou-o lá, levando a menina para algum lugar seguro. Mesmo usando “exura sio” várias vezes, ambos estavam debilitados, e não conseguiram andar muito, por sorte acharam a caverna.
Depois do triste incidente, tropas de todo o norte foram secretamente convocadas para desbravar o lugar, enquanto vasculhavam a casa de Zao. Todos queriam chamar o novo continente de “Mura”, mas em uma oportuna ocasião, o guerreiro sem capacete, irmão desconhecido do falecido jovem, fez uma observação, em uma reunião:
- As últimas palavras do garoto foram súplicas, que queriam dizer várias coisas.
- E o que ele disse? – O coronel e coordenador da missão indagou.
- Ele repetiu o nome de seu avô: “Zao, Zao, Zao”. Ele queria que o continente se chamasse Zao, queria que Zao o perdoasse, e queria dizer que o ama muito. Disto eu tenho certeza, ele quis dizer isso.
Um mútuo silêncio percorreu a sala por um instante.
- Compreendo. – Disse por fim o coronel, sentido. – Este homem é um herói, o menino também. Ambos morrerão com toda a honra que tíbia possa os dar. O continente terá o nome de um dos heróis... Zao. O continente de Zao.
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As tropas já haviam por muito avançado. Ogros e alguns Lagartos haviam sido desbravados, além de cachorros selvagens e crocodilos selvagens. Construções formadas por alguma sociedade antiga estavam presentes, e em uma grande instalação em especial, uma silhueta estranha fora vista. Não um monstro, ou inseto, muito menos lagarto. Uma silhueta que se moveu rapidamente, e com características próprias. Não era algo qualquer que estava em cima daquela torre: Era a silhueta de um homem.
Spoiler: Texto 2Corredores da Estepe
O alvo encontrava-se extremamente desprotegido. Nem teríamos a chance de provar o sabor da batalha, para a decepção de alguns de meus companheiros mais sedentos de sangue. Havia, sim, uma paliçada de madeira protegendo a pequena vila, e acredito que deveriam haver alguns guerreiros não medíocres ali dentro. Afinal, estávamos falando de orcs. Nunca se deve ficar descansado perto desses ordinários. Quando você pensa que minou-os de todas as armas e chances de vitória, os cretinos voltam e te atacam pelas costas, nem que seja com suas feias e gigantescas presas. Naturalmente, eu não dava voz a meus pensamentos mais enraizados a respeito daquela raça, pois havia vários deles em meu grupo, inclusive um de meus generais. Um espécime formidável, facilmente ultrapassando quase todos os outros guerreiros em altura e constituição. Era uma peça indispensável à mim, e tinha uma qualidade faltante à outros de sua espécie: era capaz de seguir ordens. E, como todos nós, também havia traído sua própria raça.
— Haverá algum problema? — Perguntei ao massivo general orc, que se encontrava parado ao meu lado. Seu nome era Vognorr, e mantinha seus olhos escarlates fixos na vila de seus semelhantes.
— Nenhum — sua voz era pesada e intensa, e deixava transparecer, mesmo que na menor das palavras, o ódio contido inerente à espécie dos orcs.
— Se nos superam em número, os superamos ao dobro em qualidade. Não tem espaço suficiente para criarem lobos de guerra, e no entanto nós possuímos vários. Cairão rapidamente diante de um ataque surpresa. Avancemos.
Não tive dúvidas, e dei a ordem. Cinquenta homens começaram a mover-se em direção à pequena vila, todos montados e armados. Eu ia à frente, ladeado por meus dois generais, nenhum de minha raça. À minha esquerda, montado em um lobo de guerra semelhante ao meu, corria Kssar Zalgoz, um viperino homem lagarto oriundo de Zzaion, no sudeste. Brandia uma alabarda gigantesca, com tal proficiência que tornara-se conhecido por todos os povos das estepes após deixar sua terra. Vognorr ia à minha direita, ostentando sua maça medonha, cujos gigantescos espinhos de ferro apontavam para o céu escuro. Ele não montava um lobo, mas sim uma criatura que lembrava um urso ou hiena, de pelo alaranjado. Somente os orcs conseguiam subjugar a ferocidade daquelas criaturas, e mesmo assim só até certo ponto.
Ambos os generais erguiam-se altaneiros, diminuindo-me em altura, porém não em espírito. Pois sou, é claro, um anão, oriundo do continente de Tibia, e meu nome é Aizul. Vim junto com muitos outros de minha raça que saíram do continente através do mar subterrâneo e chegaram até o novo continente, para “explorá-lo”. Nenhum deles vira a cor do céu da nova terra, no entanto. Preferiam esconder-se em Farmine, tendo uma gigantesca montanha sobre suas cabeças, como era de praxe. Apenas eu vagara sobre aquelas áridas e quentes estepes. Apenas eu conhecera o que havia além do mundo familiar. Fui eu o descobridor de Zao. Eu vi a cor de seu céu, e ele estava negro, negro como qualquer túnel dos anões, porém mil vezes mais vasto.
A ridícula paliçada dos orcs tornava-se mais próxima. Estávamos confiantes; seria apenas mais uma localidade arrasada. Minha besta estava carregada, e eu tinha o machado preso às costas. Lobos uivavam. Vozes sortidas de anões, orcs, homens lagarto e até mesmo draconianos berravam, anunciando nossa chegada.
Destruímos a paliçada rapidamente, com grandes estrondos, deixando a vila completamente vulnerável. O efeito do ataque repentino era notável: orcs desnorteados pululavam para fora de suas cabanas de madeira, aos berros ou sonolentos, a maioria desarmado e desprotegido. Alguns mais tolos tentavam em vão vestir peças de armadura, mas eram mortos na metade da tarefa por meus guerreiros. Vognorr e Zalgoz foram à frente, dizimando dezenas de habitantes, pintando a terra e as paredes das casas com o vermelho do sangue. Às suas costas, minha besta cantava, cada dardo atravessando entranhas ou cabeças, sem exceção. Quando acabaram os dardos, avancei para o centro da batalha, em uma espécie de pátio central da vila, onde a maioria dos combatentes encontrava-se.
Orcs mais capazes começavam a aparecer, após o baque inicial do ataque surpresa. Líderes e senhores de guerra, armados até os dentes, fazendo caretas distorcidas enquanto arremessavam facas alucinadamente, ou giravam suas lâminas com precisão e velocidade mortais. A fúria cresceu dentro de mim quando observei os primeiros dos meus começarem a sucumbir. Brandia o machado de encontro a pescoços e corpos, fazendo-os experimentar a força da qual usufruem os anões. Eu via as expressões cômicas e esgares de desprezo que faziam ao se virarem para me engajar em batalha. “Já matei tantos homens maiores, não vai ser esse anão de circo que irá me superar”, deviam pensar os cretinos. Um machado no meio do crânio amarelava seus sorrisos rapidamente.
Um ganido muito alto subjugou todos os sons de metais e gritos quando uma flecha atingiu meu lobo. De imediato ele desabou para não mais se levantar, fazendo-me continuar a luta à pé. Sem me intimidar, dancei por entre joelhos e cinturas, fazendo homens gritarem enquanto atacava suas partes mais desprotegidas. Cada golpe que atingia o alvo era uma vitória. Todo homem que caía aumentava nossa reputação. Cada vila tomada era mais um passo próximo ao meu objetivo, de conquistar as estepes e o que havia além delas. Nosso nome tornara-se temido por todas as raças de Zao, e tornar-se-ia também temido em todo o mundo. Nós éramos os Corredores da Estepe, arautos do caos, e não seria uma vila orc que poria fim à nossa campanha.
Eu vi em minha frente um inimigo orc massivo, trucidando todos os que se colocassem no seu caminho. Sua pesada armadura de ferro parecia impenetrável, e o colossal martelo que carregava reduzia os alvos que encontrasse a uma massa disforme no chão. De início, vários homens colocavam-se entre nós, mas o destino da batalha era de que nos encontrássemos, e esse número caiu rapidamente, até que restasse apenas eu e o orc nas proximidades.
Como um gigante, ele avançou sobre mim a passos largos, curiosamente sem a expressão zombeteira que a maioria dos outros orcs vestiam ao me ver. Percebi que ele não me subestimaria, e eu seria muito tolo de fazê-lo. Quando chegou muito próximo, sua silhueta eclipsou a lua, e ele ergueu o martelo com ambas as mãos até o máximo que pode.
O golpe veio lentamente, e desviei para a esquerda antes que me atingisse. Ataquei-lhe as pernas, mas ele foi rápido e me bloqueou com o cabo de aço de sua arma. O som resultante provocou uma nota aguda e metálica, semelhante aos martelos dos ferreiros anões ao baterem nas bigornas, na distante Kazordoon. O próximo golpe do orc veio rápido, e bloqueá-lo foi a única opção. Mesmo com a admirável força que tem os anões, o choque fez tremer todo o meu corpo. Aquele era, realmente, um inimigo formidável. Trocamos mais golpes, ele tentando-me atingir na cabeça e eu em troca mirando suas pernas, e a cada segundo mais me dava conta do inimigo formidável que estava enfrentando. Minhas forças se exauriram rapidamente, e usei o que me restava delas quando observei uma brecha nos movimentos alucinados e selvagens do orc para atingir-lhe em cheio a rótula direita
Desequilibrei-me e caí, e ele, com um joelho inválido, desabou sobre o outro, berrando. Ainda assim, ele estava melhor do que eu. Mais uma vez ergueu o martelo, e pela primeira vez em anos eu tive medo. Observei o contraste de sua arma com o céu escuro, enquanto memórias de minha vida brincavam em minha mente.
Chegávamos ao local que posteriormente seria Farmine, onde centenas de anões contentavam-se com a grande variedade de pedras preciosas das cavernas, enquanto eu contemplava a possibilidade de um novo mundo. Desde a primeira vez que saí das montanhas e observei as estepes, quis investiga-las a fundo, e, ao anunciar meu desejo aos outros, fui recebido com censuras ou meramente visto como piada.
Nossa pedra tornou-se mole com o passar das eras, e o fogo de nossos corações queima mais fraco e frio. Meus companheiros preferiram ficar enterrados debaixo da terra, como minhocas podres, enquanto delegavam a tarefa de lutar e desbravar o novo continente a humanos. Vi que estava sozinho, e teria de encontrar meu próprio rumo. Neguei a Farmine, neguei a Kazordoon, neguei aos anões e ao imperador Kruzak.
O martelo zuniu ao cortar o vento, em direção à minha cabeça. Lembrei de um jovem anão vagando errante sobre o solo seco, exposto a todas as intempéries. De dia, a sede o corroía por dentro, e hienas famintas o viam como um fácil e suculento petisco. Nas noites, enxames de insetos negros zumbiam e picavam cada pedaço de sua pele exposta, impedindo-o de descansar. Ele andava sem desistir, suas pernas se tornando mais fortes e a expressão mais dura. Viu moradias de orcs no centro da estepe e a cidade dos homens lagarto, Zzaion, ao sul. Conheceu até mesmo draconianos, seres até então ocultos ao conhecimento de Tibia. E adquiriu companheiros de todas essas raças, rebeldes e renegados como ele. O anão já não andava sozinho, e passara a conquistar vilas, ao invés de evitá-las.
Coloquei os braços na frente de minha cabeça, num reflexo fútil de me proteger do golpe final. Vi o anão a contemplar a enorme cordilheira que cortava o continente ao meio, dividindo Zao entre norte e sul. Aquele era o seu limite, a única barreira que ele não ousava ultrapassar. Fora então um dia convencido a testar seus limites, e conhecer o que havia além daquelas montanhas, ignorando seus temores a respeito das criaturas que ali viviam. Aquela era a campanha, a última campanha, que escalaria os Picos da Chama do Dragão e o tornaria um desbravador completo. E ela terminava ali, com um golpe do martelo de um orc.
E então o martelo errou o alvo, desviado de sua trajetória por um chute. Quando arrisquei olhar para a cara do orc, vi uma alabarda entrando por sua nuca e saindo pela boca, e o sangue jorrando. Vognorr, o autor do chute, finalizou o orc, ainda maior do que ele, com um pesado jogo de corpo, que o fez desabar com um poderoso estrondo. Empunhando a alabarda ensanguentada, Zalgoz olhava para mim com olhos debochados, provocando ruídos serpentinos com sua língua bifurcada, sua maneira de demonstrar que achava graça em alguma situação. No entanto, estendeu a mão escamosa para ajudar-me a levantar. Erguendo-me, observei a situação ao redor. A maioria dos meu homens permaneciam inteiros, alguns com poucos ferimentos. Não se via sinais de orcs hostis vivos. Por vezes, conseguíamos novos recrutas nesses assaltos, mas daquela vez perdemos onze soldados. Mas de qualquer forma, havíamos ganhado.
— Nenhum problema, hein? — Eu disse à Vognorr, jocosamente. O orc dirigiu-me um olhar afiado.
—É, parece que subestimei minha própria espécie. Esqueci-me do que éramos capazes de fazer. Aquele brutamontes quase te pegou, hein?
— As vezes um susto é bom para deixar um homem esperto. O lutador que sente-se demasiadamente confortável no campo de batalha encontrará um fim próximo. — Silvou Zalgoz.
Eu nada disse, apenas olhei para o norte, onde estavam as cordilheiras dos dragões. Breve, também as conquistaríamos, e depois o desconhecido norte. No futuro, regressaria e tomaria Farmine das mãos dos covardes e preguiçosos. Por todo o Tibia, eu seria conhecido como o descobridor de Zao. Prateleiras de bibliotecas transbordariam de escritos sobre o anão que descobriu, lutou e dominou um novo mundo.
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