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Tópico: Mirrory

  1. #1
    Avatar de Lorofous
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    Padrão Mirrory

    Olá... er.. hm... nossa, tá diferente essas bandas...
    Bem, eu postava aqui há muito tempo, só que ficou meio abandonado. Queria saber como estava. Tem bastante gente nova AHUAHUAHUA
    Eu achava que haviam todos migrado para a seção Literatura.
    Bem, vou começar essa história aqui, se me permitem...

    Mirrory
    "Bem vindo ao local
    Onde o tempo não passa
    Ninguém sai e ninguém irá."
    - Metallica
    Spoiler: ÍNDICE


    Primeiro Livro
    I - Flashes
    Branco.
    Loran vê a si mesmo batendo em uma porta no vazio.
    A imagem começa a escorrer como se um dedo estivesse escrevendo em um grande espelho embaçado.
    Outra começa a se formar. Loran agora está sentado em um sofá. Tem alguém ao seu lado, mas ele não consegue identificar quem é. Um controle de vídeo-game está em sua mão.
    No seu lado direito, uma escada começa a se construir magicamente. Ela é branca com degraus de mármore. Quando ela termina de se erguer, um teto branco começa a encobrir sua cabeça, mas sem sombra nenhuma, pois não havia luz.
    Atrás do sofá que Loran estava, haviam duas pessoas conversando com cálices de vinho em suas mãos. Pelo menos era o que Loran achava que via. Só reconheceu uma pessoa: Jean. Ele tinha um cabelo loiro-prateado que caia por seus ombros. Parecia um cantor famoso, mas Loran esqueceu seu nome.
    De repente, a cabeça de Jean gira 180 graus. Seu corpo após alguns segundos acompanha o movimento, ao mesmo tempo em que suas pernas iniciam o movimento que faz com que ele comece a correr.
    Ele corre em direção à porta.
    A imagem de todas as pessoas escorre, inclusive Loran, Jean e o homem que ele conversava.
    Uma mulher aparece ajoelhada em frente à escada.
    Várias pessoas começam a surgir a sua volta formando um U. Escada, mulher, U.
    Loran está no meio desse U de pessoas e está aflito. A mulher está chorando alguma coisa, mas ele não entende. É um som abafado, como se ela falasse e o som fosse engolido pelo vácuo.
    Agora tudo escorreu.
    Branco.


    Loran acorda e tenta abrir os olhos, mas os fecha rapidamente devido a claridade que machuca.

    Cadê as minhas cortinas? – pensa, mas para de pensar. Sua cabeça começa a doer.
    Ele tenta abrir bem devagar e vê o cimento. De repente percebe que sua cabeça está virada no chão, então a vira para o lado, deixando sua bochecha ficar em contato com o chão frio.
    - Mas o que eu estou fazendo aqui? – murmura.

    Ele passa a língua por toda sua boca tentando tirar o gosto amargo dela. Pôs as duas mãos no chão e num esforço sobrenatural (para o seu estado) ele ergue seu próprio peso e senta.

    Estava na calçada em frente a sua casa. Olhou para o telhado dela e semicerrou os olhos. A luz do sol batia por trás de sua casa e fazia uma sombra sobre seu corpo estendido na calçada. Como tinha ido parar ali ele não sabia.
    Ok, vamos tentar lembrar...

    “Branco.
    Loran vê a si mesmo batendo em uma porta no vazio.
    A imagem começa a escorrer como se um dedo estivesse escrevendo em um grande espelho embaçado.”


    Parou. Sua cabeça voltou a doer.

    Ele põe os dois pés no chão. Estava descalço do pé direito e só de meia no esquerdo. Olhou em volta e viu seu par de tênis pretos no pequeno gramado em frente da sua casa. A outra meia era um mistério, o qual provavelmente nunca teria solução. Sentiu que sua calça estava quente perto da virilha.
    Levantou-se do chão e começou a andar mancando. Não que estivesse machucado, mas sua cabeça latejava a cada passo que dava. Pegou os dois tênis e os calçou se apoiando na cerca de madeira da sua casa. Deixou desamarrado.

    Passou pelo gramado e girou a maçaneta da sua casa. Ela não abriu. Ficou um tempo tentando girar até perceber isso e começou a bater na calça jeans procurando o contorno das chaves. Não estavam lá.

    Ou elas estão dentro da meia sumida ou tem alguém dentro da minha casa. – pensou sem se importar com isso de verdade.
    Começou a bater.


    ---


    Toc, toc, toc.
    O que chamam de Taylor abre os olhos, mas só enxerga a escuridão. Claro, sua máscara está na frente dos olhos. Ele começa a girar ela na cabeça até os dois furos dos olhos ficarem no lugar. Agora via um ventilador girando lentamente no teto do quarto ligeiramente iluminado pela luz do sol que se esgueirava por entre a cortina.

    Ele se levantou mesmo que sua cabeça doesse. Não ligava para a dor. Suas pernas longas escorregaram para fora da cama. Agora notou que não estava em sua casa.

    Toc, toc, toc.
    Quem estava batendo na porta àquela hora da manhã? Aliás, que horas eram?
    Olhou para o criado-mudo ao lado da cama e checou o rádio relógio: 11:22h – 28/03/10

    Ao lado do relógio, havia um porta-retratos com uma fotografia nele. Mostrava um homem corpulento com o cabelo negro coberto por um chapéu de cowboy preto. Tinha um sorriso um tanto quanto débil, mas parecia feliz. Ele nunca parecia feliz por completo. Pelo menos não expressava.

    - Ai não... – murmurou esfregando a testa por cima da máscara preta (Toc, toc, toc.) – Agora já sei o que aconteceu...
    Levantou da cama. Taylor era alto. Muito alto. Tão alto que se tivesse mais alguns centímetros, sua cabeça seria atingida por uma das hélices do ventilador. Seus braços longos e peludos passavam do joelho. Ele saiu capengando do quarto. Parecia uma grande sanfona andando.

    Passou pela sala de seu amigo sem reparar em nada. Não era uma sala do tipo que você você para para apreciar. Não havia muitos retratos, nem enfeites. Todas as paredes eram pintadas de branco, menos uma, a que a televisão de LCD estava pendurada, era pintada de bege; e acima da TV havia um escudo velho com um brasão indecifrável: um olmo inscrito em um pentágono.

    Toc, toc, toc.
    Taylor apressou-se para abrir a porta. A chave já estava enfiada na tranca. Ele a girou e recebeu um soco no nariz.


    ---


    Loran bateu doze vezes em sua porta. Quando estava batendo pela sétima vez, ouviu resmungos dentro da casa e bateu mais forte. Passaram-se cinco batidas e ele ouviu a chave girar do outro lado.

    No momento em que a porta se abriu, viu um gigante com uma máscara preta olhando para ele. Sabia quem era, mas já estava com o braço engatilhado para um soco fenomenal, ficou com pena de pará-lo na metade do caminho, então acertou o rosto do intruso.

    Taylor recebeu o soco no nariz e apenas recuou alguns passos levando a mão até o alvo.

    - Olá para você também, Loran! – disse Taylor para o homem que viu no retrato no criado-mudo ao se levantar.
    - Foi mal, Tay... – disse Loran sacudindo a mão que doía do soco. O rosto do amigo era mais duro que imaginava – Não pude evitar... Doeu?
    - Acho que sim... Mas não tanto quando sua mão deve estar doendo.
    - Você tem uma máscara de ferro por baixo dessa daí, ou o que?
    - Só osso. – riu Taylor. Loran só ouviu o som de seu riso, porque a máscara de lã que cobria seu rosto só mostrava seus olhos, então o som da fala do amigo gigante era sempre abafado.
    - Agora, - disse Loran pondo a mão que doía no bolso de sua calça jeans – o que você está fazendo dormindo na minha casa?
    - Eu realmente não sei e... – Taylor começou, então olhou por cima do ombro de Loran. Loran acompanhou o olhar até a calçada onde estava dormindo. – Onde você dormiu? – terminou.
    - Ah... – suspirou tirando o chapéu preto da cabeça e coçando o cabelo – Acho que passei a noite na calçada...

    Taylor começou a rir dentro de sua máscara. Parecia ser uma gargalhada boa, pois parecia um riso normal, mesmo que abafado.

    - Isso, ria de mim – reclamou Loran empurrando Taylor para dentro da casa – Nós dois somos dignos de pena...

    Bateu a porta e a trancou.

    - Senta aí. – disse e arremessou o chapéu de cowboy como um freesbee para a poltrona.

    Taylor sentou-se de frente para a televisão. Sua perna esticada ia até a parede. Loran cruzou os braços no encosto da poltrona e pousou a cabeça neles.

    - O que houve ontem? – perguntou.
    - Não sei exatamente... – respondeu o gigante. Ele olhou para os dois lados procurando o controle remoto da televisão, mas quando achou e percebeu que mesmo seus braços longos não chegavam lá, desistiu.
    - Então o que você acha que aconteceu?
    - Eu acho... Que... Hoje é dia 28?...

    Loran levantou o braço e olhou para o seu relógio analógico negro onde marcava as horas e a data em uma pequena janelinha em um canto do relógio: 11:36h – 28/03/10

    - É sim. O que tem?
    - Bom, acho que ontem foi a festa do Nataniel.

    Então, Loran se ergueu com se tivesse tomado um choque. Algumas lembranças da noite anterior vieram.
    Agora o espaço branco só com teto e escada fora preenchido pela casa do amigo Nataniel Straits, o homem mais rico da cidade. Tinha o emprego de ajudante da prefeita da cidade.
    Ajudante porque seu cargo havia sido roubado por Nicole Amela.


    ---


    Dois meses antes da festa de Nataniel, ocorrera a eleição da cidade e Diana Sakes foi eleita. Todo prefeito precisa de um secretário, mas no caso dessa cidade, o secretário era quem mandava em tudo. A prefeita mesmo precisava ficar indo para a capital do outro lado do oceano e deixando a cidade nas mãos do secretário.

    Era certo que Nataniel seria o escolhido. Trabalhava de ajudante de Diana desde que ela era a secretária do antigo prefeito. Era um ciclo perfeito. Ajudante virava secretário, secretário virava prefeito.

    Mas Nicole Amela, recém vinda da capital para morar em uma casa que herdara da família, tomou o lugar de Nataniel. Dizem que ela usou de seu charme para seduzir a prefeita, mas essa é outra estória.

    Nataniel, logicamente, ficou enfurecido em continuar como ajudante da prefeita. Primeiro porque não seria promovido e segundo que o ajudante da prefeita, na verdade, era secretário da secretária.
    Então, dez dias depois, Nataniel começa a preparar sua festa de aniversário e a distribuição de convites.

    Loran estava andando na rua perto da prefeitura, quando vê Nicole saindo do prédio. Ela era linda em todas as formas, a começar pelo cabelo ruivo. Depois que ela não era muito feminina...haviam boatos sobre ela.
    Ela saiu do prédio lendo um livro qualquer. Loran não se importou com qual livro era. Não gostava de ler.

    - Olá! – disse andando do lado dela
    - Olá... – disse erguendo os olhos
    - Queria te parabenizar por ter ganhado o emprego de... – Loran se embolou
    - ... Secretária da prefeita. – completou Nicole
    - É! Isso.
    - O que faz aqui? Você não parece que trabalha aqui perto. – disse parando de andar e pondo o livro embaixo do braço e estudando Loran com seus olhos verdes.
    - Você sabe... eu...

    Ela ficou olhando para Loran. Ele então falou a verdade:

    - Vim ver meu amigo que trabalha aí.
    - Posso saber quem?
    - João Pilgar... Ele é da rádio, estava fazendo algo aí dentro... Uma entrevista, acho...
    - Ah... Acabei de falar com ele.
    - Ele me falou algo assim... E o Natan? Como estão se relacionando?
    - Está fazendo o trabalho dele, mas acho que não posso confiar nele.
    - Olha ele e o João ali! – disse Loran apontando para os dois que saiam do prédio. Estava feliz por alguém o salvar da conversa.

    João e Nataniel andavam um ao lado do outro. João estava com uma pilha de papéis na mão e uma mochila pesada nas costa, fazendo com que andasse curvado. Ele usava óculos e o cabelo preto desarrumado. Sua camisa era de uma banda qualquer que Loran não gostava e sua calça jeans preta estava rasgada em vários pontos.

    Nataniel andava ereto e com um sorriso idiota no rosto. Sorriso de quem estava abusando da boa vontade de alguém (nesse caso João) e seus olhos virados para Nicole mostravam que ia fazer alguma coisa não muito boa com ela também.

    - Ora, se não é Loran Lewis! – exclamou Nataniel abrindo os braços e rindo – Estava procurando por você!
    - Olá Natan. João. – disse fazendo um aceno com a cabeça para cada um. Deu um sorriso para João, que era um de seus grandes amigos. João acenou com a cabeça e sorriu também.
    - Olá novamente, João. – disse Nicole. Ela não cumprimentou Nataniel.

    O radialista fez uma careta olhando para Nicole. Nataniel olhou então para Loran, deu aquele sorriso e disse:

    - João. Convite.
    João olhou assustado para Nataniel. Olhou para o chão procurando alguma coisa. Olhou para Loran estendeu a pilha de papéis e pediu para ele segurar.
    Tirou uma alça da mochila do ombro e pegou em um compartimento um envelope verde. Foi entregar para Loran, mas este fez uma careta e olhou para a pilha de papéis. João pôs o envelope na boca e Loran passou a pilha de volta para o amigo.

    - Pêumgh... Hm! – resmungou João balançando o envelope com a boca.

    Loran pegou, mas não abriu. Pôs no bolso interno de sua jaqueta bege que estava aberta.

    - Então, - disse Nataniel olhando para Loran - esse é o convite para a minha festa de aniversário. Não vai ser nada de mais... Vai ser na minha... – então olhou de canto de olho para Nicole -... Mansão.

    Os dois ficaram calados durante alguns instantes. Loran e João ficaram se olhando com os olhos arregalados.

    - Bom, espero que você vá, Loran. – terminou e saiu andando
    - Você... – disse João para Nicole – Está bem?
    - Sim, sim. Tudo bem. – disse Nicole sorrindo – Tenho trabalho... Escute, você sabe o caso do físico?
    - O professor Hermes Leeze? – perguntou João.
    - Ele mesmo. Quando ele vai ser solto da Pedra?
    - Acho que... – e parou para pensar. Passou algumas folhas da pilha de papéis com o queixo e estudou um por um tempo -... Em três meses... Por quê? Vai anunciar na rádio, ou...
    - Não, não... Ele é... – começou Nicole pensando um pouco. - Um conhecido meu. Tenho que ir, rapazes. Até. – virou as costas e se foi.
    Loran e João ficaram parados um ao lado do outro olhando ela ir embora. João olhou para o amigo e o cutucou com o cotovelo.
    - Amigo, eu falei com ela várias coisas! E fui pago para isso!
    - Seu trabalho é demais, cara!
    - Eu sei. – respondeu João rindo. E os dois ficaram rindo na calçada da prefeitura como dois idiotas. Quando se recompuseram, João perguntou:
    - Vai à festa?
    - Vai levar seu vídeo-game?
    - Claro... Eu não quero agüentar o Nataniel se gabando daquelas coisas dele... Pelo menos sei que o meu vídeo-game é o melhor.
    - Bem pensado.


    ---


    Loran agora está sentado em um sofá. Tem alguém ao seu lado. Era João. Um controle de vídeo-game está em sua mão.
    A imagem começa a escorrer como se um dedo estivesse escrevendo em um grande espelho embaçado.

    - Teve algum “flash”? – perguntou Taylor do sofá com os braços cruzados sobre o peito como quem não quer nada.
    - Então... – disse Loran esfregando a resta com força – Estávamos na festa do Natan ontem?
    - Isso.
    - E porque eu não me lembro de nada?
    - Vamos ver... amnésia... dor de cabeça... – começou a ironizar Taylor levantando-se do sofá e andando de um lado para o outro.
    - Bebida?
    - Trim-lim-lim-lim! – gritou Taylor indo com seu braço de direito para cima e para baixo, como se tocasse um sino.
    - Mas eu nem bebi. Tomei um ponche lá louco e refrigerante, mas não bebi.
    - Eu também tomei esse ponche aí.
    - Então, de algum jeito, ficamos bêbados na festa do Nataniel.
    - Sim. Deve ter sido uma festa boa.

    Uma mulher aparece ajoelhada em frente à escada.
    A mulher está chorando alguma coisa, mas ele não entende. É um som abafado, como se ela falasse e o som fosse engolido pelo vácuo.


    - Você lembra alguém chorando na festa? – perguntou Loran
    - Não... você lembra?
    - Lembro... – respondeu Loran prolongando a palavra - ... mas, eu não consigo identificar quem... não é a Nicole... ela não foi...
    - Esquece isso. – concluiu Taylor jogando-se no sofá novamente – Não é nada de importante.
    - E se for?
    - Você quer fazer o que então, Loran? – bufou Taylor.
    - Bom, que tal ir à casa do Nataniel e ver se está tudo certo? – sugeriu Loran.
    - Eu não vou a casa dele e perguntar: “Ei, - começou a imitar Taylor com uma voz grossa – eu tive um flash de lembrança em que havia uma mulher chorando na sua festa. Tinha?” – então voltando ao seu tom abafado normal concluiu – Isso é idiotice.
    - Eu vou. – decidiu Loran pegando o chapéu e saindo da sala. De algum cômodo gritou – Você não vai, então?
    - Tá, tá! – disse rendendo-se e bufando – Eu vou!

    Então se levantou do sofá e foi capengando para a porta. Parou com a mão na maçaneta e gritou para Loran:
    - Você vem ou não?
    - Vou! – gritou do outro cômodo – Só vou tomar banho e trocar esta roupa. Acho que minha bexiga soltou enquanto eu dormia e... bem...

    Após Loran tomar seu banho e trocar de roupa, saíram da casa a caminho da mansão de Nataniel.

    Uma nuvem havia coberto o sol, mas uma parte do céu continuava azul. Uma tempestade se aproximava.

    As ruas estavam desertas, as janelas fechadas e as luzes apagadas. Isso não era um bom sinal. Era sinal de luto por toda cidade. Frolar não era uma cidade muito grande. Ela se situava no litoral Oeste de uma ilha um tanto quanto grande em comparação às outras, de mesmo nome da cidade. Era uma colônia livre, há 31 anos, da cidade capital, do continente Nionda do outro lado de Águas Novas - Antigo Oceano Sem Fim -, Enoria. Foi considerado um achado, já que já estavam no ano de 1979 quando ela foi descoberta.

    Sendo tão pequena, todas as pessoas da cidade se conheciam. Quando alguém morria, toda a cidade entrava em luto apagando as luzes e fechando as janelas durante o dia.

    - Tem alguma coisa errada... – murmurou Loran para Taylor.
    - Acredito em você – disse Taylor.

    Viram na esquina da rua de Nataniel um guarda montado em seu cavalo. A guarda de Frolar vestia uma armadura azul celeste reluzente e capacetes com chifres de marfim. Portavam desde revólveres a espadas, cimitarras, maças e machados. Esse na esquina portava um revólver preso ao coldre e um escudo preso às costas.

    – Salute aos Luin! – saudaram Loran e Taylor acenando com a cabeça

    O guarda limitou-se a levantar a mão. Luin era a família real de Nionda e de todas as Terras Próximas, incluindo Frolar.

    Viraram a esquina e se viram dentro do inferno. Uma multidão se encontrava no meio da rua se empurrando. Alguns esticavam a cabeça para tentar olhar, algumas mulheres saíam da confusão com os filhos.

    Conforme iam chegando mais perto da multidão, eram comprimidos ombro a ombro. Três policiais estavam parados em frente à casa de braços dados impedindo que a multidão ultrapassasse o local.

    Loran e Taylor espremiam-se por entre o vão entre cada pessoa. Taylor, gigante, ia olhando por cima do mar de cabeças e ia informando:
    - Aconteceu algo sério na casa do Nataniel.
    - Isso dá para perceber! – resmungou Loran abrindo espaço para mais perto da casa.

    Chegaram perto dos guardas após muitos xingamentos, reclamações e “ais”. O guarda do meio já começou a falar:
    - Para trás, civil. Para trás!
    - Só quero saber que confusão toda é essa... – falou Loran – Eu estava aqui ontem...

    O guarda pareceu confuso.
    - Você estava aqui ontem?
    - Sim... – respondeu Taylor – Eu e ele.
    Um guarda olhou para o outro. O da direita soltou o braço do do meio e disse:
    - Passem. Os dois. Rápido!

    Loran e Taylor não esperavam por isso. Olharam um para o olho do outro, pois o rosto de Taylor não era visível, e passaram pelos dois guardas. Taylor se curvou ao passar pelo vão da porta.

    Dentro da casa estava tudo muito quieto. O chão branco brilhante ainda estava sujo da festa com líquidos derramados e comidas pisoteadas. A mesa no centro da sala estava ainda cheia de comidas e bebida e um bolo com alguns pedaços cortados.

    À direita da porta de entrada, havia uma grande escada de mármore que Loran já conhecia de seus flashs. Olhou para o chão perto da escada, onde a mulher esteve chorando e sentiu um grande calafrio percorrer sua espinha.
    Ouviu um som chiado e foi tirado do seu devaneio. Olhou para o alto da escada e viu um guarda descendo falando em um rádio.

    - Certo, - disse ele – estou vendo eles. Sim, sim. Câmbio. – ele desligou o rádio, parou na escada olhando para os dois e terminou de descer os quatro últimos degraus trotando. – Salute aos Luin!
    - Salute! – responderam Loran e Taylor ao mesmo tempo.
    - O que fazem aqui? – perguntou seriamente o guarda - Vocês já foram interrogados?
    - Interrogados? – perguntou Loran com uma falsa surpresa. Quando viu a multidão na frente da mansão já sabia que algo importante aconteceu – Pelo o que?
    - Pelo assassinato de Nataniel Straits.
    Pretendo postar um capítulo por semana, se houverem comentários sérios e construtivos.

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    Última edição por Lorofous; 18-01-2013 às 23:43.


    “I'm a traveler of both: time and space."

    Extenção
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  2. #2
    Avatar de Blackfriars
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    Padrão

    História nova!!! Realmente a seção está parada. Isso justifica o meu misto de espanto e alegria ao ver a sua história. Admito que o tamanho contribuiu, risadas. Gostei bastante do tamanho (quanto mais melhor), já que o lançamento vai ser semanal.

    Queria muito te fazer uma crítica construtiva e contribuir em algo, mas só tenho elogios. Que história! O suspense, o nível de detalhamento, a formatação e o vocabulário empregado estão esplêndidos.

    Não sei se está por vim, mas não vi nenhum referência tibiana. Essa seção é dedicada a histórias referente ao jogo. Mas, acredite, nem senti falta. O importante é leitura de qualidade no final das contas.

    Tô acompanhando.

    @Off:
    Lembro de você nas bandas do MF, nunca falei contigo, mas já te vi por lá.
    Última edição por Blackfriars; 03-01-2013 às 13:03.

  3. #3
    Avatar de Sombra de Izan
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    Padrão História

    Saudações jovem peregrino, sua escrita é boa, não apresenta erros aparentes, já a história é meio uma pincelada do jogo, pode se deduzir que sim ou talvez que não, mas é boa e promissora. Parabéns.

  4. #4
    Avatar de Artesox Eagelin
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    PUTZ CARA!

    Como você fez isso: http://forums.tibiabr.com/showthread.php?t=373329

    Virar isso ai que estava escrito ai. Muito bem feito e bem escrito, parabéns...

    E eu até queria postar aqui, mas vi que parece que só pode de tíbia, talvez eu devesse adaptar? humm


    A maldição de Hellmann's
    Cap 1 - Cap 2 - Cap Final
    ----------♠----------
    Usando um Avatar de 2007 pela melancolia...
    Mas sério, vontade de me socar por ter gostado de Gaia on-line
    (Alguém ainda lembra daquilo?)
    ----------♠----------
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  5. #5
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    Opa, fala aí!



    Fiquei surpreso ao saber que você já passou por essa seção deserta. Bom, ela tá mais ou menos ainda... Mas não pior que dois meses atrás.(Eu e um amigo chamado Gabriellk que movimentavamos)


    A história está ótima, não percebi erros, apenas a ausencia de algumas virgulas e pontos. Eu já vi essa história no mundo fake, pelo que me lembro era uma festa na casa do Umnerd e o Umnerd que foi morto. Depois a história ficou maneira, bem diferente e emocionante. Parece que você fez uma modificação nos personagens, mas infelizmente se esqueceu que aqui é uma seção para histórias de Tibia, então nosso humilde Sero(que não me parece tão legal quanto o CJean ) vai ter que mover pro canto que ela terá que ficar: Literatura.



    Bom, no mais, não há mais nada a comentar. Se decidir continuar ela, estarei acompanhando.


    Abraços e até mais




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  6. #6
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    Flae Loro

    Gostei mto da versão escrita da sua história, melhor q a versão fake 8D

    Eu já tinha visto a Mirrory, ainda to esperando o cap. 4 >
    Tanto que eu vi a fake denovo esses dias, igual Eram os Gods Astronautas.


    Iliked, sem erros, escrita boa, oxe o Sacolaw é um trollZÃO hein e.e o que aconteceu, ele tomou umas potions do Umnerd? rsrs

    Bom, vlwflw ae gostei da historitcha. <nem comento no MF sofera kkk>
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    21:52 Daix Trevax [208]: ultima vez que eu fui na igreja o padre tento me exorcisa << wtf

  7. #7
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    Obrigado à todos que comentaram! Fico feliz que tenham gostado da escrita, eu queria saber se estava boa mesmo (principalmente esse primeiro capítulo que é uma chatisse)
    E eu não sabia que aqui só podia postar histórias referentes ao jogo. Se moverem para o literatura, é capaz que eu pare porque é muito parado lá. Vou ficar por aqui enquanto ninguem percebe...

    Primeiro Livro
    II - Fita Amarela
    Loran demorou a assimilar a informação. Ele e Nataniel nunca foram muito próximos, mas de qualquer jeito... assassinado? Quem iria querer matar ele? Tudo bem, ele era um arrogante de primeira, mas nunca fez mal a ninguém. Fisicamente.

    - Assassinato? – perguntou Taylor.
    - Sim... – respondeu o guarda erguendo a sobrancelha – Toda a cidade já sabe...
    - Mas, como foi isso? Quando? – indagou Loran
    - Ontem, durante a festa... – respondeu o guarda - Como vocês não conseguem se lembrar? A namorada dele fez um escândalo quando viu...
    Então foi a namorada de Nataniel, a mulher chorando ao pé da escada. Eles estavam juntos desde antes das eleições para governador da cidade.
    – Um tal de... – o guarda tirou um bloquinho de dentro de um compartimento do cinto - É... Sr. Slougart... Kator Slougart ligou para a delegacia para nos chamar.

    Kator Slougart é um punk que surgiu na cidade faz quatro anos, o mesmo tempo que Taylor e sua identidade também surgiram. Kator nunca fez muitas amizades pela cidade, por ter sido rotulado pelo seu visual. Mesmo Taylor, que poderia ser confundido com um ladrão, fez alguns amigos.

    Recentemente, Slougart fora contratado para trabalhar de garçom em um bar da cidade. Bar, o qual, Loran era o dono.
    - E ele ainda estava vivo? – perguntou Loran – Ainda tinha como salvá-lo?
    - Sr... – começou o guarda.
    - Loran Lewis.
    - Sr. Lewis, Nataniel Straits foi encontrado em seu quarto já morto. Não tinha nenhuma possibilidade de sobrevivência.
    - Como foi que ele morreu?

    O guarda pôs um dos pés no primeiro degrau da escada e falou:
    - Subam. – e começou a subir os degraus.

    Taylor hesitou, mas Loran começou a subir instantaneamente. Queria saber o que houve com Nataniel. Como conseguiu se esquecer de algo tão importante como um assassinato?

    - Então, vocês não se lembram de nada porque foram embora antes ou estavam bêbados como os outros? – perguntou o guarda enquanto subia com facilidade as escadas mesmo com o peso da armadura.
    - Bêbados. – respondeu Taylor de trás de Loran.
    - Que outros? – perguntou Loran.
    - Algumas pessoas - começou o oficial já chegando ao final da escada e entrando em um pequeno corredor cheio de quadros pintados e tochas apagadas – foram embora da festa antes de uma hora da manhã e não ficaram bêbados. As que permaneceram após este horário, ficaram.
    - Só para constar eu só bebi ponche e...
    - Alguém derramou álcool no ponche. Todos que beberam ficaram bêbados. E os que beberam bebida também...

    Andaram pelo corredor passando por algumas portas ornamentadas com números. Parecia até um hotel. No fim do corredor havia dois guardas em pé de pernas abertas e braços para trás encostados na parede do lado da última porta do corredor.

    O guarda que os acompanhava chegou à frente da última porta, deu meia volta e falou:
    - Vocês estão preparados para ver isso?
    - Amigo, eu acordei na calçada da minha casa hoje. Não estava preparado para nada disso.
    - Então devo avisá-los: a cena que vocês irão ver é muito pesada. Vocês podem escolher entre ver ou não. Um homem da perícia que veio ver teve que sair.
    - Eu quero ver. – respondeu Taylor
    - Eu vou tentar. – disse Loran

    Taylor passou o seu longo braço para frente de Loran e passou sua frente andando até o quarto e entrando. Só entrando. Sem hesitação. Então Loran inspirou fundo e sentiu um pequeno odor doce entrar pelas suas narinas, mas ignorou e começou a andar para o quarto. Quando passou pelo guarda, este deu dois tapinhas no ombro dele.

    Quando Loran entrou no quarto teve uma grande vertigem. O cheiro doce aumentou assustadoramente. Ele sentiu como se estivesse em pé numa tábua balançando com as ondas do mar.

    Viu um corpo com camisa verde e calça preta jogado no meio do chão encharcado de sangue, o qual escorreu de um grande buraco entre os ombros do corpo decapitado. A parede a sua direita estava coberta de sangue e a parte de trás da porta estava salpicada de rosa escuro.

    O mais surpreendente para Loran foi ver que os respingos sumiam perto da maçaneta da porta, e apareciam na parede atrás dele, correndo em direção à esquerda, até ver que havia outra mancha vermelha na parede esquerda, cercada de mais respingos rosa.

    Baixou a visão até a cama de lençol branco com a cabeça de Nataniel pousada nela, exibindo um semblante de horror.

    Cercando todo o quarto havia uma extensa fita amarela presa de lado a lado nas paredes escrito em preto:


    Linha Polícia. Não Ultrapasse. Cena do Crime

    Loran segurou-se na fita e curvou seu corpo por cima dela como se estivesse indo vomitar e ficou fitando o pequeno pedaço de chão onde não havia sangue.

    - Vocês estão bem? – disse o guarda do lado de fora do quarto olhando para os dois.
    - Taylor, que fitava o corpo sem nenhum tipo de emoção, respondeu:
    - Estamos – e pôs a mão nas costas de Loran.
    - Como isso aconteceu? – perguntou Loran.

    - Bem, - começou a responder o guarda entrando no quarto e passando por baixo da fita amarela – A perícia disse que ele, provavelmente, estava sentado ali na escrivaninha – e apontou para uma escrivaninha em um canto do quarto perto do corpo.
    - O assassino entrou no quarto – continuou o guarda – e chamou Nataniel. Ele levantou-se e caminhou até onde vocês estão – Loran virou o corpo e ficou olhando para o teto – O assassino pegou alguma arma, que acreditamos ter sido uma cimitarra, e cortou o pescoço dele na diagonal, de cima para baixo, em direção à direita – e apontou para a grande mancha de sangue na parede direita - A cabeça rolou e o corpo caiu morto.

    - E os respingos no resto do quarto? - perguntou Loran olhando a parede acima da porta.
    - Então, aqui – e apontou para uma parte do chão onde o sangue estava borrado – foi onde a cabeça caiu primeiro. Depois, acredita-se que o assassino pegou-a pelo cabelo, girou e atirou na outra parede.
    - Mas pra que tudo isso? – perguntou Taylor.
    - Não se sabe... pode ter sido demonstração de poder... difícil... nunca tivemos nada parecido com isso aqui.
    - E ninguém viu um cara todo ensangüentado sair da festa? – indagou Loran.
    - Ele conseguiu se limpar. Ninguém saiu nem com a mão mais vermelha do que devia... a namorada dele encontrou-o enquanto todos estavam no andar de baixo.
    - E porque ele estava sozinho aqui?
    - Isso não importa... o que importa é que ele foi morto e o assassino saiu daqui impune.
    - E o que vocês pretendem fazer sobre isso? – perguntou Taylor.
    - Estamos levando todos os convidados que estavam na festa depois de duas da manhã, que foi o horário que ele foi morto, para serem interrogados.
    - Nós estamos incluídos nessa lista?
    - Infelizmente.


    ---


    Takeo Lyoto estava parado olhando a rua fria da janela de seu escritório. Seus braços estavam cruzados nas costas, as pernas estavam abertas e um olhar sério. Quando ele acordou às três da manhã, para ir à mansão de Nataniel Straits ver o morto, sabia que o dia ia ser cheio.

    Lyoto era o delegado da cidade Frolar desde quando tinha acabado de atingir a maioridade, com dezessete anos. A cidade o escolheu para delegado e continua no cargo há vinte e sete anos. Agora está velho, cansado e prestes a se aposentar quando completasse quarenta e cinco no próximo ano.

    Fechou os olhos asiáticos e passou os dedos na têmpora. Virou-se para o escritório bem arrumado. Pegou um papel com uma lista de nomes em sua mesa e dirigiu-se à porta. No caminho, puxou uma cadeira encostada na parede e pôs perto da sua mesa.

    Abriu a porta e chamou um guarda no corredor. Lyoto entregou para ele a lista e disse:
    - Mande-os entrar nessa ordem. Um de cada vez, entendido?
    - Sim, Senhor. – respondeu o guarda. Este bateu continência, virou de costas e começou a andar pelo corredor.

    O delegado fechou a porta e ligou um interruptor. Uma lâmpada amarela acendeu acima de sua mesa. Ele contornou a mesa, puxou sua própria cadeira perto da janela que estivera olhando, sentou-se e esperou o primeiro da lista.


    ---


    - Luckas Riann. – leu o guarda na sala de espera
    Todas as oito pessoas presentes na sala de espera da delegacia olharam para quem estava do seu lado. Um jovem nervoso de cabelo loiro levantou os olhos arregalados.
    - Eu... eu posso ser o último? – gaguejou
    - Não. – o guarda apontou para o corredor de onde veio – Não bata. Só entre.
    Ele suspirou sabendo que sua tentativa fora em vão. Apoiou-se nos joelhos e levantou. Foi andando e tremendo pelo corredor que o guarda apontou e abriu a porta, que trazia presa uma placa dourada escrito em maiúsculas:

    — DELEGADO LYOTO, TAKEO —

    O cheiro de charuto chegou a seu nariz e ele tossiu.
    - Entre. – veio a voz grave de Lyoto de dentro da sala.
    Luckas podia ver sua silhueta iluminada pela forte luz que vinha do teto. Ele entrou na sala, fechando a porta atrás de si, e sentou-se na cadeira que o delegado pôs ali.

    Lyoto tirou o charuto da boca e apagou em um cinzeiro a sua frente. Suspirou, organizou alguns papéis e afastou o cinzeiro para o lado.
    - Então, luckas... – começou – como foi o seu dia?
    - Muita dor de cabeça... Senhor. Lyoto, senhor.
    - Pode responder normalmente, filho... – o delegado coçou seu pescoço pálido com alguns fios de barba e perguntou – você... Você conheceu o sr. Straits como?
    - Eu não o conhecia bem. – respondeu Riann.
    - E como foi chamado? - perguntou Lyoto levantando uma sobrancelha.
    - Eu estava no “Tillos" e...
    - O bar de Loran Lewis?
    - Sim, sim... Ele até estava na festa... – disse balançando positivamente a cabeça – o Nataniel chegou ao bar e... Saiu distribuindo convites para a maioria.
    - Quem não foi convidado? – indagou o delegado inclinando-se para frente.
    - Bom... O próprio Loran... Mas... – e pareceu se lembrar de algo – o Loran não estava no bar naquele dia.
    - Quem estava, então?
    - Slougart. Kator Slougart, o garçom e faxineiro...
    - O punk? Ele estava na festa?
    - Estava, mas ficou recluso, como sempre.
    - Certo... – murmurou Lyoto se recostando na cadeira e olhando um papel na sua frente – Mais uma pergunta, para você poder ir embora: Onde você estava quando o crime foi cometido?
    - Eu não sei o horário certo, mas... eu fiquei quase uma hora na fila do banheiro esperando a Bianca sair...
    - Ela saiu e fez o quê?
    - Bom, eu entrei no banheiro, mas quando eu saí, ela estava chorando perto da escada, então eu... acho...
    - Tudo bem. Obrigado pelo seu tempo, Luckas.
    Riann levantou-se e, sem se despedir, virou as costas e foi embora da sala.
    - Bianca Colar. – chamou o guarda quando Luckas passou por ele – E você, continue aguardando no seu lugar.

    Uma mulher que estava com o rosto pousado sobre as mãos, e encoberta pelos cabelos negros, levantou o rosto pálido cheio de tristeza. Sua íris era dourada, mas o branco de seus olhos estava vermelho. Combinando isso com seu rosto inchado, podia-se perceber que estivera chorando muito.

    Ela se levantou com as pernas bambas, respirou fundo soluçando e andou pelo corredor. Quando passou por Luckas, ele encostou a mão no seu braço.
    Bianca encostou sua mão na porta no fim do corredor e empurrou, desanimada. O delegado Lyoto, ao vê-la, levantou e foi até ela. Abraçou-a por um minuto, então puxou a cadeira e indicou para que ela sentasse.

    - Então, Bianca – começou Takeo – deve ter sido uma noite difícil para você, não é?
    - Pare. – murmurou fraca – Acabe logo com isso e me deixe ir. O que você quer saber? Eu não o matei. É absurdo pensar nisso...
    - Tenho que pensar em todos. Você é uma grande suspeita, sabe disso, não sabe?
    - Como pode pensar nisso? – perguntou horrorizada.
    - Você era a namorada do cara mais rico da cidade. Você o encontrou morto. Foi a única a ser vista saindo lá de cima.
    - Eu estava no banheiro quando ele morreu. O Luckas pode comprovar...
    - Ele já disse, mas eu não posso tomar como prova a palavra de vocês, entende?
    - Não. Sinceramente, não.
    - Olhe... – suspirou o delegado – O que você ficou fazendo no banheiro esse tempo todo?
    - Não interessa! – exclamou Bianca, para a surpresa de Lyoto – Não importa o que eu estava fazendo no banheiro, porque ele estava sendo decapitado enquanto eu estava lá! E não é como se eu me transportasse magicamente de um lugar para o outro ou... ou existisse um túnel invisível do banheiro para o andar de cima! Eu NÃO matei o Nataniel e não vou responder mais nada!

    - Você sabe das Leis do Interrogatório da cidade, não sabe? - perguntou Takeo calmamente.
    - Sei. Pode me prender se quiser.
    Takeo analisou bem o rosto de Bianca. Uma máscara de sofrimento, mas ainda sim linda com seus olhos dourados, sua pela branca e macia e seu cabelo negro curto e negro.
    - Você sabe que se não acharmos o culpado você que irá ser presa, não é?
    - Sei. Posso ir?
    - Vá – respondeu.

    Rapidamente, Bianca levantou-se da cadeira e foi embora batendo a porta.


    ---


    Loran estava sentado em sua cadeira de madeira na sala de espera nervoso. Sabia que não havia feito nada, mas havia uma lei em Frolar que permite que a polícia prenda a pessoa que der menos informações, caso não encontrem o verdadeiro culpado.

    À sua direita estava sentado Kator Slougart, o empregado do seu bar. O homem de cabelo negro espetado, com indícios de maquiagem no olho. Kator estava balançando a perna nervosamente enquanto mexia no seu nariz.

    - Ei, ...? – disse subitamente Kator se inclinando totalmente para Loran, olhando-o com aqueles dois olhos azuis.
    - Que foi, Kator?
    - Eu... – começou passando a língua nos lábios com freqüência – Eu preciso de um favor.
    - É um aumento? Adiantamento? – perguntou nervoso Loran – se for algo parecido, isso não é hora de...
    - Não, não, chefe. – disse balançando as mãos negativamente - Eu acho que eles vão te chamar agora.
    - Eu sei, Kator. Não notou que eu estou um pouco nervoso?
    - Desculpe, mas eu preciso que você minta para mim lá dentro.
    - Como? – exclamou Loran assustado olhando rápido para o guarda parado perto do corredor. Que droga você fez?
    - Eu pus um pouco de vodka no ponche. – jogou o garçom

    Loran hesitou. Não sabia dizer se o seu empregado estava brincando com ele ou se realmente foi ele quem embebedou todos na festa. Uma coisa era certa: de um jeito ou de outro ele ia ser despedido.

    - Você... diga que está tentando me assustar!
    - Não... – respondeu baixando o olhar – Eu fui colocar no meu copo, mas eu esbarrei e ele começou a derramar na bacia que estava o ponche. Quando eu percebi a garrafa já estava na metade!
    - E agora você quer que eu minta? Como assim?
    - Eles vão me considerar culpado ou algo assim se eu contar que fui eu!
    - Ah, e eu não vou ser? – riu nervoso Loran.
    - Você tem menos chances de ser preso! Veja, - ele se remexeu na cadeira, passou a língua no lábio e continuou – Eu sou novo na cidade, não falo com ninguém, todos os guardas da cidade me olham estranho pelo meu jeito... se eu falar que derrubei a vodka no ponche, vão me prender na hora! O senhor não... você nasceu aqui em Frolar, não foi?
    - Não, eu vim e nasci em uma embarcação, mas cresci aqui.
    - Eu não! Eu fui criado do outro lado do oceano em uma escola de freiras! Quando cheguei nem fui bem recebido!
    - Não somos muito acolhedores com forasteiros...
    - Me ajude, chefe! – implorou Slougart – Se o senhor for preso eu falo que fui eu, mas me ajude!

    Loran estudou a expressão de Kator. Não viu nenhum assassino ali. Parecia mais uma criança idiota de maquiagem. Enquanto pensava, viu Bianca sair do corredor, a passos rápidos, e sair da delegacia. Loran e Kator pularam quando o guarda chamou:
    - Loran Lewis!

    Ambos se olharam por um segundo com olhos arregalados.
    - Certo! Mas você está muito perto de ser demitido, Slougart! Muito perto! – disse Loran rápido enquanto se levantava.
    - Obrigado, chefe! – murmurou Kator

    Loran andou pelo corredor até a porta fechada. Girou a maçaneta sem bater e foi entrando. Quando percebeu o erro hesitou, mas o delegado Lyoto fez sinal para que entrasse.

    - Olá, Loran... – disse ele – já faz um tempo.
    - É, né... – respondeu Loran esfregando a palma da mão na calça, nervoso.
    - Então, o que você lembra?
    - Nada. Mesmo. Eu tive alguns flashes essa manhã, mas nem me lembrava de assassinato nenhum.
    - Olha, estou cansado das perguntas idiotas e vou direto ao ponto com você, Lewis – e apontou o dedo para Loran – Eu acho que foi você que derramou a vodka no ponche e não vou descansar enquanto eu n...
    - Fui eu mesmo.

    Takeo hesitou.
    - Como?
    - Eu derrubei vodka no ponche. – disse calmo, mas logo emendou - Sem querer!

    Takeo ficou parado olhando para Loran, assustado. Ele tinha a intuição de pegar o dono do bar na mentira ao comparar com outros depoimentos, porque tinha certeza de que fora ele ou o garçom, mas não achava que ele iria se entregar assim.

    Loran apertou os lábios esperando que o delegado acreditasse. Pelo jeito que ele o olhava, percebeu que era exatamente o que ele esperava.
    Esperto, Slougart. – pensou.

    - E... – voltou Lyoto – E porque você fez isso?
    - Já disse. – respondeu Loran, agora, com firmeza – Eu estava pondo um pouco no meu copo. Quando eu apoiei na mesa, perto da tigela do ponche, eu, acidentalmente, esbarrei com o cotovelo.
    - E você espera que eu acredite nisso?
    - Bom, espero. É a verdade, então...

    Lyoto olhou mais um pouco para Loran e o dispensou.
    - Até mais, delegado. – disse fazendo uma saudação e foi embora.
    Fechou a porta atrás de si e andou pelo corredor escuro pelo qual havia passado antes. Quando o guarda mais na frente o viu já chamou:
    - Taylor Sroll!

    Dois braços gigantes saíram do repouso do chão, apoiaram-se na cadeira e Taylor levantou ajeitando a máscara. Andou, capengando e curvado, até o corredor. Quando passou pelo guarda disse:
    - Esse teto é muito baixo.

    O guarda resmungou alguma coisa. Loran riu quando passou pelo amigo e tentou tirar a máscara dele, como sempre, mas Taylor era rápido e segurou sua mão no ar.
    - Não é dessa vez. – e continuou a andar pelo corredor.

    Loran entrou na sala de espera e sentou-se no seu lugar ao lado de Kator, que parecia agitado.
    - E aí, chefe? – perguntou quando viu Loran ao seu lado.
    - Tudo certo. – disse Loran cruzando os dedos da mão sobre a barriga e inclinando-se para trás até sua cabeça tocar a parede – Você estava certo. Ele nem desconfiou de mim.

    Encaixou a abertura do chapéu no rosto e fechou os olhos.

    Acordou assustado com alguém dando dois tapas em sua perna. Tirou o chapéu da frente do rosto e olhou. Taylor já havia voltado e Kator estava indo. Provavelmente foi o empregado quem deu os dois tapas. Olhou para Taylor e perguntou:

    - Ele é o último?
    - Não, não. – respondeu o gigante – Acabei de voltar. Ele é o próximo.
    - Quem falta?
    - O João... Franco... e o... – disse olhando em volta. Quando viu quem procurava, mesmo que não visse seu rosto, Loran percebeu que ele ficou abatido – Ah não... – murmurou – não.

    Loran virou o olhar para onde Taylor fitava. Quando viu a pessoa que estava sentada ao lado de seu amigo João, percebeu a lamentação do amigo. Era Fineas “Risonho” Pilgar, o irmão mais velho deficiente de João. Ele conseguia fazer tudo, mas em situações de desespero, sua musculação facial retesava e ele não conseguia falar. Ele apenas ficava com um sorriso débil no rosto e podia durar por dias.

    Fineas estava de cabeça baixa e João estava curvado falando com ele, segurando sua mão. A bochecha de Fineas já estava tremendo. João olhou para o lado desesperado e viu Loran, que deu um sorriso encorajador para o amigo.

    Na sala do interrogatório, Lyoto falava sério com Kator.
    - Eu quero saber se foi você que derramou a bebida no ponche!
    - Mas o meu chefe acabou de dizer que...
    - Não interessa o que seu chefe disse. Ele está te defendendo, eu senti isso!
    - Escuta! – exclamou Kator dando um soco na mesa – Você acha que fui eu quem matou o Nataniel, não é?
    - Eu suspeito de você!
    - É só por causa do meu jeito? Eu nem conhecia ele! Eu não conheço quase ninguém e eu moro aqui já faz três anos!
    - E porque ele te chamou?
    - Eu não sei! – gritou – Eu estava cuidando do bar, ele chegou com alguns convites e distribuiu! Pergunta para... – e fechou os olhos com força pensando em quem estava no bar – Pergunta para o Luckas! Ele recebeu o convite lá!
    - Então o que você fez a festa toda, Slougart, já que diz que não conhece ninguém?
    - Eu disse quase ninguém.
    - Então quem?
    - Jean Nylls. Eu conversei a festa toda com ele. Estávamos sentados em uma mesa que fica na sala. Em certo momento, ele virou e saiu correndo da festa.
    - Por quê? Isso foi que horas?
    - Um pouco antes da Bianca achar ele.
    - Então... ele já estava morto, no horário?
    - Acredito que sim.
    Takeo virou-se para a janela e ficou parado ali.
    - Pode ir, Slougart.

    Kator, que já estava em pé, tirou a cadeira da sua frente, fazendo barulho e saiu da sala.
    - Franco Lyoto. – chamou o guarda
    O garoto com traços asiáticos, idênticos ao do pai levantou de sua cadeira, mas o guarda continuou:
    - O delegado Lyoto, disse que já interrogou você em casa. Você pode ir, se desejar.
    - Obrigado. – disse Franco fazendo uma saudação e saindo da sala

    Todos da sala acompanharam o único filho do delegado sair da delegacia sem ser interrogado. Kator chegou mais perto de Loran e murmurou:
    - Aposto que foi ele quem matou o Nataniel e o pai está encobrindo ele para não ficar mal.

    Loran só assentiu com a cabeça só para a conversa não se estender. Já conhecia o delegado Lyoto e não acreditava que ele faria algo assim. Ele sempre teve a fama de ser honesto e bom em seu trabalho, além de ser um dos anciões de Frolar. Sua família foi uma das primeiras a povoar a ilha.

    - João Pilgar. – chamou o guarda
    Fineas ergueu a cabeça rapidamente para o irmão. Seus olhos mostravam desespero, mas sua boca estava com um sorriso de orelha a orelha. João suspirou olhando para o irmão e com determinação, levantou-se e foi andando pelo corredor.

    Abriu a porta da sala do delegado com a palma da mão aberta já gritando:
    - Você não pode interrogar o meu irmão!
    - Como é, senhor Pilgar? – perguntou Lyoto virando as costas para a janela com uma expressão séria.
    - Eu não vou deixar você interrogar o meu irmão. – repetiu – Você sabe da condição dele!
    - Senhor Pilgar, eu não posso deixar de interrogar alguém.
    - E o seu filho?
    - SENHOR PILGAR! – berrou o delegado – Sente-se, agora!
    João puxou a cadeira e sentou-se.
    - Agora fique calmo.
    - Eu estou calmo. – bufou João.
    - Agora, com calma, me diga o que você se lembra da festa.
    - Eu levei o meu vídeo-game. Eu e o Loran jogamos a noite toda. Eu lembro perfeitamente, eu não bebi o ponche.
    - Bom, bom.
    - Meu irmão estava sentado em uma poltrona ao nosso lado. Não sei dizer o que os outros estavam fazendo, pois estava prestando atenção no jogo. Só tirei minha atenção dali quando ouvi o grito da Bianca no andar de cima.
    - Certo. Mais alguma coisa? Viu algo suspeito?
    - Na verdade vi... uma hora o Loran deu um pause no jogo para pegar mais ponche. Quando eu me virei, vi Jean Nylls sair correndo porta afora.
    - Ok, pode ir, senhor Pilgar.
    - E o meu irmão? – perguntou João apertando o braço da cadeira.
    - Eu disse que você pode se retirar, senhor Pilgar.
    João levantou-se e saiu. Takeo esperou alguns segundos em sua mesa e também saiu. Andou pelo corredor e viu João falando com o guarda. Então, o próprio delegado, chamou:
    - Fineas Pilgar!

    João virou-se para Lyoto com os olhos arregalados. Lyoto indicou João para o guarda com a cabeça e o guarda segurou o braço do irmão Pilgar mais novo e o puxou para fora da sala de espera, mesmo que com protestos e chutes de João.

    - Venha, Fineas. – chamou Takeo indicando o corredor para ele
    Fineas levantou tremendo e foi conduzido pelo corredor. Loran e Taylor assistiam à cena horrorizados.

    Takeo abriu a porta de sua sala para Fineas e esperou ele passar. Indicou a cadeira para ele e contornou a sua mesa.
    - Então, Fineas... – começou – Está nervoso?

    Fineas abaixou a cabeço franzindo o cenho e fazendo um bico com a boca.
    - Escute, eu preciso de alguma informação sua. – continuou Takeo – Você pode simplesmente me dizer o que fez ou...

    O bico de Fineas estava tremendo. Às vezes ele se abria, mas com esforço ele voltava a fechar e tremer. Takeo suspirou.
    - Fineas, você sabe o que eu terei que fazer se você não falar nada, não é?

    A boca do irmão Pilgar mais velho tremia cada vez mais. Fineas levou a mão à boca, certa hora.
    - Fineas, eu vou ter que perguntar, então! – exclamou Takeo impaciente. – Você matou Nataniel Straits?

    A boca de Fineas ficou descontrolada. Ele tirou as duas mãos da frente e sua boca se abriu em um sorriso. Seus dentes eram brancos e certos.

    Takeo suspirou.


    “I'm a traveler of both: time and space."

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    Tenso!


    É, vamos fumar umaaproveitar que o Sero não vai aparecer aqui e ler sua história interessante e misteriosa.

    Capítulo bem legal e tenso! Não vi nenhum erro, as descrições de cada coisa estavam ótimas, na minha opinião. O estado do Nataniel morto foi bem descrito, a morte dele foi bem bárbara e cruel. A interrogação de cada um foi boa, porém a do Fineas foi como eu tava imaginando desde quando li que ele tinha um problema... Porra, delegado sem noção, só quer que o trabalho dele acabe logo...

    De resto, gostei muito do novo capítulo. Acho que esse mistério já tem algum resultado. Tem uns suspeitos aí.


    Enfim, aguardo próximo capítulo.



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    Não acredito que esse tal delegado "honesto" vá prender um cara com problemas mentais... como assim? Que cidade é essa!

    Esse capítulo foi tenso! Muito bom de se ler. Ótima escrita. Não tenho do que reclamar, tá indo muito bem. Continue assim e eu vou estar aqui para comentar ;D

  10. #10
    Avatar de Lorofous
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    Obrigado mais uma vez pelos elogios!
    Aqui vai mais um capítulo, um pouco maior. Acho que tedioso também...
    Para ajudar, desenhei um mapa da ilha de Frolar. http://i.imgur.com/cjCSO.png

    Primeiro Livro
    III - Nascidos para Correr
    Todos que foram interrogados estavam novamente na sala de espera. Loran Lewis, Taylor Sroll, João Pilgar, Bianca Colar, Luckas Riann e Kator Slougart. Fineas ainda estava na sala de Takeo. Já haviam se passado meia hora. João estava nervoso. Um guarda estava ao seu lado, ereto e olhando sempre para o corredor escuro. Só se via o brilho dourado da placa da sala de Takeo no fim dele.

    O rádio do guarda guinchou ao lado de João. Todos se viraram para ouvir o que seria falado, e o resulto deixou todos mais apreensivos:
    - Saia da sala.

    O guarda desligou o rádio e saiu pela porta, sem olhar para o rosto das pessoas que estavam ali. Um ar frio entrou rapidamente pela brecha que se abriu antes da porta fechar e fez todos terem um calafrio.

    - O que será que aconteceu? – perguntou Luckas.
    - Coisa boa não é... – disse Kator.
    - Claro que não é coisa boa! – rosnou João – Meu irmão está lá dentro há muito mais tempo do que qualquer um de nós. E mesmo que estivesse aqui, não seria coisa boa para nenhum de nós...

    Não mais que um minuto depois, o guarda entrou com mais seis companheiros. Eles abriram um corredor entre os presentes ficando três guardas, de braços dados, contendo os suspeitos. Um deles foi até o fim do corredor e abriu a porta do delegado Lyoto.

    Então saiu da sala um vulto encapuzado com as mãos algemadas nas costas sendo empurrado pelo delegado e o guarda vinha atrás escoltando.

    - NÃO! – gritou João tentando empurrar os guardas que prendiam as pessoas – FINEAS! FINEAS!

    Fineas passou com um saco negro na cabeça e virou a cabeça na direção dos gritos. O saco tremia devido aos risos misturados com choro dele. Lyoto continuava a empurrar ele em direção a porta. Quando Fineas passou para a rua fria, acompanhado pelo guarda, Takeo virou-se e anunciou gravemente:

    - Fineas Pilgar está preso de acordo com as Leis do Interrogatório de Frolar, que permite à justiça prender o interrogado que menos apresentar informações relevantes na investigação em caso de não acharmos o culpado. – parou um instante olhando para o rosto enfurecido de João e continuou – Enquanto Jean Nylls não aparecer para interrogatório, o senhor Pilgar ficará preso em um calabouço da Pedra Negra e não há nada que possam fazer. – então virou-se rapidamente, agitando o casaco negro que usava, fechou a porta deixando todos na sala de espera, que aos poucos foi esvaziada pelos seis guardas que ficaram.

    Naquela noite, Loran saiu de casa vestido com um terno preto.

    Andou pela rua iluminada pelas lamparinas à óleo com uma mão no bolso e na outra, uma rosa vermelha e um guarda-chuva. Atravessou a rua no momento em que um cavalo puxando uma diligencia vinha passando. Olhou para a janela e viu Bianca Colar com um véu negro no rosto.

    Virou a esquina em direção ao Parque das Árvores Pontudas, onde Taylor morava em uma barraca no meio de várias outras barracas iluminadas. O Parque das Árvores Pontudas era um grande acampamento de pessoas que acabaram de chegar à Frolar de barco ou de hippies que simplesmente gostavam de morar ali no meio das árvores e sob o céu estrelado, embora nessa noite houvesse uma grande nuvem negra cobrindo a ilha.

    Vai chover. – pensou Loran enquanto caminhava entre as barracas.
    Alguns dos moradores do parque estavam do lado de fora de suas tendas, sentados em volta de fogueiras acesas que iluminavam o parque todo como o chão de uma mina cheia de pedras preciosas.

    Loran então parou em frente à tenda iluminada de Taylor, que ficava ao lado de uma grande estátua de bronze do primeiro governador de Frolar, Temoror, e chamou o amigo. Ele pôs a cabeça mascarada para fora, seguido pelo corpo gigantesco. Ele estava vestindo um casaco negro com calça jeans preta e sua bota.

    - Pronto? – perguntou Loran.
    - Pronto... acho... não tinha um terno, então botei isso, serve? - agitando os braços para a roupa.
    - Serve, claro.

    Loran e Taylor atravessaram então o parque todo, até bem longe das tendas, uma parte escura onde as árvores eram maiores e tinham menos folhagens. Eles viraram para a direita, saindo do gramado do parque e voltando a seguir em frente pela calçada. O caminho pelo parque era um atalho até os grandes portões de ferro enferrujado do cemitério da cidade.

    As grades subiam até o céu, mais alto do que as árvores medianas do parque, e eram grudadas a um muro de pedra que subia mais alto ainda.
    Os dois passaram pelo portão aberto e seguiram pela estrada de paralelepípedos em direção ao único ponto de luz do cemitério escuro. A cada dez metros tinha uma encruzilhada marcando os blocos. Eles entraram na quarta entrada para a direita e andaram por entre as lápides de mármore.

    Quando chegaram ao lugar onde havia onze pessoas - de acordo com a contagem de Loran - ele tirou o chapéu da cabeça em sinal de respeito. Nataniel não cativou tanta gente para ter muitas em seu enterro. Haviam quatro pessoas do interrogatório: Bianca, João, Taylor e o próprio Loran.
    A fonte de luz era uma lanterna presa em cima da lápide de Nataniel. A lápide era cinza e sem nenhum tipo de fratura, apenas as inscrições:

    Nataniel D. Straits
    * 28-03-89 / † 28-03-10

    E mais nada. Nenhuma inscrição de parentes ou da própria namorada.
    Aos pés do túmulo, havia um grande buraco retangular, recém escavado, com seis pés de profundidade. O caixão de madeira envernizada estava ao lado do buraco, pronto para ser abaixado pelo coveiro, que estava parado apoiado em uma pá, com um pé sobre o caixão e um olhar sonolento. Atrás dele havia um monte de terra.

    Bianca estava chorando e limpando as lágrimas com um lenço branco perto de um idoso enrugado e gordo com um cabelo branco ralo e um olhar impaciente. A coitada era a única que parecia sentir verdadeira pena do falecido e Loran sorriu com a pureza dela.

    - Já posso enterrar o corpo? - perguntou baixo o coveiro sem realmente querer uma resposta.

    O velho rapidamente balançou a cabeça dizendo que sim.

    O coveiro então encostou a pá na lápide e segurou firmemente uma corda que estava amarrada no centro do caixão. Com a sua bota, empurrou de leve o caixão para a beira do buraco e deixou cair, controlando com a corda.

    Quando o caixão tocou o chão, o coveiro largou a corda, pegou a pá e disse:
    - Alguém quer dizer as últimas palavras ao falecido? – Silêncio. Bianca chegou a abrir a boca e hesitar, mas desatou a chorar novamente. - Alguma prece ou...?

    Como ninguém se pronunciou, começou a pegar a terra atrás dele com a pá e tapar o buraco.

    Enquanto ele jogava terra no buraco, o chão de paralelepípedos começou a ser pintado por bolinhas de uma cor cinza mais escura. Loran sentiu pingos de chuva caírem em sua cabeça e o cheiro de terra molhada. Ele botou o chapéu na cabeça e abriu o guarda-chuva, segurando ele no alto para cobrir ele e Taylor, que não trouxe um. Todas as pessoas abriram seus guarda-chuvas ao mesmo tempo enchendo o ar de cliques metálicos.

    A chuva foi se intensificando conforme o buraco ia terminando de ser coberto. Quando o coveiro terminou, deu três tapas na terra com a parte redonda da pá e fungou, voltando a se apoiar na pá.

    Todas as pessoas pegaram suas rosas e, uma a uma, iam jogando elas na terra e murmurando um “adeus”, “bom te conhecer” ou “já vai tarde”.

    Loran e Taylor viraram-se para ir embora. Bianca foi logo que pôs a rosa, chorando. Quando estava a alguns metros do túmulo, Loran virou para trás e viu João parado na chuva perto do coveiro.

    - Vem. – para Taylor e os dois foram para perto dele – Ei, como você tá? - perguntou para João.

    João balançou a cabeça negativamente e murmurou:
    - Eu vou tirar ele de lá, Loran...
    - João, não! Cara – começou a protestar Loran.
    - Cala boca, Lewis! Você não sabe o que é isso!
    - Você não pode invadir a prisão e tirar ele de lá! Vão te pren...
    - Eu não vou invadir aquela maldita prisão! Não quero por os pés naquele lugar sujo!
    - E o que você pretende fazer? – perguntou Taylor

    Jonh ergueu os olhos, com determinação, e disse:
    - Eu vou atrás do Jean. Eu vou procurar ele dentro de cada casa, embaixo de cada pedra, dentro de qualquer buraco e em cima de qualquer montanha, mas eu vou encontrar ele e levar o covarde à “justiça” – disse debochando da palavra justiça. Ele virou para o coveiro e continuou – Tomas, o que você estava dizendo?

    - Hm? – resmungou o coveiro Tomas erguendo o olhar. O olhar dele era vago e aqueles olhos cinzas e baços pareciam ter visto muito sofrimento. Seu braço tinha uma cicatriz feia cortando o seu músculo, agora atrofiado, desde o seu ombro até o cotovelo. Tinha o cabelo grisalho ralo e oleoso e a barba por fazer. – Ah, sim... então, eu estava preparando o defunto e achei alguns fios de cabelo loiro na roupa e o morto não era loiro.

    - Viram? – rosnou João virando-se para os amigos – Nem para procurar as evidências melhor! Não fazem um trabalho direito!
    - O Jean é loiro. – deduziu Taylor sozinho olhando para o céu quando este se iluminou com um raio seguido por um trovão baixo.
    - Por isso eu vou atrás dele.
    - Como você vai? – perguntou Loran. A chuva estava tão forte que o guarda chuva só protegia sua cabeça. Sua calça toda estava molhada e seu sapato também.
    - Não sei... – respondeu João. Ele estava completamente molhado, mas não parecia se importar – Algumas pessoas, perto da saída da cidade, disseram que viram ele sair correndo...
    - Então ele saiu da cidade?
    - Provavelmente. É um lugar aonde ele sabe que a polícia não vai procurar ele, principalmente se ele entrar na floresta.
    - Então ele foi para lá. É o lugar aonde a maioria das atividades fora-da-lei acontecem.
    - Não acho uma boa idéia irmos atrás dele lá... – disse Taylor - a floresta é perigosa. Dizem que os Trolls ainda andam por lá, no coração dela.
    - Irmos? – perguntou João rindo – Eu vou. Sozinho. Amanhã cedo.
    - Não, você não vai sozinho! – disse Loran
    - É uma coisa minha, Loran! É o meu irmão que está preso!
    - É o nosso amigo que está preso! Nós vamos com você! Fim.
    - Vocês não vão querer andar comigo pela ilha toda! Eu já disse que só volto com o Jean vivo ou morto.
    - Não precisamos andar. – disse Loran.
    - E como você pretende ir?
    - Eu vou dar meu jeito. Esteja na porta da minha casa amanhã.
    - Eu vou sem vocês dois se não estiverem prontos na hora que eu sair.
    - Até amanhã, João. – disse Loran e ele e Taylor foram embora, deixando João rindo consigo mesmo na chuva.

    ---

    Encostados na cerca de madeira da casa de Loran, estavam o dono da casa e Taylor. Eles estavam esperando o companheiro de viagem João que disse que estaria ali de manhã e ainda não havia chegado.

    - Se ele não aparecer – disse Loran – Eu caço ele como ele está caçando o Jean!
    - Eu ainda acho que devíamos abandonar essa idéia... – murmurou Taylor, e o murmúrio de Taylor era muito baixo e abafado devido à máscara.
    - Então vá embora, oras! Você que decidiu vir também...
    - É... – disse Taylor, prolongando o som e parando um tempo – Acho que vocês vão precisar da minha ajuda...
    - Ah, é mesmo? – riu Loran cruzando os braços.
    - Sim... e acho que eu devo estar nessa viagem.
    - Você não parece estar tão preparado... – disse Loran olhando para a roupa do amigo gigante.

    Ele vestia sua camisa preta de manga comprida de sempre, uma calça branca brega, um par de coturnos negros e curtos, e sua máscara que só mostrava seus olhos.

    Loran usava seu tênis preto de cano longo, mas sua calça jeans preta ocultava, então parecia um de cano curto, uma camisa de seda branca e, por cima da camisa, uma cota de malha bege e seu chapéu negro. Presa no bolso lateral da calça, Loran havia posto uma adaga longa de lâmina curva e afiada. A guarda da adaga era dourada e ficava para fora da calça, mas ocultada pela cota de malha. Por dentro da calça, Loran havia posto uma placa de metal que protegia sua canela de qualquer tipo de ataque que pudessem sofrer.

    - Você que se prepara até demais... você parece que vai encontrar um exército a qualquer momento!
    - Não, amigo. Isso – e bateu no bolso lateral onde estava a adaga e na caneleira de metal – se chama prevenção. Estamos entrando em uma floresta onde vivem criminosos e podem haver Trolls perambulando e eu não quero ser pego de surpresa.
    - Você quem sabe, mas os Trolls não andam pela superfície há quase trinta anos.
    - Bem, eu não quero arriscar. – finalizou a conversa

    Após alguns minutos parados, João apareceu despenteado como sempre, e com uma mochila nas costas. Não parecia estar muito pesada, mas ele andava um pouco curvado, talvez por vício.

    - Então, vocês ainda vão? – perguntou desapontado.
    - Claro... – disse Loran.
    - Você não acha que exagerou um pouco, amigo? – riu João.
    - Eu disse o mesmo para ele... – disse Taylor.
    - Ei, ei! – protestou Loran – Vamos parar ou vamos todos a pé, certo?
    - Ok, mas o que você pretende?
    - Eu tenho esse meu amigo. – disse Loran – Venham.

    Ele virou para a esquerda e começou a andar até o fim da sua rua, com Taylor e João atrás dele, perguntando-se onde ele estava indo.

    Chegando a esquina da rua, Loran parou e olhou para um edifício de um andar cinza escuro. Labaredas gafitadas eram exibidas acima da porta de ferro e escritas com letras diferentes:

    Dan & Roger
    150cc – Somente motos

    Um barulho muito alto saía de dentro da loja. Som de batidas metálicas e um como se tivesse uma grande colméia perto de você e todas as abelhas estivessem agitadas. Loran bateu na porta de ferro, mas ou não ouviu uma resposta ou as pessoas lá dentro não escutaram, então empurrou a porta com o ombro.

    Dentro da loja estava escuro e a cada segundo uma luz azul era acesa em um canto e sombras bruxuleavam e dançavam pelas paredes revestidas de metal. Quando a luz acendia, o grupo podia ver um homem curvado sobre um balcão com uma máscara de ferro cobrindo seu rosto com uma viseira de vidro. Em cima do balcão havia um aparelho de som tocando alguma música da banda Wolfmother nas alturas.

    Quando o homem percebeu a presença dos três, apertou o interruptor ao seu lado, acendendo a luz. Agora podiam ver melhor... havia algumas peças de metal em cima do balcão e na mão dele uma solda. O homem, ao ver quem eram as pessoas, abriu os braços e falou qualquer coisa e abaixou o volume da música, levantou a máscara, mostrando o rosto sujo e os olhos dourados, e gritou:
    - LORAN!

    - E aí, Dan! – respondeu Loran sorrindo para o amigo e indo até ele. Os dois trocaram um forte aperto de mão rindo.
    - Veio pegar sua Vespar? – perguntou Dan tirando um lenço branco do bolso e limpando o rosto. Pôs a máscara no balcão e passou a mão rápido no cabelo negro. – Ela está pronta.
    - Vim sim... – respondeu Loran enquanto Dan se encaminhava para alguma coisa coberta com um grande pano bege sujo – Preciso de um favor também.
    - E o que é? – perguntou virando-se, segurando a ponta do pano.
    - Vou lhe contar, mas você precisa jurar que não vai contar a ninguém.
    - Espera... – disse soltando o pano e indo para perto de Loran e abaixando a voz disse apontando para um sofá virado de costas para eles e de frente para uma televisão ligada passando Pica-Pau no mudo – E o Roger?
    - Ele pode saber... – disse Loran olhando para o sofá

    Dan foi até o sofá e deu um grande chute, que o empurrou alguns centímetros para frente chegando mais perto da televisão, gritando:
    - ACORDA, ROG!

    Um homem magro com um grande cabelo vermelho, cor de fogo, que descia até o meio das costas, levantou do sofá com os olhos verdes esbugalhados entre o nariz longo e fino.

    - O que vocês querem? – gritou nervoso por ter sido acordado.
    - É o Loran, Rog! - respondeu Dan por cima dos ombros voltando para perto para a figura coberta
    - Ah, olá Loran! – resmungou Roger coçando os olhos com os punhos fechados – Quem são esses?
    - Esses são João Pilgar e Taylor Sroll. – apresentou Loran indicando cada um com a mão aberta – Precisamos de um favor.
    - Que tipo de favor? – perguntou Roger levantando do sofá e limpando sua roupa suja.
    - Meu irmão foi preso. – tomou a frente João quando Loran abriu a boca – Estão levando-o para ser preso na Pedra Negra.
    - Só lamento, amigo! – respondeu Roger nervoso – Não leu a placa? Por acaso está escrito “Somente Serviços de Invasão e Resgate”? Não... apenas consertamos motos! Nem vendemos elas!
    - Não, não! – protestou Loran balançando as mãos – Você entendeu errado. O favor que precisamos são três motos. A minha, que eu vim buscar, e mais duas. Podemos pagar o “aluguel”.
    - Pô, cara... – lamentou Dan com a expressão triste – Não temos nenhuma sobrando... Mas se você quiser, eu posso dar uma carona até onde você quiser.
    - Tá, certo, obriga... – começou a agradecer Loran.
    - Pois é, é uma pena que uma pessoa fica de fora, não é? – disse Roger – Vocês são três e tem somente a sua moto e do Dan...
    - Você pode dar uma carona na sua também, Rog. – disse Dan olhando para Roger.
    - Eu não quero! – exclamou Roger – Eu nem sei o que vocês pretendem! É resgatar o amiguinho da Pedra Negra, matar os guardas que estão transportando ele... o que é?
    - O irmão dele foi preso injustamente. – explicou Loran – E ele só ficará preso até o homem que fugiu aparecer.
    - Ok, eu não quero saber desse “mimimi” todo! Para quê vocês precisam da carona?
    - Para perseguir Jean Nylls, levá-lo à justiça e libertar meu irmão da Pedra Negra! – disse fortemente João.

    Quando João disse isso, Roger teve um grande calafrio, sua pressão caiu e ele desmaiou no sofá.

    Roger viu o cenário a sua volta perder toda a sua cor. As paredes de sua oficina começaram a encolher e apertar todos. Quando elas se chocaram, um grande clarão irrompeu dentre as duas, então elas começaram novamente a se abrir em um novo cenário.

    Roger olhou para as suas mãos sem cor.

    Estava em cima de uma ponte, sobre um rio seco. Ele atravessou a ponte e entrou em uma cidade destruída. Fogo saía das casas destruídas. Alguns corpos estavam jogados pelas calçadas. Dois Trolls vermelhos, vestindo armaduras verde-escuras, estavam de guarda sobre cada lado da ponte. Quando Roger passou, eles pareceram não vê-lo.

    Ele continuou andando pela rua destruída. Chegou então no fim da rua e viu, no centro da cidade, onde antes era a prefeitura, várias pessoas nuas carregando grandes tijolos e depositando um sobre o outro, construindo uma torre. Espalhados em volta do terreno, e em outras partes da cidade, havia blocos de pedra negra.

    Com as mãos na cintura, olhando as pessoas trabalhando, havia um grande Troll de pêlo verde, maior do que os outros perto da ponte. Ele rugia para cada pessoa que passava obrigatoriamente perto dele após deixar os tijolos:
    - Humano nojento! – ou também rosnava – Cumpra o acordo! Por que foram atrás do Nylls? POR QUÊ?

    Então tudo perdeu a cor novamente. A cena aos poucos e Roger começava a ver um teto de metal plano e uma voz o chamado de longe.

    Rog!


    - Roger!
    Roger abriu os olhos lentamente, olhando para o rosto de Dan em preto e branco sobre ele, enquanto a cor voltava aos poucos para o mundo.

    - O que... – murmurou ele quando tudo voltou ao normal. Ele estava deitado no sofá e Dan estava ajoelhado ao seu lado. Quando sentou sentiu uma leve dor de cabeça. Viu Loran, João e Taylor olhando para ele preocupados – Essa foi intensa...
    - O que ele teve? – perguntou Taylor
    - O Rog tem... – começou a explicar Dan – Como eu posso dizer...?
    - Umas visões... – disse Roger ainda fraco
    - Visões? – perguntou João – Visões do que?
    - Do futuro. – disse Dan – As vezes algumas palavras chaves fazem com que ele entre em um transe e veja coisas que vão aconte...
    - Podem acontecer! – corrigiu Roger
    - É... podem acontecer! – disse Dan – Mas geralmente elas acontecem se a pessoa não mudar de idéia... é bem conveniente, na verdade.
    - O que posso dizer? Sou diferente! – riu Roger
    - Mas o que você viu, então? – perguntou Taylor
    - Trolls! – exclamou Roger – Muitos Trolls! Governando a cidade! Os humanos são... escravos, acho... – então ele abriu os olhos, olhando fixamente para os três. Apontou um dedo e disse – E isso vai se vocês forem atrás desse Jean Nylls!

    Todos ficaram em silêncio. Dan olhava surpreso de Roger para os três. Roger olhava Loran fixamente nos olhos. Loran então olhou para João que tinha uma expressão pensativa. Então depois de pensar ele disse:
    - Já que tem uma leve chance de sua visão não se concretizar, eu ainda vou atrás do Jean. Desculpe Roger, mas é o meu irmão. Eu não me importo com o que acontecerá no futuro. Isso poderá ser mudado, mas por enquanto esse é meu único objetivo e a única coisa que consigo pensar. Depois, quem sabe, poderemos pensar na sua visão.
    - Talvez, – disse Roger abaixando os olhos – quando você for pensar nisso mais tarde, já seja tarde demais.
    - Eu entendo. – ele olhou para Loran e Taylor continuou – Eu entendo também se vocês dois não quiserem mais continuar.
    - Nada disso! – respondeu Loran – Isso é só mais uma desculpa para você ir sozinho! Sem essa, nós vamos!
    - Certamente vocês ainda vão precisar da minha ajuda. – disse Taylor
    João sorriu para os dois então se dirigindo a Dan:
    - Nós podemos ir a pé se você não puder, ou não quiser nos levar.
    - Podem contar comigo. – disse Dan levantando-se – Você pode vir na garupa da minha moto e o grandão vai na do Loran.
    - Não, não, não! – gritou Roger levantando também do sofá – Sua garupa é pequena demais para levar esse gigante! E a sua também, Loran!
    - Então o que faremos? – perguntou Taylor
    - A minha moto é maior. – respondeu finalmente Roger – Eu levo o grandalhão!
    - Perfeito! – gritou Dan de alegria. Dan adorava sair da oficina e dar uma volta na cidade, ou fora dela, então foi novamente para perto da figura coberta pelos panos e antes de puxar falou – Bem, Loran você pediu para consertarmos aquela Vespar que você achou no terreno ali de trás... então eu fiz isso!

    Ele puxou o pano de cima rapidamente. Poeira foi espalhada no ar enquanto o pano ondulava mostrando a moto vermelha com detalhes em forma de labaredas azuis. Ela tinha pelo menos 2 metros de comprimento e tinha uma distância de 15 centímetros do chão de metal da oficina. O banco era pequeno e rebaixado, então só Loran podia ficar nela. As rodas eram grossas e negras com aros brilhando.

    - É uma V-rocker B! O motor original estava perfeito, mas como eu tinha que encomendar uma da Ilha Vânia, pedi dois. É o Dragonyt 5.0.
    - Perfeito, Dan! – disse Loran feliz
    - Então, Loran – disse Roger sentado no braço do sofá – Quando vão partir?
    - Agora. – disse João
    - “Agora” agora, ou “agora” daqui à algumas horas? – exclamou Roger
    - “Agora” agora.
    - Bom – disse Roger olhando para Dan – Então vamos preparar as motos né?

    Roger levantou-se e foi abrir a porta da oficina. Ela levantou e abriu uma grande passagem para as motos. Depois entrou e foi para um canto da oficina, sumindo da vista dos outros. Dan foi até uma outra moto coberta e tirou o pano. A moto dele era igual a de Loran, só que tinha o banco maior e era dourada. Ele subiu nela e indicou para que João se sentasse.

    - Quando sairmos segure-se em mim.
    - Pode deixar. – respondeu João assustado

    Loran também sentou na moto. Taylor ficou parado em pé esperando Roger. Então todos ouviram um grande som de motor, muito potente, e Roger veio montado em sua moto. Ela era roxa escura, quase preta. Era um pouco maior que a de Loran e Dan e a distancia do chão era maior, só que as rodas eram mais finas. O banco era bem maior que a de Loran e Dan. Ele chegou perto de Taylor e disse para ele subir. Quando Taylor subiu a moto abaixou um pouco.

    - Ok, grandão, - disse Roger – segure-se em mim e não deixe as mãos soltas ou vão arrastar no chão, e você não quer isso.
    - Ok, todo mundo! – gritou Dan – Preparados?
    - Anda logo! – disse Roger dando a partida e arrancando com a moto, passando pela porta da garagem. Loran e Dan fizeram o mesmo, enquanto João abraçou Dan pelas costas.

    Juntos foram atrás de Roger que já estava bem na frente. A moto era rápida e fazia um barulho alto e elegante enquanto corria. As casas e as pessoas na rua passavam com se elas estivessem em movimento e Loran é quem estivesse parado. Elas olhavam eles passarem como um grande raio roxo, dourado, azul e vermelho.

    Loran lembrou-se de fazer uma coisa, então acelerou a moto e passou Dan, correndo atrás de Roger. A moto deu uma leve empinada e correu muito mais rápido atrás de Roger. Loran o ultrapassou e correu pela rua até o fim da cidade. Ele freou e parou em frente ao seu bar. Era uma construção de madeira com dois andares, sendo que osegundo era metade do térreo. Uma placa de madeira estava acima da porta escrito:

    O Tillos

    Loran desceu da moto e encostou-a na parede do bar. Roger e Dan passaram como dois raios na rua e frearam, derrapando.

    - O que você está fazendo? – perguntou João ainda agarrado a Dan.
    - Não posso deixar o bar assim... – disse Loran – Tenho que falar com o Kator!

    Ele abriu a porta e entrou no bar. O piso de madeira antigo rangia enquanto ele andava. Kator estava no centro do bar, com algumas mesas e cadeiras fora do lugar, limpando o chão com um esfregão.

    - Ah, oi, chefe! – disse Kator quando viu Loran entrando
    - Olá Kator! Escute, preciso de um favor seu e você me deve um depois do interrogatório.
    - É só dizer.
    - Eu vou ficar fora da cidade por uns dias. – explicou Loran – Preciso que tome conta do lugar nesse tempo. Quando eu voltar te pago o dobro da sua diária pelos dias que eu fiquei fora, feito?
    - Feito! – disse Kator – Mas para onde você vai?
    - Para fora da cidade... não sei ao certo ainda, mas talvez até A Floresta.
    - Fazer o que? – perguntou Kator mostrando-se interessado
    - Eu e uns amigos vamos atrás do Jean. – respondeu – A polícia provavelmente vai perceber que ultrapassamos os limites, mas se perguntarem, você não sabe de nada, entendeu?
    - Entendi sim.
    - Ok... tome conta disso direito! – disse Loran saindo do bar
    - Boa sorte, chefe! – gritou Kator atrás de Loran – Cuidado com os Trolls!

    Loran fechou a porta do bar e subiu na moto.
    - Tudo certo? – perguntou Roger – Podemos ir?
    - Podemos. – disse Loran

    Loran acelerou a moto e desceu a rua até a ponte norte. A cidade Frolar era cortada por um grande rio e havia duas pontes, uma ao norte, perto d’O Tillos e outra ao sul perto do Parque das Árvores Pontudas. Loran cruzou a ponte de madeira com bordas de metal, seguido pelas motos de Roger e Dan. Quando chegaram ao fim da ponte, viram o horizonte.

    Uma grande planície verde se estendia por quilômetros. Mais a frente via-se um grande vale entre duas colinas verdes. Loran via grandes árvores soltas na paisagem. Muito, muito à frente, depois da colina, via-se uma grande linha horizontal gigante, que impedia uma visão mais adiante: A Muralha Temoror. A muralha que se estendia de norte à sul da ilha, demarcando o limite que os cidadãos podem ir, pois era proibido viajar para o lado leste da ilha.

    Loran continuou avançando pela planície por um tempo, sentindo o ar fresco que vinha do leste. Olhando melhor para frente, viu uma diligência negra descendo o vale Lío em direção à muralha.

    - Não podemos continuar em frente. – disse Loran freando
    - Porque não? – perguntando Dan parando ao lado dele e Roger parou mais atrás
    - A diligência da polícia acabou de passar pelo vale... – disse Loran apontando para entre as colinas – Estão levando os presos para a Pedra Negra.
    - O Fineas deve estar ali! – exclamou João – Vamos atrás deles!
    - Não, João! – disse Loran – Nossa missão não é resgatar o Fineas, é ir atrás do Jean.
    - Então acho bom não passarmos pelo vale. – disse Roger – Nossas motos são mais rápidas que a diligência. Passaríamos por eles e não queremos isso.
    - Eles não poderiam nos prender antes de passar pela muralha. – disse Dan
    - É, mas levantaria suspeitas se ficássemos parados perto da muralha antes deles passarem. Provavelmente ficariam prestando atenção.
    - Certo, então vamos seguir pela antiga terra dos Trolls, contornar a mata dos Lobos-ruivos e chegar a Muralha. – disse Dan apontando para a direita, o lado sudoeste da ilha.
    - Quando chegarmos lá, como faremos para passar? – perguntou Taylor
    - Eu tenho um amigo, Goya, que é guarda da Muralha. – disse Loran – Ele vive no bar ao cair da noite, bebendo e falando como as pessoas passam pela Muralha para se aventurar na Floresta.
    - Bem, ao chegar à Muralha nós vemos isso com calma! – disse Roger, impaciente, dando a partida na sua moto – Nunca vamos passar dela se não chegarmos a ela antes.

    Loran e Dan deram a partida nas motos e correram pelo campo aberto. Um pouco mais a frente viraram em direção à cidade e então viraram para a esquerda, em direção à antiga terra dos Trolls.

    A grama ainda tinha um cheiro molhado e correram por cima dela por muitos metros. Então a grama começou a falhar e o terreno se mostrava cada vez mais acidentado conforme avançavam em direção ao sul.

    Em algumas partes, na grama amarelada, havia vários blocos jogados no chão. Em outros pontos, sempre solto na paisagem, haviam paredes quebradas cobertas de trepadeiras ou chamuscadas por um incêndio muito antigo. Chegaram perto da ruína de uma casa feita de pedra. As paredes estavam desgastadas pelo tempo.

    - Elas têm quase quarenta anos... – disse Taylor quando Roger parou perto de uma das ruínas para examinar em volta.
    - Eram dos Trolls, não é? - perguntou Dan.
    - Sim... acho essa estória uma barbaridade. Atacar toda uma vila de Trolls só para ocupar o espaço deles... uma ilha toda e escolheram esse lugar.
    - É melhor para a saída das embarcações para viajar para encontrar o porto de Tir’Rafer ou Enoria. - disse João - Imagina ter que dar a volta na ilha para pegar a viagem para o Oeste.
    - De qualquer jeito, foi uma brutalidade.
    - Sorte de nós, humanos, os Trolls terem recuado para as montanhas.
    - Sorte mesmo.
    - Certo, gente! - disse Roger - Agora nós vamos fazer o que? Viajar para Nordeste e contornar a mata?
    - Acho que sim.
    - Bem, então vamos. O sol já está caindo e não acho uma boa idéia viajar à noite. Essa mata pode não ter Trolls, mas é perigosa do mesmo jeito. Pararemos de viajar assim que escurecer.

    Então, ligaram as motos e partiram.

    Foram desviando de pedras grandes, pedaços de madeira e ruínas maiores. Mais a frente apareceu uma grande cadeia de paredes de tijolos sem uma seqüência de espaçamento entre eles. Ao passarem correndo por eles, perceberam que estavam quebrados. A vegetação entre cada ruína do muro abrigava pequenas flores rosa e pequenos arbustos. Os fragmentos do muro que caiu no passado já não eram mais visíveis no chão, já cobertos pela vegetação, assim como a parte de cima do muro onde crescia uma vegetação rasteira. Parecia como se o muro houvesse se erguido de dentro do chão levando-o com ele.

    O sol já se encontrava bem atrás deles, sumindo no oeste. As sombras das motos já estavam gigantes e bem à sua frente. Quando chegaram à beira da Mata dos Lobos-ruivos, continuaram correndo até que toda a ilha fosse tão escura quanto o interior da mata. Roger, que sempre ia mais à frente que Dan e Loran, parou a moto aos poucos e saiu dela, seguido por Taylor, ajeitando a máscara. Loran, Dan e João saíram logo que chegaram perto de Roger. João saiu da moto cambaleante e caiu de joelhos na grama.

    - Certo, vamos dormir aqui essa noite. - anunciou Roger - Amanhã de manhã vamos chegar à muralha e, ainda amanhã, quase ao anoitecer, chegaremos à floresta. Algum de vocês trouxe algo pra fazer fogueira?
    - Eu trouxe. - disse João ainda ajoelhado apontando para a mochila dele que estava no chão ao seu lado - Mas precisamos de lenha.
    - Certo. - disse Roger - Eu e o Dan vamos entrar na mata para catar alguma. Vocês montem a fogueira e apóiem as motos em alguma árvore.

    João abriu a mochila e tirou algumas coisas de dentro enquanto Dan e Roger entravam na mata. Ele deu uma garrafa de água para Loran e Taylor que beberam rapidamente. Não bebiam nada desde que saíram de casa naquela manhã. Loran estava fazendo algum tipo de alongamento, pois estava retesado de ter ficado sentado. Após isso sentou-se ao lado de Taylor, apoiando-se em um tronco de uma grande árvore. João tinha se encaminhado para um dos muros quebrados ali por perto para catar algumas pedras para a fogueira. Quando voltou fez um pequeno círculo com elas e esperou Dan e Roger voltarem com a lenha.

    Quando eles voltaram trazendo alguns gravetos e pedaços um pouco maiores de madeira, depositaram no círculo, junto com algumas folhas secas. João tirou um isqueiro do bolso lateral da mochila e começou a tentar acender a fogueira. Quando ela finalmente acendeu, todos ficaram sentados em volta dela. Começaram a discutir qual caminho deveriam tomar após cruzar a muralha.

    - Logo que atravessarmos, estaremos nas terras inférteis. - explicou Roger - É puro deserto lá por alguns quilômetros.
    - Devemos escolher um lugar para começar a procurar. - disse Dan - Perto das Montanhas Mítralos ou perto das Montanhas Stromer.
    - E se ele não estiver perto da que escolhermos? - perguntou Taylor.
    - Aí vocês deverão se aventurar pela floresta procurando ele.
    - Mas isso é meio idiota! - disse Loran - E se ele não estiver na floresta?
    - Ele só pode estar na floresta. - disse João - Só se ele decidiu se entregar e já está em um calabouço na Pedra Negra.
    - Então... para onde vamos? - perguntou Roger.
    - Acho melhor as Montanhas Mítralos. Elas são maiores e deve ser melhor para ele se esconder lá.

    Continuaram conversando perto do fogo durante a noite e comendo biscoitos que João trouxe.
    - Acho que só vai dar até amanhã... - disse.

    Às vezes um deles entrava na mata para pegar mais lenha para deixar o fogo aceso. Quando ficou mais tarde, apagaram o fogo e deitaram. João tinha trazido alguns cobertores, que deu para Dan e Roger, já que Taylor não sentia frio e Loran ia ficar de guarda.

    - Eu fico de guarda. – havia dito Loran tirando a adaga da calça e segurando ela no colo - Depois acordo um de vocês para continuar.

    Enquanto todos adormeciam, ele ficou sentado encostado em uma grande pedra, virado para a mata, prestando atenção em qualquer movimento suspeito dos lobos. Os lobos ruivos habitavam mais para o interior da mata, perto de pequenas montanhas.

    A noite foi passando e Loran foi ficando cada vez mais sonolento. Ele sentia suas pálpebras fecharem e as abria rapidamente. Certa vez viu lobos saindo da mata e matando todos no acampamento e ele não podia fazer nada, pois não tinha braços e pernas. Foi então acordado por Roger.

    - Ei, amigo! - chamou ele - Vá dormir. É mais seguro para todos. Eu assumo daqui.
    - Não... - disse Loran esfregando os olhos - Eu tenho uma arma. Traz mais segurança.
    - Guarde essa adaga. A única coisa que pode te dar segurança agora é seu cobertor. Agora vá dormir!

    Loran levantou e deitou no lugar onde estava o cobertor de Roger e dormiu em cima dele.

    Acordaram com o sol iluminando seus rostos. Dan estava acordado encostado na pedra.

    - Bom dia. - disse - Tinham que ter visto o sol nascendo hoje!
    - Bom dia, Dan! - disse Loran ficando sentado. Roger estava acordado deitado ainda aonde Dan tinha dormido.

    João acordou e já foi guardando os cobertores e os biscoitos. Quando terminou jogou a mochila nas costas e começou a chamar todo mundo pra levantar logo e partir.

    - Temos que chegar às Montanhas Mítralos ainda hoje! Andem, andem!

    Quando todos estavam prontos e menos sonolentos, subiram em suas respectivas motos e deram a partida.

    Viajaram contornando a borda da mata a alguns metros de distância. De longe viam a silhueta das montanhas. Quando chegaram a uma curva, viram a estrada que levava à Muralha. Seguiram em direção a ela, abandonando a mata. Quando chegaram à estrada, puderam ver a muralha. Ela tinha uma altura média de dez metros, era de um cinza claro e estendia de norte à sul da ilha. Viam um grande portão de madeira, adornada de um metal com cor de ouro. João olhou para a muralha e sentiu suas energias renovadas.

    Estou mais perto de libertar meu irmão. – pensou.

    Chegaram ao portão rapidamente, parando as motocicletas na frente da porta. Olharam para cima, na passarela da muralha e viram a silhueta de dois guardas olhando para baixo, com a luz do sol logo acima deles.

    - Olá! - gritou Loran - Algum de vocês é Goya?

    Os guardas olharam um para o outro e gritaram que não havia nenhum Goya ali.

    - Vocês dêem meia volta com essas motos. - disse o da direita - Ninguém pode passar daqui!
    - Goya é você? Aqui é Loran Lewis - gritou Loran - Que foi Goya? Você sempre está lá no bar!

    O guarda da esquerda virou para o da direita e começaram a discutir alguma coisa inaudível para o grupo na porta da muralha. Eles então saíram da vista deles ainda brigando e gesticulando.

    - Acho que eles não vão nos deixar passar. – disse Dan.
    - Eles têm que nos deixar passar! – gritou João e começou a bater no portão da muralha com os punhos fechados gritando – Abram! Abram! Deixe-nos passar! Abram!

    Enquanto ele esmurrava o portão, ouviram um grande clique metálico e um grande rangido misturado com o som de engrenagens rodando e a porta começou a se abrir para fora, fazendo com que o grupo tivesse que se afastar. Do outro lado viram um guarda baixo e gordo, vestido com toda a armadura azul de Frolar e segurando uma grande lança. Só podiam ver seus olhos amendoados, seu nariz de batata e seu bigode castanho bem feito e cheio de suor. Ele parecia assustado.

    - Olá Goya! – saudou Loran abrindo os braços para o guarda. Ele pareceu mais assustado, pois arregalou os olhos olhando para um lado do corredor de dentro da muralha e saindo de lá a passos rápidos em direção a Loran.

    - O que faz aqui? – perguntou rápido e baixo.
    - Preciso de um favor seu, amigo.
    - Favor? Que tipo de favor?
    - Acho que você sabe. – disse Loran olhando para a muralha.

    - O quê? – gritou Goya olhando para trás por cima dos ombros – Não! Loran, eu não posso deixar você passar! Você sabe! – então apontou para trás deles e gritou – Podem ir embora, viajantes! Da Muralha Temoror vocês não passarão!
    - Pode parar com essa sua encenação idiota, não é o que você diz sempre quando vai ao bar. – disse Loran e imitando Goya, pondo as duas mãos na barriga, disse – “Eu sou tão legal que deixo as pessoas passarem pela muralha!”.
    - Conversa, Loran! – exclamou o guarda - Conversa! Eu estava alterado! – e gritou – Não vou avisar novamente! Voltem!
    - Ok, então se altere agora e nos deixe passar. – disse João.

    - Não! – disse Goya ficando ereto e olhando para cima, encarando Loran – Eu sou um guarda da armada de Frolar a serviço do rei! – e gritou – Não vou avisar novamente! Voltem!
    -Você é apenas um guarda bêbado que diz asneiras em um bar da cidade! – rosnou João levantando a mão para esbofetear o rosto do gordo. Goya apertou as mãos no cabo da lança e ficou em posição defesa, mas ainda assim assustado.
    - Olha Goya... – começou Loran tentando acalmar o guarda – Você vai nos deixar passar.
    - Ou o que, Lewis? – desafiou o guarda.
    - Ou eu vou bani-lo do meu bar, para sempre!

    O guarda recuou como se tivesse tomado um soco e deixou a lança cair por um momento no chão. Ele levantou uma sobrancelha como se não acreditasse que Loran faria algo assim. Ele pensou por algum tempo e então disse:
    - Certo. Eu deixarei vocês passarem! Mas com uma condição!
    - E qual seria ela?
    - Quero bebida de graça por uma semana lá n’O Tillos.
    - Feito! – disse Loran apertando a mão de Goya e rindo.
    - Ok, agora sigam-me. – disse o guarda caminhando em direção à muralha – E tragam essas motos.

    Goya conduziu o grupo através da grande porta de madeira, enquanto Dan, Roger e Loran empurravam as motos pela grama e entravam no corredor de pedra que passava por dentro da muralha oca. Quando todos entraram, o guarda virou e puxou uma alavanca na parede, e novamente ouviram o clique metálico seguido do som de engrenagens enquanto as portas se fechavam, deixando todos na escuridão. Uma luz surgiu da lanterna que Goya ligou e os guiou pelo corredor até outra grande porta de madeira.

    - Certo, montem nessas motos, porque quando eu abrir esta porta, é bom vocês darem o fora daqui bem rápido. - disse Goya - E se esconderem. Para sempre. Eu vou ter problemas com isso, se vou!
    - Obrigado pela ajuda, Goya. - disse João - Não sabe o quanto significa.
    - Não me agradeçam ainda! O guarda lá em cima ainda vai dedurar vocês! - alertou o guarda - Uma diligência vinda da cidade passou por aqui ontem indo para a Pedra Negra e ainda não voltou. Quando ela voltar, teremos que dizer que vocês nos renderam e passaram.
    - Entendo. – disse João e puxou rapidamente a adaga de dentro da calça de Loran e apontou para o guarda que recuou contra a porta, assustado - Que tal se eu der um corte em você para parecer mais real, hein?
    - Ei, ei! - gritou Dan afastando João com a mão e tirando a adaga da mão dele - Já vamos sair daqui! - virou para Goya e disse - Obrigado por nos deixar passar.

    O guarda, suando, virou para a alavanca perto da porta e puxou para abri-la.

    Loran pegou sua adaga, guardou no bolso e pulou para cima de sua moto, assim como Dan e Roger, seguidos de João e Taylor. Quando a porta estava totalmente aberta, deram a partida e atravessaram o portal, vendo o sol por poucos instantes sobre a grande planície desértica que era as Terras Inférteis.

    Antes mesmo que corressem três metros, uma grande sombra cruzou o céu, cobrindo todo o chão e a muralha. Olharam para o céu, em direção ao sol, e viram o que parecia uma grande nuvem negra, mas quando ela abriu as asas para planar pelo céu, viram que não era uma nuvem. Parecia um grande pássaro negro de asas abertas, com uma grande cauda balançando com uma serpente, indo em direção ao sul. Pararam as motos sobre o deserto e ficaram olhando enquanto a criatura ia embora.

    - O que é aquilo? – gritou João assustado apontando para a sombra
    - Um dragão! - respondeu Goya ainda parado perto da porta - Fricài, o dragão negro ancião que foi banido do Reino dos Dragões.
    - Um dragão?! Em Frolar?!
    - Sim, ele sempre está em Frolar. Ele vem sempre do Sul, de alguma terra distante da nossa ilha e fica escondido nas Montanhas Mítralos. Nunca vem para esses lados, senão essa manhã, quando voou acima das nuvens sobre a muralha indo à algum lugar. Agora voltou.
    - Devemos ter cuidado? - perguntou Roger
    - Sempre se deve ter cuidado com dragões - disse Goya - mas esse sempre fica escondido, lá nas montanhas. Se não forem para aqueles lados, estarão seguros.
    - E então? - perguntou Dan para o grupo - Íamos para lá, mas não quero me aventurar em uma terra de dragões.
    - Não acho que o Jean seja idiota para ir para lá... - disse Taylor.
    - Mas e se ele não souber disso e foi do mesmo jeito? - perguntou João.
    - Não importa. - disse Roger - Não temos nem certeza se ele está lá. Vamos para as Montanhas Stromer. Estaremos, pelo menos, mais seguros.

    Quando todos concordaram, Roger assumiu a dianteira e correu pelo deserto. O sol batia em seus rostos durante a viagem e o vento que soprava não os refrescava, pois era quente. De longe, ao sul, podiam ver o pico mais alto de Frolar nas Montanhas Mítralos, mais à frente, só viam a areia do deserto dourado, produzindo distorções no ar por causa do calor. Em alguns pontos, viam milagres acontecendo, como pequenos tufos de grama amarelada morta e murcha, morta e caída na areia depois de ter brotado do solo. Um milagre, pois todos sabiam que aquela era incultivável. Nada poderia crescer ali por anos.

    Enquanto corriam, as rodas jogavam areia para trás e para cima, caindo na pele e chegava a doer. Pararam as motos perto de um enorme cacto para beber água. Ela já estava quente e os biscoitos de João murchos. Roger ficou coçando a perna machucada e com pintas vermelhas.

    Após beberem a água, montaram - pelo que seria a última vez - nas motos e partiram. Dez minutos depois, viram o horizonte desértico se transformar na vista de uma grande floresta. A floresta se aproximava rapidamente e podiam ver árvores altas, talvez maiores que a Muralha Temoror. Podiam ver também, no meio delas, uma grande cadeia de montanhas, com picos altos, porém não tão altos como os das Montanhas Mítralos.

    Então, finalmente, viram a grama voltar a aparecer solta entre as areias do deserto, então, areia solta entre a planície que se estendia até a borda da Floresta Sem Leis, lar dos trolls e de mais sabe-se lá o que.

    Finalmente chegamos. - pensou João suspirando enquanto Dan ia diminuindo a velocidade da moto conforme se aproximavam de seus destinos.

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