Sem muitas palavras, todos caminharam através da porta. Olhares fulminantes eram lançados de Glóin para Fardons, que continuava com sua calma habitual. Ou quase sempre habitual. Fardons era misterioso. Cada um de todos do grupo conheciam pedaços de sua história. Até onde sabem era uma história bem... Triste... A única coisa que sabiam ao certo era que Fardons estava a procura de algo. Sempre que paravam em uma cidade, ele saía fazendo algumas compras misteriosas e conversando com pessoas misteriosas, em bares suspeitos. Bom...
Do outro lado da porta havia um corredor bem feito como todo o resto das Minas Tiras. Ele seguia reto até virar a esquerda; onde o caminho continuava bem trabalhado, ou continuar reto; onde o caminho estava quebrado e parecendo inacabado.. Deveriam decidir: continuar reto, ou virar a esquerda.
- Ops! – disse Araell que estava na frente – E agora?
- Melhor ir em frente. – disse Ulrich
- Por quê? – perguntou Glóin
- A parede da frente é mais desgastada. Parece que goblins passaram aqui. Muitos pelo visto.
- Hum... Melhor não, hein! – disse o dwarf com um sorriso no rosto – Vai que o cegueta fique com medo e fuja.
Fardons virou a cabeça em direção ao dwarf.
- Acha que não tenho coragem, dwarf? – perguntou com calma
- Acho não! – disse Glóin e cuspiu no chão – Tenho certeza!
- O que você acha que é coragem?
- É ir a luta!
- Mesmo? Então deixe-me falar-lhe sobre coragem:
“ Existem dois tipos de coragem. Existe a coragem que brilha nos momentos de perigo, que aparece sem ao menos pensar, como simples resposta natural à urgência do momento. Embora eu diga isso, não quero desmerecer esse tipo de coragem, pois falta a muitos homens, o homem que é bravo na hora deve ser admirado!”
- E o outro tipo? – perguntou Araell, pois o dwarf parecia estar petrificado com as palavras de Fardons
- O outro tipo de coragem é ainda mais raro! - disse ainda com o rosto para Glóin – É a coragem fria, que permite ao homem encarar a realidade, olhar a adversidade e não se intimidar. É a coragem obstinada, criteriosa, que permite ao homem persistir quando tudo a sua volta desmorona.
Glóin não ousou respirar. Ulrich passou a manga da túnica roxa nos olhos, pois estes marejava em lágrimas. Thorson já havia ouvido à esse discurso certa vez, quando ele e Fardons viajaram com um bárbaro impulsivo.
- Que tipo de coragem é a sua, hein, dwarf?
- Grumph! – bufou Glóin e começou a andar pisando as botas de metal no chão, ecoando pelos corredores.
Um barulho estranho foi ouvido vindo do corredor que partia para a esquerda. Era um grunhido estranho. DOIS grunhidos se comunicando.
- Mas que barulho irritante é esse? – disse irritado Glóin
- Sshhhh! – fez Ulrich com um dedo nos lábios
O barulho parou por um momento. Um pequeno ronronar tomou conta do grunhido. Então se ouviu o barulho de espadas sendo desembaiadas.
- Acho que é um ataque! – disse Araell e se posicionou à frente do grupo dentro do corredor esquerdo.
Thorson empunhou seu machado e se pôs ao lado de Araell e Ulrich, com sua maça. Os três ficaram lado a lado dentro do corredor. Fardons ficava atrás de Thorson, e Glóin ficava pulando tentando ver.
- DEIXEM-ME VER! – gritava
Araell abriu as pernas e Glóin passou entre elas .
- Hurmph! – resmungou – Agora sim! Esse meu tipo de corag...!
Algo estava no teto, acima de Glóin exatamente quando se pôs na frente de Araell. Ele desceu pela parede, como se estivesse numa escada de corda, numa velocidade incrível. Parecia nem ter parado. Pegou Glóin pela perna e subiu pela parede seguinte até o teto.
- O que...? – exclamou Thorson
Ouviram um berro. Olharam para o teto e viram Glóin de cabeça para baixo, sendo segurado pela perna por um ser verde. Ele tinha os olhos vermelhos saltados e esbugalhados. Pingava algo verde-musgo de sua pele. Suas mãos possuíam garras gigantes, uma delas segurava Glóin e a outra empunhava uma espada curva com a lâmina suja. Ele estava com os dentes arreganhados olhando para o grupo.
- SOCORRO! – gritou Glóin
O bicho soltou um rugido rouco e começou a balançar Glóin pela perna. Mordeu a orelha do dwarf e o soltou.
- Filha da...! – gritou Araell largando a espada se jogou para agarrar o dwarf que caia com a orelha sangrando. Agarrou-o em pleno ar e rolou pelo chão com o dwarf em seus braços.
- GOBLINS! GOBLINS! – gritava Glóin
O animal soltou-se do teto e caiu em pé ainda com a espada na mão. Olhou para Ulrich e Thorson e soltou outro grito rouco. Ulrich acertou o lado de sua cabeça com a sua maça. O goblin foi jogado contra a parede com o ferimento da maça borbulhando.
- Ele não tem ossos! – murmurou Ulrich
O animal gritou e começou a correr em quatro patas de volta para Ulrich. Se jogou contra ele e mordeu sua mão. A maça caiu.
Thorson desceu o machado, mas apenas cortou a orelha do animal. Ele gritou. Cravou a espada no ombro de Ulrich e se impulsionou para o alto. Se agarrou na parede e foi pulando uma de volta para outra até chegar ao teto. Já nele, voltou para a escuridão do corredor.
- Aquilo era um goblin? – perguntou Araell
- Sim! – disse Glóin ainda com a orelha sangrando
- Exura Sio! – disse Ulrich com a mão na orelha do dwarf – Ele não tem ossos!
- Tem... mas é só cartilagem.
- Fedeu! – disse Araell – Como mata essa criatura?
- Cortando a cabeça, ou queimando-os.
Um grito rouco foi ouvido vindo da escuridão do corredor.
- PREPAREM-SE! – disse Araell
Todos retomaram suas posições. Barulhos de passos apressados foram ouvido, como os de uma aranha gigante. Então da parede direita, um goblin pulou contra Araell jogando-o no chão. Araell se levantou com o bicho ainda agarrado em suas costas, mordendo, arranhando e cortando. Ele pôs a mão nas costas, e puxou o animalzinho de lá e jogou ele na parede. Quando ele bateu lá, Thorson rapidamente, bateu com seu machado no pescoço dele.
Mais gritos roucos foram ouvidos do corredor, e uma multidão de goblins foi vindo pelo teto.
- FEDEEEEU! – gritou Araell
- SAIAM DA FRENTE! – gritou Fardons
Puxou Araell para trás, e sê pôs a frente de todos.
- PROTEJAM-SE AGORA! – ordenou
Todos correram para o corredor que seguia reto e ficaram esperando. Araell conseguiu ver ele falando:
- UTAMO VITA! – e aparecer uma grande barreira azul, que impediu os goblins que pulavam do teto de o alcançar.
Ele entrou no corredor se juntando aos outros e ouviu Fardons gritar:
- EXEVO GRAN MAS FLAM!
Ouviram o barulho de uma explosão e então o fogo se alastrou por todos os corredores vindo do da esquerda. Araell que estava mais perto do corredor da esquerda, teve queimaduras de alto grau no braço direito inteiro. Ele urrou um grito de dor, na hora exata em que o barulho do fogo acabou.
- MEUS DEUS! – gritou Ulrich agarrando o braço ainda quente de Araell – Exura Sio!
Ele disse várias vezes essa magia de cura para recuperar totalmente o braço de Araell.
Viram vindo do corredor um Fardons cambaleante. Ele caiu de joelhos na entrada do corredor, virou o rosto para o grupo (mas precisamente para Glóin) e disse numa voz fraca:
- Que...tipo de... coragem é... essa? Ahn, dwarf?
Dito isto, ele caiu no chão.