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Tópico: O Homem Eterno

  1. #1
    Avatar de Drasty
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    Padrão O Homem Eterno


    Prólogo


    Carlos despertou como em todas as manhãs. Sua esposa dormia ao seu lado. Ele não podia mais ficar perdendo tempo, tinha que trabalhar. Levantou-se da cama, que era enorme como quase tudo naquele cômodo. Observou o quarto ainda escuro, vasculhando suas sombras. Sobre uma mesa de mármore branco dormia de olhos bem abertos o fiel relógio. Ao seu lado, jazia um copo de uísque vazio, ainda exalando o cheiro forte de álcool da noite anterior. Sua carga horária nos últimos anos tinha aumentado. Toda noite estava batendo cartão.

    Aquele homem caminhou desajeitado até uma mesinha próxima à outra antes descrita. Colocou sua mão atrás do abajur roxo – de gosto questionável – e, depois de alguns instantes, pegou um objeto bem pequeno escondido ali. Ele o inseriu na gaveta logo abaixo, com todo cuidado para não fazer algum barulho que pudesse acordar sua mulher. De lá, retirou um celular bem velho todo quebradiço. Havia uma ligação não atendida. Já sabia de quem era. Sempre a mesma pessoa, só ela tinha aquele número. Com o aparelho em mãos ele fez uma cara de desprezo, em seguida o guardou, trancou a gaveta e escondeu a chave novamente.

    Seguiu seu rumo para o banheiro. Tomou uma rápida chuveirada e fez a barba displicentemente. Em poucos minutos estava vestido em um terno preto muito bonito, no entanto, era claro que havia sido comprado alguns tamanhos menores. Sua pança quase saltava por ele.

    Carlos era um homem saudável. Porém seu peso o incriminava: adorava comer. Comia quando estava feliz, triste, raivoso, até mesmo quando não tinha fome. Não havia nada de que não gostasse. Vivia se empanturrando de sorvetes, geléias, omeletes, doces, tudo que pudesse ser comido.

    Tão rápido quanto tomara seu banho, ele tinha chegado ao andar inferior. Uma bela copa ostentava logo a sua frente. O chão todo quadriculado, salpicado de preto e branco. Ele pensou em fazer ovos mexidos e comê-los com uma xícara de café quente. Foi exatamente o que fez.

    Enquanto comia, olhava a penca de eletrodomésticos. Todos projetados e confeccionados por sua empresa. Era como um artista que admirava suas obras primas. Orgulhoso e fraternal. Às vezes perguntava a si mesmo se amava mais suas criações do que seus próprios filhos.

    Terminado o desjejum, foi até a porta da frente. Limpou a garganta e por duas vezes bateu palmas. Em seguida disse “Baptista P3TU”, também duas vezes. Um som esganiçado cortou o ar, como se algo houvesse sido ligado.

    – Chame um táxi e lig... – antes que pudesse terminar sua frase uma voz estridente disse:

    – Carlinhos, hoje é Domingo. Volte para a cama.

    Ele soltou um grunhido seco. Não havia outra coisa a fazer, tinha que voltar para lá. “Mas antes, porque não um sanduíche de presunto?” pensou. Aquele gorducho gostava mesmo de comer.

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    Última edição por Drasty; 29-03-2010 às 13:59.

  2. #2
    Avatar de Emanoel
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    O texto apresenta uma situação tão comum e desinteressante, própria do dia a dia, que a espera por uma reviravolta é crescente, com o suspense aumentando frase após frase. Não houve uma surpresa típica (paradoxo?), mas o final do prólogo me deixou completamente perdido e um pouco intrigado.

    Enfim, quando eu entender, escrevo um comentário de verdade... que venha o primeiro capítulo!

    Citação Postado originalmente por Drasty Ver Post
    Um som esganiçado cortou o ar, como se algo houvessem sido ligado.

    houvesse

    Espero que não desista.

    Acompanho.

  3. #3
    Avatar de Scholles
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    “Mas antes, porque não um sanduíche de presunto”
    Faltou o ponto de interrogação.

    Um prólogo leve, de fácil leitura. O personagem tem um grande defeito, o que já o torna bem mais verossímil.

    E o objeto, descrito no segundo parágrafo. Se fosse uma chave, você teria dito que era uma chave... Fica a dúvida e a sugestão para, futuramente, se for só uma chave, não deixar somente como "objeto", que é uma palavra muito vaga que abre espaço para muitas possibilidades. Assim como "coisa".

    Deu pra pensar mais ou menos como vai ser a história... Futurística, provavelmente. Algo relacionado à robôs, no mínimo.

    E... É isso. Gostei. Espero por novos capítulos.

  4. #4
    Avatar de Thomazml
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    Gostei, achei bem legal. Principalmente o último comentário do narrador.

    Histórias futurísticas? Não é minha praia, mas, se os personagens forem tão bons quanto normalmente são, estarei lendo =)
    Quer participar de uma alta aventura com essa turma do barulho? Quer escrever sobre Tibia, ser enganado por um monge pra lá de pestinha? Achas que tens o que é preciso para esma... digo, para entrar no Hall da fama? Passa lá na Biblioteca-imensa-cheia-de-coisa-e-mundialmente-conhecida!

    Escritos no TebeaBeerre

    -=R.I.P =-
    Aqui já Lucius Cath
    Eterno troll

  5. #5
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    Leve, rápido e bem-escrito, embora em alguns trechos eu tenha achado a descrição meio robótica, talvez pausada demais, mas nada que comprometa o texto (é mais provável que seja uma questão de estilo mesmo).

    Estou acompanhando.




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  6. #6
    Avatar de Morozesk
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    Alguém aqui ainda lembra de mim?

    Enfim, se não lembra, gostei muito Drasty, mas não vou falar muito.
    Até.

  7. #7
    Avatar de O Bardo Sortudo
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    Quem é morto sempre volta MESMO.

  8. #8
    Avatar de cachorrorambo
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    Aguardando o segundo capitulo, muito bom esse ahn?
    [SIGPIC][/SIGPIC] Contato: [email protected]

  9. #9
    Avatar de Wu Cheng
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    Um texto excelente, usaria outras expressões em algumas partes, como em "mesinha próxima à outra antes descrita", que ficou formal demais e causou estranheza, mas no geral a leitura segue leve e sem perder o ritmo.

    Não ocorre nada de excepcional, ainda assim o personagem principal já conseguiu atrair a atenção do leitor com sua personalidade glutona e workaholic.

    Dizem que quem trabalha demais é porque não tem motivos pra voltar pra casa. Ou pior, quer ter uma desculpa pra se manter bem longe.


  10. #10
    Avatar de Drasty
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    Capítulo I
    Um novo pilar


    Dessa vez não havia dúvida. Era segunda-feira e não tinha escapatória. Seu traje e seus apetrechos já o esperavam e tão igual como sempre, ele os vestiu. Escovou os dentes e fez a barba. Pegou a chave atrás do mesmo abajur e abriu aquela mesma gaveta. Lá estava o velho aparelho celular. Duas chamadas não atendidas saltavam de sua quadrangular tela. “À noite eu retorno” pensou Carlos. Em seguida, o de sempre: trancar a gaveta e camuflar a chave.

    Enquanto caminhava em direção a porta viu sua esposa se remexendo nos lençóis de linho cor acinzentada. Devia estar tendo um pesadelo, mas ele não ligava. Só se importava mesmo com o que ela faria para passar seu tempo agora que decidira se aposentar. Já pressentia um salto nas contas no fim do mês. Se ao menos o sexo fosse bom, ele consentiria simplesmente. Não lhe restava nada a não ser lamentar.

    Fora do quarto, ele olhou a porta dos gêmeos entreaberta. Ali dentro os dois filhos de Carlinhos fermentavam os mais belos sonhos. E assim como todo pai, desejo-lhes os melhores, mesmo que no fundo também não se importasse muito. Fechou a porta hipocritamente e seguiu pelo corredor.

    Movia-se hipnotizado e cego sempre. Pelo menos até chegar à cozinha, onde Carlos era alguém. Um gordinho desajeitado que passava o aspecto de sujo. Não era o suor que sempre lhe caia testa abaixo, nem o cabelo oleoso ou a barba mal-feita. Na verdade, não era nada. No entanto, o aspecto não mudava. Estava encravado no seu ser.

    O café-da-manhã mudava a cada dia. Às vezes aveia com bananas e mel, outras mamão com açúcar, havia também cereal com leite e omeletes de presunto. Tudo sempre muito bem preparado. Um suco para cada dia, de todas as frutas que o mercado vendia. E o café. Ele o adorava. Nunca tinha faltado, nenhum dia sequer.

    De repente, Carlos se pegou pensando na vida. Como sempre fazia nas manhãs geladas do inverno carioca. O frio lhe dava uma tristeza. Acabava se lembrando de todo o passado, lembrava dos sapos que tinha engolido: o velho irritante, as roupas da mulher, os filhos inquietos, o cachorro falecido e até a mãe superprotetora.

    Feliz ou não, ele tinha o emprego dos sonhos, uma esposa linda e dois filhos maravilhosos. No entanto, algo doía em seu peito. Todo o ano estava lá. Um pesar. E agora na cozinha de sua mansão, aquele homem chorava discretamente. Naquele instante ele não podia recorrer ao uísque, o seu remédio para dor.

    Tão subitamente como havia começado a se amargar, voltou ao mundo. Levantou-se rapidamente da cadeira e foi até a entrada.

    – Baptista P3TU – disse baixinho. O som esganiçado deslizou pela sala de novo. – Chame um taxi e ligue pro Camargo, diz pra ele ir separando a papelada.

    Logo em seguida Carlos abriu a porta da frente. Lá fora, o táxi já o aguardava. Os passos lerdos do gorducho levaram-no até o pequeno automóvel. Dentro dele, um painel de cores saltitantes ostentava a espera de ordens. Com dois cliques na tela o táxi começara a ser mover. Em linha reta ele cruzou dois quarteirões bem amplos. Depois dobrou seguidamente duas vezes para a esquerda. Haviam passado o centro residencial e agora só altos edifícios jaziam nas suas laterais. Entre eles estava um de tamanho e forma distinto, ele abrigava a Baptista Eletrônicos, a maior empresa do ramo tecnológico em toda a América Latina. .

    O táxi deixou Carlos Baptista na calçada. Ele colocou uma grande moeda prata num compartimento externo da condução. Aquilo produziu um zumbido dentro da máquina. O motor se ligou de novo e ela partiu.

    Carlos seguiu em frente. Entrou pelo hall principal onde um enorme tapete com a logomarca da empresa jazia no chão. Deu bom dia para as duas belas recepcionistas que trabalhavam ali e pegou o elevador. Quando se encontrava sozinho dentro das quatro paredes, ele decidiu que jamais daria bom dia de novo àquelas meninas. Eram apenas funcionárias dele. E além do mais, só as havia contratado pelo rostinho bonito. “Afinal de contas tem que se ter uma cara bonita pra receber as pessoas” pensou. Ele também sabia que aquelas duas não conseguiriam emprego melhor e por isso sentia prazer em desdenhá-las.

    Um sorriso debochado surgira em sua face quando a porta do elevador se abriu.

    Camargo estava ali parado com seus óculos redondos. Tinha o ombro meio curvado e uma estruturava bem atrofiada. Vivia espirrando para tudo que era lado. Os cabelos sempre bem lavados tentavam esconder a caspa a qual nunca ia embora. Quando andava, parecia capengar, como um velho de bengala. Todavia, Carlinhos sentia que aquela era a única pessoa no mundo que podia confiar. Era como seu fiel escudeiro, seu Sancho. Criara um vínculo enorme com aquela criatura. E sabia que este também o adorava. Vivia se preocupando, organizando sua agenda, trazendo seus remédios, perguntando sobre a vida. Camargo vivia para Carlos.

    Eram nove e meia quando Carlos terminou de assinar a papelada. Camargo suspirou fundo. Agora a empresa não seria responsabilidade integral de seu patrão. A partir daquele momento a Baptista Eletrônicos apoiar-se-ia em dois pilares, mais fortes do que o solitário anterior.

    Por um minuto Carlos sentiu um peso deixando suas costas. Diferente do que seria comum, ele detestava aquilo. Gostava de ter trabalho sempre e não se importava com pressão. Sabia que com um sócio e um novo capital a empresa continuaria sendo a maior, mesmo que uma parte dele tivesse morrido naquele dia.

    Então ele pediu um café. Costumava usá-lo para ligar as turbinas.

    Em seguida, pediu que Camargo saísse. Fechou as janelas e cortinas. Carlos pegara um grande papel cartolina e uma linda lapiseira toda remendada de uma gaveta na mesa ao lado. Ele começara a criar seus filhos. Pela primeira vez no dia inteiro, aquele homem podia ser autêntico.
    Tá ai gente, obrigado pelos comentários.

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    Última edição por Drasty; 12-11-2009 às 22:53.



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