Olá, todos.
Gostaria de avisar que provavelmente este será um tópico onde postarei os contos relativos às origens do dito "mundo antigo" x] Eu sei... Terei que dar um nome para ele, mas isso vem depois. Ainda estou vendo como vão ficar os demais continentes e tudo mais. Se criarei algo parecido com a terra média de Tolkien, ou se será algo mais generalizado, embora as histórias apenas ocorram em um ambiente específico.
O que segue é o primeiro dos contos: Os Despertos. Eles serão tipo "Os Perpétuos" deste mundo, só que não serão representações antropormóficas de coisas que nunca vão deixar de existir enquanto houver vida. Eles representarão a criação e o equilíbrio. Eles serão os que sempre existiram e sempre existirão, embora não sejam deuses ou coisas parecidas. Não serão as mais fortes criaturas do universo, mas não por falta de poder e sim porque haverá "situações" e "situações". Talvez em alguma circunstância alguém tenha mais pdoer do que eles, mas, com certeza, eles serão os que terão mais liberdade para usar os que têm.
Bom, espero que a idéia permaneça, e que eu crie várias histórias que explicarão um pouco mais sobre este mundo que eu ainda não entendi tão bem quanto gostaria. Talvez em breve eu crie um tópico para "Os Eternos", o livro que tratará dos imortais existentes.
Até mais,
Euronymous.
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Espero que gostem... E comentem x]
'Let there be light'.
Os Despertos
Tudo era escuro naquela época distante, mas ele ainda se lembra. Quando abriu os olhos e se levantou sem perceber que não tinha olhos nem pernas, ele caminhou pelo vazio, sem andar. Sua essência vagava pelos caminhos mais sombrios, sendo que tudo era feito de trevas, e só.
Ele passava por figuras adormecidas, como ele estivera a pouco, e sequer notava que elas também não tinham forma, mas ele as via mesmo assim. Caminhou no infinito, antes do tempo existir para poder dizer-lhe o quanto andara, até reconhecer alguém. Ali estava um ser como ele, em essência e virtudes, eles eram irmãos.
Inclinando-se sobre seu irmão ele sussurrou: “Acorde, irmão.” E o ser despertou como o primeiro havia despertado antes, abrindo os olhos sem os ter, levantando-se sem ficar em pé. O desperto olhou para o irmão e percebeu que não saberia como chamá-lo, pois não tinham nome. Então o primeiro recebeu o pensamento e falou: “Chame-me de Loham.” E assim ele se batizou. O segundo assentiu sem se mover, e falou também: “Então me chame de Hauron, irmão.” E assim, o segundo se batizou.
Juntos eles andaram pelo vazio em meio aos seres que dormiam, alguns emanavam grandes poderes de si, e outros, apenas existiam, fracos e sem virtudes pelas quais se admirar. Juntos eles caminharam, até que ouviram uma canção, e surpresos, porém familiarizados com o som, seguiram para encontrar quem cantava.
Eles chegaram onde o vazio deixava de ser vazio, e algo existia. Algo se formava em meio ao nada e lá eles sentiram-se vivos. A música entrava em seus corpos, mas eles não tinham ouvidos para ouvir. Apenas recebiam a essência daquilo e seguiam o som que vinha com um perfume atraindo-os.
Quando chegaram a uma colina repleta de pequeninas flores eles viram outro ser desperto que estava lá, e reconheceram sua irmã. Ela os olhou e o som parou. Quando o primeiro a viu entendeu toda a música e se lembrou que poderia ter olhos para ver, se ele quisesse, ouvidos para ouvir, se ele desejasse, e boca para falar se assim lhe interessasse. E com um pensamento apenas ele se materializou na colina onde sua irmã despertara logo depois dele, pois ele era o primeiro, o mais velho de todos.
Sua forma era alta, mas não era de homem. Seus olhos eram finos e totalmente negros, seus cabelos caiam sobre os ombros e também cresciam das suas costas até a cintura, como a juba de um leão, sua pele queimada cobria músculos definidos e agressivos, embora não fosse corpulento. Ele era um guerreiro, forte e altivo, mas não despertou para lutar.
Ele se viu, como ninguém pode se ver, e duas grandes asas negras surgiram em suas costas, ele se viu outra vez, e outras duas asas menores apareceram abaixo dessas, mas elas eram muito grandes e espaçosas, enormes demais para ele, e ele as transformou em névoa que ficavam atrás de seu corpo, e se sentiu bem com o que fizera; estava satisfeito consigo mesmo.
Sua irmã o viu e materializou-se também, pois estava esperando por ele, assim como esperava por ele para despertar e começar a cantar. Ela era alva e sábia, sua forma era delicada, mais humana que a do irmão; era mais linda que a mais linda elfa, e parecia mais com eles do que com nós. Seus longos cabelos brancos nasciam apenas em sua cabeça, como nós, e seu corpo bem feito era coberto por faixas de pano em um tom rosa muito próximo ao branco. Uma lira estava em sua mão e ela parecia flutuar acima do solo; inclinada, como que deitada no vento a sua volta, ela sorria para o irmão, e suas quatro asas brancas formaram-se em suas costas, tão lindas e suaves quanto ela; ela sorria.
Então o terceiro se fez também. Seu corpo era forte, mais forte que o irmão; pardo, com os olhos castanhos e cabelos ruivos. Ele era humano; em todos seus aspectos, ele era como nós.
Não precisaram conversar sobre o que tinham de fazer, apenas saíram caminhando de volta no vazio, pois a colina deixara de existir quando a irmã a deixou, já que ela não quis deixá-la ali.
Ela inclinou a cabeça no ombro forte do mais velho como quem descansa um pouco, embora ele fosse mais alto do que ela, ela flutuava para encaixar-se de forma confortável nas dobras do seu corpo.
- Loham – ela falou -, diga meu nome, irmão. Quero saber como vou me chamar.
- Não seria melhor você escolher um, minha irmã?
- Não vejo alguém melhor do que você.
O irmão tomou-a em seus braços e olhou fundo em seus olhos dourados, ela riu nos braços dele e ele sorriu também.
- Chamo-te de Lis, chamo-te de Hera, chamo-te do que escolheres para eu te chamar. Mas quero chamar-te de Irmã.
Ela sorriu ainda mais para ele e o beijou. Com sua cabeça encostada em seu peito, de olhos fechados ela sussurrou para que ele ouvisse:
- Então me chame de Lis, chame-me de Hera, do que quiseres me chamar. Chame-me de Irmã também, meu amado, e eu atenderei quando você chamar.
Assim, eles caminharam novamente, ele altivo e imponente, sua irmã em seus braços, como que adormecida, mas sussurrando uma bela canção, e seu irmão ao seu lado, silencioso e altivo, pois apenas precisavam caminhar. Mais uma vez o tempo não era ainda tempo para poder passar, e eles andaram por onde não havia chão para se andar até que todos pararam e se sentaram no nada, onde Lis tomou sua lira e começou a cantar para os dois.
Em sua música, ela desejou que houvesse terra para seus pés tocarem, e a terra surgiu. Em uma grande massa de terra e pedra eles ficaram, mas Lis parou de cantar quando viu que a terra e a pedra eram feias, branca e negra, ocupavam tudo que podiam vislumbrar. Então, de tristeza, ela caiu ao chão. Irritado com o estado da irmã, o irmão levantara-se, e com um rugido de raiva uma luz inimaginável surgiu no local, e explodiu por torra a terra e toda a pedra, e as fez espalharem-se pelo vazio a sua volta.
Onde estavam uma grande bola de pedra flamejante ficara, e eles gostaram do calor, e gostaram da luz e sorriram. Grandes explosões ocorriam a sua volta e furacões de fogo passavam por todo lugar, mas não os feria o calor, ou os ventos lhes balançavam, nem a luz os cegava, e eles andaram mais uma vez para fora daquele lugar.
Distante, o irmão vislumbrou a bola de fogo no espaço, e percebeu que embora escuro, não era vazio onde eles estavam, e viu as grandes massas de pedra voando para longe dali, espalhando-se no espaço e espantando o vazio para outros lugares. Lis sentou-se no colo de seu irmão e assistiu as rochas tomarem seus lugares, e neste momento eles perceberam, enquanto tudo acontecia, que o tempo começara a existir, embora não os importasse o quanto demorara para passar.
Intrigado, o irmão mais novo viu que todas as pedras flamejavam, embora nenhuma tivesse a energia daquela, e tomou em sua mão um dos seres mais fortes que dormiam e o colocou na pedra, mas antes de acordá-lo, o mais velho tocou seu ombro, e disse calmo:
- Ainda não.
O irmão mais novo foi compreensivo, pois sabia que antes de todos acordarem, tinham de achar seus irmãos e despertá-los, mas deixou aquele ser na rocha flamejante para que ele acordasse quando fosse o tempo, e voltaria para lhe dizer o que deveria fazer.
Então, eles caminharam mais uma vez no lugar onde não era mais vazio, e encontraram outro irmão. Ele foi desperto pela segunda assim que ela o viu, e quando viu os irmãos tomou sua forma também. Um ser baixo e alegre com olhos verdes e orelhas pontudas. Seus pés eram finos e ligeiros, e ele sorria muito. Perto do mais velho ele fez uma reverência e sorriu para o outro irmão.
Juntos eles sentaram outra vez, tão parecidos em suas essências, e tão diferentes eu suas formas. Eles conversaram em silêncio, falando das coisas que tinham acontecido. Eram quatro, o último escolheu seu nome, e Lupo deveria ser chamado; assim decidiram achar os outros dois.
Juntos, estavam os gêmeos. Eles despertaram com um sopro de Lupo e da Irmã, e logo sorriram. Duas formas eles tomaram; eram parecidos, porém diferentes. Alternavam seus temperamentos e suas emoções, estavam ambos alegres no momento, o que seria raro no futuro, e seus cabelos flutuavam no ar como que emersos na água. A garota era loira, pequena e de bochechas rosadas, o garoto era magro, cabelos negros e pele alva. Eles eram baixos para os outros, porém sentiram-se a vontade entre eles. E a irmã os abraçou, e os três saltitaram pelo espaço em meio às rochas flamejantes que procuravam o seu lugar em formas esféricas.
Enquanto caminhavam, perceberam que o tempo fazia as rochas esfriarem, embora algumas ainda flamejassem, as maiores eram estas e viram que demoraria para elas perderem o calor. Juntos, viram o espaço tomar forma, quando rochas giravam em torno de rochas maiores, e perceberam a energia delas era forte e iluminavam tudo a sua volta.
Decidiram voltar a maior de todas as rochas flamejantes, onde o espírito forte fora colocado, e lá, eles sentaram-se.
Por um momento houve silêncio e admiração pelo que havia acontecido naquele lugar. Até que o mais velho olhou para Hauron e lhe disse:
- É hora de despertar o ser que adormece, irmão.
E com um sorriso o irmão falou:
- Acorde, Shion, pois assim deves ser chamado.
E a rocha despertou.
- Quem sois vós - ele disse em voz pesada e cansada -, que me trazes vida nesta forma?
- Eu sou Hauron, dentre os despertos. Viemos para acordar e dar vida. Fostes o primeiro, e deves manter esta rocha viva a brilhar e iluminar esta parte do mundo. És o maior e mais forte de todos os corpos, e deves te orgulhar disto.
- Me orgulho – ele disse -, mas a que devo iluminar, meu senhor, se nada existe, apenas terra e rocha.
- Não se preocupe, Shion, que brilha – falou Lis com sua doce voz -, pois eu e meu irmão Lupo iremos cantar, e tratemos vida para esta parte do mundo.
- Então eu iluminarei toda esta vida que criares, e terei orgulho disso, e ferirei quem ferir a vida, e castigarei quem perturbar a harmonia que criares.
Então, Shion brilhou ainda mais, pois agora havia vida na rocha e ele andava pelo universo, lento e calmo, e tomou algumas belas rochas para girarem em sua volta, pois sua força as atraia e sua luz as esquentava, já que eram fracas e frias.
Então, o mais velho levantou-se e chamou aos gêmeos para perto de si. Abaixando-se aos seus ouvidos ele perguntou-lhes algo, ao que os dois responderam ao mesmo tempo, apontando para uma grande massa de pedra das que Shion escolhera para vagar a sua volta. Não a mais bela de todas, nem a maior, ou a menor. Apenas a que mais se destacava por ser simples. Assim, Loham dirigiu-se à esfera e chamou seus irmãos. Os gêmeos o seguiram primeiro, saltitando em seu caminho, e sua irmã logo o alcançou, caminhando calmamente ao seu lado.
Quando lá chegaram, todos sentaram-se em uma grande rocha, de onde poderiam ver grande parte do mundo. Lis deu um beijo em seu irmão mais velho e começou a rodopiar no ar batendo suas asas, enquanto Lupo criou um instrumento que lembrava um violino e começou a tocar e saltitar. Juntos eles cantaram para seus irmãos verem, e os gêmeos pela primeira vez demonstraram o que seriam para sempre: A Ordem e o Caos. Para os irmãos era algo inédito, porém natural, quando a menina tornou-se da mais pura beleza, radiando felicidade, seu rosto era o ápice da perfeição; uma garota completa em todas as suas medidas, nada se desequilibrava em seu corpo. O menino tornou-se da mais intrigante desarmonia; uma beleza estranha inundava sua presença e seu rosto era de pura tristeza, tornando-o algo curioso e perturbador, de tão belo e incomum. Foi quando os mais velhos criavam que isso aconteceu, pois para haver vida precisa-se de equilíbrio, e foi isso que logo depois surgiu.
Enquanto Lis voava e cantava, uma leve brisa começou a correr pelo local. Em toda a grande massa algo diferente parecia materializar-se: Era água, que começava a tomar forma em todos os lugares. Lupo cedeu à melodia de sua irmã um tom mais vívido e violento, e conforme ele tocava, tempestades começaram a se formar no que passou a ser o céu; não mais negro ou vermelho; das antigas cores mal se via o dourado onde Shion observava. Agora o infinito sobre suas cabeças era escuro e acinzentado, com nuvens despejando água e jogando raios em toda a grade terra.
Conforme os mais velhos criavam, o humor dos gêmeos mudou. Já não era mais triste a face do menino, mas alegre e radiante quando via os raios caindo nas grandes planícies de terra. Ele conservava a beleza estranha que tinha, e sua alegria era igualmente bizarra, um pouco eufórica demais, até mesmo excêntrica. Todavia sua irmã agora era a perfeita solidão, mesmo em meio aos demais. Ela estava parada, fixando, à distância, as grandes águas mudando a forma do horizonte. Foi lá que tudo começou, e em meio à imensidão azul, quando Lis passou a cantar suave demais, sussurrando as melodias mais belas, a vida começou a surgir e habitar o universo; apenas simples matéria tornando-se o que viria a ser a mais complexa cadeia de acontecimentos que eles poderiam observar.
Em toda sua simplicidade, talvez eles nunca compreendessem o que acabaram de despertar. Afinal, eles eram diferentes. Seu amor fraternal era diferente de qualquer outro jamais existente. Até mesmo os ciúmes que surgiria entre eles, os conflitos, as afeições. Eles não eram como o que acabaram de despertar; apenas acordaram para criarem algo como eles; ou talvez, despertaram semelhantes ao que deveriam criar após eles mesmos.
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"In the beginning God created the heaven and the earth, and the earth was without form and void, and darkness was upon the face of the deep, and the spirit of God were upon the face of the waters. Then God said: 'let there be light', and there was light."
- Genesis 1: 1-3.
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