Bom saber que estão ansiosos pelo capítulo 1 ¬¬
Capítulo Um
Bem-Vindo a Svargrond!
A aquela altitude, o vento gelado já se transformara em um vendaval cortante, de congelar a alma. Tais condições termais exigiam uma boa preparação prévia e principalmente uma camada extremamente absurda de agasalhos. Sempre havia quem utilizasse de fontes de calor alternativas, como tochas ou fogueiras. Mas era realmente irritante carregar utensílios momentaneamente desnecessários, ou até parar para acender uma fogueira. Além do que, o vento gelado conseguia apagar as chamas antes mesmo que pudessem transmitir uma sensação quente satisfatória.
Mesmo assim, havia quem desafiasse temperaturas absurdamente baixas, fosse por esporte, fosse por necessidade. O fato é que sempre tem doido pra tudo. Ao longo de sua caminhada pela geleira, o forasteiro percebera que a loucura de alguns jovens era como sua sentença de morte. Corpos congelados estavam misturados a gelo puro e presos nos lugares mais despautérios.
Suas pernas pareciam arrastar-se pela trilha formada por gelo espesso o suficiente para sustentar seu peso excessivo – e isso fora o peso dos casacos. Ele escorava-se em estruturas erguidas em meio ao branco polar em busca de apoio, mas elas acabavam espedaçando-se, provavelmente por estarem congeladas.
Cada passo era como uma eternidade. Seus olhos mio ocultos por camadas e camadas de cachecóis de pele de mamute fitavam o que parecia ser o extremo horizonte: um inferno branco. Era neve e gelo para todos os lados. O céu cinzento estava sem qualquer vestígio de luz. Mas por aquelas bandas, era sempre assim. O sol raramente dava as caras, e quando aparecia, era fortemente comemorado pelos habitantes locais. Eram geralmente dois dias de sol por ano, mas o suficiente para animar o dia dos moradores dali.
O homem girou os calcanhares por todos os lados em busca de alguma informação compreensível que lhe dissesse onde afinal ele estava. Ele tinha uma embaçada idéia, e tinha uma vaga impressão de reconhecer a trilha de expedições passadas, mas o fato é que estava perambulando como um bêbado desde que seu mapa fora levado pelo vendaval. E pelo jeito, ele seria o próximo.
Os ventos estavam enfurecidos. Deslocavam qualquer coisa que se metesse em seu caminho. De pedras e corpos maiores e obviamente mais pesados. Isso incluía árvores e até certo ponto, construções inteiras. Era uma tempestade horripilante, mas para os moradores daquele maldito lugar, era até fraquinha. Ele não sabia ao certo o que dera em sua cabeça para sair andando por ai no meio do vento, mas ele tinha que chegar o mais rápido possível a seu destino. Era questão de vida ou morte. Nesse caso, vida ou congelamento eterno.
Os raios estrondosos anunciavam um verdadeiro inferno. Granizo do tamanho de ovos de galinha despencava sobre a neve, enterrando-se com um som abafado e fofo. Alguns deles cravavam-se no gelo aos pés do forasteiro, trincando-o por longos percursos. A tal placa de gelo podia ser grossa, mas não agüentaria tantas pedras penetrando-a por completo.
Em todos os seus anos de experiência no ramo de explorações, ele nunca havia visto a fúria da natureza de forma tão fria. A última demonstração de fúria natural que ele vira fora numa viagem de pesquisa a Goroma. O vulcão da ilha entrou em erupção no meio de uma trilha pela mata fechada, e o grupo teve que se abrigar em cavernas para conseguir sobreviver. Pura adrenalina.
Mas nesse caso, não havia grupo para auxiliá-lo. Ele estava sozinho. Todos os seus acompanhantes haviam sumido em meio à imensidão branca. Ele recordou-se do pesadelo enfrentado na ilha de Folda, e um arrepio percorreu sua alma. Seu grupo – composto em grande parte por glaciologistas com anos de experiência acabou em derramamento de sangue. Ele não gostava nem de lembrar. Para salvar a própria vida, teve que embarcar clandestinamente em um barquinho de carga que partia para Krimhorn. Estava andando sem rumo desde então.
O fato, no entanto era que ele necessitava de ajuda especializada urgente. Ele não conhecia ninguém que morasse por ali, com exceção de um antigo conhecido seu. Chamava-se Jacob Mittos e havia mudado-se para aquele lugar há pouquíssimos meses, sabe-se lá porque. Por coincidência – ou não – Jacob era a pessoa que podia ajudá-lo. Não apenas por eles já terem trocado uma idéia ou outra alguma rara vez, mas pelo que Jacob sabia. E sem dúvida, não era pouco.
Ele cambaleou por mais alguns metros e a tempestade se fortificou ainda mais. Parecia que o céu viria abaixo. Escorou-se em uma placa de pedra e baixou os olhos na direção do chão. Viu uma ripa de madeira quebrada e retorcida, parcialmente congelada, cravada ao chão. Nela, uma inscrição em um idioma antigo jazia entalhada, quase ilegível pelo tempo.
“Wkome czo Frgramor”
Graças aos anos de experiência, ele conseguiu decifrar a mensagem em questão de segundos. Leu-a vezes e mais vezes. Por fim, sorriu. Enfim uma boa notícia por ali.
“Bem-vindo a Formorgar”
***
Os pulmões do homem recuperavam-se da forte altitude da enorme geleira. Caminha por lá era difícil, ainda mais em meio a uma tempestade daquelas. A montanha, tida como uma das maiores de todas, causava medo no olhar de qualquer bárbaro suficientemente ousado para tentar escalá-la, apenas por seu tamanho. Não só em questões de altura, afinal, quando falamos disso, não podemos dizer com precisão quantos metros tem aquele ser inanimado, pois seu cume some em meio à névoa gelada.
Seu comprimento era de admirar até mesmo um deus, de fazer tremer as estruturas do mais poderoso demônio. A enorme forma mista de pedra e gelo percorria incansavelmente a ilha de Hrodmir, cortando parte de Nirsur e separando-a de campos como Ragnir e Krimhorn.
Uma travessia por Formorgar era sempre uma curiosa aventura, onde sempre havia um vencedor: a montanha. Por mais forte que você estivesse ao abandoná-la, ela conseguia provocar-lhe um sofrimento implacável que o torturava por horas. Caminhar depois de atravessá-la era loucura. Mas o homem precisava chegar a tenebrosa Svargrond o mais rápido que suas pernas pudessem permitir. A travessia já havia exigido muito dele, e isso que ele atravessou a imponente montanha por um de seus caminhos mais curtos e baixos. Sobretudo, também um dos mais arriscados, pois margeava o gelado oceano glacial que inundava as áreas entre as ilhas castigadas por um eterno inverno, que de tempos em tempos solidificava-se, a fim de permitir uma travessia a pé de ilha a ilha.
A tempestade uivava em seu ouvido, enquanto ele cambaleava pelas paredes de pedras que se erguiam, quase invisíveis, em meio a névoa. O gelo que despencava do céu ameaçava a vida de qualquer um, e os furiosos ventos agitavam as meras barracas nas quais os mais pobres viviam. O vento, ao cortar os prédios e pedras, provocava um sussurro longo e tenebroso, de arrepiar os pêlos. O corpo do homem começava a tremer e não responder simples ordens, mas ele continuava firme.
Já podia ver as maiores construções com certa nitidez. Passados minutos, entrou na orla da cidade e pode discernir, com precisão, o enorme prédio coberto por gelo e neve que se destacava no alto de uma leve colina de neve. Uma luz trêmula alaranjada vinha de dentro do prédio, o que indicava que havia gente em casa. O homem arrastou-se por mais alguns metros, e cambaleou ao tropeçar sobre um corpo ensangüentado que jazia, meio congelado, na neve sem fim. Era um lobo branco, vítima de uma das pedras de gelo gigantescas que despencavam do infinito céu enegrecido. Se não agisse rápido, acabaria juntando-se ao lobo.
Forçou-se contra a porta e bateu nela três vezes, de forma rítmica, num mesmo ponto. Não houve resposta. Voltou a bater por mais seis vezes, e ao não receber resposta, chutou a porta de madeira com força. A velha madeira rangeu e levemente trincou-se. Passos arrastados foram ouvidos de dentro da mansão, e em seguida, fortes latidos de um cão.
- Quem está ai?- Gritou uma voz vinda de dentro da casa. O homem não respondeu. Um tilintar metálico foi ouvido e aporta escancarou-se. A luminosidade interior a construção cegou momentaneamente o forasteiro, que cobriu os olhos com o capuz de pele. Sentiu-se feliz ao ver a silhueta do homem parado o encarando, e por um breve momento, sentiu-se aquecido pelas chamas de tochas presas as paredes no interior do casarão. Depois veio a dor. E por fim, a escuridão.
Não ficou grande, não ficou conclusivo, e sim, é uma trama de Tibia ;D
Manteiga.