Disputa do 3º Lugar
Lembrando que os textos são postados de forma anônima. Os escritores não podem dizer qual é seu texto!
Para votar, basta identificar qual a disputa e qual o texto escolhido. Todos usuários podem votar, mas apenas aqueles com uma justificativa plausível serão levados em conta. Votos de usuários fantasmas também serão desconsiderados. E lembrando que a votação popular será apenas um dos pesos da nota dos textos, e o vencedor final será decidido por membros da Equipe TibiaBR. Por último (e talvez o mais importante):
Agora, dito isso, vamos aos textos!
Tema: A Tumba de Horestis
Spoiler: Texto 1A inveja de Horestis
A filha de Arkhothep, a princesa Maharuh, estava contente com as últimas notícias que envolviam os djinns e a finalização de seu novo jardim. Os boatos de que os djinns estavam unidos para criar algo que homenageasse a princesa evocava certa desconfiança por parte dos moradores de Ankrahmun. Em especial, havia uma grande tensão entre os conselheiros do sultão Arkhothep, que, receosos pela potencial influência dos djinns sobre o sultão, temiam ficar à sombra desses seres inteligentes e perspicazes. Horestis, um dos mais nobres e renomados conselheiros do faraó, ruminava um grande ódio e um desejo sombrio: acusava os djinns de conspiradores e nutria um amor — vedado por malícias — pela princesa Maharuh.
— É isso que eles são, senhor Arkhothep. São conspiradores, e buscam se apropriar de nossos conhecimentos, de nossas riquezas — disse Horestis, aos pés do sultão, e olhando maliciosamente para a princesa.
— Não creio que eles sejam assim, Horestis — retrucou a princesa. — Quando a dor e as sombras se abateram sobre mim, e eu chorei pela morte de minha mãe, os djinns me confortaram, e me mostraram a real essência do mundo em que vivemos, e da condição que nós, pobres humanos, temos que aceitar, de bom grado — disse Maharuh, com os olhos cheios de lágrimas.
— Não seja tão ávida em decidir seu futuro, filha — disse Arkhothep. — Nossos maiores alquimistas estão no fim de seus estudos a respeito da longevidade humana. Eu não gostaria de perdê-la, meu amor, e meu poder deverá reinar para sempre — disse o sultão com altivez. — E a respeito dos djinns, não o tenho motivos plausíveis para criticá-los. Quando minha filha estava imersa em mágoas, eles a curaram. E eu sou grato por isso, Horestis.
Horestis sorriu maquinalmente e se retirou dos aposentos do sultão. Arkhothep não enxergava com clareza as intenções de Horestis, e a princesa, em seu habitual idealismo utópico, também estava exposta às adversidades advindas da falsidade, da vingança, do ódio.
~~ * ~~
— Está tudo acontecendo conforme havíamos combinado, Ashmunrah— disse Horestis friamente. — Plantamos uma semente em Akhothep. Não tardará, e sua desconfiança em relação aos djinns ganhará forma. Assim, manteremos esses usurpadores fora de nossos caminhos.
— E os alquimistas, já descobriram o elixir da vida eterna? — indagou Ashmunrah. — Você sabe Horestis, que eu, diferentemente dos outros conselheiros, conservo maior paciência frente a seus intentos. Mas o cerco está se fechando. O sultão, juntamente com a princesa, comunicou a Vashresamun que somente poucos de nós terão acesso ao elixir da vida eterna. Ou você encontra uma maneira de nos ajudar, ou teremos que tomar decisões não tão agradáveis — disse Ashmunrah, seriamente.
— Eu estou a par de tudo que os alquimistas fazem e, segundo eles, o elixir está praticamente completo. Um de nossos pesquisadores encontrou uma fonte no subterrâneo das Planícies da Destruição. Segundo os alquimistas, era a o que faltava para que o elixir ficasse completo. Mas, uma coisa eu não compreendi, o que você quer dizer com “decisões não tão agradáveis”? — indagou Horestis, curioso.
— Sabemos que Maharuh ganhará grande parte do elixir... O sultão quer eliminar qualquer possibilidade de sua filha definhar. Depois que sua esposa morreu, Arkhothep trava uma grande batalha interna, onde a morte é sua maior inimiga, e a imortalidade, sua glória, sua vitória. Mas sabemos, também, que apenas poucos goles já bastam para que a poção tenha, efetivamente, seu efeito aplicado. Não temos opções... São nossas vidas ou a vida da pobre órfão de mãe, que você nutre um amor infundado — disse Ashmunrah, secamente. Horestis engoliu o seco.
— Não se preocupe, meu amigo. Irei contatar o sultão ainda essa manhã. Tenho algo em mente... — disse Horestis, maliciosamente.
— O que você pretende, Horestis? — indagou o Ashmunrah.
— A morte da esposa do sultão ainda é um “mistério”... Como você acha que ele reagiria caso descobrisse que a morte de sua mulher foi trabalho dos djinns? — questionou Horestis, analisando a espada em sua cintura. Ashmunrah sorria.
~~ * ~~
À tarde, Maharuh foi ao deserto, pois queria ver seu jardim. A princesa sempre se perguntava o porquê dos djiins criarem tenta estima por ela. Ela era uma moça com grandes riquezas, humilde e, em especial, amiga de todas as raças, de todos os povos. O sultão, em seus tratados com os outros povos de Tibia, sempre se beneficiou da personalidade de Maharuh. Os povos livres do mundo a amavam, e ela, em seu idealismo unificador, quase que utópico, saudava-os como irmãos. Talvez, na maneira como a princesa conceba o mundo, sem interesses ou traços de supremacia, resida à explicação para tanto carinho gratuito: àqueles que, designados naturalmente como formadores de opinião, sabendo de seu poder de influência, recusam trajar-se de glórias e fortunas, possuem um destino puro e singelo. Assim como os jardins, que, em seu desenvolvimento e acolhimento, é uma zona de conforto, um oásis em meio às tristezas que assolam um mundo estéril, de areia.
— Grande, Nah’Bob! — saudou Maharuh, quando viu o grande djinn vindo em sua direção.
— Boa tarde, senhora! — cumprimentou Nah’Bob. — Acabamos de receber diversas árvores e flores de Ab’Dendriel. Os elfos ficaram contentes em nos ajudar, ainda mais quando souberam que pessoa frequentaria e cultivaria este jardim — disse Nah’Bob, sorrindo.
— Eu fico tão contente... — disse a princesa, emocionada. — Ver os povos dos djinns unidos em prol de um objetivo tão lindo e puro é algo que me faz crer em um futuro cristalino para os povos de Tibia. Creio que não mereço tantas graças, mas fico contente com o que isso está motivando.
— Não reconhecer o merecimento é uma prova concreta de que você é, de fato, merecedora — disse Nah’Bob, sorrindo para princesa. — Agora irei voltar para minhas atividades. Estou quase terminando uma das áreas do jardim. Estamos finalizando as decorações e plantando as últimas espécies. Está ficando encantador! — despediu-se o djinn, com os olhos brilhando de contentamento.
A princesa continuou andando, seguindo o apressado djinn, e chegou às redondezas do jardim. Era um espaço imenso, onde diversas árvores, flores, lagos, pássaros, chafarizes, bancos e campos confluíam em um ambiente quase mágico. As duas raças de djinns trabalhavam incansavelmente. O aniversário da princesa, que seria daqui a dois dias, teria como presente dos povos de Tibia, e em especial dos djinns, o jardim. E Maharuh estava eufórica. Antes que outros questionamentos sobreviessem à princesa, sua felicidade foi interrompida. Horestis, que, sem que a princesa visse, havia seguido os seus passos desde a pirâmide do sultão, corria em sua direção.
— Olá, princesa! — cumprimentou o conselheiro. — Vejo que você está apreciando a obra desses belos... seres — disse Horestis, sorrindo forçadamente. — Desculpe-me por interrompê-la, mas seu pai mandou que eu a chamasse. Precisamos de sua presença para resolver algumas coisas — disse Horestis, pacientemente.
Maharuh olhou o faraó com desconfiança, mas o seguiu.
~~ * ~~
— Papai, o senhor me chamou? — perguntou a princesa, entrando nos aposentos do sultão.
Arkhothep estava cabisbaixo. Olhava para os seus dedos e poucas lágrimas escorriam sobre sua face.
— Maharuh — chamou o sultão. — Quero que você elimine qualquer laço emocional com aqueles malditos djinns! — falou o sultão, rancorosamente.
— Por que, papai? — indagou a princesa. — Como você disse, eles me ajudaram muito, e não existe problema entre você e eles.
— Não existem problemas? — indagou o sultão, com ódio. A princesa estava assustava com o tom de voz do pai. — ELES MATARAM A SUA MÃE! — gritou Arkhothep. — Horestis me mostrou provas plausíveis de que Nah’Bob e Alesar foram os mandantes da morte de sua mãe — disse o sultão, chorando. — Uma vingança absurda em função da hegemonia de meu reino sobre o território de Ankrahmun.
Horestis, secretamente, deliciava-se com a cena. A briga com a filha um mal-estar na família no sultão. Isto seria propício para que os conselheiros se apoderassem do elixir da vida eterna e tomassem o poder de Ankrahmun.
— É um absurdo, papai! — esbravejou Maharuh. — Horestis há anos olha para mim, me deseja, e mais do que nunca, quer estar em seu lugar. Como você não nota isso? — indagou a princesa.
— Horestis é, para mim, como um irmão, filha. Confio plenamente em seu julgamento. Você ainda é jovem, e seu espírito jovial não compreende as coisas completamente — disse o sutão, seriamente.
Maharuh saiu dos aposentos reais e dirigiu-se ao seu quarto, onde se jogou na cama e começou a chorar. Por que seu pai fora tão apressado em seu julgamento? E qual o motivo de Horestis estar tão interessado em separar os djinns da princesa? Em meio a tantos questionamentos, algo assustou a princesa. Ouvi a porta de seu quarto ser trancada por fora.
— É uma pena que você não tenha me escutado antes, princesa — disse a voz inconfundível de Horestis, atrás da porta. — Seu pai pediu para que eu trancasse a porta. É para o seu bem. Até segunda ordem, você deverá ficar longe daquele povo suspeito — disse Horestis.
~~ * ~~
No dia seguinte, com a ajuda de sua amiga, e camareira, Taris, Maharuh conseguiu ouvir as notícias do “mundo de fora”. Foi um baque terrível, para Maharuh, saber o que aconteceu.
— Foi triste, minha amiga. Perdoe-me, mas seu pai foi cruel com o povo dos djinns. O jardim já estava pronto, e todos os djinns esperavam seu pai, para que ele, antes dos outros, visse o que o jardim havia se tornado. Ao chegar lá, ele acusou todos os djinns, e ao lado de Horestis, expulsou-os das redondezas Ankrahmun. O resultado da briga foi terrível — disse Taris, triste.
— O que houve? — indagou Maharuh, emocionada.
— Os djinns começaram a brigar entre si. A cisão foi maior do que se imaginava. Dizem que criaram duas facções, e ambas começaram a entrar em guerra. A acusação de que eles mataram a sua mãe deixou-os encurralados. Horestis levou várias testemunhas ao seu pai, e todas confirmaram o que Horestis havia dito. Os djinns começaram a acusar um ao outro, e eles próprios destruíram os laços de amizade recém atados — respondeu Taris.
~~ * ~~
— Eles terminaram, meus amigos! — disse Horestis, adentrando a sala do conselho dos faraós. — Os alquimistas concluíram o elixir da vida eterna, e pretendem dá-lo ao sultão nesta noite. Finalmente poderemos por em prática nossos planos.
— Era o que precisávamos para tudo confluísse em nosso favor – disse Rahemos, sorrindo. Todos os outros faraós concordaram.
— Me pasmo com a ingenuidade do sultão — disse Thalas, sorrindo maliciosamente. — Você, Horestis, com o auxílio do conselho, foi o grande promotor da morte de Osiris, a esposa do sultão, e o palerma, além de não confiar na filha, acusa os djinns. Ele realmente merece ser deposto do poder – disse Thalas. Os outros conselheiros riram.
— Sempre foi fácil enganá-lo — disse Horestis, com desprezo. — Sua filha não me interessa mais. É outra tola, assim como a mãe, que tentou tirar-nos do conselho. Mas conseguimos pisar em todos. E sobre hoje, não podemos perder tempo. Os alquimistas, em breve, levarão o elixir para o sultão, e temos que surpreendê-los antes da entrega...
— A pressa sempre foi sua inimiga — disse o sultão, entrando na sala, com os guardas do trono. Todos os conselheiros ficaram estáticos. Horestis olhava o sultão com incredibilidade.
— Eu posso explicar, meu s... — disse Horestis.
— CALA-SE, SEU VERME IMUNDO! — gritou o sultão. — Guardas, prendem todos. Daremos o que eles querem. Se esses vermes querem a vida eterna, terão — disse o Arkhothep, cuspindo no chão.
~~ * ~~
À noite, diante de toda a cidade atônita de Ankrahmun, os conselheiros do sultão foram amarrados e expostos na praça central. O silêncio era aterrador, a cidade olhava para os faraós com curiosidade e medo. Logo, o sultão apareceu.
— Diante de vocês, meu povo, estão os verdadeiros conspiradores, a verdadeira traição encarnada. Esses seres imundos, liderados por Horestis, mataram minha esposa — disse o sultão. A cidade estava perplexa. Maharuh podia ser vista da janela de seu quarto, consternada. — Por rancor, pelo desejo de poder, e principalmente, pela inveja, esses seres deploráveis lutaram pela imortalidade. Vejam! — disse o sultão, olhando para os faraós amarrados — Darei um quinhão de minha descoberta.
O sultão pediu para que seus guardas pegassem o elixir, e fez com que cada faraó tomasse um gole. Por último, o próprio Arkhothep tomou um gole do elixir.
— Pela imortalidade vocês lutaram, mataram e mentiram, e agora imortais vocês são. Mas meu ódio por vocês, assim como a imortalidade, não perece, é eterno. Por isso, darei a vocês, seres nefastos, um destino digno de traidores.
Amordaçados, os faraós viram quando os guardas trouxeram sarcófagos gigantescos. Sem a possibilidade de falar, todos observaram seus iguais sendo jogados e lacrados dentro dos sarcófagos. O peito de Arkhothep arfava e seu sorriso era assustador. Antes de lacrarem Horestis para um tormento eterno, o sultão pediu que tirassem sua mordaça, para que ele falasse.
— Era isso que você desejava, meu amigo? — perguntou o sultão, enojado.
— Você acha que conseguiu se tornar maior,
Arkhothep? — indagou Horestis, rindo alucinadamente, enquanto todos observavam a cena com terror. — Você não é nada, você morrerá sozinho. Você tomou o último gole de sua poção, e sua filha, terá o mesmo destino incerto dos humanos. Aproveite os últimos momentos de uma vida solitária e vazia.
Arkhothep estava branco. Pegou sua espada e desferiu um golpe na barriga de Horestis, mas seu golpe não surtara efeito imediato. E o sangue, sem significado frente a sua dor, não tornaria sua filha uma imortal. Horestis, rindo, foi lacrado em seu sarcófago. E ele, bem como os outros faraós, foi disposto em uma das várias tumbas espalhadas por Ankrahmun, para que, na eternidade, sofresse por sua traição.
~~ * ~~
Nenhum ser humano viu a última conversa de Maharuh com seu pai. Dizem que Maharuh desejava morrer, mas a dor de seu pai foi imensa. Sua dor transformou-se em ira, e sua ira uma chama que alimenta, até hoje, seu espírito vingativo.
Os jardins tornaram-se a casa da princesa. Sozinha, e enfrentando o tempo, ela viveu, chorando pelas tristezas do mundo. No despertar da primavera tibiana, quando os rouxinóis visitavam os jardins em Akrahmun, Maharuh deixou os círculos mundo. O povo de Ankrahmun diz que, após a morte, seguidores de Horestis, remanescentes daquele que seriam seu exército real, entraram nos jardins da princesa e destruíram o último resquício daquilo que a bela donzela deixou. A areia e o tempo trataram de apagar as ruínas do jardim, e Horestis, em sua eterna agonia, ainda ri sob a poeira do tempo. O destino foi selado, e o jardim, esquecido nas sombras, é uma mera lembrança longínqua, ainda registrada em uma das bibliotecas de Ankrahmun.
Spoiler: Texto 2Constelação da Cachaça
Um homem caminhava cambaleante pelo deserto de Ankrahmun. Já era noite e a festa dos nômades havia acabado. As estrelas acompanhavam o solitário, fazendo-o sentir-se pequeno. O vento batia em seu rosto, acariciado-o com o cheiro de areia úmida do crepúsculo.
A família de Desmond morava em Ankrahmun, no entanto, como a maioria de lá, eles tinham laços com tribos nômades. Seu avô havia sido nômade, e desde então, eles sempre passaram a ser bem-vindos nesses eventos.
No entanto, neste em especial, Desmond havia ido sozinho. Agora, durante a volta, ele vinha se perguntando se exagerara um pouquinho na bebida.
Achou que sim. Para compensar este erro e não ficar com a consciência pesada, virou a garrafa que ainda estava em sua mão, ingerindo um grande gole.
— Onde estamos, companheira? — perguntou ele, à garrafa, que balançava sobre sua mão trêmula.
— Já sei! — continuou, apontando para um dos lados. — Tá vendo aquela constelação lá? — perguntou para a garrafa, levantando-a na direção das estrelas. — Chamam-na "Constelação da Cachaça". Pode observar que se linhas imaginárias forem traçadas entre elas, forma-se uma garrafa em tamanho estelar. — explicou, traçando as linhas com seus próprios dedos. — Deve ser daquele bêbado do Fardos.
Mais à frente, ao seguir cambaleante, sem desgrudar da garrafa, foi que percebeu o que tinha acabado de falar. Fardos, cachaça, bêbado. Quanta blasfêmia! Pensou ele, ajoelhando-se para pedir desculpas.
Ao encostar os joelhos ao chão, uma enorme rachadura desenhou-se ali sem que Desmond a notasse.
Após cinco segundos, evocando orações e pedidos de desculpas com lógica o sufiente que apenas bêbados entenderiam, o chão não resistiu e finalmente desmoronou.
Enquanto Desmond desmoronava, conseguiu gritar mais uma única coisa:
— Fardos, seu cachaceiro, eu estava pedindo desculpas!
Horestis
O faraó estava sentado sobre o trono, enquanto observava toda a extensão da ampla sala. Estava aprisionado naquele lugar há séculos, fora amaldiçoado para sempre.
Sua ambição o tornara aquilo, um ser imortal, poderoso e aprisionado.
Ele não era o único, tinha certeza. Os velhos magos também aprisionaram outros Faraós. Se eles conseguissem se unir, um pedestal seria erguido para o fim do mundo, tornando toda a humanidade um uníssono de escravos.
Uma coisa vinha acontecendo que ele não compreendia. Quando movia-se, pedaços de sua estrutura mumificada caíam ao chão, mas de forma estranha, elas começavam a se
mover, adquirindo uma cor esverdeada. Transformavam-se em pequenos insetos que pareciam escaravelhos, que iam em direção aos cantos da parede, entrando em pequenos
orifícios e sumindo de vista.
O faraó então encostou a cabeça ao trono, relembrando dos antigos dias de glória.
O Bêbado
Ele estatelara-se no chão e desacordara por um bom tempo, mas agora começara a lembrar, ainda meio zonzo, o que acontecera.
Tinha algo andando sobre seu braço, fazia cócegas, o bêbado podia notar isso mesmo com toda aquela ressaca. Um inseto parecido com um besouro subia tranquilamente em direção ao ombro.
— Que bonitinho! — exclamou ele, com o álcool ainda tendo efeito em seu sangue.
Estendeu a mão, para tentar capturá-lo, mas, ao fazer isto, o pequeno inseto verde abriu as asas e o picou.
Uma dor tão potente apoderou-se de Desmond que ele jamais poderia supor que viria de um inseto tão pequeno.
— Saia daqui seu diabinho! — gritou, dando um tapa e tacando o inseto longe.
Depois de um longo tempo abraçado a sua garrafa de cachaça, implorando para a dor ir embora, ele observou, deitado de barriga para cima, que o buraco por qual havia caído estava muito alto, e que ele, com certeza, não alcançaria. Além disso, milhares daquele mesmo inseto que o picara saíam pela abertura que ele criara.
— Socorrooo! — gritou, tentando buscar alguma ajuda externa.
E foi assim por horas, até que resolveu explorar o lugar, talvez achasse outra saída.
Horestis
Ele observava, parado, um rato que acabara de passar ao lado de seus pés. Os escaravelhos que soltavam-se de seu corpo, no início, não deram atenção àquele animal, no entanto, algo os fizera passar a atacar o pobre rato. Juntou um grande grupo de insetos ao redor do roedor. Cada picada era um guincho de sofrimento.
Foi então que o Faraó estendeu sua grande mão e espantou-os, e o que viu surpreendeu até a ele.
Uma estrutura de vidro começara-se a se formar ao redor do corpo do rato. Ela não chegava a tocar em nenhum momento sobre o corpo, apenas o cercava, flutuando.
Era um isolamento. Era como ele se encontrava agora, isolado naquela sala, preso há muito tempo atrás.
Então ele compreendeu o que estava acontecendo. Toda a sua raiva pelos humanos, aqueles inúteis que o haviam trancafiado, transformou-se naquela maldição.
Os humanos irão sentir na própria pele como é ficar trancafiado, pensou Horestis, feliz pela primeira vez em séculos.
A Cidade
O sol começara a surgir no horizonte. Como todas as manhãs, Ankrahmun possuia um silêncio apaziguador. Yasir havia chegado ao porto daquela cidade naquela madrugada, portanto aquele lugar era um dos poucos que estavam movimentados. Mercadores e pessoas negociavam objetos com ele, até que...
— O que é aquilo? - Perguntou Yasir, apontando para uma nuvem esverdeada que se aproximava.
— Não é nada, meu caro. Vamos tratar de negócios. — respondeu um dos mercadores, não se importando.
Foi então que eles notaram uma agitação por toda a cidade. Pessoas corriam em direção ao porto, buscando um refúgio para esta nuvem.
— Olhe só Yasir, hoje é seu dia de sorte! Uma multidão vem correndo para ver seus produtos!
No entanto, as pessoas não vinham correndo curiosas, como notou Yasir. Elas vinham correndo desesperadas, fugindo de algo.
Uma a uma foram caindo, gritando de dor.
Yasir, que estava próximo ao mar, jogou-se nele, alguns outros o imitando.
A maioria não conseguiu e, por isso, seriam vítimas de uma maldição que um pobre bêbado despertara, ao abrir a cripta de Horestis, enquanto seguia a "Constelação da Cachaça".
O Bêbado
Minutos depois da picada do inseto, a visão do homem ficou turva e, quando tentava olhar para frente, sempre via um pequenino pedaço de vidro à sua frente. Ele flutuava no ar, e a cada vez que Desmond estendia a mão para tentar tocá-lo, o pequeno objeto desviava.
— O que fiz de tão ruim pra você?! — gritou, olhando para o alto, dirindo-se à Fardos.
Não recebendo resposta em troca, resolveu seguir um caminho que era iluminado por tochas.
Andou alguns metros e, ao chegar em uma ramificação de corredores, um esqueleto surgiu de uma das entradas.
— Não acredito, não acredito! — disse Desmond, apontando para a cabeça do esqueleto. — Vovô é você? Me disseram que o senhor tinha morrido. — explicou esperançoso, pois o álcool, o fazia enxergar uma grande semelhança entre o rosto de seu avô e o do monstro a sua frente.
— Venha aqui, levarei o senhor de volta para casa, todos ficarão assustadíssimos do senhor ainda estar vivo! Olha como está magro!
Depois de terminar essa infeliz frase, Desmond tentou puxar o esqueleto por um dos braços, que estalou agudamente e soltou-se de seu encaixe.
— Por Fardos! Arranquei o braço do vovô!
No entanto, uma onde de lucidez lhe invadiu momentaneamente e ele percebeu que o que fazia era loucura. Seu avô já morrera há anos e aquilo era um maldito de um esqueleto!
Tomou um susto tão repentino que empurrou a criatura e, em seguida, saiu em disparada para o lugar mais distante que conseguiu. No entanto, ainda segurava o braço, pois de um forma ou de outra, ele poderia servir como uma arma.
Enquanto isso, o objeto que sempre estivera a sua frente desde a picada daquele inseto, vinha crescendo, expandia-se tanto na direçao vertical quanto na horizontal. Agora não se tratava apenas de um pequeno vidrinho, estava tornando-se grande, e parecia estar contornando suavemente seu corpo.
Continuou o caminho, procurando alguma saída, alguma luz. A garrafa ainda estava em sua mão, bebeu um grande gole. Ela sim era sua verdadeira amiga.
Estava em uma sala comprida. Milhares de ratos, morcegos e esqueletos pareciam estar surgindo conforme ele ia andando. Os esqueletos, que graças a Fardos, eram lentos, não conseguiam pegar Desmond.
Foi então que ele viu uma alavanca, próximo a um altar.
Ele aproximou-se rapidamente dela e estendeu o braço para puxá-la, mas então imaginou a quantidade de criaturas fedorentas e podres que já deveriam ter tocado ali. Esticou o braço do esqueleto , jogou-o sobre a alavança e a puxou.
A câmara do Faraó estava aberta.
Horestis
Horestis foi um homem que não sabia o que era mais importante: a família ou o dinheiro. Ele amava ambos, mas de formas diferentes. O ouro representava o poder, a família, o amor.
Um homem, um belo dia, batera a porta da casa de Horestis pedindo por um pedaço de pão. Horestis, mesmo gostando de dinheiro, também sabia ser generoso, convidou o pobre miserável para entrar a sua casa. Deu-lhe um pedaço de pão e um bom vinho. Enquanto bebiam, sentados sobre cadeiras diante de uma mesa, o homem implorou por um lugar onde dormir. Horestis, de bom grado, convidou-o para aquela noite permanecer ali.
Durante a madrugada, o homem levantou-se vagarosamente, enquanto todos dormiam e começou a saquear toda a casa de Horestis. No decorrer da movimentação do ladrão, o filho do dono da casa acordou e foi ver o que estava acontecendo. O saqueador o viu, puxou a lâmina, e o matou com um golpe seco no pescoço. A mesma coisa acontecera a mulher de Horestis. Ao acordar, tudo o que se viu foi sangue e dois corpos. Horestis chorou até todas as suas lágrimas secarem, e jurou nunca mais confiar em ninguém. Pessoas não são confiáveis, disse a si mesmo, apenas o dinheiro é.
A partir desse dia, Horestis viveu exclusivamente para o acúmulo de ouro. Comércio e lucro, era seu lema. Conforme o tempo foi passando, Horestis decidira que nunca iria querer parar de adquirir ouro, portanto, começou a pesquisar e a contratar indivíduos que achassem a fórmula da imortalidade.
Passou a enganar e mentir pelo poder, pelo dinheiro. Encontrou um lugar, que ficava sob as areias do deserto que era grande o suficiente para armazenar toda sua fortuna.
O conselho de Ankrahmun, vendo que a loucura de Horestis havia passado dos limites, pois ele vinha matando todos os outros mercadores que disputavam a venda de alguns produtos em comum, decidiu trancafiá-lo junto com todo o seu ouro, no mesmo lugar em que estava até hoje, uma cripta do deserto.
Até agora...
O Bêbado
O vidro havia crescido consideravelmente ao redor de seu corpo, flutuando sem tocá-lo. Haveria um momento em que o sufocaria, pois o oxigênio não conseguiria mais atingir suas fossas nasais.
Avançou diante da câmara escondida, que era enorme. Estava toda iluminada por tochas. Montanhas de moedas a ouro e outro tipos de joias estavam espalhadas pela sala. Desmond, ainda com a garrafa em mãos, mergulhou em um desses montes, catando e enfiando nos bolsos tudo o que conseguiu.
Deu um grande gole para comemorar.
— Cachaça e dinheiro, não existe nada melhor. Com tudo isso posso comprar milhões de você. — explicou, dirigindo-se a garrafa.
Foi então examinar a sala, procurando uma saída. Aquele era o último lugar que faltava, a saída tinha que estar ali. Mas não estava.
— Do que adianta tudo isso, trancado aqui? — falou Desmond, depressivo.
Ficou com uma intensa raiva, não poderia morrer assim! Não se tornaria um daqueles esqueletos parecidos com seu avô!
Em um momento de extrema raiva, observou um trono e uma estátua de algum daqueles estranhos faraós. Logo acima do trono uma chama intensa iluminava o faraó.
Foi então que Dodrik pegou a garrafa, que tanto amava, e quebrou ela bem no meio da testa da estátua, dizendo:
— Toma, seu feioso!
Mas, infelizmente, não era uma estátua. O faraó apenas havia adormecido como frequentemente fazia, esperando o momento que algum imbecil abrisse sua câmara.
O imbecil havia chegado, e agora Horestis finalmente levantava. O álcool da cachaça escorria por sua têmpora. Deu um passo em direção à Desmond.
— Você é grande, mas não é dois. — disse Desmond, descontrolado tanto pelo teor alcoólico de seu sangue quanto pelo desespero iminente da morte, empurrando o faraó com a estrutura vítrea que formara-se ao seu redor na direção de volta ao trono.
O faraó, que de tanto liberar escaravelhos estava com pouco equilíbrio, tombou sobre o trono. A tocha logo acima caiu sobre ele, que já estava
encharcado do álcool que o bêbado lhe despejara.
Horestis jazia em chama. Todo o deserto parecia tremer com a morte do que um dia ja fora um homem.
— Foi mais fácil do que roubar doce de crian... — foi então que tudo desmoronou.
O resgate
Desmond abriu os olhos. Tudo ao seu redor estava destruído. Olhou para cima, onde a luz penetrava onde antes estava o teto da tumba.
— Como não morri? O teto caiu sobre a minha cabeça.
Foi então que se lembrou. Aquele vidro que começara a crescer ao seu redor deve tê-lo salvado. Ele serviu como um escudo para Desmond. A própria maldição do faraó acabou salvando a vida dele. Contudo, graças a Fardos, aquele vidro havia sumido.
— Me salvem! — gritava Desmond, com esperança que alguém o ouvisse.
Seu pai e mais um grupo de pessoas apareceram no buraco do teto.
— Papai? É você mesmo? Depois do meu avô-esqueleto, não sei mais distinguir quem é de verdade.
O pai de Desmond, sem entender o que seu filho dizia, jogou uma corda. Quando chegou ao topo, Desmond pegou no braço do seu pai e o puxou.
— Ainda bem que o braço do papai não se soltou — pensou ele, aliviado.
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