Segundo Capítulo!
Capítulo II –Sobre Oponentes e Amigos
.......Finalmente alcançara a saída do túnel. Quando passou por sua saída, esculpida formidavelmente dentro de um pequeno monte de pedra, de forma a camuflá-la perante olhos inimigos, o cansaço tomava conta do corpo de Rocky. Andou por alguns poucos metros na estrada, e se afastou dela rumo ao oeste, passando por algumas árvores e pequenos arbustos até chegar à divisa entre continente e mar. Sem relutar começou a montagem de um acampamento para descansar.
.......— Maldição, deveria ter passado a noite em minha casa e saído junto assim que raiasse a manhã! — pensou o jovem. — Agora terei que dormir ao relento.
.......Deixou sua carga jazendo junto à verde grama que ali brotava. Levando consigo apenas seu grande machado, a espada que acabara de forjar e a tocha que ainda estava acessa, foi buscar lenha para montar uma fogueira. Após alguns poucos minutos já voltava, trazendo consigo vários galhos oriundos de um abeto que estava caído junto ao solo. Sua habilidade na construção de fogueiras era grande, e logo a madeira do velho abeto começou a emitir estalos e a queimar. A pira construída era modesta, porém a iluminação emitida era grande e o calor ajudava o ferreiro a espantar o frio que acompanhava a escuridão da noite.
.......Enquanto a madeira queimava, Rocky pensava em quantas moedas de ouro conseguiria vendendo suas armas para o velho Samuel, conhecido comerciante de armamentos de Thais. Ele era o principal comprador das peças forjadas pela família Steelsoul, e um grande amigo de Alan. Seu neto, que também se chamava Samuel — mas era conhecido como Sam —, era amigo de Rocky desde que ambos eram crianças: possuíam a mesma idade e Rocky sempre acompanhava seu pai em suas viagens para vender suas criações para Samuel. Enquanto os adultos negociavam, as crianças brincavam pelas ruas de Thais.
.......Seu pensamento foi interrompido subitamente por um uivo próximo de onde o jovem acampava. Apesar da escuridão, Rocky viu um vulto se aproximando dele lentamente, chegando aos poucos mais perto da área iluminada pela fogueira. Antes de ser iluminado pelo brilho proveniente da chama, o vulto parou. Seus olhos cintilavam com uma luz vermelha quase sobrenatural, provocando uma espécie de transe em Rocky. Em passos lentos o vulto deixou-se ser tocado pela luz, deixando de ser uma sombra, revelando a Rocky que se tratava de um lobo — talvez o maior que ele já vira. Seu pêlo era cinza e imaculado, exceto na região próxima à boca, onde existia uma mancha de sangue seco. Parecia ser macio, provocando uma vontade de afagar o animal, ao mesmo tempo em que deva uma sensação de rigidez, como se nenhuma lâmina fosse capaz de perfurar sua carne.
.......O transe de Rocky foi interrompido no momento em que o lobo avançou e pulou por sobre a fogueira, em uma tentativa de alcançar o rapaz, que escapou por pouco, desviando-se para o lado com um rolamento. Antes que a criatura pudesse entender o motivo de seu bote não ter sido sucedido, Rocky já estava de pé e desembainhara sua espada recém-criada. Os dois se encararam por alguns instantes, até que o animal pensou ter encontrado uma brecha na defesa de Rocky e tentou um ataque. Para a infelicidade dele, o ferreiro foi mais rápido e enterrou sua lâmina no peito do animal, usando a investida deste para romper seu resistente couro, perfurando profundamente seu peito. O animal caiu ofegante, e passou os últimos segundos de sua vida tentando em vão fazer com que o ar adentrasse seus pulmões.
.......O ferreiro fez uma referencia frente ao seu adversário derrotado, e então limpou sua espada nos belos pêlos do lobo. Percebeu então que sua espada sustentava um pequeno defeito: a saliência no centro da lâmina possuía por toda sua longitude pequenos poros, onde o sangue coagulou — tornado-se impossível de limpar —, o que fez com que a lâmina fosse cortada em toda sua extensão por uma linha rubra. O tom aterrorizador que este defeito causara encantou Rocky, e se existia alguma dúvida no coração do ferreiro com relação à venda da espada, esta foi dizimada: o criador iria permanecer com sua criação.
.......Levou os olhos até seu oponente morto, e considerou um enorme desperdício deixar a carne do animal ali, para ser estragada pelo tempo e devorada pelos vermes. Tirou uma pequena — porém afiada — faca de sua cintura e começou a preparar sua ceia. Após exata meia hora a carne do animal já estava suspensa sobre as chamas da fogueira.
.......Usando a faca, recortou um pedaço do couro do animal e o lavou nas águas do mar, com o intuito de fazer um pequeno embrulho para guardar as sobras de sua refeição.
.......Quando a carne já estava pronta, Rocky se alimentou. Estava faminto, e a carne era possuía um gosto forte, o que agradou o ferreiro. Após comer o suficiente para alimentar dois homens, Rocky deitou-se sobre a grama fofa e adormeceu.
.......O sol já estava iluminando o continente quando Rocky despertou. Bebeu alguns goles de água e levantou-se, deixando para fazer o desjejum em Thais. Após duas horas de caminhada pela planície Rocky chegou até a cidade pelo seu portão sudoeste. O guarda que supervisionava a ponte estranhou o sujeito que caminhava com tanto armamento, e com uma mão sobre o punho de sua espada o parou:
.......— Pare meu jovem — começou o guarda. — Identifique-se, e diga por qual motivo deseja passar por esse portão para adentrar a capital do Império?
.......— Meu nome é Rocky Steelsoul — respondeu —, sou um ferreiro da ilha de Calcanea. Vim até Thais para vender essas minhas criações — e apontou para suas armas.
.......— Muito bem então, caro ferreiro. Certamente conseguirá uma bela quantia por elas. Vejo que foram bem trabalhadas e, em tempos de guerra, armas como essa são necessárias ao nosso exército. Pode passar, e desejo-lhe uma boa estadia em nossa cidade.
.......Com um desajeitado cumprimento, Rocky atravessou o portão e adentrou a capital do magnífico Império Thaiano. Dirigiu-se primeiro à taverna da cidade, onde comeu o seu desjejum. Seguiu então para o seguinte estabelecimento daquela rua, a loja de Samuel. Foi surpreendido ao encontrar lá dentro apenas o seu neto, Sam.
.......— Olá Sam! — disse Rocky. — Como é bom vê-lo! E o senhor Samuel, como vai?
.......— Bom dia, Rocky! — respondeu Sam, animado por rever seu bom amigo. — Percebo que você não tem obtido lá em sua ilha muitas novidades da cidade. Lamento informar-lhe, mas o meu velho avô faleceu, há três semanas.
.......— Meu coração se enche de pesar ao ouvir essa notícia. Minhas sinceras condolências a você, Sam — e fez uma discreta reverência ao amigo.
.......— Ele está me fazendo muita falta. — falou o rapaz. — Mas são águas passadas, e não podemos trazer de volta aqueles que estão agora sob os cuidados de Toth. Diga-me a que devo sua presença aqui neste singelo estabelecimento?
.......— Ora meu caro amigo, da mesma maneira que vejo que você ficou responsável por cuidar dos negócios de seu avô, eu tenho cuidado da forja de meu pai. E trouxe até a cidade algumas de minhas obras para vender.
.......— Veio ao lugar certo então. Mostre-me as armas!
.......Rocky mostrou-lhe suas criações, e passaram o resto da manhã negociando. Sam ficou decepcionado ao ver que a mais bela das forjaduras de Rocky não estava a venda, mesmo depois de oferecida uma ótima quantia. Quando o sol já estava no ponto mais alto do firmamento eles chegaram a um acordo que satisfez ambos. Estavam agora famintos, e resolveram almoçar na casa de Sam, no mesmo prédio em que se encontrava sua loja.
.......Comeram pães e parte da carne do lobo morto por Rocky, que agradou o paladar de Sam. Canecas de cerveja eram esvaziadas enquanto os amigos conversavam. Sam atualizou Rocky sobre a guerra com as noticias que tinham chego à cidade há duas semanas. Alguns agrupamentos de orcs tentaram cruzar a Ponte dos Anões, mas foram facilmente vencidos. Um pequeno acampamento do inimigo havia sido encontrado nos Pântanos da Garra Verde. Foi cercado e uma breve batalha ocorreu, com a vitória das forças dos descendentes de Banor. Isso trouxe certo alívio para a população de Thais, fazendo a cidade sentir-se mais segura com seus inimigos afastados de suas fronteiras. Com relação ao destacamento ao qual o pai de Rocky fazia parte, apenas uma notícia chegara: os números das forças dos Anões que seria somado à força dos homens eram menores do que esperado.
.......Rocky abaixou a cabeça ao ouvir isso, e bebeu o que restara de cerveja em sua caneca em apenas um movimento. Sam percebeu a tristeza do amigo e tentou consolá-lo:
.......— Fique calmo. Tenho certeza que seu pai não perecerá nessa guerra, e em breve voltará.
.......O ferreiro agradeceu as palavras e a hospitalidade do lojista. Depois disse:
.......— Está ficando tarde, e pretendo passar essa noite em minha cama. Devo partir de volta a Calcanea. Até mais, meu amigo.
.......— Volte para Thais logo. Mesmo que seja apenas para me visitar e beber algumas canecas de cerveja comigo, camarada. Que os deuses o abençoem em sua estrada — respondeu Sam.
.......Rocky se retirou, e saiu pelo mesmo portão que entrara mais cedo. Acenou levemente com sua cabeça para o guarda que o parou em sua chegada, e rumou para o oeste primeiro, para poder dar uma olhada no farol de Thais. Sua gigantesca estatura impressionava o ferreiro. Sentou-se à sua sombra, e ficou admirando-o. Seu olhar então se desviou para o norte, onde observou alguns barcos parados no porto da cidade. Ao longe, na forma de um pequeno ponto que aos poucos ia crescendo, Rocky avistou um navio que chegava de terras distantes. Perguntou-se que terras eram aquelas, e qual seria a paisagem que a tripulação da embarcação viu antes de deixar tal região. Seu coração bateu de forma estranha em seu peito, e o ferreiro sentiu uma súbita vontade de correr até o porto e embarcar para fronteiras desconhecidas. Lembrou-se então de sua terra, e como não devia abandoná-la enquanto houvesse esperanças no retorno de seu pai. Lembrou-se do Velho Ardock e de como ele amava-o.
.......Abriu os olhos como se estivesse sendo chamado, e despertou de um curto sono. Por um tempo perguntou-se se o navio que avistara havia sido apenas um sonho, até que percebeu que já estava atrasado, e em um movimento rápido pôs-se de pé. Nesse momento, um ar pestilento chegou ao seu nariz. Era um cheiro de veneno que vinha carregado pelo vento que soprava do oeste. Virou a cabeça nessa direção e deparou-se com uma criatura que vinha furtivamente em sua direção. Logo atrás dela estava a entrada do túnel que levaria diretamente até Calcanea, se este não estivesse bloqueado. Olhou novamente para a criatura que a cada curto passo chegava mais perto. Era uma aranha que se aproximava. Seu corpo era rubro como o sangue que circulava no corpo de Rocky, e uma pequena mancha azul em seu dorso chamava a atenção. De sua boca saiam longas presas, que quase tocavam o chão. Mesmo sem poder ver, o ferreiro sabia que elas estavam repletas de veneno: era uma aranha venenosa.
.......Antes que Rocky pudesse refletir em o que deveria fazer, criatura chegou a uma distancia preocupante. O rapaz rapidamente deu alguns passos para trás e tirou sua espada da bainha. Mirando o dorso da aranha partiu para atingir seu alvo, porém seu movimento não foi muito sábio. Foi bem sucedido na tarefa de encravar sua espada através da carapaça da criatura, mas esta conseguiu espetar o seu braço com uma de suas presas antes de morrer.
.......A quantidade de veneno injetado não foi grande, mas Rocky sentiu-se rapidamente enfraquecido. Não poderia caminhar para longe, e resolveu dormir ali mesmo, sob a sombra do farol, até que estivesse restabelecido. Bebeu alguns goles de seu cantil, que fora reabastecido antes de sua partida, e deitou-se.
.......Foi um sono agitado, e o rapaz despertou com o rosto suado. Já era noite, e a escuridão era demais para seus olhos. Sentindo-se um pouco melhor, acendeu uma tocha e montou uma pequena fogueira com gravetos e folhas que encontrou por perto. Bebeu mais alguns goles de água, e sentiu-se imediatamente melhor. A fome já dominava seu corpo, e Rocky então devorou o que restara da carne do lobo.
.......Alimentado e descansado, ele começou a pensar no adversário que enfrentou. Nunca havia visto uma aranha em Calcanea, e também jamais tinha ouvido falar de algum ninho dessas criaturas tão a oeste. Lembrou-se das histórias de Ardock, sobre aranhas gigantes que caminhavam sobre as Planícies da Destruição, e sobre pequenos ninhos dessas aranhas sobre as profundezas da Grande e Velha Montanha. Sempre duvidou da existência dessas criaturas gigantes. Aranhas venenosas ele já havia visto uma vez, quando acompanhou seu pai a uma pequena viagem até o Templo da Flor Branca, bem ao sul de Thais. Mas nunca tão perto de sua ilha. Pensando nessa viagem adormeceu, e dessa vez teve um sono tranqüilo. Sonhou que junto de seu pai eliminou todas as aranhas do mundo, e que por seus feitos foram presenteados com uma forja em Kazordoon, onde aprenderam todos os segredos da metalurgia.
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Já tinha dado algumas olhadas aqui antes, mas acredito que nunca havia comentado por essas bandas.
Obrigado pelos conselhos, vou dar uma arrumada quando for editar o primeiro post.
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